"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, março 17, 2009

O entendimento correto de "esforçar-se"

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Masaharu Taniguchi

Em uma mesa-redonda de discussão sobre a Verdade, da qual eu participava, surgiu o debate da seguinte questão: "O esforço é necessário ao homem?" O sr. Tane Ito externou sua opinião: "O esforço não é necessário. Onde não há esse tipo de tensão chamada esforço é que existe o verdadeiro fluir da Vida". O sr. Akira Sato, referindo-se ao sr. Ito, comentou: "Ele vive dizendo que não é necessário esforçar-se, mas não há ninguém que se esforce mais do que ele". O sr. Yatsuharu Yamane (que é ao mesmo tempo, escultor, carpinteiro, marceneiro, pedreiro, ebanista, empapelador, pintor, e que também possui profundos conhecimentos de astronomia e filosofia) afirmou: "As pessoas dizem que sou um gênio, mas eu não tenho esse dom excepcional. Como percebi que não sou um gênio e que portanto precisava me esforçar, vim somando esforços". Tanto o argumento do sr. Ito como o do sr. Yamane, parecem-me ser, em última análise, a mesma coisa.

Expliquei valendo-me da seguinte frase de alguém da mesa-redonda em Morioka: "Se traçarem uma faixa de 10 centímetros de largura sobre o asfalto da avenida e mandarem-me correr sobre ela de bicicleta, sem me desviar, serei capaz de fazê-lo sem nenhuma dificuldade. Mas se colocarem uma tábua de 10 centímetros sobre um rio bastante largo, e me mandarem passar sobre ela de bicicleta, é quase certeza que fracassarei e cairei no rio".

E acrescentei o seguinte: "Por que será que, sendo a mesma largura de 10 centímetros, quando se trata de uma faixa sobre a avenida, a pessoa não tem dificuldade para manter-se dentro dela, e tratando-se de uma tábua colocada sobre o rio, fracassa? O 'esforço' é uma palavra muito bonita, mas dá a impressão de luta contra a dificuldade, admitindo a existência dela. Se chamarmos de 'esforço' ao fato e agir para vencer a 'dificuldade', reconhecendo-a como dificuldade, isso será como atravessar a ponte de 10 centímetros de largura colocada sobre o rio. A pessoa cai da tábua porque reconhece primeiramente que 'isso é difícil'. Porém, quando a pessoa faz o mesmo trabalho com desembaraço, sem considerá-lo difícil, não se aplica a palavra 'esforço' com o sentido de 'trabalhar para vencer a dificuldade'. Será como andar normalmente, sem embaraço, sobre a faixa traçada de giz sobre a avenida. Aos outros pode parecer que está se esforçando porque está em atividade, mas a própria pessoa não está sob tensão para dizer que seja esforço. Simplesmente está trabalhando sem impedir o fluxo natural da Vida. Uma pessoa assim é que diz não estar se esforçando, quando aos olhos dos que a cercam pareça estar.

Quando a pessoa age obedecendo ao fluxo natural da Vida, a sua Vida tem a maior facilidade para se desenvolver. Nós precisamos efetuar o trabalho com naturalidade, sem considerá-lo como 'uma tábua estreita sobre um rio', mas sim como uma faixa traçada sobre a avenida, acreditando que não há perigo de cair. Não fracassamos porque acreditamos que o solo está nos sustentando. Esse solo que nos sustenta é Deus. Eu creio que quando a pessoa se dedica tranquilamente ao trabalho acreditando que não haverá fracasso porque a onipotência de Deus a guia e a sustenta, o trabalho dessa pessoa terá evolução maior do que quando se esforça reconhecendo a dificuldade como suposto inimigo".

(Do livro 'A Verdade da Vida', vol.5 -- págs 92 à 95)

Um comentário:

Templo disse...

Este texto do Osho aplica-se perfeitamente ao post acima. A pessoa que se esforça "andando na faixa desenhada sobre a avenida" está exercitando a mesma espiritualidade que o Zen ensina. E sobre naturalidade (desembaraço) e aceitação das coisas, Osho diz:


"O zen é apenas o zen. Nada se compara a ele. É único, único no sentido de que é ao mesmo tempo a coisa mais ordinária e, ainda assim, a mais extraordinária que já aconteceu à consciência humana.

É a coisa mais ordinária porque não acredita em conhecimento, não acredita em mente. Não é uma filosofia nem uma religião. É a aceitação da existência comum com todo o coração, com todo o ser de um indivíduo, sem desejar outro mundo, supramundano, supramental.

O zen não possui interesse em nenhuma besteira esotérica, nenhum interesse na metafísica. Ele não deseja alcançar a outra margem: esta margem já basta.

Sua aceitação desta margem é tão grande que, através dessa própria aceitação, o zen transforma esta margem, a tal ponto que esta mesma margem se torne a outra margem: esse mesmo corpo, o Buda; essa mesma terra, o paraíso de lótus."

-Osho