"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, agosto 12, 2009

O ensinamento que desfaz o “É preciso ser assim” - 01

Masaharu Taniguchi


Obs: As palestras realizadas em Morioka, Tóquio e Nanao, eu as proferi de improviso, sem texto prévio, com duração em torno de duas horas cada. Como o assunto-tema foi semelhante, com ligeiras modificações para adaptar o teor da palestra ao público de cada cidade, seria repetitivo transcrever cada uma das três palestras. Por esse motivo, resolvi produzir aqui um sumário das palestras, sintetizando os pontos essenciais abordados em cada lugar.


O que é a Seicho-no-Ie?

Eu sou Masaharu Taniguchi, da Seicho-no-Ie, conforme fui apresentado. Neste auditório estão presentes muitos adeptos, mas parece haver também muitas pessoas que ainda não o são. Portanto, se eu fizer uma longa introdução sobre a Seicho-no-Ie, em geral já de conhecimento dos adeptos, estes sentir-se-ão entediados, mas, por outro lado, se eu discorrer valendo-me apenas de terminologia específica, pode ser que os adeptos apreciem bastante, mas receio que as pessoas que a ouvem pela primeira vez considerem-na de difícil compreensão. Então, pretendo proferir esta palestra de modo que não seja repetitivo para quem vem lendo mensalmente a revista Seicho-no-Ie e, ao mesmo tempo, permita aos não-adeptos terem uma idéia do que seja a Seicho-no-Ie.

A Seicho-no-Ie pode ser chamada de religião. Porém, não se trata de uma religião com inclinação para uma doutrina ou para uma seita. As religiões até agora, de maneira geral, inclinam-se para uma ou para outra doutrina: os adeptos do cristianismo dizem que só há salvação através do cristianismo; os do budismo sustentam que só há salvação através do budismo, e muitas vezes acontece de, dentro do próprio budismo, a seita do “nenbutsu” (seita que prega a salvação pela repetição do nome de Buda) e a seita da “salvação por força própria” ficarem se insultando mutuamente; por sua vez, os seguidores da seita “Tenri” dizem que só há salvação através desta seita; os da instituição religiosa “Hitonomichi” (Caminho da Humanidade) dizem que só poderá haver salvação pela “Hitonomichi”; e, mesmo dentro de uma mesma família, quando os seus membros seguem diferentes seitas das várias religiões, estes, justamente por seguirem uma religião brigam entre si, o que constitui um fenômeno estranho.


A missão originária da religião

Acredito que a missão originária da religião deva ser a de reconciliar os homens entre si. Mas, se as religiões, em vez de desempenharem a função reconciliadora, acabam fazendo com que os homens briguem entre si, é porque estão teimando num ensinamento e não conseguem ver a virtude dos outros ensinamentos. Porque acham que só suas próprias pregações são boas, insistem nelas, não conseguem ver a virtude das demais e vêem-se forçadas a brigar entre si.

Dizem que a religião salva, mas o que significa “salvar”? Não é ser levado para um lugar onde há provisão material completa chamado “Céu”, nem ser transportado para um ambiente repleto de bons ornamentos, chamado “Paraíso”. É recuperar a “liberdade infinita” inata ao homem. A “liberdade” é apenas uma palavra moderna, mas em linguagem búdica, que vem desde a Antiguidade, seria “guedatsu” (emancipação). O oposto de “guedatsu” é chamado “impedimento”, “obstinação” ou “apego”, e refere-se ao ato de fanatizar-se, prender-se a alguma coisa e tornar-se aprisionado por ela. Quando se fanatiza e se prende a algo, a pessoa já deixa de ser livre, entra em conflito com tudo que a cerca e nada se resolve com facilidade. Alcançado o “guedatsu” (emancipação), isto é, desfazendo a obstinação, a “Vida” dessa pessoa se torna verdadeiramente livre; e essa verdadeira libertação da “Vida” contida no próprio homem chama-se salvação.

Ainda que uma pessoa seja colocada dentro de um palácio luxuoso denominado Céu ou Paraíso, se na Vida dessa pessoa houver algum aprisionamento, por mais que o ambiente seja ótimo, ela sofre afobando-se e irritando-se; em última análise, não está salva.

E, como o fundador de cada religião elaborou sua respectiva doutrina com o intuito de dar liberdade a essa “Vida” do homem, qualquer que seja a religião à qual a pessoa se filie, se essa pessoa se aprofundar em sua essência, conquistará a “liberdade da Vida” – isto é, será realmente salva. Porém, acontece que, surgindo uma, duas, várias pessoas que vão se salvando por meio dessa religião, na maioria dos casos tende a nascer um preconceito de que, se não for através dessa religião, não poderá ser salvo; que, por intermédio de outra religião, não se salvará. Por exemplo, enquanto os cristãos apregoam veementemente que “se não for pelo cristianismo não haverá salvação”, frequentemente seus vizinhos monges budistas, trajando túnicas (kessa), replicam: “Se não for pelo budismo, o homem não será salvo”. Nessas ocasiões, se perguntarmos ao pregador do cristianismo que está falando mal do budismo “Até que ponto você estudou sobre o budismo?”, ele ficará embaraçado e não conseguirá responder.


As seitas são os portais para se entrar na “casa”

“Salvação” significa conquista da liberdade que é inata ao homem. Por isso, muitos fundadores virtuosos e de visão avançada abriram as portas para o homem conquistar a liberdade da Vida nele inata, de acordo com a época e com o povo. É uma tendência natural do homem querer convidar os outros para entrarem pela porta através da qual ele atingiu a salvação. Mas não devemos criticar ou depreciar outras portas pelas quais nunca passamos, pensando que a única porta para a conquista da “salvação” é a que nós atravessamos e que não há outras.

Bem, e qual é a posição da Seicho-no-Ie em relação às várias seitas e religiões? Seicho-no-Ie diz “Ie” (casa) e não se diz “seita tal”, nem usa o sufixo “ismo”; não se trata de “mais uma” seita para se opor às demais. Quando se trata de “porta”, é preciso sair por uma para entrar por outra, o que ocorre inevitavelmente com as “portas” (religiões) que se colocam em posição relativa, e é por esse motivo que há rejeição a outras “portas”. Mas a Seicho-no-Ie não é “porta religiosa”; consequentemente, não diz para sair por uma porta e entrar por esta. Como a Seicho-no-Ie é “casa”, qualquer que seja a porta pela qual a pessoa entre, não há inconveniente algum. Tenha a bondade de adentrar-se para o interior da sua religião; lá, bem no fundo, você encontrará um salão bastante amplo – é esse salão interior que se chama Seicho-no-Ie – e a ele pode-se chegar, não importa qual seja a porta pela qual entrou. Se você penetrar até a profundeza de sua doutrina, infalivelmente chegará ali; sendo esse salão uma ampla área de total desprendimento e de verdadeira liberdade, nele já não há mais lugar para conflitos religiosos. Um estado em que todas as pessoas procedentes das mais diversas seitas conseguem viver amistosamente, dando-se as mãos, como membros de uma única família – isto é “Seicho-no-Ie”. Portanto, se de um lado a Seicho-no-Ie promove a reconciliação entre os homens, de outro lado tem também a função de reconciliar as religiões entre si.


A que se propõe a Seicho-no-Ie?

Talvez surpreenda o leitor o fato de haver uma religião tão liberal, mas eu não sei se a Seicho-no-Ie deve denominar-se religião, modo de vida, filosofia, movimento de divulgação do Pensamento Iluminador ou movimento de doutrinação. Bem, podem lhe dar o nome que quiserem. Só que nas religiões até agora existentes, a doutrina e a vida prática caminham totalmente desvinculadas entre si: a doutrina é uma coisa, e o cotidiano prático é outra, sendo tão independentes, de modo que há pessoas que seguem uma religião mas que têm a família desagregada ou constantemente eivada de desgraças e doenças, resultando daí que a religião seja salvação apenas espiritual, sem ter relação alguma co a vida prática. Mas, na Seicho-no-Ie, a doutrina em si já representa a salvação ao nível cotidiano; assim, ouvindo os ensinamentos, cura-se a doença, lendo-os, acabam-se a pobreza, as brigas conjugais, etc.


Reconciliação das seitas “Tenri” e “Shin”

Deixemos por aqui a explanação das virtudes, e passemos para um exemplo real, pois se eu não lhe contar um fato verídico, não acreditarão em mim. No dia 4 de janeiro deste ano, vieram de certa província um professor de curso secundário e sua esposa, em visita de agradecimento à Seicho-no-Ie. As religiões do casal não coincidem: o marido é seguidor da seita Tenri, e a esposa é budista e segue a seita Shin. Quando dentro da mesma família há conflitos espirituais provenientes de divergência de crenças, isto se torna a causa da doença. Durante um período, essa senhora foi vítima de tuberculose. Consultando o médico, este prescreveu: “Esta doença requer uns dois anos de tratamento no litoral”. “Então, se eu me tratar dois anos no litoral, ficarei infalivelmente curada?” – perguntou ela, com seriedade, ao que o médico respondeu: “Bem, eu não posso garantir a cura”. Em outras palavras, ele não sabia se curaria ou não, mas o único tratamento que recomendava era passar uns dois anos no litoral.

Parece tratar-se de um médico inseguro, mas a verdade é que, se fosse o médico que curasse a doença, ele poderia assegurar que curaria infalivelmente; mas, como é a Natureza que a cura, não se pode saber que rumo ela tomará. E a referida senhora, pensando que não adiantaria seguir o conselho do médico já que não tinha certeza de cura, consultou o marido e, foi procurar um professor da seita Tenri, da qual o marido era adepto. Esse professor aconselhou: “Faça o kokoro sadame (decisão)”. Como eu não conheço profundamente a seita Tenri, perguntei a ela: “O que é korodo sadame?, e ela reproduziu o que o professor lhe disse: “Dê o patrimônio, dinheiro, tudo a Deus”. (o auditório ri) Se fosse um professor qualquer, talvez mandasse vender o terreno, a casa e até os móveis para oferecer a Deus, mas esse professor parece ser um profundo conhecedor da Verdade, e não chegou a falar nesses termos. A pessoa oferece tudo a Deus, mas continua possuindo o que ofereceu. Essa senhora ofereceu até o marido a Deus – não estou dizendo que ela embrulhou o marido em papel de presente e levou-o até a sede da seita Tenri; formalmente, ele continua sendo o seu marido, e continua morando em sua casa. Entregou o marido a Deus, tendo-o dentro de sua casa como dantes. Entregar a Deus, seja o patrimônio, seja o marido, significa jurar para si próprio: “De agora em diante, não considerarei mais nem o patrimônio nem o marido como meus”. Isto constitui o chamado kokoro sadama.

Essa senhora até jurou: “Daqui pra frente, por mais que o marido cometa libertinagem, jamais me queixarei”. É uma grande decisão essa de considerar tudo como propriedade de Deus, e de confiar tudo à vontade d’Ele, portanto, de não reputar como seu nem o marido nem o patrimônio. Se pensar que é seu nascerá o apego e sua mente ficará presa nele e nascerão a queixa e a insatisfação. Mas se pensar que tudo aquilo não é seu, mas sim do Universo, de Deus, não haverá caprichos, queixas e insatisfações; consequentemente a doença também se curará. E assim, após essa senhora fazer o kokoro sadame, curiosamente a temperatura foi reduzindo um grau por dia; no terceiro dia, voltou à temperatura normal e depois disso a tuberculose foi completamente debelada.

Como se vê, quando a pessoa liberta aquilo que está segurando obstinadamente como seu, a rigidez da mente se desfaz e a doença se cura. Como a doença em última análise é conseqüência da “rigidez da mente”, quando esta é eliminada, a maior parte das doenças é curada. Pois bem, essa senhora tinha decidido que o marido não seria mais dela, mas, continuando a morar juntos na mesma casa, era inevitável que ela recomeçasse a achar que ele era seu. Embora tivesse jurado que não iria se queixar mesmo que o marido cometesse libertinagem, sentia-se triste e desgostosa, quando ele não correspondia aos seus anseios, ou porque não seguia a mesma crença que ela. Devido a tais conflitos espirituais entre os dois, ultimamente ambos estavam doentes: o marido foi submetido a uma cirurgia, mas, como o resultado não foi satisfatório, estava em licença há dois meses; a esposa, por seu turno, aborrecida com isso, fez sua própria doença e estava de cama. Nisso, chegou o livro sagrado da Seicho-no-Ie Seimei no Jisso (A Verdade da Vida) que um conhecido lhes enviou. Coincidentemente, desde o dia em que o livro sagrado chegou, o marido começou a melhorar consideravelmente.

A esposa começou a ler primeiro; e quando ela não lia, o marido lia, e compreenderam que tanto a seita Shin como a Tenri eram originariamente o mesmo ensinamento. Com isso, desfez-se o conflito espiritual entre o casal, e a doença de ambos, que estava demorando a curar-se, desapareceu. Isso ocorreu no fim do ano passado. No dia 28 de dezembro, o marido já estava praticamente recuperado, mas o corte da cirurgia ainda não se cicatrizara. Como a esposa desejava receber o dia de Ano Novo com a saúde totalmente restabelecida, colocou a sua mão sobre o corte do marido, e pediu: “Sei que estou pedindo demais, mas cure este corte em três dias”. Então, no dia 30 esse corte cicatrizou-se totalmente.

Tempos atrás, ela aprendera a chamada “cura pela imposição da mão”, e, assim que ela conheceu o verdadeiro Deus e foi desfeito o conflito mental do seu lar, repentinamente a “cura” manifestou o seu poder. A Seicho-no-Ie não critica a “cura pela imposição da mão”. Há também que estudou essa mesma técnica sem, no entanto, ter conseguido efeito; mas que, ao ler Seimei no Jisso, repentinamente passou a manifestar a capacidade curativa que emana da palma da mão. Como a força que emana da palma da mão não é simples radiação de natureza física, surge diferença no cumprimento da onda ou irradiação, conforme a mente da pessoa; por isso, quando a pessoa tem um conflito espiritual, ou quando admite que a doença existe e nutre sentimento de medo, a força curativa é reduzida. Porém, quando a pessoa adere a uma filosofia do tipo da Seicho-no-Ie, desfaz-se o conflito espiritual entre os membros da família e desaparece o sentimento de medo causado pela idéia de que a doença existe; consequentemente, as pessoas que aprenderam a “cura pela imposição da mão” e não conseguiram resultado ao aplicá-la, passam a conseguí-lo.

continua...

(Do livro 'A Verdade da Vida', vol. 5 -- págs. 123 à 132)



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