"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, setembro 20, 2017

O Arrependimento e o Despertar - 2/2

- Masaharu Taniguchi -


A Imagem Verdadeira do ser humano

A Seicho-No-Ie ensina que "o pecado não existe". Diante dessa afirmação, alguns contestam com veemência: "O pecado existe, sim! Por isso a religião é necessária". No que se refere ao aspecto fenomênico, tal contestação é válida. Existe a religião porque existe o pecado. Porém, não estamos falando de existir ou não existir no plano fenomênico. Estamos tratando de uma questão de suma importância, do ponto de vista religioso e filosófico. "Existir ou não existir" não significa ser visível ou não, estar manifestado ou não. Vendo somente o aspecto fenomênico, muitos afirmam que a humanidade é pecadora. Essas pessoas são como Nicodemos, o qual, ao ouvir de Jesus Cristo a afirmação de que "para ver o reino de Deus, é preciso nascer de novo", disse: "Como pode um homem nascer sendo velho? Por ventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e renascer?". Ao dizermos que "o pecado não existe", estamos afirmando que "o pecado não é existência verdadeira", isto é, "o pecado não existe de verdade". Estamos tratando da questão da existência real

Se o pecado existisse de verdade, ninguém conseguiria extingui-lo, por mais que tentasse. Porém, o pecado não existe de verdade, embora pareça existir. Não passa de falso aspecto, originado da ilusão. Assim sendo, podemos extinguir o pecado retirando a sua "máscara" de realidade e revelando que não passa de falso aspecto. O pecado é como a treva. Na verdade, a treva não existe. Talvez vocês digam: "À noite, tudo fica escuro. Portanto, a treva existe". Mas ela existe apenas no nível fenomênico, isto é, embora pareça existir, não existe de verdade. Ao anoitecer, tudo fica na escuridão, e por isso parece que a treva existe; mas se iluminarmos a treva, no intuito de examiná-la e ver seu aspecto, ela desaparece. Ela parece existir, mas não existe de verdade. Se existisse de verdade, a treva ofereceria resistência à presença da luz, coisa que não ocorre. Quando a luz vem, a treva simplesmente desaparece, revelando a sua ausência. Assim é a treva. Por não existir de verdade, extingue-se diante da luz. Pode-se dizer que a luz consegue iluminar a treva porque a treva é originariamente inexistente.

Assim também é o pecado: Embora pareça existir, não existe de verdade. O mesmo se pode dizer dos efeitos do carma e da causalidade, os quais, em última análise, são diferentes denominações do pecado. Se o pecado ou os efeitos do carma e da causalidade não se manifestassem no aspecto fenomênico, não haveria necessidade de religião. Porém, como eles se manifestam e parecem existir, surgiu a religião para extingui-los, do mesmo modo com que se apaga a treva – que parece existir – com o poder da luz  que existe de verdade. 

A mestra fundadora da seita Tenri disse que "o ser humano é como uma esfera de cristal ligeiramente coberta de poeira". Ela ensinou que a natureza verdadeira do ser humano é bela e límpida como uma esfera de cristal puríssimo. O pecado não existe. Essencialmente, o ser humano é perfeito, não há nele nenhuma mácula. Suas imperfeições aparentes são como poeira que encobre a beleza e a limpidez de uma esfera de cristal. Mesmo que a poeira cubra a superfície de uma esfera de cristal, poeira é poeira, e cristal é cristal. Vendo uma esfera de cristal coberta de poeira, as pessoas dizem: "Essa esfera de cristal está suja". Estão equivocadas. Suja é a poeira; a esfera de cristal permanece límpida e bela. O mesmo se pode dizer do ser humano. A natureza verdadeira do ser humano é um ser divino (filho de Deus), um ser espiritual puro, belo e eterno, invisível aos olhos físicos. 

O ser humano não é o corpo material cheio de imperfeições. Na Bíblia, encontramos diversas passagens com alusões à efemeridade da carne. Considerando o ser humano do ponto de vista físico, temos de admitir que é um ser que precisa comer para viver, que mata outros seres vivos para se alimentar da carne deles, destrói microorganismos e até elimina um semelhante seu caso isso seja necessário para garantir sua sobrevivência. Porém, esse ser imperfeito não é o verdadeiro ser humanoO verdadeiro ser humano é "a imagem de Deus". Aqui, mais uma vez, deparamos com a questão da existência real. A distinção entre "existir de verdade" e "estar manifestado"" é uma questão de suma importância, do ponto de vista filosófico. Sem ter a compreensão do que sejam "existir de verdade" e "estar manifestado", não será possível entender realmente a essência da religião, ou seja, a Verdade que a Seicho-No-Ie prega. Quem pensa que a Seicho-No-Ie é uma religião vulgar, está cometendo um grande equívoco. O ensinamento da Seicho-No-Ie é muito elevado e, para entendê-lo bem, é preciso conhecê-lo em profundidade, considerando-o do ponto de vista filosófico.

Até agora, julgava-se verdadeiro ser humano o "homem fenomênico", o homem feito de corpo material, o homem imperfeito e transitório. Porém, verdadeiro é espírito proveniente de Deus e não "corpo carnal". Na verdade, todos estamos vivos porque "Deus está em nós". Dependendo da crença religiosa de cada um, isso pode ser expresso com outras palavras, tais como: "Vivemos porque Cristo está em nós", "vivemos porque Buda está em nós", "vivemos porque Brahma está em nós", etc. O importante é compreender que somos vivificados por Deus que está em nós. Compreender isso é despertar espiritualmente, é alcançar a iluminação.

A Imagem Verdadeira de todo ser humano é espírito proveniente de Deus. Portanto, o verdadeiro ser humano é perfeito, belo e límpido como um esfera de cristal da mais alta pureza, conforme as palavras da mestre-fundadora da seita Tenri. Ela afirmou que não existem nem o pecado, nem as impurezas, nem carma, nem doença, nem "encostos", enfim, coisa alguma que fira a natureza original perfeita do ser humano. Se o pecado e o carma existissem de verdade, não poderíamos extingui-los, por mais que tentássemos, procurando "polir" a nós mesmos com nossa força humana. Pecado, fatalidade, carma, são originalmente inexistentes, pois Deus não cria coisas más. Parecem existir, mas na verdade não existem, da mesma forma que a treva, embora pareça existir, não existe de verdade. Para se eliminar a treva, basta acender a luz. Do mesmo modo, para extinguirmos o pecado, a fatalidade, o carma, basta volvermos nossa mente para a Luz da Existência Verdadeira, isto é, Luz de Deus. Quando volvemos nossa mente para a Luz e contemplamos a perfeição de Deus nosso Pai, a nossa luz se funde com a Luz do Pai, a nossa vida se funde com a Vida do Pai, e então apagam-se todos os pecados manifestados no aspecto fenomênico.

Portanto, embora seja também necessário refletirmos sobre cada um de nossos atos na vida cotidiana e procurarmos melhorar sempre, o essencial é despertarmos para a Verdade de que somos filhos de Deus, ou seja, conscientizarmos o nosso "Eu verdadeiro", no qual flui a Vida de Deus, isento de pecado e sofrimento. Nisso consiste a verdadeira salvação.

Quando a pessoa recupera a liberdade inata da Vida, ocorre a cura da doença, qualquer que seja a sua religião. Eis a Verdade. Tanto na Seicho-No-Ie, como no cristianismo e outras religiões, ocorrem casos de cura de doenças. Se há pessoas que não conseguem a cura, é porque não acreditam na cura. Elas próprias impedem a manifestação da força curadora latente por estarem convencidas de que a cura é impossível, e devido a isso não ocorre a cura. Portanto, também nesse caso é verdadeira a afirmação da passagem bíblica: "Seja-te feito conforme a tua fé" (Mateus 8:13). É natural que o cristianismo também cure doenças, pois o próprio Jesus Cristo curava enfermos. Não seria lógico se, nos dias atuais, o cristianismo tivesse deixado de curar doenças. Isso estaria em desacordo com o seu ensinamento original. Se não ocorre a cura, é porque a própria pessoa, devido à sua crença errônea, está impedindo que a força de Deus atue sobre ela. 

Eu disse "impedir", mas na verdade isso é impossível, pois a crença errônea, ou seja, a ilusão, não tem força ativa para isso. Estar em ilusão e não conseguir ver da Luz de Deus é como estar de olhos fechados e não enxergar a luz do sol. Despertando da ilusão, compreendemos que vivemos num mundo radioso, repleto de bênçãos de Deus, do mesmo modo que, abrindo os olhos, vemos a resplandecente luz do sol. O mundo radioso existe desde o princípio. Basta abrirmos os olhos da mente para compreendermos que "o reino de Deus está aqui e agora". 

Como já expliquei, "devemos nos arrepender, pois o reino de Deus existe aqui e agora, já está ao nosso alcance"; isto é, o reino de Deus não está para chegar daqui a algum tempo, ele já existe aqui e agora. Basta "arrependermo-nos" para que ele se manifeste diante de nós. Os aflitos, os enfermos, os que estão com o coração cheio de tristeza, enfim, todos aqueles que sofrem, descobrirão o reino de Deus tão logo abrirem os olhos da mente. Quando eles abrirem os olhos da mente e despertarem da ilusão, o mundo terreno, que até então parecia impuro, feio e perverso, revelar-se-á como um mundo puro, repleto de paz e felicidade, iluminado pela Luz de Deus.


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 85-90

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