"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, abril 10, 2018

O Poder que o tornará Nada

Resultado de imagem para osho photos
- OSHO -

"Deseje ardentemente o poder.
... E o poder pelo qual o discípulo ansiará é aquele que, aos olhos dos homens, o fará parecer nada."

Estaremos entrando cada vez mais em contradições. A linguagem da religião é, obrigatoriamente, contraditória. Aparentemente, isso parece irracional. De certo modo, a religião é irracional, pois vai além da razão, transcende a razão. Este sutra diz: "Deseje ardentemente o poder - mas aquele poder que o torna nada". Você se torna inexistente.

Desejamos o poder a fim de nos tornarmos alguma coisa. O poder que a riqueza pode oferecer, o poder que a política pode fornecer, o poder que o prestígio pode fornecer. Desejamos o poder para sermos alguma coisa, e esse sutra diz: Deseje ardentemente o poder – mas aquele poder que o tornará ninguém, nada.

Há dois tipos de poder. Primeiro, aquele poder que você pode acumular a partir dos outros – aquele poder que lhe pode ser dado pelos outros ou que você pode tomar dos outros. Ele depende dos outros. O poder que depende dos outros fará com que você se torne alguém aos olhos dos outros. Você permanecerá o mesmo de antes mas, aos olhos dos outros, tornar-se-á alguém. Esse “ser alguém” é uma pretensão do ego. E o ego é a barreira.

Deseje esse poder – o do segundo tipo – que lhe faz sentir-se ninguém. É difícil sentir que “eu sou ninguém”. Todo mundo pensa que é alguém, quer os outros concordem ou não. Todo mundo pensa que é alguém! Isso é ser comum; toda mente comum pensa que é alguém. No momento em que você compreender que é ninguém, tornar-se-á extraordinário, raro, uma flor única, incomparável. O sentimento de ser ninguém cria um espaço dentro de você. O ego se dissolve, seu falso centro deixa de existir. Você se torna espaçoso. Agora, o eterno pode entrar em você. Esse espaço, esse vazio, pode permitir que a existência floresça em você.

Você está repleto desse sentimento de ser alguém. Você é isto, você é aquilo. A mente é tão astuta que você pode até mesmo tornar o ser ninguém em algo importante. Vou contar-lhes uma historieta.

Um imperador, um imperador maometano, estava rezando numa mesquita, num dia santificado. Ele estava orando a Deus e dizia: “Eu sou ninguém. Sou nada. Tenha piedade de mim”.

Então, subitamente, ele ouviu um mendigo que também estava rezando próximo a ele. O mendigo também dizia: “Eu sou ninguém. Tenha piedade de mim”.

O imperador sentiu-se ofendido! Olhou para o mendigo e disse: “Ouça, quem é você para competir comigo? Quando eu digo, ‘Eu sou ninguém’, quem mais se atreve a dizer ‘Eu sou ninguém’? Quem é você para tentar competir comigo?”.

Até mesmo no estado de “ser ninguém” você pode ser um competidor. Então, o essencial, o ponto principal, é perdido. O imperador não podia tolerar que um outro, diante dele, reivindicasse para si o ser ninguém. Quando ele dizia para Deus que era ninguém, ele não queria dizer que era ninguém. Através do “ser ninguém” ele estava criando o “ser alguém”. Você também pode criar o ego a partir do nada.

Lembre-se de que o ego é poder em relação ao mundo, mas é impotência no que se refere ao divino. Tudo o que parece ser poder no mundo é impotência na dimensão divina. Nessa dimensão, a ausência de poder é poder. Jesus sempre dizia a seus discípulos: “Seja pobre de espírito.” Não apenas pobre, pois você pode ser pobre sem ser pobre de riqueza. Se você tiver um sentimento egoístico em relação à pobreza, então sua pobreza não é pobreza. Ela não é pobreza de espírito.

Por isso, Jesus sempre repetia: “Seja pobre, pobre de espírito”. Do contrário, você pode ser um mendigo na rua, pode ter abandonado tudo, mas então, você se apega a esse fato de ter abandonado tudo; apega-se à sua renúncia. Transforma sua pobreza em riqueza; orgulha-se dela. Olhe para os sannyasins, os monges, os bhikkhus. Olhe em seus olhos. Eles possuem um profundo orgulho pelo fato de terem abandonado o mundo, de terem renunciado. Eles renunciaram ao mundo, mas agora sua renúncia tornou-se um crédito bancário. Orgulham-se disso; sentem-se superiores. Quando Jesus diz: “Seja pobre de espírito” – ele quer dizer: não seja superior a ninguém.

Mas, lembre-se: ele não quer dizer para você ser inferior. Esse é o problema. Ele não quer dizer: seja inferior, porque se você for inferior – se sentir que é inferior – isso será, outra vez, uma superioridade de cabeça pra baixo, nada mais. Superioridade de ponta-cabeça torna-se inferioridade. Se você se sente inferior, a ânsia de ser superior está presente.

Quando Jesus diz “seja pobre de espírito”, ele não quer apenas dizer "não seja superior". Ele quer dizer isso, mas também quer dizer: não seja inferior; seja apenas você mesmo. Não se compare aos outros; fique tranqüilo consigo mesmo.

Então, você será ninguém, porque para ser alguém é necessário comparação. Como você pode ser alguém se não há comparação: Você é mais bonito, nunca é simplesmente bonito. Você jamais pode ser simplesmente bonito; é sempre bonito em comparação a algum outro. Você é rico em comparação a algum outro, é mais inteligente em comparação a algum outro. A superioridade e a inferioridade são sempre comparações. Você é alguém quando comparado a outros. Se não houver comparação, quem você será? Você não pode ser apenas bonito, pode? Você não pode ser apenas inteligente, pode?

Imagine o seguinte: Você está sozinho na Terra; toda a humanidade desapareceu. O que você será? Inteligente ou tolo? Bonito ou feio? Um homem notável ou apenas um homem comum? O que você será? Sozinho na Terra – toda a humanidade desapareceu – você será apenas você mesmo. Não será capaz de dizer: “Eu sou isto ou aquilo.” Você não será alguém. Você será ninguém.

O verdadeiro sannyas, a verdadeira renúncia significa que você está totalmente sozinho, como se todo o universo, toda a humanidade tivesse desaparecido. Não há possibilidade de comparação. Nesse caso, quem é você? Ninguém. Esse estado de ser ninguém é poder – poder no mundo divino.

Jesus diz: “Aqueles que são os primeiros neste mundo, serão os últimos no reino de Deus, e aqueles que aqui são os últimos, serão os primeiros no reino de Deus.” Aquilo que neste mundo é poder, na jornada divina é ausência de poder, e aquilo que neste mundo é a ausência de poder, é poder na jornada divina.

Este sutra diz: Deseje ardentemente o poder – mas lembre-se do significado de “poder”. Significa uma ausência de poder. É um sentimento de ser ninguém, de nada, de vazio. E o poder pelo qual o discípulo ansiará é aquele que, aos olhos dos homens, o fará parecer nada.
 
"Deseje fervorosamente a paz.

...A paz que você desejará é aquela paz sagrada que nada pode perturbar e na qual a alma floresce como o faz a flor sagrada nas lagoas calmas."
 
Deseje fervorosamente a paz. Ninguém deseja a paz. Você vive falando de paz e se iludindo dizendo que a deseja, mas ninguém a deseja – porque quando a paz é desejada, ela acontece, e ela não aconteceu para você.

Ninguém deseja a paz. Mesmo que você diga que deseja a paz, você não a deseja, porque uma das leis supremas afirma: se você deseja a paz, ela acontece. Então, onde está o erro?

Muitas pessoas me procuram. Um estudante procurou-me – ele estava indo prestar seu exame final de mestrado. Perguntou-me: “Como posso manter-me em paz? Como posso manter-me calmo? Ajude-me. Desejo a paz. Ando tão inquieto, tão tenso.”

Eu lhe perguntei: “Por que você deseja a paz?”

Ele disse: “Desejo conseguir a melhor nota. O exame será em breve. Sempre obtive as melhores notas, mas este será meu último exame e eu desejo obter a melhor nota. Mas se minha mente está tão tensa, como vou consegui-la? Assim, ajude-me a ficar em paz.”

Veja a contradição! E isso está acontecendo com todo o mundo. Eu disse ao jovem: “Se não houvesse nenhum exame, se você não sentisse nenhum desejo de tirar a melhor nota, se não tivesse nenhuma ambição de ser o melhor da classe, haveria alguma inquietação em seu interior? Sua paz seria perturbada?”.

Ele disse: “Não. Não haveria motivo. Não haveria nenhum problema. Eu estaria em paz. Mas agora, o exame está próximo e desejo obter a melhor nota. Assim, ajude-me a ficar em paz.”

A ambição estava destruindo a sua paz. Ele permanecia preso à sua ambição e ao mesmo tempo desejava a paz. A paz não pode estar a serviço da ambição; é impossível, contraditório. A ambição não pode ser pacífica. A ganância de ser bem-sucedido não pode ser pacífica.

Se você desejar a paz, deseje-a por si mesma. Não faça dela um meio para obter algo mais. Ela não pode tornar-se um meio. Quando este sutra diz: Deseje fervorosamente a paz ele se refere à paz como um fim e não como um meio. Ninguém deseja os meios. Os fins é que são desejados e, por causa dos fins, os meios são desejados. Mas a paz não pode jamais ser um meio. Na existência, tudo aquilo que é belo, verdadeiro, bom, profundo, não pode ser transformado num meio. É sempre o fim. Mas até mesmo Deus é desejado como um meio. Ninguém deseja Deus por si mesmo; desejamos Deus por algum outro propósito. Então, o desejo é falso.

É isso o que quero dizer quando afirmo que ninguém deseja verdadeiramente a paz, a não ser que a deseje por si mesma. Você pode alcançá-la facilmente se desejá-la como um fim. Deseje-a por si mesma e ela acontece, pois no verdadeiro desejo pela paz a ambição se extingue; no verdadeiro desejo pela paz, a ansiedade desaparece; no verdadeiro desejo pela paz, a angústia desaparece. Se você continuar a ser ambicioso – desejando o sucesso, desejando ser isto ou aquilo, ser alguém –então a paz não lhe acontecerá. Você continuará inquieto, dominado pela ansiedade, tenso. Continuará angustiado e nada do que fizer poderá lhe ser de alguma ajuda. Assim, esteja ciente disso. Se você quer a paz, deseje-a diretamente, como um fim. Nesse caso, o próprio desejo pela paz transformará você.

Na verdade, a paz é natural. Não se trata de algo que precise ser desejado. Você, você mesmo, a perturba. Ela já está presente. A paz é natural em você; ela é o seu próprio ser. Você a perturba devido à ambição, à ganância, à raiva, à violência. Ela já está presente, mas você a perturba.

Não a perturbe! Se você a deseja realmente, não a perturbe. E então, você começará a senti-la.

Para se alcançar a paz, é preciso remover tudo aquilo que a está obstruindo. Descubra por que você não está em paz. Por quê? Então, remova a causa. Se a ambição estiver perturbando a paz, livre-se da ambição e a paz acontecerá. A paz já está presente; você não precisa aspirá-la. Torne-se apenas consciente de como você a está perturbando, e não a perturbe; isso é tudo. E ela acontecerá. É por isso que eu digo que quando a paz é realmente desejada, ela acontece imediatamente. Não se precisa esperar nem mesmo um único instante.
 
"Deseje, acima de tudo, posses."
 
Este sutra parece muito perigoso: "Deseje, acima de tudo, posses." Posses? A própria palavra produzirá uma perturbação em sua mente, pois todos os grandes mestres ensinam: não deseje posses. Buda diz: “Seja não-possessivo.” Mahavir diz: “Aparigraha: nenhuma posse.” Jesus diz: “Abandone todas as riquezas, todas as posses”.

Jesus diz: “Até mesmo um camelo pode passar através do orifício de uma agulha, mas um homem rico não pode passar através da porta do reino de meu Deus.” E este sutra diz: Deseje, acima de tudo, posses. Mas o sutra é belo. Ele quer dizer a mesma coisa que Mahavir, Buda e Jesus estão dizendo, mas o diz de uma maneira muito contraditória.

Ele diz que todas aquelas coisas que você considera posses não são posses, porque você não pode possuí-las realmente. Você pode possuir as coisas? Pode possuir os outros? Pode possuir alguma coisa no mundo? Você pode apenas se iludir de que possui alguma coisa. Na verdade, você não pode possuir nada, pois a morte destruirá tudo.

Outra coisa: tudo o que você possui, seja o que for, torna-se o seu possuidor. O possuidor é possuído pelas suas posses. Você se torna um escravo; você não é o senhor. Assim, o que adianta dizer que você possui o mundo? Ninguém possui coisa alguma. Somente uma coisa pode ser possuída: o seu próprio eu. Nada mais pode ser possuído.

Você só pode tornar-se o senhor do seu próprio eu. Se tentar ser o senhor de qualquer outra coisa, será apenas um escravo. Você pode considerar esta escravidão como um “domínio”, pode rotulá-la de “domínio”, mas estará apenas se enganando. Mentiras são mentiras. O fato de se alterar o rótulo não muda nada.

Olhe para as suas posses. Você as possui? Se sua casa for destruída, você chorará, gritará, ficará furioso; mas se você morrer, sua casa não chorará, não ficará furiosa. Assim, quem era o verdadeiro proprietário? A casa possui você. Ela não está nem um pouco preocupada se você mora nela ou não. Na verdade, ela se sentirá muito melhor se você for embora. Será mais tranqüilo. Ela não depende de você. Você está justamente perturbando a sua paz. Se você morrer, a casa se sentirá ótima. Assim, quem é o possuidor?

Nesse sentido, este sutra é significativo: somente o eu pode ser possuído, nada mais. E se você não pode possuir o seu eu, que mais você pretende possuir?

Assim, seja um senhor – o senhor do seu próprio eu – e não faça nenhum esforço para possuir coisa alguma. Não quero dizer que você deva abandonar todas as coisas. Essa não é a questão. Use todas as coisas, mas não pense em termos de posse. Use a casa, mas não seja o proprietário. Use a riqueza, mas não seja o dono dela. Use o mundo todo, mas não pense que você o possui. Você é apenas um viajante de passagem. Quando cansado, você descansa sob uma árvore. Mas você não possui a árvore. E se você não a possuir, sentirá uma profunda gratidão pela árvore. Ao anoitecer, quando estiver de partida, você a agradecerá. Sentir-se-á agradecido porque, quando estava cansado e a estrada estava quente, a árvore deu-lhe abrigo; a árvore estava fresca. Mas não procure possuir a árvore, pois assim, você não se sentirá agradecido.

Quando você possui, não sente gratidão. Não possua a sua esposa, não possua o seu marido. Quando estiver cansado, sua esposa lhe dará amor. Sinta-se grato.

E se você não possuir a sua esposa, não será possuído por ela. O relacionamento só acontece quando não há posse. Se há posse, há sempre conflito. Maridos e esposas estão sempre brigando; você não encontrará inimigos mais profundamente envolvidos. Eles são inimigos íntimos; vivem juntos apenas para brigar um com o outro. Todo o relacionamento fica envenenado porque o marido tenta possuir a esposa e a esposa tenta possuir o marido, mas ninguém pode possuir ninguém; a posse é impossível. Você pode apenas possuir a si mesmo; somente isso é possível, tudo o mais é impossível. Mas quando se tenta possuir e fazer o impossível, tudo vai mal; o relacionamento fica envenenado. A vida torna-se uma miséria.
 
"Deseje, acima de tudo, posses."

Mas essas posses devem pertencer somente à alma pura e, portanto, serem igualmente possuídas por todas as almas puras, sendo, dessa maneira, propriedade especial do todo, apenas quando unido. Deseje essas posses que podem ser possuídas pela alma pura, e você acumulará riqueza para aquele espírito unido de vida que é o seu único eu verdadeiro.


Resultado de imagem para Osho world

sexta-feira, abril 06, 2018

Desejando o Inacessível

- OSHO - 


"Deseje apenas o que está dentro de você."

Parece absurdo, paradoxal, ilógico: Deseje apenas o que está dentro de você. Desejamos, basicamente, aquilo que não está em nós. Desejar significa querer algo que não está em nós. Se já estivesse em nós, qual seria então a necessidade de desejá-lo?

Nós nunca nos desejamos tal como somos. Sempre desejamos algo mais. Ninguém deseja a si mesmo; não há necessidade. Você já é isso; não está faltando nada. Você deseja aquilo que está faltando.

O sutra diz: Deseje apenas o que está dentro de você – por muitas razões. Em primeiro lugar, se você desejar algo que não está dentro de você, poderá obtê-lo, mas ele nunca será seu. Não pode ser. Na verdade, você nunca poderá ser o senhor dele; tornar-se-á apenas um escravo. O possuidor é sempre possuído por suas posses. Quanto maior a quantidade de coisas possuídas, maior a escravidão criada.

Você é possuído por suas posses e deseja ser o senhor. A frustração se inicia porque toda a sua esperança foi frustrada. Você chega a um ponto no qual as coisas que desejava estão presentes, tudo o que você desejou aconteceu, mas você se tornou o escravo. Agora, o reino parece ter se tornado uma prisão, e tudo o que você possui, ou pensa possuir, não é realmente possuído, pois lhe pode ser tomado a qualquer momento. Mesmo se ninguém o tomar, a morte certamente o tomará.

Na terminologia religiosa, aquilo que pode ser tomado pela morte não lhe pertence. A morte é o critério. Há apenas um critério para julgar se você realmente possui alguma coisa. Julgue levando em consideração a morte, e veja se você ainda possuirá aquela coisa após a morte. Se a morte a tomar de você, você nunca a possuiu. Era apenas uma ilusão.

Há algo que a morte não lhe pode tirar? Se não há nada, então a religião é inútil, sem sentido. Mas há algo que a morte não pode tomar, e esse algo está oculto dentro de você. Você já o possui. Se não a possuísse, ela poderia ser tomada.

Você é ela; ela é o seu próprio ser. É a sua própria base, sua existência. É isso que é chamado de Atman. Atman significa aquilo que você já é. Ninguém pode tomá-lo de você; nem mesmo a morte pode destruí-lo. O sutra diz: "Deseje apenas o que está dentro de você." Deseje o atman, deseje seu eu mais profundo, deseje o centro que você já possui, mas do qual se esqueceu completamente.

Por que o homem se esquece? Isso é uma necessidade. Para sobreviver, precisa-se prestar atenção ao mundo exterior. Para sobreviver, existir, permanecer vivo, você precisa continuar prestar atenção às coisas: comer, abrigar-se. O corpo necessita de atenção. Ele fica doente, está propenso a sofrer. O corpo está continuamente se esforçando para sobreviver, porque, para o corpo, há morte. O corpo está em constante luta com a morte; portanto, uma atenção permanente deve ser dada a ele.

O corpo sempre se encontra em estado de emergência, porque a morte pode ocorrer a qualquer momento. Você precisa estar ininterruptamente atento e consciente acerca dessa luta contra a morte; portanto, toda a sua atenção se move para o exterior. Não sobra nenhuma energia para se mover para dentro. Trata-se de uma necessidade de sobrevivência. Por esse motivo, continuamos a esquecer que existe dentro de nós um centro imortal, um centro eterno, um centro de bem-aventurança absoluta.

A dor atrai a atenção; o sofrimento atrai a atenção. Se você está com dor de cabeça, sua atenção se dirige para a cabeça; você se torna consciente de que possui uma cabeça. Se não há dor, você se esquece de sua cabeça. Torna-se sem cabeça – como se você não tivesse cabeça.

O corpo é sentido apenas quando está doente. Se seu corpo está absolutamente saudável, você não o sente. Você fica leve. Na verdade, você se torna incorpóreo. Esse é o único critério da autêntica saúde: o corpo não é absolutamente sentido. Sempre que o corpo é sentido, significa que há alguma doença, algum distúrbio. Sua atenção é reclamada.

Há tantos problemas oriundos do exterior que sua atenção está constantemente ocupada com ele. Por isso, você se esquece de que alguma coisa existe exatamente no centro do seu ser, alguma coisa imortal, divina, bem-aventurada. O sutra diz:

"Deseje apenas o que está dentro de você. (...) Pois dentro de você está a luz do mundo  a única luz que pode iluminar o Caminho. Se você é incapaz de percebê-la em seu interior, é inútil procurá-la em outra parte."

O sutra seguinte:

"Deseje apenas o que está além de você."

Deseje apenas o que está além de você. Deseje sempre o impossível, porque só através desse desejo você cresce. E o que é impossível? Escalar o Monte Everest não é impossível; tampouco ir à Lua. Ambos tornaram-se possíveis. Alguém já escalou o Everest. Mesmo se ninguém o tivesse escalado, isso não seria impossível. Difícil, mas não impossível. Está ao alcance da capacidade humana escalá-lo. Ir à Lua também está dentro de nossa capacidade e, em breve, o homem alcançará igualmente outros planetas. Isso não é impossível, apenas difícil. Algum dia tornar-se-á possível. Somente uma coisa é impossível, está além de você: seu eu mais profundo.

Por quê? Afirmo que a Lua não é tão difícil de se alcançar, embora esteja tão distante; e afirmo que seu eu mais profundo é mais impossível de se alcançar, embora esteja exatamente dentro de você. Por que então é tão difícil alcançá-lo? Porque está dentro de você – justamente por isso. Você sabe apenas alcançar o que está fora. Suas mãos podem alcançar o que está fora, seus olhos podem ver o que está fora. Seus sentidos abrem-se para o exterior; você não possui sentidos que possam ajuda-lo a olhar para dentro. Sua mente se move para fora; não pode se mover para dentro. É por isso que a mente precisa ser abandonada. Somente então você pode entrar em meditação.

A mente é basicamente um movimento para fora. Você pode observar isso muito facilmente. Sempre que você pensa, está pensando em algo que está fora de você. Seja qual for o seu pensamento, ele é sempre a respeito de algo que está fora. Você já pensou sobre alguma coisa que está dentro de você? Não há necessidade de pensar sobre algo interior, pois você pode experimentá-lo. Não há necessidade de pensar a seu respeito; o pensamento é um substituto. Você pode perceber o que está dentro de você. Está bem próximo. Basta mudar sua atitude, mudar sua direção. De fora, você se volta para dentro, e pode experimentá-lo. Qual a necessidade de pensar sobre ele?

Porém, estamos sempre pensando sobre o de dentro. Pensamos sobre o que é atman. Pensamos: “O que é o eu?” – Criamos filosofias e sistemas. Criamos teorias de que o eu significa “isto”, de que a definição é “esta” e de que ninguém tenta senti-lo. Ele está tão perto de você – qual a necessidade de teorias?

Teorias são necessárias para o que está distante, pois você não pode alcançá-lo neste exato momento. Precisa criar uma ponte. Precisa-se de teorias para se alcançar a Lua, mas elas não são necessárias para alcançar o seu centro interior, pois não há nenhuma distância. Não há nada para se transpor; você já está ali. É necessário apenas uma mudança de atitude, e você pode perceber esse centro. Não há necessidade de teorizar, de filosofar. Mas continuamos a criar filosofias. Criamos milhares e milhares de filosofias, e os filósofos continuam desperdiçando suas vidas a pensar sobre aquilo que já se encontra dentro deles. Eles poderiam saltar para dentro a qualquer momento.

Mas isso está além. Além dos sentidos, pois os sentidos não podem se abrir para aquilo que está dentro; eles se abrem na direção oposta. E também está além da mente, pois a mente não pode conduzi-lo até ali; ela sempre o conduz a outro lugar. A mente é um instrumento para o mundo; é um mecanismo que permite o movimento para fora, para longe de você. Ela serve para isso. Por essa razão, enfatiza-se tanto que em samadhi não há mente. Samadhi é um estado de não-mente; a mente cessa.

Nas técnicas de meditação que estamos fazendo, todo o esforço consiste em se deixar de ser uma mente, em abandonar a mente, em parar de pensar, em atingir um instante onde não exista nenhum pensamento, onde apenas a atenção, apenas a consciência existe. “Não pensar” significa que não há nenhuma nuvem no céu; apenas o céu está ali. “Não pensar” significa que não há nuvens na mente, apenas a consciência. Nessa consciência, você está dentro.

Quando você está na mente, está fora; quando você está na não-mente, está dentro. Nessa transferência, da mente para a não-mente, consiste toda a jornada. Se você puder acrescentar “não” à sua mente, você alcançou o conhecimento. Por isso é denominado além.

Deseje apenas o que está além de você – além de seus sentidos, além da sua mente, além de seu ego. “Você” não estará ali. Seu centro mais profundo não é você; você é apenas a periferia. A periferia não pode estar no centro. Quando você se move em direção ao centro, abandona a periferia. A periferia não pode existir no centro. Ela pertence ao centro, mas existe fora do centro, ao seu redor.

Tudo quanto você conhece a seu respeito é apenas a periferia: seu nome, sua identidade, sua imagem. Você é hindu ou maometano ou cristão; você é negro ou branco; você é isto ou aquilo. Seu país, raça, cultura – tudo isso pertence apenas à periferia; todos os seus condicionamentos estão apenas na periferia.

O mundo não pode penetrar em seu centro. Ele só pode cultivar a periferia, só pode atingir você em sua superfície. Apenas a sua superfície pode ser hindu, apenas a sua superfície pode ser cristã, apenas a sua superfície pode ser jaina. “Você” não é; você não pode ser. Somente sua superfície pertence à Índia, ou ao Paquistão, ou à América. Você não pode pertencer a nenhuma nação, a nenhuma raça. Você pertence à própria existência. No centro, todas as divisões são falsas; elas só são significantes na periferia.

Tudo quanto você conhece a respeito de si mesmo refere-se ao seu ego. “Ego” é apenas uma palavra utilitária. Toda a sua periferia significa “você”. Mas esse “você” desaparecerá quando você começar a ir para dentro; esse “você” se desvanecerá aos poucos; esse “você” desaparecerá; esse “você” se evaporará. Então, surgirá um momento em que você será, autenticamente, você mesmo; seu velho eu não estará mais presente. Por isso é que se diz: Deseje apenas o que está além de você... Está além de você, pois quando você o alcança, você se perde.

"Deseje apenas o que é inacessível." O que é inacessível? Olhe ao redor – todas as coisas são acessíveis. Pode ser que você não as tenha conseguido, mas elas são acessíveis. Se você fizer o esforço necessário, poderá obtê-las. Potencialmente, elas são acessíveis.

Alexandre construiu um grande império. Pode ser que você não tenha construído um, mas o que Alexandre pôde fazer, você também pode. Não é impossível; não é inacessível. Pode ser que você não tenha acumulado tanta riqueza quanto Rockefeller ou algum outro, mas o que Rockefeller pôde fazer, você também pode. Isso é humano; está ao alcance da sua capacidade. Você pode fracassar, pode não ser capaz de obter essa riqueza, mas ela é alcançável. Seu fracasso é o seu próprio fracasso; potencialmente você poderia ter sido um sucesso; portanto, um objeto não pode ser considerado inacessível.

Assim sendo, o que é inacessível? Aquilo que não pode ser atingido? Se esse é o significado, então qual a finalidade de se desejá-lo? Se algo não pode ser alcançado, então o desejo é fútil. Por que desejar o que é inacessível? O que isso significa?

O significado é muito profundo, muito esotérico. O significado é que seu eu mais profundo é inacessível porque ele já foi alcançado. Você não pode alcançá-lo porque você é ele. Não pode tornar isso uma conquista. Não se trata de algo a ser alcançado. Ele já está aí, você nunca esteve longe dele. Nunca o perdeu; ele é a sua própria natureza. Ele é você, o seu ser mais profundo. Você não pode alcançá-lo; pode apenas descobri-lo. Não pode chegar até ele; pode apenas reconhecê-lo.

Não é possível inventá-lo; ele já está aí. Não é para ser adquirido; já está aí. Você precisa apenas lhe dar a sua atenção. Precisa focar sua consciência nele e, subitamente, aquilo que nunca foi perdido é encontrado.

Quando Buda alcançou a iluminação, alguém lhe perguntou: “O que você alcançou?”

Buda disse: “Nada, porque qualquer coisa que eu tenha alcançado, sei agora que sempre esteve presente. Nunca foi perdida. Simplesmente, eu a descobri. Tomei conhecimento de um tesouro que sempre esteve dentro de mim.”

"... É inacessível porque reflui continuamente. Você penetrará a luz, mas nunca tocará a chama."

É também inacessível num outro sentido. Você nunca será capaz de dizer: “Eu o alcancei (o conhecimento)” – pois quem dirá que o alcançou? Aquele “eu” que pode reivindicar não existe mais. Aquele ego – a periferia – não existe mais. Para alcançar o conhecimento, para descobri-lo, ele precisa ser perdido. O ego precisa ser jogado fora, abandonado. Você só pode alcançar o conhecimento quando se tornou sem ego. Não pode alcançar o conhecimento com o ego, porque o próprio ego é a barreira.

Dessa forma, quem estará ali para reivindicar? Os Upanishads dizem que se alguém afirma que alcançou o conhecimento, não tenha dúvidas, ele não o alcançou, pois a própria afirmação é egoística. Se alguém diz: “Conheci Deus” – não tenha dúvidas: ele não conheceu Deus. Pois quando Deus é conhecido, quem está ali para afirmar? O conhecedor se perde no próprio fenômeno do conhecimento. O conhecimento só ocorre quando o conhecedor não está presente. Quando o conhecedor está ausente, o conhecimento ocorre – assim, quem lhe afirmará?

Havia um monge zen, Nan-in. Alguém lhe perguntou: “Você conhece a verdade?”

Ele riu, mas continuou em silêncio. O homem disse: “Não posso compreender esse riso misterioso. Tampouco posso compreender seu misterioso silêncio. Use palavras. Diga-me. E seja claro. Diga-me sim ou não. Você conhece a verdade, o divino?”

Nan-in disse: “Você está tornando as coisas difíceis para mim. Se eu disser sim, as escrituras dizem: ‘Aquele que diz, ‘Eu conheço', não conhece.' Portanto, se eu disser sim, significará não. E se eu disser não, isso não será verdadeiro. Assim, o que devo fazer? Não me obrigue a usar palavras. Tornarei a rir e a manter silêncio. Se você puder compreender, ótimo. Se não puder compreender, ótimo também. Mas não usarei palavras. Não me obrigue a isso, porque se eu disser sim, significará que não conheço, e se eu disser não, isso não será verdade.”

Você alcançará o conhecimento, mas em sua pureza. Nessa pureza, seu ego não estará presente. O ego é o elemento impuro, estranho, dentro de você – apenas a poeira acumulada ao seu redor. Ele não é você. Nu, você alcançará o conhecimento. Seu ego é exatamente como suas roupas. Ele não estará presente.

Deseje apenas o que é inacessível.


Resultado de imagem para Osho flickr

terça-feira, abril 03, 2018

O Desejo de Sensação

Imagem relacionada
- OSHO - 

Destrua o desejo de sensação.

...Aprenda a partir da sensação e observe-a, pois somente assim você poderá se iniciar na ciência do autoconhecimento e galgar o primeiro degrau da escada.

"Destrua o desejo de sensação."

Vivemos em busca de sensações, ansiamos por sensações. Estamos sempre à procura de sensações cada vez mais novas; toda a nossa vida é um esforço para obter novas sensações. Mas o que acontece? Quanto mais sensações você busca, menos sensível você se torna. A sensibilidade é perdida.

Parece paradoxal. Nas sensações, a sensibilidade é perdida. Então você necessita de mais sensações, e esse “mais” aniquila cada vez mais a sua sensibilidade. Então você necessita de mais ainda e, finalmente, chega um momento em que todos os seus sentidos ficam embotados e mortos. O homem nunca foi tão insensível e morto quanto nos dias atuais. Antigamente, o homem era mais vivo, porque não havia tantas possibilidades de usufruir tantas sensações. Mas agora a ciência, o progresso, a civilização, a educação criaram inúmeras oportunidades de se penetrar cada vez mais no mundo da sensação. E no final, você se torna uma pessoa morta; sua sensibilidade está perdida. Saboreie mais comidas – com mais temperos, mais picantes – e seu paladar se perderá. Se você andar pelo mundo sempre à procura de coisas cada vez mais bonitas, acabará cego; a sensibilidade de seus olhos se perderá.

Mude diariamente o objeto de seu amor – sua namorada ou namorado, sua esposa ou marido. Se muda-los a cada dia, sua sensibilidade para amar morrerá. Você estará se movendo num terreno perigoso. Nunca irá fundo; permanecerá apenas na superfície, na periferia. Quanto mais coisas você experimentar, menor se tornará a sua capacidade de experimentar. E então, finalmente, quando todas as coisas ao seu redor estiverem mortas, você desejará o divino, a bem-aventurança, a verdade. Mas um homem morto não pode experimentar o divino. Para experimentar o divino, você precisa de total sensibilidade; precisa estar vivo. Lembre-se: apenas o semelhante pode atrair o semelhante.

Se você quer o divino – o “divino” significa o mais vivo, o sempre-vivo, sempre-jovem, sempre-verde –, se você quer encontrar o divino, precisará estar mais vivo. Como fazer isso? Destrua todo desejo de sensação. Não busque a sensação; busque a sensibilidade, torne-se mais sensível.

Essas duas coisas são diferentes. Se você procura sensações, procurará coisas; acumulará coisas. Mas, se procura a sensibilidade, todo o trabalho deverá ser feito em seus sentidos, não nas coisas. Você não precisará acumular coisas. Você terá que aprofundar seus sentimentos, seu coração, seus olhos, seus ouvidos, seu nariz. Cada sentido deverá ser intensificado de tal modo que se torne capaz de sentir o sutil. Não podemos nem sentir o grosseiro e precisamos nos tornar capazes de sentir o sutil. O mundo parece grosseiro apenas porque não podemos sentir o sutil. O invisível oculta-se no visível. Olhe para essas árvores. Você olha para o grosseiro; o corpo da árvore. Você nunca olha, nunca sente a vida interior. O crescimento! A árvore em si mesma não está crescendo; a árvore é apenas um corpo. Uma outra coisa – o invisível – está crescendo nela. E por causa disso, a árvore cresce. O interior está crescendo e, por causa dele, o exterior está crescendo. Mas você olha apenas para a árvore, e assim, só o exterior é visto.

Olhe ao seu redor. Olhe dentro dos olhos do seu amigo. Você apenas olha para os olhos, não para aquele que vê através deles. Toque o corpo de seu amigo. Você apenas toca o grosseiro; nunca sente o sutil interno. Apenas o corpo, o externo é sentido, pois seus olhos (seus sentidos) ficaram tão embotados que não podem sentir o interno, o invisível.

Precisamos de mais sensibilidade. Busque menos sensação e cresça em sensibilidade. Quanto tocar; torne-se o toque. Quando olhar, torne-se os olhos. Quando ouvir, deixe que toda a sua consciência venha aos ouvidos. Ao ouvir uma música, ao escutar os pássaros, torne-se os ouvidos. Esqueça tudo o mais, como se você fosse apenas os ouvidos. Vá para os ouvidos com todo o seu ser. Então, seus ouvidos tornar-se-ão mais sensíveis.

Quando estiver olhando para alguma coisa – uma flor, um belo rosto ou as estrelas – torne-se os olhos. Esqueça tudo o mais, como se o restante de seu corpo tivesse cessado de existir e sua consciência tivesse se transformado apenas em olhos. Então, seus olhos serão capazes de olhar mais profundamente e você será capaz de olhar também para o invisível. O invisível também pode ser visto, mas você precisa de olhos mais penetrantes para vê-lo.

Destrua todo o desejo de sensação e cresça em sensibilidade. Preocupe-se menos com o mundo e mais com seus sentidos. Purifique-os. Quando você não busca sensações, seus sentidos se purificam. Ao desejar cada vez mais sensações, estará destruindo seus sentidos.

O homem que descobre o divino é aquele cujos sentidos estão totalmente vivos, em sua capacidade máxima. Então, você não apenas pode ver o divino, mas também pode prová-lo, pode cheirá-lo. O divino pode entrar em você através de qualquer um dos sentidos. Só quando o divino penetrar em você por todos os sentidos, acontecerá a realização suprema. Se você pode apenas ver o divino, trata-se apenas de uma realização parcial. Neste caso, você não está realmente iluminado. Se você não pode tocar o divino, se não pode prová-lo, você está apenas parcialmente iluminado.

O uso dessas palavras parece ilógico. Saborear Deus? Ele é um alimento? Sim, ele é tudo. Você pode saboreá-lo, mas para isso necessita de uma capacidade muito sutil. Seu alimento simples tornar-se-á divino. Através do alimento, o divino será sentido. Os rishis upanishádicos disseram que o alimento é brahma. “Anna é brahma.” Eles devem tê-lo saboreado, devem tê-lo comido.

Nós pensamos que Deus é um problema lógico; assim, continuamos a questionar quanto a isso, a favor ou contra. Continuamos a discutir se Deus existe ou não. Isso é irrelevante. Deus não é uma questão de argumento, de lógica, de raciocínio. Na verdade, Deus é uma questão de sensibilidade. Se você não o sente, torne-se mais sensível. Nenhum pensamento lógico será de qualquer ajuda. Torne-se mais sensível! Se você é sensível, ele está aí. Ele sempre esteve aí, mas você não é sensível. As coisas o tornam entorpecido, as sensações o tornam entorpecido. Destrua todo desejo de sensação.

"Destrua o desejo de crescimento."

Este sutra é muito revolucionário, muito perigoso.

Destrua o desejo de crescimento. Parece absurdo, pois se você destruir todo o desejo de crescimento, que necessidade haverá então de crescer para o divino? Como alguém poderá então alcançar a verdade, tornar-se iluminado? De que servirá a meditação e todo este rebuliço? Precisamos mergulhar profundamente neste sutra.

Destrua o desejo de crescimento. Há dois tipos de crescimento. Um, a respeito do qual você pode fazer algo; e outro, a respeito do qual você nada pode fazer. Para um, seu esforço é necessário; para o outro, a ausência de esforço é necessária.

O crescimento espiritual é do segundo tipo. Seu esforço não será de nenhuma ajuda; apenas criará barreiras. Você nada pode fazer quanto ao crescimento espiritual. A única coisa que você pode fazer é entregar-se, e isso é um não-fazer. Você pode apenas fazer uma coisa: permitir que o divino aja em seu interior. Pode simplesmente cooperar; isso é tudo. Pode simplesmente flutuar, não é necessário nadar – apenas um profundo deixar acontecer. É este o significado de Destrua o desejo de crescimento.

"... Cresça como cresce a flor, inconscientemente, mas ansiosamente desejosa de abrir sua alma ao ar. Assim você também deve compelir sua alma para se abrir ao eterno."

Mas é necessário que seja o eterno!

Mas deve ser o eterno quem induz sua força e beleza a se expandirem, não o desejo de crescimento. Pois, no primeiro caso, você se desenvolve na exuberância da pureza, e no outro, você se torna insensível pela paixão impetuosa pelo desenvolvimento pessoal.

Repetirei: Mas deve ser o eterno quem induz sua força e beleza a se expandirem, não o desejo de crescimento – porque todo desejo é um obstáculo, até mesmo o desejo de alcançar o divino; todo desejo é uma escravidão, mesmo o desejo de ser libertado. O desejo, como tal, é o problema; portanto você não pode desejar o divino. Isso é contraditório. Você só pode desejar o mundo, não pode desejar o divino; porque o desejo é o mundo, o desejo é sansara. Você não pode desejar moksha. Quando você está num estado de não-desejo, moksha­­­­ acontece a você; quando você está num estado de ausência de desejo, a liberação acontece a você, o divino acontece a você.

Permita que o divino gere tudo o que está oculto em você. Não busque o crescimento. Entregue-se, para que o crescimento aconteça. O crescimento ocorrerá, mas não através de seu esforço, e sim, de sua própria graça. Virá por intermédio dele mesmo.

Há razões para que seja assim.

O que for que você fizer, nunca será maior do que você. Não pode ser. Qualquer coisa que você fizer será sempre menor do que você. O agente é sempre superior ao ato. O contrário não é possível. O pintor é superior à sua pintura, o meditador é superior à sua meditação. Tudo o que você fizer será sempre inferior a você; portanto, como você poderá alcançar o divino? O divino não é inferior a você, assim, você não pode alcançá-lo. Se você pudesse alcançar Deus por seus próprios esforços, esse Deus seria inferior a você, não superior; esse Deus não passaria de um objeto utilizável – algo que você seguraria em suas mãos, algo que você teria conquistado. Assim sendo, lembre-se, Deus não pode ser alcançado através de seus esforços. Deus pode acontecer a você, mas não se trata de uma conquista.

Assim sendo, o que pode ser feito? O que você pode fazer por seu lado? Você precisa fazer apenas um esforço negativo. Esse esforço negativo significa: não criar barreiras, não criar obstáculos. Permanecer aberto, esperando, e pronto a se mover, pronto a ir. Se o ímã começar a agir, você permitirá que ele aja.

Dessa maneira, qual a função da meditação que eu tanto enfatizo? Ela serve apenas para destruir suas barreiras; é um esforço negativo. Através da meditação você não alcançará o divino. Através da meditação você se tornará acessível à ação do divino. Através da meditação, você se tornará aberto; sua prece chegará até ele. Você estará dizendo que está pronto, que, a partir de agora, cooperará.

Isso é tudo o que é necessário de sua parte. Permitir, deixar acontecer, entregar-se. Através da vontade, nada pode ser feito. Na dimensão do divino, nada pode ser feito através da vontade; somente através da entrega. E então tudo acontece.

Através das meditações que estamos fazendo aqui, você está apenas derrubando suas barreiras. É por isso que enfatizo que você deveria ser como as crianças. Volte a ser criança. Esqueça sua civilização, sua cultura, seus modos, suas posturas, sua personalidade, suas faces. Tudo isso é uma fachada. Jogue-a fora! Torne-se como as criancinhas.

Parecerá loucura. Abandonar sua mente e retornar à sua infância parecerá loucura. Pois seja louco! Seja qual for o preço, seja novamente como as crianças. Jesus diz que somente aqueles que são como crianças entrarão no reino do meu Deus. Eu também digo o mesmo. Retorne ao ponto onde a civilização começou a corrompê-lo, ao ponto onde a educação começou a corrompê-lo, ao ponto onde a sociedade penetrou em você. Volte ao ponto onde você era não-social, onde não havia sociedade coagindo você. Até esse ponto você era inocente e puro e, a menos que retorne novamente até esse ponto, as barreiras permanecerão.

Torne-se criança novamente. Durante esse processo, você sentirá que enlouqueceu, pois estará jogando fora todos os seus valores de adulto: educação, cultura, religião, escrituras, comportamentos. Estará jogando tudo fora. Estará retornando ao ponto onde você era você mesmo, onde ainda nenhuma sociedade o havia corrompido.

O processo todo parecerá loucura, mas não é. É uma catarse. E se você puder atravessá-la, sairá mais são, menos louco. A loucura será jogada fora. Você se tornará mais puro, mais são.


Resultado de imagem para osho flickr.com

segunda-feira, abril 02, 2018

O Sentimento de Separação

Resultado de imagem para Osho hd
- OSHO -


Destrua todo sentimento de separação.

A mente pensa em termos de separação, divisão, análise. Por intermédio da mente, a vida se fragmenta. A vida, em si mesma, não é dividida; a vida, em si mesma, é uma unidade. A vida, em si mesma, permanece indivisível, mas a mente pensa em termos de fragmentos; portanto, tudo o que a mente afirma, com certeza é falso. Aquela árvore, o céu lá no alto, a Terra, você e todas as coisas estão numa profunda unidade. A árvore parece estar separada de você, mas não está; não pode estar. O Sol está muito distante, mas você não pode existir aqui se o Sol morrer. Imediatamente, você cessará de existir aqui. Sem o Sol ali - a cem milhões de milhas de distância -, você não pode existir aqui. Se o Sol deixasse de existir, nunca seríamos capazes de saber que ele não mais existiria, pois não haveria ninguém para saber. Somos parte de seus raios.

Todo o universo é uma unidade cósmica. Você não está isolado; não é como uma ilha. Você está ligado; está enraizado no oceano da existência, como uma onda.

A menos que isso seja sentido profundamente, ninguém poderá entrar em samadhi, ninguém poderá entrar no êxtase total da existência; pois se você se considera separado, não pode se fundir; se você se considera separado, não pode se entregar. Se você pensa que não está separado, a entrega torna-se fácil; ela acontece. Se sentir que é um com a vida, pode confiar nela. Então não haverá medo. Você poderá morrer nela, alegremente, extaticamente. Então não haverá morte.

O medo da morte surge porque você pensa que está separado. Então você começa a lutar, começa a se proteger. Começa a se ver como um inimigo, em conflito. Você pensa em termos de conquistar, de ser vitorioso. Mas então será derrotado; sua derrota é certa.

Você é uma parte do todo, mas continua a lutar com o todo. É por isso que, por toda parte, você observa que todo mundo é um fracasso: derrotados, frustrados. No fim, todo mundo vem a saber que a vida foi uma longa derrota e nada mais. Isso é sentido não apenas pelos que não foram bem-sucedidos. Os bem-sucedidos também o sentem. Um Napoleão, um Alexandre, até mesmo eles se sentem derrotados.

Por que isso ocorre? Porque você não está separado do todo. Considero irreligioso o homem que pensa que está separado da vida, e considero religioso o homem que sabe que é uma parte orgânica da vida. Digo uma parte orgânica, não uma parte mecânica, pois a parte mecânica pode ser arrancada; a parte orgânica não pode ser extirpada. Ela não é realmente uma parte - está em profunda unidade com o todo.

Um homem religioso vai além da ansiedade, além do medo da morte, porque agora sabe que ele não é e o todo é. Então, como pode haver medo? Até mesmo a morte torna-se uma comunhão, um encontro. Não é uma dissolução. Ao contrário, uma fusão. Não se trata de alguma coisa que está contra você. Antes, é um profundo relaxamento para você.

A vida é tensão, ansiedade. A morte é bela. Você simplesmente entra num profundo relaxamento. Retorna novamente à fonte. A onda se erguerá outra vez, mas por enquanto ela cessou; foi para o oceano, descansar. A morte é um profundo repouso. E antes de um novo nascimento, esse repouso é necessário.

A partir do momento em que você compreende isso, não há mais medo. Desde que você aceite e se torne consciente da profunda unidade, a unidade orgânica, oceânica, aceitará todas as coisas. Você saberá que tudo é um, que a existência é uma. Ela se manifesta em diferentes formas, em milhões de formas, mas só as formas são diferentes. A substância, a essência, permanece uma.

Essa atitude o ajudará a entrar muito facilmente na meditação. Lembre-se, se você temer a morte, temerá também a meditação. Esse é um corolário lógico. Se você tiver medo da morte, você não se permitirá entrar totalmente na meditação, pois a meditação é uma espécie de morte, um tipo de morte. Consciente e voluntariamente, você imerge no todo. Morre enquanto indivíduo, enquanto ego torna-se um com a existência não-egótica.

Se você temer a morte, temerá também a meditação. Mas se amar a meditação, não temerá a morte. Se entrar na meditação, sem temor, sem medo, tornar-se-á imortal, pois não haverá mais nenhuma morte para você. Você já estará morto, portanto, como poderá morrer novamente? Aquele que entra em meditação, já morreu. Agora você não pode morrer novamente; a morte não pode destruí-lo. Você já se rendeu; você não é mais. A morte entrará numa casa vazia. Você não será encontrado nela.

Apenas o ego morre, não você. Sua vida é eterna, mas o ego é transitório. O ego é somente um fenômeno criado, formado. Você o criou. Ele é necessário, tem alguma utilidade. Na sociedade, você precisa de um ego; mas na vida, na existência, esse mesmo ego torna-se uma barreira.

Sannyas significa ir além da sociedade, pois quer dizer entregar o ego. Na sociedade, o ego é necessário. Você precisa ter um ponto de referência para indicar quem você é. No sannyas esse ponto de referência não é necessário. Não há necessidade de dizer quem você é; você pode simplesmente ser. Você é, isso é tudo. Não há necessidade de contar a ninguém quem você é. Esse “quem” é uma necessidade social. A existência nunca lhe pergunta quem você é.

Quando você abandona o ego, está pronto a tornar-se um com o todo. Há, na verdade, duas maneiras de se dizer a mesma coisa: ou se concebe toda a existência como uma, ou se concebe que não há nenhum ego em você. É a mesma coisa, o resultado será o mesmo. Você virá para uma unidade oceânica. E essa unidade, uma vez conhecida, nunca mais será perdida.

Destrua todo sentimento de separação. Torne-se apenas uma gota - uma gota de água que caiu no oceano e tornou-se uma com ele. E não tema a morte, porque, na verdade, não há morte para você. Aquele que teme é um fenômeno falso, uma entidade falsa - uma entidade criada pelo sentimento de separação. Em meditação, lembre-se, você está retornando à fonte, saltando para a fonte. Está se movendo do ego para uma existência sem ego.

Na meditação, esteja pronto para morrer. Se você puder morrer em meditação, obterá a vida eterna. Tornar-se-á imortal.


Resultado de imagem para Osho hd

quinta-feira, março 29, 2018

Entregue-se ao que é

Resultado de imagem para osho
- OSHO -


Três sutras básicos para a transformação da vida, que, de certa forma, são supremos. O primeiro: "Seja não-ambicioso."

Destrua totalmente a ambição.

A menos que a ambição seja destruída, você permanecerá na miséria. A ambição é a fonte de todas as misérias. O que é ambição? “A” quer ser “B”, o pobre quer ser rico, o feio quer ser lindo. Todo mundo ambiciona ser algo mais, algo diferente daquilo que é. Ninguém está contente consigo mesmo. Isso é ambição.

Você nunca está contente com aquilo que você é, seja o que for. Isso é ambição. Então você permanecerá irremediavelmente miserável, porque você não pode ser outra coisa. Você só pode ser você mesmo; nada mais é possível. Tudo o mais é fútil, prejudicial, perigoso. Você pode desperdiçar sua vida inteira, toda a sua existência.

Aquilo que você é, seja o que for, é você. Aceite-o; não deseje ser diferente. A não-ambição significa isso. A ausência de ambição é fundamental a toda transformação espiritual, pois quando você se aceita, muitas coisas começam a acontecer. Mas a primeira coisa... se você se aceitar totalmente, a primeira coisa que lhe acontecerá será uma vida não-tensa. Não haverá tensão. Você não deseja ser algo mais; não há nenhum lugar para ir. Então você pode estar aqui e agora. Não há comparação. Você próprio é único. Não pensa mais em termos de outros.

Então não há mais futuro. A ambição precisa de futuro, precisa de espaço para crescer. Ela não pode crescer aqui e agora; não há espaço. Este momento é tão pequeno, tão atômico. A ambição precisa do futuro; quanto maior a ambição, maior o futuro de que se necessita.

Se sua ambição for tão grande a ponto de não poder ser satisfeita nesta vida, então você criará uma vida após a morte. Criará o céu, criará moksha, criará a idéia de renascimento. Não quero dizer que o renascimento não exista. Estou dizendo que você acredita no renascimento, não porque ele exista, mas devido a suas ambições serem tão grandes que não podem ser satisfeitas numa única vida. Sua crença no renascimento, na reencarnação, não deriva de que isso seja um fato. Deriva de sua ambição e desejo. A reencarnação pode ser um fato, mas, para você, não passa de uma ficção. Para você é apenas uma questão de futuro, de mais espaço para se mover.

Lembre-se: você não pode ser ambicioso no momento presente. É impossível. Não há espaço. O momento presente é tão atômico, tão pequeno, que você não pode se mover nele. Você pode estar nele, mas não pode desejar. Ele é suficientemente amplo para o ser, mas não o é para o desejo. Para desejar, você precisa do futuro, do tempo. Na verdade, o tempo existe por causa do desejo. Para estas árvores, não há tempo. Para estes pássaros que cantam, não há tempo. Para as estrelas, para o Sol e para a Terra, não há tempo. O tempo existe por causa do desejo humano. Se a humanidade não estivesse na Terra, não haveria tempo; não haveria passado nem futuro.

Seu desejo cria o futuro. Sua memória cria o passado. Ambos são partes de sua mente. Não deseje, e o futuro desaparecerá. E quando não há futuro, como você pode ficar tenso? Como? Não há possibilidade de se ficar tenso se não há futuro. E se não há passado – se você sabe que o passado é apenas a memória, a poeira acumulada durante o caminho – como pode haver qualquer ansiedade? Com o passado vem a ansiedade. Com o futuro – planos, imaginações, projeções – surge a tensão. Quando o passado desaparece e o futuro não está aberto, você está aqui, agora. Nenhuma ansiedade, nenhuma tensão, nenhuma angústia.

A não-ambição significa aceitar-se tal como você é. Mas isso não quer dizer que não haja possibilidade de crescimento. Ao contrário. Quando você se aceita tal como é, a transformação se inicia. Você começa a crescer, mas em outra dimensão. Então a dimensão não está no futuro, mas no eterno.

Conheça bem essa distinção. Você pode se mover de dois modos. Se você se move no futuro, está se movendo na mente; num mundo de ficção, de sonho. Se você não se move no futuro, então uma dimensão diferente se abre para você a partir desse exato momento. Você está se movendo no eterno. O eterno oculta-se no momento. Se você puder estar aqui, agora mesmo, no momento, você penetrou no eterno. Se continua pensando no futuro e no passado, está vivendo no temporal. O temporal é o mundo, o eterno é o nirvana.

Conta-se que Buda repetia frequentemente que, se você puder permanecer no agora, não há necessidade de qualquer técnica de meditação. Isso é suficiente. Não é necessário mais nada. Mas como você poderá permanecer no agora se for ambicioso?

A mente ambiciosa não pode estar no agora. Pode estar em qualquer outra parte, mas não pode estar no agora. A mente ambiciosa sempre se move para longe do presente. Ela pensa no que está por vir; pensa no amanhã. Pensa numa vida após a morte; não se interessa pela vida que está aqui. Interessa-se por algo que poderia ser. Não se interessa pelo que é; está sempre interessada pelo que deveria ser, pelo que poderia ser. Esse interesse é não-religioso. Uma mente religiosa, uma consciência religiosa, interessa-se pela existência tal como ela é. O primeiro sutra é: Destrua totalmente a ambição para que você possa penetrar no eterno.

"Destrua o desejo pela vida" - o segundo sutra.

Destrua o desejo pela vida. As leis da vida são muito paradoxais. Se você desejar a vida, a perderá. Esse é o caminho mais seguro para perdê-la. Se você desejar a vida, a perderá; mas se você não a desejar, vida abundante acontecerá a você.

Através do desejo você se move contra a vida. Parece paradoxal, e é. Essa lei paradoxal precisa ser profundamente entendida.

Por que é que quando você deseja a vida, você a perde? Por quê? Não deveria ser assim. Logicamente, matematicamente, não deveria ser assim. Se alguém deseja a vida, por que a perderia? O mecanismo é tal que, ao desejar, você se moveu novamente para o futuro. E a vida está aqui! A vida já existe – como você pode desejá-la? Apenas aquilo que não existe pode ser desejado. Mas a vida é. Como você pode desejá-la? Ela já é; já está acontecendo. Você é vida.

Se você desejar a vida, a perderá. Através do desejo, você se distancia da vida. Todo desejo a leva cada vez mais longe. Por isso há tanta insistência na ausência de desejo. Isso não significa que Buda ou todos aqueles que falam sobre a ausência de desejo estejam contra a vida. Ao contrário, eles são, de fato, a favor da vida. Mas dizem: “Não deseje” – e isso nos soa como se eles fossem contra a vida, como se fossem negadores da vida. Eles não o são.

Através do desejo, estamos perdendo a vida. É por isso que Buda diz: “Não deseje.” Que acontece se você não deseja? A vida acontece a você. Ela já está acontecendo, mas você não pode olhar para ela porque seus olhos estão fixados no futuro. Você está em outro lugar; sua mente não está aqui. A vida está aqui e você não está aqui; portanto, o encontro torna-se impossível. Então, você ansiará pela vida, a desejará, mas continuará a perdê-la.

Permita que a vida aconteça a você. Como isso pode ser feito? Estando atento ao que se passa aqui. Não tendo desejos de estar em outro lugar.

No momento em que você começa a desejar a vida, torna-se temeroso da morte. Isso é inevitável, porque o desejo pela vida cria o medo da morte. Não existe nenhuma morte. Na verdade, nada morre; nada pode morrer. É impossível. A morte nunca acontece; a morte não existe. Então por que sentimos tanto a morte e a tememos tanto? Por que tememos algo que não existe?

Tememos a morte devido ao nosso desejo pela vida. O desejo pela vida cria um medo pelo oposto: o medo da morte. Não conhecemos a vida, mas a desejamos. Então surge o medo de que a vida seja destruída.

Vemos a morte acontecendo... alguém morre. Você já reparou no fato de que é sempre outra pessoa que morre, nunca você? É sempre outra pessoa. Você vê a morte do lado de fora; nunca a vê do lado de dentro. Você vê alguém morrendo, mas não sabe o que está acontecendo no fundo do seu ser. Sabe apenas o que está acontecendo na periferia. A periferia está morta; não está mais viva, a pessoa não pode mais respirar. Mas o que aconteceu no âmago da pessoa, no próprio ser, no centro? Você não sabe.

Ninguém testemunhou a morte. E isso não é possível, pois há apenas um modo de testemunhá-la: você precisa se mover até o íntimo de seu ser, e aí testemunhá-la. Mas aí a morte nunca acontece. É por isso que um Buda, um Krishna, riem da morte.

Krishna diz a Arjuna no Gitã: “Não receie. Não pense que alguém morrerá.” Ninguém morre; você não pode matar ninguém. É impossível. Neste mundo, nada pode ser destruído, nem mesmo um microorganismo pode ser destruído. A destruição não é possível. Só a mudança é possível.

A vida continua a se mover. Uma onda morre (parece morrer) e então uma outra se levanta. Só as formas desaparecem e novas formas aparecem, mas nada morre e nada nasce.

Se nada morre, então nada nasce, pois a morte só é possível se algo nasce. Nascimento e morte são duas ilusões. Você existiu antes do seu nascimento - de outro modo o nascimento não teria sido possível - e você existirá após a sua morte - caso contrário, não lhe seria possível estar aqui e agora. Mas o desejo de se apegar à vida cria o medo da morte.

Se você parar de desejar a vida, o medo da morte desaparecerá imediatamente. E quando o medo da morte desaparece, você pode saber o que é a vida. Uma mente trêmula, com medo e angústia, não pode saber. O saber requer uma consciência calma e destemida.

O desejo pela vida significa medo da morte. O sutra diz: Destrua o desejo pela vida, para que o medo da morte desapareça. E quando não houver morte, nem nenhum apego à vida, você saberá o que é a vida, pois ela está acontecendo a você. Você é a vida! A vida não é algo extrínseco; é algo intrínseco. Já está acontecendo. Você está respirando nela. Você é exatamente como um peixe no oceano da vida, mas não está consciente disso porque sua atenção está obcecada pelo futuro. Desejo significa obsessão pelo futuro. Não-desejo significa viver aqui e agora.

E o terceiro sutra: "Destrua o desejo de conforto, O desejo de felicidade. Destrua-o."

Isso parece muito melancólico, triste, negativo. Não é. Quanto mais você desejar conforto, mais desconforto estará criando para si mesmo, porque o desconforto é proporcional ao desejo de conforto.

Quanto mais você procurar felicidade, tanto mais sofrerá. O sofrimento é uma sombra. Quanto maior o desejo de felicidade, maior será a sua sombra. Procure a felicidade e você nunca a obterá. Somente sentirá frustração. Por que? Porque há apenas um modo de ser feliz, que é ser feliz aqui, agora. A felicidade não é um resultado. É um modo de vida.

A felicidade não é o resultado final do desejo. É uma atitude, não um desejo. Você pode ser feliz aqui e agora se souber como ser feliz, mas você nunca será feliz se não souber como ser feliz e continuar desejando a ser feliz. A felicidade é uma arte. É um modo de vida.

Neste exato momento, se você puder permanecer calado e consciente da vida ao seu redor e no seu interior, você será feliz. Os pássaros estão cantando, o vento está soprando. As árvores estão felizes, o céu está feliz, todas as coisas existentes estão felizes, exceto você. A existência é felicidade, é uma celebração eterna, uma festividade. Olhe para a existência! Cada árvore está em festa, cada pássaro está em festa. Exceto o homem, tudo está em festa. Toda a existência é um festival, um constante e contínuo festival. Nenhuma tristeza, nenhuma morte, nenhuma miséria existe em lugar nenhum, a não ser na mente humana. Algo está errado com a mente humana, não com a existência. Algo está errado com você, não com a situação.

Por que o homem é infeliz? Nenhum animal é tão infeliz, nenhum pássaro é tão infeliz, nenhum peixe é tão infeliz quanto o homem. Por que o homem é tão infeliz? Porque o homem deseja a felicidade, mas os pássaros estão felizes neste exato momento; as árvores estão felizes neste exato momento. O homem deseja a felicidade; ele nunca está feliz aqui e agora. Ele sempre deseja a felicidade e continua a perdê-la. A felicidade está aqui. Ela está acontecendo ao seu redor. Permita que ela entre em você.

Faça parte da existência. Não se mova para o futuro. A existência nunca se move para o futuro; apenas a mente se move.

É a isso que chamo meditação: estar aqui, sem se mover para o futuro. Não seja ambicioso, destrua todo desejo pela vida, não deseje a felicidade, e então você será feliz e ninguém poderá destruir a sua felicidade. Ser-lhe-á impossível ser infeliz. Então você será imortal e a vida eterna terá acontecido. Na verdade, ela já aconteceu, mas você não está consciente dela. Então você estará realizado. Sem ambição, você estará realizado.

Você é único. Tudo, toda experiência máxima que é possível a alguém também é possível a você; mas acontecerá de um modo único. Aconteceu a Buda, a Jesus, a Zaratustra, e acontecerá a você também. Mas nunca acontece do mesmo modo. Não acontecerá a você do mesmo modo que aconteceu a Buda. Não lhe acontecerá assim como aconteceu a Jesus. Acontecerá a você de um modo único, individual. Quando acontecer a você, será absolutamente nova. A essência da experiência será a mesma - a mesma bem-aventurança, o mesmo silêncio, a mesma iluminação - mas na periferia tudo será diferente.

Portanto, não imite ninguém. Isso faz parte da ambição. Não imite Buda, não imite Jesus. Tente ser você mesmo. Ou melhor: seja você mesmo, pois tentar ainda é fútil. Quando você é você mesmo, está aberto a todas as responsabilidades. Quando você é você mesmo, toda a existência começa a ajudá-lo. Você não briga com ela.

Quando você não está em luta... É isso o que significa confiar. Quando você não está em luta, a existência acontece a você. Se você está lutando com a existência, está simplesmente se destruindo, destruindo suas possibilidades, sua energia, sua vida, sua existência. Não lute! Entregue-se à existência. Aceite a si mesmo, do modo que o todo quer que você seja; não tente ser outra coisa, e a iluminação pode acontecer a qualquer momento. Pode acontecer neste exato momento; não é preciso esperar.


Resultado de imagem para osho buddha

segunda-feira, março 26, 2018

A Nascente e o Pântano

Imagem relacionada
- Omraam Mikhael Aivanhov - 


Escutai uma nascentezinha. Ela diz-nos: "Sede semelhantes a mim, sede vivos, jorrantes, senão tornar-vos-eis semelhantes aos pântanos." Sim, há que ouvi-la, porque, se a vossa nascente interior secar, produzir-se-ão em vós fermentações. E, quando há fermentações, já sabeis o que se passa: começam a pulular os mosquitos, as moscas, toda a espécie de animalejos; mesmo que tenteis acabar com eles, nada conseguireis, pois eles não param de se reproduzir. A única solução é secar o pântano e deixar correr a nascente, porque onde corre uma nascente não há putrefações, tudo é vivo e puro. 

Já vos falei muitas vezes da nascente e não somente da pequena nascente das montanhas, mas dessa nascente muito mais poderosa, a nascente única: o sol. Infelizmente, quando se observa os humanos, percebe- se, em função dos seus raciocínios e das suas atitudes, que eles nunca se preocuparam com a nascente, com o ponto que vibra, que brota, que projeta. Eles dirão: "Mas o que é que pode trazer-nos o facto de nos determos nessa imagem da nascente?" Coitados! Talvez sejam eruditos, mas não viram o essencial. Não viram que toda a orientação da sua existência e dos seus atos depende exclusivamente da imagem que colocaram na sua cabeça. Eles escolheram imagens vivas, jorrantes, como a nascente, como a fonte, como o sol, ou imagens mortas como o pântano? Tudo reside nisto. Em função das observações que faço diariamente, como a nascente, eu descubro que tudo depende da escolha que o homem faz, do ponto de vista simbólico, entre a nascente e o pântano; esta escolha revela a sua compreensão da vida. 

Ouve-se muitas vezes as pessoas queixarem-se de que tudo lhes corre mal. E por que é que tudo lhes corre mal? Porque elas não entenderam que no seu intelecto, na sua alma, deveriam ter colocado em primeiro lugar o que existe de mais puro e de mais divino – a nascente –, para que esta nascente, ao correr, purifique tudo neles e faça crescer todas as suas sementes divinas. Nos seus pensamentos e nos seus desejos não se sente esta preocupação essencial com um centro, uma nascente, um sol, um espírito, um amor. Elas detiveram-se em coisinhas insignificantes e não conseguem compreender, não querem compreender. Chafurdam continuamente em águas estagnadas e poluídas onde se agita toda a espécie de animalejos e até zombam da filosofia dos Iniciados, que insistem sempre na importância mágica da ligação à nascente, à fonte. Como podem elas estar convencidas de que o que está a apodrecer, a criar bolor, a desagregar-se, vai ajudá-las? 

Há quem não compreenda por que é que nós vamos ver o sol nascer... É simbólico. É para conseguirmos perceber que em todos os domínios da vida devemos ligar-nos ao sol, quer dizer, à fonte. Mas tentai convencer todas essas pessoas inteligentes a ir ver o nascer do sol! Elas dirigem sempre a sua atenção para o que está morto, estagnado, poluído, e depois, quando lhes acontecem infelicidades, perguntam porquê. É porque nelas têm impurezas, porque não tomaram a nascente como modelo!

Eu pergunto a alguém: "Já viu uma nascente? Pode dizer-me o que se passa junto de uma nascente?". "Claro que sim!", responde a pessoa. Mas, na realidade, ela não observou bem... Por isso, eu faço perguntas: 

– "Então, o que há à volta da nascente?" 
– "Plantas, vegetação."
– "E o quê mais?"
– "Insetos, aves, animais." 
– "E além disso?" 
– "Também há homens que vieram instalar-se."
– "Muito bem. E já reparou no que se passa quando a nascente seca?"
– "A erva desaparece imediatamente, depois os animais, depois os homens. As árvores são o que resiste mais tempo."
– "Compreendeu realmente tudo isto?"
– "Claro que sim, é muito simples."
– "Então, por que é que deixou secar a sua nascente?". 

E a pessoa diz: 

– "Qual nascente? Não compreendo..." 

Como vedes, a pessoa não compreende. As pessoas creem sempre que compreendem, mas isso só acontece aparentemente. Então, eu digo: 

– "Estou a falar da nascente que jorra no seu interior. Por que a deixou secar?".

– "Qual nascente? Eu não deixei secar nascente nenhuma.".

– "Sim, deixou secar a sua nascente: já não tem amor. Alguém o ofendeu, lesou, roubou ou enganou um pouco e você disse: 'Acabou-se! Não voltarei a ser generoso, bom, caridoso, não vale a pena, os homens não merecem.' E agora a sua nascente já não corre. Evidentemente, já ninguém o enganará ou o lesará e você julga ter ganho alguma coisa, mas, na realidade, perdeu tudo. Deveria ter continuado a deixar-se enganar, se necessário, o importante era que a nascente nunca secasse! Alguém o ofendeu, o roubou, mas isso não é nada comparado com a bênção que é ter em si uma nascente que corre, pois ela traz-lhe tudo, limpa tudo, restabelece tudo."

Os humanos têm necessidade desta filosofia, a mais maravilhosa, a mais verídica: a filosofia da nascente. Com a desculpa de que sofreu uma pequena injustiça, uma pessoa decide já não ter amor por quem quer que seja – então, acabou-se! –, ela fica morta. E um morto, o que é que ganhou? É formidável a maneira como os humanos raciocinam! E é junto deles que eu deverei ir instruir-me? O que é que aprenderei? Irei, isto sim, pra junto de uma nascente, ficarei horas inteiras a escutá-la, a olhar para ela, a tocar-lhe, a falar com ela, e em seguida pensarei nessa outra fonte – o sol –, e em todas as nascentes do universo, até à única verdadeira nascente, que é o próprio Deus, irei ligar-me a Ele para compreender finalmente o essencial. Perguntareis: "Mas o que é que se pode compreender junto de uma nascente?"... Tudo! 

Meditai longamente nesta imagem da nascente a fim de baseardes a vossa vida nessa única nascente que é Deus e cujo representante mais perfeito para a terra é o sol. Deveis trabalhar diariamente sobre esta imagem, imitar esta nascente, o sol, a fim de dardes de beber a todas as criaturas, a fim de as aquecerdes, de as vivificardes, de as ressuscitardes. Direis: "Mas isso é impossível, é irrealizável...".

Até é estúpido! Se pensais assim, é porque não percebestes nada. O importante não é que o vosso ideal seja realizável, o importante é que, ao fazerdes este trabalho interior, é em vós que começais por produzir grandes transformações. O sol é imenso, não se pode ser tão grande e poderoso como ele; mas no seu domínio, à sua escala, o homem também pode tornar-se um sol. 

Em vez de reter sempre, de ser como uma cova, como um abismo, como um pântano, e de introduzir a desagregação em tudo, ele pode dar, purificar, vivificar. Na realidade este ideal é realizável, mas é necessário pelo menos querer estudar, experimentar e verificar que ele é realizável. Infelizmente, quanto mais eu ando pelo mundo, mais constato que os humanos não compreenderam o aspecto mágico da nascente, a força da nascente, a ciência extraordinária que ela representa. Se tivessem compreendido, eles saberiam sempre fazer sair de si próprios algo puro, algo vivo. Mas estão sempre sombrios, baços, fechados, crispados. Só pensam em resolver os seus assuntos com os meios e os métodos do pântano... Mas o pântano nada pode resolver! Só é bom para prolongar a vida dos girinos e de todos os animalejos que se agitam na sua água. 

Nesta água que nunca se renova, os pobres habitantes do pântano são obrigados a respirar e a absorver todos os dejetos uns dos outros. É o que, infelizmente, se passa com os humanos. Uma grande cidade, e até o mundo, não são outra coisa senão um pântano. Todos os humanos que aí se movimentam são obrigados a absorver os excrementos uns dos outros. Os que sabem como de lá sair aspiram de vez em quando um trago de pureza, mas os outros deixam-se intoxicar, sufocar, envenenar. A atmosfera de uma cidade é um pântano, e se fôsseis clarividentes veríeis como os humanos enviam sujidades uns aos outros, se comem entre eles e não sabem como de lá sair, mesmo por alguns minutos. E depois riem-se da nossa filosofia solar!... Pois bem, tanto pior para eles. Que fiquem no seu pântano! Que quereis que vos diga? Um dia eles serão obrigados a compreender. 

E que conclusão se pode tirar do que eu vos disse? Que todos os mal-entendidos, todas as infelicidades, todos os sofrimentos, advêm do facto de o homem não estar ligado ao Céu, à nascente; ou, quando está, é apenas por dois ou três minutos; em seguida, tudo é cortado e ele fica de novo ligado ao pântano. Eu não quero ofender-vos; estou falando em geral. Mas é verdade: em vez de estarem ligados à nascente que purifica, que cura, que ilumina, a maior parte dos humanos ligam-se ao pântano (que pode ser, aliás, um homem, uma mulher ou um grupo de pessoas) e é aí que bebem. Eles preferem este pântano à nascente porque têm medo da opinião do pântano! Que dirão os girinos que nele se agitam? Se estes se pronunciassem negativamente a seu respeito, que seria deles?

Talvez estejais pouco ofendidos com palavras. Mas, quereis? Eu não estou aqui para agradar, sou obrigado dizer-vos verdade. Sei bem que não é agradável ouvir semelhantes coisas. Hoje estais aborrecidos com minhas palavras; mas se eu nada disser, seguireis adiante na mesmice de suas vidas e um dia estareis duas, três, cem vezes mais aborrecidos com a realidade. Se vos mantiverdes na ignorância, tristezas esperar-vos-ão por todo o lado, ao passo que, avisados, se fordes esclarecidos, pelo menos podereis escapar pelas escadas de serviço e os vossos inimigos voltarão as costas sem ter conseguido nada. 

Refleti, pois, nestas duas imagens: a nascente e o pântano. Quando tendes finalmente o desejo de amar, de fazer sacrifícios, de ajudar os outros e de dar em vez de tirar, é porque a nascente já corre. E, uma vez que ela corre, as flores e as árvores crescem, os pássaros cantam, ou seja, há espíritos magníficos que vêm instalar-se em vós, no vosso cérebro, no vosso coração, na vossa vontade, porque são alimentados. A nascente alimenta-os. Então, vós tornais-vos ricos, sois semelhantes a uma região florescente, com todo um povo e toda uma civilização. Sim, porque a nascente corre. É este aspecto simbólico que é necessário compreender.

Junto de uma nascente seca ninguém aceita ficar. Quando a nascente para de correr no homem, já não há criações, nem poesia, nem música, nem alegria, já não há nada, é o vazio, o deserto, porque já não há água, já não há amor. Pelo mundo afora só se vê desertos passeando... Assim se explica o estado miserável dos humanos, a sua angústia, o vazio que há neles. Talvez sejam muito inteligentes, mas deixaram secar a sua nascente, porque nunca pensaram em dar, em irradiar, em amar. Quando eu vejo seres cuja nascente secou ou, até, nunca correu, sei que o seu destino será miserável. Porquê? Porque nada virá instalar-se neles, nenhum anjo, nenhum espírito, nenhuma beleza, nenhum esplendor, nada!

Bem-aventurados os que compreenderam e se decidiram a mudar! Para esses, hoje, tudo estará explicado, pois estas duas imagens – o pântano e a nascente – são realmente suficientes para explicar tudo. Se estais estagnados, se fazeis tudo sem entusiasmo, sem inspiração, sem alegria, ficai a saber que deixastes secar a nascente que deveria correr em vós. Mas vós não vos apercebestes disso e estais sempre a criticar os outros. Abri a vossa nascente, limpai-a e a água jorrará, porque todas as criaturas nasceram para ser uma nascente. Sim, quando o Senhor enviou o homem à terra, preparou-o para ser uma nascente; mas o homem deixou acumular tantas impurezas em si próprio que a nascente ficou tapada; por isso, é o deserto, o vazio. E nada é pior do que o vazio, nada é pior do que estar num deserto, ser um deserto.

Será que começais finalmente a compreender esta imagem da nascente? A nascente é a vida, é o amor, e o amor é omnipotente, é ele que faz nascer todas as inspirações, todas as alegrias. Não há maior verdade. Eu sei bem que, apesar de todas as verdades que ouvem há anos, muitos de vós estais num triste estado; é porque não tendes qualquer método de trabalho. O que quer que escuteis, quaisquer que sejam as verdades que poderiam ajudar-vos, não anotareis nem fixareis nada. Se escrevêsseis pelo menos uma verdade e a colocásseis diariamente diante dos vossos olhos para a verdes, para estardes em contacto com ela!... Mas, não, uma hora depois tudo se apagou. Criaturas assim estão predestinadas a viver indefinidamente nos pântanos ou nos desertos. E a culpa é delas, pois, mesmo quando se lhes diz como hão de fazer para se abrirem, para se desenvolverem, não entendem nada, não retêm nada. 

Eu sei que vos tenho falado frequentemente da nascente, mas vós precisais que vos repitam muitas vezes as mesmas coisas. O sol nasceu ontem, mas isso foi para ontem, hoje ele deve nascer de novo. Aparentemente, a água que corre é sempre a mesma, no entanto ela é sempre nova. É por isso que há anos vos repito: "Pensai todos os dias em fazer jorrar a vossa nascente!... Abri-a, limpai-a, tornar-vos-eis uma terra tão fértil que até os reis virão provar os frutos do vosso pomar." Mas tenho de repetir e voltar a repetir. Depois de tantos anos, por que é que ainda não plantastes nem colhestes nada, se possuís em vós próprios um terreno incrivelmente rico? O vosso cérebro, o que é? É a melhor das terras. Pois bem, é justamente esta terra que deveis cultivar, que deveis semear e regar. Pelo pensamento, pela oração, ligai-vos diretamente à Nascente Celeste. 

Como nós somos à imagem do Senhor, o microcosmos semelhante ao macrocosmos, possuímos também uma nascente em nós próprios, mas ela aguarda condições propícias para começar a correr. É, pois, ligando-nos à Nascente Celeste que faremos brotar a nossa própria nascente, e todas as nossas células serão regadas, vivificadas, a vida divina correrá. Graças a esta nascente o amor, a vida, a água viva tornamo-nos um instrumento perfeito nas mãos do Senhor."

Resultado de imagem para nascente agua

quinta-feira, março 22, 2018

A Lei Cármica não provém de Deus

Resultado de imagem para lei carma
- Joel S. Goldsmith -


Todos os sofrimentos que o mundo vivencia vêm da ideia de separação de Deus, por não aceitar um Deus que está “tão perto quanto o fôlego, mais próximo que as mãos e os pés”, um Deus que deseja que frutifiquemos com abundância.

No tempo do paganismo, afora talvez um sentido de gratidão, as pessoas adoravam tudo aquilo que parecesse poder aniquilá-las, e começaram a atribuir a tais coisas o poder da Divindade.

À medida que a consciência humana evoluiu, apareceu a ideia de um Deus único, mas, aparentemente, o homem não estava preparado para perceber Deus como realmente é, e assim encontramos um tipo estranho de Deus na Escritura hebraica.

Assim como sabemos que o sol, a lua e as estrelas não são Deus, sabemos hoje que Jeová, o Deus da ira e da vingança, não é Deus.

O Deus do Velho Testamento – que se refere a ira e à vingança – não é Deus: é a lei de Carma ou da mente humana (pensamento humanos). É a lei que diz que “o que você semear, colherá”. E a lei que diz que, se fizermos o bem, o bem virá até nós; por outro lado, se fizermos o mal, este recairá sobre nós. “Como o homem pensa em seu coração, assim ele é”.

Essa definição não corresponde ao que é Deus: é a lei cármica que foi reconhecida como Deus.

A lei nunca foi Deus, como João nos esclareceu ao revelar que: “a lei foi-nos dada por Moisés, mas a Graça e a Verdade nos vêm de Jesus Cristo”. Ai está a grande diferença entre a Graça e Verdade de Jesus Cristo e a lei de Moisés.

Há um mundo de diferenças entre lei cármica e Deus. E, embora seja necessário que todos conheçam e compreendam a lei cármica/mental, é também necessidade vital que ultrapassemos essa velha lei, rumo ao Reino da Graça.

Nunca conseguiremos esse objetivo violando a lei do Carma (da mente humana), mas compreendendo seu lugar e significado em nossa vida.

Os dez mandamentos com que estamos familiarizados são parte dessa lei.

Por exemplo, vejamos a ordem “honrar o pai e a mãe”. Alguém chamaria essa ordem de ensinamento espiritual? Qualquer um que tenha sido tocado pelo Espírito de Deus, mesmo no mais leve grau, seria incapaz de fazer outra coisa senão honrar o pai e a mãe, e amar seu próximo como a si mesmo.

Teria existido alguém que tivesse pretensão, mesmo em sonho, de dizer a Jesus Cristo, ou a João de Patmos, ou Buda ou Lao-Tsé para honrar o pai e a mãe e amar os inimigos como a si próprio? Poderá alguém que tenha sido tocado pelo Espírito de Deus ter manifestado intolerância, parcialidade ou preconceito contra raças ou religiões?

Essas leis são para os que se reconhecem como seres humanos que ainda não tem a Percepção Espiritual de sua Real identidade, que ainda precisam ser lembrados de que não podem cobiçar a propriedade do vizinho, sua mulher, sua terra.

Houve, de fato, nos primórdios da humanidade, a necessidade da lei, quando era necessário que nos dissessem como agir uns com os outros; se porém continuarmos nesse reconhecimento de sermos carnais, nosso caminhar rumo à liberdade espiritual será muito lento.

Todos os que estão na terra um dia estarão no Céu; todo o mundo poderá um dia se elevar acima da doença e do pecado mortal, e aceitar a herança de sua filiação divina; mas ninguém poderá fazê-lo vivendo sob a lei, e nem aprendendo a seu um bom ser humano.

Essa tarefa não poderá ser levada a cabo apenas por alguma forma humana de adoração, nem pelo fato de alguém se tornar honesto e ético. Essas são apenas as primeiras etapas.

Deixando nossos desejos carnais, mortais, egoísticos, apenas provamos que estamos progredindo rumo a um estágio mais alto de humanidade.

Por fim, virá o dia em que de fato atingiremos a realização do Espírito de Deus que habita em nós, quando estaremos face a face com Ele, quando Ele tocará nosso ombro, nossa cabeça ou nosso coração; quando, de um modo ou de outro, Ele anunciará a sua Presença.

Até alcançarmos a Percepção Espiritual de nossa identidade Real, não seremos mais que bons homens ou mulheres; até lá, não estaremos muito isentos da lei do prêmio e do castigo e, desse momento até o fim de nossos dias na Terra e pela eternidade afora, estaremos sob a Graça.

Então já podemos ter os primeiros vislumbres dessa grande verdade que estivemos vivendo tantos dias de esforço sob a lei de Carma, da mente humana, violando-a ou obedecendo-a, acreditando que, se fôssemos bons hoje, as coisas boas do mundo fluiriam amanhã até nós, e que poderíamos trapacear amanhã, burlando a lei.

Foi-nos dito que se pecássemos Deus nos puniria, mas essa é a versão de Deus do Velho Testamento; nenhum desses ensinamentos, que tenha sido consignado por Jesus Cristo, aparece no Novo Testamento.

Ao contrário, ficou claro que Deus alegra-se mais com um pecador que alcança a percepção do Pai do que com noventa e nove que passem pela Terra como justos. Não seria pois o caso de imaginar que todos os noventa e nove justos não agradam tanto a Deus quanto um só pecador que “acorde”?

O Deus de muitas pessoas na terra é aquele que pune o mal e recompensa o bem. Essa representação não é de Deus, e nos induz a tentar influenciá-lo ou a fazer sacrifícios a Ele.

Deus é o mesmo, para o santo e para o pecador. Deus é bom, é amor; Deus é eterno, imortal, espiritual, princípio criativo do Universo, princípio que mantém e sustenta a criação.

E poderá alguém acreditar que Deus seja assim hoje, e amanhã, por termos cometido um erro, seja diferente?

Não é de estranhar que o mundo hebraico tenha reagido com violência ao ouvir de Jesus, o Cristo, que os sacrifícios animais e monetários não agradavam a Deus. Naqueles tempos, as pessoas acreditavam que Deus deveria ser agradado, aplacado, abrandado; acreditavam que de algum modo Deus seria influenciado pela conduta humana. E o mesmo ocorre ainda hoje, quando algum devoto adorador acende uma vela para Deus, paga o dízimo pensando em subornar Deus, ou observa jejuns e dias santos com a ideia subconsciente de que tal conduta possa influenciar favoravelmente Deus em seu próprio benefício.

Deus nunca premia a virtude – e nem pune o pecado. Na verdade o pecado é punido pelo próprio pecado. Noutras palavras, se alguém fizer uma ligação elétrica errada, será queimado, mas não poderá censurar a eletricidade por isso. A eletricidade não quis puni-lo: ele trouxe para si a própria punição, agindo erradamente. A pessoa que entrar na água ficará assustada, se debaterá e quase se afogará, sem poder repreender a água, mas sim a própria ignorância de como se portar dentro d’água.

Ninguém pode violar a lei e não ser punido pela violação, mas ninguém poderá censurar Deus pela conseqüente punição. A culpa disso não está em Deus, mas na conduta individual e na não-compreensão individual da natureza da lei.

Uma vez que tenhamos compreendido que há uma lei cármica, e que quando acreditamos que somos seres humanos estamos a ela sujeitos, nossa primeira tarefa será nos colocarmos em harmonia com a mencionada lei.

Noutras palavras, se há uma punição para o roubo devemos em primeiro lugar aprender a parar de roubar.

Se há punição para a mentira, devemos nos treinar a não mentir, mesmo que, no momento, pareça haver alguma vantagem no deslize da falsidade.

De fato, podemos mentir e enganar em nosso negócios, e talvez ganhar algum proveito provisório; mas, se compreendermos que toda mentira, engano ou trapaça nos fará por fim naufragar, mais que provavelmente começaremos a nos treinar a não indulgir em relação a métodos inescrupulosos de agir na vida, quer pessoal, quer social e comercial.

O primeiro esforço, pois, quando entendemos que há uma lei cármica (lei da mente), é nos livrar dos males que trariam más conseqüências para nós.

É indubitavelmente melhor viver nesse estado de consciência que num estado inferior, mas devemos atentar para o fato de que tal estágio de vida é o estágio hebraico vivido sob a imposição “tu não podes de Moisés: tu não podes fazer isso, e assim não trarás o castigo sobre ti. Tu não podes cobiçar a casa do teu vizinho, e assim não atrairás problemas para ti.

Tu não podes roubar, tu não podes cometer homicídio: deves honrar teu pai e tua mãe, o que significa que não deves esquecê-los, ignorá-los ou maltratá-los.

Não se discute o fato de que, quando obedecemos aos Dez Mandamentos, nos colocamos em harmonia com a lei cármica, ou seja, com a lei mental e nos beneficiamos com isso.

Não podemos porém esquecer que estamos ainda sob a lei, e que uma próxima violação pode trazer problemas; pelo tempo que vivermos apenas sob os Dez Mandamentos, estaremos todavia vivendo humanamente e sob as leis humanas.

Essa é a maior parte de Deus que a Bíblia revela, mas não é Deus; essa é a lei, é o Deus-Senhor, é o Deus-lei, a lei cármica, a lei de causa e efeito. “O que semeares, colherás.”

A parte que a Bíblia fala acerca de Deus – relacionado à ira e a vingança – não é Deus; é a lei, é o Deus-lei, a lei cármica, a lei de causa e efeito, a lei da mente: “O que semeares, colherás.”

Isto não é Deus: o que “tu” semeares, “tu” colherás. Não se faz menção a Deus. Apenas nos avisa que, quando fizermos o certo ou errado ao semear, teremos o certo ou errado ao colher, mas certamente está claro que Deus nada tem a ver com a semeadura ou com a colheita. E, pois, nada disso guarda referência com Deus. Refere-se, sim, à lei cármica, à lei de causa e efeito encontrada ao longo da Bíblia.

Mas, como acreditou-se que isso fosse Deus, essa ideia foi perpetuada pelas pessoas que ousaram ler a Bíblia com objetividade.

Tentemos agora ver o que seja realmente Deus, se é que o podemos, já que desse ponto depende toda a nossa experiência. É justo e correto ser um bom hebreu, isto é, obedecer aos Dez Mandamentos. É justo e correto ser um homem de negócios honesto ao invés de desonesto, e um ser humano saudável ao invés de doente. Tudo isso porém não tem relação alguma com o caminho espiritual nem com nosso destino final, que é retornar à casa do Pai, para a Teo-consciência, ou seja para a Consciência Divina que somos.

Para alcançarmos nosso intuito final, devemos compreender a natureza divina; e assim certamente surgirá uma pergunta em nossa mente: que é Deus?

Antes de mais nada, temos de saber que nossas orações e meditações não influenciam Deus para que faça ou não o bem para nós – e que nós não podemos trazer a Glória de Deus para nós mesmos e nem para qualquer outro. Tudo o que podemos fazer é reconhecer que Deus, que está em nós, é poderoso, e não por nossa causa, mas exatamente porque nos foi dada a Graça de reconhecer que É aquele que sempre É.

Eis por que Jesus disse aos discípulos para não se glorificarem por terem subjugado os demônios, mas por terem os seus nomes escritos nos Céus. Eis por que ninguém deve ousar se glorificar por causa de uma cura – nenhum ser humano jamais efetuou uma cura –, ela é trazida por um estado divino do ser espiritual que atua, e só pode atuar, por meio e como a consciência de alguém que conheça a natureza de Deus,e possa assim trazer a cura para a esfera da manifestação visível. Esse é o nosso papel nesse glorioso trabalho espiritual. Apenas esse é nosso papel: conhecer Deus e conhecê-lo corretamente, como Vida Eterna.

Quando conhecermos a natureza de Deus como Amor e Vida Eterna, nunca mais nos ocuparemos com a morte, a velhice ou a doença, como se houvesse uma realidade que pudéssemos mudar, trazendo Deus para ela.

Compreendamos que não há nada a fazer quanto a Deus: há o que fazer quanto ao “o que semeares colherás”.

Se acreditamos numa lei de pecado, de matéria, de doença ou numa lei punitiva, será essa a marca que iremos imprimir à nossa vida e à vida dos que esperam de nós uma orientação espiritual.

Quando compreendemos que a natureza de Deus é amor, compreendemos também a palavra Graça. Compreendemos que o nosso bem nos vem pela Graça, e não por sermos merecedores ou dignos dela. Qual ser humano pode ser bom o bastante para merecer Deus?

Em relação a isso, quanto mais qualidades humanas tivermos, mais teremos o que varrer de nós antes de podermos perceber Deus.

Não podemos chegar ao ponto de merecer Deus: só podemos galgar o ponto em que a parte de nós que quer ser meritória, ou parece não sê-lo, seja removida do caminho e o nosso verdadeiro Eu seja revelado.

Nosso bem – físico, mental, moral ou financeiro – é nosso pela Graça divina, como um presente de Deus.

Não podemos ganhá-lo ou merecê-lo; não podemos influenciar Deus para que nô-lo dê, e nenhum ato, fato ou pensamento nosso é poderoso o bastante para impedir Deus de agir e de continuar operando.

Ainda que acreditemos que nossos pecados sejam escarlates, no momento exato em que percebemos nossa verdadeira identidade tornamo-nos brancos como a neve.

De fato, enquanto aceitarmos o Carma, isto é, enquanto aceitarmos a nós mesmos como apenas seres humanos,teremos a lei de Carma agindo em nossa vida, mas a lei pára de atuar tão logo assim meditemos: “Eu estou saindo, me separo, e agora vou viver sob a Graça”. E, no momento em que realmente estivermos vivendo sob a Graça, cairá em desuso a palavra “eu”.

Paramos de nos vangloriar de que o “eu” é bom e meritório, e paramos de nos condenar por ser o “eu” mau e indigno. Esquecemos mesmo o passado e reconhecemos que não vivíamos, uma hora atrás, e que não podemos viver daqui a uma hora.

O único momento em que podemos viver é AGORA, e agora estamos vivendo na Graça.

Agora não há pecado, doença, morte ou iniquidade – nada age em nossa consciência a não ser o Amor, o Amor de Deus, não o seu ou o meu amor, não um amor humano, mas o amor divino que é pura luz e nele não há trevas alguma.