"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, julho 11, 2017

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 3/4

- Gustavo -


Continuando a explanação da tabela sinótica:




10 – A Consciência é dotada de percepção, a mente é dotada de sentimento. Isso significa que "Quem percebe" é o Eu Real, e não o eu fictício, o eu do personagem. O personagem tem apenas sentimentos, mas não tem a verdadeira percepção. O senso de "eu sou"  do personagem não é verdadeiro, mas o personagem sente que é. Trata-se de um sentido falso de "eu sou", pois o eu sou do personagem apresenta o sentido de "eu existo como entidade específica, separada e isolada". No personagem, a percepção está dividida, fragmentada; consequentemente  "eu sou" aparentará  estar isolado, dividido, fragmentado. A natureza da percepção é ser inteira, total. Uma percepção fragmentada é uma percepção distorcida, ilusória, irreal. Portanto, a mente do personagem não é a detentora da percepção.

A percepção é dividida ou fragmentada quando nossa atenção está voltada para o exterior, mas não está em si mesma. Com percepção fragmentada, a pessoa percebe o mundo a sua volta, percebe as pessoas que estão em volta, mas não percebe a si mesma. A pessoa percebe até o próprio corpo, mas não olha para a si mesma. Parece que somente o mundo, as pessoas e o corpo são fenômenos dignos de atenção. Mas a percepção – a própria percepção em si – também é um fenômeno que está acontecendo. E esse fenômeno é a fonte, a origem de tudo. Mas ninguém está alerta para ele. Ao invés de dirigirmos a atenção para a própria atenção e o mundo ao mesmo tempo (considerando a dignidade de ambos, ao invés de apenas um), nossa atenção observa apenas o mundo. Esse é o mecanismo da mente do personagem: encaminhar o fluxo de atenção para o mundo exterior e evitar que o mesmo fluxo dirija-se para a atenção em si.  É então que a atenção/percepção torna-se dividida, fragmentada, não integrada.

No Ser a percepção está inteira, não fragmentada, total, una, integrada. A percepção está imersa em si mesma, em contato consigo mesma. Como uma gota que caiu no mar, a percepção caiu e dissolveu-se e perdeu-se completamente em si mesma. A percepção se integrou à percepção, tornou-se absoluta. Ela não está mais voltada somente para os fenômenos externos. O fenômeno interno, central, nuclear, foi encontrado. Quando a atenção está assim inteira, o senso "Eu sou" da Consciência do Ser emerge e o indivíduo percebe que ele – a parte, a gota – é na verdade a Totalidade, o Oceano inteiro.


11 – A percepção consciencial revela a unidade, o Eu que somos. “Eu” vive no universo consciencial infinito. “Eu”, que é infinito, é UM com seu o próprio universo consciencial infinito. O Infinito só pode ser o UM em Si mesmo. Portanto, a Unidade é a realidade da Consciência do Ser. 

Na unidade tudo já é. Tudo está imediatamente ao alcance, disponível, manifestado. Na Unidade não existe separação em absoluto. Todavia isso é constatado somente mediante a percepção consciencial. A percepção mental concebe a dualidade, ou seja, o senso de divisão, separação, isolamento. A mente divide todas as coisas. Para a mente, não é apenas o senso de “eu” que existe separado de tudo o mais – todas as coisas parecem estar separadas de todas as coisas. Ela cinde a realidade em “passado”, “presente” e “futuro”. A mente concebe uma divisão/separação absoluta.

Na dimensão da Consciência do Ser, “Eu” está em unidade com todas as coisas, com todos os seres, com o universo inteiro. Isso é assim porque Deus é tudo o que existe, e tudo o que existe existe em Deus. É como um mecanismo perfeito, completo, fechado em si mesmo. Deus é o Ser individual que somos. O Ser individual (a Parte) contém o Todo dentro de si; em decorrência disso, a Parte também encerra todas as outras Partes dentro de si. Deus é uma Unidade perfeita sendo –  o Universo Infinito funciona assim. Somos a plenitude, o próprio Universo Infinito. O Reino de Deus inteiro está dentro de nós. Tudo o que é do Pai, é também nosso, e nisso somos glorificados.

Tendo compreendido isso, podemos dar um passo adiante e compreender que se estamos em Unidade com Deus consequentemente somos unos com a paz, a sabedoria, a bem-aventurança, tudo já existe dentro de nós. Esse é um outro segredo: A nossa unidade com Deus garante a nossa unicidade com todas as coisas. 

Jesus, em uma de suas parábolas, enfatiza essa verdade valendo-se da imagem da Videira e dos ramos. Ele diz:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo o ramo que em Mim não der fruto, Ele o cortará; e todo o que der fruto, Ele o limpará para que dê ainda mais. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. Estai em Mim como Eu em vós; como o ramo de si mesmo não pode dar fruto se não estiver na videira, assim também vós não podereis se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Se vós estiverdes em Mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai: para que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15:1-8)

Jesus está revelando a Unidade ao dizer que Ele é a videira e todos os personagens são ramos ou galhos da videira. Ao afirmar “eu sou a videira”, Ele não está fazendo menção ao seu personagem, mas está se referindo ao Cristo para o qual ele despertou. O personagem Jesus também é um ramo da videira.

A fim de compreender melhor as implicações desta analogia, visualize em sua mente um tronco de árvore do qual crescem muitos ramos. Remova, agora, o tronco. Tudo o que sobrou são muitos ramos soltos e pendentes no espaço, desligados uns dos outros e de qualquer coisa. Estando soltos no ar, desligados da videira, como os galhos manter-se-ão suspensos no ar? De onde eles retirarão os nutrientes ou substâncias necessárias para o seu sustento? Em pouco tempo cada um destes galhos terá consumido a pouca vida que estava em si e caído. Um galho sozinho não consegue suprir a própria vida. Agora restaure em sua mente o tronco da árvore e note o que aconteceu aos ramos. Todos eles estão ligados à Árvore, que está enraizada e fundada na Terra, retirando para si todos os nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento e fluí-las aos ramos. Os ramos não precisam se preocupar e lutar por seu sustento. A Árvore, o tronco principal (o Ser individual, o Cristo, o Filho de Deus, o Atman) retira da Terra (O Ser universal, o Pai Eterno, Paramatman) todo o bem necessário a fim de abastecer a vida dos ramos.

E Jesus afirma claramente que nós somos ramos ligados à videira. Podemos então compreender que a nossa vida não depende de nosso próprio poder, força ou sabedoria pessoais. O Cristo em nós é "Quem faz", é Ele quem providencia para todas as nossas necessidades. Por causa desta videira (Cristo), não há necessidade de lutarmos por nossas vidas, de vivermos afastados uns dos outros, ou de lutarmos uns contra os outros. Este Cristo invisível, o tronco invisível da árvore enraizada em Deus, recebe todo o bem para Si e o lança para nós. O nosso suprimento não depende de nós, assim como o suprimento do ramo não depende de si mesmo. Estamos unidos na videira, somos um em Cristo! A plenitude do ramo depende unicamente do seu CONTATO (a percepção consciente de sua unidade) com a Videira. A menos que reconheçamos a nossa unicidade consciente com Deus, seremos como galhos desligados da Videira, cairemos e secaremos.
A chave para fazer manifestar no mundo da representação as riquezas existentes no Universo Infinito da Consciência é a oração ou meditação na qual conscientizamos o nosso bem como já manifestado. Orações ou meditações que utilizam a mentalização também são meios eficientes de trazer ao mundo visível tudo o que já existe no Universo da Consciência do Ser. Todos esses ensinamentos possuem como base o princípio de que tudo o que existe é UM.

Essas palavras não são apenas para serem lidas mentalmente. Neste momento, aproveite a própria leitura para exercitar a percepção consciencial – agora! Tudo o que está sendo aqui exposto não é conhecimento para ficar na teoria, é para ser treinado, praticado. Portanto, comece a treinar a sua percepção durante a própria leitura deste texto. E não é apenas com o texto – isso vale para tudo, esteja sempre alerta. Neste instante, volte-se inteiramente para o momento presente e perceba Quem está fazendo aparecer este texto diante de você. Perceba Quem está aparecendo como aquele que escreve; perceba Quem está aparecendo como a mensagem que está sendo lida; e perceba Quem está aparecendo como aquele que está lendo. Mais do que isso, perceba Quem está movendo a sua mão, perceba Quem está aparecendo como a sua visão, perceba Quem está enxergando com os seus olhos; perceba Quem está sendo por inteiro o seu personagem. Por fim, perceba Quem está percebendo em você. Tudo está acontecendo simultaneamente na Consciência do Ser e ninguém da representação está fazendo coisa alguma. Se estiver percebendo consciencialmente, verá que estas palavras emergem de Mim, emergem de Quem Sou e se destinam a Você, que é Quem Sou, pois, em realidade, só há UM de nós. Se tudo isso for apenas lido e não praticado, essa teoria servirá só de conhecimento para a mente e não será de nenhum valor real.


12 – O Silêncio pode ser compreendido como o estado de máxima atenção e receptividade ao Ser. Ele pertence à sublime dimensão espiritual. Ele é o solo, o ambiente no qual a Realidade Divina floresce. No Silêncio tudo está acontecendo. Significa que o Infinito inteiro está acontecendo de uma única vez, num só lance – tudo está dentro! Na representação as coisas não ocorrem assim, tudo o que existe nela não pode ocorrer ao mesmo tempo. Não há "espaço" para todas – enquanto algumas delas acontecem outras devem esperar lá fora. O Silêncio é o meio para percebermos o universo consciencial.

Para compreendermos o que é o Silêncio, vamos, por um momento, entende-lo como vazio. Silêncio é o vazio. E vazio é sinônimo de espaço. Existem diferentes categorias de vazio ou espaço. Algumas delas são mais utilitárias que outras. Por exemplo: o vazio (espaço) que existe entre os planetas do sistema solar é diferente do espaço vazio que existe aqui dentro do nosso planeta Terra. O vazio do espaço cósmico é mais aéreo, abstraído, aberto, espaçoso. Graças a isso, a sua utilidade é maior, ele é capaz de comportar maiores conteúdos. Por sua vez, o vazio que existe aqui em nosso planeta (por exemplo, o espaço vazio de nosso quarto) não é tão vazio, aéreo ou abstraído como é o vácuo espacial. O vazio aqui da Terra está cheio de ar. Porém, mesmo estando cheio de ar e não sendo tão vazio (útil) quanto o espaço cósmico, é possível utilizá-lo para colocarmos os nossos móveis lá dentro. Assim, podemos perceber que o "vazio do universo" é mais vazio (útil) do que o "vazio terrestre". Da mesma forma, o Silêncio é mais vazio do que o espaço (vazio) onde existe a representação. Graças a isso, um universo grandioso pode acontecer ali. O Universo consciencial é um fenômeno grande demais para caber dentro de um vazio tão pequeno. Seria muito desconfortável para o Divino se manifestar no espaço (vazio) onde ocorre a representação. O Universo Divino sente-se a vontade para acontecer no Silêncio, porque esse é o ambiente ideal para ele.

Outra forma de conceber o Silêncio poderia ser esta: a Realidade Divina é como um programa de computador de alta tecnologia que, para poder funcionar, necessita utilizar configurações de altíssima resolução e bastante pesadas. Não é qualquer máquina que aguentaria rodar um programa de porte tão alto. Seria necessário ter o equipamento adequado. O Silêncio é esse equipamento de alto nível que permite rodar o superior programa de computador.

Vibração [palavra]. As escrituras védicas revelam que OM (Verbo) é o som ou vibração primordial que colocou em movimento as energias latentes do cosmo e fez surgir o universo da representação. Tudo o que existe no universo do personagem é resultante de vibração ou palavra. A palavra é força criadora. Neste universo  tudo é energia, e as energias variam segundo a frequência (faixas) de vibração ou aceleração. A luz é energia acelerada (faixa de alta frequência vibratória); e a matéria em seu estado bruto é energia condensada (faixa de baixa frequência vibratória).  O corpo é energia e a mente também é energia. São a mesma energia – corpo e mente são um. O corpo é o aspecto "denso" e "grosseiro" da mente; enquanto que a mente é o aspecto "sutil" e "refinado" do corpo. Em razão dessa unidade, tudo o que existe na mente manifesta-se também no corpo e na matéria. Esse é o princípio ensinado pela ciência mental.

A ciência mental diz que tudo o que for pensado na mente tende a se manifestar no corpo concreto e também no mundo físico. O pensamento é energia, vibração, palavra.  E palavra é emissão de comando para o universo. O universo está sempre respondendo "sim" aos nossos comandos. O termo "palavra", aqui, deve ser compreendido em seu sentido amplo. As palavras que saem de nossa boca são todas vibração/palavra/comando. Nossos comportamentos e ações são "palavra". Nossos sentimentos também são palavra, energia. Até mesmo a postura corporal ou expressão fisionômica que assumimos constitui força ou palavra. Cara feia e fechada é palavra negativa; e uma cara descontraída, sorridente, feliz e alegre é palavra positiva. Tudo isso é energia (força, vibração, palavra!) que emitimos para o universo. E em nossa vida atraímos de volta tudo o que emitimos. Ao emitirmos palavras positivas de saúde, otimismo e alegria, a mente universal capta e recebe essa energia (comando) e os devolve à fonte emissora com intensidade aumentada. O mesmo vale quando emitimos palavras negativas: cedo ou tarde deveremos colher o fruto dessas palavras. Nossas palavras criam a nossa realidade. É importante notar é que o universo não responde ao que queremos, ele responde às forças (palavras) que brotam e existem em nós. O universo responde ao que somos. Se o nosso ser (pensamentos, sentimentos, palavras, condutas e atos) não está alinhado com o que estamos pedindo, dificilmente teremos os nossos desejos atendidos.

Tudo aquilo que desejamos ou pensamos, para nós ou para outrem, retorna para nós. O universo inteiro funciona como um espelho. Aquilo que oferecemos reflete no espelho único do universo e retorna para nós infalivelmente. Uma das leis ou regras que regem o universo da representação é a lei do "dá e receberás". Aquilo que damos, recebemos. Com essa lei, o universo tem uma mensagem para nos dizer. Eles está nos dando a dica de que na realidade (mesmo no universo da representação) existe um único "eu". Foi em razão disso que Jesus recomendou que deveríamos fazer ao nosso próximo somente aquilo que gostaríamos que fosse feito para nós. Deus permitiu que essa lei regesse o universo da representação a fim de que cedo ou tarde, pela lei da evolução, descobríssemos que na realidade o outro não existe. Há unicamente um "eu".


13 – O Universo da Consciência do Ser é pleno, absoluto, completo em si mesmo. Está pronto, consumado; nele, tudo já é. O universo do personagem não é absoluto e não apresenta a mesma plenitude, não está consumado. O Ser não carece de coisa alguma. Devido a isso, a palavra "Conhecimento" que está inserida na coluna do Eu Real refere-se ao conhecimento absoluto. É diferente do conhecimento relativo o qual está relacionado à mente do personagem. Em geral, os personagens acreditam ser necessário adquirirem um prévio conhecimento espiritual para poderem perceber a Consciência; primeiro eles acumulam  muitas informações para somente depois passarem à prática. Esse pode constituir um caminho, mas não é realmente necessário ser assim. Os conhecimentos relativos não atuam como condições obrigatórias para perceber a Consciência do Ser. Não é necessário ler pilhas e pilhas de livros. Há um caminho direto que consiste em compreender que: Deus é um ser completo. O Conhecimento necessário para perceber o Ser já existe no próprio Ser. O Ser que somos contém si tudo o que é necessário. Por isso os conhecimentos relativos podem ser dispensados. Se compreendermos realmente que o Ser não depende de "conhecimentos" para perceber-Se ou conhecer-Se, a própria compreensão provoca a transformação, a alquimia, a mágica: subitamente percebemos que é o Ser quem percebe em nós. A percepção mental dá lugar a percepção consciencial.

Da mesma forma – por ser completa – a Consciência do Ser dispensa a necessidade da experiência. Seria incorreto afirmar que o Universo do Ser "existe" ou que ele "não existe", e entrar em debates acerca de sua existência ou inexistência. Isso porque o Universo Consciencial não carece da experiência da existência ou inexistência. Ele está acima disso. Ele está completo! O Ser simplesmente é. A experiência de "existir" ou "não existir" é para o personagem e seu universo. Nós não devemos tentar compreender o Universo Consciencial com base nas características conhecidas assumidas pelo universo da representação. A Consciência do Ser existe ao seu próprio modo – ela é!

O universo da representação é como uma peça de teatro: as coisas que nele estão sendo encenadas são ficções, irrealidades. Um ator não necessita representar ou encenar a sua vida real – ele a vive. O personagem teatral não surge enquanto não entrar a irrealidade. A realidade nunca é encenada, mas é diretamente vivida. No teatro é encenado somente aquilo que "não é". Com isso em mente, consideremos o seguinte: Amor é o que Deus é, ao passo que o medo é aquilo que Deus não é. Unidade é o que Deus é, ao passo que a dualidade/separação é aquilo que Deus não é. Eternidade/Atemporalidade é o que Deus é, ao passo que  morte/temporalidade é aquilo que Deus não é. Como não é da natureza de Deus ser "separação", "medo", "temporalidade", Ele irá encená-los: é então que surge a experiência do universo da representação. Assim, a luz, o amor, a sabedoria, a vida, a alegria, a bem-aventurança, a harmonia e a paz existem como existências verdadeiras, enquanto que as trevas, o medo, o mal, o sofrimento, as infelicidades e a morte existem como representações. O universo da representação existe com a finalidade de permitir a experiência daquilo que "não é". Apesar disso, em razão de uma unidade essencial que existe entre personagem e Ser (também entre o Universo da Consciência e a representação), Deus se expressa na representação.

Continua...

Nenhum comentário: