"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, junho 05, 2009

A natureza adora se ocultar (Osho)

“É melhor que as coisas não aconteçam às pessoas
Exatamente como elas querem.
A menos que você espere o inesperado,
Jamais encontrará a verdade,
Pois é árduo descobri-la,
É árduo atingi-la.
A natureza adora se ocultar.
O senhor cujo oráculo está em Delfos
Nem fala nem encobre – mas dá sinais.”

(Heráclito, 500 a.C)




A existência não tem linguagem e, se você depender da linguagem, não poderá haver comunicação com a existência. A existência é um mistério, você não pode interpretá-la. Se você interpretar, errará o alvo. A existência pode ser vivida, mas não pensada. Ela é mais como a poesia e menos como a filosofia. Ela é um sinal, uma porta. Ela mostra, mas nada diz.

É por isso que, por meio da mente, não há acesso à existência. Se você pensar sobre ela, pode continuar a pensar e a pensar, sobre isto e aquilo, mas nunca a alcançará – porque a barreira é precisamente o pensar.

Olhe, perceba, sinta, toque – e você estará mais próximo. Mas não pense. No momento em que entra o pensamento, você saiu da trilha e caiu num mundo particular. O pensar é um mundo particular, ele lhe pertence. Então você fica fechado, encapsulado, aprisionado dentro de si mesmo. Se não pensar, você deixa de estar, deixa de ficar fechado. Se não pensar, você se abre, fica poroso; a existência flui em você e você nela.

Mas a tendência da mente é interpretar. Antes de perceber algo, você já o interpretou. Você me ouve – mesmo antes de eu dizer algo, você já está pensando algo a respeito. É assim que o ouvir se torna impossível.

Você precisará aprender a ouvir. Ouvir significa estar aberto, vulnerável, receptivo, mas você não está de maneira nenhuma pensando. O pensar é uma ação positiva, o ouvir é passividade: você se torna como um vale, como um útero, e recebe. Se você puder ouvir, então a natureza fala – mas não é uma linguagem. A natureza não usa palavras. O que a natureza usa? Heráclito diz que ela usa sinais. Uma flor está presente – qual o sinal que ela transmite? Ela não está dizendo coisa nenhuma, mas você pode dizer realmente que ela não está dizendo coisa nenhuma? Ela está dizendo muito, mas não está usando nenhuma palavra – uma mensagem sem palavras.

Para ouvir a ausência de palavras, você precisará não ter palavras, porque somente semelhante pode ouvir semelhante. Ao sentar-se ao lado de uma flor, não seja um ser humano, seja uma flor; ao sentar-se ao lado de uma árvore, não seja um ser humano, seja uma árvore; ao tomar banho num rio, não seja um ser humano, seja um rio. E então, milhões de sinais serão transmitidos a você, e não se trata de uma comunicação, mas de uma comunhão. A natureza fala, fala em milhares de línguas, mas não em linguagem. Ela fala por meio de milhões de direções, mas você não pode consultar um dicionário a respeito, não pode perguntar a um filósofo o que ela quer dizer. No momento em que você começa a pensar o que ela quer dizer, já está se extraviando.

Um homem muito instruído, um crítico, foi visitar Picasso. Ele olhou para as pinturas de Picasso e disse: “São bonitas, mas o que você quer dizer com elas? Por exemplo, esta pintura, o que ela quer dizer?”

Picasso deu de ombros e disse: “Olhe para fora da janela – o que aquela árvore quer dizer? E aquele pássaro cantando? E qual é o sentido do alvorecer? E, se este todo existe sem significar coisa nenhuma, por que minhas pinturas precisam ter algum significado?”

Por que você pergunta pelo significado? Você quer interpretar, quer dar um padrão lingüístico, quer comunicar, e não comungar. Não, a natureza não quer dizer coisa nenhuma. Ela está presente em sua glória total. Ela é um significado, mas não quer dizer coisa nenhuma. O significado é existencial. Olhe, observe, sinta, penetre nela, deixe que ela penetre em você – mas não faça perguntas. Se você quer fazer perguntas, entre numa universidade; você não pode entrar no Universo. Se você quer entrar no Universo, não pergunte – não há ninguém para lhe responder. Você precisará ter uma qualidade de ser totalmente diferente e, somente então, estará em contato com ele.

Há um relato sobre um mestre zen – um fenômeno muito raro, inacreditável, porque a mente se assusta – que estava fazendo uma pintura no palácio do rei. E o rei repetidamente lhe perguntava se ela já estava pronta.

O mestre dizia: “Espere um pouco mais, espere um pouco mais”.

Passaram-se anos e o rei disse: “Está levando muito tempo. Você não deixa nem mesmo eu dar uma olhada” – porque ele trancava o quarto em que pintava – “e estou ficando velho. Estou cada vez mais curioso para saber o que você está pintando. A pintura ainda não está pronta?”

O mestre respondeu: “A pintura está pronta, mas estou esperando você – você não está pronto. A pintura ficou pronta há muito tempo, mas esse não é o ponto. A menos que você esteja pronto, para quem eu a mostrarei?

A existência está aí, pronta, sempre esperando. A cada momento, a cada curva da estrada, logo na esquina, ela está sempre esperando e esperando. Ela tem uma paciência infinita – mas você não está pronto.

Diz-se que finalmente o rei ficou pronto e o pintor disse: “Tudo bem, chegou a hora”. Eles entraram no quarto – ninguém mais teve permissão de entrar. A pintura era realmente maravilhosa. Era difícil dizer se era realmente uma pintura – ela parecia real. O mestre fez uma pintura de colinas e vales que pareciam tridimensionais, como se existissem de fato. Entre as colinas havia um pequeno caminho levando a algum lugar.

Agora vem a parte mais intricada da história. O rei perguntou: “Esse caminho vai dar aonde?”

O pintor disse: “Ainda não andei por ele, mas espere, vou ver”. Ele entrou no caminho e desapareceu além das colinas e nunca mais voltou.

É isto o que significa um mistério: ele diz muitas coisas sem nada dizer.

Se você for à natureza para descobrir aonde ela vai dar, não fique de fora para perguntar, porque assim nada pode ser feito. Você precisa penetrar nela. Se você penetrar, nunca voltará, porque o próprio movimento em direção à existência... e você perde o seu ego, você desaparece. Você atingirá o objetivo, mas nunca voltará para relatar a história. O pintor nunca voltou. Ninguém voltou, ninguém pode voltar, porque quanto mais existencial você se tornar, mais seu ego se perderá.

A existência abre milhões de portas para você, mas você fica de fora e quer saber algo à respeito de fora. Na natureza, não existe fora. Tudo está dentro... porque como algo pode existir fora da natureza? O todo é o interior. E a mente está tentando o impossível, está tentando ficar de fora, observar, perceber o que ela significa. Não, você precisa participar, precisa entrar nela, se integrar e se dispersar como uma nuvem – em algum lugar desconhecido.


Agora preste atenção nestas palavras de Heráclito:

“É melhor que as coisas não aconteçam às pessoas exatamente como elas querem...”

Por que? Por que não seria melhor? Porque tudo o que você deseja está errado, pois você está errado – como você pode desejar ou querer algo certo? Para desejar algo certo, em primeiro lugar, você precisa estar certo. A partir da ignorância, tudo o que for desejado o levará a um inferno cada vez mais profundo, porque um desejo é parte de você, ele vem de você. Como algo diferente pode vir? Tudo o que vier será você. É por isso que seus desejos criam cada vez mais problemas. Quanto mais você desejar, mais problemas criará. Quanto mais satisfizer seus desejos, mais estará em dificuldades. Mas não há retorno, você precisa seguir em frente. Daí a insistência de todos os que sabem: para encontrar a existência, o primeiro ponto é entrar num estado de ausência de desejos.

Nada está errado em desejar; desejar, em si, é belo... se um Buda desejar. Mas você desejar? Como você pode desejar algo que o conduzirá ao estado de graça? Não – porque o desejo vem de você, ele é parte de você. Ele é uma continuidade e, se você estiver errado, o desejo estará errado. Ele continuamente repetirá você – em diferentes situações, é claro, em diferentes mundos, em diferentes planetas, em diferentes vidas, mas seu desejo repetirá você. Seu desejo não pode transformá-lo. É por isso que digo às pessoas: “Se você tem intenção de ser iniciado, se tem a intenção de dar um salto no desconhecido, não pense a respeito – deixe isso comigo”. Por que a ênfase em deixar comigo? Somente para que você não o deseje. Deixe que seja algo que não venha de você, porque tudo o que vier de você será você – modificado, colorido de maneiras diferentes, mas será você.

Se você for um negociante e deseja moksha, a libertação, isso será um negócio, e não pode ser de outra maneira. Você estará procurando lucros – no outro mundo, é claro, mas tudo o que vier de sua mente será a partir do seu passado. E uma quebra é necessária, uma completa cisão é necessária, uma cisão intransponível.

Esse é o significado de ir até um mestre e se entregar. O que você entrega? Você entrega o seu desejar – o que mais você pode entregar? Você não tem mais nada. Você diz: “Agora não desejarei. Agora diga algo e o farei”. Você está permitindo que uma outra coisa entre em seu passado. Se você disser: “Sim, estou convencido, estou pronto a ser iniciado”, a iniciação será inútil. Se a iniciação acontecer a partir da sua convicção, ela não tem sentido. Mas este é o problema: primeiro você gostaria de ser convencido, primeiro gostaria de argumentar a respeito. Sua mente gosta de decidir.

Pessoas me procuram e dizem: “A menos que o desejo nasça em nós, como poderemos dar o salto?” Mas o problema é precisamente esse. Continuamente você tem desejado a partir de você mesmo, por muitas vidas, e isso não o levou a lugar nenhum – não pode levar. Você pode perceber o ponto? Você está errado, você deseja, e o desejo está errado. É isto. Você está errado, você acredita, e a crença está errada.

Você ouviu falar do rei Midas? Tudo o que ele tocava transformava-se em ouro. Tudo o que você toca, mesmo se for ouro, imediatamente se transforma em poeira. A questão não é um desejo correto ou incorreto. A questão não é um ato correto ou incorreto. Não existe tal coisa como um ato correto ou incorreto, e não existem desejos corretos ou incorretos. Existe somente um ser que deseja. Se ele for ignorante, tudo o que vier dele será incorreto. E, se o ser que deseja não for ignorante, algo totalmente diferente nasce a partir dele.

Lembre-se: o ser importa, e somente o ser importa – e nada mais.

“É melhor que as coisas não aconteçam às pessoas exatamente como elas querem...”

Pare de querer! Você tem vivido em infernos porque tem desejado. Pare de desejar! Pare de desejar e as portas se abrem. O desejo reforça a sua mente.

Tente entender a natureza do desejo. Desejar significa projetar o seu passado no futuro. E o futuro é desconhecido, e tudo o que você pedir será a partir do passado. Todo desejo repetirá continuamente o passado. Como você pode desejar o desconhecido? Como pode desejar o que está no futuro? Você não o conhece. O futuro é o desconhecido, o passado é o conhecido. Se você desejar será a partir do passado.

Mulla Nasruddin estava em seu leito de morte. Alguém lhe perguntou: “Se você nascer de novo, gostaria de viver de modo novo, ou gostaria de ter a mesma vida?”

Mulla ruminou bastante e, finalmente, abriu os olhos e disse: “Sempre quis partir o cabelo ao meio. Essa seria a única mudança. Eu sempre penteio o cabelo para a direita, e sempre quis parti-lo ao meio. Quanto ao resto, tudo seria igual ao que é”.

Parece estúpido, mas é assim que acontece. Se você pensar, se um outra chance for dada a você, o que você faria? Todas as mudanças que você gostaria de fazer não seriam mais do que o pedido de Mulla. Elas seriam apenas partir o cabelo ao meio. Você gostaria de ter uma outra mulher – mas que diferença faria? Você gostaria de ter outra profissão. Que diferença isso faria? Não seria mais do que partir o cabelo ao meio.

Você não pode pedir o passado, e o futuro é desconhecido. Por você ficar pedindo o passado, caminha num círculo vicioso. Esse círculo é o mundo, o sansar, o ir e vir, o nascer de novo e o morrer de novo. Repetidamente você faz a mesma coisa. Nenhuma mudança básica! Não pode haver, porque tudo o que você pensar, pensa a partir do conhecido. O conhecido é o seu passado. Então, o que fazer? Não deseje. Deixe que o futuro venha sem desejá-lo. O futuro virá – ele não precisa ser desejado. Ele já está vindo! Você não precisa forçar as suas projeções sobre ele. Seja passivo, não seja ativo a respeito. Deixe que ele venha. Não peça nada – esse é o significado da ausência de desejo. Não se trata de sair do mundo, de renunciar ao mundo e ir para o Himalaia – todas essas coisas são imaturas.

Partir, renunciar, significa não desejar – e esperar sem qualquer desejo, apenas esperar: “Tudo o que acontecer, serei uma testemunha”. Se você puder esperar sem desejar, tudo acontecerá a você – e acontecerá a partir da totalidade, do todo, do próprio Deus. Se você pedir, se desejar, acontecerá, mas acontecerá a partir de você mesmo. Você se fecha em si mesmo e nunca permite que a existência lhe aconteça.

“É melhor que as coisas não aconteçam às pessoas exatamente como elas querem...”

Heráclito diz: “É bom que as coisas não aconteçam como você quer.” Essa é a única possibilidade para o seu despertar. Por isso ele diz que é bom – porque, se todo desejo fosse satisfeito, você ficaria completamente em coma, pois em você não haveria mais perturbação. Você desejou riquezas e as riquezas estão aí; você desejou belas mulheres e belas mulheres estão aí; você desejou sucesso e o sucesso está aí; você desejou uma escada para alcançar o paraíso e a escada está aí. Você ficaria em coma, estaria num sonho. Se tudo fosse satisfeito, você jamais tentaria procurar a verdade. Não haveria intervalo para você... porque somente a miséria, dukkha, a infelicidade, o inferno que você cria à sua volta o ajudará a despertar. Isso o chacoalha para acordá-lo.

Na mitologia hindu está escrito que, num paraíso de deuses, todos os desejos são satisfeitos imediatamente, sem nenhum intervalo de tempo. Na concepção hindu do paraíso, existem árvores que satisfazem os desejos, kalptarus. Você se senta sob elas e deseja qualquer coisa, e sem nenhum intervalo de tempo... aqui você deseja e aqui recebe. Nem mesmo um único momento é perdido. Você pede uma bela mulher e ela aparece. Mas esses deuses devem estar vivendo em sonhos, devem estar vivendo drogados.

Os hindus dizem que do paraíso não há caminho que leve à verdade. Isso é muito belo. Eles dizem que, se um deus deseja se libertar completamente, terá de vir à terra. Por que? Porque no paraíso não existe infelicidade, não existe miséria para despertar alguém. Trata-se de um sono longo e tranqüilo, onde os sonhos são continuamente satisfeitos. Se todo sonho é satisfeito, porque o sonhador deveria abrir os olhos? Mesmo os deuses precisam vir à terra, e somente então podem ser libertados. Essa é uma concepção rara. Os cristãos não têm esse tipo de concepção; o paraíso deles é a última coisa. Mas os hindus dizem que ele não é a última coisa – ele é apenas um estado de sono bom e belo. Bom, belo, longo, muito longo, pode durar milhares de anos, mas é um estado de sonho. Para os deuses serem libertados, eles precisam descer de volta à terra. Por que à terra? Porque na terra existe miséria, dor, angústia... e somente a angústia é necessária. Somente isso pode sobressaltá-los e tirá-los de sua soneca.

“É melhor que as coisas não aconteçam às pessoas exatamente como elas querem...”

Uma coisa ou outra sempre sai errada, e isso é belo! Se nada sair errado, se tudo o que acontecer for o que você gostaria que acontecesse, quem desejaria a verdade, quem procuraria a existência, quem desejaria a liberdade, a liberdade total, moksha? Ninguém!

Por meio das drogas, as pessoas estão tentando ser como deuses do paraíso hindu. Você fuma maconha ou haxixe, ou toma LSD, e entra num estado de sonho, um belo estado de sonho, e fica sob uma árvore que satisfaz seus desejos. As drogas são contra a verdade, porque a verdade necessita de um despertar – despertar do passado, despertar dos sonhos, despertar de seus desejos para perceber toda a falsidade que você criou à sua volta e para abandoná-la. E abandoná-la sem nenhum esforço, apenas perceber que ela está errada e abandoná-la.

Lembre-se: se você fizer muito esforço para abandoná-la, o próprio esforço o torna feio. A compreensão não precisa realmente de muito esforço. Você compreende algo, percebe a realidade e o abandona. Você não pode perceber que está infeliz devido a seus desejos? Isso é algo para argumentar, algo a se convencer? Você não pode perceber isso? É muito claro que a partir dos desejos você criou um inferno. Então, por que se esforçar? Num puro e intenso momento de compreensão, por que não abandoná-los imediatamente? E, se você puder abandoná-los imediatamente, terá uma beleza e uma graça. Você não encontrará essa graça nos pretensos monges. Por todo o mundo, você não encontrará essa graça nos monges católicos, hindus e jainistas, porque eles estão tentando abandonar os desejos. O próprio esforço de abandonar mostra que eles ainda estão apegados; senão, por que se esforçar? Eles gostariam de parar de desejar, mas esse também é um desejo – e por isso há esforço. Eles se apegam e gostariam de abandonar os desejos. Eles não atingiram um momento de compreensão, um momento de verdade.

Todo o meu esforço para com você é levá-lo a um momento de compreensão no qual o esforço seja inútil. O entendimento é tão intenso, tão ardente, que tudo simplesmente se incendeia. Você percebe, e sua própria percepção se torna o abandonar.

Isso é possível, aconteceu comigo e pode acontecer com você. De maneira nenhuma sou excepcional; sou apenas uma pessoa comum. Se aconteceu comigo, uma pessoa comum, por que não com você? Simplesmente faça uma busca intensa em direção à compreensão. Compreensão é transformação, é mutação, é revelação. A compreensão liberta.

Preste atenção nestas palavras:

“É melhor que as coisas não aconteçam às pessoas
exatamente como elas querer.
A menos que você espere o inesperado,
jamais encontrará a verdade,
pois é árduo descobri-la
e é árduo atingi-la.”


Deixe que estas palavras entrem no seu coração:

“A menos que você espere o inesperado, jamais encontrará a verdade...”

Porque a verdade não pode ser sua expectativa. Tudo o que você esperar será uma mentira, uma projeção, uma parte de sua mente. Não, a verdade não pode ser prevista. Ela o toma de surpresa. Na realidade, ela vem quando você não espera por ela. Ela é uma iluminação repentina.

A expectativa significa que o seu conhecido se projeta no futuro, no desconhecido. Por isso, digo que, se você for cristão, hindu, budista ou jainista, errará o alvo – pois o que significa ser cristão? Significa uma expectativa cristã, significa um Deus visto por meio de olhos cristãos, significa uma concepção, uma filosofia. O que significa ser hindu? Significa um sistema de crença. Isso lhe dá uma expectativa, você espera um Deus, espera a verdade. A verdade será de uma certa maneira, o Deus será de uma certa maneira – a face, a figura, a forma, o nome que você esperou. Sua expectativa é a barreira, porque Deus é o inesperado, a verdade é o inesperado. Ela nunca foi teorizada, nunca foi trazida à linguagem e não pode ser forçada em palavras; ninguém jamais conseguiu e jamais conseguirá. Ela permanece o inesperado! Ela é uma estranha.

Sempre que Deus bater à sua porta, você não encontrará uma face familiar, não. Ele é o não-familiar, o estranho. Você nunca pensou sobre ele, nunca ouviu falar sobre ele, nunca leu sobre ele. Apenas o estranho... E, se você não pode aceitar o estranho, se pedir o familiar, a verdade não é para você. A verdade é uma estranha, ela vem sem dar aviso de que está vindo, ela vem quando você não está esperando, não está aguardando.

Lembre-se disto: as pessoas meditam continuamente, e isso é uma necessidade, mas a verdade nunca ocorre na meditação. Ela acontece fora. Mas a meditação ajuda-o, deixa-o alerta, faz com que você fique atento, faz com que você fique cada vez mais perceptivo e consciente. E subitamente, em algum lugar... ela acontece em momentos inesperados, você não pode entender o motivo de Deus escolher momentos tão inesperados.

Uma monja está carregando água, a alça de bambu quebra e o pote de barro cai e a água escorre... e, repentinamente, ela desperta. O que aconteceu? Por quarenta, cinqüenta anos ela meditou e ele nunca veio – porque meditação significa que você está esperando, está observando algo que irá acontecer. Sua mente está presente, funcionando muito sutilmente – muito, muito sutilmente, você pode até não detectar onde ela está. Você pode achar que agora tudo está em silêncio, nenhum pensamento, mas isso também é um pensamento. Você sente silêncio absoluto, mas mesmo essa impressão de que agora existe um silêncio absoluto e que logo a porta irá se abrir... isso é um pensamento. Quando você fica absolutamente silencioso, mesmo esse pensamento não está presente, que “Estou silencioso”. Mas isso significa que você não deve estar “meditando”. E este é o paradoxo: medite tanto quanto puder para trazer um momento de meditação não-meditativa.

Isso aconteceu com a monja. Ao carregar água, ela não estava preocupada com Deus; a alça de bambu era velha e ela estava preocupada com o bambu. Ela o segurava dessa e daquela maneira, com receio de que ele quebrasse a qualquer momento. E o pote era de barro e ele quebraria. Ela de maneira nenhuma estava à porta da verdade, e a porta estava aberta porque ela meditou por quarenta anos. Assim, a porta estava aberta, mas ela não estava lá... Subitamente, o bambu rompeu, o porte caiu e quebrou e a água fluiu. Foi um choque! Por um momento, mesmo essa preocupação de dissolveu. O que tinha de acontecer, aconteceu. Agora ela está em um momento não-meditativo e Deus está presente, e aconteceu.

Sempre acontece dessa maneira – e tais momentos a pessoa nunca espera. Quando você espera, você perde, porque você está presente em sua expectativa. Quando você não espera, acontece, porque o eu não está presente – ninguém está presente. Quando sua casa está totalmente vazia, tão vazia a ponto de você nem estar ciente de que “estou vazio”... porque esse tanto já será uma perturbação suficiente... Quando mesmo o vazio é jogado fora, ele vem.

“A menos que você espere o inesperado...”

Abandone todas as suas noções sobre Deus. Todas elas são falsas. Deixe que Deus mesmo diga quem Ele é a você. Você deve ter ouvido os hindus dizerem que as noções cristãs são falsas, os cristãos dizerem que as noções hindus são falsas, os jainistas dizerem que as noções cristãs e hindus são falsas, os budistas dizerem que as noções jainistas, cristãs e hindus são falsas – digo que todas as noções são falsas. Não que a minha noção esteja correta – não! Noção, como tal, é falsa, porque ela faz uma teoria a partir do desconhecido, o que não é possível. Todas as teorias são falsas, sem exceção. Todas as teorias são falsas – absolutamente, categoricamente, incluindo as minhas – porque o inesperado permanece o inesperado.

“A menos que você espere o inesperado,
jamais encontrará a verdade,
pois é árduo descobri-la
e é árduo atingi-la”


Na realidade, não é árduo atingi-la e não é árduo descobri-la. Por sua causa, é árduo atingi-la e descobri-la – pois como colocar essa mente de lado? A mente é sutil, ela permanece mesmo ao colocá-la de lado. Ela diz: “Tudo bem, não estarei aqui”. Mas isso também é mente. Ela diz: “Agora, deixe que Deus bata à porta. Eu não estou”. Mas isso também é a mente. A mente diz: “Meditarei, abandonarei todos os pensamentos”. Ela diz: “Olhe, abandonei todos os pensamentos. Olhe! Estou vazia”. Mas isso também é mente. Esse é o problema, tudo o que você faz, a mente está por lá.

Perceba o ponto – nenhum esforço ajudará. Apenas perceba o ponto – a mente existe por meio de pretensões... Perceba o ponto! Por que digo para perceber o ponto? Porque, se você perceber o ponto, não haverá pretensão. Se você não perceber o ponto, a mente poderá enaltecer-se: “Estou aqui sem pretensões”. Perceba o ponto! O vazio é necessário, não a pretensão de que estou vazio. A consciência é necessária, não a pretensão de que sou a consciência – porque sempre que surge o “eu”, você entrou na noite escura da mente. Quando o “eu” não está presente, há luz, tudo fica claro. Uma clareza, uma percepção infinita – você pode perceber amplamente, pode perceber o todo.

Dessa maneira, a única coisa que pode ser feita é observar as artimanhas da mente. E não tente fazer o oposto. Por exemplo, sua mente está repleta de pensamentos – não tente lutar contra os pensamentos, porque esse lutador é a mente. E, se você lutar, a mente alegará o oposto: “Olhe! Abandonei todos os pensamentos. Agora, onde está Deus? Onde está a iluminação?” Não faça o oposto, não crie uma luta, porque com a luta vem a pretensão.

Simplesmente observe e relaxe. Simplesmente observe e divirta-se com as artimanhas da mente. Divirta-se, elas são tão belas! Quão enganadoras, quão ilusórias! Como elas insistem em vir sem parar! Os hindus sempre dizem que elas são como a cauda de um cão. Mesmo se ela for mantida na reta por doze anos, no momento em que o esforço for interrompido, a cauda se curva novamente.



Um dia eu conversava com uma criança e ela disse: “Estamos nos esforçando para endireitar um amigo – porque ele não acredita em Santa Clara”. Num outro dia ele continuou: “Depois de sete dias de esforço, ele se rendeu e afirmou que agora acredita nela”. Mas, no dia seguinte, o menino disse: “Precisamos nos esforçar mais”.

Perguntei: “O que aconteceu? Ontem você disse que ele tinha se endireitado. Então, pra que se esforçar agora?”

O menino respondeu: “Ele deu pra trás de novo – nós o endireitamos, mas ele sempre dá para trás”.

Essa é a natureza da mente. Não há o que fazer. Essa é a natureza da mente – entenda-a, e isso é tudo. O entendimento é suficiente. Se não for assim, fica difícil... Você pode insistir, mas a mente o seguirá como uma sombra, e tudo o que você alegar será uma alegação da mente. É por isso que todos os sábios dizem: “Os que alegam que sabem, não sabem. Os que dizem que atingiram, não atingiram”. Por que? Porque a própria alegação é perigosa.

“A menos que você espere o inesperado
jamais encontrará a verdade,
pois é árduo descobri-la
e é árduo atingi-la.
A natureza adora se ocultar.”


Esse é um jogo de esconde-esconde. Ele é belo assim como é! A natureza não está na superfície, ela está oculta no centro. A natureza é como as raízes das árvores, ela fica na profundidade do solo – o mais essencial está oculto. Nunca considere que a árvore é o mais essencial. Ela é apenas a periferia de onde vêm as flores, as folhas, os frutos; ela é a periferia. A árvore verdadeira existe no subsolo, no escuro; ela está oculta no útero escuro da terra. Pode-se cortar a árvore e uma nova árvore brotará, mas corte as raízes e tudo desaparece.

Você não está na superfície de sua pele; essa é a periferia. Você é o subsolo profundo e oculto. E Deus não está na superfície. A ciência aprende cada vez mais sobre a superfície, aprende cada vez mais sobre a pele. Não importa o quão fundo a ciência vá, ela nunca vai realmente fundo, porque ela aprende de fora. De fora pode-se aprender somente sobre a pele. O real está oculto no interior, no santuário mais íntimo. Também em você ele está oculto no santuário mais íntimo. Você vive na periferia e assim o perde. E a existência tem um centro – o centro está oculto.

“A natureza adora se ocultar(...)”

Por que? Por que a natureza adora se ocultar? Porque esse é um jogo. Em sua infância você deve ter brincado de esconde-esconde. Para Heráclito, a existência é um jogo, é uma leela, uma brincadeira. Ela se oculta, e isso é belo! – e você precisa descobrir. E no próprio esforço de descobrir, você cresce.

Existem dois tipos de pessoa. Um chamo de não-descobridoras: elas permanecem na periferia. E as descobridoras: elas caminham e direção ao centro. As pessoas que vivem na periferia são mundanas. O mundo dos negócios é periferia, a política é periferia, sucessos e conquistas são periferia. Elas não são descobridoras, não são aventureiras. Mesmo se forem para a lua, isso não é uma aventura, porque elas permanecem na periferia. A aventura verdadeira é religiosa, é caminhas para o próprio centro do ser.

Primeiro você precisa entrar em você mesmo, porque você é um mundo em miniatura. Você caminha para o seu centro e, a partir desse centro, tem o primeiro vislumbre de como as coisas são. O real está oculto. Na periferia estão as ondas, os sonhos; na periferia há apenas uma representação. Na profundidade, no âmago mais profundo da existência, está o oculto. Heráclito o chama de harmonia oculta.

Caminhe em direção ao ser, ao centro, à própria base. Procure sempre as raízes, e não se deixe enganar pelas folhagens. Mas você é enganado pelas folhagens – se uma pessoa é bonita na superfície, você se apaixona; você se apaixonou pela folhagem. Mas a pessoa pode não ser bonita por dentro, ela pode ser absolutamente feia – e você caiu na armadilha. Há uma graça interior quando a luz brilha por dentro e chega também na periferia; não se pode ver de onde ela está vindo. Você pode ver uma pessoa bonita e, ainda assim, feia, e pode ver justamente o oposto também acontecendo: uma pessoa feia e, ainda assim, bonita.

Quando uma pessoa feia é bela, não se pode encontrar a fonte, onde ela está, porque a pele as superfície, a estrutura e a fisiologia não são atraentes – mas algo interior o atrai. Quando acontece da pessoa ser bela na superfície e também no ser interior, trata-se de algo muito misterioso. Então, o que acontece é carisma. Algumas vezes você sente um carisma à volta de uma pessoa – carisma significa que existe alguma harmonia oculta entre a superfície e o centro; a personalidade tem um magnetismo, algo do divino. Esse encontro da periferia com o centro é uma harmonia oculta.

“A natureza adora se ocultar(...)”

Por que? Porque somente por meio do ocultar-se o jogo pode continuar; do contrário, o jogo cessará. O jogo continua, ele é eterno.

E lembre-se também disto: mesmo se você encontrar, o jogo continua, mas então ele também tem uma qualidade diferente. Nunca ache que o jogo terminará quando você encontrar o âmago mais profundo. Não, o jogo continua. Agora com consciência, muitas vezes você se afasta do centro oculto; com consciência, você dá uma chance para a natureza se ocultar novamente – mas agora é proposital. É como duas crianças brincando, e uma sabe onde a outra está escondida. Para dar certa qualidade ao jogo, ela procura em todos os lugares e corre por toda parte, exceto naquele lugar. Ela sabe onde a outra está escondida, ela poderia pegá-la de cara, mas fica dando voltas.

Os budas continuam a jogar, mas o jogo muda. Agora eles sabem, agora não há ansiedade, não há desejos, nada a ser atingido. Agora, trata-se de um simples jogo. Não há objetivo nele – ele continua.

Assim, há duas possibilidades. Um jogo ignorante... é isso o que está acontecendo com você. Por você ser ignorante, você leva o jogo muito a sério – a seriedade se torna uma doença – e fica triste a respeito. Pessoas me procuram... se elas meditam e não alcançam, ficam muito sérias e frustradas. Eu digo para não ficarem sérias e frustradas, porque este é todo o ponto a ser entendido: trata-se de um jogo! Não há pressa para terminá-lo; ele não é um negócio. Deixe que ele se estenda tanto quanto possível. Por que tanta pressa? Por que ficar tão tenso? A infinidade está à frente, um tempo eterno está à frente, não há pressa. Você sempre estará presente e o jogo sempre estará presente – ele sempre existiu e sempre existirá. Tome-o com leveza... leve-o numa boa! Ele está sempre na esquina, a qualquer momento pode ser descoberto.

Mas por que tanta pressa? Relaxe – se você puder relaxar, chegará mais cedo ao centro. E, se estiver com pressa, permanecerá na superfície, pois uma mente apressada e tensa não pode se dirigir aos reinos mais profundos do ser. Somente a paciência o ajuda a se estabelecer na essência, na verdadeira essência.

“A natureza adora se ocultar(...)”

É belo a natureza adorar se ocultar. A natureza não é exibicionista. Ela não é exibicionista. A impressão de que ela consiste na folhagem é apenas uma maneira de se ocultar. De uma maneira sutil, Deus está se ocultando na flor. Se você simplesmente perceber a flor, errará o alvo.

Um poeta inglês, Tennyson, disse corretamente: “Se eu puder entender uma flor em sua totalidade, compreenderei Deus”. Ele está certo! Se você puder entender uma pedrinha na praia em sua totalidade, compreenderá Deus, pois esses são todos os esconderijos. Uma flor é um esconderijo, uma pedrinha também é um esconderijo. Ele está oculto em todos os lugares – milhões de formas. Onde você estiver, ele estará presente em todas as formas à sua volta. Qualquer forma pode passar a ser uma porta. Ao ter prontidão para entrar, ao não ter expectativa, ao não desejar, ao não pedir ou projetar algo, repentinamente a porta se abre.

“(...) O senhor cujo oráculo está em Delfos nem fala nem encobre – mas dá sinais.”

Em Delfos há um velho santuário grego, e as pessoas costumavam ir ao oráculo de Delfos par fazer perguntas. Mas o oráculo de Delfos nunca disse nada, ele simplesmente dava sinais. Heráclito o usa como uma parábola. Ele diz que Deus, o total, o todo, nunca fala em termos de sim ou não – ele simplesmente dá sinais. Ele é poético, ele lhe dá símbolos. Não tente interpretá-los. Se você interpretar, perderá. Apenas observe e deixe o sinal penetrar mais fundo em você e ser impresso em seu coração. Não tente encontrar o significado imediatamente, pois quem descobrirá o significado? Se você encontrar o significado, ele será o seu significado. Apenas deixe o sinal, o símbolo, ser impresso em seu coração e, algum dia, a vida revelará o significado. Você simplesmente vive com ele, simplesmente deixa que ele esteja presente.

Por exemplo, você vem a mim e pergunta: “como a minha meditação está indo?” Você me pergunta e eu sorrio. Eu lhe dei um sinal. O que você fará com isso? Você pode interpretar. Essa é a primeira tendência da mente. Você pensará: “Tudo bem, ele sorriu, e isso significa que estou chegando lá. Ele disse sim e tudo está indo bem. Estou no caminho certo”. Seu ego fica satisfeito. Se você estiver numa disposição de ânimo positiva, essa será a interpretação. Mas, se você estiver numa disposição de ânimo negativa, pensará: “Ele sorriu – ele não disse sim e apenas foi gentil, mas não estou indo a lugar nenhum”.

Das duas maneiras você errou o alvo, pois, se houvesse um sim a ser dito, eu o teria dito. Eu não o teria colocado numa tal dificuldade para encontrar a interpretação. Se houvesse um sim a ser dito, eu o teria dito; se houvesse um não a ser dito, eu também o teria dito. Mas eu simplesmente lhe sorri, não disse nem sim nem não. Na realidade, eu nada lhe disse – eu lhe dei um sinal. Não o interprete! Deixe que esse sorriso penetre fundo em seu coração, deixe que esse sorriso esteja presente. Algumas vezes lembre-se dele, coloque-o de volta no coração, deixe que ele se dissolva em você e não tente encontrar o significado – e isso ajudará na sua meditação. Um dia, subitamente, num profundo estado meditativo, você começará a sorrir da mesma maneira que eu sorri, porque esse momento será o momento da compreensão. Então, você poderá sorrir, pois saberá qual era o significado.

A vida é sutil. O “sim” e o “não” não podem ser usados. A vida é tão sutil que, se você disser sim, você o falsifica, e, se disser não, você o falsifica também. A linguagem é muito pobre, ela conhece somente duas coisas, sim e não. E a vida é muito rica, ela conhece infinitas posturas e posições entre o sim e o não – infinitas gradações. Trata-se de um espectro de milhões e milhões de cores. Sim e não são muito pobres – você nada diz com eles. Sim e não significam que você dividiu a vida em preto e branco. Mas a vida tem milhões de cores, ela é um arco-íris.

Na realidade, o preto e o branco não são cores. Tirando o preto e o branco, todas as cores existem. Você precisa entender isso. O preto é a ausência de todas as cores, ele não é uma cor. Quando nenhuma cor está presente, o vazio é escuro; em si mesmo, ele não é uma cor. É por isso que o preto não é muito encontrado na natureza. Ele é uma ausência. E o branco também não é uma cor, mas uma mistura de todas as cores, elas viram branco; ele não é uma cor. Branco é um pólo, preto é outro. A presença de todas as cores é o branco, a ausência de todas as cores é o preto. Entre essas duas polaridades, existem cores reais – verde, vermelho, amarelo e todas as suas variações, milhões de variações.

Quando lhe sorrio, não estou dizendo preto ou branco, sim ou não – estou lhe dando uma cor no espectro, uma cor real. Não tente interpretar, pois se o fizer, dirá que é preto ou branco, e não se trata de nenhum dos dois. A cor está em algum lugar no meio, e ela é tão sutil que palavras não podem expressá-la. Se palavras pudessem expressá-la, eu lhe daria uma palavra e não o teria colocado desnecessariamente em dificuldade.

Você me procura, diz algo e eu não respondo. Algumas vezes acontece de você vir me ver e eu nem mesmo lhe faço uma pergunta e simplesmente o esqueço. Eu interpelo outros e deixo você de lado. Você interpretará isso: “Por que?” Não interprete, simplesmente deixe esse ato entrar fundo em você. Algum dia, numa disposição de ânimo muito meditativa, o significado florescerá. Estou pondo sementes em você, e não lhe dando palavras e teorias.

Quando eu me for, por favor, lembre-se de mim como um poeta, e não como um filósofo. A poesia precisa ser entendida de maneira diferente – você precisa amar a poesia, e não interpretá-la. Você precisa repeti-la muitas vezes, de tal modo que ela se misture com o seu sangue, com os seus ossos, com a sua própria medula. Você precisa recitar poesia muitas vezes, de tal modo que possa sentir todas as nuanças, as suas formas sutis. Você precisa sentar-se simplesmente e deixar a poesia entrar em você, para que ela passe a ser uma força viva. Você a digere e depois se esquece dela; ela entra cada vez mais fundo e o transforma.

Deixe que eu seja lembrado como um poeta. É claro, não estou escrevendo poesias em palavras. Estou escrevendo num veículo mais vivo – em você. E é isso o que toda a existência está fazendo.

Heráclito diz: “O senhor cujo oráculo está em Delfos nem fala nem encobre – mas dá sinais.”

Um sinal não deve ser interpretado, um sinal deve ser vivido. Sua mente terá a tentação de interpretá-lo. Não seja tentado pela mente; apenas diga a ela: “Isso não lhe diz respeito, não é para você. Vá brincar com outras coisas. Deixe que isso penetre mais fundo em meu ser”. E é isso o que faço quando me comunico com você.

Não estou me comunicando com sua mente, mas com você como ser, como ser luminoso, como deus encarnado, como uma possibilidade, como uma potencialidade infinita. Estou me comunicando com o seu futuro, e não com o seu passado. Seu passado é lixo – jogue-o fora! Não o carregue. Estou me comunicando com o seu futuro, o inesperado, o desconhecido. Aos poucos você será capaz de ouvir esta música, a música do desconhecido, a música em que todos os opostos desaparecem e surge uma harmonia oculta.

Sim, a natureza adora se ocultar, porque ela é um mistério. Ela não é uma questão, não é um quebra-cabeça a ser resolvido. Ela é um mistério a ser vivido, desfrutado, celebrado.



Osho

2 comentários:

Anônimo disse...

"Os cristãos não têm esse tipo de concepção; o paraíso deles é a última coisa. Mas os hindus dizem que ele não é a última coisa –(...)"


Hum... na visão de dentro, os cristãos têm o paraíso como primeira coisa. Depois vem a Terra, e por último o Reino dos Céus. Reino dos céus é diferente de paraíso. O primeiro é herdado, o segundo é conquistado. O que há na no meio é a perda da herança e a conquista de uma nova.

Não há como separar do cristianismo a noção da superação da dor e dos limites humanos. O próprio Cristo veio para sofrer na Terra, e entregar sua vida. O cristianismo é bem profundo e tão belo quanto qualquer religião oriental. Só que as pessoas preferem rotular, e buscar lá fora a riqueza que elas têm aqui dentro.

filhadevenus disse...

Olá.eu não vou comentar sobe a postagem, apenas posso dizer obrigada pela postagem.
Ana