"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, janeiro 02, 2009

O mestre do mosteiro novo

Hyakujo reuniu todos os seus monges porque desejava enviar um deles para abrir um novo mosteiro.
Colocando a jarra cheia de água no chão, ele disse: "Quem pode dizer o que é isto sem utilizar o seu nome?"
O monge principal, que almejava conseguir a posição, disse: "Ninguém pode chamá-lo um sapato de madeira".
Outro monge disse: "Não é uma lagoa, porque pode ser carregado".
O monge da cozinha, que estava em pé ali perto, aproximou-se,chutou a jarra, e então foi embora.
Hyakujo sorriu e disse: "O monge da cozinha será o mestre do novo mosteiro".



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A realidade não pode ser compreendida por meio do pensamento, mas pode ser compreendida por meio da ação. O pensamento é só um fenômeno do sonho. No momento em que você age, você se torna parte da realidade. Realidade é atividade, ação. O pensamento é só um fragmento. Quando você age, você é inteiro; qualquer que seja a ação, todo o seu ser se envolve nela. Os pensamentos ocorrem numa parte da mente, seu ser inteiro não está envolvido; sem você, os pensamentos podem continuar como um processo automático.

Isso deve ser entendido profundamente. Essa é uma das coisas mais básicas para os que estão à procura da verdade e não à procura de qualquer outra coisa. Religião e filosofia são distintas nesse sentido: religião é ação, filosofia é pensamento.

Esta história tem muitas implicações. O mestre quis um monge, um discípulo, para torná-lo responsável pelo novo mosteiro que ia ser aberto. Quem deveria ser enviado? Quem deveria ser nomeado o guia de lá, um homem que tem muita filosofia em sua mente, um homem que pode falar, discutir, argumentar, um homem que é literato, um homem que é educado, ou um homem que pode agir espontaneamente? Ele pode não saber muito, ele pode ser simples; pode não ser intelectual, mas ele será inteiro.

O monge principal deve ter começado a sonhar pensando que seria o escolhido. A mente é sempre ambiciosa. Ele deve ter planejado como se comportar, o que fazer, de forma a ser escolhido como o chefe do novo mosteiro. Ele não deve ter dormido durante muitos dias; a mente deve ter se revolvido sobre o assunto muitas vezes.

O ego planeja tudo e aquilo que você planeja perderá a realidade, porque a realidade só pode ser encontrada espontaneamente. Se você pensa sobre isto antecipadamente, você pode estar pronto, mas irá perder. Uma pessoa que está pronta perderá; essa é a contradição. Uma pessoa que não está pronta, que não planejou nada, que age espontaneamente, alcança o próprio coração da realidade.

O monge principal deve ter teorizado, muitas alternativas devem ter-lhe vindo à mente. O mestre vai escolher; haverá algum tipo de teste. Ele deve ter consultado os textos, porque também nos tempos antigos os mestres tinham que escolher os discípulos a serem enviados para os novos mosteiros. Como eles faziam a escolha? Em que tipo de exame tinha de ser aprovado? Como ele poderia ter sucesso?

Há muitas histórias dos tempos antigos. Quase sempre este era um dos testes básicos que os mestres zen aplicavam aos seus discípulos, eles pediam para expressar algo sem usar a linguagem. Eles diziam: "Diga algo sobre esta coisa, mas não use nenhum nome, porque o nome não é a coisa".

A cadeira está aqui, eu estou sentado nela. Um mestre zen pode dizer: "Diga algo sobre esta cadeira, mas não use o nome, porque a palavra não é a cadeira. Assim, não use nenhuma expressão verbal, não use a linguagem, e diga algo".

A mente fica confusa, porque ela só sabe a linguagem, nada mais. Se a linguagem for impedida, a mente fica bloqueada. O que é a mente a não ser um acúmulo verbal, nomes, palavras, linguagem? E um mestre diz: "Não use o nome". Ele está dizendo: "Não use a mente, e faça algo de forma que aquilo que é a cadeira seja expressado".

A palavra deus não é Deus, a palavra homem não é o homem, a palavra rosa não é uma rosa. Sem nenhuma palavra a rosa existe; sem nenhuma palavra a árvores continua a existir, aquilo que existe não depende das palavras.

Aquele monge principal deve ter pensado no assunto muitas e muitas vezes. Então deve ter escolhido uma alternativa de antemão. Ele estava morto, sem vida. Naquele momento exato, ele falhou.

Interiormente, se você decide o que vai fazer e age diferentemente do que decidiu, você perderá a realidade, porque a realidade é um movimento sempre contínuo. Ninguém sabe para onde vai, ninguém sabe o que vai acontecer. Ninguém pode predizer; é imprevisível.

Existe uma história zen: Havia dois mosteiros vizinhos, lado a lado. Ambos os mestres dos mosteiros serviam-se de alguns meninos pequenos para resolver pequenos assuntos. Os meninos iam ao mercado bucas coisas para seus mestres, às vezes legumes, às vezes outras coisas. Os mosteiros eram antagônicos entre si, mas às vezes os meninos agiam apenas como meninos: eles esqueciam das doutrinas e se encontravam no caminho, conversavam e divertiam-se. Isto era proibido: eles não deveriam conversar, porque o outro mosteiro era o inimigo.

Um dia, o menino que pertencia ao primeiro mosteiro veio e disse: "Eu estou confuso. Quando ia para o mercado, eu vi o menino do outro mosteiro e perguntei: 'Aonde você vai?', e ele respondeu: 'Para onde quer que o vento sopre'; e eu fiquei perdido, sem saber o que dizer. Ele criou um quebra-cabeça para mim".

O mestre disse: "Isso não é bom. Ninguém do nosso mosteiro jamais foi derrotado por alguém do outro mosteiro, nem mesmo um criado. Você tem que pegar aquele menino. Amanhã, pergunte novamente: 'Aonde você vai', e ele responderá: 'Para onde quer que o vento sopre'; então você diz: 'E se não houver nenhum vento, então...?'".

O menino não conseguiu dormir a noite inteira. Tentou e tentou conceber o que aconteceria no dia seguinte; ele ensaiou muitas vezes. Ele perguntaria e o outro responderia, e ele daria a sua nova resposta.

No dia seguinte, ele esperou no caminho. O menino do mosteiro vizinho chegou, e ele perguntou-lhe: "Aonde você vai?" O menino respondeu: "Para onde quer que os meus pés me levem". E lá estava ele perdido sobre o que fazer. A resposta era categórica, e arealidade é imprevisível.

Ele voltou muito triste e disse ao mestre: "Aquele menino não é confiável. Ele mudou e eu fiquei perdido sobre o que fazer". Então o mestre disse: "Amanhã, quando ele disser: 'Aonde quer que meus pés me levem', você diz: 'E se você for aleijado e não tiver pernas, então...?'".

Novamente ele não conseguiu dormir. No dia seguinte, foi esperá-lo bem cedo na estrada, e quando o menino chegou, ele perguntou: "Aonde você vai?" E o menino respondeu: "Vou buscar legumes no mercado".

Ele voltou muito transtornado e disse ao mestre: "Aquele menino é impossível: ele continua mudando". (...)

A vida é aquele menino. Continua mudando. A realidade não é um fenômeno fixo. Você tem que estar presente, espontaneamente, para ela, só então a resposta será real. Se sua resposta é definida previamente, então você já está morto, você já perdeu. O amanhã virá, mas você não estará lá; você estará preso dentro do ontem, aquilo que é o passado.

Todas as mentes que são muito verbais são assim, suas respostas foram definidas no passado. Procure uma autoridade, um estudioso, e pergunte: "O que é Deus?". Antes de você perguntar, ele já começou a responder. A sua pergunta não é respondida porque, mesmo antes de você perguntar, o homem já tem a resposta. A resposta está morta; ela já está lá. Tem só que ser trazida da memória, não é uma resposta.

Esta é a diferença entre um homem de conhecimento e um homem de sabedoria. Um home de conhecimento tem respostas já prontas: você pergunta e a resposta já está lá. Você é irrelevante, a sua pergunta é irrelevante. Antes da pergunta, existe a resposta; sua pergunta simplesmente aciona a memória. Mas se você for um até homem de sabedoria, ele não tem nenhuma resposta para lhe dar; ele não tem nada preparado. Ele está aberto, em silêncio. Ele responderá. Primeiro a sua pergunta, e aí a pergunta toca e ressoa no ser e não na memória dele. Do ser dele virá uma resposta. Ninguém pode predizer aquela resposta. Se você procurá-lo no dia seguinte e fizer a mesma pergunta, a resposta não será a mesma.

Certa vez, um homem tentou testar Buda. Todos os anos ele ia até Buda e fazia a mesma pergunta, porque ele pensava: "Se ele realmente sabe, então a sua resposta deverá ser sempre a mesma. Como você pode mudar a resposta? Se eu venho e pergunto: 'Deus existe?', e se ele sabe, ele dirá sim ou dirá não, e no ano seginte virei e perguntarei novamente."

Então durante muitos anos o homem veio e foi ficando cada vez mais confuso. Às vezes Buda dizia sim, e em outras dizia não; às vezespermanecia calado, e em outras simplesmente sorria e não respondia nada.

O homem ficou confuso e disse: "O que é isto? Se você sabe, então deve ter certeza e sua resposta deve ser sempre a mesma. Mas você continua mudando. Uma vez você disse sim, depois disse não. Você esqueceu que eu já lhe fiz essa pergunta antes? Então uma vez você permaneceu em silêncio... e agora você está sorrindo? É por isso que eu tenho vindo com um intervalo de um ano, só pra ver se você sabe ou não".

Buda disse: "Quando você veio pela primeira vez e perguntou: 'Deus existe?', eu respondi. Mas a resposta não era só para a pergunta, era pra você. Você mudou; agora a mesma reposta não pode ser dada. E não só você mudou, eu também mudei. Muita água desceu pelo Ganges; a mesma resposta não pode ser dada. Eu não sou um texto que você abre e encontra a resposta sempre no mesmo lugar".

Um buda é um rio vivo. Ele continua fluindo. De manhã é diferente, o sol nasce, e todo o rio torna-se dourado. Ao meio-dia é diferente, de tarde é diferente. E quando a noite vem e as estrelas começam a refletir-se nele, ele é diferente. No verão encolhe; na época das chuvas alaga. Um rio não é uma pintura, é uma força viva.

Uma pintura, quer esteja chovendo quer seja verão, permanece do mesmo jeito. No período de chuvas um rio pintado não alaga. Está morto; caso contrário, a cada momento, haveria mudanças. Só uma coisa é permanente e essa é a mudança. Só há um coisa que continua permanentemente e essa é a revolução. Ela flui e continua fluindo.

Aquele monge principal devia estar decidido; a resposta estava lá, e ele só estava esperando o mestre perguntar. Então o mestre colocou uma jarra diante deles, um pote cheio de água, e disse: "Diga algo, mas não use o nome. Diga algo, mas não use a mente. Diga algo, mas não use a linguagem".

A coisa parece absurda. Quando você diz: "Diga algo e não use a linguagem", você está criando uma situação impossível. Como algo pode ser dito sem usar a linguagem? Mas se você não pode dizer algo sobre uma jarra comum cheia de água sem usar a linguagem, como poderá dizer qualquer coisa sobre Deus, que está repleto com o universo inteiro? Se você não pode designar essa jarra sem palavras, como poderá designar a grande jarra, o universo, Deus, a verdade? E se você não pode designar isso, como poderá tornar-se o chefe de um mosteiro? As pessoas estarão vindo até você, não para serem treinadas em filosofia, porque isso pode ser feio nas universidades... há milhões de universidades; elas ensinam palavras.

Então, qual é o propósito de um mosteiro? Um mosteiro tem que ensinar a realidade, não formulá-la; tem que ensinar religião, não filosofia; tem que ensinar a vida, não teorias. Assim, se você não puder dizer nada sobre uma jarra comum, o que fará quando alguém perguntar: "O que é Deus?". O que você fará quando alguém perguntar: "Quem sou eu?".

O monge principal respondeu. Sempre que a mente enfrenta uma situação dessas, a única maneira é tentar definir negativamente. Se alguém perguntar: "Diga algo sobre Deus, sem citá-Lo", o que você fará? Você só pode responder negativamente: você pode dizer "Deus não é deste mundo, Deus não é material".

Olhe nos dicionários, procure na Enciclopédia Britânica, e veja como eles definem as coisas. Você ficará surpreso: e procurar a página onde está a palavra mente, você achará esta definição: "Mente é aquilo que não é matéria". Então procure a página onde está definido o termo matéria, e você encontrará: "Matéria é aquilo que não é mente". Que tipo de definição é essa? Quando você pergunta pela mente, eles dizem que é não-matéria; quando você pergunta por matéria, eles dizem que é não-mente. Nada está definido. Este é um círculo vicioso. Se eu pergunto sobre A, você diz não-B; e se eu pergunto por B, você diz não-A. Você define uma coisa por outra indefinível. Como algo pode ser definido por outro indefinível? Esta é uma trapaça.

Assim, o monge principal disse algo negativamente, mas ele falou. Quando a mente se sente pedida sobre o que fazer, ela começa a fazer declarações negativas. Talvez o ateísmo seja só um fuga. Deus está lá, mas como definí-lo? A mente sente-se perdida, assim a fuga mais fácil é dizer que Deus não existe, o problema fica resolvido.

Alguém disse: "Não é um lagoa, porque pode ser carregado com as mãos".

Mas como você pode definir uma jarra cheia de água só dizendo que ela não é uma lagoa? Então o que é uma lagoa? Diga algo sem usar esse nome.

Então o cozinheiro do mosteiro, que deve ter-se mostrado um homem mais verdadeiro do que aquelas autoridades -- um cozinheiro que nunca esteve muito interessado nas escrituras; um cozinheiro que trabalha com a realidade, que a enfrenta, não fica pensando sobre ela, parou, chutou a jarra e saiu.

O que ele disse? Ele disse algo de um modo mais realista. Chutar não é pensar, é ação. Ele chutou a jarra e disse ao mestre: "Tolice! Você está falando absurdos. Você pede pra dizermos algo sem palavras. Nada pode ser dito sem palavras. Algo pode ser feito sem palavras, mas nada pode ser dito". Ele pegou o ponto, Algo pode ser feito sem palavras, mas nada pode ser dito. Assim, ele fez algo, chutou a jarra.

O mestre disse: "Este cozinheiro foi escolhido. Ele vai para o mosteiro novo e se tornará o mestre de lá. Ele sabe agir sem a mente; ele sabe responder sem usar a mente. Ele disse que o problema é absurdo".

Lembre-se de uma coisa: se o problema é absurdo, você não pode responder de modo racional. E se tentar, você será um tolo, isso demonstra tolice. Se o problema é um absurdo, você não pode tentar resolver de forma racional, porque para uma pergunta absurda não pode haver nenhuma resposta racional. Se tentar, você simplesmente prova que é um tolo. Estudantes são tolos, caso contrário eles não seriam estudantes. Eles estão desperdiçando suas vidas com palavras, textos. Ninguém desperdiça a vida com palavras se não for completamente estúpido.

O cozinheiro é mais sábio, ele chutou. Ele não está chutando a jarra, ele está chutando o problema inteiro; ele não está chutando a jarra, ele está chutando a situação toda, e ele sente: "Isto é absurdo!". Ele não está dizendo nada, não está usando uma palavra. Apenas imagine aquele cozinheiro que chuta a jarra com todo o seu ser. Ele está completamente envolvido nisso, mente, corpo, alma. O pontapé é vivo; o pontapé é espontâneo. Ele não decidiu anteriormente; ele nunca soube que ia estar lá. Ele pode nem mesmo achar que essa era a sua resposta; ele só estava vendo o que estava acontecendo. De repente, o pontapé aconteceu.

O mestre deve ter olhado para aquele estado de ser, quando o cozinheiro era só ação, nenhuma mente naquilo, só um vazio. Fora daquele vazio, fora daquela não-mente, surgiu a ação. Quando a ação vem do ator, ela está morta.; quando a ação vem do ego, ela foi premeditada. Quando a ação vem sem o ego, sem a mente, sem você estar lá, quando a ação borbulha para fora do seu nada, ela vem do divino, ela é total.

O cozinheiro não chutou; era como se a existência inteira chutasse. Ele chutou todo o conhecimento, todas as escrituras, o intelecto inteiro e seus círculos viciosos, e então foi embora. Ele não esperou. Veja: ele foi embora. Se ele tivesse esperado para ver aquilo que o mestre diria, então ele não teria sido escolhido, porque isso significaria que a mente dele estava procurando a conclusão ali, o resultado.

A mente está sempre orientada para o resultado: O que vai acontecer? Se eu fizer isto, então o que acontecerá? Se a causa está lá, qual será o efeito? A mente está sempre atrás do resultado. A mente é orientada para o resultado.

Aquele cozinheiro simplesmente foi embora. Ele não esperou pelo que ia acontecer; não pensou que ia ser escolhido. Como você pode pensar que simplesmente chutando uma jarra será escolhido para vir a ser o mestre de um mosteiro? Não, ele nunca se preocupou com isso.

Foi isso que Krishna disse a Arjuna no Gitá: "Faça! Aja! Mas não espere pelo resultado. Chute e vá embora". Arjuna continua pensando no resultado. Ele diz: "Se eu lutar, se eu enfrentar essa guerra, o que vai acontecer? Qual será o resultado? O resultado será bom ou ruim? Eu vou ganhar ou perder? Valerá o esforço, matar tantas pessoas?". E Krishna diz: "Não pense no resultado, Deixe o resultado para mim: você simplesmente deve agir".

Mas a mente não pode fazer isso. Antes de a mente agir, ela quer o resultado; ela age por causa do resultado. Se houver um resultado, só então...

Pessoas vêm a mim e perguntam: "Se nós meditarmos, o que vai acontecer? Qual será o resultado?".

Lembre-se a meditação não pode ser orientada para o resultado; você medita simplesmente, isso é tudo. Tudo acontece, mas não é como um resultado. Se você está buscando o resultado, nada acontecerá; a meditação será inútil. Quando você busca um resultado, é a mente; quando você não busca um resultado, é a meditação. Chute a jarra e vá embora. Medite e vá embora; não espere o resultado. Não diga: "O que acontecerá?"... porque se você pensa no que vai acontecer você não consegue meditar. A mente que está pensando no resultado não pode estar aqui e agora, estará sempre no futuro. Você está meditando e pensa: "Quando vai surgir o resultado? Ainda não apareceu nenhum"... será isso meditação? Se você ama e continua a pensar: "Quando virá a felicidade? Ainda não chegou"... será isso amor?

Quando você esquece do resultado completamente, quando não há nem mesmo uma luz bruxuleante na mente para o resultado, nem mesmo uma única vibração movendo-se para o futuro, quando você tornou-se um lago silencioso, aqui e agora, tudo aconteceu. Na meditação, causa e efeito não são dois; a causa é o efeito. A ação e o resultado não são dois; a ação é o resultado. Eles não estão divididos. Na meditação, a semente e a árvore não são dois; a semente é a árvore.

Mas para a mente tudo é dividido: a semente e a árvore são dois a ação e o resultado são dois. O resultado estará sempre no futuro e a ação é agora; você age por causa do futuro. Para a mente o presente é sacrificado em prol do futuro... e o futuro não existe. Não existe nenhum futuro, empre exite o presente. É um eterno agora, e você está sacrificando este agora por algo que não está em nenhuma parte e não pode estar em nenhum lugar.

Na meditação o processo inteiro é invertido. O futuro é sacrificado pelo presente; aquele que não existe é sacrificado pelo que existe. Não há nenhum resultado, nenhuma conclusão. Chute a jarra e vá embora. Não espere pelo resultado.

Essa é a beleza do que foi contado. O cozinheiro simplesmente foi embora dizendo: "A coisa inteira é absurda, a sua pergunta e as respostas dessas pessoas. Este é um jogo de tolice. Eu não faço parte disto". Ele deve ter ido para a cozinha e ter começado a trabalhar. É assim que uma mente meditativa age. E o mestre disse: "Esse homem é o escolhido, ele vai para o mosteiro novo, ele será o chefe de lá. Ele sabe ser inteiro, sabe agir espontaneamente; ele sabe agir sem motivação, sabe agir sem a mente. Esse homem também pode conduzir outros na meditação, esse home pode tornar-se um guia. Esse homem realizou-se. Não há mais nada a ser alcançado".

A história é bonita, muito rara; penetre nela. Mas você só poderá penetrá-la se começar a agir como o cozinheiro. Mas há uma armadilha, você pode premeditar isso. Se eu colocar uma jarra na sua frente e você chutá-la, você perderá, porque já sabe a resposta. Você pensará: "Muito bem, esta é a oportunidade. Chute a jarra e vá embora". Isso não vai funcionar. Você não pode enganar porque, sempre que a mente está presente, o seu ser total tem uma vibração diferente. Você não pode enganar um mestre.

E lembre-se, esse incidente foi repetido muitas vezes. Os mestres zen são realmente únicos. Eles costumam repetir o mesmo problema mais e mais vezes, e esses que leram as escrituras se comportam da velha forma. Eles pensam que esta é a resposta: chute a jarra, vá embora e torne-se o chefe.

Mas você não pode enganar um mestre zen, porque ele não se preocupa com o que você está fazendo, ele se preocupa com o que você é naquele momento. Essa é uma coisa totalmente diferente. Você tem um perfume, um perfume diferente, quando age a partir do vazio. E quando eu digo um perfume diferente, o que quero dizer é isto, literalmente, eu não estou usando uma metáfora. Quando você age a partir do vazio, há um frescor ao seu redor, como se de repente surgisse um alvorecer no meio do dia. Um frescor ao seu redor... vibrações que tocam... uma vida tão intensa que permeia tudo o que está ao seu redor, seus olhos, seu próprio ser, o modo como você senta, o modo como você fica de pé, a maneira como chuta a jarra. Pense: se você chutar a jarra, haverá ego; o ego estará chutando a jarra e você estará sendo agressivo. Quando aquele cozinheiro chutou a jarra, não foi algo agressivo, simplesmente era uma declaração de fato; não havia nenhuma violência.

Contam que um homem, um mendigo pobre -- e eu digo mendigo pobre porque há também mendigos ricos --, veio pedir comida. a dona da casa sentiu muita compaixão por ele e disse: "Eu lhe darei comida, e se você quiser algum trabalho, tem alguma madeira pra cortar. Você pode fazer isso e eu pagarei pelo serviço".

Então o homem trabalhou no bosque, cortou a madeira, e antes da noite, quando ele estava a ponto de ir embora, a dona da casa disse: "Tem um buraco no seu casaco. Dê-o para mim e dentro de minutos eu consertarei isso". O homem disse: "Não, porque um buraco no casaco faz toda a diferença, e quando é um casaco consertado, já é diferente. Quando você tem um casaco consertado, isso é pobreza premeditada; Mas quando você tem um buraco no casaco, pode ter acontecido agora mesmo, por algum acidente. E se você consertou, então fica antigo, não aconteceu acidentalmente, não foi agora; aconteceu muito tempo atrás e só agora é que foi consertado. Torna-se uma pobreza premeditada. Deixe minha pobreza ser espontânea".

Mas toda a sua mente é uma colcha de retalhos, uma pobreza premeditada. Você tem todas as respostas e não só uma resposta. Você já decidiu o que vai fazer, e com essa decisão você assassinou a si mesmo, matou-se; tornou-se suicida. A mente é um suicídio.

Comece a agir espontaneamente. Será difícil no início, você sentirá muito desconforto. Com uma resposta premeditada há menos desconforto, porque você tem mais certeza. Por que nós não somos espontâneos? É por medo. O medo de que a resposta possa estar errada, assim é melhor decidir antes. Aí você tem certeza. Mas a certez sempre pertence à morte. Tudo o que é morto é certo, a vida é sempre incerta. Tudo o que é morto é sólido, rígido; sua natureza não pode ser mudada. Tudo o que é vivo está mudando, movendo-se; é um fluxo, uma coisa líquida, flexível; pode voltar-se para qualquer direção. Quanto mais você adquire certezas, mais você perderá vida. E esses que sabem, sabem que a vida é Deus. se você perder vida, você perde Deus.

Aja espontaneamente. Se há algum desconforto no início, permita-se estar lá; não se esconda e não reprima, e não imite. Seja como uma criança, mas não infantil. Se você for como uma criança, você se tornará um santo; se você for infantil, pode tornar-se uma grande pessoa instruída.

Um dia, ao voltar para casa, um homem viu os seus filhos e os do vizinho sentados nos degraus da escada, então ele perguntou: "O que vocês estão fazendo?". Eles responderam: "Estamos brincando de igreja". O homem ficou confuso, porque as crianças estavam só sentadas, sem fazer nada. Ele indagou: "Que tipo de igreja?". Eles disseram: "Nós cantamos, fizemos sermão, rezamos. Tudo terminou, e agora estamos fumando nos degraus".

Você pode imitar, o conhecimento é imitação. Um buda diz algo: vem da sabedoria dele, não do conhecimento, não da memória; vem da experiência dele. Você pode imitar isso, pode brincar de igreja, pode preencher sua mente com isso, pode repetir isso. Isso é infantil. Seja pueril, mas não infantil. Ser como uma criança é estar na espontaneidade. Uma criança está fresca, sem respostas, nenhuma experiência acumulada. Na verdade, ela não tem memória, ela age. Ela não é incentivada, não pensa nos resultados, não pensa no futuro; ela tem uma inocência.

Aquele cozinheiro era realmente inocente. E a inocência é meditação. Comece a ser meditativo em seus atos, nas pequenas coisas. Enquanto come, seja espontâneo; enquanto fala, seja espontâneo; enquanto caminha, seja espontâneo. Permita que a vida reaja, não que responda. Se alguém disser alguma coisa, apenas observe se você está simplesmente repetindo algo costumeiro, só um hábito, ou se a resposta é uma reação; se a mente está repetindo simplesmente um hábito; se a resposta está vindo da memória ou de você.

É por isso que você aborrece tanto as pessoas. Todo mundo aborrece todo mundo porque tudo está morto, envelhecido, emprestado, lembra a morte; não está fresco. Olhe para as crianças que brincam e sinta um frescor. Por um momento você pode esquecer até mesmo que ficou velho. Escute os pássaros, olhe para as árvores ou para as flores, e por um momento você esquece, porque não há nenhuma mente. As flores estão florecendo: assim como o cozinheiro chutou, elas estão chutando. Os pássaros cantando, eles estão chutando. A própria vida está chutando, mas não há nenhuma teoria.

No início será um incômodo. Mas seja paciente, passe por esse desconforto Logo a energia vai irromper em você. É perigoso, é por isso que as pessoa o evitam. Ser espontâneo é perigoso, porquequandoa raiva vier, ela vem realmente. A mente diz: "Pense, não fique bravo, pode custar-lhe caro". Assim você pensa sempre e descarrega a sua raiva nos que são mais fracos que você, não naqueles que são mais fortes. O amor pode acontecer, mas o amor não é permitido. Você só pode ter uma atitude amorosa para com a sua esposa.

A vida não sabe quem é a sua esposa e quem não é. A vida é absolutamente amoral, não conhece nenhuma moralidade. Você pode apaixonar-se pela esposa de outro, porque a vida não conhece nenhuma relação, nenhuma instituição fixa. Todas as instituições foram feitas pelo homem; esse é o perigo. A mente diz: "Pense antes, ela não é a sua esposa, assim não a olhe dessa forma amorosa. Isso é imoral. Esta é a sua esposa, então olhe-a de um modo amoroso, sorria". Se você sente isso ou não, não tem importância, esse é o dever. É dessa forma que matamos todo mundo. Todo mundo vive em uma instituição, não na vida.

Por causa desses perigos é que a mente pensa antes o que deve ser dito. Ao voltar para casa, você está pensando no que sua esposa dirá, e como você vai responder. Sua esposa está esperando, e ela sabe que qualquer coisa que você diga será uma mentira. Ela já ouviu suas desculpas antes, e você repetirá as mesmas velhas desculpas. Você está atrasado...

Toda a vida tornou-se uma instituição, um hospício onde os deveres precisam ser cumpridos, não o amor; onde você tem que se comportar, não ser espontâneo; em que um padrão tem que ser seguido, não o transbordamento de vida e energia. É por isso que a mente pensa e decide tudo, porque o perigo está ali.

Eu chamo um homem de sannyasin quando ele foge dessas instituições e vive espontaneamente. Se um sannyasin é o ato mais corajoso possível. Ser um sannyasin significa viver sem a mente, e no momento em que você vive sem a mente, você vive sem a sociedade. A mente criou a sociedade, e a sociedade criou a mente; elas são interdependentes. Ser um sannyasin significa renunciar a tudo aquilo que é falso. Não renunciar ao mundo, mas renunciar a tudo aquilo que é falso, renunciar a tudo aquilo que não é autêntico, renunciar a todas as respostas, e reagir espontaneamente; não pensar nos resultados, mas ser real.

É difícil... porque muito foi investido na falsidade, nas máscaras, nas faces, nos jogos que você continua jogando. Ser um sannyasin significa que agora você tentará ser autêntico; quaisquer que sejam as consequências, você as aceitará e viverá no presente. Você sacrificará o futuro pelo presente; você nunca sacrificará o presente pelo futuro. Esse instante será a totalidade de seu ser; você nunca se moverá antecipadamente.

É isso que é ser sannyas. Chute a jarra e vá embora, e não espere pelos resultados. Os resultados vão cuidar de si próprios, eles o seguirão.

Esta história não diz isto, mas eu sei, o mestre deve ter corrido atrás daquele cozinheiro: "Espere, você foi escolhido. Você vai para o mosteiro novo e vai orientar as pessoas na vida e na meditação".

Basta por hoje.




Osho - Raízes e Asas - Discurso nº 5

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