"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, maio 06, 2019

A Arte da Meditação - 15


A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith)


Capítulo 15 - A BELEZA DA SACRALIDADE 

- “Tributai ao Senhor a glória devida a seu nome. Prostrai-vos ante o Senhor com sagrados ornamentos...” (Salmos 96:8, 9) 

- “Bem vês que o céu é do Senhor teu Deus, o céu dos céus, a Terra e tudo o que nela há”. (Deuteronômio 10: 14) 

- “Cantam os céus a glória de Deus, e proclama o firmamento a obra de Suas mãos”. (Salmos 19:1) 

A Meditação em si mesma não é o fim. O que buscamos é a realização consciente da Presença de Deus. Antes da experiência da plena iluminação pode haver “dois”: Deus e eu. Não desejamos Deus e eu, mas somente Deus. É o passo final da senda espiritual. Deus é desconhecido e incognoscível aos sentidos humanos. 

Um meio de transpor a distância imensa entre materialidade e espiritualidade é afugentar as preocupações e problemas do mundo e concentrar-se na obra de Deus. Em todos os arredores há sempre algum motivo de beleza, um quadro, uma peça escultural, uma planta, um lago, uma montanha ou uma árvore. 

Concentremo-nos em alguns desses objetos na meditação, considerando a idéia de Deus, como o Invisível a expressar-se através da natureza ou da mente de um artista ou artesão. 

A presença e o poder do Invisível é aquilo que, a nós, se apresenta como visível, sendo um inseparável do outro. Mesmo que tenhamos uma compreensão mínima de Deus, esta nos capacita a discernir a presença da vida de Deus, do amor e da alegria presentes no homem e no universo. 

Essa compreensão faz expandir a nossa vida; o nosso amor se torna mais puro, jubiloso, livre, conduzindo-nos a uma dimensão mais elevada da vida. Passamos a viver, não tanto no mundo dos efeitos, mas no mundo da causa, descobrindo que nosso bem reside na Causa de tudo que existe e não no efeito, nas pessoas, coisas ou lugares. 

Quanto mais nos compenetramos dessa Causa-Deus, tanto maior será nosso gozo ante aqueles efeitos. Somente ao penetrar o Reino Invisível, a Quarta dimensão da vida, passamos a perceber a lei do amor em ação, as forças invisíveis da natureza operando para manifestar-se sob a forma de uma planta ou de uma flor. Isso não pode ser captado por intermédio dos sentidos físicos. Com os olhos semicerrados, contemplai a planta: vede seus brotos, suas folhas, flores e frutos. Que extraordinário milagre de atividade invisível transformou em flor uma semente seca, um punhado de terra e uma porção de água. 

A Vida impalpável atuando através da umidade do solo tocou a semente, partiu-a e pequenos brotos se enraizaram. Essa mesma força invisível carreia os elementos da terra, o sustento necessário para que essas raízes se sistematizem e apontem para fora da planta. 

Que maravilha, que assombro, que milagre é esse que se desenrola ante nossos olhos, nunca visto, inexplicável, desconhecido! Somente Deus, o Infinito, o Invisível poderia produzir tal beleza e tal graça. 

Tudo que aparece é forma e atividade Daquilo que é invisível. O visível nada mais é do que a conscientização do que o causou e lhe deu forma, vida e beleza. Já que a forma é inseparável, indissociável de sua Fonte. 

A forma também é eterna. Reconhecer, compreender a Fonte dos símbolos externos da Creação é amá-los e gozá-los mais sutilmente. A atividade da natureza não é algo dissociado da planta; a vida invisível da planta se expressa como forma, cor, graça e beleza. Similarmente, a alma, a mente, a perícia de um artista integra-se em um bloco de pedra ou de mármore para crear trabalho artístico de modo que as qualidades do creador são inseparáveis da figura creada. 

Na mesa à nossa frente encontra-se uma figura de Budha em delicado marfim. Esforçamo-nos por representar o artista sentado ante essa peça, por ele cuidadosamente selecionado, considerando a beleza e a pureza da cor. Podemos imaginar quão amorosamente manuseou ele essa massa inerte dando-lhe forma ainda em sua mente? Podemos ver além do homem e vislumbrar a beleza da Alma, a pureza da Mente, a divina Inteligência que guiou seus dedos hábeis. 

Lembre-vos, ele não esculpia apenas uma imagem de um homem porque Budha significa iluminação, estado de consciência divina que no ocidente chama “Espírito de Deus no homem”, o Cristo ou filho Espiritual. Na mente do artista reside o desejo de levar aos outros sua concepção desse “Espírito de Deus no homem”. 

A compreensão, o enlevo do escultor expressos em seu trabalho desperta em nós interesse pelo assunto porque o artista soube consubstanciar na figura a profundeza de sua arte. 

Assim como o artista se exteriorizou nessa bela figura, a Natureza se manifesta na beleza de uma flor, também devemos nós expressar a Graça daquela Presença Invisível que está sempre fluindo através de toda Creação. 

Nessa forma de meditação, não só nos deleitamos com a beleza dos poentes, das elevadas montanhas, dos céus estrelados, como também iremos além, captando o amor, a perícia, a integridade Invisível manifestando-se como obra de Deus. 

A atividade incessante do amor divino garante a continuidade dessa maravilhosa creação chamada homem e universo. 

A meditação sobre a atividade de Deus, patenteando-nos os fenômenos naturais ou qualquer forma de beleza, habitua-nos a descobrir no homem sua origem divina, pouco nos importando seus fracassos ou êxitos. 

Deus se expressa pela inteligência, vida, amor e alegria. Isso não é facilmente percebido na observação ligeira de uma pessoa, como também não o é pelos sentidos a Causa Invisível de uma planta ou o trabalho do artista. 

Se contemplando o Invisível, através da aparência, pode a Essência ser discernida; à luz dessa percepção todo indivíduo pode ser considerado manifestação do Infinito Ser Divino. 

Então, condenação e crítica transformam-se em intenso amor pelo universo e seu povo, seguido de compaixão por aqueles que desconhecem sua verdadeira identidade, exatamente aqueles que antes considerávamos mulheres e homens maus do mundo. 

Somente conscientizando a natureza de Deus, poderemos compreender a natureza individual. Pensando sobre nós mesmos ou os outros podemos vislumbrar interiormente a atividade de Deus, como Princípio Creador, expressando-se através de cada um. Deus encarnou como mente, alma, substância e vida de nosso ser individual. O verbo se fez carne como “tu” e como “eu”. 

Na meditação devemos sentir Deus como sujeito e objeto e devemos elevar-nos acima da concepção tridimensional da vida, o visível, para a Quarta dimensão – o Invisível. Os que vivem no mundo tridimensional vivem, apenas, no mundo do peso, comprimento e profundidade; em outras palavras, vivem em um mundo de forma, inteiramente separados da essência. 

Na Quarta dimensão, onde Deus é Causa, Substância e Realidade da Vida, todo efeito seja homem ou coisa, se revela como expressão do Ser Infinito. Todo ser individual, toda forma individual, mineral, vegetal ou animal, é Deus Invisível manifestando-se, exprimindo Suas qualidades Infinitas, Seu Sinete, Sua Natureza. Deus aparecendo como Universo e como homem, Imortal, Eterno. Como poderemos separar-nos de Deus? “Tu me vês, tu vês o Pai que me enviou”. Poderá, por acaso, o amor do artista dissociar-se da obra por ele creada? Contemplamos a planta e a força vital divina que a formou, são uma só coisa, inseparável, indivisível. 

No mundo quadrimensional, causa e efeito, sujeito e objeto são um. Gradualmente nos aprofundamos até nos encontrarmos imersos em Deus. Já não pensamos, as idéias estão sendo cristalizadas através de nós, os pensamentos meditados em nossa consciência tornam-se revelações da Alma. 

Então, encontramos Deus manifestando-se, pronunciando a Palavra viva, penetrante, mais poderosa do que uma espada de dois gumes, aquela Palavra de Deus que separa o Mar Vermelho quando é preciso, que produz os milagres de nossa consciência. 

Essa meditação é uma revelação do Infinito Invisível, afirmando-se dentro do nosso próprio ser. 

Meditação é a arte divina que nos ensina a avaliar corretamente o homem, seus feitos e o Universo. Intensifica o esclarecimento das coisas externas, pois a meditação infunde a compreensão do Amor Divino que produziu a forma. Compreendendo a mente, a alma que gerou uma forma que expresse o bem, apreciamos o próprio bem. 

É o que acontece quando conhecemos o autor de um livro, o compositor de uma peça musical. O livro se torna mais desfrutável e a peça mais sugestiva. 

Se pudéssemos tocar “uma gota de Deus” a creação surgiria para nós em toda sua maravilhosa glória. 

A meditação desenvolve o discernimento que nos leva do objeto a seu princípio creador e ante essa nova visão, o mundo se apresenta como ele realmente é. 

Pela meditação uma nova dimensão da vida se manifesta, já não ficamos limitados a tempo e espaço, comprimento, largura, peso e profundidade, pois de modo instantâneo, a mente se eleva da forma tridimensional para a quarta dimensão que é a origem, sua fonte, sua causa. 

Nessa esfera, não dependemos daquilo que aparece, pessoas, lugares ou coisas, não os amamos desmedidamente, não os odiamos, não os tememos. Contemplando-nos através deles, percebemos a todo o momento que sua Fonte é Deus. 

Quando ouvimos as palavras “jamais te abandonarei”, lembremo-nos da pequena figura de marfim. O amor, a perícia, a leveza, a devoção do artista que a produziu, dela não poderão ser removidas; assim sucede conosco. Aquilo que nos formou jamais nos deixará, sua essência é nosso ser. 

A meditação sobre a obra de Deus é um meio de expressar ativamente, as faculdades da alma e de compreender a mais elevada sabedoria. Devemos habituar-nos a contemplar poentes, jardins, flores e qualquer manifestação da beleza, vislumbrando além delas a Fonte, a causa de sua expressão. 

Passaremos a perceber, então, formas permanentes da beleza, formas permanentes de harmonia, ao vislumbrar a perfeita Essência Divina, expressando-se indefinidamente. 

O sentido material vê a forma e a aprecia; o sentido espiritual descobre a substância fundamental e a realidade da forma, perfeita, completa, integral. 

O objetivo de nosso trabalho é elevar-nos àquela concepção da contemplação de Deus em toda sua divina glória, não a glória do homem, mas a glória de Deus como glória de homem, patenteando a perfeição Infinita de Sua obra. 

Galgamos um grau de iluminação em que somos capazes de contemplar o mundo de Deus perfeito, harmonioso, completo – Deus manifestando-se em toda a Sua Glória. 

“O céu proclama a Glória de Deus” e a terra mostra a Sua obra. Então “minha meditação é serena e eu me contento no Senhor”.


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