"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, janeiro 09, 2011

VOCÊ JÁ ESTÁ SALVO - 02 (FINAL)

Masaharu Taniguchi

Alguns budistas pregam que a Imagem verdadeira é vazia. Segundo eles, "o ser humano é vazio e Buda também o é, pois Buda é a Realidade absoluta, que é vazia; e, como o vazio (Buda) e o vazio (o homem) são da mesma natureza, o primeiro pode atuar sobre o segundo". Porém, se Buda e o homem fossem ambos "vazios", suas respectivas forças seriam igualmente nulas, e Buda não poderia exercer seu poder sobre o homem. Certas pessoas pensam que "Buda, que veio do princípio absoluto, que é vazio, ilumina e salva o homem, que veio igualmente do princípio absoluto, que é vazio, da mesma forma como a luz, que é uma das manifestações do elemento vazio chamado éter, ilumina os objetos materiais, que também são manifestações do éter". Porém, não é correta essa idéia de que um ser proveniente do "vazio" ilumina outro ser proveniente do mesmo "vazio", porque o "vazio" é efêmero e, assim como a luz que ilumina os objetos materiais vai se enfraquecendo com o desgaste de sua energia, Buda também, se fosse uma das formas de manifestação do "vazio" (efêmero), mudaria de aspecto com o passar do tempo e deixaria de ser Buda.

Se Buda fosse proveniente do "vazio", Ele seria um ser instável, mutável, e poderia se transformar em criatura mortal. Acreditando em um ser tão instável, é impossível ser salvo. Por isso a Seicho-No-Ie não diz que Buda veio do "vazio".

Quando o Budismo diz que "a Imagem Verdadeira é vazia", quer dizer que "a natureza verdadeira (Imagem Verdadeira) do fenômeno é vazia". Entretanto, a natureza verdadeira (Imagem Verdadeira) da existência verdadeira não é vazia. É louvável compreender que a Imagem Verdadeira (natureza verdadeira) do fenômeno é vazia, mas considerar vazia também a Imagem Verdadeira da existência verdadeira é um erro, e tal modo de ver constitui "visão interruptiva", que Sakyamuni reprovou. Mas muitos dos eruditos budistas pensam que a Imagem Verdadeira da existência verdadeira é "vazia", razão pela qual o budismo atual não possui força para influir na vida cotidiana, e os sacerdotes budistas se tornaram pessoas distantes da vida prática, orando apenas pelos mortos. Aos olhos desses eruditos budistas, o budismo pregado pela Seicho-No-Ie pode parecer estranho ou errado, mas, se possui força para mudar a vida prática, é porque apreendeu verdadeiramente a Verdade.

Certos estudiosos do budismo pregam que "Buda é a Imagem Verdadeira e a Imagem Verdadeira é vazia", mas, por outro lado, pregam que "Buda é a Imagem Verdadeira, um ser imutável e indestrutível". Se, por um lado, eles consideram que a Imagem Verdadeira e Buda são o "vazio" (algo efêmero e mutável), é uma contradição afirmar, por outro lado, que "Buda é imutável e indestrutível". Então eles dão a seguinte explicação: "Imagem Verdadeira ou Buda é o elemento que pode se tornar falsa existência, assim como os átomos que, sendo indestrutíveis e imutáveis, podem constituir a matéria que muda constantemente de aspecto. E a Imagem Verdadeira é como os átomos, que são onipresentes, indestrutíveis e imutáveis. Assim é a Imagem Verdadeira, assim é Buda".

Parece que são muitos os budistas que pensam dessa forma (pelo menos no meu círculo de conhecimento, pois não creio que todos os budistas pensem assim). Mas, se é nesse sentido que Buda é indetrutível, e se é que o homem se torna Buda quando se destrói o fenômeno, já que este é falsa existência, então "tornar-se Buda" seria retornar ao elemento vago e universal parecido com o átomo. Se é para isso, não são necessários nem a oração a Buda, nem budismo, nem religião alguma. Seguindo o raciocíno deles, o homem seria uma existência falsa (corpo carnal) mas constituído de "elementos, como átomos, indestrutíveis e imutáveis, porém que podem se tornar falsa existência". Ele seria ao mesmo tempo "corpo carnal" (falsa existência) e "corpo búdico" (semelhante a átomo). Segundo eles, o corpo carnal é falsa existência porque é destrutível, mas Buda (átomo) é Vida eterna porque é indetrutível. Se encararmos a "Vida eterna" dessa maneira, não sentiremos alegria alguma pelo fato de sermos Vida eterna; seria o mesmo que termos vida mortal. Todo mundo sabe que o corpo carnal retorna à terra quando morre e que, por enquanto, o homem vive manifestando-se fisicamente, assim como os átomos estão manifestados como matéria.

Mas tal explicação de "eternidade da Vida" não satisfaz o anseio do nosso íntimo, e é por isso que buscamos a religião. Tal filosofia, que vê o homem apenas como matéria, é materialista. Ela diz: "O homem, quando morre, retorna ao mundo de origem, tal como um copo de água despejada no oceano; esse mundo é de quietude; é o vazio. Isto é a Imagem Verdadeira". Este pensamento é do budismo do pequeno veículo (hinayana), ou melhor, do budismo materialista. Esse budismo, segundo o qual a finalidade da Vida é alcançar a quietude, caiu no niilismo e não possui força para dinamizar a vida. É por isso que a Seicho-No-Ie não diz que a Imagem Verdadeira é vazia. O que é verdadeiro é consistente. O vazio é sempre vazio, e o que é consistente é sempre consistente.

A Seicho-No-Ie não compartilha a idéia de que Buda veio da transformação do vazio. O que surgiu da transformação (inclusive aquilo que está manifestado como Buda) um dia se transformará e desaparecerá. A Seicho-No-Ie nega o "Buda que surgiu da transformação", dizendo categoricamente que o "Buda" da trindade "mente, Buda e criaturas", citado no Avatamska Sutra, não existe. A imitação de ouro muda de cor facilmente e logo se descobre que é falso. Também o "Buda que veio da transformação do vazio" transformar-se-á um dia e se revelará falso. "O ser que se transforma em criatura quando cai em ilusão e se torna Buda quando se ilumina" - esse Buda, que é produto de transformações, é tal qual uma imitação de ouro e não é o Buda verdadeiro. O Buda verdadeiro não se transforma, assim como o ouro verdadeiro; Ele é Buda desde o princípio. O homem não se torna Buda pela combinação de vários elementos tais comp doutrina e práticas religiosas, como se fosse uma liga de ouro formada pela combinação de diversos elementos. O homem traz a natureza búdica dentro de si; ele é precioso desde o princípio, tal como o ouro.

Na Sutra do Nirvana está escrito: "Todas as criaturas possuem natureza búdica". Entretanto, quando se diz que "possuímos natureza búdica", temos a sensação de que somos um recipiente que contém a natureza búdica e não sentimos que somos a própria natureza búdica. Por isso, a Seicho-No-Ie não diz que "todas as criaturas possuem natureza búdica"; ela diz: "Criaturas não existem; existe unicamente a natureza búdica, e esta constitui o nosso Eu verdadeiro".

A natureza búdica é que pronuncia oração a Buda; é ela que mentaliza "Eu sou Deus" ou "Eu sou Buda". É a natureza búdica (divina) que se torna Verbo e se manifesta como prática religiosa; esta é a manifestação do Jitsu (conteúdo) de Buda (Deus). O fato de orar a Buda (Deus) constitui prova de que o homem é Buda (Deus). A prática da Meditação Shinsokan é, em si, manifestação de Buda (Deus) desde o princípio. "A grande prática consiste em pronunciar o nome de Buda de luz infinita" (Kyo-gyo-shin-shô, de autoria de Shinran).

Realmente, "oração a Buda" não é um ato em que uma criatura mortal se dirige a Buda; é o ato em que Buda vive o Buda, em que a Imagem Verdadeira vive a Imagem Verdadeira. Logo, não há prática maior que esta. E, quando Buda vive o Buda, quando a Imagem Verdadeira vive a Imagem Verdadeira, desaparecem todas as formas de "falso eu", que não é existência verdadeira. E nesse momento, como o corpo carnal não é existência verdadeira, já estamos experienciando o "supremo nirvana", mesmo parecendo possuir ainda o corpo carnal.

Agora vamos ver o que é "oração a Buda". Shinran (fundador da seita Shin) disse: "A grande prática consiste em pronunciar o nome de Buda de luz infinita". E como é o nome dele? A pronúncia correta de seu nome completo, em sânscrito, consta que é Amithaba Amitayus Tathagata Arhat Samyaksambuddha. Se fosse indispensável pronunciar corretamente o nome de Buda de luz infinita para sermos salvos (para sermos Buda), então quase nenhum de nós o seria, pois no Japão o nome de Buda é Amida-Butsu. Não é necessário pronunciar tantas palavras, em sânscrito, para sermos Buda; basta que o sentido seja o mesmo. Então podemos pronunciar outros nomes além de Amida-Butsu. Podemos, por exemplo, dizer Amaterassu-oomikami, Deus Myo-hô, God ou simplesmente Imagem Verdadeira, e estaremos igualmente sendo Budas.

Aqui também vemos o ponto de identificação de todas as religiões. Se mentalizarmos a Imagem Verdadeira ao pronunciarmos qualquer um desses nomes no mesmo sentido em que se pronuncia o nome "Buda de luz infinita", nesse momento estará ocorrendo aqui, em nós, a "grande prática" da própria Imagem Verdadeira, pois existe unicamente a Imagem Verdadeira e porque quem mentaliza a Imagem Verdadeira é a própria Imagem Verdadeira. É a "grande prática" da força externa, ou melhor, a "grande prática" da força absoluta, que transcende tanto a força do ego como a força externa.

A Força Absoluta realiza, aqui, a grande prática. Quando digo "aqui", não estou me referindo a nenhum local geográfico. A Força Absoluta, sendo absoluta, não é relativa e não confronta com nada; logo, Ela vive a força absoluta dentro de Sua própria força absoluta. O espaço onde se desenrola o Verbo da Força Absoluta é projeção dEla mesma. Não existem palavras para exprimir a natureza sumamente bela e sublime da Força Absoluta, contudo uso as expressões "sabedoria infinita", "amor infinito", "Vida infinita" e "provisão infinita", resumindo nelas todos os atributos da Força Absoluta. É Ela que mentaliza Buda, isto é, verbaliza a Imagem Verdadeira ou realiza a grande prática através do Verbo. E o mundo que então surge como projeção desse Verbo é o Paraíso. Para quem perguntou onde é o Paraíso, a Sutra da Vida Imensurável diz: "Buda não vem de lugar algum nem vai para lugar algum; não nasce nem morre; não está no passado nem no presente nem no futuro. Entretanto, a fim de atender aos rogos das criaturas e salvá-las, Ele se encontra no Oeste, distante daqui trilhões de léguas, onde se localiza o mundo búdico, que se chama Paraíso. E Buda é Vida eterna. Ele Se tornou Buda há dez ciclos". (Sutra da Vida Imensurável, tradução de Hôken)

A frase "Não vem de lugar algum nem vai para lugar algum" quer dizer que Buda transcende o espaço. E o trecho "não nasce nem morre; não está no passado nem no presente nem no futuro" indica que Ele transcende o tempo. No entanto, ao mesmo tempo, o texto indica um lugar no espaço, dizendo "encontra-se no Oeste", e também se refere ao tempo quando diz "há dez ciclos" (no budismo, um ciclo corresponde a um tempo quase infinito).

Uns contestam a existência de tal Paraíso localizado no tempo e no espaço, e outros acham que esse Paraíso acabará se destruindo porque não é existência eterna, já que surgiu há apenas dez ciclos. Como interpretar esse trecho da sutra?

Se compreendermos que a verdadeira oração a Buda é a "grande prática" realizada pelo próprio Verbo da Imagem Verdadeira e que a vibração desse Verbo se manifesta como Paraíso no plano de tempo e espaço, compreenderemos também que Buda-Imagem-Verdadeira - o que não vem de lugar algum nem vai para lugar algum; não nasce nem morre - pode manifestar objetivamente o 'Paraíso do Oeste' por meio de Seu Verbo, surgindo então um mundo maravilhoso como aquele que Sakyamuni descreveu à Ananda: "No país da Vida eterna, todos os seus habitantes se vestem com elegância, têm o que comer e beber em abundância, são cercados de flores aromáticas e adornados com jóias preciosas; suas vozes são maviosas; suas moradas, de variados tamanhos, são como palacetes ou palácios; atraem poucos, muitos ou infinitos tesouros conforme desejam e mentalizam".

Esse "Paraíso do Oeste" é o mundo onde se projeta o Verbo de Buda e também o verbo das pessoas que vivem o Verbo de Buda (ou de Deus). Portanto, ele é "Paraíso do Oeste", mas, ao mesmo tempo, não o é. É o lugar "de onde não se vem e para onde não se vai", isto é, que transcende o espaço. Quando a nossa Imagem Verdadeira realiza a "Grande Prática" através do Verbo, nesse momento já somos Buda, e a vibração de nosso Verbo projeta-se ao nosso redor como Paraíso. Logo, podemos viver no Paraíso manifestado aqui, agora mesmo, "sem vir de lugar algum e sem ir a lugar algum". Compreendendo isto, não seremos mais iludidos pela idéia de que "só poderemos ser Budas e ir para o Paraíso após a morte carnal".

Na Seicho-No-Ie, quando as pessoas praticam a Meditação Shinsokan, seus lares se harmonizam, as coisas desejadas são atraídas naturalmente e surge um mundo igual ao paraíso descrito na referida sutra. Isso acontece porque, através da "Grande Prática" em que a Imagem Verdadeira mentaliza a Imagem Verdadeira, as vibrações de Seu Verbo manifestam-se em forma de situação paradisíaca neste mundo palpável. A mentalização da Imagem Verdadeira pela Imagem Verdadeira, é a Budificação, é a manifestação do sublime Paraíso no mundo palpável.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 27"; pgs. 100 à 108)

sexta-feira, janeiro 07, 2011

VOCÊ JÁ ESTÁ SALVO - 01



"A grande fé é a própria natureza búdica, e a natureza búdica é o próprio Buda." (Sutra do Nirvana)
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"O Mestre pregou que aquele que se alegra por ter alcançado a fé é igual a Buda; a grande fé é a natureza búdica e a natureza búdica é Buda." (Louvor a Buda, de Shinran)
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"Os mortais entregues a paixões mundanais e a multidão pecadora sujeito a nascimento e morte, se recorrerem ao poder salvador de Buda, nesse exato momento integrarão o grupo dos que receberam a promessa de alcançar o paraíso. Alcançando o paraíso, terão felicidade constante. A felicidade constitui a Imagem Verdadeira. A Iimagem Verdadeira á a natureza búdica. A natureza búdica é a Verdade. A Verdade é o absoluto. O Amita-Buda vem da Verdade e manifesta-se sob diferentes formas." (Ken-jodô-shinjitsi-kyô, gyô-shô-mon, lui-yon - hisshi-motsudo-no-gan, compilado por Shinran)
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"As paixões mundanais não existem de modo verdadeiro. Buda é existência verdadeira, é a Imagem Verdadeira, é a suprema Verdade. Tudo o mais surge e desaparece segundo as leis relativas, de causa e efeito. Somente Buda é constante. Se, para atingir a Imagem Verdadeira de Buda, fosse necessário destruir paixões mundanais, então Buda e as paixões mundanais seriam elementos que se contraporiam: o primeiro seria elemento desejável, enquanto as segundas seriam elementos indesejáveis. Os elementos que se contrapõem são todos frutos das relativas leis de causa e efeito. A Imagem Verdadeira é absoluta e não se contrapõe a nada; está acima de toda relatividade. Portanto, quem prega que 'o homem não pode alcançar o nirvana enquanto não aniquilar paixões mundanais', ainda não compreendeu a suprema Verdade da Imagem Verdadeira e permanece em nível inferior. Em outras palavras, está pregando a verdade relativa, ou seja, a lei da causalidade. Segundo a suprema Verdade da Imagem Verdadeira, existe unicamente Buda, e nada existe além dEle. Logo, Ele é absoluto. Não é correto o dualismo que admite, de um lado, as paixões mundanais e, de outro lado, a iluminação por Buda. Existe unicamente Buda e a iluminação absoluta, que está acima de toda relatividade. Isto é a Imagem Verdadeira." (Coleção Koozui Ootani, vol. 5, p. 160)
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"Um iluminado, ao ver as criaturas, o faz com total transcendência. Diz-se que ele conduz uma infinidade de criaturas ao nirvana, mas, na verdade, não existe sequer tal criatura que precise alcançar o nirvana. É como se o iluminado estivesse brincando de conduzir as criaturas ao nirvana." (Ken-jodô-shinjitsi-kyô, gyô-shô-mon, lui-yon - shuuloku no donlan daishi no lontyu, compilado por Shinran)
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"Força externa de salvação é força salvadora de Buda." (Ken-jodô-shinjitsi-kyô, gyô-shô-mon - lui-ni, compilado por Shinran)



Masaharu Taniguchi


Certa vez, quando eu disse que "a maioria dos adeptos da seita budista Shin pensa que só é possível tornar-se buda após a morte do corpo carnal, mas a Seicho-No-Ie prega o homem já é buda, aqui, agora, neste mundo", alguém retrucou: "Também na seita Shin, no momento em que a pessoa tiver a verdadeira fé em Buda, é como se já tivesse se tornado buda e estivesse no paraíso; as prações que se fazem, portanto, são de gratidão. O senhor não entendeu bem a doutrina da seita Shin".

A seita Shin, que prega a salvação pela força externa, assemelha-se muito à Seicho-No-Ie. Shinran, o fundador dessa seita, disse: "Os mortais entregues a paixões mundanais e a multidão pecadora sujeito a nascimento e morte, se recorrerem ao poder salvador de Buda, nesse exato momento integrarão o grupo dos que receberam a promessa de alcançar o paraíso. Obtendo essa promessa, certamente alcançarão o paraíso".

Receber a promessa de alcançar o paraíso é o mesmo que reservar um lugar no paraíso como seu membro efetivo. Referindo-se a isso, o sr. Koozui Ootani disse o seguinte: "É como se tivesse adquirido a passagem para embarcar no navio. No momento em que a pessoa tiver adquirido a passagem, é como se já tivesse chegado ao destino. O barco de Buda é infalível. Portanto, no momento em que a pessoa resolve recorrer ao poder salvador de Buda e pronunciar namu-amida-butsu, é como se já tivesse se tornado buda e entrado no paraíso".

A afirmação de que "é como se já tivesse se tornado buda" e a de que "já é buda" são muito semelhantes, mas existe entre elas uma diferença sutil. "Ter adquirido passagem" não é o mesmo que "ter chegado ao destino". Quem adquiriu passagem apenas reservou seu lugar, e isso não é o mesmo que ter chegado ao destino.

A Seicho-No-Ie prega que o homem já é buda, já está no paraíso. Não estabelece um espaço de tempo necessário para se alcançar o paraíso, isto é, o tempo compreendido entre o momento em que se recebe a promessa de ir ao paraíso e o momento da morte carnal. O fundador da seita Shin, no entanto, diz: "O sábio Miroku, por alcançar a fé inabalável através de grande treinamentos espirituais, atingirá o estado de buda cinco bilhões e seiscentos e setenta milhões de anos após o desencarne de Sakyamuni, mas as criaturas que recorrem a Buda e adquirem a fé verdadeira graças ao poder salvador de Buda, alcançarão a iluminação no momento do desencarne." Em outra obra intitulada Shôzo matsu wassan, diz: "O sábio Miroku levará 5.670.000.000 anos, mas aqueles que têm fé verdadeira alcançarão a iluminação desta vez. Com isso, ele quis dizer que a seita Shin possibilita alcançar a iluminação em tempo muito menor que o de Miroku. realmente, em comparação com quase seis bilhões de anos que Miroku leva para alcançar a iluminação, devemos dizer que é muito rápida a consecução do mesmo objetivo através da seita Shin, que será "no momento do desencarne". Mas, por que esperar até desencarnar? Na verdade, quando adquirimos a fé verdadeira, neste momento já somos budas e já estamos no paraíso. A expressão "desta vez" da frase "alcançarão a iluminação desta vez" como o momento em que se ouve o nome de Buda e se acredita nele. Eliminando assim o tempo necessário para alcançar a iluminação, a Seicho-No-Ie completa o ensinamento de Shinran. Entretanto, se ele usou a expressão "desta vez" no sentido de "neste momento", então podemos dizer que os ensinamentos dele e da Seicho-No-Ie se identificam plenamente. Mas, como ele já não está entre nós, e não podemos consultá-lo pessoalmente, o único meio de descobrir o seu pensamento consiste em consultar suas obras. Ele escreveu que quem ouvir o nome de Buda, acreditar nele e adquirir grande fé ficará destinado a se tornar buda infalivelmente no momento do desencarne. Portanto, parece que ele acreditava que o homem ainda não é buda mas "é como se o fosse". Ora, "é como se fosse buda" não é o mesmo que "já é buda"; há uma diferença.

Os budistas da seita Shin não dizem claramente que o homem "já é buda", mas que "já é como se fosse buda", e que leva anos ou dezenas de anos até se tornar buda no momento do desencarne. Por que eles estipulam esse período de tempo? É porque durante esse tempo continua existindo o corpo carnal. Dizem que, mesmo para os que adquiriram a "passagem" para o paraíso através da fé verdadeira, será difícil entrar no paraíso enquanto existir o corpo carnal. Se consideram o corpo carnal como um empecilho, é porque possuem em algum canto de sua mente a idéia de que o corpo carnal é uma existência que se opõe à força salvadora de Buda. Mas, na verdade, o corpo é projeção da mente, e não uma existência verdadeira. Compreendendo isto, podemos atingir o paraíso no exato momento em que adquirimos a fé verdadeira.

Quando se fala em "ir para o paraíso", certas pessoas imaginam uma espécie de jardim que fica a uma distância de um trilhão de mundos a oeste e pensam que a alma vai para esse lugar e se instala sobre uma flor de lótus que flutua no lago desse jardim. Se assim fosse, realmente não poderíamos ir para lá enquanto não nos livrássemos do corpo carnal; mesmo tendo adquirido a passagem do barco que vai para o paraíso, não poderíamos embarcar nele enquanto não desencarnássemos. Por isso, tal pensamento está errado. O corpo carnal não existe verdadeiramente. Em termos budistas, o corpo "é como miragem, é como a imagem ilusória apresentada por um ilusionista". O fato de esse "corpo inexistente" estar ou não manifestado COMO SE EXISTISSE, não altera nem um pouco a força salvadora de Buda. Experimentem vocês fechar os olhos, mentalizar que "o corpo não existe" e pronunciar namu-amida-butsu. Quem é cristão pronuncie "Eu e Deus somos um". Quem é xintoísta pronuncie "Deus-Senhor-do-Universo e eu somos um". Estando com os olhos fechados, tem-se a sensação de que o corpo carnal não existe. Quanto mais aumenta essa sensação, mais profundamente nos sentimos identificados com Buda ou com Deus. Se a pessoa não se sente identificada com Buda apesar de pronunciar namu-amida-butsu, é porque ainda tem a sensação de que "o corpo carnal existe", prcisa esperar até ele morrer, para então ir ao paraíso. Mas, compreendendo que o corpo carnal não existe verdadeiramente, não é preciso esperar a "morte", pois o que não existe não tem como morrer. Se pensarmos que algo inexistente vai morrer e ficarmos esperando por essa morte, jamais poderemos alcançar o paraíso. O que não existe é sempre inexistente. Logo, não precisamos esperar até a sua morte. Quando temos "grande fé", nesse momento já somos budas e estamos no paraíso.

Que é então "ter grande fé"? Em termos da seita Shin, é ter fé total na força salvadora de Buda e pronunciar namu-amida-butsu. Em termos cristãos, é ter a seguinte convicção: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim".

De onde vem essa grande fé? Na Sutra do Nirvana está escrito: "A grande fé é a natureza búdica; e a natureza búdica é Buda". Quando se diz "ter grande fé", não se quer dizer que um mortal pecaminoso vá adquirir fé e se tornar buda. "A grande fé é a própria natureza búdica" - assim diz a Sutra do Nirvana. Isso quer dizer que quem suscita a grande fé em nós é a natureza búdica. E, se "a natureza búdica é o próprio Buda", então Buda é quem suscita grande fé em nós. Não é o mortal entregue às paixões mundanais que irá adquirir fé para evoluir até se tornar buda, como se costuma pensar vulgarmente. Se surge grande fé em nós, é porque nossa natureza búdica (ou divina) vibra ao entrar em contato com a Natureza Búdica Universal (Deus). É Buda quem reverencia Buda. Quem se torna Buda é o próprio Buda. Não há mistério algum nisso.

Shinran disse: "Força externa da salvação é força salvadora de Buda". Surge a fé nessa força salvadora porque (e quando) esta se dirige a nós e se manifesta dentro de nós. Não é o ego mortal pecaminoso que adquire fé. Há grande diferença entre adquirir e ter. Diz-se adquirir fé quando o ego tenta alcançá-la com sua própria força. E se diz ter fé quando a força salvadora de Buda se dirige a nós e se torna nossa fé. Por isso, quando se obtém essa fé, pronuncia-se o nome de Buda. E pronunciar é uma "prática" (exercício para aprimoramento espiritual). A seita Shin menospreza a "prática", dizendo que isso é inútil. Entretanto, pronunciar o nome de Buda é uma "prática". O próprio Shinran reconheceu isso como prática, pois disse que "a grande prática consiste em pronunciar o nome de Buda. (...) Entretanto, essa grande prática se origina do grande desejo salvador de Buda". Ele quis dizer que quem pronuncia o nome de Buda não é o mortal pecaminoso, mas o "grande desejo salvador de Buda", que atua dentro da pessoa. Dizendo mais claramente, é o próprio Buda quem pronuncia o nome de Buda. Buda é que invoca Buda, e Buda é que se torna Buda. Não é o mortal que invoca Buda para se tornar Buda. É impossível a salvação através da invocação feita pela força do ego de um mortal. É nesse sentido que a seita Shin menospreza a "prática".

Desta forma, quando pronunciamos namu-amida-butsu (oração para invocar Buda), é Buda que o está pronunciando. Portanto, por mais que recitemos essa oração, não o fazemos com a força do nosso ego. Buda é que está vivendo a vida de Buda. Buda é que está fazendo Buda vibrar. Logo, quem pronuncia o nome de Buda já é Buda. É por isso que Shinran disse: "Aquele que se alegra por ter alcançado grande fé é igual a Buda. A grande fé é a natureza búdica".

Quando praticamos a Meditação Shinsokan, fechamos os olhos, juntamos as mãos e mentalizamos "Neste momento, deixo o mundo dos cinco sentidos e entro no mundo da Imagem Verdadeira" (Obs: Mundo da Imagem Verdadeira = mundo absoluto de Deus, de suma perfeição, onde todos os seres e todas as coisas são projeções da Mente de Deus, portanto perfeitos também) e em seguida visualizamos esse mundo, afirmando: "Aqui, onde estou, é o mundo da Imagem Verdadeira...". Alguns adeptos da seita Shin (do budismo), a qual prega a "salvação pela força externa", criticam a Meditação Shinsokan, pensando que ela seja um meio de "salvação pela força de eu". Entretanto, no momento em que mentalizamos "Neste momento, deixo o mundo dos cinco sentidos", quem mentaliza essas palavras já não é o eu fenomênico; é o Eu que transcende o mundo dos cinco sentidos, o Eu absoluto, o Eu-Imagem-Verdadeira. No budismo, a boca que articula os sons namu-amida-butsu é a boca carnal, a boca mortal, mas quem pronuncia o Verbo namu-amida-butsu é a natureza búdica, o próprio Buda. Da mesma forma, na prática da Meditação Shinsokan, quem toma a postura de oração, juntando as mãos, é o corpo carnal, mas quem deixa o mundo dos cinco sentidos (deixar o mundo dos cinco sentidos significa ao mesmo tempo deixar o "eu dos cinco sentidos", pois este pertence ao mesmo plano daquele) e mentaliza "estou no mundo da Imagem Verdadeira" é o Eu-Imagem-Verdadeira. Este é que mentaliza o fato de estarmos no mundo da Imagem Verdadeira. Assim como na oração budista é Buda quem mentaliza Buda, na Meditação Shinsokan é a Imagem Verdadeira quem mentaliza a Imagem Verdadeira. Portanto, não é pela força do eu carnal que mentalizamos, mas pela "força externa" de que falam os budistas. A expressão "força externa" não é adequada, pos confronta com a "força do eu". A única existência verdadeira é a Imagem Verdadeira (Deus), razão pela qual a Seicho-No-Ie não diz "força externa", e sim "força absoluta", que transcende a força externa e a força do eu. "Sou Imagem Verdadeira e estou no mundo da Imagem Verdadeira" - a mente que assim mentaliza é a mente da Imagem Verdadeira, que se manifesta pelo divino poder da Imagem Verdadeira. Logo, o Eu que mentaliza a Imagem Verdadeira é o "Eu que é Buda desde o princípio" (Eu-Imagem-Verdadeira). Por conseguinte, a Meditação Shinsokan não é uma "pequena prática" realizada pelo "pequeno eu"; é a "grande prática" em que a Imagem Verdadeira mentaliza a Imagem Verdadeira. O fato de a Imagem Verdadeira mentalizar a Imagem Verdadeira - isto é "tornar-se Buda".

A Imagem Verdadeira mentalizar a Imagem Verdadeira; a natureza búdica invocar Buda - esta "grande prática", este Verbo em ação que invoca Buda, é, em si, o ato de "tornar-se Buda". Quando se fala em "tornar-se Buda", muitos pensam que o homem se torna Buda só após ser purificado da ilusão e das paixões mundanais pelo poder sobrenatural de Buda. Entretanto, já que a "ilusão" e as "paixões mundanais" não existem verdadeiramente, não há como "tornar-se Buda" purificando algo que não existe. Isso é impossível. Por mais que se tente purificar a treva, esta não se transforma em luz. Um local escuro se ilumina quando se introduz a luz. Nesse caso, não é a treva que se converte em luz através de uma transformação química. A treva é inexistente, e o que inexiste será sempre inexistente, por mais que se transforme. Quando se introduz a luz da existência verdadeira, a inexistência revela a sua natureza e desaparece. Então se compreende que existe unicamente a luz, unicamente a Imagem Verdadeira.

Certas pessoas, quando compreendem que "a matéria não existe", que "o corpo carnal não existe", pensam que o homem seja como uma miragem, que na verdade não existe. Sakyamuni reprovou tal visão sobre o homem, chamando-a de "visão interruptiva". Quando se compreende que "a matéria não existe", é preciso, ao mesmo tempo, compreender que existe a Imagem Verdadeira; quando se compreende que "o corpo carnal não existe", é preciso, ao mesmo tempo, compreender: Existe Buda (Deus), que é o Eu Verdadeiro. Entretanto, quando se diz que "Existe a Imagem Verdadeira, existe o Eu", certas pessoas pensam que a Imagem Verdadeira seja este eu carnal e que o corpo carnal exista. Sakyamuni também reprovou essa visão, classificando-a de "visão continuísta". Para se ter a compreensão correta da Verdade (visão correta), é preciso não cair nem na "visão interruptiva" nem na "visão continuísta". A compreensão correta da Verdade está na compreensão, ao mesmo tempo da inexistência e da existência, que são opostos, isto é, da compreensão da "inexistência do corpo carnal" e da "existência da indestrutível Imagem Verdadeira". Nisso consiste a "visão correta", que não tende nem para a "visão interruptiva" nem para a "visão continuísta". Quando a pessoa adquire essa "visão correta", compreende a "existência dentro da inexistência", isto é, mesmo que esteja vendo o corpo carnal, compreende que ele NÃO EXISTE e, mesmo que não esteja vendo o Eu-Imagem-Verdadeira, compreende que ele EXISTE. Por conseguinte, compreende que já é Buda, sem precisar esperar a morte física.
Cont...


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 27"; pgs. 89 à 100)


terça-feira, janeiro 04, 2011

Os dois pactos

"Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estes são os dois concertos (pactos); um do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, essa Agar é Sinai, um monte da Arábia que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós". (Gálatas 4: 22, 23, 24, 25, 26)



Joel S. Goldsmith


Em nossa humanidade somos filhos da escrava, subjugados pela carne e suas imposições, presos às coisas, aos pensamentos e às atividades da carne, quer se trate da carne do corpo, quer seja a carne chamada dinheiro ou outras formas do humano viver.

Vivendo na e pela carne, como descendentes da escrava, estamos sob as leis da matéria, as leis da economia, da raça, da religião e da nacionalidade - sob o contrato "que foi gerado pela escravidão". O outro pacto, que é o de nossa adoção espiritual, que acontece pela atividade consciente dentro de nosso próprio ser e no momento em que estivermos prontos para a transição, já que a transição de humanidade para a filiação espiritual se dá exclusivamente pela Graça.

Quando alguém diz que gostaria de ser um filho de Deus e de ser livre das mazelas da carne, geralmente não quer dizer exatamente isso. Quer dizer que gostaria de ser livre das mazelas da carne, mas sem abrir mão de seus proveitos e prazeres. É por essa razão que, como seres humanos, não podemos escolher ser filhos de Deus.

Mas virá um dia, na consciência de cada um de nós - para alguns agora mesmo e para outros daqui a diversas existências -, quando pela Graça interior seremos capazes e desejosos não só de nos livrar dos desgostos da carne, mas também de seus proveitos e prazeres; desejaremos nos familiarizar com nossa identidade espiritual, ou seidade, com essa nova criatura, outra que não a antiga, saudável e honrada, uma criatura nova nascida do Espírito. Essa é a experiência de transição.

Ser nascido pelo Espírito significa renascer por uma transformação da consciência, e esse renascimento pode ocorrer enquanto estamos neste plano de existência terrena, assim como pode ter lugar após termos deixado esta esfera.

É bom lembrar que se não conseguirmos fazer a transição aqui, sempre haverá para nós uma oportunidade em outro momento, pois no reino de Deus não existe tempo. Ali é sempre o agora, e o agora sempre se nos apresenta com novas oportunidades. Esse momento é agora. Esse momento, esse agora, nos dá a oportunidade de abdicar de nossa humanidade para aceitar a divindade do nosso ser. Se porém isso estiver além de nossa capacidade imediata de fazê-lo neste momento, mais tarde descobriremos que também é agora, e nesse novo agora estaremos de novo diante da oportunidade de aceitar ou não a divindade do nosso ser.

Se não estivermos preparados para um tal recebimento, haverá amanhã, o ano que vem ou o seguinte; e a cada vez que se apresentar a oportunidade de descobrir nossa filiação divina, será o agora. Daqui a cem anos, será agora para nós.

Agora é sempre o momento de aceitar nossa divindade, embora para alguns possa ter ocorrido anos atrás e para outros possa acontecer daqui a anos. Quer ocorra neste exato momento ou a qualquer outra hora, quando acontecer será agora.

Cada um de nós terá de o defrontar, a qualquer momento de qualquer dia da eternidade, e aqueles de nós que, por uma razão ou outra forem incapazes de aceitar o "convite" de nossa liberdade nesse momento particular - liberdade com que estaremos revestidos quando da aceitação do Cristo - tranquilamente terão uma nova oportunidade ao longo do tempo. Para aqueles que se foram antes de nós - alguns dos quais em profunda escuridão espiritual, outros em estado de pecado mortal e de degradação - também existe o agora e eles também têm a mesma oportunidade agora que tiveram e rejeitaram aqui na terra; e agora podem ter desenvolvido uma maior capacidade de aceitação.

O que significa aceitar a revelação espiritual em nossa experiência? Sem a compreensão do que seja a revelação espiritual não podemos estar preparados para aceitá-la. Apesar de a maioria das pessoas afirmar acreditar em Deus, na verdade muitas delas não acreditam. De fato, podem acreditar que há um Deus ou ter uma crença acerca de Deus, mas não têm fé, nem percepção e nem convicção; isso porque a natureza do escravo é estar ligado aos efeitos - ao amor, à adoração, e ao temor de qualquer coisa que tenha forma, que tenha efeitos visíveis. Podem ser fisicamente saudáveis, de coração, fígado ou pulmões; podem ter montanhas de dinheiro, investimentos ou imóveis, porém o amor, a devoção ou o medo de muitos seres humanos está sempre voltado para algo ou para alguém do reino do visual. O filho da escrava está ligado a algum pensamento, coisa ou pessoa, e é o que constitui a humanidade em sua quase totalidade.







O novo "contrato", da nova criatura, começa a valer quando descobrimos que "Eu e o Pai somos um" e "Tudo o que o Pai tem, é nosso. Eu olho para uma única direção, a do Infinito Invisível. Então, o que vem de dentro eu reparto gloriosamente, com liberdade e júbilo".

A transição para a filiação divina implica mudar a fé no que é visível para a fé no Infinito Invisível, no que jamais pderá ser visto, ouvido, saboreado, tocado, cheirado, ou mesmo pensado e argumentado. Tem de ser uma fé em si mesma, que não pede razões. Deve ser uma convicção avassaladora, condizente com essa fé, mesmo antes de se saber o que é - ou seja, um instinto profundo, uma intuição, uma graça interior.

"Não haverá sinais a seguir": os sinais seguem aquele que crê. Quando a fé se instala, os sinais vêm. Se nos dedicarmos a qualquer sinal, qualquer coisa ou pensamento em que podemos nos apegar, então tal coisa ou pensamento é algo sobre o qual repousa a nossa fé, em vez de estasr no Invisível, que é Deus. É possível pensar e repensar na verdade - e até certo ponto isso é natural e certo -, porém virá o momento em que o pensamento pára, se faz um branco, quase um vazio, e então nesse vazio jorra a própria Presença e Força de Deus.

Podemos atingir essa Presença apenas estando despidos, num momento de completo silêncio, quando todo processo de pensamento estiver parado, quando nada tivermos para nos apoiar, nada em que fixarmos nossa felicidade, e tivermos nos tornado estéreis e vazios.

Esse é o momento em que percebemos que, mesmo sem poder conhecê-Lo, senti-Lo, ou pensá-Lo, aí está uma Presença invisível, um Algo inatingível que todavia é atuante, e que de dentro da própria invisibilidade manifestará tudo o que for necessário ao nosso desenvolvimento.

Se acharmos que somos alguma coisa, erraremos gravemente. Apenas quando atingirmos a renúncia a nós mesmos é que a divina Seidade de nosso próprio Ser revelar-se-á. E o caminho é o Silêncio. O silêncio não é ausência de som, mas um estado de consciência que nos torna capazes de refrear qualquer reação da mente ao que é visto ou ouvido. Por exemplo, podemos ver e reconhecer uma sombra na parede, uma figura assustadora, e não ter uma reação de medo, sabendo que é uma sombra. Quando a consciência tiver atingido o conhecimento de uma força, de uma lei, uma substânbcia, uma causa - a unidade - não mais responderemos com medo, dúvida ou horror a qualquer coisa vista ou ouvida; e então a consciência terá ido além da força e atingido o Silêncio - a cura da consciência.


quinta-feira, dezembro 30, 2010

Ano renovado pela Presença

Joel S. Goldsmith


Reconheça a Presença interna

Concordando com a necessidade de transformação de consciência, para tornar o ANO NOVO melhor em todos os sentidos, cabe-nos determinar: “Qual deve ser esse novo estado de consciência?”.

Nossos estudantes sabem que uma consciência imbuída da Verdade sempre expressará condições harmoniosas em sua vida. Sabem que nossa vida é um reflexo do grau de Verdade imbuída em nossa consciência, isto é, a qualidade da Verdade com que nossa consciência está construída.

Se bem que seja verdade que Deus constitui a nossa consciência e, portanto, já possuamos a plena, completa e perfeita consciência espiritual, devemos compreender que essa perfeição é potencial, disponível, demonstrável. Cabe a cada um de nós revelar aos poucos essa perfeição, por um trabalho individual na Verdade; pelo empenho em nossos deveres, até que a Presença seja realizada em plenitude à nossa consciência.

Sem um contínuo reconhecimento desta Presença Interna, ficamos hipnotizados pela consciência de massa e sujeitos a ela. Ficamos sob a lei de acidente: se coincidir de ser um novo ano progressista, de boa saúde, talvez partilhemos disso. Mas se acontecer um ano economicamente depressivo, de epidemia, também disso partilharemos.

O modo de evitar fazer parte da consciência de massa — esse viver robotizado, movido pelas crenças mundanas — é começar e terminar nosso dia em estado de oração. É manter-nos vigilantes na consciência de nossa real identidade, como filhos de Deus, vivendo uma própria vida e não a vida dos outros, assim como não buscamos que os outros vivam nossa vida. Deus é que deve viver em ou como nós.

“Deus, no meio de mim, é poderoso”. Há uma Presença divina que vai diante de mim “para endireitar os caminhos tortuosos” (Is.45:2). Há um Poder e uma Presença espirituais dentro de mim, que é a lei de ressurreição sobre toda a experiência humana, sobre os meus negócios e meu corpo; sobre minha profissão e minha saúde. Há uma influência espiritual que restaura até mesmo “os anos perdidos do gafanhoto”.

Devemos aprender a conscientizar a Presença divina em nós, muitas vezes ao dia - até que se torne uma constante. É isto que nos sobreleva a consciência da massa e nos capacita a viver sob a orientação de Deus, pela Graça. A Lei, a substância, o poder de Deus nos suprem, quando O reconhecemos em todos os nossos caminhos e conservamos nossas mentes focadas nEle. Só isto nos separa da influência da massa e salva-nos da experiência coletiva, capacitando-nos a ser uma Lei em nós mesmos.

Portanto, Sede Vós Perfeitos

Vimos a ser uma Lei sobre nós mesmos a partir do momento em que conscientizamos Deus em nosso íntimo e aceitamos que Ele nos dirija; do momento em que reconhecemos nosso relacionamento como Filhos e Herdeiros dEle, em usufruto de todas as riquezas celestiais. Só pela consciente e compreensiva aceitação desta Verdade é que nos colocamos sob a Lei de Deus. Estamos sob às leis da humanidade, sob a Lei do Karma, sob a Lei de Causa e Efeito. Todas as leis que operam sobre a consciência humana, produzem seus efeitos sobre nós, individualmente, enquanto não atingirmos a realização espiritual e não demonstrarmos a plenitude da harmonia pela Graça.

O mandamento é: “Portanto, sede vós perfeitos como é perfeito a vosso Pai celestial”. Elevando-nos gradualmente à perfeição é que nos separamos das leis e crenças que governam o mundo. Não há meio de um ser humano chegar a ser perfeito enquanto não reconhecer a perfeição potencial de Deus em seu íntimo, como possibilidade de alçar-se de “gloria em glória”, sob a orientação divina, sob Seu Reino e Sua Lei. Só podemos ser perfeitos pela realização da perfeição divina que já está em nós. Este reconhecimento é importante para estímulo e esforço consciente de superação da influencia de massa.

Como dissemos, esta perfeição não se ganha num instante. Devemos começar no ponto em que nós estamos, sem reclamar essa perfeição a nós mesmos, mas “esquecendo-nos das coisas que ficam para trás” e conscientizando que “Eu e o meu Pai somos Um”. Esta unidade governa nossa vida com harmonia. É uma benção, mesmo na pequena medida inicial de nossa capacidade. Ninguém, neste momento, está exprimindo a plenitude de Deus. Mas podemos regozijar-nos se, em alguma medida, já podemos demonstrar a capacidade de separar-nos da consciência de massa; se, em alguma proporção podemos apartar-nos dos erros, doenças e limitações a que estaríamos sujeitos num viver comum.

Não caiamos no mesmo erro de alguns estudantes metafísicos que desanimaram e desistiram do esforço, por não haverem demonstrado harmonia e liberdade interior completas. Ao contrário, alegremo-nos a cada pequeno avanço neste sentido, em nossa experiência, pois é prova de que estamos nos aproximando da mais alta realização, que será seguramente alcançada, se persistirmos neste caminho.

De nada nos vale saber, ler, pensar, que a sintonia com o Divino interno é benéfico. É preciso praticar! É indispensável buscar essa sintonia, para conquistá-la aos poucos. Se não a buscamos, quando a realizaremos?

Nossa vida, neste ano, pode ficar sob a orientação e governo amorosos de Deus, na medida em que aceitarmos e praticarmos esta verdade e nela persistirmos. Não há meio de a Lei ou a Verdade espiritual tocar-nos com a Graça, se não as aceitamos e não as buscamos conscientemente. Depende só de nós: é algo intransferível; ninguém pode fazer por nós, por mais que nos ame e por mais estreitos que sejam os laços que nos unam.

Lembremos: mesmo depois de três anos de íntimo convívio com o Mestre, Judas O traiu; os demais discípulos (com exceção de João) O abandonaram, quando Ele mais precisava deles. Isso mostra do quão convictos devemos estar da Verdade, para abraçá-la e demonstrá-la em todas as circunstâncias.


segunda-feira, dezembro 27, 2010

Suprimento é Espírito


Joel S. Goldsmith


No campo do mentalismo, é comum a pessoa querer demonsntrar suprimento, companhia, lar ou transporte. Já numa mensagem mística como a do Caminho Infinito, esta seria uma base incorreta de se trabalhar, pois, estaríamos partindo da premissa de que “eu não tenho”. Isto seria uma lástima, pois estaríamos endossando um senso de separação de Deus, do Bem, da “completeza” e da infinitude.

Suprimento é espírito e está dentro de nós. Não é visível e nunca o será. Escapa ao olhar humano; não o sentimos com nossos dedos humanos; jamais o ouvimos ou degustamos. O que vislumbramos no mundo exterior são as formas que o suprimento assume. Externamente, o suprimento assume a forma de dinheiro, de alimento, de vestuário, de moradia, de transporte, de capital empresarial, etc. Nosso discernimento espiritual nos confirmará essa verdade. Mais tarde, teremos a prova disso – não porque conseguiremos ver o suprimento, mas porque seremos capazes de reconhecer as formas que ele assume.

O suprimento é infinito e onipresente, onde quer que nos encontremos. Como Moisés, podemos compreender que não precisamos viver do maná de ontem, nem estocar o de hoje para amanhã: o suprimento é inesgotável.

Como o suprimento, também a Verdade não pode ser vista nem ouvida. Jamais veremos ou ouviremos a Verdade. Ela está dentro de nós. A Verdade é Espírito, a Verdade é Deus. Aquilo que lemos num livro ou escutamos à nossa volta não passa de símbolos da Verdade.

Assim, não iremos sair de nossa Consciência para demonstrar coisa alguma, uma vez que a infinita Consciência divina é a nossa Consciência individual, e ela incorpora a infinitude. Portanto, nada teremos de fazer para atrair o suprimento; antes, ele deverá surgir expressado de nosso próprio ser.

Enquanto vivermos neste conceito material de mundo, pensaremos em suprimento como puramente material, sempre consistindo de algo externo a nós, o qual devêssemos obter: dinheiro, casa, carro, etc. No mundo real, do Espírito, o suprimento nunca está fora de nós, nem é algo a ser adquirido, alcançado ou recebido posteriormente. Isto porque suprimento, no reino espiritual, é aquilo que Eu sou: Eu sou o pão; Eu sou o alimento; Eu sou a água. Sem qualquer pensamento voltado a algo ou alguém do mundo externo, voltamo-nos interiormente e comungamos com nosso ser interior, habitando na percepção de uma “completeza” inerente a esse nosso Eu.

Isto compreendido, poderemos olhar qualquer pessoa e notar sua completa independência com relação às demais, graças a este princípio de Autocompleteza. A Vida única cuida de nós, fazendo surgir tudo o que se faça necessário ao nosso desenvolvimento. Esta Autocompleteza que somos, e que tão fartamente nos supre, não é de fato nossa: ela flui em nós, através de nós, como fruto a ser compartilhado. Antes, porém, de o colocarmos em circulação, devemos nos elevar acima do conceito material de vida, que acredita necessitarmos de obter coisas externas. Você entende aonde eu quero chegar? Não é torná-lo um humano mais rico, mas torná-lo consciente do fato de que – O REINO INTEIRO DE DEUS É SEU! Não necessitamos de lutas, esforços, nem de aquisições: basta-nos ficarmos quietos, na percepção de nosso Eu que é completo, de nosso Eu que engloba a tudo.



sábado, dezembro 25, 2010

Deus aparece "como"

Joel S. Goldsmith


Deus é a “minha saúde”. Se isso for verdade, não devemos andar em busca de um Deus que seja um grande poder para eliminar doenças. Quando nos identificamos conscientemente com Deus, então Sua Presença, realizada em nós, já é a nossa saúde. Essa Presença não restabelece a saúde, nem contribui de qualquer forma para a saúde: Ela é saúde. Deus é saúde, e além dEle não há outra saúde. É sempre inútil tentar obter saúde. Mas, ao entrarmos em contato com Deus, constatamos que Ele é a nossa saúde.

Apesar de todos os ensinamentos em contrário, Deus não nos dá suprimento, não envia suprimento, não traz suprimento a ninguém. Deus é suprimento. Quando sentimos a presença de Deus, estamos em posse de todo o suprimento que existe, porque não há outro além dessa Presença. A presença de Deus, que é o verdadeiro suprimento, é tudo o que devemos querer ou desejar, porque quando a sentimos, constatamos que todas as coisas estão nela inclusas. Não há Deus e suprimento: Deus é suprimento e, e quando temos Deus, temos suprimento ilimitado.

Jamais devemos crer que Deus conseguirá uma casa bonita e confortável para morarmos. Deus é nossa moradia. Nós não devemos desejar uma casa ou que Deus a obtenha para nós. Tudo o que devemos desejar é o próprio Deus. E assim constataremos que quando temos Deus, teremos onde morar - uma casa bonita, uma habitação prática e muito bem situada.

Se estamos tentando achar uma casa separada de Deus - ou tentando achar uma por meio de Deus - poderemos nos surpreender com a demora que se dará para consegui-la. Entretanto, quando abandonamos o desejo de um lar, ou de uma casa, e alimentamos unicamente o desejo de conhecer a Deus corretamente, nosso lar ou casa aparecerá automaticamente, porque Deus é a nossa moradia. Só existe um lugar onde deveríamos viver, que é em Deus. Devemos viver, nos mover e ter o nosso ser em Deus, deixando de desejar residir em lugares, casas, cidades ou povoações, mas enfocando nossa atenção numa única coisa:

"Deus é minha habitação. Minha única necessidade é Deus – não um lugar onde morar, mas Deus. Quando tenho Deus, não só tenho onde morar, como também tenho tudo o que é necessário para montar uma casa e mantê-la."

Assim também é com relação à proteção ou segurança. Pedir tais coisas a Deus é perder tempo. Deus é torre alta, o nosso alto refúgio, é a nossa fortaleza. Se orarmos pela nossa identificação consciente com Deus, ou seja, com a sua onipresença, constataremos que mesmo quando andamos pelas ruas, sem qualquer proteção física, nossa proteção espiritual não permitirá que nenhum mal deste mundo se aproxime de nossa moradia. Como poderia isso acontecer, se nossa habitação é em Deus? Sofremos acidentes quando nossa moradia é em outro lugar. Mas, se vivermos conscientemente no esconderijo secreto do Altíssimo, se fizermos de Deus a nossa moradia, se fizermos de Deus nosso alto refúgio e fortaleza, se fizermos de Deus o nosso suprimento e a nossa saúde, então não necessitaremos andar em busca de lugares para morar, nem de fortalezas, saúde ou suprimento, porque Deus é todas essas coisas.

Deus não pode enviar saúde, não pode prover suprimento, não pode garantir segurança ou proteção, não pode dar nem mesmo sabedoria. Deus é tudo isso. Desistamos, pois, de pedir essas coisas ou quaisquer outras a Deus, mas tratemos de conseguir entrar em contato consciente com Deus, somente com Deus, conscientizando Sua presença. Então poderemos constatar que Deus se revela na vida prática, a tal ponto que, se estivéssemos numa floresta, e sem nenhum meio de conseguir alimento - como esteve Elias -, os corvos no-lo trariam; ou, ao acordarmos, encontraríamos pão sendo cozido sobre pedras, sob nossas vistas; ou, ainda, se nos encontrássemos num deserto e sem alimento - como se viu Moisés - cairia maná do céu para nós. Aliás, nenhum destes homens jamais se interessou por outra coisa que não fosse a sua própria identificação consciente com a presença de Deus.

A multiplicação dos pães e peixes não foi efetuada pelo Mestre. Ele nada mais fez senão voltar-se interiormente para o céu. Em outras palavras, compenetrou-se da presença e da graça de Deus, e então, automaticamente, os pães e peixes foram multiplicados. Nós não podemos multiplicar pães e peixes. O próprio Jesus não o fez. Ele apenas identificou-se conscientemente com Deus como Onipresença e Onipotência, e esse estado de autorrealização refletiu-se naquilo que compreendemos como sendo as coisas práticas da vida cotidiana. Do mesmo modo, nós também, se necessitarmos de emprego, seremos conduzidos de forma a encontrá-lo, se necessitarmos de uma casa, seremos levados a encontrar o que parecerá ser o nosso lar, se necessitarmos de amigos, parentes, ou de alguém para nos ajudar, tudo nos será proporcionado.

Não procures Deus por um lado e suprimento por outro, nem suprimento e Deus; sobretudo, nunca procures usar Deus como um meio para conseguires uma casa, companhia ou saúde, porque isto seria pretender fazer de Deus um servo. Ele nunca poderá ser isso. Jamais poderás servir-te de Deus, a Verdade; mas Deus, a Verdade, é que te pode usar. Deus, a Verdade, pode manifestar-se em ti e através de ti.


quinta-feira, dezembro 23, 2010

Estabelecendo contato com Deus


Joel S. Goldsmith


Antes de iniciar qualquer de nossas atividades, precisamos estabelecer contato com Deus. Aquele que ainda não aprendeu a fazê-lo, a princípio levará algum tempo. Talvez necessite ler durante alguns minutos, sentar-se e meditar alguns minutos mais... tornar a ler e meditar, refletir sobre alguma Verdade, e meditar mais uma vez. Possivelmente levará uma hora para conseguir e sentir que o conseguiu.

Os que estão sempre muito ocupados com as atividades deste mundo poderão perguntar: “Como poderei dispor dessa hora?" – Isso cada um terá que determinar por si. Cada um terá que decidir se vale a pena conseguir essa realização espiritual, levantando-se uma ou duas horas mais cedo, ou se é mais importante continuar dormindo.

Consciosa e honestamente, ninguém pode alegar não dispor de tempo. Todos dispõem de vinte e quatro horas por dia. Mesmo que cada um tenha obrigações diárias a cumprir por doze horas, poderá, indubitavelmente, decidir se nas doze horas restantes assistirá a programas de televisão, ouvirá rádio, irá a um cinema, dormirá ou passará pelo menos duas dessas horas tentando sentir-se em união com Deus. A cada um cabe determinar até que ponto realmente anseia ter essa experiência.

Ter contato com Deus não é apenas afirmar mental ou verbalmente que o temos - é mais do que isso: é sentirmo-nos intima e efetivamente livres de temores e preocupações de natureza mundana. Depois desse contato, recebemos maior luz espiritual e opera-se uma mudança gradativa em nosso corpo, em nossa situação financeira e em outras circunstâncias de nossa vida. Quando atingimos esse estado de efetiva realização, sabemos que estamos sendo divinamente conduzidos, divinamente protegidos, divinamente instruídos, e vivemos sempre na presença de Deus, seja qual for a situação em que aparentemente nos encontremos.

Deus pode, inclusive, manifestar-Se a Si mesmo a nós. Uma vez que Deus é o ser individual infinito, Deus é onipresente como a sua consciência individual. Esta onipresença pode aparecer a você sob qualquer forma que sua consciência possa aceitar. Não limite a forma na qual a verdade, a orientação, a saúde, a cura possam vir a você, porque Deus é infinito em Sua atividade, Deus é infinito na forma e na aparência.

Aceite a verdade que Deus pode aparecer a você individualmente: Deus pode aparecer a você dentro de sua própria consciência. Deus pode aparecer como aquele que ensina, cura e salva. Deus pode aparecer como direção, sabedoria e orientação. Aceite Deus sob qualquer forma na qual Ele possa aparecer em sua consciência, quando você está em silêncio. Não tenha medo de qualquer visitação interior. Quanto maior o grau de desenvolvimento que você atingir nesse trabalho, maior será a revelação interior da natureza individual vinda a você. Você receberá a sua manifestação individual de Deus e Deus aparecerá a você de uma forma individualizada.

Tão logo, pela meditação, você avance na prática e possa alcançar o ponto em que estará acima “deste mundo”, irá me conhecer como eu sou e irei conhecê-lo como você é. É assim que ocorrem as curas, e isso explica porque previno aos estudantes que não digam às pessoas que devam se corrigir e que não recusem pacientes que não pareçam estar agindo conforme eles julguem ser o certo. O estudante não tem nada com isso. Cabe-lhe se voltar ao próprio interior e ver a pessoa necessitada de ajuda como sendo Deus; e então, rapidamente o paciente se amoldará ao “modelo que te foi mostrado sobre o monte” (Hebreus 8:5).

O mundo está hipnotizado a tal ponto por pessoa, local e coisa, que, dispondo de boa pessoa, bom lugar e boa coisa, todos julgam isso tão agradável e confortável que, desejando desfrutar desses efeitos, não buscam nem desejam algo mais elevado do que eles. Estes prazeres e usufrutos materiais, contudo, não podem ser uma graça permanente, pois, por mais bem que a pessoa possua, ela ainda continuará flutuando entre os pares de opostos (bem e mal).

Assim, digo-lhe mais uma vez: se for levado a tratar uma pessoa na intenção de mudá-la ou aumentar-lhe os bens “deste mundo”, ou se você temer a guerra, a depressão, a bomba atômica, você estará hipnotizado. A questão, nesse caso, será simplesmente a de se saber em que data você será posto num túmulo. Entretanto, se você captar esta visão espiritual, no momento em que for deixar este mundo passará por uma experiência de transição que será melhor e mais elevada do que esta.

Você não pode tratar uma pessoa; não pode tratar uma condição. Seria o mesmo que tentar tratar “cobras vistas no vaso”, dizendo: “Preciso escapar de minhas três cobras” (No caso de um vaso em que flores são vistas como cobras, por sugestão de um hipnotizador). "Assim que me livrar delas, terei condições de estudar melhor.” Pode ver que grande tolice? Não há cobra alguma presente; portanto, jamais irá conseguir escapar delas. Tudo o que tem a fazer é escapar do hipnotismo!

Quando de fato você souber disso e acreditar – e não meramente aceitar as palavras -, não terá mais que estudar a Verdade, pois o único objetivo deste estudo é aprender que o hipnotismo é a única ilusão; tendo isso sabido, não haverá mais o que estudar. Todo o restante ficará para ser vivenciado dentro de nosso próprio ser.

No instante em que tentar mudar ou melhorar um estado de doença ou condição, você próprio estará hipnotizado, uma vez que inexistem doenças ou condições apartadas do mesmerismo ou hipnotismo (aquelas são intrínsecas a estas). Portanto, ser levado a trabalhar uma condição apenas irá torná-la inteiramente pior.

Aqueles que estão lendo ou estudando a Verdade, ou que estão empregando a Verdade para obter uma cura, suprimento ou outra coisa qualquer, logo perceberão que quanto mais fixarem suas mentes no anseio de escapar da condição ou obter uma cura, mais estarão se envolvendo com a miragem da ilusão. É preciso notar que não há nenhuma demonstração humana a ser feita. Há somente uma demonstração, e esta é obter a conscientização de Deus.

Quando você puder conscientizar Deus, conseguirá tudo: terá vida imortal; eternidade e infinitude. Você não poderá demonstrar um lar, uma companhia, um divórcio ou um trabalho: poderá apenas demonstrar a Presença de Deus, e esta inclui toda natureza da demonstração externa que deva ser feita.


segunda-feira, dezembro 20, 2010

A Verdade brilha em cada ponto da mentira

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Dárcio Dezolt


Quando é dito que a premissa básica do estudo da Verdade é esta: DEUS É TUDO, o que está sendo revelado é que a mentira, por maior ou menor que seja, é mentira, e nunca a Verdade. A Verdade brilha universalmente, alheia a quaisquer mentiras que possam ser inventadas, propagadas e sugeridas como existências pela suposta mente humana.

Poderíamos afirmar, escrever e divulgar, o tempo todo, que o resultado para a conta 2+2 fosse 10, que fosse amanhã 12, no ano que vem fosse 15, e que, no ano de 2012 fosse o fim da matemática, etc. Poderíamos inventar o que quer que fosse, mesmo assim, o “quatro”, que é a verdade única presente, e o princípio matemático universal prevaleceriam.

A mente humana é capaz de inventar infinitas mentiras sobre você! Pode inventar que você é separado de Deus, que você nasceu de seres humanos, que está na Terra para evoluir, que é pecador, que está aqui para expiar erros do passado, que o passado existe, que no presente você tem o bem e o mal para escolher, que no futuro você poderá ser salvo ou não, dependendo do uso que fizer de seu livre-arbítrio, etc. São infinitas as mentiras que ela é capaz de levantar sobre Deus, sobre o Universo e sobre VOCÊ! Porém, sejam quantas forem as mentiras, sejam quais forem as deduções lógicas usadas, sejam quais forem as imagens que “os cinco sentidos” captem para lhe convencer de que tais mentiras sejam verdadeiras, prevalece a Verdade, incólume, no lugar de todas elas, que é DEUS SENDO TUDO, SENDO O UNIVERSO INFINITO E SENDO VOCÊ!

Assim como você descartaria como absurdos quaisquer resultados diferentes do “quatro”, para a conta “dois mais dois”, descarte todas as crenças, noções, deduções e aparências que enxerguem em VOCÊ algo diferente ou dessemelhante de Deus!
Além disso, como você jamais meditaria para transformar um “três” em “quatro”, jamais medite para transformar "mentiras" sobre você em VERDADE! Por isso, comece sempre suas “contemplações” pela VERDADE - e não preocupado em “curar” mentiras! A Verdade é a Verdade; e, tal como o “quatro” é o resultado único e permanente para a conta em questão, VOCÊ É UNICA E PERMANENTEMENTE DEUS EM EXPRESSÃO, e ponto final.

domingo, dezembro 19, 2010

A Grande Revelação

Mary Baker Edy
Mary Baker Eddy


A Ciência Cristã revela a grande verdade de que, acreditar que o homem tenha uma mente finita e falível e, em consequência, uma mente, alma e vida mortais, é erro. Os termos científicos não têm significados contraditórios.

Na Ciência, a Vida não é temporal, mas eterna, sem começo nem fim. A palavra Vida nunca significa aquilo que é a fonte da morte, do bem e do mal. Tal inferência não é científica. É como dizer que a adição significa subtração num caso e adição em outro, e então aplicar essa regra a uma demonstração da ciência dos números, do mesmo modo como os mortais aplicam termos finitos em relação a Deus, para demonstrar a infinidade. Vida é um termo usado para designar a Divindade; e qualquer outro nome que se dê ao Ser Supremo, se for empregado com propriedade, tem o significado de Vida. Tudo o que erra é mortal, e é o antípoda da Vida, ou Deus, da saúde e da santidade, tanto em ideia como em demonstração.

A Ciência Cristã revela que a Mente, o único Deus vivente e verdadeiro, e tudo o que foi feito por Ele - a Mente - é harmonioso, imortal e espiritual; os cinco sentidos materiais definem a Mente e a matéria como distintas, mas reciprocamente dependentes uma da outra, para manifestarem inteligência e existência. A Ciência define o homem como imortal, como coexistente e coeterno com Deus, como feito à própria imagem e semelhança de Deus; o sentido material define a vida como algo separado de Deus, algo que tem começo e fim, e o homem, como muito distante da semelhança divina. A Ciência revela a Vida como uma esfera completa, como Mente eterna, existente por si mesma; o sentido material define a vida como uma esfera quebrada, como matéria orgânica, e a mente como algo separado de Deus. A Ciência revela que o Espírito é Tudo, asseverando nada existir além de Deus; o sentido material diz que a matéria, o antípoda de Deus, é algo existente fora de Deus. O sentido material acrescenta que o Espírito divino criou a matéria, e que a matéria e o mal são tão reais quanto o Espírito e o bem. E isto é erro.

A Ciência Cristã revela Deus e Sua ideia como o Tudo e o Único. Declara que o mal é a ausência do bem, ao passo que o bem é Deus sempre presente, e que, portanto, o mal é irreal e o bem é tudo quanto é real. A Ciência Cristã diz à onda e à tempestade: “Acalma-te” - e se faz grande bonança. O sentido material pergunta, em sua ignorância sobre a Ciência: “Quando cessará a fúria dos elementos materiais?” A Ciência diz a toda espécie de doença: “Sabei que Deus é todo poder e toda presença, e nada existe fora dEle” - e os doentes são curados. O sentido material diz: “Oh, quando cessarão os meus sofrimentos? Onde está Deus? A doença é algo existente fora dEle, que Ele não pode ou não quer curar.”

A Ciência Cristã é a única base segura da harmonia. O sentido material contradiz a Ciência, pois a matéria e suas pretensas organizações não percebem os fatos espirituais relativos ao universo, ou acerca do homem real, e de Deus. A Ciência Cristã declara existir uma só Verdade, Vida, Amor, um só Espírito, Mente, Alma. Qualquer tentativa de dividi-los provém da falibilidade dos sentidos, da ignorância do homem mortal, da inimizade contra Deus e contra a Ciência divina.

A Ciência Cristã declara que a doença é uma crença, um temor latente, que se manifesta no corpo em diferentes formas de medo ou moléstia. Esse temor é formado inconscientemente no pensamento silente, como quando despertais do sono e vos sentis mal, experimentando o efeito de um temor de cuja existência não vos apercebeis; mas se adormecerdes, realmente conscientes da verdade da Ciência Cristã – ou seja, de que a harmonia do homem é tão inviolável como o ritmo do universo – não podereis despertar com medo ou sofrimento de espécie alguma.

A Ciência diz ao medo: “És escuridão, o nada. Estás sem 'esperança', e sem Deus no mundo. Não existes, e não tens o direito de existir, porque 'o perfeito amor lança fora o medo'."

Deus está em toda parte. “Por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do mundo”; e esta voz é a Verdade que destrói o erro, é o Amor que lança fora o medo.

A Ciência Cristã revela o fato de que, se o sofrimento existe, é só na mente mortal, pois a matéria não tem sensação e não pode sofrer.

Se expulsais da mente mortal toda sensação de doença e sofrimento, essa sensação não poderá ser encontrada no corpo.

A posteridade terá o direito de exigir que a Ciência Cristã seja exposta e demonstrada em sua santidade e grandeza – e embora o ensinado ou o aprendido seja pouco, que esse pouco seja correto. Que haja leite para as criancinhas, mas não permitais que o leite seja adulterado. A não ser que se siga esse método, a Ciência da cura cristã se perderá outra vez e o sofrimento humano aumentará.

Provai a Ciência Cristã pelo seus efeitos sobre a sociedade – quanto à ilusão do pecado, da doença e da morte – porquanto produzem melhores frutos de saúde, justiça e Vida, do que a crença na realidade dessa ilusão jamais produziu. A demonstração da irrealidade do mal destrói o mal.


quinta-feira, dezembro 16, 2010

Poema: "Samadhi"

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Paramahansa Yogananda


"Levantados os véus de luz e sombra,
Evaporada toda a bruma de tristeza,
Singrado para longe todo o amanhecer de alegria transitória,
Desvanecida a turva miragem dos sentidos.

Amor, ódio, saúde, doença, vida, morte:
Extinguiram-se estas sombras falsas na tela da dualidade.

A tempestade de maya serenou
Com a varinha mágica da intuição profunda.

Presente, passado, futuro, já não existem para mim,
Somente o Eu sempiterno, onifluente, Eu, em toda parte.

Planetas, estrelas, poeira de constelações, terra,
Erupções vulcânicas de cataclismos do juízo final,
A fornalha modeladora da criação,
Geleiras de silenciosos raios X, dilúvios de elétrons ardentes,
Pensamentos de todos os homens, pretéritos, presentes, futuros,
Toda folhinha de grama, eu mesmo, a humanidade,
Cada partícula da poeira universal,
Raiva, ambição, bem, mal, salvação, luxúria,
Tudo assimilei, tudo transmutei
No vasto oceano de sangue de meu próprio Ser indiviso.

Júbilo em brasa, frequentemente abanado pela meditação,
Cegando meus olhos marejados,
Explodiu em labaredas imortais de bem-aventurança,
Consumiu minhas lágrimas, meus limites, meu todo.

Tu és Eu, Eu sou Tu,
O Conhecer, o Conhecedor, o Conhecido, unificados!

Palpitação tranqüila, ininterrupta, paz sempre nova,
Eternamente viva.

Deleite transcendente a todas as expectativas da imaginação,
Beatitude do samadhi!

Nem estado inconsciente,
Nem clorofórmio mental sem regresso voluntário,
Samadhi amplia meu reino consciente
Para além dos limites de minha moldura mortal
Até a mais longínqua fronteira da eternidade,
Onde Eu, o Mar Cósmico,
Observo o pequeno ego flutuando em Mim.

Ouvem-se, dos átomos, murmúrios móveis;
A terra escura, montanhas, vales são líquidos em fusão!

Mares fluidos convertem-se em vapores de nebulosas!

Om sopra sobre os vapores, descortinando prodígios.

Mais além,
Oceanos desdobram-se revelados, elétrons cintilantes,
Até que ao último som do tambor cósmico,
Transfundem-se as luzes mais densas em raios eternos
De bem-aventurança que em tudo se infiltra.

Da alegria eu vim, para a alegria eu vivo, na sagrada alegria,
Dissolvo-me.

Oceano da mente; bebo todas as ondas da criação.

Os quatro véus do sólido, líquido, gasoso, e luminoso,
Levantados.

Eu, em tudo, penetro no Grande Eu.

Extintas para sempre as vacilantes, tremeluzentes sombras,
Das lembranças mortais:
Imaculado é meu céu mental – abaixo, à frente e bem acima;
Eternidade e Eu, um só raio unido.

Pequenina bolha de riso, eu,
Converti-me no próprio Mar da Alegria."


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