"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, outubro 11, 2017

O Reino de Deus está próximo (Osho)


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[...] Desde então Jesus começou a pregar e a dizer: "Arrependei-vos, pois o reino de Deus está próximo". (Mateus 4:17)

[...] E Jesus percorreu toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda espécie de males e de doenças entre o povo.
E sua fama se espalhou por toda a Síria; levaram-lhe então todos os enfermos tomados por diversas doenças e tormentos, os endemoniados, os lunáticos e os paralíticos; e ele os curou.
E foi seguido por grandes multidões da Galileia, das Dez Cidades, de jerusalém, da Judeia e do além Jordão. (Mateus 4: 23-25)


Uma vez pediram a um rabino que resumisse toda a mensagem da Bíblia. Ele respondeu que toda a mensagem era muito simples e curta. É Deus gritando para o homem: "Entronize-me!". Foi isso que aconteceu naquela manhã no rio Jordão. Jesus desapareceu, Deus foi entronizado. Jesus esvaziou a casa, Deus entrou. Ou você existe, ou Deus existe – os dois não podem coexistir. Se você insiste em existir, então abandone a busca de Deus; ela não se realizará. Dessa forma, a busca é impossível, absolutamente impossível. Se você estiver presente, então Deus não pode estar: a sua própria existência, a sua própria presença, é a barreira. Você desaparece... e Deus está. Ele sempre esteve.

O homem vive como uma parte, separado do todo. Ao redor de si, ele cria ideias, sonhos, o ego, a personalidade, e pensa em si mesmo como uma ilha, desconectado do todo, sem relação com o todo. Você já conseguiu ver algum relacionamento entre você e as árvores? Já conseguiu ver algum relacionamento entre você e as pedras? Já conseguiu ver algum relacionamento entre você e o mar? Se não conseguiu, então jamais chegará a ver o que é Deus. Deus, a divindade, não é nada mais que o todo, a totalidade, a unidade. Se você existe como uma parte separada, desnecessariamente existe como um mendigo. Você poderia ter sido o todo. E mesmo quando pensa que é separado, você não é – isso é apenas um pensamento na mente. O pensamento não está enganando Deus: está enganando somente você.

Naquela manhã no rio Jordão, quando João Batista iniciou Jesus, ele matou Jesus completamente. Jesus desapareceu. E naquele momento de vazio – aquilo que Buda chama de shunyata, vacuidade – os céus se abriram e o espírito de Deus, como uma pomba, desceu sobre Jesus, iluminando-o. Isto é apenas simbólico: Jesus morreu, Deus foi entronizado. Isto é o que no zen se chama de uma transmissão especial, fora das escrituras. Nenhum conhecimento foi transmitido por João Batista a Jesus, nenhuma escritura foi transmitida – nem mesmo uma palavra foi pronunciada. Nenhuma dependência de palavras ou letras, apenas um apontar direto para a alma do homem, uma penetração na natureza do homem – a obtenção do estado búdico.

Os cristãos perderam este pormenor: não foi conhecimento aquilo que foi transmitido de João Batista para Jesus; foi uma visão. Não foi verbal, foi existencial. Foi mais um conhecer do que um conhecimento. Os olhos foram transferidos, uma nova maneira de ver o mundo e estar no mundo foi transferida, uma transmissão especial, fora das escrituras. Eis porque Jesus imediatamente sentiu-se uno com Deus, mas banido dos Judeus. Os judeus são o "povo do livro". "Bíblia" não quer dizer nada além disso; simplesmente significa "livro". Os judeus são o "povo do livro" – o povo que tem acreditado tremendamente nas escrituras, que tem amado e confiado nas escrituras durante séculos.

Jesus tornou-se uno com Deus, mas imediatamente foi banido por sua própria tradição. Ele tentou de mil e uma maneiras permanecer parte da comunidade, mas foi impossível. Ele não podia fazer parte das escrituras, não podia fazer parte da tradição. Algo do além entrara nele, e, quando Deus entra, todas as escrituras se tornam inúteis. Quando você mesmo vem a conhecer, todos os conhecimentos se tornam lixo. 

Essa foi a luta entre Jesus e os rabinos. Eles tinham conhecimento, Jesus tinha o saber – e estes nunca se encontram. O homem do saber é rebelde, o homem do saber tem seus próprios olhos: ele diz o que quer que veja. O homem de conhecimento é cego: ele carrega a escritura, e nunca olha ao redor; segue apenas repetindo as escrituras. O homem de conhecimento é mecânico, não tem nenhum contato pessoal com a realidade.

Poucos dias atrás, eu estava lendo sobre um psiquiatra de muito prestígio em Nova York. Numa primeira consulta, ele disse ao novo paciente:

- Estou muito ocupado; na verdade, estou ocupadíssimo. Será que você pode me ajudar? A primeira entrevista é sempre de um lado só: você vai me dizer tudo o que quiser me dizer. Temos aqui um gravador. Se eu puder escutar e estudar todo o material mais tarde, num momento mais conveniente, será de grande ajuda. Você pode ligar o gravador e falar o que quiser... Diga tudo o que gostaria de dizer para mim e, mais tarde, eu escutarei.

O psiquiatra perguntou: - Está disposto?

O homem disse: - É claro. Está tudo perfeitamente certo.

O gravador foi ligado e o psiquiatra saiu da sala, mas dois minutos depois viu o homem deixando o consultório. Correu atrás dele e disse:

- Tão cedo? Você não deve ter falado muito no gravador!

O homem respondeu:

- Olha, também sou um homem muito ocupado. Na verdade, mais ocupado que o senhor. E o senhor não é o primeiro psiquiatra que consulto. Quando o senhor voltar para a sala, verá bem ao lado do seu gravador o meu pequeno ditafone falando com o seu gravador.

O conhecimento é exatamente assim. Ninguém está presente: ditafones falando com gravadores. Sua mente é apenas um gravador e as escrituras são os velhos ditafones – um antigo meio, mas ainda assim a mesma coisa. Alguém disse algo, ficou gravado ali. Mais tarde você lê e aquilo fica gravado no seu próprio gravador – mas não há nenhum toque pessoal.

O saber é pessoal, o conhecimento é mecânico. Através de uma abordagem mecânica, você nunca pode descobrir a realidade, a verdade. Será um caso morto. Você conseguirá muita informação, mas nunca atingirá a transformação. Você pode vir a saber muitas coisas, mas jamais saberá o principal: o ser que você é e o ser que o circunda – e o que o circunda é o mesmo que está dentro de você. Um profundo contato pessoal é necessário.

Naquela manhã no rio Jordão, Jesus entrou em contato pessoal com o divino. João Batista o iniciou para ser um nada.

Quando você vem a mim, não está vindo a um homem que sabe muito; está vindo a um homem que tem muito nada dentro de si. Eu posso compartilhar esse nada com você. No dia em que você se sentir pronto para compartilhar esse nada comigo, será iniciado.

Você pode estar aqui de dois modos. Você pode ser um estudante. Então, está relacionado comigo de um modo mecânico; você coletará informações de mim – o que nunca era pra ser feito. A partir de mim, você começará a saber de muito mais coisas. Isso é um vício. O ego pode se sentir mais forte, mas a alma se tornará cada vez mais e mais empobrecida. Ou você pode ser um discípulo e não um estudante. Então, você compartilha do meu nada. Então, pouco a pouco, você desaparece completamente; não há ninguém dentro de você que saiba – e esse ser ninguém é o único modo de conhecer. Nesse nada, seu coração está aberto; nesse nada a ilha desaparece e você vira o continente. Nesse nada, a separação desaparece: você se torna o todo. Então, o todo existe através de você.

O rabino que disse "Deus gritando ao homem: 'Entronize-me!'" estava certo. Jesus, Krishna, Maomé, Buda, Lao-Tsé, todos são gritos de Deus para o homem: Entronize-me!"...

Imediatamente Jesus começou a pregar.

Desde então Jesus começou a pregar...

Imediatamente! O conhecimento precisa de tempo, o sabe é imediato. Se eu quiser compartilhar o meu conhecimento com vocês, levará muito tempo, mas se eu quiser compartilhar o meu nada com você, o tempo não é necessário. Imediatamente, agora mesmo, é possível. O tempo não é uma exigência absolutamente, acontece numa fração de segundo.

Sempre que leio esse Evangelho, a coisa que me atinge imediatamente é esta: no momento em que Jesus foi batizado e os céus se abriram e o espírito de Deus desceu como uma pomba, ele saiu do rio, foi para a margem – uma multidão estava se juntando – e ele começou a pregar. Antes disso, ele nunca havia pronunciado uma única palavra; antes disso, não tinha ensinado nada a ninguém.

É assim que deve ser. Um professor pode continuar ensinando sem saber, mas não é um mestre. Professores há muitos; mestres há poucos. Um mestre é aquele que ensina através de seu saber e u professor ensina através de seu conhecimento. Um professor prepara-se durante anos, então ele pode ensinar. Mas um mestre, em um único momento de coragem, em um único momento de ousadia, em um único momento de um salto para dentro do desconhecido, torna-se capaz de ensinar. Uma vez que você saiba em você, esse próprio saber quer ser compartilhado; uma vez que você esteja cheio de graça, essa própria graça começa a fluir, começa a buscar o coração. Uma vez que você seja, você já está no caminho a ser compartilhado por muitos.

Jesus saiu do rio:

Desde então Jesus começou a pregar e a dizer: "Arrependei-vos, pois o reino de Deus está próximo"...

João Batista também estava dizendo a mesma coisa. Jesus podia ter dito a mesma coisa só por ter ouvido João Batista – ele era um pregador bastante conhecido, grandes multidões iam visitá-lo, um grande número de pessoas costumava esperar por ele, para ouvi-lo. Todo mundo sabia que sua mensagem era esta: "Arrependei-vos, pois o reino do céu está próximo". Jesus deve ter sabido disso, mas ele nunca havia pronunciado aquelas palavras antes.

Pronunciar palavras tão elevadas sem conhecer é um sacrilégio, é uma traição. Jamais pronuncie tais palavras a menos que você mesmo conheça, porque você pode destruir a mente dos outros. Você pode encher a mente das pessoas com seu lixo... se você não conhece, e continua dizendo coisas às pessoas, como acontece em todo mundo...

Vá e veja os sacerdotes nas igrejas, nos templos, nas mesquitas – eles continuam ensinando, continuam na pregação, sem conhecerem nada, seja o que for que estejam dizendo. Eles não estão cientes do que estão fazendo, absolutamente – ditafone! Eles aprenderam, mas não conheceram. Eles estudaram, ms não têm olhos próprios; seu coração está tão morto como o daqueles para quem estão pregando. Sua mente pode ser mais refinada, mas seu coração está tão doente quanto o de qualquer pessoa.

Jesus nunca pronunciara essas palavras antes. Ninguém tinha ouvido falar desse homem, Jesus, antes disso. Ele vivia na oficina de seu pai; ele trabalhava, ajudava seu pai. De repente, uma nova qualidade de homem, um novo homem, completamente novo, nasceu. O batismo é um nascimento.

Desde aquele exato momento ele começou a pregar e a dizer: "Arrependei-vos..." – porque agora ele podia pronunciar aquelas palavras com autoridade. Não eram as palavras de João Batista que ele estava repetindo; eram suas próprias palavras. Ele se arrependeu e ficou sabendo o que elas queriam dizer. Não arem palavras fúteis, palavras de papagaio; eram palavras grávidas, vivas. Ele tocou a realidade daquelas palavras, viu o mistério delas.

A verdadeira palavra em hebraico para "arrepender" é teshuvah. Teshuvah significa "retornar", e também "responder". Ambos os significados são belos. Retornar a Deus é responder a ele. Esta é uma das coisas mais belas do judaísmo, uma das maiores contribuições do judaísmo ao mundo. Isto tem de ser compreendido, porque sem isto você jamais será capaz de compreender Jesus.

O judaísmo é a única religião do mundo que diz que não somente o homem está em busca de Deus, mas Deus também está em busca do homem. Ninguém mais no mundo acredita nisso. Há hindus, muçulmanos e outras religiões e elas todas acreditam que o homem está em busca de Deus. O judaísmo acredita que Deus também está em busca do homem. E deve ser assim mesmo, se ele é um pai. Deve ser assim. Ele é o todo, e, se uma parte se extraviou, o todo – por pura compaixão – deve procurar a parte.

O judaísmo tem uma beleza própria. O homem buscar Deus é apenas como tatear na escuridão. A menos que Deus o esteja procurando, não parece haver nenhuma possibilidade de algum encontro. Como você o buscará, ele que é completamente desconhecido? Você não sabe o endereço – para onde dirigirá suas preces? Aonde irá, o que fará? Você pode apenas tatear, rogar e chorar; as lágrimas podem ser sua única prece. Um profundo desejo – mas como realizá-lo? Você pode queimar com ele, mas como chegar lá? O judaísmo diz: o homem pode buscar, mas não encontrará, a menos que Deus assim queira.

Deus está ao alcance, mas você não pode agarrá-lo. Você pode estender suas mãos – ele está ao alcance, mas não pode ser agarrado. Ele está ao seu alcance, porque ele também está buscando por você. Ele pode encontrá-lo imediata e diretamente, ele sabe exatamente onde você está. Mas ele não pode buscá-lo, a menos que você esteja na busca. Ele só pode busca-lo quando você está buscando, quando você está fazendo tudo o que pode ser feito, quando você não está escondendo nada, quando sua busca é total. Quando sua busca é total, imediatamente o céu se abre e o espírito de Deus desce em você. Ele está esperando, esperando com uma profunda ânsia de encontrá-lo.

Isso deve ser assim, porque a existência é um caso de amor, uma brincadeira de esconde-esconde, um jogo. A mãe está brincando com o filho e se escondendo. A mãe está esperando o filho e, se o filho não vier, a mãe começará a procurá-lo. Mas Deus lhe dá total liberdade. Se você não quiser buscá-lo, ele não interferirá, não será um intruso; se você quiser buscá-lo, somente então, ele baterá à sua porta. Se você tiver convidado, somente então o convidado vem. O convidado pode estar apenas esperando para bater à porta; só é necessário seu convite. Caso contrário, ele pode esperar pela eternidade, não há pressa. Deus não tem nenhuma pressa.

"Arrependei-vos, pois o reino de Deus está próximo." Teria sido absolutamente diferente se a palavra não fosse traduzida como "arrepender", se fosse deixada de acordo com o termo original "retornar".Como em Patanjali, quando se refere nos Yogas Sutras ao termo pratyahar, que significa "retornar a si mesmo". É também o que Mahavira quer dizer com pratikraman, "voltar-se para dentro".

A palavra teshuvah tem um significado totalmente diferente de "arrepender-se". No momento em que você diz "arrepender", parece que o homem é um pecador: implica em uma profunda condenação. Mas se você diz "retornar", não há nenhuma questão de pecado, não entra nenhuma condenação. Simplesmente diz que você foi muito longe, foi brincar longe demais – por favor, volte. O filho está brincando fora de casa e a noite está caindo. O sol está se pondo e a mãe chama: "Por favor, volte para casa". Uma qualidade totalmente diferente, uma conotação totalmente diferente. Não há nenhuma condenação nisso, só um profundo amor que chama: "Retorne!".

Ouça a frase, quando eu digo assim: "Retorne, pois o reino dos céus está próximo." Toda condenação, todo pecado, todos os absurdos que criaram culpa no homem desaparecem: apenas com a mudança de uma única palavra traduzida corretamente. Uma única palavra pode ser significativa. Todo o cristianismo desaparecerá se, em vez de "arrepender", a tradução for retornar. Todas as igrejas, o Vaticano, tudo desaparecerá, porque eles dependem do arrependimento.

Se é uma questão de "retornar" – e vocês não estão condenados e não cometeram nenhum pecado – então... a culpa desaparece. E, sem culpa, não pode haver igrejas; sem culpa, os padres não podem viver. Eles exploram a culpa, eles o fazem sentir-se culpado – este é o traçado secreto deles. Uma vez que você se sinta culpado, precisa buscar a ajuda deles, porque eles pedirão perdão por você, rezarão por você; ele sabem como rezar. Eles estão num relacionamento mais profundo com Deus. Eles o defenderão, persuadirão a Deus em seu favor e lhe mostrarão o caminho para não ser um pecador novamente, para ser virtuoso. Eles lhe darão os mandamentos: faça isso e não faça aquilo.

Todas as igrejas do mundo se fundamentam na palavra "arrependimento". Mas, se é somente uma questão de retornar, o padre não é necessário; você pode retornar para casa. Não é uma questão de condenação: não é preciso ninguém para purificá-lo; você nunca esteve errado. Você tinha ido um pouco longe demais, mas não há nada de errado nisso. Na verdade, não teria acontecido dessa forma, se Deus não estivesse querendo que você fosse tão longe assim. Deve haver algo nisso: esse afastar-se deve ser um modo de retornar. Porque quando você foi longe demais e depois volta para casa, pela primeira vez você percebe o que é o lar.

Dizem que os viajantes em terras estrangeiras percebem pela primeira vez como é belo o lar. É difícil perceber enquanto você está em casa: tudo é tomado como garantido. Mas quando você vai embora, agora, tudo se torna difícil. Você não está mais em casa, não pode tomar nada como garantido. Há mil e uma inconveniências, desconfortos – e não existe ninguém ali para cuidar de você, você tem de cuidar de si mesmo. Ninguém se importa: você anda num mundo estranho, é um estrangeiro.

Em contraste, de repente, pela primeira vez surge o significado do lar. Antes era só um lugar para se viver nele, agora é um lar. Agora você sabe que casas são diferentes de lares. Uma casa é apenas uma casa; um lar não é apenas uma casa, é algo mais – mais amor. Talvez seja necessário que o homem se extravie um pouco – saia da trilha, entre na vastidão do deserto. Desse modo, em contraste, voltar para casa torna-se significante, significativo.

Eu digo "retorne", não digo "arrependa-se". Jesus nunca disse "arrependa-se". Ele teria rido da palavra, porque a coisa toda foi corrompida por essa palavra. As igrejas sabem muito bem que a palavra é uma tradução errada, mas continuam insistindo nela, porque ela se tornou o seu fundamento. Retornar é tão simples: depende de você e de seu Deus; nenhum mediador é necessário.

Desde então Jesus começou a pregar e dizer: "Arrependei-vos, pois o reino de Deus está próximo."...

Outro significado da palavra hebraica teshuvah é "responder". Seu retorno é sua resposta. Resposta a quê? Resposta ao grito "Entronize-me!". A resposta ao apelo que Deus está fazendo a você: "Retorne para casa".

Esta é novamente uma bela contribuição do judaísmo. Cada religião contribui com alguma coisa original. O judaísmo diz: "Deus faz o apelo, o homem responde".

Comumente, outras religiões dizem que o homem faz o apelo e Deus responde. O judaísmo diz: "Não, Deus faz o apelo, o homem responde."

No momento em que você responde, esse é o retorno. No momento em que o filho diz: "Sim, estou indo" – ele já está no caminho. Você ouviu o apelo? Se não o ouviu ainda, como será capaz de responder?

As pessoas vêm a mim e perguntam:

– Onde está Deus?

Eu digo:

– Esqueçam-se de Deus; vocês já ouviram o chamado?

Elas perguntam:

– Que chamado?
– O chamado que Deus faz!

Se você não ouviu o chamado, não pode saber onde Deus está. No momento em que você ouve o chamado, a direção fica clara – no momento em que você ouve o chamado, que surge no seu ser, no âmago mais profundo do seu ser, ele se torna uma busca constante no seu coração: Quem é você? Por que está aqui? Por que continua existindo? Para quê?

Se o chamado surge em seu coração, você saberá que é Deus, porque quem está fazendo a pergunta? Você não pode fazê-la. Você está inconsciente, num sono profundo – não pode perguntar. Em algum lugar mais profundo dentro de você, Deus está fazendo a pergunta: "Quem é você?". Se você ouviu a pergunta, sabe a direção. E a resposta somente pode ser: "Retorne! Siga esta direção, volte para casa".

Só que suas perguntas têm sido falsas. Você não as ouviu dentro de si: outra pessoas as ensinou a você. Suas perguntas são falsas e, então, suas respostas se tornam falsas. Você aprendeu a perguntar com os outros, aprendeu a resposta com os outros. E você mesmo permanece uma falsificação.

Certa vez fui com uma migo visitar o Taj Mahal. Ele era um bom fotógrafo. Não tinha tempo para ver o Taj Mahal, e o via através das lentes da câmera. Eu lhe disse:

– Nós viemos aqui para ver o Taj Mahal.

Ao que ele me respondeu:

– Esqueça isso. Ele é tão lindo que eu prefiro levar as imagens para vê-las em casa!

Mas aquelas figuras estão disponíveis em todo lugar – qual é a necessidade, então, de vir ao Taj Mahal? A visão direta é perdida.

O primeiro filho de meu outro amigo nasceu. Ele estava sentado com o garoto, um menino pequeno – lindo. Eu lhe disse:

– Que lindo!

Ele me respondeu:

– Isto não é nada... você precisa ver as fotografias!

Falsificação... Tudo se torna cada vez mais e mais indireto. Então, perde-se o toque de realidade, a concretude, a clareza. E a coisa vai ficando distante, bem distante. 

A resposta só pode ser verdadeira se a pergunta foi realmente ouvida. Todo dia encontro alguém que diz: "Quero meditar, quero buscar, mas nada acontece!". A pessoa reclama como se a existência não tivesse sido justa com ela – "Nada acontece!". Mas olho dentro dos olhos dela: seu desejo é falso. Em primeiro lugar, ela nunca quis meditar; veio como parte de um grupo. Ou estava de férias e pensou: "Vamos ver o que há por lá". Não está acontecendo nada. Nada pode acontecer, porque a meditação, oração, Deus, não são questões técnicas. Você pode aprender a técnica, mas nada acontecerá, a menos que o chamado tenha sido ouvido primeiro, a menos que tenha se tornado um profundo desejo em você, pelo qual pode arriscar a sua vida; a menos que tenha se tornado uma questão de vida e morte; a menos que tenha penetrado no centro do seu ser – a menos que tenha se tornado uma dor e uma angústia profundas. Se o chamado é ouvido, então a resposta...

Podemos traduzir esta frase de dois modos: "Desde então Jesus começou a pregar e a dizer: 'Arrependei-vos,' pois o reino de Deus está próximo". Ou podemos traduzir assim: "Retorne, pois o reino de Deus está próximo". Ou "Responda, pois o reino de Deus está próximo".

E o reino de Deus está sempre próximo, é da natureza dele. Não tem nada a ver com a época de Jesus: agora mesmo isso é verdade, exatamente como era então. Era verdadeiro antes de Jesus e será sempre verdadeiro. O reino de Deus está sempre à mão – tateie. As mãos dele estão sempre procurando por você, mas você não está tateando. Responda, retorne e o reino está disponível, só que você não está pronto para ir na direção dele. Você tem medo de perder algo que não tem, e por causa desse medo não pode atingir aquilo que tem estado sempre ao seu dispor.

[...] E Jesus percorreu toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda espécie de males e de doenças entre o povo... (Mateus 4:23)

Isto tem de ser compreendido sob uma luz totalmente nova – e não do jeito que os cristãos tentaram, mas sob uma luz totalmente nova, a nova luz que a ciência moderna trouxe para o fenômeno da enfermidade.

Uma doença, qualquer enfermidade, surge primeiro na mente e depois se dirige para o corpo. Pode levar um longo tempo para chegar a corpo – trata-se de uma longa distância. Você não tem consciência dela quando ela está na mente; você só se torna ciente quando ela explode nas raízes do corpo. Você sempre sente a doença no corpo, mas ela se origina sempre na mente. Você não está ciente dela então; assim, você nada pode fazer quanto a isso. Mas quando ela vem para o corpo, então, naturalmente, você começa a procurar um médico, sai em busca de auxílio. O médico, vendo-a no corpo, começa a tratá-la no corpo. Ela pode ser tratada no corpo - mas então alguma outra doença surgirá, porque o tratamento não atingiu a fonte, o lugar das causas. Você muda o efeito, mas não a causa.

Se a mudança puder acontecer na mente, então a doença desaparecerá do corpo imediatamente. É isso que a moderna pesquisa sobre hipnose prova: que toda doença, pelo menos no princípio, pode ser transformada, mudada, ela pode sumir se a mente for mudada. E o inverso também é verdadeiro: se a mente for convencida pela hipnose, então a doença pode ser criada também.

Dois ou três dias atrás, alguém me enviou um artigo de profunda significância. Um homem – um médico, um médico na Califórnia – tratou muitos pacientes de câncer apenas através da imaginação. Esta é a primeira chave que abre a porta... E não só um paciente, muitos.

O que ele faz: ele simplesmente pede aos pacientes que imaginem. Se eles têm câncer de garganta, ele lhes diz para relaxar e imaginar que toda a energia do corpo se move para a garganta e o tumor vai sendo atacado pela própria energia deles, exatamente como flechas vindas de todos os lados, movendo-se em direção à garganta e atacando a doença. Dentro de três, quatro ou seis semanas o tumor simplesmente desaparece sem deixar um traço atrás. E o câncer é considerado incurável!

O câncer é uma doença moderna: ele se deve ao estresse, à tensão e à ansiedade da vida. Não há, na verdade, até agora, nenhuma cura para ele através do corpo. Mas se o câncer pode ser tratado através da mente, então tudo pode ser tratado através da mente.

Os milagres de Jesus aconteceram porque as pessoas confiavam muito. Uma vez, enquanto Jesus caminhava, uma mulher, uma mulher muito pobre, tentava se aproximar dele, e estava muito apreensiva, temendo que Jesus não a pudesse tratar, porque ele estava, como sempre, cercado por uma pequena multidão... A mulher pensou consigo mesma: "Basta um toque na roupa de Jesus, por trás..." E ela se curou.

Jesus olhou para trás e a mulher começou a agradecê-lo. Ela caiu a seus pés, em gratidão. Ele disse: "Não seja grata a mim, seja grata a Deus. Sua fé a curou, não eu".

O mundo era cheio de confiança; as pessoas estavam enraizadas na fé. Então, apenas a ideia de que "se Jesus tocar em meus olhos, eles serão curados e se abrirão", e a própria ideia se torna a raiz causal da cura. Não é que Jesus cure: se você for cético, então Jesus não pode fazer nada, ele não será capaz de curá-lo.

Eu estive lendo uma história.

Um dia Jesus estava fugindo de uma cidade. Um camponês o viu correndo e lhe perguntou:

– O que houve? Para onde o senhor está indo?

Mas Jesus estava com tanta pressa que foi adiante sem responder. Então o camponês o seguiu, conseguiu pará-lo por um instante e disse:

– Por favor, me diga, pois fiquei muito curioso. Se não me disser, vou segui-lo sem parar. Por que está correndo? Para onde? De quem o senhor está fugindo?

Jesus respondeu-lhe:

– De um tolo.

O camponês começou a rir e disse:

– O que o senhor está dizendo!? Eu sei que o senhor já curou gente cega, já curou gente estava morrendo. Já ouvi até dizer que o senhor curou gente que estava morta! O senhor não pode curar um tolo?

E Jesus respondeu:

– Não. Eu tentei, mas não posso, porque ele é um tolo e não acredita. Já curei todos os tipos de doença e nunca falhei, mas com esse tolo não foi possível. Ele vive o tempo todo atrás de mim dizendo: "Cure-me!" Tentei de todas as formas possíveis mas não adianta. É por isso que estou fugindo da cidade.

Um tolo não pode ser curado... e um tolo não pode ser hipnotizado. De modo geral, acredita-se que as pessoas muito inteligentes não podem ser hipnotizadas. Isso é absolutamente errado. Somente os tolos, os idiotas, os loucos, não podem sem hipnotizados. Quanto maior é a inteligência, maior é a possibilidade de ir fundo na hipnose – porque na hipnose sua confiança é necessária; o requisito básico é a sua confiança, o requisito básico é a sua cooperação, e um idiota, um louco, não coopera e não confia.

Jesus podia fazer milagres. Esses milagres eram simples; aconteciam porque as pessoas confiavam. Se você confia, o interior da mente começa a funcionar, espalha-se por todo o corpo e muda tudo. Mas se você não confia, então nada acontece. Até mesmo a medicina comum o ajuda porque você confia nela. Já observou que, sempre que um novo medicamento é criado, ele funciona muito bem de seis meses a dois anos – as pessoas são afetadas por ele. Mas depois de seis, oito, dez meses, ele não funciona tão bem. Os médicos têm se interrogado: "o que acontece?"

Sempre que um novo remédio é inventado, você acredita nele mais do que no velho medicamento. Agora você sabe que a panaceia está ali e "ela vai resolver". E ela resolve!

A confiança num novo medicamento, numa nova descoberta, ajuda. Eles falam sobre o medicamento nó rádio, na TV, nos jornais, e cria-se um clima de confiança e esperança. Mas depois de alguns meses, depois que muitos já tomaram aquele remédio – e alguns tolos também o tomaram e não puderam ser ajudados –, a suspeita surge, "porque aquele homem tomou o remédio e nada aconteceu!". Esses tolos, então, criam o anticlímax, e depois de algum tempo o remédio perde seu efeito.

Ainda mais do que o remédio, o médico ajuda se você confia nele. Você já observou que quando está doente e o médico chega, se você confia nele, sente um alívio só com a sua chegada? Ele ainda não lhe deu nenhum remédio, apenas examinou o seu corpo – tirou a pressão, isso e aquilo – e você já se sente 50% melhor. Chegou um homem em quem você confia. Agora você não precisa carregar o peso sozinho; pode deixá-lo com ele e ele verá o que fazer. Se você não confiar no médico, ele não poderá fazer nada.

Na medicina, eles dão o nome de placebo a um certo remédio. É só água, farinha, ou algo que não tem nada a ver com a doença. Mas se ele for dado a você por um médico em quem você confia, aquilo ajuda tanto quanto o remédio real; não há diferença.

A mente é mais poderosa do que a matéria; a mente é mais poderosa do que o corpo.

[...] E Jesus percorreu toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda espécie de males e de doenças entre o povo. E sua fama se espalhou por toda a Síria; levaram-lhe então todos os enfermos tomados por diversas doenças e tormentos, os endemoniados, os lunáticos e os paralíticos; e ele os curou. E foi seguido por grandes multidões da Galileia, das Dez Cidades, de jerusalém, da Judeia e do além Jordão. (Mateus 4: 23-25)

Jesus era mais um curandeiro do que um professor. Um curandeiro não apenas do corpo, não apenas da mente, mas da alma também. Ele era um médico, um médico da alma. É como todo mestre tem de ser.

Você está dividido interiormente, está fragmentado, não é um todo. Se você se tornar inteiro, está curado. Se as tensões em relação ao futuro e as tensões acumuladas do passado desaparecerem de dentro de você, você será curado, suas feridas desaparecerão. Se você puder estar no presente – no Agora –, estará inteiro, completamente vivo, totalmente vivo, e um profundo regozijo acontecerá em você.

Jesus não é um filósofo transmitindo algum dogma para as pessoas. Ele está tentando ensinar confiança, e, se a confiança acontece, tudo se torna possível. E ele diz: "A fé remove montanhas". Pode não ser as montanhas que existem no exterior, mas as montanhas de ignorância, as montanhas de feiura, as montanhas de inconsciência que existem no seu interior. Ele não tem um credo, um dogma. Ele está, na verdade, desprendendo de si uma força curativa. Todo seu esforço é ajudá-lo a retornar para Deus. Eis porque ele disse: "Não agradeça a mim. Agradeça a Deus".

E ele também diz: "Foi a sua fé que o curou". Nem mesmo Deus pode curar você – só a sua fé. A insistência de Jesus é na fé. E lembre-se da diferença entre fé e crença: crença é uma ideia; fé é uma realidade total, uma reverência pelo todo. Crença é da mente; fé é da sua totalidade.

Quando você acredita em Deus, você acredita num Deus do filósofos. Quando você acredita em Deus, Deus é uma ideia, uma doutrina. Ele pode ser provado e contestado, sem nunca o transformar. Mas, se você tem fé, isso já o transforma. Eu não direi que a fé vai transformá-lo. Se você tem fé, ela já o transformou. A fé não conhece nenhum futuro, ela é imediatamente efetiva. Mas a fé não é da cabeça. Quando você tem fé, você tem fé em seu sangue, em seus ossos, em sua medula, em seu coração. Você tem fé em todo o seu ser. Um homem de fé é um homem de Deus.

Todo esforço de Jesus é para trazê-lo de volta para casa. Sim, Deus está gritando através dele: "Entronize-me!" Se você tiver fé, se tornará disponível e Deus será entronizado em você. Esse é o único modo de se estar cheio de graça. A menos que Deus seja entronizado em você, você permanecerá um mendigo, permanecerá pobre, permanecerá doente. Você nunca será inteiro e saudável, nunca conhecerá o êxtase da existência, nunca será capaz de dançar, rir e cantar e simplesmente ser... – somente se Deus for entronizado em você, e isso significa que você foi destronado e Deus ficou no seu lugar.

Assim, esta é a escolha, a maior escolha com a qual o homem se depara: ou ele continua no trono... ou deixa o trono e permite Deus entrar.


2 comentários:

Celio Dal Pizzol disse...

Olá Gustavo, parabéns pela postagem. Todas elas são muito relevantes para expandir a compreenção e percepção de quem somos. Que tenha a energia e inspiração para seguir com esse trabalho. Gratidão, Paz e Luz.

Templo disse...

Olá, Célio!

Que bom que gostou.
Sempre que encontro um texto relevante, procuro disponibiliza-lo aqui.
A intenção é tornar este blog uma espécie de "Livro" de textos especiais e importantes.

Grato por suas palavras!
Reverências!