"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, maio 20, 2013

O Instante Atômico (OSHO)

 
“Quando um arqueiro atira por diversão
Ele está de posse de toda a sua habilidade.
Se atira para ganhar uma fivela de bronze
Já fica nervoso.
Se atira por um prêmio em ouro
Fica cego
Ou vê dois alvos – ele fica louco.
Sua habilidade não mudou.
Mas o prêmio deixa-o dividido.
Ele se preocupa,
Pensa mais em ganhar do que em atirar.
E a necessidade de vencer exaure suas forças.”
 

Se a mente está cheia de sonhos, você não pode ver com clareza. Se o coração está cheio de desejos, você não pode sentir direito. Desejos, sonhos e esperanças – o futuro perturba você e, seja qual for, ele está no presente. Quando você está dividido, o desejo leva você para o futuro, e a vida é aqui e agora. A realidade é aqui e agora, e o desejo leva você para o futuro. Então você não está mais aqui. Você vê, mas ainda assim não vê; você ouve, mas ainda assim não ouve; você sente, mas o sentimento é vago, não pode ser profundo, não pode ser penetrante. É assim que a verdade se perde.

As pessoas continuam perguntando onde encontrar o divino, onde encontrar a verdade. Não é uma questão de encontrar o divino ou a verdade. O divino sempre esteve aqui, nunca foi a outro lugar, não pode ir. Ele está onde você está, mas você não está presente, sua mente está em outro lugar. Seus olhos estão cheios de sonhos, seu coração está cheio de desejos. Você avança para o futuro, e o futuro é uma ilusão. Ou você volta para o passado, e o passado já está morto.

O passado não existe mais e o futuro ainda vai acontecer. Entre esses dois está o momento presente. Este momento é muito breve, tão breve quanto possível, é atômico, não é possível
dividi-lo – ele é indivisível. Este momento passa num piscar de olhos. Se o desejo entra em cena, você perdeu o momento; se existe um sonho, você está perdendo o momento. 

A religião como um todo não consiste em levar você a algum lugar, mas em trazê-lo de volta para o aqui e agora, trazê-lo de volta para o todo, de volta para onde você sempre esteve. Mas a cabeça já foi embora, para muito longe. Essa cabeça tem de ser trazida de volta. Portanto, não se deve procurar Deus em algum lugar – é por isso que você está sentindo falta dele, porque você o está procurando num lugar. Ele está aqui esperando você.

Uma vez aconteceu de Mulá Nasruddin chegar em casa totalmente bêbado, cambaleando. Ele bateu à porta da sua própria casa, bateu uma, duas vezes. Já era meia-noite e meia. A esposa veio abrir e Nasruddin lhe perguntou: “Você pode me dizer, minha senhora, onde mora o Mulá Nasruddin?” 

A esposa disse: “Isso já é demais! Você é o Mulá Nasruddin!”

O Mulá Nasruddin respondeu: “Tudo bem, eu sei disso, mas a senhora não respondeu à minha pergunta. Onde ele mora?”

A situação é essa. Embriagado de desejos, cambaleando, você bate à sua porta e pergunta onde é a sua casa. Você está na verdade perguntando quem você é. Esse é o seu lar, e você nunca o deixou, é impossível deixa-lo. Não é algo fora de você que vai sair e ir embora. É o seu interior, é o seu próprio ser. 

Perguntar onde está Deus é tolice, porque você não pode perder Deus. Ele é o seu interior, seu íntimo, sua essência. É a sua existência: você o respira, você vive nele e não pode ser de outra maneira. a única coisa que aconteceu é que você ficou tão embriagado que não consegue reconhecer o seu próprio rosto. E a menos que você volte a ficar sóbrio, vai continuar procurando e continuar não se reconhecendo.

Tao, Zen, Yoga, Sufismo, Hassidismo, estes são, todos eles, métodos para trazer você de volta, para torna-lo sóbrio de novo, para destruir a sua embriaguez. Por que você está tão bêbado? O que o leva a ficar tão bêbado? Por que os seus olhos estão tão sonolentos? Por que você não está alerta? Qual é a causa de tudo isso? A causa é que você deseja.

Tente entender a natureza do desejo. O desejo é alcóolico, o desejo é a maior droga que existe. A maconha não é nada, o LSD não é nada. O desejo é o maior de todos os LSD – o suprassumo das drogas. 
 
Qual é a natureza do desejo? Quando você deseja, o que acontece? Quando você deseja, você cria uma ilusão na mente; quando você deseja, já se afastou do aqui e agora. Agora você não está mais aqui; você está ausente, porque a mente está criando um sonho. Essa ausência é a sua embriaguez.
 
O fato é esse, mas só depois que você o conhece, só então. Você sempre ouve Buda ou Jesus ou Zaratustra dizendo: "Pare de desejar e você será feliz". Mas você não consegue deixar de desejar, você não consegue entender como pode ser feliz abandonando o desejo, porque você só provou até hoje do desejo. Ele pode ser venenoso, mas tem sido seu único alimento. Você tem bebido de fontes envenenadas e, quando alguém diz: "Largue isso", você pensa: "Mas eu vou morrer de sede". Você não sabe que existem fontes límpidas, e não sabe que existem árvores com frutas raras. Você olha apenas através do seu desejo, então não pode ver os frutos, árvores e as mais cristalinas nascentes. O tempo todo, apenas o que os seus desejos permitem entra em você. Seus desejos são como um vigia na porta do seu ser. Eles só permitem aquilo que os atrai. Mude esse vigia, caso contrário você se deparará somente com o descontentamento.
 
Fique no presente. Neste exato momento, as portas do céu estão abertas. Não há necessidade nem mesmo de bater, porque você não está fora do céu, você está dentro. Basta ficar atento e olhar ao redor, sem ter olhos cheios de desejo, e você dará uma sonora gargalhada. Você vai rir da piada toda, do que vem acontecendo. É como um homem sonhando à noite.

Isso aconteceu uma vez: um homem estava muito perturbado – as noites eram simplesmente pesadelos contínuos. Sua noite toda era uma luta. Era tão doloroso que ele sempre estava com medo de ir dormir. Ele tinha sonhos muito ruins, violentos. A natureza dos sonhos era tal que , no momento de adormecer, ele começava a ver milhares de leões, dragões, tigres, crocodilos, milhares deles embaixo de sua pequena cama.  Assim, ele não podia dormir porque a qualquer momento eles poderiam atacar. Ele foi tratado pelos médicos, mas nada ajudou. Foi analisado por psicólogos, psiquiatras, mas ninguém conseguiu ter sucesso. Então um dia ele saiu de casa rindo.

Os vizinhos, então, perguntaram: “O que aconteceu? Você está rindo? Nós não vemos você rir há anos. O que aconteceu com os seus pesadelos?”

O homem disse: “Eu contei ao meu cunhado e ele me curou.”

Os vizinhos perguntaram: “O seu cunhado é um grande psicólogo, psicanalista, ou algo assim? Como ele conseguiu cura-lo?”

O homem disse: “Ele é carpinteiro. Ele simplesmente cortou as pernas da minha cama. Agora não há mais espaço embaixo dela, então eu dormi pela primeira vez!”

Você cria um espaço – e o desejo é a maneira de criar esse espaço. Quanto maior for o desejo, maior é o espaço criado. Porque, se o desejo deve ser satisfeito em um ano, então você tem espaço de um ano. Você pode se mover nele, mas vai encontrar muitos répteis, muitos dragões. Esse espaço que é criado pelo desejo, você chama de tempo. Se não há desejo, não há necessidade de tempo.

Só um único instante existe – nem mesmo dois instantes, porque o segundo instante é necessário apenas para o desejo, não é necessário para sua existência. A existência é completamente preenchida, totalmente, num só instante.

Lembre-se: se você acha que o tempo é algo exterior a você, está enganando a si mesmo. O tempo não é algo fora de você. 

Se o homem desaparecer da face da Terra haverá tempo? As árvores vão crescer, os rios fluirão, as nuvens ainda flutuarão no céu, mas, eu pergunto, haverá tempo?  Não haverá nenhum tempo. Haverá instantes, ou melhor, haverá um instante – e, quando um instante desaparece, outro passa a existir. Um desaparece, outro passa a existir. Mas não existe tempo como tal. Apenas o instante atômico existe.

As árvores não desejam nada, elas não desejam florescer; as flores virão naturalmente. Faz parte da natureza da árvore florescer. Mas a árvore não está sonhando, a árvore não está em movimento, ela não está pensando, não está desejando.

Se o homem não existir, não haverá tempo, apenas instantes eternos. Você cria o tempo com o desejo. Quanto maior o desejo, mais o tempo é necessário.

Mas por que o tempo é necessário? Você não pode estar aqui e agora sem tempo? Esse instante não é suficiente? Instante em que você está simplesmente sentado perto de mim, sem passado, sem futuro? Um instante que está entre o passado e o futuro, que é atômico, que é realmente como se fosse não existencial. Ele é tão pequeno que você não pode agarrá-lo; se fizer isso, já será passado. Se você pensar, estará no futuro. Você pode estar nele, mas não pode agarrá-lo. Quando você o agarra, ele já se foi; quando você pensa nele, ele não está presente.

Quando ele está presente, só uma coisa pode ser feita – você pode vivê-lo, isso é tudo. Ele é tão pequeno, estreito, que você só pode viver nele, mas ele é tão vital que dá vida a você.

Lembre-se, ele é exatamente como o átomo, tão pequeno que não pode ser visto. Ninguém viu o átomo ainda, nem mesmo os cientistas. Você só pode ver as consequências. Os cientistas foram capazes de explodi-lo – Hiroshima e Nagasaki foram as consequências. Vimos Hiroshima queimando, mais de cem mil pessoas atingidas – essa é a consequência. Mas ninguém viu o que aconteceu na explosão atômica. Ninguém viu o átomo com seus próprios olhos. Ainda não existem instrumentos que possam vê-lo.

O tempo é atômico, este instante também é atômico. Ninguém pode vê-lo, porque, quando você o vê, ele já passou. No tempo necessário para vê-lo, ele já passou – o rio fluiu, a seta se moveu. Ninguém jamais viu o tempo. Você continua usando a palavra “tempo”, mas, se alguém insistir numa definição, você vai ficar perdido.

Alguém pediu a Santo Agostinho: “Defina Deus. Que quer dizer quando usa a palavra Deus?”

Agostinho disse: “É exatamente como o tempo. Eu posso falar sobre ele, mas, se você insistir numa definição, vou ficar perdido.”

Você pode continuar perguntando às pessoas sobre o tempo. Elas vão olhar para o relógio e lhe dirão as horas. Mas se você realmente perguntar: “O que é o tempo?”, se você pedir uma definição, não vai adiantar consultar o relógio.

Você pode definir o tempo? Ninguém jamais o viu, não há como vê-lo. Quando você olhar, ele se foi; se você pensar, ele não está lá. Quando você não pensa, quando você não olha, quando você simplesmente é, ele está ali. Você o vive. E Santo Agostinho está certo: a divindade pode ser vivida, mas não pode ser vista. O tempo pode ser vivido, mas não pode ser visto. O tempo não é um problema filosófico, é existencial. A divindade também não é filosófica, é existencial. As pessoas a vivem, mas, se você insistir numa definição, elas vão permanecer em silêncio, não conseguem responder. E se você conseguir ficar neste momento, as portas para todos os mistérios estarão abertas.

Então jogue fora todos os desejos, retire toda a poeira dos olhos, mergulhe e fique à vontade dentro de si, sem desejar coisa alguma, nem mesmo a divindade. Todo desejo é igual, seja por um carro luxuoso, um deus, ou uma mansão, não faz diferença. Desejo é desejo. Não deseje – apenas seja! Nem mesmo olhe – apenas seja! Não pense! Deixe que este momento aconteça, e fique nele, e de repente você tem tudo – porque a vida está presente. De repente tudo começa  a se derramar sobre você, e então este momento torna-se eterno e não há mais tempo. É sempre o agora. Ele nunca termina, nunca começa. Mas você está nele, não é um estranho.  Você entrou no todo, reconheceu quem você é.
Continua... 
 
 

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