Osho
"Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e então, voltando, faze a tua oferta." (Mt. 5: 23-24)
Jesus era um homem de amor, de imenso amor. Amava esta terra, amava o cheiro desta terra. Amava as árvores, amava as pessoas. Amava as criaturas, porque só assim se ama o criador. Ao elogiar o quadro, você está elogiando o pintor. Quando elogia a poesia, esse elogio se estende ao poeta.
Jesus é afirmativo, positivo. E ele sabe de um fato muito significativo, quase sempre presente em seus dizeres: Deus é uma abstração; você não pode se colocar face a face com Deus. "Deus" é uma abstração, assim como a "humanidade". Você depara com seres humanos, mas nunca com a humanidade. Você sempre depara com o concreto. Nunca encontrará o Deus abstrato, porque ele não tem rosto algum. Ele não tem rosto. Você não poderia reconhecê-lo. Então, onde o encontraria?
Olhe cada olho com que deparar; olhe cada ser com quem deparar. Eles são Deus na forma concreta; Deus materializado. Todas as pessoas são encarnações de Deus - as rochas, as pedras, as pessoas, e tudo o mais. Ame essas pessoas, ame essas árvores, ame essas estrelas, e através desse amor, você começará a sentir a imensidão de ser. Mas terá de passar pela pequena porta de um ser particular.
Jesus tinha imensa paixão por este terra, por esta vida. Se você nega a existência, intrinsecamente está negando Deus. Se disser não à vida, terá dito não à Deus, porque é a vida de Deus. E lembre-se sempre que Deus não tem lábios próprios, ele beija você através dos lábios da outra pessoa. Ele não tem mãos próprias; abraça você através das mãos de outra pessoa. Ele não tem olhos próprios, olha para você através dos olhos de outra pessoa. Ele vê você pelos olhos do outro e é visto por seus olhos, e assim Ele vê através dos seus olhos também.
Os quakers dizem, e com razão, que Deus nada mais tem além de você; só você - é isso o que ele tem. Essa visão tem de penetrar fundo, só assim você poderá compreender os dizeres de Jesus; do contrário passarão batido - como tem ocorrido usualmente há séculos. Que isto seja a própria pedra fundamental: a vida é Deus. E as coisas, então, se tornarão muito, muito simples. Você terá a perspectiva certa. Diga "sim", e de repente sentirá uma espécie de poder despertando em você.
Jesus diz: "Se você vai ao templo com flores, oferendas, para rezar, se entregar a Deus, e se lembrar de que há alguém zangado com você, então a primeira necessidade é voltar e se reconciliar com o seu irmão". Todos são irmãos aqui, lembre-se, porque o Pai é um. As árvores são suas irmãs; São Francisco costumava conversar com as árvores - "Irmãs, Irmãos". Os peixes, as gaivotas, as rochas, as montanhas - todos são seus irmãos e irmãs porque todos vêm da mesma fonte.
Jesus está dizendo que se você não se reconciliar com o mundo, não pode rezar para Deus. Como pode chegar ao Pai, se não estiver em paz com o irmão? E o irmão é concreto; e o Pai é abstrato. O irmão existe; o Pai está oculto. O irmão é manifesto, e o Pai é não manifesto. Como você pode se reconciliar com o não-manifesto? Você nem conseguiu se reconciliar com o seu irmão... Essa é uma frase significativa. Não se refere apenas ao seu irmão; não se refere apenas aos seres humanos. Refere-se a toda a existência - a tudo o que você tem insultado. Se você foi cruel com alguém, ou mesmo com algo...
Um grande mestre zen, Rinzai, estava sentado. Chegou um homem, empurrou a porta com força - devia estar muito zangado - e a bateu. Não estava de bom humor. Jogou os sapatos e entrou. Rinzai disse:
- Espere. Não entre. Primeiro, peça desculpas à porta e aos seus sapatos.
O homem disse:
- Do que você está falando? Ouvi dizer que os mestres zen são loucos, e deve ser verdade. Pensei que fosse apenas boato. De que absurdo você está falando? Por que devo pedir desculpas à porta? Seria muito embaraçoso... e aqueles sapatos são meus!
Rinzai disse:
- Saia! Nunca mais volte aqui! Se você está bravo com os sapatos, por que não pode pedir perdão a eles? Quando você estava zangado, não achava tolice ficar irritado com os sapatos. Se consegue sentir raiva, por que não sente amor? Relação é relação. Raiva é uma relação. Quando você bateu a porta com raiva, foi uma relação com a porta; comportou-se de maneira errada, imoral. E a porta nada lhe fez de mal. Vá, do contrário não poderá entrar.
Sob o impacto do silêncio de Rinzai, e das pessoas sentadas ali, e daquela presença... como um flash, o homem compreendeu. Entendeu a lógica da coisa; tudo ficou muito claro. "Se você pode ficar com raiva, por que não pode amar? Saia." E ele saiu. Talvez em toda a sua vida, aquela tivesse sido sua primeira vez. Ele tocou a porta, e seus olhos se encheram de lágrimas. Não podia contê-las. E quando se curvou diante dos próprios sapatos, uma grande mudança aconteceu a ele - sobreveio-lhe o estado de prece. Quando se virou e voltou a Rinzai, este o recebeu e o abraçou.
Isso é reconciliação. Como você pode rezar se não se reconciliar? É preciso ganhar a prece. Quando você se reconcilia com a existência, ganha a prece. A prece não se limita a você entrar no templo e rezar. Não é uma espécie de atividade; é um despertar da consciência para novos picos. Mas isso só é possível se você estiver reconciliado, relaxado com a existência.
A prece é uma fórmula mágica, um mantra, um encantamento. Mas tem de ser provocada no momento certo. Você não pode rezar a qualquer momento, em qualquer lugar; tem de estar na sintonia certa. É a gratidão e a reconciliação que lhe proporcionarão essa sintonia. A prece só pode ser feita quando você está sintonizado.
Você briga todos os dias. Lembre-se, seja com quem for que você briga, está brigando com Deus, porque nada mais existe. Sua vida muitas vezes é uma briga contínua. E essas brigas vão se acumulando; elas envenenam o seu organismo, o seu ser. Um dia, enfim, você quer rezar, e a sua prece falha; não se forma, não se cumpre, parece falsa em seus lábios; não lhe é possível rezar de repente - você terá de se preparar para isso.
A primeira preparação mencionada por Jesus é: "Reconcilia-te com o teu irmão". "Com o teu irmão" significa com todos os seres humanos, os animais, os pássaros. Toda a existência é sua irmã, porque vimos todos de uma fonte, de um pai e uma mãe. Toda essa simplicidade vem da unidade.
Lembre-se, então, de que Deus só pode ser amado através do homem. Você nunca se encontrará com Deus, sempre se encontrará com o homem. Quando você começar a amar a Deus através do homem, pode ir mais fundo ainda - pode amar a Deus através dos animais. E mais fundo ainda - pode amar a Deus através das árvores. E mais fundo - pode amar a Deus através das montanhas e rochas. E quando tiver aprendido a amar a Deus através de todas as formas dele - você se reconciliou; é aí que Deus se revela -, só então o seu amor se transformará em prece.
"Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste." (Mt. 5:48)
Este também é um dos dizeres mais fundamentais: "Portanto, sede vós perfeitos..."
Lembre-se, você pode ser perfeito apenas porque, intrinsecamente, você é perfeito. E você vem de Deus, como pode ser imperfeito? Você pertence a Deus, como pode ser imperfeito?
Intrinsecamente, você é Deus porque Deus está em você e você está em Deus. Mas, talvez, você ainda não deu a si mesmo a oportunidade de enxergar isso, pois está envolvido demais, ocupado demais com o mundo exterior - fazendo isso e aquilo, fazendo essa e aquela mudança. Você se preocupa tanto com o seu mundo exterior que não pode olhar para o seu santuário interior. E Deus está lá. Deus mora em você.
Sim, você pode se tornar perfeito, porque é perfeito. Só os perfeitos podem ser perfeitos.
Portanto, a perfeição não precisa ser criada, só precisa ser descoberta. Ela já existe, já está pronta. Ela já está lá; escondida talvez, atrás de véus talvez, mas está lá. Remova os véus e você a encontrará; não precisa inventá-la/criá-la, só descobrí-la. Ou talvez não. Talvez "descobrir" não seja a palavra certa. Deixe-me dizer, então... redescobrí-la.
Jesus era um homem de amor, de imenso amor. Amava esta terra, amava o cheiro desta terra. Amava as árvores, amava as pessoas. Amava as criaturas, porque só assim se ama o criador. Ao elogiar o quadro, você está elogiando o pintor. Quando elogia a poesia, esse elogio se estende ao poeta.
Jesus é afirmativo, positivo. E ele sabe de um fato muito significativo, quase sempre presente em seus dizeres: Deus é uma abstração; você não pode se colocar face a face com Deus. "Deus" é uma abstração, assim como a "humanidade". Você depara com seres humanos, mas nunca com a humanidade. Você sempre depara com o concreto. Nunca encontrará o Deus abstrato, porque ele não tem rosto algum. Ele não tem rosto. Você não poderia reconhecê-lo. Então, onde o encontraria?
Olhe cada olho com que deparar; olhe cada ser com quem deparar. Eles são Deus na forma concreta; Deus materializado. Todas as pessoas são encarnações de Deus - as rochas, as pedras, as pessoas, e tudo o mais. Ame essas pessoas, ame essas árvores, ame essas estrelas, e através desse amor, você começará a sentir a imensidão de ser. Mas terá de passar pela pequena porta de um ser particular.
Jesus tinha imensa paixão por este terra, por esta vida. Se você nega a existência, intrinsecamente está negando Deus. Se disser não à vida, terá dito não à Deus, porque é a vida de Deus. E lembre-se sempre que Deus não tem lábios próprios, ele beija você através dos lábios da outra pessoa. Ele não tem mãos próprias; abraça você através das mãos de outra pessoa. Ele não tem olhos próprios, olha para você através dos olhos de outra pessoa. Ele vê você pelos olhos do outro e é visto por seus olhos, e assim Ele vê através dos seus olhos também.
Os quakers dizem, e com razão, que Deus nada mais tem além de você; só você - é isso o que ele tem. Essa visão tem de penetrar fundo, só assim você poderá compreender os dizeres de Jesus; do contrário passarão batido - como tem ocorrido usualmente há séculos. Que isto seja a própria pedra fundamental: a vida é Deus. E as coisas, então, se tornarão muito, muito simples. Você terá a perspectiva certa. Diga "sim", e de repente sentirá uma espécie de poder despertando em você.
Jesus diz: "Se você vai ao templo com flores, oferendas, para rezar, se entregar a Deus, e se lembrar de que há alguém zangado com você, então a primeira necessidade é voltar e se reconciliar com o seu irmão". Todos são irmãos aqui, lembre-se, porque o Pai é um. As árvores são suas irmãs; São Francisco costumava conversar com as árvores - "Irmãs, Irmãos". Os peixes, as gaivotas, as rochas, as montanhas - todos são seus irmãos e irmãs porque todos vêm da mesma fonte.
Jesus está dizendo que se você não se reconciliar com o mundo, não pode rezar para Deus. Como pode chegar ao Pai, se não estiver em paz com o irmão? E o irmão é concreto; e o Pai é abstrato. O irmão existe; o Pai está oculto. O irmão é manifesto, e o Pai é não manifesto. Como você pode se reconciliar com o não-manifesto? Você nem conseguiu se reconciliar com o seu irmão... Essa é uma frase significativa. Não se refere apenas ao seu irmão; não se refere apenas aos seres humanos. Refere-se a toda a existência - a tudo o que você tem insultado. Se você foi cruel com alguém, ou mesmo com algo...
Um grande mestre zen, Rinzai, estava sentado. Chegou um homem, empurrou a porta com força - devia estar muito zangado - e a bateu. Não estava de bom humor. Jogou os sapatos e entrou. Rinzai disse:
- Espere. Não entre. Primeiro, peça desculpas à porta e aos seus sapatos.
O homem disse:
- Do que você está falando? Ouvi dizer que os mestres zen são loucos, e deve ser verdade. Pensei que fosse apenas boato. De que absurdo você está falando? Por que devo pedir desculpas à porta? Seria muito embaraçoso... e aqueles sapatos são meus!
Rinzai disse:
- Saia! Nunca mais volte aqui! Se você está bravo com os sapatos, por que não pode pedir perdão a eles? Quando você estava zangado, não achava tolice ficar irritado com os sapatos. Se consegue sentir raiva, por que não sente amor? Relação é relação. Raiva é uma relação. Quando você bateu a porta com raiva, foi uma relação com a porta; comportou-se de maneira errada, imoral. E a porta nada lhe fez de mal. Vá, do contrário não poderá entrar.
Sob o impacto do silêncio de Rinzai, e das pessoas sentadas ali, e daquela presença... como um flash, o homem compreendeu. Entendeu a lógica da coisa; tudo ficou muito claro. "Se você pode ficar com raiva, por que não pode amar? Saia." E ele saiu. Talvez em toda a sua vida, aquela tivesse sido sua primeira vez. Ele tocou a porta, e seus olhos se encheram de lágrimas. Não podia contê-las. E quando se curvou diante dos próprios sapatos, uma grande mudança aconteceu a ele - sobreveio-lhe o estado de prece. Quando se virou e voltou a Rinzai, este o recebeu e o abraçou.
Isso é reconciliação. Como você pode rezar se não se reconciliar? É preciso ganhar a prece. Quando você se reconcilia com a existência, ganha a prece. A prece não se limita a você entrar no templo e rezar. Não é uma espécie de atividade; é um despertar da consciência para novos picos. Mas isso só é possível se você estiver reconciliado, relaxado com a existência.
A prece é uma fórmula mágica, um mantra, um encantamento. Mas tem de ser provocada no momento certo. Você não pode rezar a qualquer momento, em qualquer lugar; tem de estar na sintonia certa. É a gratidão e a reconciliação que lhe proporcionarão essa sintonia. A prece só pode ser feita quando você está sintonizado.
Você briga todos os dias. Lembre-se, seja com quem for que você briga, está brigando com Deus, porque nada mais existe. Sua vida muitas vezes é uma briga contínua. E essas brigas vão se acumulando; elas envenenam o seu organismo, o seu ser. Um dia, enfim, você quer rezar, e a sua prece falha; não se forma, não se cumpre, parece falsa em seus lábios; não lhe é possível rezar de repente - você terá de se preparar para isso.
A primeira preparação mencionada por Jesus é: "Reconcilia-te com o teu irmão". "Com o teu irmão" significa com todos os seres humanos, os animais, os pássaros. Toda a existência é sua irmã, porque vimos todos de uma fonte, de um pai e uma mãe. Toda essa simplicidade vem da unidade.
Lembre-se, então, de que Deus só pode ser amado através do homem. Você nunca se encontrará com Deus, sempre se encontrará com o homem. Quando você começar a amar a Deus através do homem, pode ir mais fundo ainda - pode amar a Deus através dos animais. E mais fundo ainda - pode amar a Deus através das árvores. E mais fundo - pode amar a Deus através das montanhas e rochas. E quando tiver aprendido a amar a Deus através de todas as formas dele - você se reconciliou; é aí que Deus se revela -, só então o seu amor se transformará em prece.
"Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste." (Mt. 5:48)
Este também é um dos dizeres mais fundamentais: "Portanto, sede vós perfeitos..."
Lembre-se, você pode ser perfeito apenas porque, intrinsecamente, você é perfeito. E você vem de Deus, como pode ser imperfeito? Você pertence a Deus, como pode ser imperfeito?
Intrinsecamente, você é Deus porque Deus está em você e você está em Deus. Mas, talvez, você ainda não deu a si mesmo a oportunidade de enxergar isso, pois está envolvido demais, ocupado demais com o mundo exterior - fazendo isso e aquilo, fazendo essa e aquela mudança. Você se preocupa tanto com o seu mundo exterior que não pode olhar para o seu santuário interior. E Deus está lá. Deus mora em você.
Sim, você pode se tornar perfeito, porque é perfeito. Só os perfeitos podem ser perfeitos.
Portanto, a perfeição não precisa ser criada, só precisa ser descoberta. Ela já existe, já está pronta. Ela já está lá; escondida talvez, atrás de véus talvez, mas está lá. Remova os véus e você a encontrará; não precisa inventá-la/criá-la, só descobrí-la. Ou talvez não. Talvez "descobrir" não seja a palavra certa. Deixe-me dizer, então... redescobrí-la.
- Osho.
5 comentários:
Excelente! Obrigado!
Inácio
Falou e disse...
Praticar, então. Praticar, e levar pra dentro do coração a prática. Para que a prática se torne essência.
Abraços!
MAG
Fé em Deus e fé na humanidade. Amor a Deus e amor à humanidade. Uma dimensão vertical que deve se complementar com uma dimensão horizontal. Um equilíbrio.
Quando li esse texto, lembrei-me de que, quarta-feira à noite, ao vivo, o Pe. Fábio respondeu a uma pergunta de uma pessoa sobre um assunto semelhante. Foi no programa "direção espiritual" do dia 16/02/2011. Coincidência, né? Melhor ainda... futricando na net, achei o exato trecho em que ele responde à pergunta. Acho que existe uma certa semelhança entre a resposta e o conteúdo do post. Ou seja, o fato de que, se amamos a Deus, devemos amar os homens. Ter esse equilíbrio. Não se pode só amar os homens. Nem se pode também amar só a Deus e desprezar os homens. Taih o video pra quem quiser conferir.
http://www.youtube.com/watch?v=o1mS7gBExz8
Abraços!
Realmente,
Osho arrebentou, nessa! =)
Grande Abraço aos dois!
E tem também uma semelhança com alguns textos de Tanigutchi que falam sobre a reconciliação com todas as coisas do céu e da terra...
É... tá bom, tá bom... Se der, coloca esses textos do Tanigutchi. Você deve tê-los, se é que já não foram postados.
Abraços!
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