"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, outubro 26, 2008

Deus e eu

Segue um texto com uma importante questão levantada pela Srta. Hana, esposa do meu amigo Merton, registrada lá no livro de comentários. Como a questão é importante para muita gente (assim imagino, rsss), resolvi transcrever aqui a pergunta e a resposta. Espero que isso possa ajudar nas dúvidas de todos... Muito obrigado.




Questão: "Oie, Gugu! Td bem com você? Então, eu tb sou curiosa e queria entender. Vc respondeu assim para a Cris :

"Apenas comungando, em contato com Deus. Vou até Ele (Deus) apenas para fazer isso. Apenas para estar com Ele".

Aí é que está a minha dúvida, e do Henrique também. Sem querer recomeçar o assunto que já foi encerrado e muito bem, encerrado, diga-se de passagem. É que eu adorei esse papo de vocês, mas aí fica sempre essa mesma dúvida: Se Deus sou eu e eu sou Deus e não existe outro Deus, pra que orar? Pra que meditar? você disse "vou até Ele", "para estar com Ele", mas se "Ele" é você mesmo, fica confuso, concorda? Eu sei que vc pode até responder que isso significa "ir até mim mesma" e tals... Mas eu não sou a criadora do Universo, entende? Eu não consigo nem entender as teorias do Einstein. Acho que a dificuldade toda nessas doutrinas que dizem que "nós somos deus" é que a maioria das pessoas alguma vez na vida,( eu sou uma), já sentiu essa Energia imensa que vem de fora, não vem de dentro de mim.

Uma vez minha mãe orou por mim quando eu era pequena e eu senti uma energia maravilhosa que desceu sobre mim, naquela hora. Eu contei isso no blog do Henrique faz tempo.

Tá entendendo? Não era "eu mesma", era uma Energia maior do que eu. Também acredito que posso estar em comnunhão com Deus, com a Energia Maior, mas não acho que eu sou Deus. "Modo de falar" tudo bem, mas literalmente não, e era isso que aquele post dizia, por isso que teve todo esse papo. Se vc achar que deve explicar isso, talvez tudo fique claro, pq vocês falaram e falaram, mas essa parte, que pra mim é a principal, não ficou clara.

Só pra entender: eu concordo que somos filhos de Deus, mas não que somos Deus. Beijos.



Resposta: Oi Hana!

Esse é o primeiro comentário seu aqui... bem-vinda.

Sua pergunta não é fácil de ser respondida. Porque as palavras não nos permite trabalhar com outra coisa senão a dualidade. Se você fosse estudar este ensinamento através de algum autor - qualquer um deles -, você verá que tem vezes que ele vai dizer "Deus é tudo, é infinito", "O meu Eu é Deus". E outras vezes você o verá alegando que nós temos que buscar elevação espiritual a fim de que tenhamos um encontro com Ele, para que possamos tocá-Lo. Por que essa contradição? Por causa das palavras. Elas nos obriga a trabalhar com a dualidade. Por isso fica contraditório, confuso. Os paradoxos só existem no mundo da dualidade. No plano da Unidade tudo é coerente. O que vou lhe dizer também é minha opinião, ok? Então, vamos lá...

O ego não é Deus. O ego não é o filho de Deus. Se adotarmos o referencial do ego, do personagem, então diremos que a Energia provém de fora e que essa Energia é algo maior do que ele (o ego) - e isso está correto. Mas se o referencial for Deus, então esse referencial mais elevado absorve toda a percepção do referencial do ego. Olhando a partir do plano da Consciencia, toda percepção de separatividade vista pela mente é absorvida, ou seja, desaparece. Isso tem de ocorrer, porque Deus é infinito. Se Ele é infinito, Ele está exatamente lá onde (do ponto de vista dual) parece haver algo que não seja Ele. Para que Deus seja infinito, Ele tem de ocupar todo o espaço existencial - não pode haver nenhum milímetrozinho sobrando, e indicando um local onde a matéria (o mundo) esteja e Ele não. Se isso ocorrer, então Deus não é infinito, nem onipresente. Por isso, quando a percepção de Deus se manifesta, Ele se torna tudo e todos. A percepção absorve inclusive a dimensão material e a torna uma dimensão espiritual para você. Não pode haver matéria, se Deus é Espírito e for Infinito. Quando Ele se revelar, tudo aquilo que não é Ele se desfaz. Mas isso não é uma percepção mental, e sim uma percepção consciencial/espiritual. Apenas tente isso: Olhe a sua volta e perceba as coisas que você tem para si como não sendo Deus. Pode ser você mesma - olhe para si mesma. Então pense: "Como Deus pode ser infinito, se Ele não está exatamente aqui onde estou? Não aqui do meu lado, perto de mim, mas ocupando exatamente o mesmo lugar que eu ocupo na existência?" Tente entender isto. Porque se você pensar que Deus é onipresente, que está em todos os lugares, mas apenas ao redor das pessoas, então Deus não pode ser infinito. Se eu ocupo um lugar na existência que Deus não ocupa, Ele não é onipresente. Ele precisa ocupar todo o lugar em volta, inclusive o lugar que estou ocupando - somente assim Deus é infinito e onipresente. Consegue intuir isso? Se conseguir, contemple essa percepção/intuição daqui pra frente, a cada dia ela irá ficando mais forte, as coisas aos poucos se tornarão mais claras. Isso não é possível de ser feito somente através do raciocínio, você precisa seguir uma espécie de "sentimento" dentro de você que diz que é assim.

Vou tentar responder sua pergunta dentro dos textos da Bíblia, segundo o livro de I Coríntios, que estive lendo há alguns dias atrás. O Espírito é tudo, está em tudo e todos. No cap. 2, vers.10, é dito que "Deus no-las revelou (as coisas de Deus) pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus". E no capítulo 2, versículo 15, está escrito que "o que é espiritual discerne bem tudo, mas ele de ninguém é discernido". O Espírito é onipresente, ele é algo maior, que a tudo contém. E o Espírito é percebido com a consciência, ao passo que o homem (o ego) é percebido com a mente. A mente (o ego) não consegue jamais discernir o que é espiritual, porque ele está inserido na dualidade, e a Consciência é Unidade. Por isso está escrito (cap.2, vers.11): "porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus". Deus, o Espírito, a Alma, não está encerrado no homem e nunca está na matéria. Lá de onde Deus está, ele observa tudo, O Espírito penetra tudo, Ele tem acesso à matéria. Mas o contrário não ocorre. Por isso, quando raciocinamos partindo do efeito(matéria) para a causa(Espírito), raciocinamos imperfeitamente. Continuando, no versículo 12: "Mas NÓS (ele não está falando do ego, está falando de quem realmente somos) não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus." Continuando no versículo 14: “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus (porque o ego nunca consegue ter percepção da consciência espiritual, mas VOCÊ consegue), porque lhe parecem loucura, e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente.”

Então, se nesse momento, eu sou um ego, o que posso fazer para ter essa percepção espiritual que Paulo fala? Não posso fazer nada. Eu preciso desistir de mim mesmo, pois pra mim (enquanto ego) é impossível discernir o que é espiritual. Então eu me aquieto e sereno os meus pensamentos mundanos... e convido o Espírito a falar. A minha visão não consegue ver o Reino, mas a visão do Espírito sim. Enquanto eu não abrir mão da minha visão do mundo, o Espírito não se revela – embora Ele esteja sempre vendo o Seu reino como ele é: perfeito. Deus só fala quando estamos calados. Se estivermos falando, Ele nos ouve. Por isso diz-se que na caminhada espiritual o homem deve aprender a se despir de todo conceito que ele tem de si mesmo, dos outros e do mundo. Todo conceito que ele tiver será julgamento, bom ou mau, mas será julgamento. A nossa visão é julgamento, mesmo que não percebamos isso. O ego por natureza é um julgador, por isso ele deve calar-se, para que o julgamento divino, o julgamento justo se faça. A visão do Espírito traz o julgamento correto. Dessa forma, eu por mim mesmo, nunca conseguirei entender ou ver o Reino ou as coisas de Deus. Mas se eu convidar o Espírito a descer sobre mim, ele me mostrará – porque somente ele vê, porque a visão do Espírito está ocupando exatamente o mesmo espaço que minha visão carnal ocupa. Se Deus não fosse onipresente, seria impossível a meus olhos ter a visão do Reino. Mas porque os olhos de Deus são os meus olhos, eu posso vê-lo. E Deus não está somente na minha visão, Ele está ocupando o exato local que todo o meu ser ocupa: o lugar que meu corpo ocupa, que minha alma ocupa, que minha mente ocupa, que meu espírito ocupa. Por isso, o meu corpo é o corpo de Deus (“não sabeis que vós sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”), a minha alma é Alma de Deus, o meu espírito é Espírito de Deus, e a minha mente é Mente de Deus (“Mas nós temos a Mente de Cristo” – I Cor. 2, 16). O que é a “Mente de Cristo”? Que Mente era essa que Jesus usava? Se fosse uma mente comum, então porque Paulo faz questão de chamá-la de “Mente de Cristo”? Porque era com essa mente que Jesus realizava as obras. Era com essa mente que Jesus discernia o que era “deste mundo” e o que era do Reino. Era com a “Mente de Cristo” que Jesus realizava suas obras, e não com sua mente humana – porque ele também era humano. Portanto, a Mente de Cristo não é a mente do homem. E a Bíblia afirma que nós a temos. A Mente de Cristo discerne o que é espiritual, e a mente humana discerne o que é mental (dualidade). A Mente de Cristo nos mostra a existência como sendo a VIDEIRA UNA, ao passo que a mente humana separa a videira em várias partes (caule, tronco, folhas, frutos) e é assim que ela deixa de ser chamada/percebida como uma videira. Tudo é UM! Eu e você somos UM! Eu e o Pai somos UM. Eu não estou separado de Deus, ninguém está. Mas só conseguimos saber isso quando a Mente de Cristo nos mostra. Ela está em nós exatamente agora, jamais fique tentada a pensar nela como estando separada de você - nem mesmo uma polegada de distância -, não tente nunca atingí-la, esteja aberta à Ela. A Mente de Cristo está exatamente onde sua mente humana está, porque é Onipresente. Olhando do referencial Crístico, tudo que é visto na visão/percepção da mente humana é absorvido, some! Tem que sumir! Deus é Onipresente e está lá, ocupando exatamente o mesmo lugar existencial das coisas “deste mundo”. Na Mente de Cristo, a mente humana deixa de existir, não sobra lugar algum para ela ocupar, porque Deus é onipresente; se houver mente humana aí, então Deus não é onipresente e, conseqüentemente, não é Deus. Por isso se diz que o homem só possui uma única mente, que é a Mente Divina e, para entender isso, você tem que saber bem analisar os referenciais. Cristo é a única mente existente! Mas do ponto de vista da mente, há uma “mente de Cristo” e uma “mente humana” – daí porque toda dificuldade de falar da Unidade. Onde parece haver pecado, há Deus. Onde parece haver pessoas doente, em verdade, aquilo é Deus! É assim que Jesus e seus apóstolos curavam as pessoas. E também os profetas do antigo testamento. Como eles faziam isso? Apenas olhando para elas com a Mente de Cristo: “ali não há um homem doente, Deus está ali.”. Eles não viam pessoas doentes, porque tiveram a revelação da Mente Cristo.

Bom, acho que é isso. Sua pergunta é difícil de ser explicada. Tem um livro que, se você lesse, você teria uma explicação muito melhor do que a que eu te dei. Chama-se “Conversando com Deus” e o nome do autor é Neale Donald Walsch. Nele, Deus conversa com Neale e ensina como ele, Neale, é Deus. Nesse livro, Neale fica questionando isso para o próprio Deus: “mas se eu estou falando contigo agora, como posso ser Você? Como Você pode ser eu?”. É uma longa conversa...

Então é isso! Espero ter conseguido, não tê-la persuadido a acreditar, mas ter me expressado de forma clara o bastante para fazê-la entender a idéia do que tudo isso quer dizer.

Outro beijo pra você.

Muito obrigado!

Um comentário:

Anônimo disse...

Há, obviamente, muito para saber sobre isso. Eu acho que você fez alguns bons pontos de recursos também. Continue trabalhando trabalho, ótimo!