"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, março 02, 2011

Extrair do Jissô a capacidade infinita

Masaharu Taniguchi

(*Mesa-redonda realizada na Sede Central da Seicho-No-Ie, em 22 de abril de 1934.)



Minami - Como ainda estamos em número reduzido de participantes, gostaria de aproveitar para expor ao Mestre o que penso, pois sinto-me um tanto acanhado em falar de minhas dúvidas diante de muitas pessoas.

Taniguchi - Pois não, tenha a palavra.

Minami - Dentro de nossa mente tanto há o inferno como o paraíso. Se mentalizarmos o mal, surgirá o inferno; e se mentalizarmos o bem, surgirá o paraíso. Em suma, nem o inferno nem o paraíso existem originariamente, mas estão em nossa própria mente. Compreender isso é despertar para o Jissô?

Taniguchi - Isso seria compreender a lei do fenômeno, e não o Jissô que existe realmente.

Minami - Ah, isto seria compreender a lei do fenômeno?

Taniguchi - Compreender que no mundo fenomênico surge o inferno ou o paraíso como manifestação da mente e que tal mundo não existe originariamente, é compreender o fenômeno, mas não o Jissô da Vida. O mundo fenomênico é o mundo mutável que se mostra ora como inferno, ora como paraíso, de acordo com a mente; e o mundo do Jisso é o paraíso constante e eterno onde só há felicidade e alegria.

Minami - Purificar a mente para manifestar somente o aspecto paradisíaco no mundo fenomênico, nisso consiste o treinamento espiritual, não?

Hara - É preciso criar um vento que dissipe as nuvens do fenômeno?

Taniguchi - Não é preciso pensar em dissipar a nuvem. Lançando-se ao mundo do Jissô, nascem a liberdade infinita, a força infinita. Não importa se há nuvem ou não; enquanto o indivíduo ficar preocupado com a existência ou não das nuvens, não poderá compreender a Verdade. É preciso buscar acima das nuvens o mundo radioso; havendo nuvens ou não, acima delas o Sol está brilhando. Quando a pessoa se lançar a esse mundo iluminado, as nuvens desaparecerão espontaneamente, porque já não estarão retidas pela força da mente dessa pessoa. Preocupar-se com 'esta' ou 'aquela' nuvem e pensar que não se salvará enquanto não eliminar essas nuvens, é prender-se ao fenômeno.

Hara - Pelo que o Mestre está nos dizendo, o homem já está originariamente salvo, já possui a liberdade infinita, a força infinita.

Minami - E como manifestar na vida concreta essa salvação e a força infinita que já temos?

Taniguchi - Basta fazer com que o Jissô, originariamente perfeito, se projete no mundo fenomênico, sem distorção. Para tanto, basta limpar a "lente mental" através da qual o "filme" do Jissô se projeta no mundo fenomênico. Para purificar a "lente mental", basta ver o aspecto perfeito do Jissõ, sem se prender a aspectos imperfeitos eventualmente manifestados no mundo fenomênico. Basta ver o seu Jissô originariamente salvo. Basta ver o seu Eu, originariamente um com Deus.

Minami - Mesmo orando a Deus para ver o Jissô sem se ater ao fenômeno, muitas pessoas não estão manifestando o paraíso no mundo fenomênico. Há sogras que oram a Deus mas maltratam as noras. Parece que a oração para se tornar um com Deus tem vários estágios.

Taniguchi - De fato, existem vários estágios. Há pessoas que pensam que Deus seja uma imagem de madeira ou de metal ou que Ele seja um ser exterior, e não o seu próprio Jissô. Mesmo que orem a Deus, se o fazem pensando em se tornar um com a imagem de madeira ou de metal, não poderão manifestar o paraíso. É preciso tornar-se um com o Jissô de felicidade eterna para que se manifeste o estado originário em que já se está salvo.

Suguino - Hoje recebi um folheto do sr. Matsunami, da Indústrua de Tabi* (uma espécie de meia) Hinomoto, contendo a transcrição de uma interessante palestra do sr. Maçao Takahashi. Diz ele que pensava que o paraíso ficasse no céu, mas descobriu que ele fica no fundo da caldeira do inferno. Se, ao contrário elas avançarem em direção ao inferno, baterem contra o fundo da caldeira e o roperem, lá encontrarão o paraíso. Por exemplo, num caso de dívida, quando se pensa que o credor é cruel como o demônio, forma-se o inferno. Para escapar desse inferno, a pessoa não deve fugir, pois, quanto mais assim proceder, maos o "demônio" a perseguirá. Deve, pois, procurar amar a dívida. Assim, quando a pessoa não teme e enfrenta a dívida (inferno) e trabalha (luta) arduamente para liquidar tal dívida (romper o fundo da caldeira do inferno), acaba-se livrando dela (encontrando o paraíso). Achei esse princípio do sr. Takahashi semelhante ao que foi comentado na mesa-redonda do mês retrasado, ou seja, "eliminar as reclamações do ambiente familiar amando-as e satisfazendo as exigências da situação".

O caso do sr. Maçao Takahashi se baseia numa dívida que ele herdou de seu pai: como dispunha de uns três mil ienes, o pai construiu uma casa nova; porém, a construção final custou seis mil ienes; nisso, ele falaceu, deixando ao filho cerca de três mil ienes de dívida. O sr. Takahashi decidiu então sair daquela casa, pois, eticamente, enquanto não pagasse a dívida, ela não seria sua. Mas o empreiteiro que construiu a casa lhe disse: "Se o senhor sair, nada melhorará para nós; não podemos morar nessa casa, nem podemos tomar uma parte da construção. Por favor, continue morando nela como antes". Sendo assim, o sr. Takahashi resolveu permanecer na casa. Então, ele pensou: "O que nos permitiu morar numa casa tão boa foi justamente a dívida. A dívida é uma benfeitora, portanto devo satisfazer as exigências desse benfeitor. Bendita dívida; graças a ela podemos morar aqui". Assim, decidiu atender à exigência da benfeitora, isto é, liquidar a dívida. Com essa decisão, nasceu nele uma infinita força para trabalhar e logo acabou pagando a dívida.

Taniguchi - O sr. Takahashi defende a mesma Verdade pregada pela Seicho-No-Ie, mas parte de uma premissa contrária, isto é, considera-se imerecedor de algo bom. Assim, no fundo ele pensa: "Apesar de não merecê-lo, podemos morar numa casa tão boa, graças a uma força superior". Antes ele pensava estar vivendo com a força do corpo carnal, do raciocínio cerebral e do dinheiro, mas compreendeu que era vivificado pela grandiosa força universal que nele se aloja, e conscientizou que essa força é o seu verdadeiro Eu. Essa conscientização anula o velho eu e deixa nascer o novo Eu; desaparecendo o falso eu, pode despontar o Eu verdadeiro; desaparecendo o falso eu, emerge o grande Eu. Quando ele diz "não sou merecedor", trata-se do falso eu. Na verdade, ele está diminuindo e anulando o falso eu, o que permite o surgimento do verdadeiro Eu. Essa também é uma maneira de exteriorizar o verdadeiro Eu. É a grande afirmação após a negação. A Seicho-No-Ie, no entanto, parte da enfatização do verdadeiro Eu, afirmando: "O verdadeiro Eu é filho de Deus; este é existência verdadeira e é sumamente perfeito. O falso eu não é existência verdadeira, embora pareça; não se apegue ao que não existe; não se preocupe com o que não existe".

Tanto o método do sr. Maçao Takahashi como o da Seicho-No-Ie consistem em manifestar o verdadeiro Eu mediante a negação do falso eu. Entretanto, é mais eficar negar o falso eu dizendo "isso não existe" do que afirmando "não sou merecedor".

O sr. Maçao Takahashi pensou: "Bendita dívida; graças a ela podemos morar nesta casa". E repetindo constantemente "Eu tenho dívidas! Vou lutar com toda a força!", trabalhou intensamente e conseguiu saldar a dívida. Isso foi possível por ser ele possuidor de grandes qualidades morais. Muitas pessoas ficariam desanimadas só de pensar que têm uma dívida de três mil ienes. Há também pessoas que achariam um disparate serem obrigadas a arcar com tamanha dívida do pai e se desesperariam. Convém lembrar também que o sr. Takahashi sentiu nascer uma força intensa ao declarar abertamente "tenho dívidas! Vou lutar com toda a força!". Não podemos nos esquecer da atuação do poder das palavras "Vou lutar com toda a força!" que ele acrescentou no final. Experimente proferir palavras com sentido contrário, tais como "Tenho dívidas! Que desespero!". Quem assim afirmar ficará desanimado e deprimido e não terá coragem para trabalhar. Portanto, não foi a lembrança constante de ter algo negativo chamado dívida que fez brotar no sr. Takahashi uma intensa força para lutar. Se nos esquecermos disso, estaremos deixando de ver a Verdade. Também não foi o mero acréscimo da frase "Vou lutar com toda a força" que gerou tal força, mas sim o sentimento de gratidão que lhe nasceu ao reconhecer o fato de poder morar imerecidamente numa casa tão boa não era devidoà sua pequena força, mas era graças à força da Grande Vida do universo que o vivifica, alojada nele. Tal sentimento de gratidão resulta da negação do pequeno eu e da conscientização do verdadeiro Eu que aloja em si a Grande Vida do universo. Essa conscientização é que faz brotar espontaneamente as palavras "vou lutar com toda a força" e permitiu que elas surtissem efeito, fazendo o sr. Takahashi trabalhar e liquidar a dívida.

A expressão "não sou merecedor" tem o poder de desanimar-nos,mas, quando ligada ao sentimento de gratidão "Apesar de não merecer, sou beneficiado. Obrigado, meu Deus!", anula o falso eu e faz emergir o verdadeiro Eu, de capacidade infinita, que nos impele a agir. O que desperta o verdadeiro Eu infinitamente capaz é o sentimento de profunda gratidão que resulta da conscientização "não é minha própria força que me faz viver, mas a Vida que permeia o Universo".

Suguino - E é preciso haver esse sentimento de gratidão entre os membros da família. Recebemos constantemente benefícios que, se partissem de estranhos, agradeceríamos toda vez, mas, sendo um parente, nem lembramos de agradecer. E quando o mesmo parente faz algo que não nos agrada, achamos que ele só nos aborrece e ficamos com raiva. O Mestre diz "É preciso agradecer aos familiares", o que é uma grande verdade. Se todos sentirem gratidão mútua, não só no lar, mas também no trabalho, tudo transcorrerá maravilhosamente, manifestar-se-á a capacidade infinita latente nas pessoas e a família prosperará.

(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 06"; pgs. 75 à 82)


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