"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, novembro 03, 2015

Abandonando o apego, vive-se a Vida verdadeira - 2/2

- Masaharu Taniguchi - 


"Sou um ser dotado de corpo" – pensar assim é adotar uma postura mental dualista. Com essa postura mental, não se pode alcançar a verdadeira liberdade. Num confronto entre a mente e o corpo, a mente pode sair-se vitoriosa, mas em tal situação, ela seria como um mero condutor do corpo. Nesse caso, o ser humano consegue recuperar até certo ponto a liberdade inata do seu "Eu verdadeiro", mas não se pode dizer que obtém plena liberdade. A liberdade que se alcança com a vitória da mente sobre o corpo é apenas relativa, comparável à de um motorista que dirige um veículo: enquanto o veículo estiver funcionando perfeitamente, o motorista desfrutará plena liberdade, mas uma vez que ocorrer uma pane ou algum outro problema mecânico, ele ficará tolhido e terá de tomar providências concretas para consertá-lo; da mesma forma, quando o corpo apresentar algum problema, a mente ficará tolhida enquanto não for tomada uma medida concreta para sanar esse problema. Como podemos notar, enquanto admitirmos a dualidade "corpo e mente" e, consequentemente, o confronto entre eles, não poderemos alcançar a verdadeira liberdade.

Precisamos, pois, despertar para a Verdade de que não somos seres dotados de corpo, não somos condutores do corpo. Precisamos despertar para a Verdade de que o corpo não é algo que tenha existência própria, é sim, mera sombra da mente, ou, em outras palavras, uma imagem produzida por nossas vibrações mentais, e, portanto, não existe de verdade. Enquanto não ocorrer esse despertar, não poderemos controlar livremente o mundo em que vivemos, do mesmo modo que o ilusionista faz surgir diversas coisas segundo sua vontade.

Nossos sentidos não são capazes de apreender a essência, a natureza verdadeira dos seres e das coisas. Por isso, pensamos que o ser humano é "matéria", é corpo carnal. E devido a isso, fomos expulsos do jardim do Éden. Este fato é citado de forma simbólica no Antigo Testamento, em Gênesis. Eva, que vivia no jardim do Éden, certo dia, enganada pela astúcia da serpente (que simboliza os cinco sentidos) e, deixando de ver a perfeição de seu corpo nu (que simboliza a Imagem Verdadeira), considerou feia a sua própria nudez e sentiu vergonha. Isso ocorreu pela ilusão dos sentidos; ela deixou de ver a perfeição da sua "nudez", ou seja, da sua natureza verdadeira; e resolveu cobrir a natureza verdadeira com um elemento material. Ela se "cobriu com folhas de figueira", ou seja, encobriu sua Imagem Verdadeira e passou a julgar-se "corpo carnal". Por isso Adão e Eva foram expulsos do jardim do Éden.

O homem não é um ser carnal (físico), e sim um ser espiritual. A causa do sofrimento do ser humano está no fato de "se cobrir com as folhas de figueira", ou seja, de encobrir o espírito. Devemos emergir logo desse estado de ilusão. É impossível que o homem tenha sido realmente banido do paraíso. A expulsão do paraíso não passa de produto da ilusão. Irmãos, eliminem a "venda de seus olhos" (a ilusão), e o paraíso ressurgirá imediatamente.

Para fazermos ressurgir o paraíso, não basta reconhecermos a nós próprios como sendo um "ser espiritual", um ser divino dotado de Vida eterna e, portanto, digno de habitar o jardim do Éden. É preciso contemplar todas as pessoas como sendo filhos de Deus, dignos de viver no paraíso. Não devemos ter pensamentos desdenhosos em relação aos outros, como: "Eu sou filho de Deus, mas o Fulano é um pobre coitado, pois ainda está mergulhado em ilusão". Mesmo que saibamos que nós próprios somos filhos de Deus, se não considerarmos os outros como filhos de Deus, este mundo não se tornará um lugar paradisíaco. Somente o mundo onde todos somos filhos de Deus, é o verdadeiro paraíso.

Não nos limitemos a reconhecer unicamente a nossa natureza sublime; reverenciemos todas as pessoas como seres sublimes. Somos "receptores" que captam a Verdade, e "trombetas" que anunciam ao mundo a natureza sublime de todas as pessoas. A sutra sagrada Palavras do Anjo, assim canta:

"Sou apenas uma trombeta.
Homens, não adoreis a mim.
Não louveis a Deus manifestado na forma.
Todas as minhas virtudes provêm de Deus onipresente.
Venerai a Deus que eu aponto, e não a mim, pois sou apenas mensageiro.
Tendo eu próprio compreendido que minha essência é Deus, 
faço-vos compreender que também a vossa essência é Deus".

Nestes versos, o Anjo, fazendo-se de trombeta, propaga a Verdade. A designação "Deus manifestado na forma" que consta na terceira linha, corresponde a "mim", que aparece na segunda linha, e e refere ao próprio Anjo. Assim como o Anjo, cada ser humano é vivificado pela Vida de Deus que nele flui. Portanto, a Vida de todo ser humano é essencialmente divina. Para distinguirmos o ser humano do Deus-Pai, usamos a designação filho de Deus. Seria possível fluir no filho de Deus uma outra Vida que não seja a de Deus? É evidente que não. Se fluísse no ser humano um outra Vida que não fosse a Vida de Deus, ele não seria filho de Deus. Jesus Cristo disse: "Quem não reverencia o filho de Deus, não reverencia o Deus-Pai". Aquele que não é capaz de reverenciar o ser humano como filho de Deus, também não é capaz de reverenciar verdadeiramente o Deus-Pai que rege o universo. Enquanto não formos capazes de reverenciar todas as pessoas, não poderemos fazer com que este mundo se transforme em paraíso.

Algumas pessoas, tendo lido o livro A Verdade da Vida, curam-se da doença e adquirem a convicção de serem filhos de Deus. Mas, lamentavelmente, logo se deixam levar pela soberba e passam a ter pensamentos tais como: "Eu sou filho de Deus, mas os outros são pobres criaturas em estado de ilusão". Tais pessoas precisam lembrar-se da advertência de Jesus Cristo – "Quem não reverencia o filho de Deus, não reverencia o Deus-Pai" – e refletir bastante acerca de sua conduta. Há pessoas que, passando a se dedicar à militância religiosa, tornam-se intolerantes para com os outros, rebelam-se contra aqueles que as acolheram, e provocam constantes atritos internos na seita. Tal conduta se deve ao fato de que elas reverenciam apenas a si mesmas, ao invés de reverenciar todas as pessoas como filhos de Deus. Adeptos de todas as religiões, não criem atritos dentro da própria seita! E também não antagonizem outras seitas. A base de toda religião é a harmonia. Lembremo-nos de que "quem com ferro fere, com ferro será ferido", "segundo o juízo com que julgardes, sereis julgados". Chama-se inferno o mundo repleto de pessoas intolerantes; e chama-se paraíso o mundo repleto de pessoas generosas. O inferno é habitado exclusivamente pelos Enma-o, o senhor das trevas, e os diabos. E o paraíso é habitado exclusivamente pelos seres celestiais, tais como Amida Nyorai (Amithaba, o Iluminado), Kanzeon Bosatsu, etc.

Despertar para a Verdade de que "o homem é filho de Deus" não é conscientizar-se apenas da natureza divina de si mesmo, mas sim compreender que "todas as pessoas são filhos de Deus" e viver em harmonia com todos, amando-os e reverenciando-os. A verdadeira paz mundial nasce da união, harmonia e compreensão mútua entre as pessoas. Onde não há união, harmonia e compreensão mútua, não é possível o ressurgimento do paraíso. 

Ultimamente, nota-se no Japão uma tendência geral de exaltar o idioma japonês, e de rejeitar todas as coisas que não sejam genuinamente nipônicas (*Nota: o autor refere-se à década de 1930, época em que escreveu este livro). Porém, nada é mais antinipônico do que tal atitude. A atitude nipônica deveria ser a de "grande harmonia". Harmonizar-se com todas as coisas, acolhe generosamente todas as coisas – isso é que é ser verdadeiramente nipônico. Devemos abandonar o apego egoístico, responsável pelo velho espírito insular dos japoneses. Budismo, cristianismo, islamismo, todos são boas religiões. Chegando-se à essência de suas respectivas doutrinas, constata-se que a Verdade que elas pregam é uma só. Assim como as religiões se identificam em sua essência, as pessoas se identificam em sua natureza verdadeira: todas as pessoas são filhos de Deus.


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 49-54

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