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Este texto de Masaharu Taniguchi, intitulado "O Arrependimento e o Despertar", apresenta três pontos importantes que merecem ser comentados e aprofundados.
O primeiro consiste no fato de dizer que, ao despertar espiritualmente, o ser humano passa a vivenciar o reino de Deus aqui mesmo neste mundo fenomênico. Ao abrir os olhos da mente, podemos enxergar além do que os sentidos físicos permitem captar, e percebemos a nossa condição espiritual de unicidade com Deus, que somos filhos de Deus. O ser humano enquanto corpo carnal não é o filho de Deus, e sim o filho do pecado, da separatividade. Enquanto estivermos identificando o nosso ser com o corpo fenomênico, estaremos "pecando" (ou seja, nos vendo na separação e errando o alvo) e seremos filhos do pecado. O filho de Deus existe como um ser espiritual que está em eterna unidade com Deus, e ele é a essência que habita o âmago de cada um de nós. Quando despertamos para esse fato, ocorre uma mudança total em nossa perspectiva de perceber a vida, porque quando a unicidade se realiza, ela o faz englobando tudo. Essa mudança total em nosso modo de perceber é o que o texto denomina "arrependimento" ou "conversão". Quando ocorre esse "despertar", esse "arrependimento", essa "conversão", o mundo fenomênico reflete esse despertar e se converte em um paraíso terrestre. Então o reino de Deus passa a se expressar no plano fenomênico. Por isso, Masaharu Taniguchi escreve que: "quem se arrepender verdadeiramente, há de encontrar o paraíso aqui e agora, nesta vida terrena", e também: "contanto que nos arrependamos verdadeiramente, podemos passar a desfrutar imediatamente da graça dos céus".
Um outro objetivo do presente texto é desmistificar alguns ensinamentos que dizem que o mundo fenomênico (a Representação) existe como um opositor-inimigo do reino de Deus, que o reino de Deus somente poderá ser experienciado ao se rejeitar por completo a existência fenomênica, e que às vezes incentivam os estudantes a repudiarem o mundo fenomênico. É verdade que o reino de Deus é a Realidade que existe desde "antes que a Representação existisse", mas a Representação em si não é nem "boa" nem "ruim", não é sagrada nem profana. Ela é como um espelho (vazio) a refletir a imagem (conteúdo) colocada diante dela. Por isso, devido a sua natureza vazia desprovida de qualquer imagem, a representação tem a capacidade de refletir a Realidade divina (o reino de Deus) existente subjacente à ela. Sendo assim, o reino de Deus pode se evidenciar aqui mesmo neste mundo fenomênico, e isso ocorre quando o ser humano desperta para a sua filiação divina. Por isso Masaharu Taniguchi diz: "Quando descobrimos nossa natureza verdadeira, compreendemos que estamos no Paraíso, na Terra Pura, aqui mesmo neste mundo."
E, a fim de que possamos despertar para a nossa natureza verdadeira, Masaharu Taniguchi explica que primeiro deve ocorrer em nós o arrependimento e a conversão. E, sobre isso, ele faz uma notória observação - que é o segundo ponto importante de ser comentado. Ele diz: "O arrependimento completo consiste na transformação total da postura mental e, como consequência disso, o nosso mundo se transforma totalmente. O mundo que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior."
Para compreendermos o arrependimento e a conversão referidos no texto, é muito importante ter em mente o fato já mencionado de que a Representação não existe como "boa" ou "ruim", como "sagrada" ou "profana", mas que sua natureza é o vazio. Por ser vazia como um espelho, em si ela nada é, e por isso nada tem para nos apresentar. Ela não nos apresenta um universo profano, ela não nos apresenta um universo divino. Ela apenas reflete. O universo que aparentemente nos é apresentado pela representação é apenas um reflexo da própria visão ou percepção que temos dele. Quem olhar para o universo com a visão que o filho de Deus tem do universo, se verá diante um universo divino. E quem olhar para o universo com a visão/percepção que um ser pecador (ego) tem do universo, se verá diante de um universo de separação (pecado)... que é um universo totalmente sem sentido. O universo em si é nada. A percepção é tudo! O mesmo universo pode ser visto/experienciado de formas diferentes, a depender da lente com que se olha para ele. Se alguém olhar uma paisagem (universo) com óculos de lente de cor vermelha, a paisagem será vista toda em vermelho (universo aparente). E se ao lado dessa pessoa houver mais alguém olhando a mesma paisagem (universo) com lentes de cor amarela, a paisagem será vista toda amarelada (universo aparente). É importante saber fazer distinção entre "universo" e "universo aparente" e não confundi-los. O universo em si é nada, e não possui significado algum. Por sua vez, o universo aparente surge em decorrência da visão/significado que atribuímos ao universo.
Por isso, caso estejamos vendo ou experienciando o mundo fenomênico como um lugar "ruim", "defeituoso" ou "imperfeito", isso significa que estamos percebendo-o com visão/lentes defeituosas. O defeito não está no mundo em si, mas na visão com que olhamos para ele. Compreendendo isso, não é necessário querer modificar, repudiar, condenar ou desprezar o mundo em que vivemos na representação. O defeito deve ser corrigido na própria base ou raiz onde ele se origina. No exemplo acima citado, se o indivíduo que usava lentes vermelhas quiser enxergar toda a paisagem na cor azul, basta descolorir as lentes que naquele momento estavam vermelhas e colori-las novamente com a cor azul. Então, ao colocar novamente os óculos, aquela paisagem aparecerá azulada. Da mesma forma, se pudermos modificar o teor/a essência da visão com que olhamos para o mundo, ele se nos apresentará de acordo com a natureza do nosso olhar. Assim é a Representação. Ela é como um "projetor" que projeta na tela qualquer que seja o conteúdo gravado no filme. Aqueles que possuem um olhar iluminado, experienciam um mundo iluminado. Ao passo que aqueles que possuem um olhar imperfeito, experienciam um mundo imperfeito.
Sabendo disso, Masaharu Taniguchi disse: "O arrependimento completo consiste na transformação total da postura mental." A "postura mental" a que ele se refere é o olhar, a visão, a percepção. A "transformação total" deve ocorrer bem na raiz de todas as coisas, que é a nossa percepção, "e então, como consequência disso, o nosso mundo se transforma totalmente." E a chave mais essencial para fazer com que a transformação ocorra na "raiz", é aplicarmos em nossa vida a sabedoria do não-julgamento. Ao compreendermos verdadeiramente que o universo nada é de si mesmo - que ele não possui significado algum, e que somos nós quem conferimos significado a ele mediante nossa própria visão (julgamento) - automaticamente perdemos o interesse em nomeá-lo, em dizer o que ele "é" ou "não é". Então a energia que estava fluindo para o exterior começa a ser redirecionada para o interior (percepção), e conseguimos alcançar o ponto-raiz onde é possível realizar verdadeiramente a transformação, o arrependimento, a conversão.
Tendo compreendido tudo o que foi dito até aqui, vamos prosseguir para o terceiro ponto importante do texto.
Masaharu Taniguchi diz: "Conversão significa o arrependimento completo, em que a pessoa muda por inteiro a sua postura mental e, como consequência disso, o seu mundo se transforma totalmente. O 'mundo' a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior."
Tendo compreendido tudo o que foi dito até aqui, vamos prosseguir para o terceiro ponto importante do texto.
Masaharu Taniguchi diz: "Conversão significa o arrependimento completo, em que a pessoa muda por inteiro a sua postura mental e, como consequência disso, o seu mundo se transforma totalmente. O 'mundo' a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior."
Para compreendermos bem este terceiro ponto, precisamos nos defrontar com algumas questões metafísicas. Sabemos que a Realidade (a qual os diversos ensinamentos chamam de Reino de Deus, Céu, Jissô, Terra Pura, Nirvana, Moksha, etc.) existe desde "antes que a Representação existisse." Porém, uma vez que surge a Representação, algumas questões devem ser entendidas.
Primeiramente: uma das finalidades da Representação é a de permitir (simular) a experiência de nosso Ser como algo separado ou diferente de Deus. Todavia, devido à sua natureza vazia, a Representação também tem o propósito de expressar a glória e o amor incomensuráveis de Deus. Ao mesmo tempo que a Representação foi feita para possibilitar a experiência de separatividade, também foi feita para que a Divindade pudesse Se expressar plenamente através de cada ser, coisa e fato. Dependendo do olhar (percepção) que lançarmos para o universo da Representação, experienciaremos e desfrutaremos de uma coisa ou outra.
Em segundo lugar: uma vez que lançamos um "olhar" para a Representação, ela imediatamente reflete a natureza daquele olhar, e de súbito já nos vemos dentro de um universo inteiramente construído. Ao lançarmos um "olhar de separação", repentinamente nos vemos inteiramente dentro de um universo de separatividade, totalmente pronto, acabado, construído para funcionar naquele sentido. E assim constatamos que o universo da separação detém uma espécie de "inteligência" trabalhando a favor da separação a fim de preservar sua arquitetura, valendo-se de vários mecanismos, planos, estratégias para se automanter, e também para assegurar a nossa permanência dentro dele. Essa inteligência é chamada de "ego". O ego é o guardião do universo da separação. Por sua vez, o inverso também ocorre: quando lançamos um olhar iluminado para a Representação, ela o reflete e de imediato já nos vemos em um universo de pura luz, onde a Divindade se evidencia como tudo e todos. Esse universo divino também já aparece inteiramente pronto, com uma arquitetura toda construída e funcionando no sentido de se autopreservar e de assegurar a nossa permanência dentro dele. E à Inteligência guardiã desse universo divino chamamos de "Eu".
Em terceiro lugar: tudo o que foi contado até aqui ocorre no âmbito de uma magnitude imensamente maior/acima daquela em que se manifesta o universo visível. Está ocorrendo em um mundo invisível, de âmbito metafísico, algo de natureza grande demais para se apreender com a capacidade da mente/inteligência/percepção que se manifesta na visibilidade. Tal mundo invisível também faz parte da Representação (não é a Realidade). E em contraposição ao mundo invisível, temos o mundo físico-visível, que todos nós conhecemos muito bem. O mundo físico é um "reflexo visível" do mundo invisível, existindo apenas como "efeito", "aparência" ou "sombra". Por ser mero "reflexo" ou "sombra" do mundo invisível, é dotado de insubstancialidade, daí porque a Metafísica o classifica como sendo "nada" ou mera "aparência". Por trás do mundo visível (físico, insubstancial) existe o mundo invisível (metafísico, substancial), onde tudo está acontecendo.
Em quarto lugar: no universo da separação, um dos mecanismos utilizados pelo ego para perpetuar seu senso de "eu sou" é trabalhar para fazer com que fiquemos identificados exclusivamente com a realidade visível, de modo que sequer desconfiemos que nosso Ser vive e existe em uma realidade invisível. Dessa forma, a realidade visível atua como "cortina de fumaça" para esconder a realidade invisível, que é onde tudo acontece, e isso torna impossível ocorrer uma real mudança ou transformação em nossas vidas. Não há nada acontecendo no universo das aparências, por isso o Todo não reconhece nossas ações aqui na realidade visível. Por exemplo: se um personagem arrepender-se apenas no mundo das aparências (convencendo-se mentalmente de que sua identidade não é a de um "eu" pecador, mas sim o Filho de Deus), esse arrependimento não será reconhecido pelo Todo, porque ocorreu numa realidade insubstancial, em "nada", em "lugar nenhum". A pessoa não sentirá o seu universo visível se transformar no paraíso terrestre que o texto menciona, e que pode ser vivido aqui e agora. Talvez ela consiga reformar a sua personalidade, o seu caráter, a sua moral, as suas atitudes, e se tornar um ser humano melhor. Mas ela não adentrará o paraíso iluminado que existe aqui e agora. Para que a conversão/o arrependimento seja verdadeiro e surta efeito perante o Universo, ele deve ocorrer na realidade substancial. Aí sim o Universo reconhece e responde à transformação. O Universo sempre responde no âmbito da realidade invisível; e quando a realidade invisível se modifica, a realidade visível reflete a transformação.
Por isso, Masaharu Taniguchi fez a importantíssima observação, dizendo: "O mundo a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior. Em outras palavras, o verdadeiro arrependimento consiste em abandonarmos completamente a ideia de que somos seres constituídos de corpo carnal, sujeito a pecados, e nos conscientizarmos de que somos filhos de Deus, isentos de pecado. Esta é a verdadeira conversão." Tal conscientização não deve ocorrer somente a nível físico, aparente, superficial. Ela deve ocorrer nas profundezas invisíveis da realidade, que é onde verdadeiramente vivemos e existimos na Representação. É por isso que as práticas espirituais metafísicas não levam em conta a existência/presença da realidade visível. O metafísico trabalha unicamente no plano invisível, porque no universo da Representação tudo está acontecendo ali.
Todos os caminhos espirituais recomendam que os estudantes adquiram o hábito de realizarem diariamente alguma prática espiritual (sadhana), que pode ser: leitura de livros sagrados, meditação, oração, repetição de mantras ou de nomes divinos, realização de serviço desinteressado, etc.. Qualquer que seja a prática recomendada, é importante haver a repetição diária e constante, até que ela penetre nas profundezas e impregne completamente o nosso ser. Isso é assim porque, sempre que um treinamento espiritual está em seu início, ele é praticado apenas no âmbito do mundo visível (e enquanto a prática ocorrer apenas aqui, não haverá real transformação); mas, com o passar do tempo, a prática constante alcança as profundezas de nosso ser e passa a ocorrer também no mundo invisível. Então o nosso ser interior vai absorvendo e assimilando o conteúdo praticado, até ocorrer em nós uma espécie de "alteração" ou "reprogramação" no mundo invisível. E quando o mundo invisível se transforma, nossa vida verdadeiramente se transforma.
Vejamos o que Mooji disse para seus ouvintes, em um de seus satsangs:
"Eu não falo para você como você sendo uma pessoa. Eu falo para você como você sendo Consciência e presença [que existe no mundo invisível]. Se eu falar para você como você sendo uma pessoa, eu sei que o iria sobrecarregar, porque 'você' não pode mudar [a "pessoa" pertence ao mundo visível, insubstancial, que é "nada"]. Quando eu falo para você como sendo Consciência, você simplesmente entende [o indivíduo entende enquanto "ser" ou "presença" invisível que ele é] , e a Graça é libertada lá."
"Se você quiser obter o máximo proveito de mim, esteja sentado na posição da consciência e ouça como a própria consciência. Se você ouvir como uma pessoa, você nunca irá 'compreender' onde eu estou ou aquilo para o qual eu estou apontando. Ouça como consciência. Encontre uma sintonia, uma sincronicidade com a sensação de presença. Seja um com ela. Esta sincronicidade é um nível muito mais elevado de comunicação no reino do ser. É muito mais elevada do que conversar mentalmente ou verbalmente. Ressonância do Coração é a vibração da santidade. Através dela, você vem a reconhecer espontaneamente o Ser."
A partir de agora, tenhamos a consciência de que, sempre que estivermos diante de um ser desperto, ele não olha para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele não fala para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele fala com a presença/a consciência que existe (invisivelmente) por detrás da pessoa. A lembrança de que somos o Ser não ocorre a nível de nossa memória ou capacidade cerebral. Se insistirmos em compreender os ensinamentos com a nossa "pessoa", estaremos perdendo totalmente o nosso tempo. O mestre sabe que as coisas que ele diz devem ser compreendidas pelo ser invisível/silencioso que existe por detrás da pessoa. Geralmente os iniciantes na busca espiritual, sempre que vão participar de um satsang, ouvem as palavras do mestre como se fossem pessoas. Mas, com o passar do tempo, aprendem a ouvir o mestre com o ser silencioso que existe por trás de suas pessoas. E quando o ser silencioso compreende afinal os ensinamentos do mestre, o indivíduo recebe um vislumbre da verdade ou até mesmo o próprio despertar espiritual.
Concluindo: após tudo o que foi dito, ficou muito claro que a "conversão" ou "arrependimento" que o texto menciona deve ocorrer não no mundo físico (visível, insubstancial, efeito), mas no mundo interior (invisível, substancial, causa). Ao ocorrer uma total transformação em nossa forma de olhar (percepção) para a vida, a vida automaticamente se transforma, e assim podemos viver e desfrutar de um reino iluminado aqui mesmo neste mundo terreno. Finalizo, pois, este texto, com as seguintes palavras de Masaharu Taniguchi:
"O mundo radioso existe desde o princípio. Basta abrirmos os olhos da mente para compreendermos que o reino de Deus está aqui e agora. Como já expliquei, 'devemos nos arrepender, pois o reino de Deus existe aqui e agora, já está ao nosso alcance'; isto é, o reino de Deus não está para chegar daqui a algum tempo, ele já existe aqui e agora. Basta 'arrependermo-nos' para que ele se manifeste diante de nós. Os aflitos, os enfermos, os que estão com o coração cheio de tristeza, enfim, todos aqueles que sofrem, descobrirão o reino de Deus tão logo abrirem os olhos da mente. Quando eles abrirem os olhos da mente e despertarem da ilusão, o mundo terreno, que até então parecia impuro, feio e perverso, revelar-se-á como um mundo puro, repleto de paz e felicidade, iluminado pela Luz de Deus."
Namastê!
Primeiramente: uma das finalidades da Representação é a de permitir (simular) a experiência de nosso Ser como algo separado ou diferente de Deus. Todavia, devido à sua natureza vazia, a Representação também tem o propósito de expressar a glória e o amor incomensuráveis de Deus. Ao mesmo tempo que a Representação foi feita para possibilitar a experiência de separatividade, também foi feita para que a Divindade pudesse Se expressar plenamente através de cada ser, coisa e fato. Dependendo do olhar (percepção) que lançarmos para o universo da Representação, experienciaremos e desfrutaremos de uma coisa ou outra.
Em segundo lugar: uma vez que lançamos um "olhar" para a Representação, ela imediatamente reflete a natureza daquele olhar, e de súbito já nos vemos dentro de um universo inteiramente construído. Ao lançarmos um "olhar de separação", repentinamente nos vemos inteiramente dentro de um universo de separatividade, totalmente pronto, acabado, construído para funcionar naquele sentido. E assim constatamos que o universo da separação detém uma espécie de "inteligência" trabalhando a favor da separação a fim de preservar sua arquitetura, valendo-se de vários mecanismos, planos, estratégias para se automanter, e também para assegurar a nossa permanência dentro dele. Essa inteligência é chamada de "ego". O ego é o guardião do universo da separação. Por sua vez, o inverso também ocorre: quando lançamos um olhar iluminado para a Representação, ela o reflete e de imediato já nos vemos em um universo de pura luz, onde a Divindade se evidencia como tudo e todos. Esse universo divino também já aparece inteiramente pronto, com uma arquitetura toda construída e funcionando no sentido de se autopreservar e de assegurar a nossa permanência dentro dele. E à Inteligência guardiã desse universo divino chamamos de "Eu".
Em terceiro lugar: tudo o que foi contado até aqui ocorre no âmbito de uma magnitude imensamente maior/acima daquela em que se manifesta o universo visível. Está ocorrendo em um mundo invisível, de âmbito metafísico, algo de natureza grande demais para se apreender com a capacidade da mente/inteligência/percepção que se manifesta na visibilidade. Tal mundo invisível também faz parte da Representação (não é a Realidade). E em contraposição ao mundo invisível, temos o mundo físico-visível, que todos nós conhecemos muito bem. O mundo físico é um "reflexo visível" do mundo invisível, existindo apenas como "efeito", "aparência" ou "sombra". Por ser mero "reflexo" ou "sombra" do mundo invisível, é dotado de insubstancialidade, daí porque a Metafísica o classifica como sendo "nada" ou mera "aparência". Por trás do mundo visível (físico, insubstancial) existe o mundo invisível (metafísico, substancial), onde tudo está acontecendo.
Em quarto lugar: no universo da separação, um dos mecanismos utilizados pelo ego para perpetuar seu senso de "eu sou" é trabalhar para fazer com que fiquemos identificados exclusivamente com a realidade visível, de modo que sequer desconfiemos que nosso Ser vive e existe em uma realidade invisível. Dessa forma, a realidade visível atua como "cortina de fumaça" para esconder a realidade invisível, que é onde tudo acontece, e isso torna impossível ocorrer uma real mudança ou transformação em nossas vidas. Não há nada acontecendo no universo das aparências, por isso o Todo não reconhece nossas ações aqui na realidade visível. Por exemplo: se um personagem arrepender-se apenas no mundo das aparências (convencendo-se mentalmente de que sua identidade não é a de um "eu" pecador, mas sim o Filho de Deus), esse arrependimento não será reconhecido pelo Todo, porque ocorreu numa realidade insubstancial, em "nada", em "lugar nenhum". A pessoa não sentirá o seu universo visível se transformar no paraíso terrestre que o texto menciona, e que pode ser vivido aqui e agora. Talvez ela consiga reformar a sua personalidade, o seu caráter, a sua moral, as suas atitudes, e se tornar um ser humano melhor. Mas ela não adentrará o paraíso iluminado que existe aqui e agora. Para que a conversão/o arrependimento seja verdadeiro e surta efeito perante o Universo, ele deve ocorrer na realidade substancial. Aí sim o Universo reconhece e responde à transformação. O Universo sempre responde no âmbito da realidade invisível; e quando a realidade invisível se modifica, a realidade visível reflete a transformação.
Por isso, Masaharu Taniguchi fez a importantíssima observação, dizendo: "O mundo a que me refiro aqui não é o mundo físico, e sim o mundo interior. Em outras palavras, o verdadeiro arrependimento consiste em abandonarmos completamente a ideia de que somos seres constituídos de corpo carnal, sujeito a pecados, e nos conscientizarmos de que somos filhos de Deus, isentos de pecado. Esta é a verdadeira conversão." Tal conscientização não deve ocorrer somente a nível físico, aparente, superficial. Ela deve ocorrer nas profundezas invisíveis da realidade, que é onde verdadeiramente vivemos e existimos na Representação. É por isso que as práticas espirituais metafísicas não levam em conta a existência/presença da realidade visível. O metafísico trabalha unicamente no plano invisível, porque no universo da Representação tudo está acontecendo ali.
Todos os caminhos espirituais recomendam que os estudantes adquiram o hábito de realizarem diariamente alguma prática espiritual (sadhana), que pode ser: leitura de livros sagrados, meditação, oração, repetição de mantras ou de nomes divinos, realização de serviço desinteressado, etc.. Qualquer que seja a prática recomendada, é importante haver a repetição diária e constante, até que ela penetre nas profundezas e impregne completamente o nosso ser. Isso é assim porque, sempre que um treinamento espiritual está em seu início, ele é praticado apenas no âmbito do mundo visível (e enquanto a prática ocorrer apenas aqui, não haverá real transformação); mas, com o passar do tempo, a prática constante alcança as profundezas de nosso ser e passa a ocorrer também no mundo invisível. Então o nosso ser interior vai absorvendo e assimilando o conteúdo praticado, até ocorrer em nós uma espécie de "alteração" ou "reprogramação" no mundo invisível. E quando o mundo invisível se transforma, nossa vida verdadeiramente se transforma.
Vejamos o que Mooji disse para seus ouvintes, em um de seus satsangs:
"Eu não falo para você como você sendo uma pessoa. Eu falo para você como você sendo Consciência e presença [que existe no mundo invisível]. Se eu falar para você como você sendo uma pessoa, eu sei que o iria sobrecarregar, porque 'você' não pode mudar [a "pessoa" pertence ao mundo visível, insubstancial, que é "nada"]. Quando eu falo para você como sendo Consciência, você simplesmente entende [o indivíduo entende enquanto "ser" ou "presença" invisível que ele é] , e a Graça é libertada lá."
"Se você quiser obter o máximo proveito de mim, esteja sentado na posição da consciência e ouça como a própria consciência. Se você ouvir como uma pessoa, você nunca irá 'compreender' onde eu estou ou aquilo para o qual eu estou apontando. Ouça como consciência. Encontre uma sintonia, uma sincronicidade com a sensação de presença. Seja um com ela. Esta sincronicidade é um nível muito mais elevado de comunicação no reino do ser. É muito mais elevada do que conversar mentalmente ou verbalmente. Ressonância do Coração é a vibração da santidade. Através dela, você vem a reconhecer espontaneamente o Ser."
A partir de agora, tenhamos a consciência de que, sempre que estivermos diante de um ser desperto, ele não olha para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele não fala para nós como se fôssemos uma "pessoa". Ele fala com a presença/a consciência que existe (invisivelmente) por detrás da pessoa. A lembrança de que somos o Ser não ocorre a nível de nossa memória ou capacidade cerebral. Se insistirmos em compreender os ensinamentos com a nossa "pessoa", estaremos perdendo totalmente o nosso tempo. O mestre sabe que as coisas que ele diz devem ser compreendidas pelo ser invisível/silencioso que existe por detrás da pessoa. Geralmente os iniciantes na busca espiritual, sempre que vão participar de um satsang, ouvem as palavras do mestre como se fossem pessoas. Mas, com o passar do tempo, aprendem a ouvir o mestre com o ser silencioso que existe por trás de suas pessoas. E quando o ser silencioso compreende afinal os ensinamentos do mestre, o indivíduo recebe um vislumbre da verdade ou até mesmo o próprio despertar espiritual.
Concluindo: após tudo o que foi dito, ficou muito claro que a "conversão" ou "arrependimento" que o texto menciona deve ocorrer não no mundo físico (visível, insubstancial, efeito), mas no mundo interior (invisível, substancial, causa). Ao ocorrer uma total transformação em nossa forma de olhar (percepção) para a vida, a vida automaticamente se transforma, e assim podemos viver e desfrutar de um reino iluminado aqui mesmo neste mundo terreno. Finalizo, pois, este texto, com as seguintes palavras de Masaharu Taniguchi:
"O mundo radioso existe desde o princípio. Basta abrirmos os olhos da mente para compreendermos que o reino de Deus está aqui e agora. Como já expliquei, 'devemos nos arrepender, pois o reino de Deus existe aqui e agora, já está ao nosso alcance'; isto é, o reino de Deus não está para chegar daqui a algum tempo, ele já existe aqui e agora. Basta 'arrependermo-nos' para que ele se manifeste diante de nós. Os aflitos, os enfermos, os que estão com o coração cheio de tristeza, enfim, todos aqueles que sofrem, descobrirão o reino de Deus tão logo abrirem os olhos da mente. Quando eles abrirem os olhos da mente e despertarem da ilusão, o mundo terreno, que até então parecia impuro, feio e perverso, revelar-se-á como um mundo puro, repleto de paz e felicidade, iluminado pela Luz de Deus."
Namastê!
2 comentários:
Acho que agora compreendi o que realmente é o arrependimento!
🙏
Esse mundo é um holograma.
Somente o "mundo de Deus" é real.
Jesus tentou explicar isso na parábola do Filho Pródigo.
O Filho Pródigo saiu da Casa de seu Pai ( o estado de consciência chamado Céu, ou Unicidade, em que só há perfeição) para viver separado de seu Pai, como se isso fosse possível.
Nós somos o Filho Pródigo, e criamos o falso universo, que é apenas uma projeção da nossa culpa inconsciente.
Tudo que Deus criou é perfeito e eterno, e aqui nem a natureza é perfeita e eterna.
Esse universo parece uma obra de arte, mas é como se fosse uma pintura feita com uma tinta inferior, em uma tela defeituosa.
Em algum momento, tudo começa a se desmanchar e a despencar.
O corpo humano parece uma coisa extraordinária, até que algo começa a dar errado com ele.
Estamos mentalmente presos na Roda de Samsara, o ciclo infinito de morte e renascimento. Nós precisamos romper esse ciclo e voltar pra Casa.
(Livro: O Desaparecimento do Universo)
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