"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, junho 27, 2016

Postura mental correta para ler obras da Verdade

- Gustavo -


A Verdade é Sagrada. A palavra "santo" ou "sagrado" significa "aquilo que está aparte, aquilo que está separado". A Verdade está separada do mundo. Isso é assim porque ambos apresentam naturezas distintas e incompatíveis. A luz está separada das trevas – as trevas não podem coabitar com a luz. A realidade está separada da ilusão – a ilusão não pode existir no mesmo espaço onde existe a realidade. O divino está separado do mundano – o mundano é de natureza física, material, dualística; e o divino é de natureza metafísica, mística, de unidade. O que é de natureza mística não pode estar presente/misturado ao que tem natureza material – ele permanece separado, transcendente, inviolável, sagrado. Coisa alguma de natureza mundana é capaz de se aproximar da Verdade Sagrada. Para que haja a aproximação do divino, é necessário afastar-se do mundo e consagrar-se.

E o que é a Verdade? É a realização (sentimento/experiência) de que o homem é filho de Deus. Por ser filho herdeiro de Deus, o homem compartilha da mesma natureza (essência) de Deus, sendo um ser totalmente realizado, amoroso, bem-aventurado, livre, feliz. O filho de Deus é uno com Deus e, por conseguinte, uno com todos os filhos de Deus. Assim, todos os filhos de Deus, juntos, constituem a Filiação Divina, ou seja, são o Filho Unigênito de Deus. Em todo o universo só existe a unicidade, e essa unicidade em si é Amor. Deus é Amor. Deus é todo esse universo divino e glorioso Se expressando. Essa verdade sagrada pode ser vista e experienciada. Quando essa verdade está presente na consciência (no interior) do homem, a vida no mundo físico reflete todas as qualidades conscientizadas.

Em todos os lugares pessoas estão se empenhando para conhecer Deus. Buscam alcançar o divino através de ensinamentos contidos em livros, em palestras, ou até mesmo mediante contato direto e pessoal com professores espirituais. Em todos esses casos, as práticas mencionadas devem ser realizadas com imensa veneração e sacralidade para que se obtenha um resultado realmente frutífero, proveitoso. Qualquer atividade ligada ao sagrado deve ser encarada como uma sadhana (prática espiritual realizada com espírito de reverência e disciplina), porque isso é o que ela realmente é: uma prática espiritual.

A Seicho-No-Ie, por exemplo, considera fundamental a prática concomitante de três disciplinas espirituais a fim de que o homem possa realizar em si a vida de Deus: 1) Leitura constante de livros da Verdade; 2) Dedicação de amor ao próximo através de atos concretos; 3) Prática diária de Oração/Meditação. Todas essas práticas, se imbuídas do correto estado de espírito (estado de espírito consagrado), conduzem o ser humano ao verdadeiro conhecimento da Verdade. Mas o  objetivo deste texto é falar principalmente sobre a melhor maneira de se proceder à leitura das obras espirituais, sagradas – principalmente aquelas que intentam comunicar a Verdade indizível. É muito importante termos a compreensão de que o estudo de uma obra sagrada não serve apenas de instrumento para conduzir à execução de determinada prática espiritual. Ou seja, não se trata só de um "meio" para  se atingir um "fim". Sua leitura é um fim em si mesmo, constituindo ela própria prática espiritual. Nem todo ensinamento ou mestre apresenta essa visão.

A Verdade Sagrada não pode ser comunicada através das palavras. Palavras, por si só, são limitadas, fragmentadas, dualísticas, e não conseguem expressar o que é de natureza transcendental, inteira, unida. Conhecer a Verdade é ser a Verdade. Diferentemente dos conhecimentos acadêmicos que podem ser adquiridos no mundo, o conhecimento da Verdade ao mesmo tempo que é "conhecimento" é também "experiência", "vivência", "realização". A natureza do mundo é tal que permite que as coisas primeiro sejam conhecidas e posteriormente executadas. A natureza mundana permite existir separação entre conhecimento e prática. Com a Verdade, o mesmo não ocorre. Em se tratando da Verdade, "conhecer a Verdade é ser a Verdade".

Por isso, uma obra espiritual não deve ser lida do mesmo modo como se faz com artigos escritos nas enciclopédias, livros, revistas e jornais. A leitura de livros sagrados feita por meio de uma postura mental (ou estado de espírito) mundana mantém a separação entre "conhecimento" e "experiência", e o conhecimento da Verdade fica reduzido a algo puramente intelectual, teórico – estéril e infrutífero. Mediante tal procedimento não se alcança grandes resultados na caminhada espiritual. A leitura de uma obra da Verdade deve ser feita com total sacralidade.

Através da leitura de livros (ou audiência de palestras), o entendimento da profunda verdade espiritual não depende (nem ocorre através) das habilidades de pensamento, raciocínio, reflexão, contemplação, inteligência e demais capacidades da mente. A Verdade Sagrada transcende completamente a mente humana. Sempre que um indivíduo alcança a percepção, a compreensão (ou mesmo um lampejo) da Verdade, isso ocorre mediante processo sublime: a fonte emissora do conhecimento transcendental está situada em um espaço sagrado que não pode ser alcançado ou violado pela mente. A transmissão do conhecimento ocorre no âmbito desse mesmo espaço sagrado, além da mente. Por sua vez, a fonte receptora em nós que capta e apreende o conhecimento também habita esse espaço sagrado e misterioso para a mente.

Em outras palavras, eis o modo como se dá este processo: a vibração divina impregnada no livro (ou que emana das palavras e da presença do palestrante) se comunica com a mente divina em nós. Com isso, a presença divina em nós é tocada tal qual um sino que passa a vibrar e soar... e então desperta. E enquanto ocorrer a ressonância (enquanto estiver desperta) tem-se a compreensão ou lampejo. Todo o processo de comunicação (emissão, transmissão e recepção) ocorre a nível supra mental. O que desperta o Sagrado em nós é a vibração das palavras pronunciadas pelo Sagrado presente na fonte emissora da mensagem. Então o conhecimento sagrado é verdadeiramente captado (sentido, experienciado). Nesse sentido, Masaharu Taniguchi assim explica:

A definição da Imagem Verdadeira da Vida do homem é impossível de ser feita através de palavras, por mais que se tente, e o zen-budismo diz que não se chega à conclusão alguma, por mais que alguém discorra sobre isso. Dizem também que, sendo difícil transmitir através das palavras, transmite-se de mente para mente. Desse modo, a Imagem Verdadeira é algo que acreditamos ter compreendido para, no instante seguinte, acharmos que nada entendemos a seu respeito, sendo muito difícil compreendê-la e transmiti-la a outrem. É difícil transmitir, mas isso não significa que devemos ficar quietos, sem nada falar sobre ela. Se num Grande Seminário o palestrante ficasse calado, ninguém iria ouvi-lo. Isso deixa o preletor que tenta explicar sobre a Imagem Verdadeira numa situação desesperadora.

Diz-se que houve certa ocasião em que Sakyamuni subiu ao púlpito  e permaneceu imóvel sem nada dizer. Olhando bem, ele estava dormindo, soltando até baba pela boca. Então, Manjusri bateu um pedaço de madeira contra outro, avisando o termo do sermão, deixando perplexas as pessoas presentes. Isso consta numa escritura de certa escola zen-budista.

Sendo impossível explicar sobre a Imagem Verdadeira através de palavras, é preferível tirar uma soneca no púlpito, como fez Sakyamuni, a proferir uma palestra malfeita. Tal é a dificuldade de expressar em palavras a Imagem Verdadeira. Portanto, não adianta o leitor interpretar mecanicamente as palavras que escreverei a seguir, porque não conseguirá entender realmente. É preciso compreender telepaticamente, captando a atmosfera das palavras. (Livro: Descoberta e conscientização da verdadeira natureza humana)

É curioso notar os termos que o autor utiliza para expressar o modo como se dá a transmissão do conhecimento da Verdade. Não somos nós – pessoas dotadas de mente cerebral que analisa, disseca, pondera, interpreta e forma conclusões – quem captamos o conteúdo vivo, verdadeiro, existente nas palavras do livro ou do palestrante. Em cada um de nós há um lugar mais profundo (e, nesse lugar, uma presença / inteligência divina) que assimila o conteúdo verdadeiro de um texto sagrado. O conteúdo formado a partir da literalidade (ou da interpretação mental) das palavras não é o conteúdo vivo e verdadeiro ao qual nos referimos. As palavras do escritor podem estar registradas no material físico (páginas do livro), mas também estão presentes em um espaço invisível onde fica depositado o conteúdo verdadeiro, resultante do estado de consciência, da inspiração, do grau de concentração, e também da intenção que o autor projeta ao fazer o arranjo dos vocábulos e das ideias utilizadas para se comunicar. A combinação de todos esses fatores cria uma "atmosfera viva" que se faz presente no texto sagrado. O que todo o leitor deve fazer é buscar perceber e entrar contato com essa atmosfera sutil que permeia o texto espiritual. Por isso, Masaharu Taniguchi diz: "transmite-se de mente para mente"... "é preciso compreender telepaticamente, captando a atmosfera das palavras".

Se conseguirmos nos conectar com essa atmosfera sutil, a verdade captada produz efeito imediato em nossa consciência. O efeito é imediato porque (ao contrário da mente humana) a mente verdadeira não oferece resistência à palavra que está sendo comunicada. No interior (espaço sagrado) de cada ser humano existe o coração puro de criança que não contesta a veracidade da Verdade. A mente humana acredita na dualidade "bem e mal" (e, consequentemente, na imperfeição), e não é capaz de aceitar a Verdade que todo o Universo é uma existência una, harmoniosa e perfeita. Portanto, a mente humana irá sempre descrer, desconfiar, duvidar, contestar e questionar. E é justamente a descrença que constitui barreira a impedir o conhecimento das verdades transcendentais. Por isso, o estado de espírito de docilidade e pureza é muito importante. Vejamos o que Masaharu Taniguchi ensina a  esse respeito:

As palavras de Deus não são meras teorias

Certo adepto da Seicho-No-Ie adoeceu e estava acamado havia mais de um mês, sem sinal de melhora. Ele sabia que a causa era a atitude mental errônea. Dizia a si mesmo que não devia guardar rancor e procurava perdoar os que o haviam magoado, mas não conseguia. Sabia que a Seicho-No-Ie, diferente de muitas outras doutrinas morais que pregam o "esforço para perdoar", ensina que o espírito de perdão deve brotar naturalmente; entretanto, não sabia o que fazer para que isso acontecesse.

Certa tarde, ele abriu o volume 1 de A Verdade da Vida e leu o trecho inicial da Revelação Divina do "Acendedor dos Sete Candeeiros", que consta nas primeiras páginas: "Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra". O fato interessante é que, sem se dar conta, ele tomara a postura de meditação ao ler a Revelação Divina. Em seguida, leu outra Revelação Divina que consta no livro "Deus fala ao homem", e que, entre outras coisas, diz: "Antes de tomares a refeição, reconcilia-te com teus irmãos".

Ele já havia lido essas Revelações Divinas em outras ocasiões, mas era a primeira vez que lia com sentimento de reverência e com a convicção de que se tratavam de palavras transmitidas diretamente por Deus. Enquanto as lia, experimentou uma agradável sensação de leveza, e percebeu que já não nutria ressentimento contra ninguém. Foi como se tivesse se livrado de um fardo pesado. A agradável sensação de leveza tomou conta dele, e a doença sarou como que por encanto.

Ele compreendeu, então, como era importante a postura mental correta quando se lê livros que contêm as palavras de Deus. Até então, a postura mental dele quando lia as Revelações Divinas era a de procurar analisar, compreender e assimilar o ensinamento nelas contido. Pela primeira vez, compreendeu realmente que as palavras contidas no livro A Verdade da Vida são palavras de Deus e que, lendo-as com fé e espírito de reverência, as vibrações que delas emanam produzem grande efeito, mesmo que não sejam entendidas ou memorizadas. Foi uma descoberta maravilhosa compreender que as palavras de Deus não são teorias a serem analisadas e compreendidas, e que cabe a nós simplesmente acreditar nelas e reverenciá-las.

Em Gênesis 1;3, assim consta: "Exista a luz. E a luz existiu". Não nos cabe argumentar ou discutir "por que Deus ordenou que existisse a luz?", "por que a luz surgiu conforme a ordem de Deus?", etc. As palavras de Deus são sublimes e cumprem-se infalivelmente, pelo próprio fato de serem palavras de Deus. Assim, uma vez que Deus disse: "Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra", não nos cabe questionar o por quê. Quando lemos essas palavras com muita fé e reverência, vemo-nos reconciliados naturalmente com todas as coisas do céu e da terra. (Livro: A Verdade da Vida, volume 34)

Concluindo: não somos nós (pessoas dotadas de mente humana) que temos poder para abraçar a Verdade. Somente Deus em nós é capaz de aceitar a veracidade da Verdade. Também não somos nós quem percebemos a Verdade – Deus em nós é que percebe. E é também Deus quem realiza as obras. Isso é o que torna possível experimentarmos resultados imediatos, mesmo em caso de não entendermos ou de não prestarmos atenção ao conteúdo comum das palavras contidas num livro sagrado. Apreendendo o sentido dessa Verdade, constatamos também que as palavras presentes na literatura sagrada são palavras de Deus, que não foram escritas por criatura humana, mas que provêm do próprio Eu, que é a fonte divina da qual emana todo ensinamento verdadeiro. A compreensão da Verdade somente se torna possível ao receber a Graça divina. A percepção da Verdade também ocorre somente pela Graça divina. E o que fazer para receber a Graça? A Graça vem somente onde há sacralidade. Graça e sacralidade caminham sempre juntas, de mãos dadas. Por isso, as obras da Verdade devem ser vistas como sagradas. E de fato o são! Todo ato de ler um livro ou texto espiritual consiste em sadhana, uma prática espiritual sagrada.

Namastê!

 

4 comentários:

Silvano disse...

Meu Divino Amigo Gustavo,

Que belo texto!

Permita-me compartilhar com todos o que segue.

Dois textos estão profundamente relacionados ao texto ora publicado.
O primeiro deles é "Correta leitura da Palavra de Deus", publicado neste blog em http://busca-espiritual.blogspot.com.br/2015/02/correta-leitura-da-palavra-de-deus.html, que se refere ao texto "O Espírito do Senhor está sobre mim", também publicado neste blog em http://busca-espiritual.blogspot.com.br/2015/02/o-espirito-do-senhor-esta-sobre-mim.html

Que todos percebam, desfrutem e compartilhem!

Namaste

SERgio disse...

Impressionante!!...

Sob Inspiração!

Reverências!

Namastê!

Templo disse...

De fato, Silvano!
O primeiro texto mencionado por você corresponde totalmente a este!
E o segundo fala sobre a palavra de Deus, que deve ser lida à luz da compreensão explanada no primeiro texto e no texto do presente post.

Namastê!

Templo disse...

Reverências, caro SERgio!
Namastê! _/\_