Há uma metáfora na literatura budista comumente empregada para descrever todo o processo, criação e desenvolvimento do ego. Refere-se a um macaco encerrado numa casa vazia, uma casa de cinco janelas, que representam os cinco sentidos. O macaco é curioso, vive enfiando a cabeça pelas cinco janelas e pulando para cima e para baixo, sem parar. É um macaco cativo numa casa vazia. Uma casa sólida, diferente da mata em que ele costumava saltar e balançar-se, diferente das árvores em que escutava o vento que se movia e o farfalhar das folhas e dos galhos. Todas essas coisas se tornaram completamente solidificadas. De fato, a própria mata passou a ser a sua casa sólida, a sua prisão. Em lugar de encarapitar-se numa árvore, o macaco curioso foi emparedado por um mundo sólido, como se uma coisa que flui, uma impressionante catarata, se houvesse de repente, congelado. A casa congelada, feita de cores e energias congeladas, está completamente imóvel. Esse parece ser o ponto em que o tempo começa como passado, futuro e presente. O fluxo das coisas torna-se tempo tangível sólido, sólida idéia de tempo.
O macaco curioso desperta de seu desmaio, mas não desperta completamente. Desperta para encontrar-se preso no interior de uma casa sólida, claustrofóbica, de apenas cinco janelas. Ele se aborrece, como se vivesse cativo num jardim zoológico por trás de barras de ferro, e procura explorar as barras, subindo e descendo por elas. O fato de haver sido capturado não tem muita importância; mas a idéia de captura é aumentada mil vezes em virtude do seu fascínio por ela. Quando estamos fascinados, o sentido da claustrofobia torna-se mais vívido, mais e mais agudo, porque começamos a explorar nosso aprisionamento. A fascinação, na verdade, é parte da razão porque ele permanece prisioneiro, capturado por ela.
No princípio, evidentemente, houve um súbito desmaio, que lhe confirmou a crença num mundo sólido. Mas agora, tendo aceitado a solidez como verdadeira, está preso na armadilha devido ao seu envolvimento nela.
É claro que o macaco não investiga o tempo todo. Começa a ficar agitado, começa a sentir que algo é muito repetitivo e desinteressante e torna-se neurótico. Ávido de entretenimento, busca sentir e apreciar a textura da parede, tentando certificar-se de que a aparente solidez é realmente sólida. A seguir, certo de que o espaço é sólido, o macaco passa a se relacionar com ele, agarrando-o, repelindo-o ou ignorando-o. Se tenta agarrar o espaço a fim de possuí-lo como sua própria experiência, sua própria descoberta, sua própria compreensão, isso é desejo. Ou, se o espaço lhe parece uma prisão, e ele tenta sair dela a murros e pontapés, lutando com vigor cada vez maior, isso é ódio. O ódio não é somente a mentalidade da destruição; mais do que isso, é uma sensação de defesa, de defesa de si mesmo contra a claustrofobia. O macaco não sente necessariamente que há um adversário ou inimigo se aproximando; ele simplesmente deseja fugir da prisão.
Finalmente, o macaco pode tentar não tomar conhecimento de que é prisioneiro ou de que existe algo de sedutor em seu ambiente. Age como se fosse surdo e mudo e, portanto, mostra-se indiferente e preguiçoso em relação ao que acontece ao seu redor. Isso é estupidez.
Retrocedendo um pouco, podemos dizer que o macaco nasceu em sua casa ao despertar do desmaio. Não sabe como chegou àquela prisão, por isso presume que sempre esteve lá, esquecido de que ele próprio solidificou o espaço em paredes. Depois, sente a textura das paredes, o que é o Segundo Skandha, Sensação. Depois, relaciona-se com a casa em termos de desejo, ódio e estupidez, o Terceiro Skandha, Percepção-Impulso. Depois, tendo desenvolvido essas três maneiras de relacionar-se com a casa, o macaco se põe a rotulá-la e categorizá-la: “Isto é uma janela. Este canto é agradável. Aquela parede me assusta e é má.” Desenvolve uma estrtura conceitual que lhe permite rotular, categorizar e avaliar a sua casa, o seu mundo, de acordo com o que sente por eles, se os deseja, se os odeia ou se lhes é indiferente. Esse é o Quarto Skandha, Conceito.
O desenvolvimento do macaco até o Quarto Skandha foi razoavelmente lógico e previsível. Mas o padrão de desenvolvimento começa a desagregar quando ele entra no Quinto Skandha, Consciência. O padrão torna-se irregular e imprevisível e o macaco começa a desvairar, a sonhar.
Quando falamos em “desvairo” ou “sonho”, queremos dizer que estamos dando às coisas e aos acontecimentos um valor que eles podem não ter. Possuímos opiniões já definidas sobre o modo como são e deveriam ser as coisas. Isso é projeção: projetamos a nossa versão das coisas sobre o que está ali. Assim, nos afundamos completamente num mundo de nossa própria criação, um mundo de valores e opiniões conflitantes. O desvario, nesse sentido, é uma interpretação errônea das coisas e dos eventos, que empresta ao mundo fenomenal significados que ele não tem.(...)
“Fundamentalmente, só existe o espaço aberto, o solo básico, o que realmente somos”
“ Nós somos esse espaço, nós “somos um” com ele, com a vidya, inteligência e abertura”
“Toda ação sem amor é como plantar uma árvore morta, mas tudo o que se relaciona com o amor é como plantar uma árvore viva”
“o Amor, o caminho aberto, está associado ao ‘que é’”
“Quando uma pessoa manifesta o verdadeiro Amor, não sabe se está sendo generosa para com os outros ou para consigo mesma, porque o Amor é uma generosidade ambiental, sem direção, sem “para mim” e sem “para eles”; é cheia de alegria, de uma alegria que existe espontaneamente, de uma alegria constante no sentido de confiança, no sentido de que a alegria contém uma enorme riqueza, um tesouro”
O macaco curioso desperta de seu desmaio, mas não desperta completamente. Desperta para encontrar-se preso no interior de uma casa sólida, claustrofóbica, de apenas cinco janelas. Ele se aborrece, como se vivesse cativo num jardim zoológico por trás de barras de ferro, e procura explorar as barras, subindo e descendo por elas. O fato de haver sido capturado não tem muita importância; mas a idéia de captura é aumentada mil vezes em virtude do seu fascínio por ela. Quando estamos fascinados, o sentido da claustrofobia torna-se mais vívido, mais e mais agudo, porque começamos a explorar nosso aprisionamento. A fascinação, na verdade, é parte da razão porque ele permanece prisioneiro, capturado por ela.
No princípio, evidentemente, houve um súbito desmaio, que lhe confirmou a crença num mundo sólido. Mas agora, tendo aceitado a solidez como verdadeira, está preso na armadilha devido ao seu envolvimento nela.
É claro que o macaco não investiga o tempo todo. Começa a ficar agitado, começa a sentir que algo é muito repetitivo e desinteressante e torna-se neurótico. Ávido de entretenimento, busca sentir e apreciar a textura da parede, tentando certificar-se de que a aparente solidez é realmente sólida. A seguir, certo de que o espaço é sólido, o macaco passa a se relacionar com ele, agarrando-o, repelindo-o ou ignorando-o. Se tenta agarrar o espaço a fim de possuí-lo como sua própria experiência, sua própria descoberta, sua própria compreensão, isso é desejo. Ou, se o espaço lhe parece uma prisão, e ele tenta sair dela a murros e pontapés, lutando com vigor cada vez maior, isso é ódio. O ódio não é somente a mentalidade da destruição; mais do que isso, é uma sensação de defesa, de defesa de si mesmo contra a claustrofobia. O macaco não sente necessariamente que há um adversário ou inimigo se aproximando; ele simplesmente deseja fugir da prisão.
Finalmente, o macaco pode tentar não tomar conhecimento de que é prisioneiro ou de que existe algo de sedutor em seu ambiente. Age como se fosse surdo e mudo e, portanto, mostra-se indiferente e preguiçoso em relação ao que acontece ao seu redor. Isso é estupidez.
Retrocedendo um pouco, podemos dizer que o macaco nasceu em sua casa ao despertar do desmaio. Não sabe como chegou àquela prisão, por isso presume que sempre esteve lá, esquecido de que ele próprio solidificou o espaço em paredes. Depois, sente a textura das paredes, o que é o Segundo Skandha, Sensação. Depois, relaciona-se com a casa em termos de desejo, ódio e estupidez, o Terceiro Skandha, Percepção-Impulso. Depois, tendo desenvolvido essas três maneiras de relacionar-se com a casa, o macaco se põe a rotulá-la e categorizá-la: “Isto é uma janela. Este canto é agradável. Aquela parede me assusta e é má.” Desenvolve uma estrtura conceitual que lhe permite rotular, categorizar e avaliar a sua casa, o seu mundo, de acordo com o que sente por eles, se os deseja, se os odeia ou se lhes é indiferente. Esse é o Quarto Skandha, Conceito.
O desenvolvimento do macaco até o Quarto Skandha foi razoavelmente lógico e previsível. Mas o padrão de desenvolvimento começa a desagregar quando ele entra no Quinto Skandha, Consciência. O padrão torna-se irregular e imprevisível e o macaco começa a desvairar, a sonhar.
Quando falamos em “desvairo” ou “sonho”, queremos dizer que estamos dando às coisas e aos acontecimentos um valor que eles podem não ter. Possuímos opiniões já definidas sobre o modo como são e deveriam ser as coisas. Isso é projeção: projetamos a nossa versão das coisas sobre o que está ali. Assim, nos afundamos completamente num mundo de nossa própria criação, um mundo de valores e opiniões conflitantes. O desvario, nesse sentido, é uma interpretação errônea das coisas e dos eventos, que empresta ao mundo fenomenal significados que ele não tem.(...)
“Fundamentalmente, só existe o espaço aberto, o solo básico, o que realmente somos”
“ Nós somos esse espaço, nós “somos um” com ele, com a vidya, inteligência e abertura”
“Toda ação sem amor é como plantar uma árvore morta, mas tudo o que se relaciona com o amor é como plantar uma árvore viva”
“o Amor, o caminho aberto, está associado ao ‘que é’”
“Quando uma pessoa manifesta o verdadeiro Amor, não sabe se está sendo generosa para com os outros ou para consigo mesma, porque o Amor é uma generosidade ambiental, sem direção, sem “para mim” e sem “para eles”; é cheia de alegria, de uma alegria que existe espontaneamente, de uma alegria constante no sentido de confiança, no sentido de que a alegria contém uma enorme riqueza, um tesouro”
*Obs: SKANDHA (sânsc.; pāli KHANDA) - agregados que constituem a realidade; forma, sensação, percepção, vontade e consciência.
*Créditos e agradecimentos ao meu amigo Raphael Bacelar.
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