"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, janeiro 07, 2015

Onde estão os Mestres?

 - Núcleo -

Encarnações da Divindade!

No Núcleo é dito: Perceba, desfrute e compartilhe. 

Por que os Mestres compartilharam suas percepções divinas? 

Porque as tendo eles as desfrutaram!

E viram que é bom! 

É bom viver em consciência de unidade com algo mais que a simples percepção da mente de nossos personagens.

Assim, por ver que é bom eles compartilharam suas percepções, que aparecem como escritos ou ensinamentos espirituais.

O que se segue é um excelente exemplo de uma dessas percepções compartilhadas, pois está escrito: 

"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

O que está EM nós é a Consciência do Ser Real, é Quem Somos!

O que está no mundo (voltada em direção ao mundo, que é uma representação) é a mente do personagem, que estamos sendo. 

Os Mestres "percebem" a Realidade de Quem Somos;

E a "desfrutam" {desfrutam esta percepção da realidade divina subjacente à representação}.

E a "compartilham" {compartilham a percepção da realidade}. 

Onde estão os Mestres?

Uma resposta assimilável pela mente seria: Em nós! 

Contudo, a real resposta não é o tipo de resposta assimilável pela mente, mas sim uma percepção! 

A percepção de que o Mestre está Em nós! 

Essa percepção de que o verdadeiro Mestre está Em nós não é assimilável pela mente. 

Apenas a percepção do próprio Mestre Em nós percebe o Mestre em nós!

Por isso Jesus compartilhou a seguinte percepção: "Eu Sou o Caminho, A Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim."

Do ponto de vista da mente, que percebe de forma dual e julga, esta percepção compartilhada por Jesus pode dar a entender que Ele se separou de todos, e que é o único Caminho, a única Verdade e a única Vida. E ainda, que é o Filho único de um Pai somente seu.

Contudo, o equívoco de uma interpretação mental deste tipo é que o que Jesus compartilhou foi uma percepção espiritual. E como está escrito: "As coisas espirituais se discernem espiritualmente." Sendo assim, espiritualmente a percepção da Consciência é unitária e não dual, como é a percepção mental. Portanto, o que Jesus de fato fez foi compartilhar a percepção de Quem Ele É para que nós também possamos perceber Quem Somos!

O que Jesus percebeu, desfrutou e compartilhou foi que: Eu e o Pai somos Um; E Quem Eu Sou é o Caminho, A Verdade e a Vida. Ninguém vem a Quem Eu Sou senão por Quem Eu Sou. Em outras palavras: Ninguém vem a [ninguém vem a perceber] Quem Eu Sou [que Eu Sou o Pai] senão por Quem Eu Sou [senão pela percepção do próprio Ser que Eu Sou, que é o Caminho, a Verdade, a Vida]. 

Jesus orou para que sejamos Um [para que tenhamos a percepção dessa Unidade] com Pai assim como Ele a tem; e compartilhou o que está expresso em João, 17;8-11:

"Pois Eu compartilhei com eles as palavras que me deste, e eles as aceitaram. Eles reconheceram, de fato, que vim de Ti e creram que me enviaste. Eu rogo por eles. Não estou orando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus. Tudo o que tenho é teu, e tudo o que tens é meu; e neles Eu Sou glorificado. Agora, não ficarei muito mais no mundo, mas estes ainda estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai santo, protege-os em Teu Nome, o Nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um."

Assim seja!

Namastê.


domingo, janeiro 04, 2015

Percepções conscienciais compartilhadas por Jesus

- Núcleo -

Divinos personagens,

Os ensinamentos contidos nos evangelhos são em verdade percepções conscienciais compartilhadas por Jesus!

Ele mesmo revelou este fato nestes termos: “Eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a Vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, assim como Ele me tem dito, assim falo.” [Jo 12:48-50]

Dentre os quatro evangelhos canônicos, o de João é o que contém a gama mais ampla de percepções conscienciais. Por isso é considerado o mais esotérico dos evangelhos canônicos.

Há um excelente livro, cujo título é: “Preleções sobre a interpretação do EVANGELHO SEGUNDO JOÃO à luz do ensinamento da Seicho-No-Ie", de Masaharu Taniguchi, que expõe muitas destas percepções conscienciais e que podem ser conhecidas por todos, por ser o ensinamento da Seicho-No-Ie plenamente nuclear.

Para efeito didático, as percepções conscienciais podem ser consideradas como revelações da Verdade pelo Ser. Ao expor uma destas revelações, Masaharu Taniguchi escreve na página 211 que: “Na literatura cristã existente até hoje, não há este tipo de interpretação mais profunda do Evangelho e não se compreende a Verdade, por mais que se leia as mais variadas preleções a respeito da Bíblia. Isso ocorre porque as preleções são feitas pelo homem carnal, e não pelo Espírito da Verdade. Eu consegui desvendar o mistério nele contido porque o Espírito da Verdade veio a mim e me fez compreender o seu significado.”

A forma pela qual o Espírito da Verdade veio a Masaharu Taniguchi – e pode também vir a todos nós [porque Deus não faz acepção de pessoas] –  está contida na seguinte revelação: “Ninguém vem a Mim se meu Pai não lhe trouxer”.

Muitos sinceros buscadores espirituais pensam que devem se esforçar para tentar negar ou neutralizar a visão dual – a percepção mental – para ter a visão unitária – a percepção consciencial.

Contudo, este esforço do personagem é em vão porque atua sobre a própria “mente do personagem” na tentativa de negá-la ou neutralizá-la, enquanto somente o próprio Ser pela “Consciência do Ser” pode transcender a percepção da mente e perceber-Se! Assim, o sentido da revelação de Jesus: "Ninguém vem a Mim se meu Pai não lhe trouxer” é este: ”Ninguém vem a Mim [o Filho / a porta / a percepção consciencial] se meu Pai [Deus/a Consciência do Ser] não lhe trouxer”. Em termos da linguagem usada no Núcleo pode ser dito que só Deus, que é a própria Consciência, percebe consciencialmente.

Cada declaração de Jesus tem um profundo significado espiritual que deve ser apreendido espiritualmente. Assim, ao dizer: “Ninguém vem a Mim se meu Pai não lhe trouxer”, Jesus está revelando que só podemos chegar a Deus, que só podemos ver Deus, com a própria visão de Deus – com a “visão de Deus EM nós”; pois, ninguém, com a visão dos cinco sentidos, com a visão mental jamais viu a Deus. Isso não tem nada a ver com negar ou neutralizar a percepção da mente, que é o objetivo de muitos que estão no caminho espiritual, e que se julgam “mais evoluídos” que aqueles que ainda não estão na busca espiritual… Contudo, se há algum objetivo a ser atingido, este é perceber Quem percebe EM nós; é perceber que “somos o próprio ator” e não ”personagens”. Aquele que sabe ser “o Ator”, que percebe Quem É, sabe que todos os “personagens” são apenas isso: personagens, ou seja, são “personas”, ”máscaras que velam o Ser”, que encobrem a real identidade de Quem todos Somos!

O que cabe ao personagem é tão somente desempenhar na representação divina o seu papel com a consciência de que “não é quem está sendo”, e sim que é “Quem É”, ou seja, com a consciência de que não é o “personagem” mas que é o “Ser Real”, o “Ator”! Isso é “ter fé” na revelação divina, como o fez Jesus ao se defender da acusação de blasfêmia por se declarar Filho de Deus dizendo: “Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo” e complementou: “Se a palavra de Deus a quem é dirigida não pode falhar, dizes que blasfemo por dizer que sou Filho de Deus?”. Esta é uma das passagens bíblicas mais reveladoras entre todas as que foram compartilhadas por Jesus! Trata-se da passagem bíblica que divide os que apenas “acreditam” nestas palavras ditas por Jesus dos que realmente “crêem” em Jesus, os que têm fé!

Acreditar significa literalmente “dar crédito” a uma interpretação mental sobre esta libertadora revelação contida nas Sagradas Escrituras. A visão mental não admite como aplicável a revelação de que “sois todos filhos do Altíssimo” a não ser ao próprio Jesus ou a aqueles “personagens” a quem a palavra de Deus foi dirigida. Ou seja, a visão mental acredita que esta revelação se refere apenas aos personagens aos quais foi dirigida, da forma como o fizeram os judeus que não reconheceram esta revelação divina como aplicável a Jesus, e assim, também não será aplicável a quem vive atualmente. Esta “interpretação mental” não leva em conta que “a palavra de Deus” é dirigida “aos vivos”; por isso Jesus fez a advertência: “Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” e completou dizendo que: “Ele não é Deus de mortos e sim de Vivos.” [Mt 22:29 e 32]

“Ouvindo isso as multidões se maravilhavam de sua doutrina.” [Mt 22:33]

Fé é a percepção divina – a percepção consciencial – que existe EM nós; e não deve ser confundida com a simples “crença”, com o mero “acreditar”, que é percepção mental.

Enquanto o “acreditar” está no âmbito da “mente do personagem” a “fé” está na dimensão da “Consciência do Ser”; está no “reino de Deus” que está dentro de nós! Por isso “fé” no Núcleo significa “percepção” – a percepção divina – percepção do Espírito de Deus – percepção da Consciência do Ser, do Deus Verdadeiro, que é nossa própria Vida; que nos conscientiza de que: “É Cristo Quem Vive EM nós.”

A revelação sobre a percepção divina não vem de um personagem. Cristo não é um “personagem”, mas o Ser Real!

Por isso Jesus disse: “Eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a Vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, assim como Ele me tem dito, assim falo.” [Jo 12:48-50]

Nesse mesmo sentido, outro dos ensinamentos de Jesus, que revela sua percepção de “Quem faz”,  é este: “Eu de mim mesmo nada faço; o Pai em mim é Quem realiza as obras.” O “eu” se refere a sua percepção mental, ou seja, se refere à “mente do personagem Jesus”; e o “Pai em mim” se refere a sua “consciência de Unidade com Deus”, a sua percepção consciencial. A "obra” que só "o Pai em nós" é capaz de realizar é perceber-Se e revelar Quem é o Filho de Deus! Por isso Jesus, que sabe, por revelação do Pai, que é Filho de Deus, conhece também a verdade da revelação divina expressa na declaração: “Eu disse: Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo.”

Ao revelar que “Ninguém vem a Mim se meu Pai não lhe trouxer”, Cristo está nos libertando da crença de que somos nós, enquanto personagens, que podemos, com nossas crenças, irmos a Ele... Ou seja, este é um esforço inútil, uma pretensão despropositada! A conscientização de “Quem faz” é "Quem realiza as obras"; e é Quem nos revela nosso verdadeiro "Eu", o Ser que nos torna conscientes de que “Eu e o Pai somos Um”;  É a conscientização, a percepção de que “é Cristo que Vive em mim” que EM nós nos conduz ao “reino de Deus”.

Na linguagem budista se diria: “É a natureza búdica quem percebe Buda.”

Na linguagem de Masaharu Taniguchi se diria: “É a percepção da Imagem Verdadeira que percebe a Imagem Verdadeira.”

O sentido de: “Ninguém vem a Mim se meu Pai não lhe trouxer” equivale a: "Ninguém vai ao Pai senão por mim."

Assim, o personagem não deve ter a pretensão de “fazer por ele mesmo”, ou seja, de chegar a Cristo negando ou neutralizando a visão da mente do seu personagem, mas sim, conscientizando-se de que não é pela crença, pelo "acreditar nas palavras de Deus" que se chega a Ele, mas pela percepção, pela "fé na palavra de Deus", vivendo-a como verdadeira e aplicável a nós na nossa Vida! É percebendo que o próprio Cristo EM nós, a porta, está dizendo: “Ele não é Deus de mortos e sim de Vivos” que “entramos no reino de Deus”.

O caminho para essa "porta", o Cristo que vive EM nós, é este: “Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus.” [Sl 46:10]

Em outras palavras: “Aquieta a sua mente e perceba que Eu Sou Deus”. Trata-se, portanto, de uma “percepção”, algo que está em nós e que emerge quando simplesmente “aquietamos a mente”, sem tentar negá-la e sem neutralizá-la! A mente é apenas um instrumento e continua operando sem interferir quando a colocamos no “modo contemplativo”. Neste modo o Espírito da Verdade vem a nós e nos revela que: “Ninguém vem ao Filho se o Pai não lhe trouxer”.

Uma outra metáfora possível pode ser esta: O Pai é a própria “casa”, a Consciência do Ser, que nos revela “a porta” de acesso a Si mesmo, que é a percepção consciencial, o Filho. Assim, em termos práticos, para ativarmos o modo contemplativo da mente, devemos ser guiados pela Consciência, que é Quem Somos, e levarmos a mente ao estado de concentração, a princípio, e em seguida ao estado de contemplação. Com a mente em estado contemplativo tudo passa a revelar a Vida de Deus; a onipresença de Deus, o próprio Deus! É a percepção do universo da Consciência do Ser, de Sua Realidade, por ela mesma; o que no Núcleo é chamada de ”percepção consciencial” ou meditação.

Assim, o “Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus” é uma revelação divina que contém o modo de ativar a percepção em duas etapas: A primeira é “aquietar a mente”; e a segunda é “saber Quem Eu Sou”, ou seja, é perceber-Me, que é a percepção do Eu Verdadeiro, do seu próprio Ser; que é, portanto, perceber-Se [em unidade com Aquele que É]!

É assim como o Espírito da Verdade vem a nós. Vem pelo Pai, pois, “ninguém vem a nós se o Pai não lhe trouxer”.

Namastê!


quinta-feira, janeiro 01, 2015

O Medo de Perder (sobre o desapego)

 - Ordem Rosacruz -


Um dos maiores obstáculos para uma vida plena, harmônica, mais expressiva e significativa, é o medo de perder; sobretudo, o medo de perder alguém, o medo de perder alguém que nós dizemos amar, o medo de perder a esposa ou esposo, os filhos, os amigos, o patrão, o empregado, o cliente. Esta emoção é a principal responsável pelo nosso sofrimento vital.

O medo de perder é o medo de nos tornarmos dispensáveis para a pessoa com a qual nos relacionamos. O medo de perder se reveste de mil e uma formas, aparece sob mil disfarces: medo de sermos criticados por alguém, medo de que falem mal de nós, medo de que nos humilhem, medo de sermos abandonados, medo de sermos rejeitados, medo de não sermos importantes, medo de não sermos ilustres, medo de sermos menosprezados, medo de não sermos amados, medo da solidão. E tudo isso pode ser designado mais claramente por uma palavra: - ciúme.

O ciúme é o medo de não ter alguém, de não possuir alguém, de não vir a ser dono de alguém. Na relação ciumenta, colocamos nós e o outro como objetos. Nesta relação, pessoa e objeto são a mesma coisa. No ciúme, temos medo de sermos algum dia considerados inúteis, dispensáveis a outra pessoa.

Esta é a emoção do sofrimento, a emoção do apelo, a emoção da relação confusa, misturada, dependente. E o que a agrava é que na nossa cultura aprendemos do ciúme como sendo amor. E o ciúme é justamente o contrário. O ciúme é o oposto do amor.

Na relação amorosa, existe identidade: - "Eu sou independente de você!"

Na relação ciumenta, por outro lado, na relação objetal, perde-se a identidade: - "Eu, sem você, não valho nada. Você é tudo para mim!"

O amor é solto, é livre, vem de querência íntima, está diretamente ligado ao sentido de liberdade, de opção, de escolha. O ciúme prende, amarra, condiciona, determina.

"Com esta emoção, eu já não sou eu; sou o que o outro quer que eu seja. E eu sou o que o outro quer que eu seja, para que ele também seja o que eu quero que ele seja." No ciúme, há um pacto de destruição mútua, em que cada qual usa o outro como garantia de que não estará sozinho: - "Eu me abandono para que o outro não me abandone, eu me desprezo para que o outro não me despreze, eu me desrespeito para que o outro não me desrespeite, eu me destruo para que o outro não me destrua."

O ciúme é o medo de ser dispensável a alguém, e o mais grave talvez esteja aqui: passamos a vida inteira com medo de nos tornarmos para os outros um dia o que nós já somos - totalmente dispensáveis. O homem é, por definição, dispensável, transitório, efêmero, aquilo que passa - e isto é bastante real. Em todas as relações que temos hoje somos substituíveis. O mundo sempre existiu sem nós, está existindo conosco e continuará a existir sem nós. Nós somos necessários aqui e agora, mas seremos dispensáveis além e depois. O medo de ser dispensável a alguém é o mesmo medo da morte, que também é real. O medo da morte é o ciúme da vida. É a vontade falsa, irreal, de sermos eternos, permanentes e imutáveis. O medo de perder nos leva a entender que as coisas só valem a pena se forem eternas, permanentes, duráveis. Uma relação só tem valor, neste caso, se tivermos garantia de que sempre será assim como é.

E como tudo é transitório, como tudo é mutável, como tudo é passível de transformação, o medo de perder nos leva a um estado contínuo de sofrimento. As consequências do ciúme são muito claras: - "Se eu tenho medo de que me abandonem, de me tornar dispensável a alguém, de que não me amem, ao invés de fazer tudo para ser cada vez mais, para ser cada vez melhor, eu vou gastar toda a minha vida, todas as minhas energias para provar aos outros que eu já sou o mais, que eu já sou o melhor, que eu já sou o primeiro.

Ao invés de empenhar esforços para ser um marido, por exemplo, cada vez melhor, um filho cada vez melhor, uma esposa cada vez melhor, um pai ou mãe cada vez melhor, um chefe cada vez melhor, uma empregada cada vez melhor, eu gasto minhas energias para provar à minha mulher, aos meus amigos, aos meus filhos, ao meu marido, ao meu chefe, ao meu empregado, que eu já sou o melhor pai do mundo, o que é mentira; o melhor marido do mundo, o que é mentira; o melhor amigo do mundo, o que é mentira; o melhor chefe do mundo, o que é mentira; o melhor empregado do mundo, o que é mentira!"; e assim por diante.

O ciúme nos conduz ao delírio da onipotência. Os nossos atos, as nossas iniciativas, a nossa conversa, o nosso comportamento, as nossas considerações, tudo é para mostrar aos outros que nós já somos bons, fortes, capazes e perfeitos.

Aqui está a diferença básica, fundamental, entre o medo de perder e a vontade de ganhar. O medo de perder é assim: - "Ganhamos, ninguém vai nos tomar. Gastaremos todas as energias para defender o que nós já possuímos, para conservar o que já ganhamos. Nós já chegamos ao ponto máximo, só temos que perder". A vontade de ganhar, por outro lado, é assim: - "Estaremos sempre ativos, descobrindo as oportunidades do ganho. Procuraremos ganhar cada vez mais, ao invés de nos preocuparmos com possíveis perdas. O que nós temos de mais sagrado é a nossa própria vida, e esta, nós já vamos perder".

Todas as outras perdas são secundárias. O medo de perder é reativo, defensivo, justificativo. As pessoas ciumentas estão sempre com um pé atrás e outro na frente. Sempre se prevenindo para não perder, sempre se preparando, sempre se conservando. As pessoas com vontade de ganhar estão sempre ativas, sempre optando, arriscando. O medo de perder é a vivência do futuro, é a vivência antecipada do futuro, é preocupação. A vontade de ganhar, por outro lado, é a vivência do presente, é a vivência da beleza do presente. Em tudo, a cada momento, existem riscos e existem oportunidades. No medo de perder, a pessoa só vê os riscos. Na vontade de ganhar, a pessoa vê os riscos mas, sobretudo, vê também as oportunidades.

Cada momento da vida é um desafio para o crescimento. A vontade de ganhar, a qual nos referimos, não significa ganhar de alguém, mas ganhar de si mesmo, ser cada vez mais, estar sempre disposto a dar um passo à frente, estar sempre disposto a crescer um pouco mais. É importante termos sempre para nós que hoje podemos crescer um pouco mais do que éramos ontem; descobrir que ninguém chegou ao seu limite máximo, e que idade adulta não significa que chegamos ao máximo de nossa potencialidade. Não existe pessoa madura. Existe, sim, a pessoa em amadurecimento. Todo o nosso sofrimento vem de uma paralisação do crescimento pessoal e cada um de nós sabe muito bem onde paralisou, onde a nossa energia está bloqueada, onde não está havendo expansão da nossa própria energia. Ainda não vimos, ate hoje, um relacionamento se deteriorar sem uma presença marcante do ciúme, do desejo de sermos donos da outra pessoa, de uma ânsia de mais poder e controle sobre os pensamentos, os sentimentos e as ações da pessoa a quem dizemos amar. O ciúme é a doença do amor, é um profundo desamor a si mesmo e, consequentemente, um desamor ao outro.

Pelo ciúme, se estabelece uma relação dominador/dominado. O ciúme é a dor da incerteza com relação aos sentimentos de alguém no futuro. É a raiva de não possuir a segurança absoluta do relacionamento, do futuro. É a tristeza de não saber o que vai acontecer amanhã. Alias, o que dói no ciúme é a insegurança do futuro, é a insegurança do desconhecido. A loucura esta aí: - Passamos a vida inteira tentando conseguir o que jamais conseguiremos - segurança! A segurança não existe, não existe nada. Ser seguro não significa acabar com a insegurança, mas aceita-la como inerente a natureza do homem. Ninguém pode acabar com o risco do amor. Por isso, só é possível estarmos em estado de amor, se sabemos estar em estado de risco.

Desperdiçamos o único momento que temos, que é o agora, em função de um momento inexistente, o futuro. Parece que as pessoas só valem para nós no futuro. Nós não curtimos hoje o relacionamento com a mulher, com os filhos, com os amigos, sofrendo pela possibilidade de um dia não sermos queridos por eles. O filho, por exemplo, parece que só nos é importante amanhã quando crescer, se formar, quando casar, quando trabalhar, etc. Até hoje ainda não conhecemos um pai preocupado com o futuro dos filhos que estivesse brincando com eles. Em geral, não têm tempo porque estão muito preocupados em assegurar-lhes um futuro brilhante. O ciúme é a incapacidade de vivenciarmos hoje a gratuidade da vida. Hoje é o primeiro dia do resto da nossa vida, querendo ou não. Hoje estamos começando, e viver é considerar cada segundo de novo. A cada dia, o seu próprio cuidado. O medo daquilo que me pode acontecer tira minha alegria de estar aqui e agora, o medo da morte tira-me a vontade de viver, o medo de perder alguém tira-me a beleza de estar com ele agora.

Aliás, quando temos medo de perder alguém, é porque imaginamos que as pessoas são nossas. Ninguém pode perder o que não tem e nós sabemos que ninguém é de ninguém. Cada pessoa é unica e exclusivamente dela mesma. Esta é outra falsidade. Podemos perder um livro, um isqueiro, um baralho, uma bolsa, porém jamais uma pessoa. O sinônimo do medo de perder é a obsessão do primeiro lugar. O que é a obsessão do primeiro lugar? É colocarmos nos outros a tarefa impossível de sermos sempre os primeiros em todos os lugares e em todas as circunstâncias. Se é em casa, queremos ser o primeiro; no trabalho, queremos ser o primeiro; numa reunião, queremos ser o primeiro; no futebol, queremos ser o primeiro; num assunto especifico, queremos ser o primeiro; e em outro assunto qualquer, sempre o primeiro. O primeiro lugar é amarelante, deteriorante, ao passo que o segundo lugar é esperançoso, é reverdejante, pois quando alguém chegou ao cume da montanha, só lhe resta um caminho: começar a descer. No segundo lugar, ainda temos para onde ir, para onde crescer. A postura do segundo lugar nos leva ao crescimento, ao crescimento contínuo. Por que você não se decreta no segundo lugar, mesmo quando esteja ocupando socialmente e eventualmente o primeiro lugar? O segundo lugar, não em relação ao outro, mas em relação a você mesmo, ou seja, ainda temos por onde crescer e melhorar.

Você sabe por que o mar é tão grande, tão imenso, tão poderoso? É porque teve a humildade de se colocar alguns centímetros abaixo de todos os rios do mundo. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, alguns centímetros acima de todos os rios, não seria o mar, mas uma ilha. Toda a sua água iria para os outros e ele estaria isolado. E, além disso, a perda faz parte, a queda faz parte, a morte faz parte. É impossível vivermos satisfatoriamente se não aceitarmos a perda, a queda, o erro e a morte. Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer. Não é possível ganhar sem saber perder, não é possível andar sem saber cair, não é possível acertar sem saber errar, não é possível viver sem saber morrer. Em outras palavras, se temos medo de cair, andar será muito doloroso; se temos medo da morte, a vida é muito ruim; se temos medo da perda, o ganho nos enche de preocupações. Esta é a figura do fracassado dentro do sucesso. Pessoas que quanto mais ganham, quanto mais melhoram na vida, mais sofrem. Para a pessoa que tem medo de ficar pobre, quanto mais dinheiro tem mais preocupada fica; para a pessoa que tem medo do fracasso, quanto mais sobe na escala social, mais desgraçada é a sua vida. Em compensação, se você aprende a perder, a cair, a errar, ninguém o controla mais. Pois o máximo que pode acontecer a você é cair, é errar, é perder, e isso você já sabe. 

Bem-aventurado aquele que já consegue receber, com a mesma naturalidade, o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte.


segunda-feira, dezembro 29, 2014

Onde está Jesus?



Onde está Jesus ?

Para a percepção mental, para a qual existe tempo e espaço, Jesus viveu há dois mil anos e foi condenado a morte por crucificação. Mas, o Cristo que ele personificou é imortal; Ele é a Consciência de Deus em nós. Cristo está vivo em nós! A percepção de Deus em nós nos torna conscientes da condição de "Filhos de Deus", como Jesus Cristo referia a si mesmo. 

Ele expressou de várias formas e muitas vezes essa percepção de que Deus está em nós.
Para ativarmos essa percepção é preciso desejarmos estar com a atenção voltada para a realidade divina em nós. Na Bíblia está escrito: "Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, cogitam das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, dá para a vida e paz." (Rm 8.6). Assim, nossa atenção pela realidade humana, as preocupações do mundo, a realidade percebida pela mente, nos induz a estarmos inconscientes da realidade divina da qual somos expressão. Isso é o que dá para a morte. Em realidade estamos em Deus, somos a evidência da presença de Deus. Essa é a percepção que "dá para a vida e paz".

A percepção da mente do personagem, que estamos representando, nos faz acreditar na verdade de que "somos do mundo"...  Contudo, a percepção da Consciência do Ser, que realmente somos, nos faz conscientes da verdade de que nós deste mundo não somos.

Então, onde está Jesus?

Alguns dizem que Jesus foi o homem que morreu há dois mil anos e que tinha esse nome, e que Cristo foi o espírito de Deus que Se expressou através de Jesus. Essa é uma explicação mental. Contudo, nenhum homem tem vida em si mesmo. A vida é de Deus. O homem consciente desta realidade sabe que não tem vida separada de Deus.

Aquele que não está consciente desta realidade está condenado a viver a vida que imagina. A Bíblia chama a condição em que se encontram estas pessoas de "escravos do pecado"... Pecado é ignorar que o Espírito Santo existe e que está em nós, em nossa realidade divina. Estes que não ignoram esta realidade da verdade divina, são os chamados filhos de Deus. 

Na Bíblia está assim escrito: "Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis. Pois, todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." (Rm 8.13-14).

Aqueles que interagem com o Espírito de Deus, que ouvem a voz da Consciência divina, e que a seguem, são os chamados filhos de Deus. É esse Espírito de Deus em nós quem nos conscientiza de que somos filhos de Deus. Na Bíblia revela que: "O próprio Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16). No Núcleo nós dizemos que: é a Consciência do Ser (Espírito) quem revela à mente do personagem (nosso espírito) o que realmente somos.

Então, voltando à questão inicial, onde está Jesus?

Jesus é o revelador da verdade de que o Espírito Santo, o Espírito de Deus, existe em nós! O que faz essa "mediação", essa "ponte" de percepção entre a realidade que vivemos, a realidade humana, que percebemos mentalmente, e a realidade divina, que podemos perceber consciencialmente, esse é Jesus, o Cristo, chamado "mediador entre Deus e os homens". Sem essa mediação, sem essa ponte de percepção entre as realidades, não acendemos à percepção de que Deus é a nossa verdade. É na dimensão consciencial que encontramos o Cristo vivo!

Para os homens, Jesus morreu há dois mil anos na dimensão humana percebida pela mente (mundo da representação). Mas, ele pessoalmente respondeu com ênfase que: "Antes que Abraão existisse Eu Sou". Jesus deixou claro que existia antes de Abraão, ou seja, ele existia antes de haver nascido como Jesus. Isto é real. Ele está em nós, na realidade da Consciência do Ser, que somos.

Para despertar a percepção consciencial precisamos ativar essa interação com o Cristo que vive em nós. Se não Ele continuará sendo um ponto inacessado em nossa consciência.

Essa interação se faz em três etapas: pelo silêncio, pela oração e pela meditação. Pela oração nós falaremos com Deus e pela meditação nós O ouviremos. Contudo, não devemos começar pelo fim, mas pelo início...

A primeira etapa fundamental é o silêncio. Trata-se de um tipo especial de silêncio, um silêncio contemplativo. Antes de falar com Deus, fique em silêncio, e conscientize-se do ato que está por fazer: Falar com Deus. Depois, ore. Das orações possíveis, escolha se possível a oração de agradecimento. Faça novamente silêncio. Ouça! Dê uma chance para que Deus fale com você. Medite. Meditar é perceber consciencialmente. Enquanto houver "vozes" falando com você, isso ainda não será a voz de Deus, mas apenas vozes mentais.

A voz de Deus tem a característica de ser inconfundível. Enquanto houver dúvidas tenha a certeza de que essa não é a voz de Deus. A "voz de Deus" nem sempre são "palavras". Ela se manifesta como uma percepção clara. Por exemplo, nesse exato momento Deus, a voz do Ser em Mim, me revela que este texto aqui é muito importante para alguém e que ele deve ser publicado.

Eu, o personagem, não teria necessidade alguma de estar enviando isso. Muitas vezes escrevo e não envio, apenas interajo com Deus, e me realizo simplesmente assim. Mas agora estou "consciente de que" (poderia escrever "estou ouvindo que", mas eu não ouvi nada, apenas "percebi" ) devo fazer isso, que devo compartilhar isso com alguém.  É assim que sigo, sem questionar, a "palavra de Deus", voz interna às vezes sem palavras.

Esse texto pergunta: onde está Jesus?  E cada um deve obter a resposta interna.


sábado, dezembro 27, 2014

Vá para o Núcleo!

- Núcleo -


Vá para o Núcleo e perceba Quem você É; atente bem: perceba Quem você É!

O Núcleo não é um local físico mas sim a essência do Ser. Há uma "voz" interna que provém de uma Fonte, que é a Consciência do Ser, que é seu Eu Real, sua identidade verdadeira. O Ser é consciente e desperto, por isso não há necessidade de despertar sua Consciência. A Consciência do Ser que você é já está plenamente desperta. Tudo o que você tem a fazer é despertar a percepção que te possibilita se sintonizar com esta Fonte Interna, que no livro de Apocalipse é chamada de "Fonte da água da vida"

Enquanto ser humano, você está apenas mentalmente desperto, ou seja, consciente de sua identidade humana, mas sua identidade verdadeira é a de Cristo, o filho de Deus. A mente humana, por sua natureza dual, não percebe esta suprema Identidade Universal, nem mesmo sequer a concebe e jamais a perceberá. Mas há um sentido em você que te capacita “perceber” sua real identidade: é a "Percepção Consciencial". É a capacidade de perceber que "Eu Sou", de perceber a real identidade de Quem realmente faz! É a capacidade de atribuir, imediatamente, diante de tudo, "glória" ao Criador. 

Por isto a tudo dê glória a Deus, pois é Ele Quem faz! E então você ouvirá: “Este é o meu filho amado em quem me comprazo”. Quando "ouvir" esta "voz", saberá que a sua percepção está desperta e que você é Uno com Cristo, que está em Unidade com o filho de Deus. Então você agradecerá e agradecerá. [Agradeça por estar sendo orientado pelo Ser se já puder perceber a Fonte.]

Esteja consciente de que o "passo" na direção de despertar esta percepção não depende de Deus mas de você; ou seja, não depende do Ser enquanto Ser, mas do ser humano enquanto ser humano. O Ser enquanto Ser já é "atemporalmente desperto". A mente do ser humano é quem cria a imagem de separação e é também ela quem pode criar a imagem de unidade. Mas atente bem: tanto a imagem de separação quanto a imagem de unidade se sobrepõem ao Ser e impedem que Ele seja percebido. Porém, a imagem de unidade gera a estabilidade necessária à percepção do Divino. Perceba tudo como sendo motivado por uma Fonte Única. Assim perceberá que esta é a mesma Fonte do Ser que está manifesta em você desde a eternidade. Esta é a glória que já estava em você “antes que houvesse mundo”

Foi isto o que Jesus soube sobre si mesmo. Ele percebeu “Quem Ele era” e “Quem faz”. Você é capaz de perceber que não fez nenhum dos órgãos do seu corpo e que mesmo assim eles existem e funcionam? Você é capaz de perceber que o ser humano não fez a natureza e que mesmo assim ela existe e funciona harmoniosamente? Perceba - simplesmente perceba! - que em tudo há uma inteligência sobre-humana, uma Consciência fantasticamente Divina e atuante, porque tudo o que existe está em Deus de eternidade a eternidade. Portanto você também está em Deus. Por que então se preocupar, sabendo ser parte de Mim e do Ser que Eu Sou? 

Jesus declarou: "Aquele que não crê em Mim, não é digno de mim". Renovo estas palavras: Creia em Mim e seja digno de Mim. Para crer em Mim você deve apenas Me perceber como sendo a verdadeira Fonte; em outras palavras, você deve “perceber Quem faz”. E para ser digno de Mim você deve Me perceber em tudo e agir com a consciência de que todos são filhos de Deus e não julgar. Ou seja, você deve interagir com o Ser e não deve reagir aos personagens. É habituando-se a perceber Minha Presença em tudo e em todos que você dará a si mesmo a chance de Se reconhecer, de saber sua Real Identidade natureza sua origem e filiação Divinas. 

Por isto aceite este convite: Vá para o Núcleo e perceba que embora Eu apareça como muitos só há UM de nós. Para despertar-se, perceba que por trás da aparente multiplicidade há apenas uma Única Fonte motivadora que É Deus. Há uma Única Vida: A Vida de Deus. Uma única verdade e um único caminho que são o próprio Deus manifesto como personagens e cenários. Saiba que estou Me dirigindo a você exatamente agora e que estou consciente de você; esteja também consciente de Mim. 

Desperte! Perceba a realidade de Quem você já É, e seja a Verdade; seja livre, seja feliz.


quarta-feira, dezembro 24, 2014

Uma reflexão sobre o Natal


- Núcleo -


Em 25 de dezembro se comemora em todo o mundo o nascimento de Jesus.

Mas, então, surge uma questão... Qual Jesus?

- Aquele de quem disseram: "Ainda não tens cinquenta anos e dizes que viu nosso pai Abraão?", ou aquele que disse: "Antes que Abraão existisse Eu Sou"? [Jo 8:58]

- Aquele que disse: "Eu Sou o pão que desceu do céu"? Ou aquele de quem disseram: "Este não é Jesus, o filho de José? Nós conhecemos o pai e a mãe dele. Então, como é que ele diz que desceu do céu?" [Jo 6:41]

Não há dúvida de que no natal se comemora o nascimento de Jesus, por sua condição de Filho de Deus, que fez muitas declarações que estavam acima da compreensão da maioria daqueles de seu tempo.

Ainda hoje é assim!

Muitos ainda seguem o Jesus, Filho de José... embora ele mesmo tenha declarado que, em verdade, Ele é aquele que desceu do céu!  

Muitos ainda seguem o Jesus, que não chegou a ter cinquenta anos... embora ele mesmo tenha revelado ser aquele a quem Deus amou antes que houvesse mundo. [Jo 17:24].

Vejamos o testemunho de João Batista, um profeta que sabia interpretar os sinais do céu, e que conheceu pessoalmente a Jesus: "Vi o Espírito descer do céu como uma pomba e parar sobre ele. Eu não sabia quem ele era, mas Deus, que me mandou batizar com água, me disse: 'Você vai ver o Espírito descer e parar sobre um homem. Esse é quem batiza com o Espírito Santo.' E eu de fato vi isso e por esta razão tenho declarado que ele é o Filho de Deus." [Jo 1:32]

Agora que identificamos a qual Jesus estamos nos referindo – o Filho de Deus, em quem Deus Se compraz –, vejamos o que o próprio Jesus disse sobre o "nascimento", já que no natal é comemorado o Seu nascimento...   

Jesus disse a Nicodemos: "A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do Espírito de Deus." E completou: "Por isso não se admirem de Eu dizer que todos vocês precisam nascer de novo."  [Jo 3:6-7]

Eis aqui o núcleo dessa reflexão sobre o natal: Identificamos o "Jesus" e também o "nascimento" ao qual estamos nos referindo!

Estamos nos referindo ao Jesus eterno, atemporal, o Filho de Deus que nos advertiu que todos nós temos que "nascer espiritualmente"!

Esse nascimento espiritual nos fará cogitar das coisas de Deus, porque, como está escrito na Bíblia, em Romanos 8:5, "os que vivem como a natureza humana têm as suas mentes controladas por ela. Mas os que vivem como o Espírito de Deus têm suas mentes controladas pelo Espírito. Ter a mente controlada pela natureza humana produz morte; mas ter a mente controlada pelo Espírito produz vida e paz".

Então esse é o verdadeiro "natal" que devemos comemorar: O do "nascimento" do Espírito de Deus em nós, que nos faz pender para as coisas de Deus, que nos dá Vida e Paz! O "nascimento" que nos leva a viver em Unidade com o Filho de Deus, que assim orou a Deus: "Eu estou neles, e tu estás em mim, para que eles sejam completamente unidos, a fim de que o mundo creia que me enviaste e que os amas como também me ama." [Jo 17:23]     

Notem que revelação: "... e que os amas como também me ama."

Assim, por essa oração percebemos que "viver em Unidade com o Filho de Deus" nos torna conscientes do Amor de Deus por nós!  

Enfim, a "reflexão sobre o natal" nos levou a essa mensagem do eterno Amor de Deus por nós, através da oração de Seu Filho amado, que é Aquele que verdadeiramente "desceu do céu e fez nascer em nós o Espírito de Deus", e por isso comemoramos!

Com essa mensagem de Amor universal, desejo a todos um Feliz Natal!


segunda-feira, dezembro 22, 2014

O renascimento do Eterno

 - Núcleo -


Divinos personagens,

Está escrito: “Eu Sou o que Vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno.” (Apocalipse 1:18)

Poderia se indagar: Como é possível ao que é Eterno ter estado morto? Ou como é possível ao Eterno nascer novamente?

Do ponto de vista da percepção mental, que é dual, parecem fazer sentido estas indagações. Mas o ponto a ser notado aqui é precisamente este: a mente é quem faz estas indagações e é também quem vê sentido nestas indagações!

Do ponto de vista da percepção consciencial, que é unitária, estas indagações não fazem sentido.

Assim, a interpretação que se deve dar a esta revelação divina é esta: "Eu Sou o que Vive (conforme a percepção mental); estive morto, mas eis que (conforme a percepção consciencial) estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno."

Outro ponto a ser notado aqui é que “morte e inferno” pertencem à Representação (mundo dos personagens) e não à Realidade Divina (universo do Ser Real). Aqui a Consciência do Ser está revelando que tem as chaves da representação! O Ser Real está plenamente consciente de que a representação é uma representação. Já a mente do personagem toma como real o que é uma representação. E é isso que torna possível a representação divina ser encenada com tamanho realismo!

Assim, o Ser que é Real, que É Quem É, e que se revela como Eu Sou, está revelando que É o que Vive! E que está Vivo por toda a eternidade!

Ao dizer que “estive morto”, o Ser revela que assumiu um personagem na representação que “morreu”, mas que Ele está Vivo por toda a eternidade! E revela ainda que aquele que morreu na representação tem as chaves da morte e do inferno. Aquele que morreu na representação é chamado em algumas passagens bíblicas de Cordeiro de Deus, por ser o personagem no qual Deus se ofereceu em sacrifício para revelar que a vida verdadeira é a Vida de Deus, que é Eterna. E o divino personagem Jesus Cristo que foi enviado pelo Pai disse: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas Eu vos tenho chamado amigos, pois tudo o que ouvi de meu Pai Eu compartilhei convosco.”

E tendo compartilhado tudo o que ouviu, de Jesus foi revelado ainda que “a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”

E conhecer Jesus é perceber que é ele Quem revela: Eu Sou o que Vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno.

E conhecer Jesus é renascer por saber que Ele é o Eterno que Vive EM nós e que sendo a Verdade tem as chaves da libertação tanto da morte quanto do inferno em que vivem os que estão imersos na representação!

Seja amigo de Cristo, ouça Suas palavras e compartilhe o que dele ouviu, tal como Ele divinamente o fez!

Transcenda os limites das ilusórias indagações mentais; e eleve-se do simples acreditar em um Cristo distante e separado de você à verdadeira fé que te faz perceber que o real Cristo está vivo Em você pela eternidade! Enfim, perceba e promova o “renascimento do Eterno” que Vive em você!

Pelo natal, meus votos de um feliz “renascimento do Eterno” em você!


sexta-feira, dezembro 19, 2014

Desperte! Perceba!

- Gustavo -

“O único saber necessário é que nenhum saber é necessário.

O único aprendizado necessário é aprender que nenhum aprendizado é necessário.

Ser quem você é em sua totalidade não requer nenhum saber, nenhum aprendizado, requer apenas que você seja – Aquilo que você já é”.


O estado de iluminação é o estado de consciência tido como meta por muitos de nós. Em geral nós, os personagens, pensamos que devemos fazer ou deixar de fazer algo a fim de podermos alcançar esse estado transcendente e beatífico de consciência. Julgamos existir uma consciência adormecida que deve ser desenvolvida, despertada ou mesmo iluminada. Acreditamos não termos a “percepção mística” tão amplamente falada e comentada pelos mestres iluminados e pelas escrituras. E a partir de todos esses julgamentos, pensamos ser necessário fazer ou deixar de fazer alguma coisa a fim de podermos obter, acionar ou ativar a percepção consciencial. Muitos de nós, personagens, utilizamos os mais variados métodos e artifícios a fim de conseguir atingir ou ativar essa percepção. Todavia esse é um procedimento equivocado. E aqui será esclarecido por quê.

Em se tratando da Consciência do Ser (e de todas as coisas relacionadas à Consciência do Ser), o personagem é impotente. É impotente por ser ilusório, irreal. Ele (o personagem) não vive, mas pensa que vive. Ele não está no controle, mas pensa que está. O personagem pensa que tem o poder de fazer suas ações contarem, mas elas não contam.

Considere o seguinte exemplo: Todos conhecemos as historinhas da "Turma da Mônica". Nessas histórias acompanhamos a vida de vários personagens como a Mônica, o Cebolinha, o Cascão e a Magali. Podemos notar claramente o que todos esses personagens são: apenas personagens. Os personagens são irreais, e existem apenas na dimensão de realidade dos quadrinhos. Um personagem fictício, como a Mônica ou o Cebolinha, não vive e não percebe a realidade onde vive o Maurício de Sousa, o autor das historinhas. Podemos compreender, também, que se o Maurício de Sousa não existisse (por detrás da realidade dos quadrinhos), os personagens jamais poderiam existir.

No universo da "Turma da Mônica", cada personagem poderia estar adormecido ou desperto. O que seria um personagem adormecido? Seria aquele cuja percepção estivesse confinada/limitada somente ao âmbito da história em quadrinho. E o que seria um personagem iluminado ou desperto? O desperto seria aquele que, além de estar consciente da realidade dos quadrinhos (realidade a qual pertence os personagens), está também consciente da existência do Maurício de Sousa. O personagem iluminado tem a plena consciência de que, perante o Maurício de Sousa, ele é uma existência impotente, irreal, nada. Ao mesmo tempo, o personagem iluminado percebe haver uma unidade essencial entre o "Maurício de Sousa" e "cada personagem" dos quadrinhos, inclusive ele próprio. A percepção da mente da personagem "Mônica" somente capta o que existe dentro da história dos quadrinhos. Para que a Mônica tomasse consciência do Maurício de Sousa e Sua realidade, o próprio Maurício de Sousa deveria desenhar a Mônica "percebendo" a existência/presença do Maurício de Sousa por trás dos quadrinhos. O ponto importante que vale notar é que: a personagem Mônica jamais conseguiria perceber a existência ou presença do Maurício de Sousa por si mesma (com a mente da personagem), a menos que o próprio Maurício de Sousa decidisse desenhar a história com a Mônica tendo esse "despertar". O personagem é um ser completamente impotente, irreal, que não apresenta condições nem mesmo para despertar.

Agora suponha que, na realidade dos quadrinhos (representação), todos os personagens estivessem inconscientes da existência do Maurício de Sousa. Então o Maurício de Sousa, desejando que os personagens se tornem cientes da Sua existência por detrás dos quadrinhos, decide iluminar um dos personagens – o Cebolinha – para que ele vá até aos outros personagens e conte a eles sobre a existência do Maurício de Sousa. Então Ele desenha o Cebolinha desperto, que comparece diante dos outros personagens e diz: "Quem me vê a mim, vê Aquele que me enviou." (João, 12:45), "as palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Maurício de Sousa, que está em mim, é quem as diz." (João 14:10), "Eu e o Maurício de Sousa somos um" (João 10:30), "Eu de mim mesmo nada posso fazer, o Maurício de Sousa em mim é quem faz as obras". Ao ouvir essas palavras, cada personagem poderia concordar ou discordar, acreditar ou não acreditar; mas perceba que a concordância/discordância e o acreditar/não acreditar são percepções que pertencem à mente dos personagens. As palavras do Cebolinha estão vindo do Maurício de Sousa (e não do personagem), mas a mente dos personagens só é capaz de perceber as palavras vindo através da boca do Cebolinha. Somente uma percepção que não provém da "mente dos personagens" é que estaria em real condição de avaliar e constatar a veracidade das palavras ditas pelo Cebolinha.

O mais importante a ser percebido nesse exemplo é que: a iluminação do Cebolinha não está no personagem "Cebolinha". O "Cebolinha iluminado" só aconteceu porque foi da vontade do Maurício de Sousa desenhar ele se iluminando. Da mesma forma que o Cebolinha iluminado, um personagem não iluminado jamais poderia existir nos quadrinhos se não fosse pelo desejo do Maurício de Sousa de desenhá-lo. O Cebolinha iluminado é tão irreal quanto qualquer outro personagem não iluminado. Assim, personagem iluminado ou não iluminado – ambos são irreais.

A mente dos personagens percebe apenas a realidade dos personagens. Para perceber o Ser e Sua realidade é necessário utilizarmos a percepção que está no próprio Ser. Essa percepção que provém da Consciência do Ser é chamada de "percepção consciencial". Nós existimos no mundo da representação como se fôssemos os personagens, mas podemos transcender a percepção da mente do personagem (percepção mental) e perceber a existência através da percepção que está no próprio Ser (percepção consciencial). Essa percepção já existe, já está ocorrendo, já está em atividade. Não é necessário desenvolvê-la ou despertá-la. Só o que devemos fazer é ativa-la. Mas como acionar ou ativar a percepção consciencial, que já existe? Para isso, uma compreensão sutil (muito importante!)  deve o tempo todo acompanhar o nosso intuito ou tentativa de “acionar” ou “ativar" essa percepção.

Primeiro devemos compreender que a “Consciência desperta” já está desperta, a "Consciência iluminada" já está iluminada. Essa percepção não se ativa por meio de alguma ação ou esforço de nossa parte. Ela é “ativada” quando compreendemos que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Como assim? Continue acompanhando. A percepção consciencial é ativada quando nos estabelecemos firmemente na compreensão de que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Por que é assim? Por existir uma unidade essencial entre o Ser e o personagem. O personagem, para poder existir no universo da representação, deve existir primeiro na Consciência do Ser. A totalidade do personagem (e tudo o que pertence à realidade do personagem) existe primeiramente no universo da Consciência do Ser.  

É exatamente como ocorre com um robô-mecânico-humano projetado por um engenheiro cientista: se o robô consegue piscar os olhos, sorrir com a boca, pronunciar palavras ou mover a cabeça, é porque essas ações foram primeiro idealizadas pelo engenheiro. Antes de tais ações existirem no robô, elas existiram primeiro no cientista. Um robô conseguiria ignorar seu cientista (criador) e realizar alguma ação que não foi programada? Não. Pois, até para poder “ignorar o cientista”, o robô deveria estar programado para fazê-lo. O robô não consegue realizar um único ato sem que o engenheiro tenha colocado-o “lá”. Perceba, então, essa relação de “unidade” que existe entre robô e o engenheiro.

A mesma relação existe entre o personagem e o Ser. O personagem não dá um passo sequer, sem que esse passo tenha sido dado primeiro na Consciência do Ser. O personagem não move um dedo, sem que o “movimento do dedo” exista antes em alguma espécie de "lugar". Procure enxergar intuitivamente onde fica esse "lugar" e você compreenderá que, embora não possa vê-lo, consegue constatar que ele existe. Esse "lugar" é a Consciência. O personagem não consegue pensar, raciocinar, sentir, intuir, sem que todas essas coisas estejam primeiro na Consciência do Ser. E, da mesma forma, o personagem não consegue se iluminar (despertar a consciência – perceber) sem que isso exista primeiramente na Consciência do Ser. Não há nada que possa estar no universo da representação sem existir primeiro no universo da Consciência do Ser. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam." (Salmos 127:1)

Quando empreendemos esforços (ou não-esforços) a fim de atingir um estado desperto de consciência, estamos sendo como “robôs tentando realizar ações independentes (separadas) que não foram colocadas lá pelo engenheiro”. Mas, e se o robô ficasse “louco” e passasse a tentar ações ou atos que não foram designados pelo engenheiro? O que dizer desse robô? Apenas que ele está “louco”, que algo “deu errado”, que “ele está com defeito”, ou que “ele está agindo em miragens, sonhos”. Contudo nenhum robô age assim, mas o ser humano sim. Em se tratando da iluminação, o ser humano age como se fosse possível haver separação total entre “personagem” e “Consciência do Ser”. É quando ele passa a buscar, estudar, orar, meditar, despertar, transcender – como se ele tivesse de realizar tais coisas por conta própria (agindo como se estivesse separado do Ser). E a iluminação ou despertar espiritual jamais tem a ver com “separação”, e sim com unicidade, unidade.

Qualquer coisa que nós, personagens, possamos fazer (ou deixar de fazer) – seja de ordem física, emocional, mental, psíquica, espiritual – só é possível por existir primeiramente no âmbito de uma Consciência Maior. Tudo o que fazemos está sob a égide dessa Consciência Maior. Nada escapa a essa Égide. Essa Égide é que deve ser considerada, compreendida, contemplada. Tudo o que é real está “lá”, nEla. Procure intuitivamente enxergar esse lugar. Estar consciente dessa Égide Maior é o modo de estarmos sempre no estado de unidade, ao invés de na separação. A fim de perceber essa Consciência-Égide-Maior, nós (personagens) não devemos sequer tentar percebê-la porque... a própria intenção ou ato de “tentar perceber” só nos é possível por existir primeiro na Égide dessa Consciência Suprema. Não há nada que possamos fazer para percebê-la, isto é compreensível? Basta perceber (diretamente, ou seja, de uma vez por todas, num só lance) que essa Consciência existe por Si mesma, e está acima de todas as coisas. Isso é o que é a percepção. E isso é tudo o que necessita ser “feito”.

Assim, o que devemos fazer para despertar? O que devemos fazer para ativar a percepção? Basta perceber essa Consciência-Égide-Suprema. Note que não é possível percebê-la com a percepção que se origina do personagem (pois a “percepção que funciona a partir da capacidade personagem” existe primeiramente na Consciência do Ser – não é a percepção do Ser). É apenas com a percepção que está na própria Consciência que é possível perceber a Consciência. A Consciência já está desperta. Quando nos volvemos para ela, em pura compreensão (atravessando toda a realidade, elementos e aspectos do personagem), isso é meditação, é percepção consciencial.

Estamos cercados totalmente – por todos os lados. Há algo que possamos fazer (ou deixar de fazer) sem que isso esteja nos domínios desta Consciência Suprema? A resposta é “não”. O próprio Salmista disse:

"SENHOR, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar. Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá." (Salmos 139: 1-10)

Essa Consciência é tão alta, que nós (personagens) não podemos atingi-la. Mas podemos compreender que ela existe e está por detrás de tudo, porque nada existe que não esteja primeiramente nos domínios dessa Consciência.

Quando um personagem aqui na terra se ilumina, a iluminação verdadeira não consiste na situação de que ele, o personagem “x”, deixou de ser um personagem não-iluminado para se tornar um iluminado. Se ele se iluminou aqui na representação, é porque essa iluminação existia primeiro na Consciência Universal (em Deus). Quando ele se ilumina, a atenção dele volta-se para aquela iluminação que existe na Consciência (e não para a iluminação fenomênica que aconteceu ao personagem efêmero). Ele não se vê como um ser que antes estava adormecido e que posteriormente despertou. A percepção dele é a de que ele é desperto, iluminado, desde sempre. Ele sempre fora um iluminado! Mas ele percebe isso porque a atenção dele volta-se para aquela Consciência-Égide-Maior. É lá que a verdadeira iluminação (percepção) está. A iluminação do personagem é apenas um fenômeno secundário.

Assim, como fazer para ativar a percepção? Primeiro você compreende que ela já está ativada, então você busca enxergar (intuitivamente) o lugar onde essa percepção está. Esse "lugar" é a Consciência, é Deus. Você apenas volta a sua atenção para Ele, e Ele cuida de fazer o resto. Você não tem de "ativar" a sua percepção. Deixe que Deus faça isso. Apenas volte-se para Ele. Mas esse "voltar-se para Ele" requer a compreensão sutil que acima foi explicada. Compreenda isso, e esteja em paz quanto ao resto! Isso é meditação.

Se você gostou da abordagem do texto, e deseja saber mais sobre a percepção mental e a percepção consciencial, acesse a série: "Preleções Nucleares: A Unidade Essencial", clicando aqui.


segunda-feira, dezembro 15, 2014

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 4/4

- Gustavo -


Continuando a explanação do esquema de duas colunas:



14 – A realidade consciencial não pode ser percebida pela mente do personagem. As verdades conscienciais não estão ao alcance da mente. O máximo que a mente consegue fazer é "acreditar" ou "não acreditar" nas revelações da Consciência. Por exemplo, Jesus pode vir até cada um e dizer que o reino de Deus está dentro de nós. Essa é uma revelação consciencial que não pode ser percebida pela mente. A mente, então, só conseguirá acreditar ou não acreditar na revelação de Jesus. Jesus não depende de “acreditar” ou “não acreditar” que o reino de Deus está em nós – ele sabe! O saber está além do mero “acreditar” ou “não acreditar”. O saber é consciencial.

Para elucidar ainda mais, vamos utilizar um exemplo bastante simples aqui mesmo da representação: se perguntarmos às pessoas se é possível um ovo de galinha ser colocado em pé sem tombar para um dos lados, algumas pessoas acreditarão ser possível, enquanto outras acreditarão ser impossível. Conta-se que Cristóvão Colombo provou ser possível um ovo ficar perfeitamente imóvel, equilibrado e em pé. Alguns personagens acreditam, outros desacreditam. Mas o fato é: um ovo pode ficar em pé. Quem já conseguiu ou viu um ovo ser colocado em pé, deixou o campo do “acreditar” ou “não acreditar” e passou a saber que um ovo pode ficar em pé. A questão do "acreditar" ou "não acreditar" para ele não mais existe. No caso deste exemplo, os personagens que responderam “eu acredito” estão mais próximos da realidade do que aqueles que responderam “eu não acredito”;  porém, mesmo que tenham escolhido a resposta mais aproximada, isso não os leva para dentro da realidade. Assim, podemos perceber que até mesmo o acreditar não é suficiente; o saber está além inclusive do acreditar.

A mente também tem o hábito de querer concordar ou discordar. Da mesma forma que o "acreditar" e o "não acreditar", a concordância ou discordância da mente não irá ajudar. Sempre que a mente concorda ou discorda, a verdade (realidade consciencial) fica encoberta pela realidade mental. Esta é uma outra verdade consciencial: tudo o que está acontecendo na representação é divino. A representação não é apenas representação – ela é uma representação divina! A Consciência do Ser pode ser percebida/sentida em tudo e em todos. Você concorda? Você discorda? Então você teceu juízo de valor e isso é o suficiente para acionar a percepção mental e mantê-lo fora da percepção consciencial. Se pudermos lançar um olhar desprovido de qualquer julgamento, a Consciência do Ser passa a Se evidenciar nas coisas grandes e pequenas. Apenas olhe, contemple! Quando algo estiver acontecendo, apenas permita que isso esteja ali, sem julgamentos, sem interferir, sem querer concordar ou discordar disso. A mente sentirá vontade de entrar e dizer: "sim, isso está acontecendo, é assim mesmo! Concordo com o que estou presenciando", ou poderá dizer: "isso não está certo, não pode ser assim, pois jamais vi isso antes". A mente sempre mede, analisa, julga. O julgamento é o que lhe dá energia. Com a concordância ou discordância, nada se resolve, apenas uma crença é criada. E a realidade consciencial fica ocultada, encoberta pela realidade mental.

Para percebermos a verdade basta não deixarmos que a mente interfira, ocupando o foco de nossa percepção. Muitos sinceros buscadores espirituais pensam que devem se esforçar para tentar neutralizar ou eliminar a mente (a visão dual, a percepção mental) para ter a percepção unitária (percepção consciencial). Contudo, este esforço do personagem é em vão porque atua sobre a própria “mente do personagem” na tentativa de neutralizá-la ou eliminá-la; enquanto somente o próprio Ser pela “Consciência do Ser” pode transcender a percepção da mente e perceber-Se! Não é necessário eliminar a mente para perceber a verdade; a mente pode estar presente, mas deve estar quieta, silenciosa. É necessário saber presenciar silenciosamente um acontecimento, colocando a mente de lado.

Quando você vai para a natureza e escuta o som de uma cachoeira, você concorda ou discorda disso? Nesses momentos, você tenta entender ou decifrar o som que está escutando? Ao invés disso, você está relaxado, entregue, em harmonia, integrado ao que está presenciando. Você apenas escuta, observa, presencia, contempla – sem julgamentos. O som da cachoeira nos soa tranquilo, leve e revigorante. A tranquilidade, paz e beleza que encontramos no som de uma cachoeira na verdade não advém da cachoeira (fenômeno externo) em si. A beleza que sentimos é espiritual, consciencial. A natureza é selvagem, devido a isso ela tem o poder de diminuir a interferência da mente e aumentar o silêncio. Por isso, os ensinamentos são unânimes em dizer que quando estamos na natureza estamos mais próximos de Deus. A natureza aumenta o silêncio e facilita nosso contato com a dimensão consciencial, por isso sentimos ela ser tão bonita. Mas o que sentimos na natureza podemos sentir com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Basta acessar a dimensão do silêncio.  Escute tudo a sua volta como você escutaria o som de uma cachoeira.

Na concordância ou discordância é necessário haver "dois", você e a cachoeira, separados. Você está na dimensão da separação, das partes: uma parte (você) está escutando a outra parte (cachoeira). Ao presenciar silenciosamente o som da cachoeira, subitamente não há mais "você" e a "cachoeira", ambos foram integrados/unidos e agora há apenas o todo. A dimensão do todo apareceu, o todo entrou na frente. Agora é o todo que está acontecendo – agora, antes de haver um personagem escutando a cachoeira ou uma cachoeira sendo escutada por um personagem, há o todo aparecendo simultaneamente como o personagem e como a cachoeira. Tudo passa a ocorrer ao mesmo tempo. A presença do personagem, a presença da cachoeira, o sentido de escutar, o som escutado, o processo de escuta... Os elementos que antes estavam separados são juntados em uma só leva, e toda uma sincronicidade surge, uma música começa a ser formada. Essa música repleta de sincronia ocorre no todo e só é percebida pelo todo, mediante a percepção que está no próprio todo. O todo é a Consciência do Ser. Silêncio é música, é a melodia divina.


15 – A intuição está relacionada à percepção consciencial. E os cinco sentidos estão relacionados à percepção da mente do personagem. Os cinco sentidos a que se refere o Núcleo são: visão, audição, olfato, paladar e tato. Também o sexto sentido faz parte da mente do personagem. O sexto sentido da mente significa: visão mediúnica, audição mediúnica, olfato mediúnico e demais percepções mediúnicas. Ou seja, o sexto sentido corresponde aos cinco sentidos do corpo, só que utilizados para perceber fenômenos espirituais de cunho mediúnico, tais como ver, ouvir e falar com espíritos desencarnados. Os sentidos mentais do personagem incluem também o intelecto, a razão e a lógica. Tudo isso é percepção mental.

A intuição é um fenômeno não mental, ela não tem a sua fonte na mente (intelecto, razão ou lógica) do personagem. A mente do personagem não pode compreender a intuição por ser ela própria um fenômeno irracional, ilógico. Alguém talvez pergunte: “A intuição pode ser explicada?”, mas essa pergunta na verdade significa: “A intuição pode ser reduzida ao intelecto?”. E a intuição é algo acima do intelecto, ela provém da Consciência do Ser. O intelecto é sempre contínuo, linear: “A” está ligado a “B”, que está ligado a “C”, que se liga a “D” e assim por diante. O intelecto é constituído por: causalidade, linearidade, conexões lógicas. A intuição é não-linear: quando atua a intuição, as ligações da mente são quebradas, o que torna possível à percepção passar diretamente de “A” para “D”, ou para qualquer outro ponto. A intuição cria uma lacuna – uma desconexão e descontinuidade completas – o que permite à percepção dar um salto. Esse salto é inconcebível para a mente. Assim, a intuição é um pulo, um salto direto e imediato de um ponto a outro ponto, sem nenhuma interligação entre os dois. A percepção consciencial é imediata; com ela a coisa é captada de súbito, diretamente do interior, sem a interferência linear ou lógica da mente. E o interior é vasto, infinito, tudo já está contido nele. No interior está o reino de Deus inteiro.

A mente pode sentir a intuição, mas não pode explica-la. A intuição pode penetrar a mente e a mente pode notar que algo aconteceu, mas não pode explicar. Deve-se entender que uma realidade superior pode penetrar uma realidade inferior, mas a realidade inferior não consegue penetrar a realidade superior. A intuição pode penetrar o intelecto porque ela é superior, mas o intelecto não pode penetrar a intuição e tampouco explica-la. Não existe uma explicação do superior no inferior, porque o superior é muito vasto e os próprios termos da explicação tornam-se inadequados demais para fazerem sentido ali. Mas a mente pode sentir a lacuna, ela sente que: “aconteceu algo que está além de mim”. Assim, é possível utilizar a mente, o intelecto, sem estar fechado à intuição. Podemos utilizar a razão como um instrumento, permanecendo abertos, estando receptivos ao superior. O intelecto pode ser usado como um auxiliar a serviço de algo maior.


16 – O Amor é simplesmente Unidade, Totalidade, UM. A percepção consciencial pode revelar a Divindade manifestada no mundo da representação (1), como também pode revelar o Universo Consciencial no qual a representação está ausente (2). Conforme já dito, o espaço (silêncio, vazio) divide-se em duas partes ou aspectos. De um lado do espaço está Deus e o universo da representação; ali Ele está consciente de tudo – da criação inteira – em Si mesmo. Do outro lado do espaço, Deus está sozinho, habitando a ilimitada faixa da eternidade, existindo como Consciência inqualificada, Bem-aventurada, sempre existente, sempre nova. Nenhum mundo, nenhuma outra coisa existe em Sua Consciência, naquela região da infinitude onde Ele reina como o Absoluto.

Percebendo consciencialmente, podemos penetrar o Silêncio e contemplar a Luz da qual toda a representação emerge. Podemos contemplar a Divindade aparecendo como todo o universo da representação, ou seja, podemos perceber o oceano do Espírito com as ondas de Sua criação. O Divino revela-Se como Amor em todo o universo da representação. Nesse aspecto, o Oceano está completamente mesclado às ondas, ambos são UM. Deus se faz presente na representação da mesma forma que o oceano se faz presente em suas ondas. Nosso aparente universo físico quando percebido consciencialmente é um esplêndido oceano de luz, algo inconcebível pela percepção mental. Aumentando ainda mais o Silêncio, a nossa experiência transcende até a Luz manifestada e adentra o puro Universo Consciencial, que existe sozinho em um espaço onde o universo da representação está ausente. Isto é, podemos perceber o mesmo Oceano espiritual existindo transcendentalmente de forma serena, sem as ondas da criação. Isso significa que "Quem somos" pode perceber-Se manifestado em toda a criação, como também pode perceber-Se como o Universo Consciencial que existe desde antes do surgimento da representação. Em ambos os casos, a percepção é de UNIDADE.  

Este assunto do Universo Consciencial merece ser mais aprofundado. O Universo consciencial existe fora do universo da representação – é onde habita Deus Universal (Paramatman) e o filho de Deus (Atman). É uma realidade de pura Unidade, Bem-Aventurança, Alegria, Amor perfeito.

O ensinamento Um Curso em Milagres apresenta uma cosmologia com uma ilustração bastante plausível do que vem a ser essa Realidade Divina suprema e absoluta. Nele, é contada a seguinte história: no Princípio (antes do surgimento da representação) existiam unicamente Pai e Filho vivendo na realidade perfeita denominada "Céu". Antes do início, não havia inícios nem fins; havia apenas o Eterno Sempre, que ainda está "lá" – e sempre estará. Havia apenas uma Consciência de uma unicidade imaculada, e essa unicidade era tão completa, tão espantosa e ilimitada em sua alegre extensão, que seria impossível que qualquer coisa (extensão) estivesse consciente de algo que não fosse Si Mesmo. Havia e há apenas Deus nessa realidade, chamada pelo Curso de “Céu”. O que Deus cria em Sua extensão de Si Mesmo é chamado de Cristo (o Filho, o Atman). Mas Cristo de maneira alguma é separado ou diferente de Deus (Paramatman). Eles são exatamente a mesma coisa. Cristo não é uma parte de Deus, Ele é uma extensão do todo. A única diferença possível entre Cristo e Deus – se uma distinção fosse possível – seria que Deus criou Cristo; Ele é o Autor. Cristo não criou Deus ou a Si Mesmo. Contudo, por causa da perfeita unicidade inerente ao próprio Deus, isso realmente não importa no Céu. Deus criou Cristo para ser exatamente como Ele, e para compartilhar Seu eterno Amor e alegria, em um estado de êxtase livre, ilimitado e inimaginável. Tal estado constante e bem-aventurado de consciência é completamente abstrato, eterno, imutável e unido. Cristo, então, estende a Si Mesmo, criando novas Criações, ou extensões simultâneas do todo, que também são exatamente as mesmas em sua perfeita unicidade com Deus e com Cristo. Portanto, Cristo, como Deus, também cria – porque Ele é exatamente o mesmo que Deus.

Essas extensões não vão para "dentro" ou para "fora", porque no Céu não existe conceito de espaço; existe apenas em todo o lugar. O resultado de tudo isso é o compartilhar sem fim do Amor perfeito, que está além da compreensão. Pai e Filho em um alegre e eterno compartilhar. A condição da realidade consciencial é puro Amor e tudo funciona de acordo com  esse Amor Eterno, que é o próprio Deus (Eu) sendo. Deus compartilha a integralidade de Seu Ser com seus Filhos. E os Filhos de Deus também compartilham tudo o que têm e são com outros Filhos de Deus, sendo que todos estão sempre conscientes de Quem são. O resultado disso é o enriquecimento e engrandecimento do Céu. O Infinito se ultrapassa e se expande ainda mais, contrariando tudo o que qualquer lógica possa conceber. Assim é (funciona) a realidade divina.

Podemos, então, compreender que Deus Universal (o Pai Eterno, Paramatman) não criou a representação. Ele criou o Universo Consciencial para desfrutar a Vida una, eterna e perfeita, a qual foi descrita de modo bastante plausível na história narrada. O Universo Consciencial é constituído somente por Deus (Paramatman) e filho de Deus (Atman). Quando surge o universo da representação, isso ocorre devido a vontade do filho de Deus. Por meio de Seu sonho/imaginação/representação, o filho de Deus concebe a existência irreal mas aparente de um universo de separação. É Ele quem possibilita o jogo da dualidade. E no universo da representação o filho de Deus aparece como sendo tudo o que existe... “Eu apareço como”.

Quando a representação é percebida consciencialmente (com a visão do filho de Deus) o senso de separação é impossível – mesmo na representação. A representação inteira assume uma qualidade divina de unidade, amor, plenitude, bem-aventurança. É como se Deus, o Amor, fosse trazido para dentro do universo da representação, e a representação ficasse totalmente impregnada, afetada pelo Divino. A representação torna-se uma representação divina, ela passa a expressar Deus em todos os seus aspectos.

Porém, quando a representação é percebida mentalmente, o senso de separação torna-se possível. E quando entra a separação, o Amor dá lugar ao medo ou temor. A separação provoca a divisão do um. Concomitantemente com a divisão do um, surge a noção falsa/irreal do "outro", do "desconhecido", do “estranho”. O "outro", o "desconhecido", o "estranho" é tudo aquilo que está separado de "mim", é tudo aquilo que não sou "eu". Esse fator gera insegurança, vulnerabilidade e medo e, com isso, o "eu" sente a necessidade de proteger-se e defender-se a si mesmo. O medo ou temor está ligado ao "eu" do personagem, que se vê separado do todo.


17 – Ação dhármica é a ação praticada com renúncia aos frutos. Significa agir desinteressadamente de modo a não se apegar ao resultado da ação. A ação dhármica implica em transcender o sentimento de querer satisfazer os desejos pessoais (eu-personagem). Na ação dhármica, o personagem age para o Todo e não para si mesmo. Ele é um canal, um veículo, um instrumento através do qual a Consciência (impessoal) do Ser se expressa.

Aqueles que praticam a ação dhármica agem com amor incondicional, desinteressado. Eles cumprem o dever de desempenhar fielmente o papel que lhes compete na representação. No universo da representação, tudo tem em si a Consciência divina. O Ser Real também se percebe, se vê presente, em personagens que não têm "mente", que não são humanos, como os vegetais e os minerais. Embora não tenham mente, todos tem a Consciência. E esta é a Consciência do próprio Ser. Ela está no Ser, não pertence aos personagens. A maioria dos personagens no cenário não pensam, mas desempenham perfeitamente seus papéis de personagens do Ser. Eles cumprem o seu papel específico ou o "dharma" que lhes foi designado.

Por exemplo, a flor cumpre incondicionalmente o papel de desabrochar e espalhar a sua fragrância. Ela não se importa se haverá alguém lá para presenciar ou apreciá-la, ela apenas continua exalando o seu perfume, quer alguém aprecie ou não. A flor não diz: "ali vem se aproximando um grande ser que poderá me apreciar, vou exalar a minha fragrância". Mesmo se ninguém estiver passando, a flor irá espalhar a sua fragrância. Da mesma forma, o sol cumpre o papel que lhe foi designado, enviando sua luz e calor a fim de aquecer e beneficiar todos os seres, indistintamente. Ele não diz que: "esta é uma boa pessoa que merece se beneficiar do meu calor; aquela outra é uma má pessoa, ela não merece ser aquecida com a minha luz". E assim também é com a água, as estrelas, os insetos, os animais, todos! Eles só cumprem os seus papéis – só existem – porque neles há uma presença, uma força que os mantém como tal. Essa força é a “Consciência” presente em cada personagem. De fato, a Consciência já está presente em cada personagem do cenário, e no próprio cenário! De forma que não existe cenário nem personagem sem esta “presença divina”, onipresente. É ela quem sustenta todas as formas e quem governa e mantém todas as leis naturais.

Todos os personagens possuem o seu dharma (missão) para cumprir perante o Todo aqui na representação. O Bhagavad Gita conta a história do príncipe Arjuna que, para reconquistar o seu reino, se vê obrigado a guerrear contra a sua própria família. Ele deseja recuperar o trono mas, para fazer isso, deverá matar um grande número de parentes que estão do outro lado da linha de combate. A situação é difícil, o príncipe Arjuna está num impasse,  ele não sabe o que fazer. Então Krishna aparece e lhe dá a ordem para lutar, derrotar todos os adversário e vencer a guerra. Krishna está lá para revelar o dharma de Arjuna, ou seja, o papel que ele está destinado a cumprir no mundo da representação. Ele diz: "Não cedas à fraqueza, que de nada te serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és. Apenas vá e lute; e deixe que Eu me encarregue dos resultados". Durante todo o Gita, Krishna irá revelar a Arjuna a verdade suprema – verdades universais, divinas, conscienciais; somente desse modo Arjuna poderá compreender a razão pela qual deverá cumprir na representação o seu papel de guerreiro. Mas Arjuna resiste às palavras de Krishna – e resiste enormemente. É somente no final do Gita que Arjuna compreende a necessidade de cumprir o seu dharma. Estas são algumas palavras de Krishna a Arjuna sobre o dharma:

"Agir é tua missão; mas não deves visar aos frutos da tua atividade. Não permitas que a tua atividade seja inspirada pelo desejo dos teus frutos. Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus. Eu, que ajo, não sou afetado por minhas ações, nem viso ao fruto da minha atividade. Quem isso compreende pode agir sem estar apegado ao que faz; não deseja lucro; quem está unido a Mim é livre e imaculado em suas obras. Tu, porém, ó Arjuna, refere a Mim, a fonte do Ser, todos os teus atos! Supera todos os desejos pessoais e o egoísmo! Liberta-te do apego! O que quer que fizeres, faze-o no espírito da renúncia, tendo em mente a Mim, o Senhor do mundo. Deixa a Mim o cuidado pelo sucesso; pensa em Mim e oferece-Me o teu coração e a tua alma. Confia em Mim e vive na fé em Mim. Pelo poder da Minha graça alcançarás a vitória sobre todos os obstáculos; mas se confiares somente em tua força pessoal, e não em Mim, serás derrotado.

Isento de egoísmo, violência, ganância e cobiça, desapegado do "eu" e do "meu", sereno e calmo dentro de si mesmo  este homem se torna um com Brahman. E integrado no espírito de Brahman, alcança o seu Eu divino; já não chora por nada, não tem desejo de nada, não luta por nada, não tem cobiça de coisa alguma. Porque dentro de si mesmo possui tudo. Quando o homem se integra a Mim é um Comigo. Dele é a Minha Grandeza, Meu Poder, Meu Ser, Minha Vida, Minha Sabedoria, Minha Beatitude. E agora escuta a mais sagrada das minhas revelações: Amo-te, e por isto te revelo o que é pelo teu bem."

A história do Bhagavad Gita é muito, muito simbólica. O diálogo ali contido ocorre na verdade entre a Consciência do Ser (representada por Krishna) e a mente do personagem (representada por Arjuna). O Gita é Deus conversando com o homem. Durante todo o diálogo, Arjuna tenta compreender os mistérios divinos que são exaustivamente revelados por Krishna. Mas, por mais que Krishna fale, Arjuna não entende. Isso carrega um significado: a mente do personagem é incapaz de compreender os mistérios revelados pela Consciência Divina. O Bhagavad Gita é, na verdade, uma escritura sagrada universal, que diz respeito a todo os seres. Ele descreve a história de cada ser humano: a de Arjuna, a minha, a sua... a história que vale para Arjuna vale para todos. Para que Arjuna pudesse compreender Krishna, ele teve de aprender a superar a mente de seu personagem. Ocorre o mesmo conosco.

Um outro significado muito importante que o Gita comporta é o seguinte: Arjuna está indo para o campo de batalha e sendo carregado por uma carruagem – e Krishna é o cocheiro, o condutor da carruagem! Com essa simbologia, o Gita quer dizer que Krishna (a Consciência do Ser) deve sempre ocupar o papel de "condutor da carruagem". Mas os personagens estão sempre tentando conduzir eles mesmos a carruagem. Enquanto Arjuna (a mente do personagem) estava querendo conduzir a carruagem, ele não compreendeu. E foi por esse motivo que ele demorou tanto a entender. O assento da frente da carruagem já tem dono – um dono oficial! –, somente a Ele compete o papel de ser o condutor de nossa carruagem. A história do Gita foi montada perfeita até mesmo nesse pequeno detalhe.

Se quisermos compreender o ensinamento de seres tais como Krishna, Buda e Jesus, precisamos desenvolver a habilidade de perceber consciencialmente. E como fazer isso? Uma das maneiras ensinadas no Núcleo é estar alerta para esta pergunta: “O que você prefere: reagir aos personagens/representação ou interagir Comigo?”. Essa pergunta (princípio nuclear) nos fornece todos os elementos necessários que nos ajudarão a perceber e interagir com a Consciência do Ser. Devemos estar cientes de que no mundo da representação Eu está aparecendo como tudo: como palco, roteiro, cenário e todos os personagens. Sabendo disso, deixamos de ser meros personagens (que apenas interagem com outros personagens), e passamos a ser como atores cientes de que aquele que está diante de nós na representação não é somente um personagem, ele é também um ator. Assim, podemos escolher continuar representando o papel de nossos personagens (1), ou podemos escolher romper com a representação e passar a interagir com o ator (2).

Por exemplo: imagine a situação em que dois personagens de teatro estão conversando; um deles desiste de seguir a conversa traçada no roteiro e de súbito inicia um diálogo diretamente com o ator. A atitude dele seria: “cansei de interagir com o personagem, agora eu quero conversar diretamente com o real, e não mais com o personagem que ele está representando”. Essa atitude rompe de imediato com a encenação. Um personagem nunca toma a decisão de romper com a representação, é sempre o ator. No momento em que se manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a representação, isso já é o ator agindo. Agora veja: o ator está sempre lá onde o outro personagem também está. Tudo o que for dito ao outro personagem, o ator irá ouvir – com os mesmos ouvidos. As palavras ou ações (fora do roteiro) que forem dirigidas ao outro personagem serão ouvidas pelo ator. E quando um dos atores rompe a representação (com palavras ou ações diferentes das contidas no script), como poderá o outro personagem seguir em frente com a sua representação? Ela começa a deixar de fazer sentido. Sempre que um ator manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a encenação, a representação inteira é afetada. Seus atos criam uma perturbação, um desequilíbrio ou uma descontinuidade na própria estrutura da representação. E, naquele ponto, a representação vai perdendo a força, o sentido. A representação se enfraquece. Esse procedimento traz à tona o ator que está por detrás do outro personagem. Ao romper assim com a representação, o ator criou uma descontinuidade na linha de representação do outro personagem – o outro não poderá mais seguir na linearidade de sua representação conforme prevista no roteiro. Uma lacuna foi criada. A resposta (palavra ou ato do outro personagem) que surgir a partir dessa lacuna virá, não do personagem, mas do ator. Assim, a interação ator-e-ator foi totalmente estabelecida.

É muito importante notar que, se o ator apenas mantivesse a intenção de romper com a representação, mas não manifestasse o seu intuito por meio de atos ou palavras (ou seja, ação), a representação simplesmente continuaria seguindo em frente, feliz. Não basta a mera intenção de romper com a representação, é necessário agir! No Núcleo é ensinado que não há percepção sem ação. A verdadeira percepção deverá sempre vir acompanhada de uma ação consciente. Estando na representação, para transcendermos a percepção da mente é imprescindível "perceber e agir"!

Retomando: Saiba que na representação Eu está aparecendo como tudo: a história, o cenário, os personagens. Tome a atitude de romper com a representação (aja!) e fique atento às respostas que virão da Consciência do Ser (através dos acontecimentos, dos outros personagens, o que for). Você pode aplicar esse princípio a tudo o que acontecer na sua vida. Por exemplo: você está dirigindo o seu automóvel; um outro carro passa e lhe dá uma fechada. Nesse instante, a mente condicionada do personagem sentirá vontade de fazer aquilo a que sempre esteve habituada: reagir. Se você reagir, vai ficar bravo, reclamar, xingar, etc. Ou você pode romper com a representação, sair da mente do personagem, e começar a ter uma interação com o Ser. Faça silêncio, tente entender porque na representação o Ser lhe deu uma fechada, e fique atento. Se você romper com a representação, a resposta virá pela lacuna. Então, você poderá constatar que, graças à fechada que você levou, você acabou chegando segundos ou minutos mais tarde ao local onde você estava indo, e naquele exato momento lá estava alguém que você desejava rever. Você passa a notar pequenos milagres acontecerem.

Outro exemplo: você está dirigindo o seu carro, quando um outro vem e acerta a sua traseira. Esse é o instante em que você deverá escolher entre "reagir aos personagens/representação" ou "interagir Comigo". Se preferir reagir à colisão, ficará triste, bravo, aborrecido e poderá até entrar numa briga com o outro personagem. Todavia, se escolher romper com a representação e interagir Comigo, ficando atento aos acontecimentos (respostas), logo você entenderá por que na representação o Ser acertou a traseira do seu carro. Algo bom deverá advir disso. Se nós apenas escolhermos romper a representação e permitirmos  nossas carruagens (vidas) serem conduzidas pela Consciência do Ser, a realidade da nossa representação é encaminhada para um rumo diferente daquele que estaria destinado a ocorrer caso escolhêssemos acionar a mente de nossos personagens e reagir à representação.

Para que você possa interagir com a Consciência do Ser, não é necessário que o outro personagem esteja consciente da sua realidade como ator. Basta que você esteja ciente de que Eu está aparecendo como. Um dos princípios do Núcleo diz que: "Eu apareço como. Às vezes nem eu mesmo percebo; mas se você perceber, já é o suficiente.". Deus está Se manifestando como os personagens. A cada momento, de inúmeras formas, a divindade está "aparecendo como" diante de nós. Às vezes o próprio personagem não percebe que está sendo instrumento de manifestação de Deus. Mas se apenas um de nós estiver consciente de que o Ser está "aparecendo como", e escolher romper com a representação e interagir com o Ser, isso será o suficiente para criar a brecha, através da qual ocorrerá a interação entre o personagem e o Ser.

Tudo o que foi aqui explanado abrange o significado do que vem a ser a ação dhármica. Ela é a ação que advém da percepção consciencial, na qual, despertos, os nossos personagens interagem com a Consciência do Ser.


18 – A oração de agradecimento é a verdadeira oração. O agradecimento não provém da mente do personagem, ele tem origem em Deus, na Consciência do Ser.  O Ser é sempre pleno de tudo, preenchido, completo. Em Deus, tudo está consumado, nada mais há para acontecer. Tudo o que poderia acontecer já aconteceu – daí porque o Ser desfruta de um eterno estado de plenitude. O Ser está derramando, transbordando, compartilhando toda a Sua plenitude com o infinito inteiro, com o qual é uno. E a gratidão absoluta nasce desse derramamento, desse transbordamento de todas as Suas qualidades divinas. Devido a isso, o estado de gratidão é o que mais nos sintoniza com Deus. Deus, a Consciência do Ser, está em unidade com todas as coisas, Ele não se percebe separado de nenhum objeto. Ele é o próprio objeto percebido. Se Ele deseja ser feliz, a felicidade está imediatamente lá, como Ele próprio. Se Ele deseja amar, a experiência do amor está imediatamente lá, como Ele próprio. O Ser transborda dessa plenitude de "tudo está feito". Nada há que reste a não ser um estado de gratidão absoluta. Quando o agradecimento é verdadeiro, absoluto, não é o personagem quem agradece, mas a própria Consciência do Ser agradecendo através do personagem. A gratidão é um estado consciencial.

A mente do personagem não é capaz de agradecer de forma absoluta, pois enxerga a separação, a carência, a ausência, a falta. A percepção da mente do personagem enxerga o "eu" separado do "objeto visado". Para ela, a felicidade existe separada do "eu", o amor existe separado do "eu", a sabedoria existe separada do "eu". O "eu" está presente, mas as outras coisas estão ausentes. É então que, em sua oração, o personagem pedirá/suplicará para que lhe seja concedido aquilo que lhe falta. A oração de súplica é própria da mente do personagem.

A gratidão verdadeira  é um estado consciencial. Mas até mesmo no mundo da representação (dimensão mental da realidade) a oração de agradecimento é mais eficaz que a oração de súplica. Por uma razão muito simples: se estamos em estado de agradecimento, criamos em torno de nós a atmosfera de que estamos satisfeitos, felizes, supridos, plenos. Essa atmosfera nada mais é que vibração, palavra, energia que juntamos em torno de nós e enviamos para o todo, o universo. Consequentemente, nosso estado positivo de gratidão atrai  pessoas, coisas e situações condizentes com nosso estado de felicidade, satisfação, plenitude. O universo da representação é regido pela lei mental de afinidade: semelhante atrai semelhante. O amor atrai mais amor, a alegria atrai mais alegria e, inversamente, tristeza atrai mais tristeza e o medo atrai ainda mais medo. O semelhante atrai ainda mais o seu semelhante. Agradecer é a melhor forma de fortalecer nossa conexão com o Divino, pois quanto maior for nossa gratidão, mais bênçãos de amor, alegria, paz, virtudes positivas e prosperidade ele nos enviará. A gratidão gerada a partir de nosso interior se manifesta-se e atrai no mundo exterior situações que nos farão sentir ainda mais gratos.

A gratidão é um estado da alma. Sentir-se grato é sentir-se feliz, pleno, alegre. Não há ser humano na vida que não tenha nada a agradecer. Só o fato de existir já é um grande motivo para ser grato à Vida, ao Universo, a Deus. São tantas as coisas que podemos agradecer: saúde, alimento, família, amigos, casa, trabalho, educação, inteligência, posses materiais e as imateriais. Reconhecer que tudo que temos nos foi dado por Deus é um excelente ponto de partida para exercitamos a nossa gratidão. E ela nos trará todos os seus frutos. Sempre que lembrar, sinta-se grato, mesmo que seja por algo aparentemente banal e simples. Sempre que puder, silencie sua mente e sinta a gratidão. Não deixe que o pessimismo, a reclamação, a amargura ou o desgosto poluam sua mente e seu espírito. Vigie sempre. Através da gratidão silenciosa você sintonizará com as forças milagrosas da vida que lhe trarão os mais diversos benefícios.

Por todos esses motivos, a gratidão é preferível à suplica. Na oração de súplica, ocorre o seguinte: quando estamos pedindo por "x", lá no fundo de nossas mentes (por detrás das cortinas) estamos reconhecendo simultaneamente que: "eu não tenho x". Esse reconhecimento (feito por nossa mente subconsciente) constitui afirmação, declaração, palavra para o universo. Por sua vez, o universo (que sempre responde "sim" às nossas palavras) confirmará a nossa oração dizendo: "Sim, você não tem. Assim seja.". Na superfície de nossas mentes podemos não estar afirmando nada, mas lá no fundo de nossas mentes (na região subconsciente, inconsciente) estamos declarando expressamente para o todo que não temos "x". Se, ao invés de suplicarmos, simplesmente agradecermos a Deus reconhecendo que Ele já atendeu nossa oração (ou seja, já temos "x"), as profundezas de nossa mente ficarão impregnadas de afirmações/declarações/palavra de que: "eu já tenho", e o universo nos confirmará dizendo: "Sim, você já tem. Assim seja.". Portanto, o agradecer está relacionado à unidade (Consciência do Ser), enquanto que a súplica importa em dualidade, separação.

Importante ressaltar que o agradecimento ao qual estamos nos referindo é o agradecimento relativo (mental), e não a verdadeira gratidão. A verdadeira gratidão é consciencial (absoluta), uma expressão da Consciência do Ser. Por fim, fiquemos com esta sabedoria expressada no livro sagrado da Bíblia: "Em tudo dai graças porque esta é a vontade de Deus!" (1 Ts 5:18).




Esta série "Preleções Nucleares: a Unidade Essencial" foi apresentada a fim de que o leitor possa ter condições de compreender claramente (cristalinamente!) os textos do Núcleo que são postados neste blog. A fim de transmitir sua mensagem, o Núcleo utiliza termos (metodologia) bastante específicos, que poderiam soar talvez um pouco "estranho" ou "nebuloso" para aqueles que desde o início entram em contato com os textos/mensagens que só fazem sentido levando em consideração o seu contexto. É impossível transmitir a totalidade do que é ensinado no Núcleo em uma única série de textos. Mas nesta série muitas coisas (bastantes mesmo!) foram explicitadas, toda a essência do ensinamento está contida aqui. Atentem-se sempre para Aquele que está aparecendo como tudo, rompa com a representação (aja!) e passe a interagir com Ele (Comigo). Agradeço a Quem aparece como Núcleo. Agradeço a quem aparece como esta divina mensagem. Agradeço a Quem está aparecendo como você que está lendo. Agradeço a Quem aparece como aqueles que ainda virão. Percebo Eu se manifestando como todos. E a todos agradeço. Namastê!