- Joel S. Goldsmith -
O Novo Ano espiritual
Se o início de um ano novo é encarado apenas como o começo de um calendário, não tem qualquer significado e nem suscita qualquer esperança ou boa expectativa, para mim para você ou qualquer outra pessoa. Nesta época sempre se trocam as tradicionais saudações de "Feliz Ano Novo".
Todavia, por bons que sejam os desejos que damos e recebemos, eles não tem o poder de atrair felicidade, paz, harmonia, prosperidade ou vida nova, naquele ano que começa.
No dia de ano novo os jornais vêm cheios de predições para a ano vindouro: horóscopos, estatísticas, opiniões de homens públicos, na tentativa de predizer o que acontecerá. Sabemos que tais prognósticos são muito pessoais e, por isso, cada um chega a conclusões diferentes.
Seria interessante reler as predições feitas no ano anterior para ver quão pouco dessas previsões aconteceram. As predições e desejos não têm poder para trazer qualquer coisa nova à nossa experiência. Não queremos com isto, desanimar vocês. Ao contrário, desejamos encorajá-los, mostrando-lhes que as predições não tem qualquer influência em seu novo ano individual. Queremos que saibam que os resultados do ano vão depender do modo como vocês vão encarar e agir, por vocês mesmos. Vocês é que vão determinar o que será o novo ano!
O Poder de um Indivíduo
Cada pessoa tem uma influência tremenda, não apenas sobre a sua própria vida, como sobre a vida dos que lhe são próximos e queridos. Mais ainda: cada pessoa tem a possibilidade de influenciar o mundo Inteiro. De fato, o curso da história muitas vezes tem sido alterado por uma pessoa.
A eleição de 1960 nos Estados Unidos é um bom exemplo do grande poder que um indivíduo pode exercer. Uns poucos votos mudaram os resultados em alguns Estados e, menos de um por cento determinou o resultado da Nação inteira. Não pensemos, pois, que temos pouco poder para mudar o curso da história de uma nação ou do mundo. Um voto ou uma dúzia de votos pode mudar o curso dos acontecimentos. Não precisamos citar os exemplos mais expressivos, de homens como Moisés, Buda Lao-Tsé, Jesus – para mostrar a enorme influência que exerceram em seu tempo e sobre a posteridade. Ninguém pode prever como, num único ano, uma pessoa ou um grupo de pessoas pode provocar mudanças expressivas num país ou no mundo. Seja qual for a transformação provocada, ela começa com o indivíduo e depois se amplia, afetando a experiência dos outros. Portanto, comecemos individualmente, com você ou comigo. Saibamos que o Novo Ano não tem, em si mesmo, qualquer poder para ser diferente do ano anterior. Em outras palavras, neste ano que começa, à semelhança de todos os anos anteriores, alguns virão a ser mais sadios; outros adoecerão; alguns prosperarão; outros empobrecerão. Terá bênçãos e problemas, mas estes não poderão perturbar igualmente todas as pessoas, nem todas as cidades nem todas as comunidades.
A Consciência é o Segredo
Qual a causa de o novo ano ser diferente para cada pessoa? A resposta, como sempre, pode ser encontrada numa só palavra: "CONSCIÊNCIA". Em nossa natureza, cada qual atinge um estado ou grau de consciência. Seja qual for a nossa experiência externa, ela é sempre determinada por nosso estado de consciência. A palavra "consciência" encerra, portanto, o inteiro segredo da vida individual e coletiva; o segredo da harmonia ou da discórdia.
Em nossos tempos de moço temos pouco ou nenhum controle sobre a nossa consciência, devido ao controle e domínio que nossos parentes mais velhos tiveram sobre nós. Eles nos determinaram um padrão em nossa consciência. Na realidade, nesse tempo fomos um prolongamento da consciência deles – de suas atitudes e defeitos. Além disso, alguns nascem cheios de esperança, paz, alegria e segurança, enquanto outros vêem o mundo com dúvidas, medos e ansiedades.
Todos conhecemos crianças que eram realmente bonitas em seus primeiros anos de vida – um reflexo da consciência de seus pais. Mais tarde, quando passaram a exercer a própria consciência, muitas vezes perdem esta beleza, este atrativo que tiveram em criança: tinham nível inferior de consciência em relação aos pais. Mas quando tem o, mesmo nível, conservam a mesma aparência da infância. Por outro lado, ha também "patinhos feios": pessoas que, ao atingir a fase adulta e assumir sua própria consciência individual, bem superior a dos pais, desabrocham em beleza quando se libertam da influência deles.
Complexos de inferioridade e de pobreza são também muitas vezes impingidos às crianças, pelos pais e, somente quando se libertem dessa influência é que podem florescer e expandir-se.
Como crianças, não somos responsáveis, uma vez que sofremos a influência dos adultos. Só quando adquirimos a idade para tomar as próprias decisões e viver as nossas vidas, libertando-nos das influências da infância (as inconvenientes) ou aproveitando-as (as que foram sadias) é que assumimos a consciência individual e a desabrochamos a nosso modo.
A educação, a formação, é necessária, mas devemos depois adquirir um padrão sadio de pensar, revendo as influências que sofremos na infância e recolhendo apenas a que nos seja edificante.
Poucos indivíduos atingem a liberdade interna suficiente para viver suas próprias vidas, ao atingir sua faze adulta. Usualmente, enquanto estão na terra, continuam a viver a vida dos outros, condicionados pelos padrões de sua comunidade, de sua família, de seus amigos. São incapazes de superar tais influências ambientais porque não foram orientadas no sentido de que cada indivíduo é uma consciência individual, com capacidades próprias, características singulares, dirigido por uma Consciência divina interna, para livrar-se de todas as influências externas, ambientais, da época, da propaganda e começar a viver "na liberdade com que Cristo nos libertou".
A nós, que tivemos a ventura de ser dirigidos a um ensinamento metafísico ou espiritual, é dada a oportunidade de "sair dessas influências" para tornar-nos nós mesmos. Já nas primeiras experiências com os ensinamentos espirituais, aprendemos que existimos como consciências e que Deus é a substância primordial, a Essência e a Lei desta consciência nossa. Portanto, podemos e devemos demonstrar a Graça de Deus, em vez de ficarmos restringidos e condicionados pelas influências físicas, mentais, morais ou financeiras sob as quais nascemos. Em verdade vivemos pela Graça de Deus. Podemos ficar acima de tudo o que se passa no mundo. Nosso bem não deve depender das condições externas favoráveis e nem pode ser despojado pelas circunstâncias adversas ou negativas. Devemos ficar acima da consciência das massas e começar a viver as nossas vidas como indivíduos.
Só então é que chegamos ao novo ano. É inútil nutrir a esperança de que os meses vindouros nos tragam algo de novo, simplesmente porque ainda não os vivemos. Nossa grande e única esperança está na transformação da consciência, que nos trará uma mudança interna. Esta melhora de consciência é que pode tornar o ano NOVO, melhor que no passado, mais rico, mais profundo, mais harmonioso e mais saudável. O novo, em nós, suscita o novo, fora: nas circunstâncias e nas pessoas!
- "A carne milita contra o Espírito e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que porventura seja de vosso querer" (Gálatas 5:17).
- "Sois o santuário de Deus. Retirai-vos dos ídolos e não toqueis em cousas impuras, e Eu vos receberei". (II Coríntios 6:16.17).
Reconheça a Presença interna
Concordando com a necessidade de transformação de consciência, para tornar o ANO NOVO melhor em todos os sentidos, cabe-nos determinar: “Qual deve ser esse novo estado de consciência?”.
Nossos estudantes sabem que uma consciência imbuída da Verdade sempre expressará condições harmoniosas em sua vida. Sabem que nossa vida é um reflexo do grau de Verdade imbuída em nossa consciência, isto é, a qualidade da Verdade com que nossa consciência está construída.
Se bem que seja verdade que Deus constitui a nossa consciência e, portanto, já possuamos a plena, completa e perfeita consciência espiritual, devemos compreender que essa perfeição é potencial, disponível, demonstrável. Cabe a cada um de nós revelar aos poucos essa perfeição, por um trabalho individual na Verdade; pelo empenho em nossos deveres, até que a Presença seja realizada em plenitude à nossa consciência.
Sem um contínuo reconhecimento desta Presença Interna, ficamos hipnotizados pela consciência de massa e sujeitos a ela. Ficamos sob a lei de acidente: se coincidir de ser um novo ano progressista, de boa saúde, talvez partilhemos disso. Mas se acontecer um ano economicamente depressivo, de epidemia, também disso partilharemos.
O modo de evitar fazer parte da consciência de massa – esse viver robotizado, movido pelas crenças mundanas – é começar e terminar nosso dia em estado de oração. É manter-nos vigilantes na consciência de nossa real identidade, como filhos de Deus, vivendo uma própria vida e não a vida dos outros, assim como não buscamos que os outros vivam nossa vida. Deus é que deve viver em ou como nós.
“Deus, no meio de mim, é poderoso”. Há uma Presença divina que vai diante de mim “para endireitar os caminhos tortuosos” (Is.45:2). Há um Poder e uma Presença espirituais dentro de mim, que é a lei de ressurreição sobre toda a experiência humana, sobre os meus negócios e meu corpo; sobre minha profissão e minha saúde. Há uma influência espiritual que restaura até mesmo “os anos perdidos do gafanhoto”.
Devemos aprender a conscientizar a Presença divina em nós, muitas vezes ao dia – até que se torne uma constante. É isto que nos sobreleva a consciência da massa e nos capacita a viver sob a orientação de Deus, pela Graça. A Lei, a substância, o poder de Deus nos suprem, quando O reconhecemos em todos os nossos caminhos e conservamos nossas mentes focadas nEle. Só isto nos separa da influência da massa e salva-nos da experiência coletiva, capacitando-nos a ser uma Lei em nós mesmos.
Portanto, Sede Vós Perfeitos
Vimos a ser uma Lei sobre nós mesmos a partir do momento em que conscientizamos Deus em nosso íntimo e aceitamos que Ele nos dirija; do momento em que reconhecemos nosso relacionamento como Filhos e Herdeiros dEle, em usufruto de todas as riquezas celestiais. Só pela consciente e compreensiva aceitação desta Verdade é que nos colocamos sob a Lei de Deus. Estamos sob às leis da humanidade, sob a Lei do Karma, sob a Lei de Causa e Efeito. Todas as leis que operam sobre a consciência humana, produzem seus efeitos sobre nós, individualmente, enquanto não atingirmos a realização espiritual e não demonstrarmos a plenitude da harmonia pela Graça.
O mandamento é: “Portanto, sede vós perfeitos como é perfeito a vosso Pai celestial”. Elevando-nos gradualmente à perfeição é que nos separamos das leis e crenças que governam o mundo. Não há meio de um ser humano chegar a ser perfeito enquanto não reconhecer a perfeição potencial de Deus em seu íntimo, como possibilidade de alçar-se de “gloria em glória”, sob a orientação divina, sob Seu Reino e Sua Lei. Só podemos ser perfeitos pela realização da perfeição divina que já está em nós. Este reconhecimento é importante para estímulo e esforço consciente de superação da influencia de massa.
Como dissemos, esta perfeição não se ganha num instante. Devemos começar no ponto em que nós estamos, sem reclamar essa perfeição a nós mesmos, mas “esquecendo-nos das coisas que ficam para trás” e conscientizando que “Eu e o meu Pai somos Um”. Esta unidade governa nossa vida com harmonia. É uma benção, mesmo na pequena medida inicial de nossa capacidade. Ninguém, neste momento, está exprimindo a plenitude de Deus. Mas podemos regozijar-nos se, em alguma medida, já podemos demonstrar a capacidade de separar-nos da consciência de massa; se, em alguma proporção podemos apartar-nos dos erros, doenças e limitações a que estaríamos sujeitos num viver comum.
Não caiamos no mesmo erro de alguns estudantes metafísicos que desanimaram e desistiram do esforço, por não haverem demonstrado harmonia e liberdade interior completas. Ao contrário, alegremo-nos a cada pequeno avanço neste sentido, em nossa experiência, pois é prova de que estamos nos aproximando da mais alta realização, que será seguramente alcançada, se persistirmos neste caminho.
De nada nos vale saber, ler, pensar, que a sintonia com o Divino interno é benéfico. É preciso praticar! É indispensável buscar essa sintonia, para conquistá-la aos poucos. Se não a buscamos, quando a realizaremos?
Nossa vida, neste ano, pode ficar sob a orientação e governo amorosos de Deus, na medida em que aceitarmos e praticarmos esta verdade e nela persistirmos. Não há meio de a Lei ou a Verdade espiritual tocar-nos com a Graça, se não as aceitamos e não as buscamos conscientemente. Depende só de nós: é algo intransferível; ninguém pode fazer por nós, por mais que nos ame e por mais estreitos que sejam os laços que nos unam.
Lembremos: mesmo depois de três anos de íntimo convívio com o Mestre, Judas O traiu; os demais discípulos (com exceção de João) O abandonaram, quando Ele mais precisava deles. Isso mostra do quão convictos devemos estar da Verdade, para abraçá-la e demonstrá-la em todas as circunstâncias.
Passos no Desenvolvimento da Consciência Espiritual
Quando o estudante deste caminho se põe sob a orientação de um Instrutor, é-lhe ensinado que o primeiro e importante passo que deve dar, é o do RECONHECIMENTO CONSCIENTE do governo de Deus; é submeter-se, sincera e voluntariamente à orientação do Divino interno, como Sua Lei e Substância. Deve praticar diariamente a conscientização da Presença interna, recordando-se constantemente dela como inspiração e ajuda; como poder que supera qualquer problema ou desafio na vida exterior.
Com esta prática ele chegará à firme convicção do que disse o Mestre: "Eu venci o mundo". Que desejou o Mestre significar com isto? Que havia alcançado um alto nível de consciência, onde não mais podia ser afetado pela consciência de massa, ou leis mentais e materiais. O comportamento dos governos, a segurança do mundo, o clima, as flutuações econômicas, os alimentos, as crenças reinantes, os eventos todos – nada disso já o podia afetar. Ele havia atingido tal alto nível de consciência que lá só podiam funcionar as leis espirituais.
Os primeiros passos para o alcance desse elevado estado de consciência são:
a) o reconhecimento da Presença interna;
b) o reconhecimento de que esse Espírito interno é o único poder, a única Lei e a única Realidade.
Desde manhã, através do dia, até à noite, somos bombardeados pelas crenças mundanas em poderes materiais, mentais e legais. Devemos estar alertas para não nos deixarmos afetar por elas. Cada um de nós deve conquistar algum grau de reconhecimento de que o único poder real é o espiritual: a Lei, a Vida espiritual, onipresente. As leis materiais e mentais não têm poder – a não ser o poder que lhes damos quando nelas acreditamos. Eis a Verdade que liberta os homens das restrições deste mundo. Este é o principio básico; a serena e firme convicção de que devemos chegar: o poder espiritual é a única realidade!
Deste modo podemos começar a compreender, ainda que em pequena medida, o que disse o Mestre: "levanta-te, toma o teu leito e anda!", "Estende a tua mão!" Jesus quis dizer: Qual o poder que pode existir fora de Deus? Há outro poder que não seja Deus? O erro será um poder? Ou a doença? Ou o dinheiro? Será que existe realmente um poder fora de Deus e de seu amoroso governo? Gradual e seguramente também chegaremos àquele ponto em que podemos dizer: "Levanta-te, toma o teu leito e anda!" – porque aquilo que reconhecíamos como poder ou limitação, fora de nós (em virtude de nossas crenças em dois poderes: o bem e o mal) – já não representam poder e nem limitação para nós. Enquanto aceitamos dois poderes, ficamos sujeitos a eles. Logo, o primeiro passo de realização que devemos fortalecer, é de que há somente uma Presença e um Poder internos, que governam nossa vida e circunstanciais. E esse poder é espiritual. Essa Lei é espiritual. Essa atividade é espiritual. Tudo o mais é desprovido de poder, de presença, de continuidade, de causa e de efeito – porque não tem lei que o sustente. A única Lei é Deus e Deus é amor!
Assim, o Ano Novo é modelado por aquilo que realizamos em nosso íntimo. É verdade que ainda continuamos com nossas atividades, atendendo aos nossos deveres no mundo, cuidando de nossos negócios ou de nossa profissão - seja ela qual for – mas agora de forma diferente: governados pela Consciência crística interna.