Bem-vindo ao Templo! O Amor de Deus habita o seu coração. Você é filho de Deus! Um Ser santo, sagrado, perfeito, eterno, sublime e bem-aventurado. Toda Vida é expressão da Grande Vida de Deus. Só existe a Unicidade Perfeita e Total! Essa Unicidade é Amor Absoluto - eis a Verdade. Este espaço é para aqueles que estão prontos para descobrir que já estão despertos, mas também é aberto a todos. Sejam todos bem-vindos ao Templo!
domingo, março 18, 2007
Por que palavras?
"Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os Sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?"
O velho sábio respondeu: "As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta."
O monge replicou: "Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?"
"Poderia," confirmou o mestre, "e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio."
"Então," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?"
"Porque," completou o sábio, "da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na Verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário."
O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.
sábado, fevereiro 24, 2007
O que esta existência está fazendo aqui?

Mas mesmo isso pode se tornar algo belíssimo. Todas as experiências -- quais quer que elas sejam -- podem se tornar muito bonitas, agradáveis e gratificantes de serem vividas para quem tem olhos para olhar para a vida, para esta existência... esse é o alívio.

Quando for perguntar, olhe para a existência de forma completa -- percebendo tudo o quanto puder -- e então "O que toda essa existência, inclusive eu, está fazendo aqui?" Veja que tudo isto não tem obrigação alguma de existir; e o mais impressionante de tudo é que todas estas coisas existem e permanecem existindo... Que milagre!!!
Olhe bem para a pergunta e procure separar bem toda a existência que você consegue perceber do "aqui" a que a pergunta se refere. Se você conseguir fazer isso, então vai perceber que esse "aqui" não é um lugar localizado no espaço... ele é um "aqui" transcendental. O segredo dessa pergunta está na palavra "aqui". Separe o "aqui" da existência que você questiona. E você terá a resposta; e você perceberá como, de repente, tudo vai parecer ficar mais leve. Quando ficar mais leve, você entenderá que sempre esteve carregando um fardo desnecessário com você, mas nunca percebeu porque você não conhecia a outra experiência -- você só pode perceber o fardo que carrega quando ele é retirado de você... somente por contraste isso é possível. Assim, por um instante, você vai tirar toneladas de cima de você... e o resto da experiência você confere por si mesmo. É desta forma que tudo se torna uma dádiva; é desta forma que tudo passa a ficar belo, de forma que a vida pode passar a ser deliciosamente desfrutada.
É que a existência é algo tão evidente, que ninguém mais dá atenção à ela. É incrível como as coisas mais óbvias são as que mais perdem sua importância. Isto está errado. A vida está aqui e é tremendamente bela... veja!
Jogar fora o fardo que se carrega não é nenhum pouco complexo. Colocá-lo de lado significa parar de querer estar no controle da situação. Veja: se você analisou bem a pergunta, você compreenderá que a vida existe independente de suas vontades, de seus esforços... ela segue sozinha. E você está tentando carregá-la, você não permite que ela seja livre e ande por conta própria. Esse é o fardo que torna a vida de tantas pessoas uma verdadeira miséria. A existência não depende de você para existir (um dia você morrerá, não estará mais aqui, e a existência vai continuar prosseguindo), e você segue agindo como se ela dependesse... querendo forçá-la, manipulá-la. Você não confia em ninguém que não seja em você -- nem mesmo em Deus; você não abre o seu coração e, assim, nada novo pode entrar em você. A existência é que carrega você, e você está tentando carregá-la... está querendo inverter a ordem das coisas. Vai sofrer, portanto, pois ela é algo muito maior do que você: por isto ela o está carregando nela. Querer inverter a ordem das coisas, sem pagar um preço por isto, é querer demais. Mas é apenas uma questão de escolha. Permita o acontecimento das coisas. Você não precisa se preocupar com o que vai acontecer quando você abandoná-la, quando você jogar tudo para o alto. Você não precisa se preocupar quem vai segurá-la para você, depois que tiver largado dela. O dono dela fará isso -- seja lá quem for ele.
Se você é o dono de um objeto muito importante para você, e este objeto está com um conhecido seu, então ele estará carregando para você. Mas seu conhecido também é tão importante para você quanto o seu objeto que ele está carregando. Será que você irá lá, sem-mais-nem-menos, e simplesmente tomará o objeto de volta para você? Ambos são muito importantes para você... você não poderá interferir. Mas, no momento em que seu conhecido decide largar o objeto e o joga para o alto... quem irá pegá-lo, agora, a não ser você, o dono? Você o pegará de volta, com certeza. Você é o dono!
E assim acontece quando se decide/escolhe jogar o fardo de querer carregar a existência para o alto. O dono dela vai pegá-la... e vai carregá-la consigo. Então não há nada com o que se preocupar.
Não é preciso ter medo. Páre de arranjar desculpas para ter medo. A mente humana é esperta e é fácil conseguir arranjar desculpas para justificar o medo de abandonar o suposto poder, que ela acha que tem. É preciso confiança... é preciso coragem. A coragem é necessária para fazer a entrega; e a confiança também é necessária na entrega, para confiar que o dono da vida passará a carregar e cuidar das coisas que você tinha tanto medo de abandonar. Coragem e confiança devem andar juntas.
Assim, pare de se preocupar com as coisas. A existência segue sozinha. Não tente carregá-la. Não seja tão egoísta; pare de confiar somente em si mesmo, e em mais ninguém. Isso é doentio; isso é uma neurose; isso faz você e os outros sofrerem. "Confiança apenas em si mesmo, e dúvida quanto a tudo o mais" é o próprio conceito de egoísmo/ego.
Por que você a está carregando? Está pensando que será muito peso para Deus, para a existência? Não se preocupe. Tudo está acontecendo. Deixe Deus tomar conta de tudo. Permita que as coisas aconteçam... entregue-se... aceite... e ame! Viva a vida.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007
A GOTA E O OCEANO

“O gosto do Zen despertado no Ocidente é, em parte, a sadia reação de pessoas exasperadas com a herança de quatro séculos de cartesianismo: a deificação de conceitos, a idolatria pela consciência refletiva, a fuga da realidade para ater-se ao verbalismo, à matemática e à racionalização. Descartes fez do espelho em que o eu se encontra um fetiche. O Zen o despeça pondo-o em frangalhos.” (Thomas Merton).
“Assim como as chamas destruidoras do Tempo,
Contemplo teus dentes poderosos, eretos,
Alinhados nas mandíbulas escancaradas.
Ninguém encontrará abrigo ou misericórdia,
Ó Senhor Supremo de todos os mundos!
Todos, amigos, inimigos, desconhecidos, nós mesmos,
A multidão que passa como um rio,
Vão sendo tragadas por tua imensa boca.”
A visão de Arjuna revela a Realidade tal como é. Nua, sem proteções psicológicas e embelezamentos. É a forma Zen pondo em frangalhos o espelho onde o “eu” se reflete.
Tailândia. Bangkok. Dia 10 de dezembro. 1968. 14 horas. Calor. Num quarto um homem liga um ventilador. Choque? Colapso? Um corpo cai junto com o ventilador. Lá fora, o rio, os barcos continuam a passar rumo ao mercado. Nas lojas, peixes coloridos dão voltas dentro dos aquários aguardando os fregueses. Galos de briga se engalfinham num ringue. A multidão de apostadores grita. Ventilador trabalhando, cortando a carne do homem morto caído no chão. Sangue jorrando.
No final da vida de Thomas Merton, os acontecimentos chocam-se como ondas conflitantes que se fragmentam em milhares de gotículas. Nos mosteiros budistas monges recitam sutras. Outros meditam. Cochilam. Alguém bate à porta do quarto. Ventilador trabalhando. Batidas. Ventilador girando. Porta arrombada. Ventilador desligado. Polícia. Médicos. Padres chegando. Corpo lavado. Corpo vestido. Hábito de monge. Recitação lenta do rosário. O saltério. Murmúrio das preces. As cigarras cantando na tarde que cai. Um caixão envernizado aguarda no aeroporto. Acontecimentos. Caixões com soldados norte-americanos vindos do Vietnã. Misturado a eles um monge ruma ao Leste. O Oceano Pacífico lá embaixo reflete a lua. Os pilotos tomam café e contemplam os mostradores iluminados no painel de instrumentos. Bocejos. Thomas Merton voltando para casa. Acontecimentos. Simples acontecimentos. Oceano. Um novo dia começa a surgir. As ondas voltando para trás. Há 2600 anos um homem sentado sob uma árvore atinge a plena iluminação: o Nirvana. Uma gota transforma-se em Oceano. O Buda, o iluminado, o plenamente desperto, o Príncipe Sidartha Gautama, que tinha abandonado todos os reinos terrenos “via” a configuração do Eterno. Paz suprema. Sente as limitações da palavra para transmitir essa vivência de planos de consciência que o homem comum nem sonha. Tem então a visão simultânea dos acontecimentos. Diante de si a existência é como um lago onde se encontram bilhões de sementes de lótus, que na grande maioria estão no fundo, mergulhadas na lama, apodrecendo silenciosamente para que a vida possa nascer. Outras começam a germinar e procuram vencer a água escura em busca de algo que não vêem, mas que apesar disso as atraem. Poucas se aproximam da superfície das águas. Pouquíssimas romperam a linha divisória e em pleno ar, expostas ao sol, começam a entreabrir as pétalas. Cada uma delas é um ser num estágio diferente de desenvolvimento. Recebendo da luz do sol uma mensagem diferente, apropriada à sua natureza.
As ondas vão indo para frente. Há aproximadamente 2000 anos, um homem morre na cruz. Falava dos pobres de espírito, dos puros de coração. Dos simples, dos mansos. Dos autênticos que verão em si o Senhor. O reino de Deus tem muitas mansões. “Aprendei a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam sabeis que está próximo o verão”. As suas palavras foram registradas na letra fria dos textos. Foram repetidas por muitos. Mas poucos as “compreendem”. Pois compreender é viver em si a experiência. E aquele que vive no verbalismo está escravo dele. É preciso sentir as folhas brotando para termos a consciência de “verão” que se aproxima.
“Aurora escura.
Debaixo de algumas nuvens altas,
lastros de vermelho matizado.
Um desenho de roupas estendidas,
de grampos para suspender roupas no varal,
de vultos nebulosos.
Abstração. Não há como captá-lo.
Deixe ficar.”
“Tarde tranqüila.
Colinas azuladas.
Lírios balançam ao vento.
Este dia jamais voltará.”
“(...) abramos os olhos à luz deífica e, de ouvidos atentos, escutemos a exortação que todos os dias, em altos brados, nos dirige a voz divina por estas palavras: se hoje ouvirdes a sua voz, não queiras endurecer vossos corações. E ainda: Quem tiver ouvidos para ouvir, escute o que o Espírito diz às Igrejas. E que lhes diz? Vinde, filhos, e ouvi-me. Ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Correi enquanto tendes o lume da vida, não vos atalhem às trevas da morte.”
“A realidade significada pelo conceito é um mistério. Pois concretamente, na terra ninguém sabe com precisão o que seja “buscar a Deus” enquanto não tenha se colocado em marcha para achá-Lo”.

O zen busca a verdade por trás das formas, a luz por trás das sombras. Não é uma religião fechada como Merton bem sente. É sim a Verdadeira Religião que está presente em todos os caminhos que levam o homem ao encontro consigo mesmo. Essa religião é o retorno simbólico do filho pródigo ao lar paterno de onde nunca se afastou. É a consciência da inexistência de qualquer problema na configuração de acontecimentos que nos envolvem. É o peru preso no círculo de giz ganhando a consciência da dimensão da liberdade. É a consciência da inexistência dos muros que antes nos isolavam e que desapareceram por completo. Tudo se resuma no desaparecimento do problema. Analisemos a palavra “problema”. É um conjunto de sons que expressa um estado psicológico descrito em outros idiomas por sons diversos. O som não nos interessa, mas aquilo que representa. Vivemos obcecados por essa palavra. Analisando-a friamente veremos como ela existe no nosso cotidiano. Essa verdadeira fixação na existência de problemas, a consideração de que tudo em si é um problema priva o homem de sua liberdade inata de Ser. Um problema é uma configuração de acontecimentos instantâneos. A cada instante a configuração muda, pois novos eventos são incluídos ou sobrepassados. Entretanto, a grande maioria das pessoas não vê as configurações dentro de um contexto mais amplo no qual estão harmoniosamente inseridas. Por exemplo, quando observamos uma coisa do ponto de vista das partículas subatômicas que as compõem, ela se esvanece. Some-se como fumaça. O aspecto concreto da realidade transmuta-se a resta somente uma “mancha”, verdadeira nuvem de acontecimentos em mutação constante. As “leis” que se aplicam são o princípios da indeterminação de Heinsenberg, a física de Einstein, as m atemáticas não-euclidianas. Há uma total modificação do “cotidiano”. O mesmo ocorre, os “problemas” são outros, quando a coisa é observada do nível molcular. À medida que mudamos de escala de observação criamos novos problemas e novas leis. Sente-se que o “problema” cessa de existir quando é visto numa configuração acima da anterior, então aparece unido numa estrutura maior e cessa de existir.
“Pontífices! Pontífices! Somos todos pontífices fazendo arengas uns para os outros, agitando nossos báculos uns para os outros, dogmatizando e ameaçando com anátemas!”
Thomas Merton, o autêntico, tinha a plena consciência da relatividade dos padrões de julgamento. Sentia, como ninguém, as aves de rapina que estão no título de seu livro, e como vivemos nos alimentando da sua putrefação, adorando a morte quando a vida eterna é nosso Ser. Ocultando sob palavras de Cristo, Buda, Tao, e tantas outras, o mistério vivo. Desesperava-se com o pieguismo. É autêntico quando explode na sua revolta contra o formalismo:

sábado, janeiro 27, 2007
Wu-Wei: O Fazer pelo Não-Fazer


Uma vez que alguém alcance este "fazer, não fazendo", essa pessoa se encontra. Ela se sente realizada com seja lá qual for a atividade que ela esteja desempenhando. "Fazer arroz" é apenas um exemplo. Conseguir manter esse estado em qualquer atividade que você esteja fazendo, vai lhe trazer uma grande realização. Você conseguirá se divertir com qualquer situação que você esteja vivenciando -- você pode estar satisfeito no início, durante, ou no final dela. É muito melhor, pois a satisfação não é encontrada apenas no final da atividade, quando o objetivo dela é alcançado. Alcançar objetivos é coisa da mente. E, para ela alcançá-los, muito sofrimento será criado para você.

"DESAPEGO DE TUDO. É nisso que consiste essa pequena historinha. Se você não estiver apegado, você pode enfrentar qualquer situação sem preocupação alguma. Diante de uma pessoa assim, até um comandante inimigo é um derrotado. A idéia do apego existe, porque a mente faz você achar que você é alguém, com idéias, conceitos, pensamentos, conhecimentos através dos sentidos. Mas até mesmo os sentidos não podem captar quem você realmente é, e eles o enganam. Você tem a idéia de que você é alguém porque sua mente acredita em muitas coisas. Mas a verdade é que você não é NADA. Você é NADA; o arroz delicioso é NADA. É por isso que, quando você está totalmente focado no momento presente, você pode ser o arroz, e o arroz pode ser você. Da próxima vez que for fazer o arroz, ou qualquer outra coisa, experimente fazê-lo com o mesmo espírito desapegado daquele mestre zen. Esteja receptivo a esse estado de espírito e diga ao arroz: "Você sabe quem sou eu? Eu sou aquele que está fazendo o arroz" E você sabe quem é o arroz? Ele é aquele está sendo feito por você. Ambos vocês estarão se completando um ao outro. Vocês estarão se complementando; e estarão em tal harmonia que não haverá mais você e o arroz: apenas a atividade de você estar fazendo o arroz; e do arroz estar sendo feito por você... tudo será uma coisa só. Não se iluda: é somente a mente que faz você perceber que você é uma pessoa (um cozinheiro, um cientista, um professor, um médico, um guerreiro, um pobre velho etc.). Aquele mestre zen, não se percebia como um homem velho que havia ficado numa cidade destruída -- Ele não era aquilo. A sua mente pode dizer que ele é um velhinho que ficou para trás; mas ele não é isso. Naquele momento, aquele homem era alguém que poderia ter a vida tirada pelo comandante a qualquer momento; só isso,e nada mais. Depois que o comandante fosse embora, ele não seria mais "alguém que poderia ter a vida tirada a qualquer momento"... ele seria outra coisa condizente com o momento presente dele. É importante compreender esse ponto.Portanto, não tente definir nada. Sua mente pode dizer muitas coisas, mas a Verdade sobre você está sempre dentro do seu AGORA. Dentro do seu AGORA você é completo com o que quer que seja que você esteja fazendo; seja lavando o arroz, seja estando à beira da morte. Alcance a mesma profundidade da percepção daquele mestre zen sobre quem você é, e você poderá experimentar o verdadeiro estado de desapego. Ele lhe conduzirá diretamente ao wu-wei: o fazer pelo não-fazer. Isso é algo que só pode ser vivenciado AGORA. Preste atenção nos momentos presentes pelos quais você passa, instante a instante. E você se encontrará. Mais do que isso: você saberá quem você é. Sua vida será muito mais leve... muito mais satisfatória... muito mais bonita. A vida é bela! Todo instante é belo. Você pode se sentir realizado a cada instante que passa... e viver toda a sua vida dessa forma.

Espontaneidade significa deixar-se ser e agir de maneira natural. É permitir que tudo ocorra por si só, de modo que você não interfira em nada. Ao invés disso, você aprende a confiar nAquele que criou essa existência e deixa tudo aos cuidados dEle. Nessa entrega, você relaxa e a espontaneidade surge. Através da espontaneidade e de sua constante atenção nas coisas do dia-a-dia, você aprenderá o segredo de Não-Fazer coisa alguma autenticamente. E tudo o mais virá por acréscimo. Por meio do genuíno não-fazer, tudo é feito.
terça-feira, janeiro 16, 2007
O Tao

Lao-Tzu atingiu sua iluminação depois de muito tempo buscando a Verdade em livros, meditações... e nunca conseguiu alcançar. Um dia ele, frustrado, desistiu de alcançar a iluminação e retomou seus afazeres diários, simplesmente voltou a ir viver sua vida. Até que um dia, Lao Tzu estava sentado sob uma árvore e uma folha tinha começado a cair. A folha estava caindo lentamente, em zigue-zague, com o vento, e ele a observou. E não havia pressa para a folha cair no chão. Lao Tzu apenas observava seus movimentos. Se o vento soprava para o norte, a folha seguia para o norte; e se era para o sul, então para o sul ela rumava. A folha deixava-se levar pelo vento... e Lao Tzu apenas olhava. A folha foi caindo no chão e ficou parada ali. E, à medida que ele observava a folha cair e se acomodar no chão, algo se acomodou nele. A partir desse momento ele deixou de ser um homem comum e compreendeu que: "Os ventos sopram por conta própria e a existência é quem toma conta". Foi assim que ele conseguiu sua iluminação.

O primeiro capítulo do livro de Lao Tzu é um dos mais relevantes. Nele está sintetizado toda a filosofia taoísta, e é entitulado "A Compreensão do Incompreensível (o Tao)". E é sobre este capítulo de que se trata este post.
"O Tao que pode ser mencionado não é o verdadeiro Tao.
Nomes podem ser mencionados, mas não o nome eterno.
A origem do Céu e da Terra está na ausência de nomes.
A "Mãe" de todas as coisas também não pode ser nominada.
Mesmo oculto, o Tao exerce sua influência.
Devemos olhar esta influência como Sempre-manifestada.
E quando é manifestada, devemos olhar para outro lado.
Estes dois fluem da mesma fonte.
Embora tenham nomes diferentes, ambos são chamados de Mistérios.
E o Mistério dos Mistérios, o Tao, é a porta de tudo o que é essencial."
(Tao Te Ching - Capítulo 1)

O Tao é incompreensível; ele também é inexpressível. Ele existe e está aqui, bem agora. Aqueles que O conhecem não conseguem expô-lo. O Tao é um, mas no momento em que ele se torna manifesto, precisa se tornar dois. A manifestação precisa ser dual, precisa se dividir em duas. E no momento que alguém abre a boca para proferí-Lo, essa pessoa transporta o Tao do reino não-manifesto para o campo das palavras. Assim, o que quer que seja dito perde todo o sentido.
Ninguém pode falar, verdadeiramente, sobre a verdade. Ninguém pode falar sobre o Tao, nem sobre o Zen, nem sobre Deus, a iluminação ou o êxtase. Se isso fosse possível, você já estaria em êxtase simplesmente ao ler estas poucas linhas. Por mais que se fale a respeito do Tao, ele não pode ser dito... algo sempre permanecerá por trás. E não há nada que permaneça por detrás dele, porque somente o Tao existe por si mesmo, eis tudo.
Isto que permanece por detrás de tudo é a verdade. A verdade nunca surge na existência, nem nunca desaparece da existência. Ela nunca vem, nem nunca vai. Ela permanece, sempre. Ela está no começo e no final... e, no entanto o começo e o final não estão em lugar algum. Tudo isso porque a verdade simplesmente É.

O não-manifesto dá origem ao manifesto... e o manifesto completa o não-manifesto. Ambos não são contraditórios, eles são complementares... cada um exercendo a sua influência sobre o outro.
Este capítulo do Tao Te Ching ensina uma excelente forma de meditação: Olhe atentamente para essa existência! Ela não pode existir sozinha, por conta própria. Algo Maior tem de estar atuando por detrás dela. É na vastidão infinita do não-existir que a existência se apóia. O não-manifesto está influenciando a existência manifesta. É isso que Lao Tzu diz: "olhe para a existência e sinta a não-existência por detrás dela. E a seguir faça o caminho inverso, olhe para a não-existência e veja a relação que ela tem com a existência."
Com uma persistente repetição dessa meditação, você estará olhando para os dois lados. E chegará um momento que, de tanto olhar para esses lados contrários, você conseguirá perceber o ponto onde a existência e a não existência se fundem: exatamente no centro. O centro é a fonte de onde flui o ser e o não-ser. Esse ponto é a porta. Neste ponto está o Tao. Esse ponto nulo é todo o significado da espiritualidade, é toda a espiritualidade. É ali que mora Deus.
Tudo é UM e só há este UM. A palavra "Universo" representa exatamente esta idéia: A de que, na existência, só há uma única coisa... um único VERSO. A Vida constitui um único verso; não há doi versos, mas apenas um. Além dele, nada mais há. A dualidade é uma tremenda ilusão e pode ser transcendida. E quando você alcança a transcendência as polaridades opostas revelam-se como complementares e fundem-se em algo que não pode ser nominado. Se só há UM, então quem é o outro que vai estar lá para nominá-lo? Se o Universo é apenas UM, então quem mais vai estar lá para observá-lo ou analisá-lo? É impossível investigá-lo. É como se, sem a ajuda de um espelho, você tentasse olhar para seus próprios olhos... impossível.
O Universo é insondável. E se você o estiver sondando... é por que você ainda está na dualidade; você ainda permanece na ilusão de que você é o sujeito que está observando a Vida como um objeto. Se quiser conhecer realmente o Universo, precisa se esforçar para se tornar uno com ele. A gota de água que você é precisa cair e se dissolver no imenso oceano que o Universo é.
Conhecer a Deus é possível; mas é um acontecimento tão supremo que, mesmo quando você O conhece, ele permanece desconhecido. Há um belo comentário de Osho, falando que:
"Mesmo quando você conhecer Deus, você não será capaz de acreditar que O conheceu. Isso é o que eu quero dizer quando digo que Deus é um mistério. Desconhecido, Ele permanece incognoscível. Conhecido, Ele também permanece incognoscível. Sem ser visto, Ele é um mistério.Visto, Ele se torna um mistério ainda maior.Ele não é um problema que você possa resolver. Ele é maior do que você. Você pode dissolver-se nele, você não pode resolvê-lo". (OSHO)
Sim, você não pode resolver o quebra-cabeça que Deus é.
Você é menor do que a Realidade, ou a Realidade é menor do que você?
Essa pergunta é de grande importância, porque, se você pudesse resolvê-lo, se você pudesse compreendê-lo, então você seria maior do que Ele. E não é assim que é. Por que, então, não aceitar as coisas como são? Paradoxalmente, quando você O aceita, você o conhece.

sexta-feira, janeiro 12, 2007
Um Reino Não Deste Mundo

Quando disse: "O Meu reino não é deste mundo", Jesus sintetizou o conteúdo global de sua mensagem. Revelou a natureza real deste Universo e de todos nós como algo de natureza infinita, eterna e espiritual. Dar ouvidos a esta revelação significa "estar no mundo sem pertencer-lhe", como consta nas Escrituras.
Poucos acreditam, mas "este mundo" é uma ILUSÃO!
Nós, porém, não estamos de fato iludidos.
"Temos a mente de Cristo", que é a Mente real, única e onipresente! A falsa identificação com pensamentos ilusórios, ou seja, com pensamentos "pensados" pela suposta mente carnal, é a ILUSÃO. Quem se identifica com pensamentos inexistentes? Justamente a "mente carnal", a mente-que-não-existe! Ilusão se identificando com ilusão: eis a natureza deste suposto "mundo material".
Se não nos mantivermos atentos, iremos nos pegar dizendo: "Mas como pude eu ter tido esse tipo de pensamento?"
A percepção de Deus
como Mente Única
em dedicadas contemplações silenciosas,
nos traz este discernimento iluminado:
"Eis que estou convosco desde o princípio".
"Temos a mente de Cristo", que é a Mente real, única e onipresente! A falsa identificação com pensamentos ilusórios, ou seja, com pensamentos "pensados" pela suposta mente carnal, é a ILUSÃO. Quem se identifica com pensamentos inexistentes? Justamente a "mente carnal", a mente-que-não-existe! Ilusão se identificando com ilusão: eis a natureza deste suposto "mundo material".
Se não nos mantivermos atentos, iremos nos pegar dizendo:
"Mas como pude eu ter tido esse tipo de pensamento?"
Nosso EU real é divino, nossa Mente real é divina e o nosso Corpo real é divino. Esta Verdade, para deixar de ser mera teoria, precisa ser aceita com radicalismo total. Cristo sempre nos passou ensinamentos radicais: "NÃO CHAMEIS DE PAI A NINGUÉM SOBRE A FACE DA TERRA". Somente dentro de uma postura radical a Verdade terá para nós seu real sentido: SER A VERDADE.
A percepção de Deus como MENTE ÚNICA, em dedicadas contemplações silenciosas, nos traz este discernimento iluminado: "Eis que EU estou convosco desde o princípio".
Nosso EU real é divino, nossa Mente real é divina e o nosso Corpo real é divino.

Ensinamentos relativos não são revelações divinas. Podem, no máximo, serem vistos como revelações sob adequações feitas por homens. Toda adequação acaba prejudicando a pureza da revelação, pois, inevitavelmente, acaba alimentando alguma idéia ilusória de dualismo.
A Verdade é UNIDADE, é INDIVIBILIDADE, é INSEPARABILIDADE, é IMUTABILIDADE, é ETERNIDADE, é JÁ MANIFESTA! Portanto, tudo é UM! E SOMOS AGORA ESTE "UM".
Ao concordarmos com o que Jesus nos disse, de que "MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO" estaremos em unidade com Deus, e com ele reconhecendo que: "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".
É óbvio que não falamos de "vidas pessoais" ou de "seres humanos", que seriam o "sonho de Adão", a ilusória CRENÇA de que alguém poderia estar separado de Deus. Aceitar esta separatividade é um absurdo! Por outro lado, a aceitação de que "o ser separado de Deus é ilusão", corresponde à percepção da Verdade de que "O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO".

EU SOU A UNIDADE;
EU SOU A INDIVISIBILIDADE;
EU SOU A ETERNIDADE
JÁ MANIFESTA! Eis por que
"EU ESTOU CONVOSCO DESDE O PRINCÍPIO".
Contemplemos em silêncio estes princípios! Este "EU", que está "conosco desde o princípio", é a VERDADE QUE SOMOS! A Verdade que aparentávamos estar buscando.
O suposto ser humano aparenta enxergar, com "olhos físicos", este mundo de aparências mutáveis.
Esta visão equivale ao "nada" se ocupando em ver "coisa nenhuma". "TENDES OLHOS, MAS NÃO VEDES", alertou-nos Jesus. Enquanto a natureza ILUSÓRIA "deste mundo" não for aceita e reconhecida, pela percepção de que A VISÃO ÚNICA É DEUS, VENDO A REALIDADE ILUMINADA COMO CADA UM DE NÓS, nestas imagens ilusórias, de bem e mal, continuarão nos dando a impressão de existirem realmente, além de tentarem fazer com que nos sintamos relacionados com elas. TUDO ISSO É FALSIDADE! UM SONHO!

Ponhamos o machado "à raiz da árvore", partindo radicalmente da Verdade que Cristo tão amorosamente nos passou: O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO!
*Nota: A autoria deste texto é de Dárcio Dezolt!
sexta-feira, dezembro 29, 2006
A verdadeira busca pela verdade: O cessar da busca.

A verdade está sempre aqui. Ela está diante de seus olhos, mas você não é capaz de vê-la porque você a procura. E ela está onde quer que seja. Quando você procura vê-la, o seu próprio ato de olhar está dentro dela; quando você come, você o faz nela; a verdade está presente no seu ato de comer, respirar, olhar, sentir, escutar... você não pode escapar dela. Quando você está procurando pela verdade, a verdade se faz presente em você e também na sua busca. Assim, acontece um fenômeno no mínimo muito interessante: é a verdade que faz da busca uma procura pela própria verdade. A verdade está procurando por ela mesma e, aonde for que ela vá, ela se leva consigo.
Aquele que busca é a o objeto tão desejado de ser encontrado. Mas... como a busca pode existir, quando o sujeito e o objeto da busca são um só? Eis aí um paradoxo. E paradoxos não são passíveis de serem resolvidos. Quando você entra na dimensão de um paradoxo, você não consegue resolvê-lo do lado de dentro, ele é um absurdo! Ele é contraditório, um fenômeno maluco, aos olhos da mente humana. Então é necessário você transcendê-lo; somente quando você passa do lado de dentro para o lado de fora é que você passa a ter condições de olhar claramente para um paradoxo e ver sua resposta. A busca, portanto, é um paradoxo. E, enquanto você estiver nela, você não conseguirá encontrar suas respostas. Enquanto você seguir buscando a verdade, o objeto e o sujeito estão separados, quando na realidade eles são a mesma e única coisa. Assim, a busca tem sentido enquanto você assumir que a verdade é algo que está em algum outro lugar, diferente de onde você está, e que você tem de encontrá-la. Essa é uma falsa busca.
No entanto, quando sua atenção se volta para o fato de que o sujeito e o objeto da busca são um só, quando você assume que você é a verdade que você tanto quer achar, e quando você segue sua busca mantendo isso em sua consciência, então você começa a adentrar a verdadeira busca. Você começa a sair de dentro do paradoxo que é a falsa busca, e passa para o lado de fora dela... onde você poderá começar a buscar verdadeiramente.
Tendo esta nova visão em mente, você não encontrará sentido em continuar buscando como antes. Agora a sua ansiedade começa a diminuir gradualmente, a sua angústia irá, aos poucos deixando de existir. E, em contra-partida, um relaxamento começa a surgir; você deixa de levar a sua busca tão a sério; você conseguirá penetrar em um estado de maior calma, paciência; toda a tensão começa a ir embora.
E quanto menos preocupado você se permitir ser, melhor será seu desempenho. A preocupação e a pressa são barreiras que lhe afastam de encontrar-se consigo mesmo. Cabe, aqui, um ditado oriental que diz “se você quer para agora, então espere!” – e esse ditado é cheio de sabedoria.
Enquanto você procurar, não lhe será permitido encontrar. Enquanto você esperar a chegada da auto-realização, ela não virá. E todas as vezes que você começa a atuar em termos de futuro, você se manterá afastado de seu objetivo. Você diz: “estou esperando acontecer o meu encontro comigo mesmo, espero pela hora em que eu conhecerei o meu eu interior, o meu eu mais profundo”, e sempre que você estiver mantendo tal esperança, seu eu interior se mantém longe de você. A esperança pode existir e ser algo positivo para várias coisas na vida. Mas em se tratando da busca espiritual, ela é um empecilho. Mais do que isso, ela é uma doença, ela é um vírus. E enquanto o vírus se fizer presente, a saúde não pode ser restabelecida. Vírus e doença são formas de vida afins. Se você quiser ter saúde, elimine o vírus. Se você quiser encontrar sua iluminação, elimine suas esperanças. Elas não combinam; elas não tem nada a ver uma com a outra. E, da mesma forma que o futuro, o passado também é um vírus. E o momento presente é a panacéia, a cura de todos os males.
A busca deve ser destituída de esperanças. E todas as coisas que você faz, todos os esforços que você empreende, são em prol de um objetivo a ser alcançado. Ter esperanças e objetivos ocorrem conjuntamente, um segue ao outro como uma sombra. E a esperança não pode ser separada de seu objetivo. Quando você se envolve com um, você também relaciona com o outro. Você não deve ter metas. A meta mostra que você ainda está esperando pelo futuro.
Há tantas formas de se ter uma meta, que todas elas podem passar por você sem serem notadas. Você olha para o que está escrito em alguma escritura e se enche de esperança, porque você começa a desejar todas as coisas bonitas e promissoras que estão reveladas nela. Você descobriu que encontrar Deus é possível, e agora você passa a desejar a encontrar Deus... e você começa a buscá-lo. E o mesmo vale para pensamentos, filosofias, crenças, religiões... Essas esperanças lhe dão algo a que se agarrar. E deixá-las de lado é algo muito árduo de ser feito. Uma pessoa pode ficar muito zangada se alguém conseguir retirar todas as metas dela. As pessoas são tão viciadas em suas esperanças, que quando elas conhecem alguém em especial, como um mestre ou um guru, elas começam a ter esperanças através dele. Elas começam a dizer: “Este homem fará algo por mim. E agora que eu já encontrei alguém iluminado, não há mais necessidade de ter medo, porque mais cedo ou mais tarde eu vou me tornar iluminado.”. Esqueça! Ninguém pode fazer nada por você. Um mestre ou um guru iluminado podem fazer tanto por você, quanto uma pessoa que ainda não se tornou iluminada. A questão toda depende de você. Você é a sua resposta; a chave é você. VOCÊ é a única coisa que jamais se perdeu. E tudo o mais, além de você, teve de vir e ir... mas você permaneceu.
E a iluminação não é uma esperança. Ela não é um desejo e não está no futuro. Se você começa a viver este exato momento, você estará iluminado. Mas enquanto você estiver alimentando suas esperanças, você estará dizendo: “Amanhã!”. Então como queira... mas esse amanhã nunca irá acontecer. É agora ou nunca!
Então, ilumine-se agora! E você pode se iluminar porque você está... simplesmente iludido: simplesmente pensando que não é. O tempo não pode ser perdido. Isso pode ser feito imediatamente, porque não há necessidade de nenhuma preparação. Se houver preparação, então haverá uma meta a ser atingida.
E não pergunte como. No momento em que você pergunta como, você começa a ter esperanças. Não pergunte como e não diga: “sim, eu me tornarei”. Não é isso o que os ensinamentos dizem. O que eles dizem é que você já é iluminado. Eis tudo. Você aceita que você já é iluminado, nesse exato momento? Se você aceita, então toda sua busca cessa automaticamente; e você passa a estar satisfeito consigo mesmo da maneira como você se encontra... da maneira como você é. Então, tudo o que lhe acontece, você sente como se estivesse sendo dado de graça a você; você nunca pediu por nada, você nunca esperava nada, e é exatamente por isso que o que quer que lhe aconteça é algo belo e precioso. E a vida passa a ter uma qualidade muito mais profunda, e muito mais bonita. Você olha para ela com outros olhos... e você estará satisfeito com tudo.(...)

Quando você está em busca da verdade, você não deve preocupar-se com ela. A verdade é descompromissada com tudo. Seu único interesse é servir a tudo e a todos. Mas ela não espera nada em troca. Ela não pede para você se preocupar com ela. Ela estará sempre lá, não há nenhuma necessidade da sua parte. Ela pode vir até você, desde que você não esteja intencionado. Se você criar pretensões, a verdade foge de você, pois ela é muito frágil, pura... ela também é tímida.
Um dos maiores segredos da vida, é que a vida é uma dádiva. Ela lhe foi dada, você não a mereceu. A vida não é um direito seu. Você não pode merecê-la de maneira alguma, e não pode forçar a existência a torná-lo feliz e satisfeito. Esse esforço é do ego. Esse esforço cria infelicidade. Na própria busca por felicidade, você cria infelicidade para si. Mas quando você não busca, a felicidade vem atrás de você. Quando você esquece a felicidade, de repente se torna feliz. Quando você esquece o contentamento, de repente lá está ele. Sempre esteve perto de você, mas você não estava lá. Você estava pensando: “Em algum lugar no futuro tenho que alcançar um alvo, conquistar a felicidade, praticar o contentamento.”. Você estava no futuro, e a felicidade estava bem aqui ao seu redor.
Sim, a verdade é ociosa. Ela está sempre passando o tempo por aqui. E você foi buscar tão longe... volte para casa. E apenas seja! Não se incomode com a felicidade. A vida está aqui como uma dádiva; e a felicidade também vai estar aqui como uma dádiva.
Quando você procura demais, acaba se fechando; a própria tensão da procura e da busca o fecha. Quando você deseja demais, o próprio desejo se torna um estado tão tenso, que a felicidade não consegue penetrar você. A felicidade penetra você do mesmo modo que o sono: quando você desliga, quando você se entrega, quando você simplesmente espera sem expectativas, eles vêm.
Na verdade, dizer que eles vêm não é certo: eles já estão lá! Num ato de entrega, você os vê e sente, porque está relaxado. No relaxamento você se torna muito sensível. Quando você está relaxado, numa entrega total, não fazendo nada, não indo a lugar algum, não pensando em meta alguma, em alvo algum, então a felicidade aparece. E assim também o é com a verdade.
Você não deve fazer coisa alguma para ser feliz. Na verdade, você já fez coisa demais para se tornar infeliz. Se quiser ser infeliz, faça muito. Se quiser ser feliz, deixe que as coisas aconteçam. Tudo sem tensão, não ir a lugar algum, nem ao menos a idéia de ir a algum lugar... Estar somente aqui e agora – de repente tudo começa a acontecer. Descanse, relaxe e desligue-se.

Assim, se você criar expectativas, se você tiver pretensões, se você manifestar qualquer intenção que seja com relação a verdade, ela não vem até você. Qualquer coisa que você faça, é como atirar uma pedra num lago tranqüilo, calmo e silencioso: enquanto você nada fazia, havia uma bela imagem da lua refletida na superfície do lago. E no momento em que você começou a atirar pedras no lago, a imagem ficou distorcida, ficou destroçada e o lago começou a refletir uma imagem feia.
E você é um lago. E a verdade e a felicidade estão refletindo em você a todo instante. Basta você ficar sereno e silencioso... e uma linda imagem da felicidade e da verdade estarão refletindo no seu ser. Agite-se, e a felicidade torna-se infelicidade... e a verdade é distorcida. A verdade sempre está lá.
Assim, você não precisa buscar pela verdade; você não tem de tentar se tornar verdadeiro. Se você tenta se tornar, é porque você admite que ainda não é. Sempre que você busca a verdade, é porque você gostaria de se tornar verdadeiro. Então você pode ler avidamente um livro, praticar com empenho um ensinamento, ou você pode ir a algum mestre espiritual... mas intrinsecamente você terá admitido para si mesmo que você não é verdadeiro e, em qualquer tentativa que você faça, a expressão que você exterioriza é: “Eu gostaria de me tornar verdadeiro.”
E você não pode gostar ou não gostar. Não é uma questão de escolha sua. A verdade é! Se você gosta disso ou não é irrelevante. Você pode escolher mentiras, mas você não pode escolher uma verdade: a verdade está aí! Alguns mestres espirituais como Krishnamurti, Osho e outros, insistem na consciência sem escolha. Você não pode escolher a verdade. Ela já está aí, e não tem nada a ver com a sua escolha, goste você ou não.
E no momento em que você abandona a sua escolha, a verdade está lá. É devido às suas escolhas que você não pode ver a verdade. As suas escolhas funcionam como uma tela, como um filtro, diante de teus olhos, impedindo-os de ter uma visão clara da verdade. A sua atitude de gostar ou não gostar não é o problema. Pelo gostar ou não de algo, você não pode enxergar aquilo que existe.
Você diz: “Eu gostaria de me torn

É dessa forma que você permanece não-verdadeiro. Você é verdadeiro! Abandone o gostar e o não gostar! Existir é verdadeiro, é ser real. Você está aqui, vivo, respirando... como pode você ser irreal? Escolha, goste, desgoste e você se perde. Aí você diz: “Eu gostaria de me tornar verdadeiro...” – então, em nome da verdade você também irá se tornar não-verdadeiro. Desejar se tornar verdadeiro é o caminho para se tornar não-verdadeiro... eis o paradoxo. Abandone esse desejo; não tente tornar-se algo. “Tornar-se” é tornar-se não-verdadeiro; e ser é ser a verdade. Eis tudo.
E veja a diferença: tornar-se está no futuro, existe uma meta. E ser é aqui e agora, já é o fato. Então, quem quer que você seja, seja apenas isso, não tente tornar-se algo a mais. O que quer, quem quer que você seja é belo. É mais do que suficiente; seja apenas isso. Pare de tornar-se e seja. Pare de tornar-se... pare com a sua busca.
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Perceber e Aceitar a Sua Natureza

A natureza do homem é a essência. É isso o que o homem tem de real em si: a sua natureza, sua essência. E a verdade já está inserida, está implícita na palavra "natureza". A verdade jamais pode advir de algo que não seja natural. Tudo o que é verdadeiro é natural.
Você não pode conhecer sua natureza. Ela é o desconhecido, é o misterioso. Nenhum esforço que você faça, por maior que seja, poderá revelar sua natureza interior. Você pode ser o homem mais notável da face da Terra, pode ser o homem capaz de realizar os maiores feitos do mundo, e mesmo assim você não será capaz de conhecer sua essência.
O conhecimento de sua natureza só pode se dar de forma direta e imediata. Então a mente não participa desse processo; ela fica de fora; a mente tem de ser posta de lado. E quando a mente entra em cena, ela começa a filtrar as coisas; tudo o que você vê é filtrado, todas as palavras que você escuta são filtradas pela sua mente, a mente filtra tudo. A mente é um filtro; você não consegue utilizar sua mente sem fazer interpretações, rotulações, julgamentos... Então, você não consegue ver as coisas acontecendo, pois o que quer que venha a surgir para você, estará maculado com conteúdos e valores assimilados pela sua mente.
Neste exato momento, muitas coisas estão acontecendo para você. Elas estão despidas, estão nascendo pela primeira vez. O que quer que esteja acontecendo agora é algo novo, é algo inédito. Isto nunca nasceu antes, em toda a história deste mundo. Tudo o que nasce agora, nasce como quando você nasceu pela primeira vez: nu, despido, puro. E olhar para estes acontecimentos com a mente, é tirar toda a pureza dos acontecimentos; a mente torna velho para você tudo o que está acontecendo no momento presente; você segue interpretando o presente em termos de passado. É por isto que tantos mestres espirituais insistem: “ponha sua mente de lado”; é impossível olhar para os fatos com a mente sem interpretá-los. Você deve, portanto, tornar-se senhor da sua mente e usá-la apenas nos momentos necessários. E quando você consegue olhar para os fatos da vida sem deixar a mente interferir, tudo é belo, tudo é extraordinário, tudo é valioso e único. Até mesmo os fatos que você julgava serem triviais tornam-se importantes; você pode reconhecer o valor de tudo. O que, antes, eram grandes coisas e pequenas coisas pra você, passam a ter a mesma importância, porque você descobre/percebe que elas não podem ser comparadas. Você vê que fazer comparações não tem o menor sentido. Pequeno e grande eram interpretações que sua mente fazia. Tudo é novo, tudo é único... e tudo possui sua respectiva importância. Cada coisa na existência ocupa o seu devido lugar e nada é em vão.
E lembre-se: A verdade nunca se torna uma memória. Mesmo quando você a conhece, ela nunca se torna uma memória. A verdade é tão vasta, que ela não pode ser contida na memória. Quando você atua pela memória, então você não vê o que é real naquele momento; você segue interpretando aquilo que você já havia visto antes. Você segue interpretando o presente em termos de passado; você segue impondo algo que não existe... e você segue não vendo as coisas que existem naquele momento. A memória tem de ser colocada de lado. A memória é algo bom, use-a, mas a verdade jamais foi conhecida através da memória.
Assim, a verdade será sempre desconhecida. Mesmo que neste momento você a veja, você não será capaz de reconhecê-la quando você a vir no próximo instante. Quando você a conhece, ela é nova. E sempre que ela voltar a acontecer, você a conhecerá novamente, e ela será outra vez nova. Ela nunca é velha; ela é sempre nova, ela é sempre fresca. E esta é uma de suas qualidades: a de que ela nunca tornar-se-á velha. Você nunca poderá saber dela de ante-mão; só é possível percebê-la no momento presente. Para você a verdade sempre é conhecida no momento presente; e para sua mente ela é sempre desconhecida.
Esse deve ser o olhar do iluminado: saber olhar para tudo, como se estivessem acontecendo pela primeira vez. Tudo é sempre uma novidade; você se surpreende com a vida a cada segundo que passa, pois nada do que acabou de lhe acontecer havia acontecido antes para você. Você poderia assistir o mesmo filme duas vezes, e ao assisti-lo pela segunda você desfrutaria dele como se o estivesse vendo pela primeira vez. Você poderá rir das mesmas piadas, se surpreender com as mesmas cenas. O olhar do iluminado é saber ver, por vários ângulos, a mesma e única coisa. Você olha para uma flor hoje, a aprecia e desfruta de sua beleza. Amanhã você olha para a mesma flor, mas você percebe que está olhando para algo inteiramente novo. Você não tem a obrigação de enxergar as mesmas coisas na flor, sempre e sempre.
E para isto, você deve viver mergulhado no desconhecido. Você tem de saber estar familiarizado com o misterioso, com a única coisa que você jamais conseguirá desvendar. E já que é impossível decifrar sua natureza interior, a solução do problema está em aceitá-la como sendo incognoscível. Essa é a única solução. É quase como um problema matemático que não apresenta nenhuma solução possível; então você o resolve colocando aquele símbolo do “E” ao contrário. Ora, quando um problema não tem solução, então solucionado ele está! Mas você precisa aprender a chegar na conclusão de que não há nenhuma solução possível para o problema. Somente então ele pode ser resolvido.
Assim, mesmo depois d

E o homem está constantemente lutando contra a sua natureza; ele não a aceita. Ela não é algo contra o qual se deva lutar. Fazer isso é tolice; é inútil porque ela não pode ser conhecida. Tentar conhecer sua natureza é lutar contra ela. E é isso o que o homem vem fazendo. Ele está tentando compreender sua natureza com sua mente; ele está tentando saber dela. Ele quer tornar a verdade um objeto de seu conhecimento. E isso não é possível; você não pode desdobrar a única verdade existente em duas verdades, do contrário ela perde seu sentido. Depois de desdobrada em duas, apenas uma delas é que será a verdade e a outra não será. A verdade só pode ser uma. Não é possível que haja duas. Depois que sua mente divide a Realidade em duas partes, então qual delas será a verdadeira? Será o sujeito que analisa o objeto, ou o objeto analisado pelo sujeito? Se isto acontecer, você cai dentro de um dilema: "Onde está a verdade? Ela está aqui comigo, ou está lá com o objeto que eu estou observando?". É por isso que você não pode observar, não pode conhecer, não pode saber o que a verdade é. Porque, se você pudesse observar a verdade, então ela estaria lá e você estaria aqui. E o homem, como um sujeito observador, jamais poderia admitir-se como sendo algo não-verdadeiro. Se aquilo que está lá é a verdade, o que é você então? Você consegue conceber para si mesmo que você é uma mentira? A resposta é que não; ninguém o faz. Assim, dividir a Verdade em duas e querer que o sujeito e o objeto sejam ambos verdades, é querer demais. Isso vai contra a natureza da Verdade, pois ela só pode ser uma.
O processo de "conhecer algo" significa que o conhecimento não existia anteriormente e que, de repente, passou a existir. Quando você conhece algo, o objeto que se tornou conhecido por você não é eterno. Isso também indica que nem mesmo o seu conhecimento é eterno: eles surgiram, ambos, ao mesmo tempo. E é por isso que a verdade não pode ser conhecida, ela é eterna; você nunca deixou de sabê-la; você sempre soube dela. Como você pode, então, vir a conhecê-la? Não, você não pode.

É como quando você já conhece o que é o céu, e de repente você começa a dizer "eu quero conhecer o que é o céu". É uma grande idiotice. Você não pode conhecer o céu duas vezes; apenas uma única vez já basta. Depois de conhecido uma vez, você pode empreender todos os esforços no sentido de conhecê-lo novamente, mas eles serão em vão. O céu só pode ser conhecido uma vez, e isto já foi feito. Aquilo que já está consumado, está consumado... e não há mais nada que você possa fazer.
O mesmo se aplica quanto a você conhecer a sua Natureza, mas aqui há uma pequena peculiaridade: você sempre soube dela. A diferença da sua natureza para o céu, é que o céu pode ser conhecido uma única vez. Mas, sua natureza não pode ser conhecida sequer, pela primeira vez. E veja: tentar conhecer sua natureza pela primeira vez é como tentar conhecer o céu pela segunda. Você não poderá conhecê-la de novo, por mais que tente. Você já conhece o que é a Verdade.
Assim, todo esforço é inútil. Isto é muito importante e tem de ser compreendido: a Verdade não pode ser conhecida, ela tem de ser aceita. Isso precisa ficar muito bem claro na sua mente; essa compreensão precisa entrar e ficar impressa em você, de tal forma, que você desista de tentar conhecê-la... de forma que você aceite que a verdade é incompreensível. Somente depois disso é que você tornar-se-á apto para aceitar e perceber que você já a conhece.
Sim, você já conhece essa verdade. Mas você a conhece pelo seu não-conhecer. A sua aceitação de que a verdade não pode ser conhecida de forma alguma traz consigo uma compreensão muito sutil. A sua aceitação de que esse problema não tem solução traz a solução do problema. É esta aceitação que te mostra que você sempre soube de sua natureza – apenas não estava consciente dela --, mas agora você se lembrou. O segredo é você se familiarizar, estar imerso, mergulhado, e aprender a se manter consciente desse seu não-saber, que você sempre soube.
E, mais uma vez, aceitar é a solução... Namastê!