"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, abril 06, 2013

A Instrução Silenciosa - 2/5

Ramana Maharshi


Discípulo: Qual é a Prática que o discípulo deve adotar para realizar o Eu Real?

Mestre: Antes de tudo, deve-se reconhecer que o Eu Real, ou Atman, não é diferente nem está separado do discípulo, não é algo que ele tenha de obter como se viesse de fora. Além disso, considerando que nada existe mais sublime que o objeto de sua busca, aquele que resolutamente procura atingir a Libertação deve, preliminarmente, discernir o Real do Irreal e, com essa introspecção discriminativa, conhecer bem o que realmente é, isto é, em que consiste o seu Ser Real. Este conhecimento é necessário precedido por uma investigação sobre o “EU” em si e o que se refere ao mesmo. Tal investigação leva o discípulo a rejeitar a falsa identificação do “EU” com o corpo e a mente, visto que estes dois últimos são meros adjuntos de algo que os antecede. Invetigando-O calma e incessantemente, o pesquisador chegará – não por dedução abstrata baseada em cogitações dialéticas, mas por experiência direta e indubitável – a conclusão de que, o real, em si, é a pura “Existência – Consciência - Felicidade”. E este é o estado em que o discípulo deve manter-se firmemente. Realizando assim o seu estado natural verdadeiro, deve estabelecer-se e perceber inabalável nesse estado, como o Eu Real, isto é, a Prática no caminho do conhecimento. É, também, a chamada investigação que leva a autorealização.

Discípulo: Essa investigação pode se efetuada por todos os pesquisadores?

Mestre:  Não: é somente para as almas maduras, as outras terão que seguir métodos diferentes, adaptados ao estado de desenvolvimento mental e moral de cada um.

Discípulo: Quais são os outros métodos?

Mestre:
 
a) Hinos: Cantar, com ternura e alegria, a glória do Senhor.

b) Japa: Repetir, mental ou oralmente os nomes do Senhor ou sílabas sagradas. Em alguns momentos a mente do devoto vibra em uníssono com estas práticas (a e b) e noutros não. E ele não percebe de pronto as divagações de sua mente.

c) Dhyana: Consiste em repetir mentalmente as  sílabas sagradas e imaginar as formas e os feitos de Deus. Neste caso, a mente funciona como porta-voz do devoto. Suas divagações são notadas imediatamente, visto que não pode estar ao mesmo tempo distraída e vibrar ao mesmo  tempo distraída e em uníssomo com esta prática. Quando em dhyana, não pode achar-se distraída, e quando distraída, não pode estar em dhyana. Portanto, o praticamente (de Dhyana) apercebido do estado de sua mente, pode, quando é o caso, recolhê-la ao estado de meditação e fixar-se neste. A  proficiência na meditação leva a alma a estabelecer no real. A meditação opera na Fonte utilíssima da mente, de sorte que o aparecimento e o desaparecimento desta se tronam imediatamente claros para o praticamente.

d) Yoga: A mente e a respiração provém inseparavelmente da mesma fonte: cessando uma, a outra também cessa, sem esforço. Pelo controle da respiração (pranayama) retém-se o alento, produzindo-se automaticamente o silêncio da mente. A tal prática chama-se Yoga. Fixando a mente em qualquer dos centros psíquicos, digamos no sahasrara, os Yogis podem permanecer inconscientes de sua existência física durante o tempo que desejarem. Enquanto a mente se acha silenciada, o Yogi se sente como quem estivesse experimentando uma espécie de bem-aventurança. Não obstante, quando a mente sai deste estado torna às suas atividades anteriores. Portanto, sempre que se estiver voltando para fora, ela deverá ser interiorizada, seja pela meditação (Dhyana, seja pela investigação (Atma-Vichara), para que de modo algum retorne a sua condição anterior.

e) Jnana: É a completa anulação da mente fazendo-a realizar sua absoluta identidade com o Atman ou Eu Real pela prática constante de dhyana (meditação) ou vichara (investigação do Eu). Anulada a mente, subsiste aquele Estado de Existência Pura, isento de qualquer esforço ou atividade mental. Aqueles que atingiram esse estado jamais fogem dele. Esse Estado de Ser Puro é chamado “Silêncio” ou “Inação”.

OBSERVAÇÕES:

1) Todas as “Sadhanas”(Práticas) visam apenas a conservar a mente concentrada. Os atos de pensar, de esquecer, desejar, odiar, possuir, renunciar, etc., são modificações da mente e, portanto, não pertencem ao Eu Real. A verdadeira natureza do homem é o Ser Puro, imutável, permanente. A libertação consiste em conhecer-se esse estado por experiência direta e nele absorver-se permanentemente. Enquanto esse estado de Suprema Paz não for definitivo, far-se-ão indispensáveis ao aspirante duas “sadhanas”, a saber : não fugir do Eu Real e não permitir que a mente seja contaminada por pensamentos externos.

2) Vários são os métodos que se pode usar para manter a mente firme e equilibrada. Todos eles conduzem ao mesmo objetivo: a realização da identidade da mente com o Eu Real ou Ser Supremo. O aspirante pode escolher qualquer objeto como ponto de fixação. O sucesso na meditação consiste em eliminar toda influência do ambiente, deixando o objeto puro, de modo que a mente permaneça como esse mesmo objeto.

Aqueles que seguem o Caminho da Auto-invetigação (Atma-Vichara) compreendem que o que permanece, no final de sua busca, é realmente Brahman, ou o Absoluto.

Do mesmo modo, os que trilham o Caminho da Devoção encontram, no fim de sua prática, o objeto da própria devoção.

Logo, o que é indispensável ao aspirante é a prática ininterrupta ou da Devoção ou da Auto-investigação até alcançar a meta.

Discípulo: A Quantidade é dinâmica em si mesma ou é um estado de passividade e inércia?

Mestre: É um estado de passividade sem inércia. Cada ato constituinte daquilo que geralmente se conhece como atividade externa da vida mundana efetua-se intermitentemente. A tranquilidade interior ou comunhão com o Ser é uma atividade ininterrupta de toda a mente. Maya ( a ilusão) não pode ser completamente destruída, senão por essa comunhão interior, essa plenitude do esforço invisível, que é a atividade por excelência.

Discípulo: Qual é a natureza da Maya?

Mestre: Maya é aquilo que, ocultando o Ser, a única realidade que brilha por si mesma, que é Perfeita em si Mesma, sempre onipresente, faz o mundo, o indivíduo e o criador parecem reais, embora em todos os tempos tenham sido declarados ilusórios.

Discípulo: Se o eu ou Atman é auto-efulgente e perfeito, porque não é percebido por todos, como o são os objetos materiais?

Mestre: Quando alguma coisa é conhecida, é de fato o Atman que se conhece a si mesmo como o próprio objeto conhecido, pois a natureza do Eu Real é o conhecimento ou Iluminação. Somente o Ser é consciente, e nada existe além do Ser. Se o não-ser existisse, teria que ser insensível logo, o não-ser pode revelar-se, e um não-ser não pode conhecer outro não-ser. Pelo fato de não sermos conscientes de sua natureza, o Eu Real parece nascer como pessoa e lutar no oceano de samsâra.

Discípulo: Se o Ser Supremo é onipresente, como foi dito, deve ser fácil realizá-lo. No entanto, as escrituras declaram que se não estivermos com a Sua Graça não poderemos adorá-lo e, muito menos realizá-lo. Logo, como poderá o jiva, por seu esforço individual, realizar o Ser Supremo, na ausência da Graça? Jiva = alma individual.

Mestre: Amais o Ser Supremo foi desconhecido ou não realizado. Ele é uno e idêntico ao Eu Real. Sua Graça é a Iluminação ou Revelação Interior, direta, da divina Presença. O fato de alguém ignorá-la não constitui prova em contrário. Se a coruja não vê o sol que ilumina todo o mundo, o defeito será do sol? Se o ignorante é inconsciente do Atman, poder-se-á atribuir isso  a natureza do Atman?

Discípulo: Onde fica o centro do Ser no corpo?

Mestre: O lado direito do peito é geralmente reconhecido como a sede do Eu. Fica no ponto em que intuitivamente colocamos a mão para indicar-nos a outrem. Entanto, alguns afirmam que o cérebro é a sede do Ser. Se o fosse, a cabeça não deveria inclinar-se para baixo quando dormimos ou desmaiamos.

Discípulo: Qual é a natureza do Coração?

Mestre: O Coração tem sido descrito do seguinte modo: - “Existem, acima do abdome e abaixo do peito, entre as glândulas mamarias, seis vísceras de várias cores. Uma delas, semelhante a um botão de loto, situada a dois dedos à direita da linha média, do peito, é o Coração. Está invertido e, nele, há um pequeno orifício, dentro do qual se acha firmemente estabelecida, em companhia de desejos etc., uma escuridão imensa. Ali, aonde convergem os diversos “nâdis”(nervos primários), todo o sistema nervoso tem o seu sustento. É a sede das forças vitais, da mente e da luz (da consciência).

Na verdade, a palavra “Hridayam” significa somente o Eu Real, isto é, o Absoluto. Logo, se Ele é “Sat-Chit-Ananda-Nitya-Purna” (Eterna e Perfeita Existência-Consciência-Felicidade), nada pode estar fora ou dentro, acima ou abaixo D’Ele. Seu estado é o de cessação de todos os pensamentos. Para o aspirante que não se contenta com meras concepções abstratas, mas se empenha na realização do estado sereno e tranquilo de permanência no Ser ou Consciência Pura, estas considerações quanto à Sede do Ser - se é dentro ou fora do corpo etc., não têm cabimento. Quando ele permanece no Ser, tais perguntas não podem surgir.

Discípulo: Como é que ainda mesmo na ausência de objetos externos a mente percebe diferentes objetos, incessantemente, tornando-se-nos assim impossível realizar aquele estado de tranquilidade ou permanência no Ser?

Mestre: Isso ocorre devido às impressões mentais anteriores que percebem latentes. Essas impressões são perceptíveis pela consciência individual que se extraverteu fugindo de sua própria fugindo Existência Pura, natural e imutável. Cada vez que virdes alguma coisa, seja o que for, perguntai-vos introspectivamente: “quem é que está vendo?” – e assim, o pensamento ou a coisa vista desaparecerá imediatamente.

Discípulo: Como é que a tríade (o vidente, a visão e a coisa vista), inexistente nos estados de sono profundo e de samadhi, se manifesta nos outros estados?
 
Mestre: Do Ser (ou Real EU) surgem sucessivamente: a) a consciência refletida (chidâbhâsa), b) o jiva (ou indivíduo), isto é, o vidente ou pensamento – eu original, c) os fenômenos do mundo. 
                 
NOTA: Os elementos da tríade são interdependentes: nenhum deles pode existir sem os demais.

Discípulo: Se é livre do conhecimento e da ignorância, como pode o Eu Real penetrar todo o corpo físico, dar-lhe vida e tornar sensíveis a mente e os órgãos dos sentidos?

Mestre: Os sábios têm declarado que os vários nâdis (nervos) sutis que se estendem – por todo o corpo possuem suas raízes na sede do Eu Real; que sua ligação com este se acha no chamado nó do coração – (hridaya granthi); que enquanto esse nó não for desfeito pelo autoconhecimento, os fatores sensíveis e os insensíveis – certamente permanecerão entrelaçados: que assim como a energia elétrica, sutil e invisível, opera através de fios metálicos a energia do Eu Real atua sobre a mente e os sentidos através dos nervos que se estendem por todo o corpo; que desde que esse nó seja desfeito pelo autoconhecimento, o Eu Real será realizado tal como é, ou seja, livre de quaisquer limitações.

Discípulos: Que relação existe entre a Consciência Absoluta, ou Conhecimento Puro, e o Conhecimento relativo do mundo fenomênico, o qual implica na tríade constituída pelo conhecer, o conhecimento e o conhecido?

Mestre: Esta relação pode ser compreendida mais facilmente quando estudada em sua analogia com a projeção cinematográfica.
 
As imagens que aparecem na tela podem ser comparadas com os objetos do  mundo dos sentidos:

1) A lâmpada existente dentro da máquina projetora pode ser comparada com o Eu  Real, ou coração auto-efulgente.

2) A Lente que está dentro da lâmpada pode ser comparadas com a mente satvica adjacente ao Coração.

3) O filme, ou registro de impressões pode ser comparado  com o registro das tendências latentes em forma de pensamentos sutis.

4) A lâmpada inferior que, ao projetar sua luz através da lente, produz, juntamente com esta, o foco de seu reflexo sobre a tela, pode ser comparada como Eu Real, que, ao projetar sua luz através da mente constitui, juntamente com este, o Jiva ou conhecedor.

5) A mancha luminosa projetada na tela, através da lente pode ser comparada com a luz do Eu Real auto-efulgente projetada sobre o mundo através da mente e dos  sentidos.
 
6) As múltiplas imagens maravilhosas que aparecem na tela podem ser comparadas com  as múltiplas formas e nomes que aparecem como objetos existentes no mundo.

7) Os mecanismos que põe o filme em movimento podem ser comparadas com a lei divina que faz com que se manifestem as tendências ocultas da mente.

8) As cenas que aparecem na tela, quando as imagens impressas no filme interceptam a luz que passa pela lente. podem ser comparadas com o mundo que aparece ao indivíduo que se ache em estado de sonho, enquanto perduram suas impressões mentais latentes.

9) As pequeninas imagens impressas no filme e que são muito ampliadas pela lente, imagens que num abrir e fechar de olhos se movem na tela, podem ser comparadas com os germes de pensamentos que  a mente desenvolve e transforma em objetos enormes fazendo, num abrir e fechar de olhos, moverem-se diante de nós inúmeros mundos.

10) O fato de na ausência do filme só aparecer à luz da lâmpada sobre a tela podem ser comparadas com o fato de na ausência das modificações mentais como é o caso nos estados de sono, desmaio e Samadhi (Repouso perfeito em que desaparecem parecem as tríades) só permanece o EU REAL a brilhar.

11) A lâmpada, cujo brilho é constante, embora ilumine a lente, o filme e a tela. podem ser comparadas com o Eu Real, que permanece imutável, embora iluminando a mente e os pensamentos desta

COMO SE VÊ, A ANALOGIA É PERFEITA.
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