"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, maio 14, 2013

Resultados obtidos a partir do correto Desapego à Matéria - 3/5

Masaharu Taniguchi
 
 
A EXPERIÊNCIA DO SR. ISHIBASHI

O sr. Kan-iti Ishibashi, de Kobe, é uma pessoa que comprovou a validade da Verdade pregada pela Seicho-No-Ie através de suas próprias experiências, que são fartas. Ele é especialista em acupuntura e moxibustão e já teve até uma clínica-escola bem estruturada, empregando nela dois médicos, duas enfermeiras e dois professores de colégio, além de seu cunhado (irmão mais novo de sua esposa), que era o vice-diretor. Como tinha muitos alunos e clientes, ele prosperava. Certo dia, porém, apareceu na clínica uma senhora de meia-idade, pedindo audiência especial com o diretor. Ela, acompanhada de uma moça de 19 anos de idade, entrou no gabinete do sr. Ishibashi e disse de chofre: "Sou sua mulher!". O sr. Ishibashi ficou perplexo. Olhando bem para o rosto da visitante, pareceu que a conhecia de algum lugar, mas não se lembrava. E a mulher, colocando a moça diante do sr. Ishibashi, disse: "Olhe bem para ela! É sua filha!". Após uma conversa, ele se lembrou de que tivera um caso com essa mulher há muito tempo e se convenceu de que a moça era mesmo sua filha.

Atualmente ele é um homem sério e responsável, mas, vinte anos atrás, era muito libertino. Em todos os lugares pelos quais ele passava em suas viagens, arranjava uma amante. Parece que teve caso com dezesseis ou dezessete mulheres. Para romper com elas, quando podia resolver com dinheiro, assim ele fazia. Outras vezes, rompia amigavelmente, em comum acordo. A que o procurou nesse dia era uma delas. Eles haviam rompido tudo em comum acordo, mas, depois da separação, ela percebeu que estava grávida. Deu à luz a uma menina e criou-a sozinha. "Não vim aqui para exigir alguma coisa de você. Depois que me separei de você sofri muito, mas vim criando sua filha com dificuldade, só pela satisfação de vê-la crescer. Ela já tem 19 anos. Mas não estou pedindo que você faça algo por ela. Só queria que reconhecesse a dedicação com que criei esta filha". Assim dizendo, ela foi embora. Como o sr. Ishibashi já havia se casado e constituído um lar feliz, nada contou à esposa.

Acontece que, no ano seguinte, ele recebeu uma carta dessa filha, que dizia: "Mamãe morreu. Ela havia me dito que, quando me encontrasse em dificuldade, escrevesse para o senhor, papai. E agora que ela morreu, não sei o que fazer. Papai, ajude-me". Ele pensou em contar tudo à esposa, mas ela estava se restabelecendo de parto ocorrido poucos dias antes, e uma revelação dessa natureza certamente iria chocá-la e prejudicar-lhe a saúde. Após pensar muito, arranjou um pretexto para viajar a Sanuki, onde essa filha morava. Disse à esposa que em Sanuki havia um santuário no qual se cultua a divindade Kumbira, uma espécie de santo milagroso que ajuda a recuperação pós-parto. "Querida, vou até lá pedir à divindade Kumbira para que você se recupere rapidamente" - assim dizendo, viajou a Sanuki, levou a filha até Osaka, onde morava a irmã mais velha dele, a quem contou tudo. Deixando a filha aos cuidados da irmã, voltou para casa como se nada tivesse acontecido. Quando a esposa se recuperou, ele começou a ir frequentemente a Osaka para ver a filha. Com o passar do tempo, ele começou a pensar que seria uma boa ideia casá-la com o seu cunhado, que era o seu braço direito na empresa. Certo dia, chamou-o e propôs: "Creio que você já está na idade de se casar. Quer que lhe arranje uma noiva?". O cunhado, que considerava o sr. Ishibashi como se fosse seu pai, aceitou a proposta. Então o sr. Ishibashi mostrou-lhe a fotografia de sua filha, e parece que ela agradou ao rapaz. A esposa do sr. Ishibashi, que é irmã do rapaz, também ficou animada com a ideia. Como o arranjo estava dando certo, o sr. Ishibashi achou que não deveria ficar escondendo a verdade e disse à esposa: "Essa moça, na verdade, é minha filha. Ela nasceu de um romance que tive vinte anos atrás". Diante dessa confissão, a esposa ficou indignada e fez um escândalo, gritando: "Bem que eu desconfiava de suas idas frequentes a Osaka. Na verdade, você vai vê-la porque é sua amante. Quer dizer que está tendo caso com uma moça tão nova!, E, agora que ela engravidou, quer resolver o problema, empurrando-a para meu irmão". Ele apresentou várias provas para desfazer o equívoco da esposa. Ela se convenceu, mas não se conformou. Enciumada porque a moça era filha da ex-amante de seu marido, passou a detestar a ideia do casamento de seu irmão com ela. Contudo, fingia que estava de acordo, pois não encontrava nenhum argumento para contrariar essa união. Foi então marcada a data do casamento, mas, quando se aproximou essa data, a esposa fugiu repentinamente. Em seguida, o cunhado também desapareceu, como se tivesse combinado com a irmã.

Sem a esposa em casa, o bebê chorava pedindo o leite materno. Na clínica, o sr. Ishibashi ficou sem o braço direito, seu cunhado, que cuidava de toda a parte administrativa. Tudo virou um caos. A mente do sr. Ishibashi ficou completamente abalada. E, quando a mente fica abalada, tudo começa a se desequilibrar, pois este mundo é projeção da mente. A clínica-escola do sr. Ishibashi, que até então ia de vento em popa, começou a perder clientes e alunos e a decair rapidamente. Quem compreendeu que o estado mental se reflete de modo tão forte no plano material, já não briga irrefletidamente com seu cônjuge.

A clínica começou a decair, mas isso não significa que decaiu a técnica do a capacidade terapêutica do sr. Ishibashi; foi apenas uma projeção de sua mente descontrolada. A renda diminuía, era necessário pagar o salário dos funcionários, e a despesa de manutenção do edifício era grande. Em pouco tempo, a clínica estava falida.

O cunhado voltou, mas a esposa não. Como a vida estava ficando difícil, o sr. Ishibashi deixou o cunhado tomando conta da casa e foi trabalhar como acupuntor ambulante nas cidades do interior. Entretanto, não conseguiu um cliente sequer nem dinheiro algum. Colocou anúncios nos jornais, mas em vão. O dinheiro que possuía foi praticamente consumido em hospedagens, refeições e passagens.

Retornando a Kobe e perambulando pelas ruas, encontrou uma pequena casa vazia próxima à ponte Yumeno. Como pareceu um bom ponto comercial, alugou essa casa e nela instalou sua clínica de acupuntura e moxibustão, colocando uma placa vistosa na porta. Trouxe a filha para trabalhar com ele. Porém, não conseguia nenhum cliente. No início é sempre difícil, mas achou que em dois ou três meses conseguiria uma boa clientela. A situação, no entanto, não melhorava quase nada. No terceiro mês, já não tinha dinheiro para o aluguel. O administrador, que morava perto, vinha quase diariamente cobrar o aluguel atrasado. Não conseguindo o intento, pedia insistentemente que desocupassem a casa. Mas o sr. Ishibashi, se saísse daquela casa, não teria para onde ir. E, para saber se o ponto era bom, precisava permanecer ali pelo menos meio ano. Ele implorou para que o deixasse ficar mais um pouco, prometendo pagar o alguém assim que conseguisse algum dinheiro. Mas o administrador vinha constantemente e gritava: "Saia imediatamente desta casa!". Falava tão alto que toda a vizinhança ouvia, o que deixava o sr. Ishibashi ainda mais aflito. O administrador continuou implacável, pois sua intenção era expulsar mesmo o inquilino, a qualquer custo. O sr. Ishibashi ficou desacreditado na vizinhança, e a clientela, que era pouca, diminuiu mais ainda.

Ele ficou desesperado. Buscando salvação, dirigiu-se à seita Hito-no-miti, mas foi recusado porque não tinha carta de apresentação. Ele já tinha ouvido sermões do budismo, da seita Tenri e da seita Fussô (uma seita xintoísta) no afã de encontrar uma solução para seus problemas, mas nada dava certo para ele. Então um professor da seita Fussô emprestou-lhe uns livretos da Seicho-No-Ie, dizendo: "Experimente ler isto. Pode ser que traga solução para você". Ele os levou para casa e, quando começou a ler, sentiu que era exatamente o que buscava. Quando terminou de ler, sua mente estava completamente mudada. Até então, ele detestava o administrador e não queria sair da casa alugada, de modo algum, pois achava que, se saísse, não poderia sobreviver. Ele passou a sentir pena do administrador e resolveu entregar o imóvel. Desapareceu o apego que tinha em relação ao imóvel. Isso é que é importante.

Anteriormente, falei sobre o corpo carnal. Disse que, enquanto a mente estiver apegada ao corpo carnal, o estado de saúde não melhora e a pessoa acaba ficando neurótica. O assunto de que agora estou tratando refere-se a um imóvel e não ao corpo carnal, mas a situação é a mesma. Enquanto a mente estiver presa à matéria, a situação não pode melhorar. Pelo contrário, só aumenta o sofrimento. Enquanto o sr. Ishibashi estava apegado ao imóvel, pensando "não posso sair dessa casa", tinha de suportar os gritos do administrador, que vinha incomodá-lo quase diariamente. Porém após ler os ensinamentos da Seicho-No-Ie, compreendeu o seguinte: "O homem é filho de Deus e, portanto, a força que o vivifica vem de Deus. Uma vez que Deus colocou o homem na Terra, é impossível que lhe falte o que comer. Se me encontro numa situação de carência, é porque fechei a minha mente e não permiti que chegasse a mim a abundante provisão concedida por Deus. É o próprio homem que tapa o canal mental por onde se escoa a provisão que vem de Deus". E decidiu: "Doravante, vou manter a mente aberta e bem ampla para receber a orientação e a provisão de Deus. Se me pedirem para sair desta casa, sairei, pois isso também será vontade de Deus". Desta forma, abandonou o apego e entregou-se nas grandes mãos de Deus.

O administrador, como de costume, foi exigir a desocupação do imóvel, e o sr. Ishibashi prometeu desocupá-la no dia 19 de janeiro, pois não tinha mais apego àquela casa. Quando chegou esse dia, estava nevando intensamente na cidade de Kobe. Apesar disso, o sr. Ishibashi estava decidido a entregar a casa, conforme havia prometido. E o administrador chegou vociferando: "Como é, vai ou não desocupar a casa?". Estava disposto a expulsar o inquilino à força, caso este se recusasse sair alegando mau tempo. O sr. Ishibashi não se abalou absolutamente, pois havia se libertado do apego e decidido agir conforme a vontade de Deus. Então se estabeleceu o seguinte diálogo entre os dois:

- Sim, vou entregar a casa conforme o trato.
- Mas vai mesmo sair debaixo desta neve? Já tem para onde ir?
- Não, não tenho. Para alugar uma outra casa, precisaria ter dinheiro; mas, se tivesse dinheiro, teria pago o aluguel desta casa. E é justamente por não ter dinheiro que estou saindo daqui.
- É?... - disse pensativo o administrador, e continuou: - então vai mesmo? E que vai fazer com sua filha?
- Não tenho outra alternativa senão deixá-la na casa de minha irmã, em Osaka. Quanto a mim, vou para onde Deus quiser. Vou novamente trabalhar como acupuntor ambulante, percorrendo o interior. Perdoe-me pelos aborrecimentos que lhe causei. Gostaria de pagar os aluguéis atrasados, mas não tenho dinheiro mesmo. Vou deixar os móveis e todos os meus pertences para o senhor, embora sejam insuficientes para cobrir a dívida. Obrigado por tudo.

O administrador, que estava ouvindo em silêncio, mudou de atitude e disse:

- Fique mais um pouco nesta casa. Não é fácil sair sem rumo debaixo desta neve toda. Noto que você é uma pessoa boa. Eu vinha constantemente cobrar o aluguel para cumprir minha obrigação perante o proprietário da casa, mas agora não precisa mais se preocupar. Eu me entendo com o proprietário. Além disso, vou fazer propaganda de sua clínica de acupuntura em meu círculo de relacionamento, e você vai pagando o aluguel na medida em que for possível.

Enquanto o inquilino estava apegado à casa e não queria sair, o administrador queria expulsá-lo a qualquer custo. Porém, quando se desapegou da casa e resolveu desocupá-la, o administrador aconselhou-o a permanecer. Assim é o poder da Verdade. O sr. Ishibashi estava com a mente apegada à matéria chamada casa e se apoiava unicamente nela, mas, quando leu os livretos da Seicho-No-Ie, sua mente se libertou e desapegou, tornando-se apta a receber a provisão infinita que vem de Deus. Quando ele renunciou a tudo, a situação mudou completamente. Compreendeu o quanto as circunstâncias podem mudar só com a mudança da atitude mental. Sentiu-se muito grato, pois percebeu que isso também era desígnio de Deus. Aceitando a bondade do administrador, o sr. Ishibashi permaneceu na casa. Assim que recebia algum dinheiro, levava-o ao administrador para pagar uma parte do aluguel atrasado.
 
 
(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 27", pp. 61 à 69)
 

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