"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, outubro 01, 2018

Por que os vários caminhos afirmam serem o único verdadeiro?

- OSHO -


Questão: Amado Osho, eu não compreendo por que os mestres iluminados criticam tanto uns aos outros. Não estão eles todos trabalhando na direção do bem mais elevado? Não são eles diferentes sabores da mesma verdade?

OSHO: Anand Varuni, a questão que você levantou é quase impossível de se responder, pela simples razão de que você não é iluminado ainda. Você não conhece os meios, ou a maneira, dos iluminados. Você não conhece seus artifícios, você não conhece seus métodos; daí, a incompreensão.

Uma história antiga pode ajudá-lo...

Numa grande cidade, havia duas grandes lojas e, um dia, os proprietários das duas lojas, por alguma razão, começaram a brigar um com o outro. Naturalmente, eles não tinham nenhum outro meio de brigar, então, começaram a jogar doces um no outro. A cidade toda se juntou e as pessoas se deliciaram com os doces que caíam na rua.

Quando dois mestres iluminados se criticam, isso traz muita satisfação àqueles que podem compreender. O sabor disso é quase inacreditável. Eles não são inimigos, a briga deles não é do ego. A briga deles tem um contexto totalmente diferente.

Eles brigam, porque sabem de uma coisa: que a meta é uma só, mas os caminhos são muitos. E cada mestre tem de defender seu caminho, sabendo perfeitamente bem que os outros caminhos são tão válidos quanto o seu. Mas, se ele começa dizendo que todos os caminhos são válidos, ele não causará o impacto, a influência sobre o seu povo. A jornada é longa e ele precisa de absoluta confiança.

Ele não é um filósofo propondo um sistema de filosofia. Seu interesse básico é que seu empenho para com o caminho seja total. Para torná-lo total, ele condena todos os outros caminhos, ele critica todos os outros meios. É por compaixão por vocês. Ele sabe que as pessoas no outro caminho também chegarão; e ele sabe que, por compaixão, o mestre do outro caminho tem de criticá-lo, tem de criticar seus meios.

Essa é uma metodologia simples para proteger o discípulo das influências que possam extraviá-lo. E a mente é muito, muito esperta em se extraviar. Se todos os caminhos são válidos, então, qual é a necessidade do empenho? Se todos os caminhos são válidos, então, qual é a necessidade de se ser total? Se todos os caminhos são válidos, então, por que não viajar por todos os caminhos, por que não ir mudando, desfrutando os diferentes meios, os diferentes métodos, os diferentes cenários? Cada caminho passará por diferentes terras: há caminhos que passarão pelo deserto, e há caminhos que passarão pelas montanhas, e há caminhos que passarão por belas árvores floridas.

Mas, se você viajar às vezes por um caminho e, depois, mudar de caminho, você terá de começar novamente do ABC. O que quer que você aprenda num caminho é inválido no outro caminho, e, se você for mantendo aquilo dentro de você, aquilo irá criar uma enorme confusão. Você já está numa grande confusão; nenhum mestre quer que você fique mais confuso!

Sua mente sempre quer mudar. Ela não conhece devoção: ela adora o que está na moda, seu interesse está sempre em alguma novidade. Assim, ela continuará se movendo de um caminho para outro caminho, tornando-se cada vez mais e mais confusa, porque cada caminho tem sua própria linguagem, cada caminho tem seu próprio único método, e cada mestre vai defender seu caminho contra todos os outros caminhos.

Se você se move em muitos caminhos, você juntará argumentos contraditórios: você ficará muito dividido, não saberá o que fazer. E se mudar de caminhos se tornar seu hábito – porque o novo tem uma certa atração para a mente – você se moverá alguns metros num caminho, alguns metros noutro caminho, mas você nunca completará a jornada.

Um dia, Jalaluddin Rumi levou todos os seus alunos, discípulos e devotos ao campo. Esse era seu modo de ensinar-lhes as coisas do além, através de exemplos deste mundo. Ele não era um teórico, era um homem muito prático. Os discípulos estavam pensando: "Qual pode ser a mensagem? Ir a um lugar tão distante... Por que ele não pode dizê-lo aqui?".

Mas, quando chegaram ao campo, eles compreenderam que estavam errados e ele estava certo. O fazendeiro parecia ser um homem insano. Ele estava cavando um poço no campo – e já tinha cavado oito poços incompletos. Ele furava uns poucos metros e, depois, ele achava que não havia água. Então, ele começava a cavar um outro poço... e a mesma história continuava. Ele já tinha destruído o campo todo e ainda não tinha encontrado água.

O mestre, Jalaluddin Rumi, lhes disse: "Podem compreender uma coisa? Se este homem tivesse sido total e tivesse posto toda sua energia num só poço, ele teria chegado às fontes mais profundas de água há muito tempo. Mas do jeito que ele está fazendo, ele destruirá todo o campo e nunca será capaz de fazer um simples poço. Com tanto esforço, ele está simplesmente destruindo sua terra, e ficando cada vez mais e mais frustrado, desapontado: que espécie de deserto ele comprou!? Não é um deserto, mas a pessoa tem de ir fundo para descobrir as fontes de água."

Ele virou-se para seus discípulos e perguntou-lhes: "Vocês vão seguir esse fazendeiro insano? Às vezes, num caminho, às vezes em outro, algumas vezes ouvindo um, às vezes ouvindo outro... Vocês vão juntar muito conhecimento, mas todo esse conhecimento é simplesmente lixo, porque ele não vai lhe dar a iluminação pela qual você está procurando. Ele não vai conduzi-los às águas da vida eterna.".

Os mestres adoram tremendamente criticar os outros mestres. Se os outros também são realmente iluminados, eles também adoram ser criticados. Eles sabem que o propósito de ambos é o mesmo: para proteger a mente vadia dos discípulos, para mantê-los numa trilha, eles têm de negar que haja um outro caminho em algum lugar que pode conduzi-los, além deste caminho.

Isso não é dito com uma atitude egoística: é dito por amor. Trata-se apenas de um artifício para fazê-lo empenhar-se, devotar-se. A jornada é longa, a noite é longa, e, se você se extraviar, você pode ficar rodando, rodando, pela eternidade, sem encontrar nada.

Mas, no seu estado de mente inconsciente, no seu espaço de ser não-iluminado, a questão parece ser relevante. Você está perguntando, Varuni: "Eu não compreendo por que os mestres iluminados criticam um ao outro.".

Não se incomode por que eles estão se criticando; você compreenderá isso quando se tornar iluminado. Antes disso, não é da sua conta! Se os iluminados gostam de se criticar, eles devem ter alguma razão própria, e você não está num estado adequado para compreender.

Gautama, O Buda, uma das pessoas iluminadas mais famosas na história da humanidade, tinha oito contemporâneos que eram iluminados, no mesmo pequeno estado de Bihar, na Índia. O próprio nome 'Bihar' surgiu, porque oito mestres iluminados estavam sempre andando por ali, descobrindo seu povo, procurando por aqueles que pudessem cair em sintonia com eles. Bihar significa "caminhante"; o nome veio daqueles oito iluminados – e eles viviam condenando uns aos outros.

Dois dos oito deixaram tradições que ainda vivem. Um era Gautama, O Buda; o outro foi Vardhamana Mahavira. Gautama, O Buda, deixou a grande tradição do budismo. Mahavira deixou uma outra tradição, o jainismo. Ambos estavam no mesmo espaço, mas eram imensamente críticos um do outro – nenhuma concordância em nem um único ponto.

Aconteceu muitas vezes de estarem na mesma cidade. Certa vez, aconteceu de estarem hospedados no mesmo caravançará. Metade do caravançará estava ocupado por Gautama, O Buda, e seus discípulos; e metade do caravançará estava ocupado por Mahavira e seus discípulos. Tradicionalmente, tem-se perguntado por que eles não se encontravam. Nem os budistas tinham a resposta, nem os jainas. Ambos eram iluminados; teria sido tremendamente belo se eles se encontrassem.

Mas eu sei por que eles não se encontraram: eles não queriam que seus discípulos ficassem confusos. A abordagem de Gautama, O Buda, não era a do guerreiro, mas a de um ser humano completamente relaxado. Mahavira tinha uma abordagem totalmente diferente, de completa austeridade, de esforço árduo; o modo do guerreiro era o seu modo. Mahavira, em comparação com Gautama, O Buda, era um extremista.

Gautama, O Buda, insistia no caminho do meio: evite todos os extremos. Fique exatamente no meio e você está certo. Todo extremo é perigoso, porque ele inclui o outro extremo, e a verdade não deve excluir nada. A verdade deve ser inclusiva de tudo. Assim, fique apenas no meio e ambos os extremos se tornam como duas asas de um pássaro e o pássaro é apenas o meio. Você pode usar ambos os extremos para voar através do sol até a mais distante estrela.

Mas o ponto de vista de Mahavira era o de que a menos que você escolha uma única dimensão do esforço e a menos que você seja totalmente devotado a ela, sem ficar preocupado com o fato de que você está se tornando um extremista... Somente do ponto extremo você pode pular no além.

Ora, ambos estão certos. Mas, se a pessoa que nunca seguiu nenhum caminho ouvir que ambos estão certos, ela ficará simplesmente confusa. Antes da sua iluminação, você tem de escolher. Depois da sua iluminação, você é absolutamente livre para declarar que todos os caminhos conduzem ao mesmo lugar. Mas enquanto você está conduzindo as pessoas no caminho, você tem de ser consistentemente insistente de que, exceto "este" caminho, tudo o mais tem de ser completamente esquecido.

Você tem de ser unidirecionado, exatamente como uma flecha se movendo em direção ao alvo, sem se importar sobre as outras flechas se movendo a partir de diferentes ângulos, diferentes aspectos. Se a flecha começa a pensar de diferentes ângulos e de diferentes aspectos, ela não vai chegar ao alvo. Ela ficará perdida em completa confusão.

As pessoas que seguiram Mahavira, alcançaram; e as pessoa que seguiram Gautama, O Buda, também alcançaram. Se você me pergunta, o que os leva para casa, eu digo: é a totalidade, a absoluta dedicação, o empenho incondicional. Não importa em que caminho você está, essas condições têm de ser preenchidas.

Na verdade, o caminho não importa, absolutamente. O que importa são estas três condições: se você puder preencher essas três condições, mesmo o caminho errado o conduzirá à meta correta. E, se você não puder preencher essas três condições, o caminho pode estar absolutamente certo – você não vai a lugar nenhum!

E, Varuni, uma coisa mais tem de ser compreendida: isto eu estou dizendo sobre os iluminados, mas há muitos que são simplesmente falsos. Você não pode fazer a distinção.

Não se trata apenas de gente iluminada criticando outra pessoa iluminada: eles também têm de criticar aqueles que não são iluminados e estão fingindo ser. Isso é absolutamente uma necessidade, que o falso deva ser exposto. Isso também faz parte da compaixão, de modo que você não seja apanhado pelo falso.

E você está perguntando: "Não estão eles todos trabalhando na direção do bem mais elevado?". 

Você não pode compreender nada sobre as pessoas que são iluminadas. Elas não estão trabalhando absolutamente – nem pelo bem elevado nem por nada mais. Elas estão simplesmente se deleitando e compartilhando o amor delas, sua luz, sua vida, tudo o que têm – sua bem-aventurança e sua paz e seu silêncio. E isso é simplesmente um deleite, não é um trabalho. Eles não estão trabalhando por algum bem mais elevado: eles mesmos são o bem mais elevado, não há necessidade de eles trabalharem por nenhum bem mais elevado. Isso é da linguagem cristã.

Eu já lhes disse que o homem que é iluminado é satyam, shivam, sundram. Ele mesmo é a própria verdade; ele não está trabalhando por nenhuma outra verdade. Ele mesmo é a divindade; ele não está trabalhando por nenhum outro bem. E ele mesmo é a beleza; ele não está tentando conduzi-los em direção a alguma beleza. Ele está presente. Você pode beber de seu poço e ficar absolutamente contente, agora mesmo, neste exato momento.

Um iluminado não mais está interessado no futuro. Não há futuro no que tange a ele. Tudo está sempre no presente. A existência está sempre no presente. Toda sua alegria não é conduzi-los em direção a algum bem, mas simplesmente trazê-los de volta para si mesmos – porque tudo que é belo, tudo que é bom e tudo que é grandioso, está dentro de vocês, não em algum outro lugar.

Será bom para você, em vez de perguntar sobre gente iluminada e se preocupar sobre o que eles estão fazendo e por eles o estão fazendo... O modo mais simples é este: torne-se iluminado e saberá!

Entre a iluminação e o estado de não-iluminado, há uma escala de muito longa distância. E as línguas são diferentes: algo é dito, outra coisa é ouvida – e isso tem sido assim durante séculos, incompreensões em cima de incompreensões. 

Do lugar de onde você está, não se preocupe sobre as ações das pessoas que vivem num plano totalmente diferente. Se você realmente quer compreendê-las, alcance a mesma consciência e você compreenderá sem nenhuma dúvida.

Eu me familiarizei com quase todos os iluminados que viveram na terra. Toda a minha vida estive buscando em todos os cantos da terra, e algumas coisas emergiram da minha pesquisa dos seres iluminados.

Eles são absolutamente perfeitos em todas as dimensões possíveis, com todos os sabores, e é uma pura necessidade para eles criticarem outros, sabendo perfeitamente bem que as pessoas que eles estão criticando compreenderão sua compaixão. Eles podem ter ido por caminhos diferentes; eles foram. É quase como uma montanha: você pode andar vindo de diferentes direções, você pode escolher diferentes caminhos, você terá diferentes experiências no caminho. Mas, quando você chega ao topo, a experiência é a mesma, absolutamente a mesma doçura, o mesmo aroma.

Gautama, O Buda, criticou os videntes autores dos Vedas, ele criticou os videntes autores dos Upanishads, ele criticou Mahavira, ele criticou todos que ele descobriu: Krishna, Rama, todos os deuses hindus... Continuamente, durante quarenta e dois anos, ele ficou criticando todas as escrituras, todos os velhos profetas, cada salvador.

Mas ele não era um inimigo de ninguém. Ele estava criticando todas as pessoas, de modo que vocês pudessem ser descondicionados, de modo que vocês pudessem ficar livres do apego ao passado, que não pode ajudá-los.

Eu critiquei muitos: somente alguns deles eram iluminados; a maioria deles eram simplesmente fraudes. As fraudes têm de ser absolutamente expostas à humanidade.

Mesmo aqueles que eram iluminados, tornaram-se apenas uma tradição, uma convenção, uma crença morta. Você tem de ser libertado das garras deles também, porque eles não podem ajudá-los, eles podem somente impedir seu caminho. Eles podem tornar-se suas correntes, mas eles não podem tornar-se sua liberdade.


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