Masaharu Taniguchi
A reverência e a oração não serão verdadeiras se não forem absolutamente incondicionais. Reverenciar ou orar sob alguma condição é como fazer uma transação.
Falamos em reverenciar o marido, a esposa, os filhos, etc., mas é preciso que a reverência seja absolutamente incondicional. Não devemos fazer a oração ou reverenciar os outros, pensando que em troca disso receberemos graças. Se uma esposa reverenciar seu marido pensando que desse modo ele deixará de frequentar boates e se envolver com outras mulheres, não conseguirá melhorá-lo. Pelo contrário, ele poderá até piorar. Não adianta recorrer à reverência como um meio para corrigir as distorções de algo ou alguém. Com esse expediente, não é possível ocorrer a melhora. Para endireitar o que está distorcido, não adianta ater-se ao aspecto distorcido e recorrer a expedientes para endireitá-lo. É preciso deixar de ver o aspecto distorcido e contemplar unicamente o ser verdadeiro, sem nenhuma distorção.
Conta-se que havia, outrora, uma velha que vendia bolinhos à beira da estrada para Godaisan. Godaisan é um dos lugares do Zen-budismo, e muitos monges peregrinos passavam por aquela estrada. Como a estrada se bifurcava um pouco adiante da barraquinha da velha, os monges paravam e lhe perguntavam: "Qual dos dois caminhos devo seguir para chegar a Godaisan?" Consta que a velha respondia invariavelmente: "Siga reto, sempre para frente". Não obstante haver ali dois caminhos, a velha dizia: "Siga reto, sempre para frente".
Isso é muito interessante, e nos faz refletir. A velha vendedora de bolinhos sabia com tanta certeza o caminho para Godaisan, que sua mente nem cogitava na existência da bifurcação. Assim também devemos ser, na jornada da vida. Não devemos cogitar na existência de "bifurcações". O Caminho é um só, e basta seguí-lo. É ilusão pensar que há "bifurcação" na estrada da vida. É ilusão o pensamento dualístico de que existem o bem e o mal, a saúde e a doença, a luz e a treva, etc. É preciso desfazer essa ilusão, negar tal dualismo, passando a crer que existe unicamente o bem, unicamente a saúde, unicamente a luz. Se assim acreditarmos, assim será a nossa vida.
Como era sábia aquela velha vendedora de bolinhos, não acham? Basta seguirmos reto, sempre para frente. Não há o que vacilar, olhando para os lados. Não haverá erro se seguirmos em frente o caminho natural do ser humano, de acordo com a nossa natureza original. Os erros ocorrem porque nossa mente, devido à ilusão, ora se dirige para um lado, ora para o outro. Em última análise, os erros não passam da consequência de mantermos cerrados os olhos da mente e ficarmos desorientados. Contanto que abramos os olhos da mente e sigamos reto, infalivelmente surgirão coisas boas. Neste mundo não há nada que seja má, porque Deus não criou o mal.
Novamente vou falar do mestre Kyoguen. No livro Mumon-Kan, consta um Koan (questão para meditação) apresentado pelo mestre Kyoguen. É o seguinte: Suponhamos que tu estejas dependurado sobre um abismo, sustentando o teu peso com teus próprios dentes, cravados num galho que se estende sobre o precipício. Nesse momento, aproxima-se um sacerdote Zen e te pergunta: "- Por que Dharma veio à China, vindo do Oeste?" Em tal circunstância, como procederás?
De acordo com as regras do Zen, aquele que não responder uma pergunta formulada será considerado derrotado. Mas se a pessoa, na circunstância acima, abrir a boca para responder, cairá no abismo e morrerá. Então, o que fazer? É o que chamamos de dilema. Os Koans do Zen geralmente envolvem um dilema. Apresentam situações como aquela em que uma pessoa se vê entre duas espadas. Avançando ou recuando, será perfurado pela espada.
Apresentado o Koan, os discípulos do Zen fazem a concentração espiritual, meditam profundamente sobre a questão, e finalmente expressam as ideias que lhes pareçam constituir a solução do problema. Os discípulos cujas ideias forem aprovadas serão considerados diplomados nesse Koan.
As situações aparentemente dilemáticas como a do Koan acima citado não são meros temas para meditações filosóficas. Com frequência, as pessoas deparam realmente com situações comparáveis àquela, na vida cotidiana. Por exemplo, alguns me dizem: "sei que é contra a lei sonegar os impostos. Mas sou um pequeno comerciante e, se não sonegar os impostos, meu negócio não poderá se manter, e eu e minha família passaríamos fome. O que devo fazer?" Perguntas como essa, sobre situações dilemáticas, são-me feitas frequentemente. Em qualquer área de nossa vida surgem situações dilemáticas. então, como devemos proceder para solucionar esses Koans que nos são apresentados na vida prática?
À luz dos ensinamentos da Seicho-no-ie, a solução é fácil. Não há dificuldade alguma em solucionar dilemas como aquele em que a pessoa sabe que é contra a lei sonegar os impostos, mas sabe também que, se não praticar a sonegação, seu negócio não poderá se manter e sua família passará fome. a solução do dilema pode parecer difícil para quem fica a ver dois caminhos diante de si. É preciso deixar de ver dois caminhos. A Seicho-no-ie ensina que não existem dois caminhos. O caminho é um só e, portanto, basta "seguir reto, sempre para frente", como dizia aquela velha vendedora de bolinhos. Só existe um caminho. O caminho para vivermos verdadeiramente é um só. No entanto, devido à ilusão, nós próprios criamos dois caminhos antagônicos, pensamos que existem o caminho da treva e o caminho da Luz (bifurcação) e que eles se conflitam, e isso é que constitui o erro fundamental.
Não existem situações em que devamos escolher entre sonegar os impostos ou morrer de fome. Imaginar existente o que não existe, isso é ilusão. Muitas pessoas, em estado de ilusão, ficam a conjeturar a existência de vários caminhos diante de si. Pensam que há dois, três ou mais caminhos, quando, na verdade só existe um. Devido a isso, ficam indecisos e desorientados, acabam se esgotando mentalmente e passam a sofrer de depressão, insônia e tensão. Desfazendo a ilusão de que há vários caminhos e conscientizando que o caminho é um só, tudo se resolverá facilmente.
Podemos dizer que o próprio mestre Kyoguen procedeu como um tolo ao apresentar aquele Koan do "homem sobre o abismo", que faz supor a existência de dois caminhos. Se esse Koan tivesse sido apresentado ao mestre Oo-Baku, talvez este tivesse esbofeteado o mestre Kyoguen, dizendo: "És um tolo! Não sabes que não existem dois caminhos? O caminho é um só! No entanto, pensas que existem dois caminhos e que é preciso escolher um deles".
Em verdade, nosso caminho é um só, e consiste em abandonarmos o apego e fazermos fluir naturalmente a nossa Vida, tal como ela é, sem distorções.
Alguns perguntarão: "Se assim proceder, tudo correrá bem?" Eles mereceriam ser esbofeteados pelo mestre Oo-Baku, pois quem faz tal pergunta certamente busca algo com sentimento de apego. O apego provém da mente em estado de ilusão. É preciso desfazer totalmente a ilusão. É tola a pergunta: "Se assim proceder, tudo correrá bem?" A essência do ser humano é a Vida. Quando a Vida flui tal como ela é, sem nenhuma distorção, nada haverá que constitua barreira. No entanto, muitos se perguntam, preocupados: "Seguindo reto, alcançarei o objetivo? Será que não vou esbarrar em nenhum obstáculo?" O que faz pensar assim é a mente em ilusão, mente que admite a existência de "bifurcações" no caminho da vida. Tais pessoas desconhecem a verdadeira natureza da própria Vida. Para a Vida não existe obstáculo. Portanto, só pode prosseguir. A nós, seres humanos, cabe revelar natural e plenamente essa verdadeira natureza da Vida.
"Assim obterei vantagens?", "Se proceder desse modo, ficarei curado?", "Com isso, minha situação econômica melhorará?" - tudo isso são questões de importância secundária. Quem faz tais perguntas são como aqueles que querem bebidas de segunda qualidade, e mereceriam receber do mestre Oo-Baku aquela repreensão: "Vocês não passam de bebedores de resíduos de sakê". Não devemos ser buscadores de "resíduos", que ignoram a existência da bebida da mais alta qualidade, que é a água da Vida. Bebendo da água da Vida (isto é, apreendendo a essência da Vida), tornamos-nos imortais. O próprio Jesus Cristo afirmou: "aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte para jorrar para a vida eterna" (João 4, 14). Sim, aquele que descobrir dentro de si a fonte da Vida não morrerá nem adoecerá, ainda que a morte e a doença ocorram a nível fenomênico.
A fonte da Vida existe em toda parte. Existe também dentro de nós mesmos. O importante é conscientizarmos isso e sentirmo-nos profundamente gratos por esta suprema bênção. Se, não obstante conscientizarmos a fonte da Vida que existe em nós, ficarmos pensando "o que poderemos obter quando bebermos dela", estaremos apegados às questões secundárias. O apego é um empecilho.
Aqueles que reverenciam a Deus pura e simplesmente, sem nenhum apego, denotam a verdadeira nobreza espiritual. Neles, vemos a Vida reverenciando a Vida; um ser búdico reverenciando Buda; um ser divino reverenciando Deus. Reverência pura e simples - o importante é isso. Reverenciar e agradecer pelo fato de conscientizarmos que, assim mesmo como somos, estamos salvos e seguros no seio da Grande Vida (Deus).
A verdadeira fé não é aquela em que agradecemos a Deus pelo fato de ele nos proporcionar benefícios no plano fenomênico. Não se reverencia para que surjam dádivas ou para que o mundo seja iluminado. Podemos dizer que o mundo da Luz existe dentro das mãos postas em postura de reverência. Porém, isso não quer dizer que, espiando dentro das mãos, possamos vê-lo. As mãos postas simbolizam a Vida que reverencia a Vida. E onde a Vida reverencia a Vida, já está realizado o mundo da Luz, o paraíso. Mas, para apreendermos a Vida, devemos uma vez passar pela porta do "nada", isto é, abandonar a ideia de que o corpo carnal, a matéria e o mundo exterior são existências verdadeiras. Devemos abandonar inclusive a ideia de que o mundo interior existe. Se estamos pensando que nossa mente existe, ainda não abandonamos tudo. Devemos anular tudo o que é fenomênico. Precisamos uma vez apagar tudo o que está desenhado em nossa mente, tal como apagamos a lousa, compreendendo que tudo o que considerávamos existente era, na verdade, inexistente. Somente então surgirá o mundo verdadeiro, perfeito, inalterado, sem distorções.
Falamos em reverenciar o marido, a esposa, os filhos, etc., mas é preciso que a reverência seja absolutamente incondicional. Não devemos fazer a oração ou reverenciar os outros, pensando que em troca disso receberemos graças. Se uma esposa reverenciar seu marido pensando que desse modo ele deixará de frequentar boates e se envolver com outras mulheres, não conseguirá melhorá-lo. Pelo contrário, ele poderá até piorar. Não adianta recorrer à reverência como um meio para corrigir as distorções de algo ou alguém. Com esse expediente, não é possível ocorrer a melhora. Para endireitar o que está distorcido, não adianta ater-se ao aspecto distorcido e recorrer a expedientes para endireitá-lo. É preciso deixar de ver o aspecto distorcido e contemplar unicamente o ser verdadeiro, sem nenhuma distorção.
Conta-se que havia, outrora, uma velha que vendia bolinhos à beira da estrada para Godaisan. Godaisan é um dos lugares do Zen-budismo, e muitos monges peregrinos passavam por aquela estrada. Como a estrada se bifurcava um pouco adiante da barraquinha da velha, os monges paravam e lhe perguntavam: "Qual dos dois caminhos devo seguir para chegar a Godaisan?" Consta que a velha respondia invariavelmente: "Siga reto, sempre para frente". Não obstante haver ali dois caminhos, a velha dizia: "Siga reto, sempre para frente".
Isso é muito interessante, e nos faz refletir. A velha vendedora de bolinhos sabia com tanta certeza o caminho para Godaisan, que sua mente nem cogitava na existência da bifurcação. Assim também devemos ser, na jornada da vida. Não devemos cogitar na existência de "bifurcações". O Caminho é um só, e basta seguí-lo. É ilusão pensar que há "bifurcação" na estrada da vida. É ilusão o pensamento dualístico de que existem o bem e o mal, a saúde e a doença, a luz e a treva, etc. É preciso desfazer essa ilusão, negar tal dualismo, passando a crer que existe unicamente o bem, unicamente a saúde, unicamente a luz. Se assim acreditarmos, assim será a nossa vida.
Como era sábia aquela velha vendedora de bolinhos, não acham? Basta seguirmos reto, sempre para frente. Não há o que vacilar, olhando para os lados. Não haverá erro se seguirmos em frente o caminho natural do ser humano, de acordo com a nossa natureza original. Os erros ocorrem porque nossa mente, devido à ilusão, ora se dirige para um lado, ora para o outro. Em última análise, os erros não passam da consequência de mantermos cerrados os olhos da mente e ficarmos desorientados. Contanto que abramos os olhos da mente e sigamos reto, infalivelmente surgirão coisas boas. Neste mundo não há nada que seja má, porque Deus não criou o mal.
Novamente vou falar do mestre Kyoguen. No livro Mumon-Kan, consta um Koan (questão para meditação) apresentado pelo mestre Kyoguen. É o seguinte: Suponhamos que tu estejas dependurado sobre um abismo, sustentando o teu peso com teus próprios dentes, cravados num galho que se estende sobre o precipício. Nesse momento, aproxima-se um sacerdote Zen e te pergunta: "- Por que Dharma veio à China, vindo do Oeste?" Em tal circunstância, como procederás?
De acordo com as regras do Zen, aquele que não responder uma pergunta formulada será considerado derrotado. Mas se a pessoa, na circunstância acima, abrir a boca para responder, cairá no abismo e morrerá. Então, o que fazer? É o que chamamos de dilema. Os Koans do Zen geralmente envolvem um dilema. Apresentam situações como aquela em que uma pessoa se vê entre duas espadas. Avançando ou recuando, será perfurado pela espada.
Apresentado o Koan, os discípulos do Zen fazem a concentração espiritual, meditam profundamente sobre a questão, e finalmente expressam as ideias que lhes pareçam constituir a solução do problema. Os discípulos cujas ideias forem aprovadas serão considerados diplomados nesse Koan.
As situações aparentemente dilemáticas como a do Koan acima citado não são meros temas para meditações filosóficas. Com frequência, as pessoas deparam realmente com situações comparáveis àquela, na vida cotidiana. Por exemplo, alguns me dizem: "sei que é contra a lei sonegar os impostos. Mas sou um pequeno comerciante e, se não sonegar os impostos, meu negócio não poderá se manter, e eu e minha família passaríamos fome. O que devo fazer?" Perguntas como essa, sobre situações dilemáticas, são-me feitas frequentemente. Em qualquer área de nossa vida surgem situações dilemáticas. então, como devemos proceder para solucionar esses Koans que nos são apresentados na vida prática?
À luz dos ensinamentos da Seicho-no-ie, a solução é fácil. Não há dificuldade alguma em solucionar dilemas como aquele em que a pessoa sabe que é contra a lei sonegar os impostos, mas sabe também que, se não praticar a sonegação, seu negócio não poderá se manter e sua família passará fome. a solução do dilema pode parecer difícil para quem fica a ver dois caminhos diante de si. É preciso deixar de ver dois caminhos. A Seicho-no-ie ensina que não existem dois caminhos. O caminho é um só e, portanto, basta "seguir reto, sempre para frente", como dizia aquela velha vendedora de bolinhos. Só existe um caminho. O caminho para vivermos verdadeiramente é um só. No entanto, devido à ilusão, nós próprios criamos dois caminhos antagônicos, pensamos que existem o caminho da treva e o caminho da Luz (bifurcação) e que eles se conflitam, e isso é que constitui o erro fundamental.
Não existem situações em que devamos escolher entre sonegar os impostos ou morrer de fome. Imaginar existente o que não existe, isso é ilusão. Muitas pessoas, em estado de ilusão, ficam a conjeturar a existência de vários caminhos diante de si. Pensam que há dois, três ou mais caminhos, quando, na verdade só existe um. Devido a isso, ficam indecisos e desorientados, acabam se esgotando mentalmente e passam a sofrer de depressão, insônia e tensão. Desfazendo a ilusão de que há vários caminhos e conscientizando que o caminho é um só, tudo se resolverá facilmente.
Podemos dizer que o próprio mestre Kyoguen procedeu como um tolo ao apresentar aquele Koan do "homem sobre o abismo", que faz supor a existência de dois caminhos. Se esse Koan tivesse sido apresentado ao mestre Oo-Baku, talvez este tivesse esbofeteado o mestre Kyoguen, dizendo: "És um tolo! Não sabes que não existem dois caminhos? O caminho é um só! No entanto, pensas que existem dois caminhos e que é preciso escolher um deles".
Em verdade, nosso caminho é um só, e consiste em abandonarmos o apego e fazermos fluir naturalmente a nossa Vida, tal como ela é, sem distorções.
Alguns perguntarão: "Se assim proceder, tudo correrá bem?" Eles mereceriam ser esbofeteados pelo mestre Oo-Baku, pois quem faz tal pergunta certamente busca algo com sentimento de apego. O apego provém da mente em estado de ilusão. É preciso desfazer totalmente a ilusão. É tola a pergunta: "Se assim proceder, tudo correrá bem?" A essência do ser humano é a Vida. Quando a Vida flui tal como ela é, sem nenhuma distorção, nada haverá que constitua barreira. No entanto, muitos se perguntam, preocupados: "Seguindo reto, alcançarei o objetivo? Será que não vou esbarrar em nenhum obstáculo?" O que faz pensar assim é a mente em ilusão, mente que admite a existência de "bifurcações" no caminho da vida. Tais pessoas desconhecem a verdadeira natureza da própria Vida. Para a Vida não existe obstáculo. Portanto, só pode prosseguir. A nós, seres humanos, cabe revelar natural e plenamente essa verdadeira natureza da Vida.
"Assim obterei vantagens?", "Se proceder desse modo, ficarei curado?", "Com isso, minha situação econômica melhorará?" - tudo isso são questões de importância secundária. Quem faz tais perguntas são como aqueles que querem bebidas de segunda qualidade, e mereceriam receber do mestre Oo-Baku aquela repreensão: "Vocês não passam de bebedores de resíduos de sakê". Não devemos ser buscadores de "resíduos", que ignoram a existência da bebida da mais alta qualidade, que é a água da Vida. Bebendo da água da Vida (isto é, apreendendo a essência da Vida), tornamos-nos imortais. O próprio Jesus Cristo afirmou: "aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte para jorrar para a vida eterna" (João 4, 14). Sim, aquele que descobrir dentro de si a fonte da Vida não morrerá nem adoecerá, ainda que a morte e a doença ocorram a nível fenomênico.
A fonte da Vida existe em toda parte. Existe também dentro de nós mesmos. O importante é conscientizarmos isso e sentirmo-nos profundamente gratos por esta suprema bênção. Se, não obstante conscientizarmos a fonte da Vida que existe em nós, ficarmos pensando "o que poderemos obter quando bebermos dela", estaremos apegados às questões secundárias. O apego é um empecilho.
Aqueles que reverenciam a Deus pura e simplesmente, sem nenhum apego, denotam a verdadeira nobreza espiritual. Neles, vemos a Vida reverenciando a Vida; um ser búdico reverenciando Buda; um ser divino reverenciando Deus. Reverência pura e simples - o importante é isso. Reverenciar e agradecer pelo fato de conscientizarmos que, assim mesmo como somos, estamos salvos e seguros no seio da Grande Vida (Deus).
A verdadeira fé não é aquela em que agradecemos a Deus pelo fato de ele nos proporcionar benefícios no plano fenomênico. Não se reverencia para que surjam dádivas ou para que o mundo seja iluminado. Podemos dizer que o mundo da Luz existe dentro das mãos postas em postura de reverência. Porém, isso não quer dizer que, espiando dentro das mãos, possamos vê-lo. As mãos postas simbolizam a Vida que reverencia a Vida. E onde a Vida reverencia a Vida, já está realizado o mundo da Luz, o paraíso. Mas, para apreendermos a Vida, devemos uma vez passar pela porta do "nada", isto é, abandonar a ideia de que o corpo carnal, a matéria e o mundo exterior são existências verdadeiras. Devemos abandonar inclusive a ideia de que o mundo interior existe. Se estamos pensando que nossa mente existe, ainda não abandonamos tudo. Devemos anular tudo o que é fenomênico. Precisamos uma vez apagar tudo o que está desenhado em nossa mente, tal como apagamos a lousa, compreendendo que tudo o que considerávamos existente era, na verdade, inexistente. Somente então surgirá o mundo verdadeiro, perfeito, inalterado, sem distorções.
("A Verdade da Vida, vol. 12", pgs. 174-180)
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