"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, agosto 11, 2016

O poder que a mente exerce sobre o corpo - 1/4

- Masaharu Taniguchi -


Foi bem antes de o renomado ator inglês Henry Irving morrer. O médico da família o proibiu de representar o famoso protagonista da peça Os sinos. O médico argumentara que, se Irving continuasse a representar esse papel, seu coração não resistiria a tão grande esforço. Ellen Terry, que por muitos anos fora a atriz favorita de Irving, escreveu o seguinte a seu respeito em sua biografia: 

"Quando ele estava representando e chegava à cena em que o sino toca, dava a impressão de que ia sucumbir de taquicardia. Sua face se tornava toda pálida. Nisso não havia truque algum. A força da imaginação dele, que tentava encarnar plenamente o personagem da peça, influía fisiologicamente sobre o corpo.

Quando ele representava o personagem robusto chamado Mathias e chegava à cena em que este morria, ele apresentava uma expressão totalmente diferente da que mostrava em outras cenas, e agonizava de fato, tamanha era a intensidade com que ele imaginava a morte. Os olhos  ficavam cravados no ar; numa expressão de moribundo, o rosto ficava cinzento; as mãos e os pés, gelados. Por isso, não foi sem razão que o seu coração não resistiu a tão grande excitação quando ele representou a peça Os sinos em Bradford, violando a proibição do médico de Wolverhampton. Em menos de vinte e quatro horas após ter representado no palco a morte de Mathias, ele morreu".

Na noite seguinte (foi nessa noite que ele morreu), ele representava o papel de Becket, mas o médico, vendo a sua interpretação, disse que ele continuava a trabalhar agonizando de fato. Esse famoso ator só não morreu durante a representação graças ao estímulo mantido pelo seu arrebatamento como ator e pelo entusiasmo dos espectadores.

São muito comuns os casos em que os atores enfermos, estimulados pela paixão de representar e pelo entusiasmo dos espectadores, chegaram a ficar temporariamente curados e esquecer completamente os seus sofrimentos.

O ator Edward Southern também disse: "Quando eu piso o palco, sinto que o funcionamento do cérebro melhora muito. E mesmo no nível fisiológico, a respiração se torna profunda. Sinto que o ar que respiro me estimula agradavelmente. Quando chego à entrada do palco, o cansaço se dissipa. Mesmo nas ocasiões em que teria de ir ao médico e ficar no leito, se entrar no palco, sou capaz de representar sem nenhuma dificuldade." Entre oradores, pregadores ou vocalistas famosos, há muitos que têm experiências semelhantes.

Não lamente a situação que obriga você a empenhar toda a sua força. Ela constitui uma fonte de força que o vivifica. A "necessidade premente" não é um fardo, mas fonte de vitalidade. Os sofrimentos e as doenças comuns são dissipados diante dessa fonte de vitalidade. Mesmo nas ocasiões em que pensamos ser incapazes de fazer o esforço exigido, se nos virmos diante de uma grande emergência que nos obrigue a agir, a força infinita que existe no interior de nós se manifestará e se nos salvará, tornando-nos capazes de realizar sem dificuldades até mesmo os trabalhos que parecem ser impossíveis.

Voltemos ao exemplo de vocalistas e atores. Eles têm de se apresentar todas as noites no palco, mas há ocasiões em que estão de folga. E justamente nesses momentos, por não terem o que fazer, sentem-se mais doentes e passam mal. Diz-se entre atores e vocalistas: "Não temos tempo para ficar doentes".

Disse certo ator: "Não podemos nos dar ao luxo de ficar doentes. Somos impelidos pela espora chamada 'necessidade premente'. Nós também passamos por momentos em que, se fôssemos pessoas comuns e ficássemos em casa, teríamos o direito de ficar na cama e ser doentes, como vocês. Mas, em tais ocasiões, rejeitamos a cama. Munidos apenas da necessidade de subir ao palco, repelimos o ataque da doença. Não é mentira a afirmação de que a vontade é o melhor fortificante. Quem se apresenta no palco sabe que precisa ter uma boa reserva desse fortificante".

Certo ator, vítima de reumatismo, não conseguia andar os dois quarteirões que separavam o hotel do teatro, mesmo com o auxílio de bengala. Porém, quando chegou a hora de ele entrar em cena, conseguiu não só subir ao palco com facilidade e gestos elegantes, como também esqueceu totalmente os problemas de saúde que o estavam atormentando até então. A força de vontade, que era mais forte, afastou a doença, que era mais fraca. O ator não sentia dor alguma enquanto estava no palco. Isso não significa que a doença ficasse neutralizada por outros pensamentos, sensações e emoções. Ainda que temporariamente, ele ficava totalmente curado. E quando, terminada a representação, deixava o palco, ele voltava a ser o reumático que era.

Na época da Guerra de Secessão, o general Grant estava sofrendo de forte reumatismo, mas, ao saber que o comandante da tropa inimiga, general Lee, estava querendo se render, não só esqueceu o seu reumatismo, como de fato ficou totalmente curado por determinado tempo, arrebatado por tamanha alegria.

Houve também o caso de uma pessoa que sofria de paralisia durante quinze anos e que se curou graças ao choque do Grande Terremoto de São Francisco. Durante aquela catástrofe, foram incontáveis os casos de cura milagrosa quase instantânea. Muitos que estavam acamados e não conseguiam cuidar nem de si mesmos, ao se virem naquela situação desesperadora, revelaram uma valentia de troiano e perfizeram longo percurso a pé até a zona segura, carregando os filhos e os pertences.

A aldeia de Deadwood, situada na serra Black, em Dakota do Sul, na época em que não havia ainda telefone, telégrafo nem ferrovia, era realmente um lugar desprovido de recursos; e, para chamar um médico, tinham de andar cem milhas. Por isso, para pessoas de nível comum de vida, consultar um médico estava totalmente fora de cogitação! Isso só acontecia no caso de doença ou ferimento muito grave. Nas famílias numerosas dessa aldeia havia muitas pessoas que nunca viram um médico. Quando alguém experimentou perguntar a uma dessas famílias se nunca tinham ficado doentes, recebeu uma resposta singular: "Não, nunca ficamos; simplesmente não poderíamos viver se não fôssemos fortes, pois não temos condições de chamar um médico. E também, mesmo que fôssemos chamá-lo, o doente morreria antes de ele chegar".

A maior infelicidade cultivada por nós, que nos dizemos "altamente civilizados", é termos deixado de acreditar na capacidade curativa natural que existe no interior de nós mesmos. Nas grandes cidades em que vivemos, há demasiado número de estabelecimentos que cuidam de doenças. Como consequência natural, imaginamos a doença, prevemos a doença e acabamos ficando doentes, segundo a lei da mente. Há um consultório médico a cada um quarteirão ou a cada dois quarteirões. As farmácias ostentam suas placas em todos os quarteirões. Os médicos e as farmácias estão nos tentando, como a dizer para procurá-los assim que surgir algum indício de doença. Dessa forma, passamos cada vez mais a recorrer ao auxílio externo, enquanto o poder curativo interno fica embotado e nos tornamos incapazes de curar com nossa própria força o desarranjo do corpo.

Na época em que o grau de civilização não era muito alto, nas cidades e aldeias pequenas raramente apareciam médicos. Seus moradores confiavam no poder curativo interior e não recorriam a nenhum auxílio externo. E eram fortes e revelavam grande resistência à doença.

A saúde de uma criança criada num lar que por qualquer probleminha chama o médico, está sujeita a ficar num estado lastimável. Isso porque a presença de um médico dá à criança uma sugestão bastante forte de que "ela é fraca". Há grande número de mães que, quando acham que os filhos não estão muito bem, logo chamam o médico; em consequência disso, no subconsciente dessas crianças ficam gravadas ideias de doença, médico, remédio, etc., que as influenciarão, mesmo depois de crescerem ou durante toda a vida.

Certamente virá a época em que se compreenderá que a criança e o remédio são realmente incompatíveis. A criança deve ser criada sob sugestão de amor, Verdade, de harmonia.

Desde que surgiu este movimento neo-espiritualista, aumentou muito entre os seus seguidores as famílias que não tomam remédio algum nem consultam médicos. Está ficando cada vez mais próxima a era em que se tornará ilusão do passado a crença de que, para consertar o nosso corpo criado por Deus, precisamos remendá-lo com "retalhos" materiais. De maneira alguma o Criador deixa a saúde, a felicidade e a prosperidade do homem à mercê de simples acidente, tornando necessário que ele more perto de médicos.

Deus, de maneira alguma, deixa abandonado na mão tirana do simples acaso ou da crueldade do destino o que Ele criou com amor. A Vida, a saúde e a felicidade dos filhos que Deus gerou não precisam, de forma alguma, estar perto de remédios para recorrer a eles em caso de emergência. A Vida, a saúde e a felicidade do homem não foram feitas de maneira a depender da existência ou não de plantas ou minérios medicinais na proximidade.

Acredito que Deus não comete o absurdo de deixar escondidos os remédios nas ervas e nos minérios existentes em lugares distantes e acessíveis apenas a uma pequeníssima parcela da humanidade, fazendo com que muitas pessoas morram sem consegui-los. Não seria mais lógico pensar que ele deixou guardado o remédio para curar doenças e outros males bem ao alcance do homem, isto é, no interior do próprio homem, de modo que possa ser aplicado a qualquer momento?

No interior de cada pessoa está oculta a força secreta, a Vida indestrutível, a fonte inesgotável de saúde, a qual, quando ativada, constitui o remédio que cura todo e qualquer ferimento nosso, toda e qualquer infelicidade nossa.

O homem geralmente não adoece enquanto tem de trabalhar como figura central na solução de um problema. Mesmo as damas aristocráticas de compleição frágil, dificilmente ficam impossibilitadas de comparecer, por motivo de doença, no dia em que lhes é concedida uma audiência com o chefe da nação ou quando são convidadas para a Casa Branca, em Washington.

São bastante comuns os casos em que os doentes crônicos ficam praticamente curados quando lhes é atribuída uma grande responsabilidade. Muitas vezes, as pessoas acamadas há muito tempo, quando são obrigadas a levantar e agir devido a algum acontecimento de extrema gravidade que as faz esquecer da doença, ficam completamente curadas!

No mundo todo, existem muitas mulheres que até alguns anos atrás eram extremamente fracas mas que, por ter aumentado o número de filhos para cuidar e não ter mais tempo para pensar na sua doença, passaram a trabalhar e a fazer planos em prol deles, e graças a isso estão agora vivendo com relativa saúde.

A maioria dos seres humanos fica doente se tiver tempo para isso. Mas, quando têm uma família numerosa e faminta para sustentar ou são perseguidos por diversos afazeres que a vida lhes impõe, eles têm saúde, queiram ou não.

A "situação que nos obriga a agir" - quanta gratidão deve o mundo a essa espora! Que grande esforço o homem faz quando é acuado para uma situação em que não há a quem recorrer, quando fica privado de todos os meios de salvação externa e se vê obrigado a armar-se de toda a força que possui, quando tem de sair com sua própria força dessa situação infeliz! Quanto este mundo deve a essa força da "necessidade premente"!


Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 24", pp. 15-22

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