"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, dezembro 07, 2016

A importância do Consolador ou Espírito Santo

- Paramahansa Yogananda - 


"Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito da verdade, que o mundo não pôde receber, porque junto não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos (...)

"Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. 

"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize" (João 14: 15-18, 26-27)

O mesmo conselho que Jesus deu a seus discípulos diretos aplica-se aos dias de hoje. Se um devoto o ama (quer dizer, ama o contato com a Consciência Crística presente em Jesus), então precisa seguir fielmente os mandamentos - as leis da disciplina física e mental e da meditação - que são necessários para manifestar a Consciência Crística na própria consciência de cada indivíduo.

No mundo cristão, poucos compreenderam a promessa de Jesus de que, depois que tivesse partido, ele enviaria o Espírito Santo. O Espírito Santo é o invisível e sagrado poder vibratório de Deus, que sustenta ativamente o universo: o Verbo ou Om [Aum], a Vibração Cósmica, o Grande Consolador, o Salvador de todas as tristezas. 


O VERBO: A VIBRAÇÃO CÓSMICA INTELIGENTE DE DEUS

A evolução científica da criação cósmica a partir do Deus Criador é sumariamente descrita em terminologia arcana, no livro do Gênesis do Antigo Testamento. No Novo Testamento, os primeiros versículos do Evangelho de São João podem ser corretamente denominados "Gênesis, segundo São João". Esses dois profundos relatos bíblicos, quando claramente apreendidos por meio da percepção intuitiva, correspondem exatamente à cosmologia espiritual apresentada nas escrituras da Índia, legadas desde a Idade de Ouro por seus rishis, que tinham o conhecimento de Deus.

São João foi possivelmente o maior entre os discípulos de Jesus. Assim como um professor escolar encontra entre seus alunos alguém cuja compreensão superior o classifica como o primeiro da classe, e há outros que devem necessariamente obter uma classificação inferior, também entre os discípulos de Jesus havia diferentes graus de habilidade para avaliar e absorver a profundidade e a amplitude dos ensinamentos do homem-Cristo. Os registros deixados por São João, entre os vários livros do Novo Testamento, evidenciam o mais elevado grau de realização divina, revelando as profundas verdades esotéricas que Jesus conhecia por sua própria experiencia e que transmitiu a João. Não apenas em seu evangelho, mas também em suas epístolas e, especialmente, nas profundas experiência metafísicas descritas simbolicamente no Apocalipse, João apresenta as verdades ensinadas por Jesus, do ponto de vista da percepção intuitiva interior. As palavras de João são precisas; por esse motivo, seu evangelho - embora o último entre os quatro do Novo Testamento - deveria ser considerado em primeiro lugar quando se procura o verdadeiro significado da vida e dos ensinamentos de Jesus. 

"No princípio..." 

Com essas palavras têm início as cosmogonias tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. "Princípio" refere-se ao surgimento da criação finita, pois no Absoluto Eterno - o Espírito - não há princípio nem fim. 

O Espírito, sendo a única Substância existente, não tinha senão a Si Mesmo com que criar. O Espírito e Sua criação universal não poderiam ser essencialmente diferentes, pois cada uma dessas duas Forças Infinitas sempiternas, seria consequentemente absoluta - o que, por definição - é uma impossibilidade. Uma criação ordenada requer a dualidade de Criador e objeto criado. Assim, o Espírito primeiro fez surgir uma Ilusão Mágica (Maya), a Medidora Mágica do Cosmos, (*Nota: A palavra sânscrita maya significa "a medidora": o poder mágico na criação, pelo qual limitações e divisões são aparentemente presentes no Imensurável e Indivisível.), que produz a ilusão de que uma porção do Infinito Indivisível esteja dividida em objetos finitos, independentes, assim como o oceano tranquilo torna-se distorcido em ondas individuais em sua superfície, por obra de uma tempestade. 

Toda criação é apenas o Espírito - aparente e temporariamente diversificado pela atividade vibratória criadora desse mesmo Espírito.

"No Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no Princípio com Deus. 
Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a Vida, e a Vida era a Luz dos homens" (João 1:1-4)

"Verbo" significa vibração inteligente, energia inteligente, emanando de Deus. A pronúncia de qualquer palavra, como "flor", expressa por um ser inteligente, consiste em energia sonora ou vibração, mais o pensamento que impregna essa vibração de um significado inteligente. De maneira parecida, o Verbo, que é o princípio e a fonte de todas as substâncias criadas, consiste na Vibração Cósmica [Espírito Santo] impregnada da Inteligência Cósmica [Consciência Crística]. 

O pensamento da matéria, a energia de que se compõe a matéria e a própria matéria - todas as coisas - são apenas diferentes vibrações de pensamento do Espírito. 

Antes da criação, há apenas o Espírito não diferenciado. Ao manifestar a criação, o Espírito torna-Se Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

O Espírito Não Manifestado tornou-Se Deus-Pai, Aquele que dá origem a toda vibração criadora. Deus-Pai, nas escrituras hindus, denomina-se Ishvara (o Governante Cósmico) ou Sat (a suprema e pura Essência da Consciência Cósmica) - a Inteligência Transcendente. Quer dizer, Deus-Pai existe transcendentalmente, não afetado por qualquer tremor da criação vibratória - uma Consciência Cósmica independente e consciente.

A força vibratória que emana do Espírito, dotada do poder criador ilusório de maya, é o Espírito Santo: a Vibração Cósmica, o Verbo, Om (Aum) ou Amém.

O Verbo, a energia criadora e o som da Vibração Cósmica, como ondas sonoras de um terremoto inimaginavelmente poderoso, emanou do Criador para manifestar o universo. Essa Vibração Cósmica, impregnada da Inteligência Cósmica, condensou-se em elementos sutis - raios térmicos, elétricos, magnéticos e de todo tipo; e então em átomos de vapor (gases), líquidos e sólidos. 

Uma vibração cósmica ativa em todo o espaço não poderia por si só criar ou sustentar um cosmos extraordinariamente complexo. Assim, a consciência transcendente de Deus-Pai manifestou-se na vibração do Espírito Santo, como o Filho - a Consciência Crística, a inteligência de Deus em toda a criação vibratória. Esse puro reflexo de Deus, presente no Espírito Santo, indiretamente guia este último para que crie, recrie, preserve e modele a criação de acordo com o propósito divino.

Os escritores bíblicos não versados nas terminologias que expressam o conhecimento de nossa era moderna, utilizaram muito apropriadamente os termos "Espírito Santo" e "Verbo" para designar o caráter da Vibração Cósmica Inteligente. Em "Verbo" está implícito um som vibratório dotado de poder de materialização. Em "Espírito", está implícita uma força consciente, invisível e inteligente. "Santo" caracteriza essa Vibração, porque é uma manifestação do Espírito e porque tenta criar o universo de acordo com os padrões perfeitos de Deus.

A designação desse "Espírito Santo" como Aum [Om], nas escrituras hindus, denota seu papel no plano criador de Deus: "A" representa akara, a vibração criadora; "U" simboliza ukara, vibração preservadora; e "M" refere-se a makara, o poder vibratório de dissolução. Uma tempestade, bramindo ao longo do mar, cria ondas grandes e pequenas, preserva-as por algum tempo e, então, ao aplacar-se, dissolve-as. Assim, Om ou Espírito anto, cria todas as coisas, preserva-as em miríades de formas e, por fim, dissolve-as no seio oceânico de Deus, para que sejam outra vez recriadas - um processo constante de renovação da vida e das formas no contínuo sonho cósmico de Deus.

Assim, o Verbo ou a Vibração Cósmica é a origem de "todas as coisas": "sem Ele nada do que foi feito se fez". O Verbo existiu desde os primórdios da criação - foi a primeira manifestação de Deus quando originou o universo. "O Verbo estava com Deus" - estava impregnado da inteligência refletida de Deus, a Consciência Crística; "e o Verbo era Deus" - vibrações de Seu próprio e único Ser.

As declarações de São João fazem eco a uma verdade eterna que ressoa em várias passagens dos antigos Vedas: que o Verbo cósmico vibratório (Vak) estava com Deus, o Pai-Criador (Prajapati), no princípio da criação, quando nada mais existia; e que, por intermédio de Vak, foram feitas todas as coisas; e que Vak é o próprio Brahman (Deus). 

"Isto diz o Amém [o Verbo Om], a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus." (Nota: Apocalipse 3:14. O Aum [Om] dos Vedas tornou-se a palavra sagrada Hum dos tibetanos. O Amim dos mulçumanos e o Amém dos egípcios, gregos, romanos, judeus e cristãos. O significado de Amém em hebraico é "seguro, fiel". O sagrado Som Cósmico de Om ou Amém é a testemunha da Presença Divina manifestada em toda a criação.


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