"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, julho 14, 2016

As nossas obras não somos nós quem as realizamos

 - Masaharu Taniguchi - 


Muitas vezes ficamos indignados dizendo "Estou ajudando tanto aquela pessoa, mas ela não reconhece isso e está sendo ingrata comigo". Não há dúvida de que é errado uma pessoa que recebe ajuda não sentir gratidão por isso, mas também é errado quem presta auxílio pensar que conseguiu ajudá-la com a própria força. Nada há neste mundo que seja possível fazer com a nossa própria força. Até o fato de estarmos vivendo aqui não depende da nossa força. Nós vivemos recebendo auxílio de diversas forças. Vivemos graças ao trabalho dos lavradores, dos cerealistas, dos operários das indústrias de fiação, como também dos tecelões. Estamos recebendo auxílio de todo o Universo e da força que o sustenta. E nós somos seres que vivem graças à união dessas diversas forças. E nós somos nobres, justamente por estarmos sendo vivificados por essas diversas forças. Essa força é nossa e, ao mesmo tempo, não é nossa. A nossa força é semelhante a um diamante que se formou com a junção de todas as forças do Universo.

No mundo existe algo chamado tesouro nacional, que é bem mais importante do que o tesouro de cada indivíduo. Entretanto, a nossa força vital é bem mais valiosa do que o tesouro nacional. Podemos dizer que é um tesouro universal. Sendo um tesouro universal, é muito natural que exista para o bem de todo o Universo e que trabalhe em benefício de todos. A força que nos permite trabalhar é nossa e, ao mesmo tempo, não é nossa - ela é sustentada pela força global. Aquilo que está sendo sustentado pela força global trabalha para o bem global. É uma crendice apegada a formas exteriores afirmar que "Eu ofereci a ele", "Eu fiz para ele". Na verdade, nada fizemos para o outro.

Uma oração xintoísta diz "Ame no mikage, hi no mikage to kakurimashite". Isso significa que tudo existe graças ao céu e a terra, graças ao Espírito universal, e que nada foi feito com a nossa força. Se compreendermos verdadeiramente que nada foi feito com a nossa força, não ficaremos indignados pensando "Fiz por ele, mas ele foi ingrato comigo". Assim, o mundo ficará em paz.

Também na oração xintoísta consta que reinará a paz se considerarmos que tudo existe graças ao céu e a terra, graças ao Espírito universal, e nada reconhecermos como sendo o nosso mérito. E na sutra budista consta que o verdadeiro trabalho de um bodisatva é ser misericordioso com os demais, cônscio de que não existe misericórdia nem o eu que foi misericordioso com alguém. Jesus Cristo também disse: "O Pai, que está em mim, é quem faz as obras" e jamais considerou que ele próprio tivesse feito algo. Desse modo, todos os ensinamentos, tanto do xintoísmo, do budismo quanto do cristianismo, são idênticos na essência. À primeira vista, é algo muito louvável ser misericordioso com os demais, mas de nada adiantará se depois ficar indignado, conturbando a mente, justamente por ter sido misericordioso. Estará, ao contrário, cometendo pecado se assim macular o Universo com vibrações conturbadas da sua mente.

Portanto, o que quer que façamos aos demais, devemos ter a consciência de que não somos nós que fazemos, mas sim uma obra da mão sagrada que move todo o Universo. Desse modo, por mais ingrata que seja a atitude do outro, jamais ficaremos chateados ou indignados.

O fundamental para não ficarmos irados é anularmos este pequeno eu e nos conscientizarmos do Eu que está unido a Deus, do Eu que é um com o Universo. Para isso, na Seicho-No-Ie realiza-se a Meditação Shinsokan, uma prática que une o nosso eu com Deus, não sendo o nosso objetivo apenas a cura de doenças. O que quer que façamos, ficaremos indignados se manifestarmos a ilusão "Eu fiz". Simultaneamente, acontece o mesmo no caso de outra pessoa cometer algo contra nós. Ficaremos indignados se pensarmos "Fulano fez essa desfeita contra mim". Entretanto, deixaremos de nos indignar se compreendermos "O Fulano não está vivendo com a força dele. Está sendo vivificado pela força global e se movimenta por meio dessa força global". Se pensarmos "Sicrano bateu em minha cabeça", ficaremos com raiva, mas, se considerarmos que "Atuou a força de todo o Universo e bateu em minha cabeça", não haverá como ficarmos irritados. Não há alternativa senão refletirmos. "Certamente fiz algo inconveniente em relação a todo o Universo". Se assim se revelar em nós a Sabedoria de Deus e compreendermos a Verdade de que todo o Universo, ele e eu somos um só corpo, a nossa mente se tornará extremamente livre, e deixaremos de ser escravos da ira.

Certa vez escrevi na revista Seicho-No-Ie que, quando se sente raiva, isso ocorre devido ao temor. O temor em outras palavras é uma falsa crença, porque, pela visão da Verdade, todo o Universo e eu somos um só corpo e é impossível alguém nos prejudicar. Quando estamos perdidos na ilusão, pensamos que alguém nos prejudicou se sofremos por algum motivo, mas refletindo depois compreendemos "Existe o eu de hoje justamente porque passei por tal sofrimento naquela ocasião". Aquilo que pareceu nos causar o maior dano estava, ao contrário, sendo o maior benefício para nós. Quanto maior o sofrimento, maior será o progresso da alma. E, vencendo esse estado mental de sofrimento, conseguiremos viver numa circunstância em que teremos progresso sem sofrer.

A lei mental da Seicho-No-Ie dita que "Semelhante trai semelhante". Portanto, se houver em nós a mente que julga, seremos também julgados pelos outros. Se houver em nós a mente que odeia, seremos odiados pelos outros. Se formos avarentos, os outros também o serão perante nós. E por que as pessoas ao nosso redor se manifestam da mesma forma que somos nós? Devido à misericórdia de Deus. Assim como não enxergamos os nossos próprios globos oculares, quando estamos julgando ou odiando os demais, ou sendo avarentos, não percebemos o que isso causa a eles. Então, da mesma forma que miramos no espelho para ver nosso rosto, para sabermos que tipo de efeito mental estamos causando aos demais, temos ao nosso redor pessoas que nos julgam ou nos odeiam do mesmo modo que julgamos e odiamos os outros; e experimentamos na carne o efeito que isso estava causando aos demais. 

Compreendendo através da nossa própria experiência o que estávamos causando aos outros, decidimos não mais tratá-los daquela forma má. Compreendermos nosso estado mental negativo e nos aproximarmos da natureza divina ainda mais superior - este é o verdadeiro crescimento, o verdadeiro progresso moral. Não se obtém o verdadeiro crescimento, o verdadeiro progresso, por meio de algo imposto de fora, mas por meio da livre vontade. A misericórdia de Deus manifesta ao nosso redor situações e circuntâncias semelhantes ao nosso estado mental, para despertar em nós essa livre vontade de progredir e crescer. Portanto "Semelhante atrai semelhante" é uma lei e também misericórdia. Percebemos com isso que Deus, além de Lei é simultaneamente Lei e Amor.


Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 36"

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