- Núcleo -
Para início desse estudo vamos à questão das terminologias utilizadas.
Para isso remeto os leitores deste post à leitura do que foi exposto na série “Preleções Nucleares – A Unidade Essencial”, publicada no blog Templo dos Iluminados, em especial ao início da explanação sobre a tabela sinótica com o esquema de duas colunas, no qual na coluna Um, no item 4, está o termo “Consciência” enquanto que na coluna dois, está no item 4 o termo “mente”. Acessem:
http://busca-espiritual.blogspot.com.br/2013/06/prelecoes-nucleares-unidade-essencial-23.html
Para se ter uma ideia da importância de se distinguir a terminologia usada pelos vários autores de ensinamentos espirituais, notem que Joel Goldsmith no Capítulo V do seu livro “O caminho infinito”, cujo título é A Alma, de início a define como sendo a Realidade do Ser. Contudo, ao longo do livro o termo “mente” é utilizado tanto para se referir à “Mente” de Cristo como à “mente” humana.
Para evitar ambiguidade no Núcleo usamos o termo “Consciência” para nos referir à “Mente de Cristo” e o termo “mente” para nos referir à “mente humana”.
Assim, há dois referenciais pelos quais podemos perceber algo: pela mente ou pela Consciência. Joel Goldsmith utiliza o termo “consciência material” quando se refere à percepção pela mente; por vezes usa também o termo “sentido material”, “sentidos finitos” etc., e usa o termo “consciência espiritual” quando se refere à percepção com os sentidos da Alma.
Se por um lado podemos perceber algo pela mente ou pela Consciência, aquilo que vemos como sendo a realidade que surge diante de nós é completamente diferente! Isto porque o que percebemos com a mente é a realidade aparente… Mas o que vemos com a Consciência é real. Essa diferença se torna perceptível e evidente quando vemos com a Consciência! A essencial e maior diferença entre estas visões é que apenas na visão da Consciência torna-se evidente que não há nada além de Si mesma; não há nada além da própria Consciência, pela qual fica evidente que tudo é expressão da própria Consciência de um Ser Único e Real.
Por isso a terminologia usada no Núcleo usa as expressões “Consciência do Ser” e “mente do personagem” para deixar ainda mais evidente que a única percepção que apreende o Real é a percepção da Consciência, a “percepção consciencial”.
Assim a percepção mental vela nossa real identidade forjando uma identidade aparente [a de um personagem], enquanto a percepção consciencial desvela nossa real identidade.
Não devemos, contudo, descartar a percepção da mente, que é a percepção com a qual, enquanto representando nossos “personagens”, percebemos a realidade deste “mundo” porque há uma beleza incomensurável neste nosso mundo quando percebemos o que ele realmente é: Uma expressão magnificente da Glória de Deus! E ao mesmo tempo percebemos que é Deus mesmo em nós Quem nos faz conscientes dessa Sua Glória! Perceber “Quem faz” é em si algo glorioso! Esse é o ponto central que quase sempre não é notado com a devida atenção pelos seguidores de qualquer ensinamento espiritual, ou seja, o fato de que só é possível ver a Glória de Deus através de Sua própria visão!
Foi isso o que Jesus ressaltou quando Simão Pedro o reconheceu como Filho de Deus.
Vejam esta passagem:
“E, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ao que Jesus lhe afirmou: “Abençoado és tu, Simão, filho de Jonas! Pois isso não foi revelado a ti por carne ou sangue, mas pelo meu Pai que está nos céus.” (Mateus 16)
No budismo se diria: Somente Buda vê Buda.
Masaharu Taniguchi escreveu: “O mundo da Imagem Verdadeira criado por Deus [mundo da Consciência do Ser] é perfeito e harmonioso, não existindo qualquer mal. Esse mundo existe aqui, neste momento, mas os cinco sentidos carnais não conseguem percebê-lo. Somente a pessoa que desperta aquilo que poderíamos chamar de percepção da Imagem Verdadeira [percepção do Eu Verdadeiro ou percepção da Consciência do Ser] é que consegue ver mentalmente esse mundo perfeito.” [Leia-se “mentalmente” através da visão da “Mente” do “Eu Verdadeiro”. Segundo a terminologia usado no Núcleo diz-se “consciencialmente”]. [Do livro: “Imagem Verdadeira e Fenômeno”, página 53 – SNI]
Independente da terminologia utilizada importa o fato de que podemos apreender o universo que se apresenta a nós com nossa visão ou percepção mental ou com nossa visão ou percepção consciencial. Nosso propósito nesse estudo bíblico é enfocarmos a visão ou percepção consciencial.
O objetivo deste estudo é elucidar que podemos ler a Bíblia do ponto de vista da mente, ou seja, de nossa identidade humana, representada pela segunda coluna na tabela sinótica ou esquema de duas colunas da Unidade Essencial, ou do ponto de vista da Consciência, de nossa identidade divina, que é representada pela primeira coluna. Notamos, entretanto, que a leitura do ponto de vista mental nos dará um enfoque temporal da mensagem divina, ou seja, uma visão de que as coisas acontecem apenas como a mente concebe a realidade, numa percepção de passado/presente/futuro. Por outro lado, a leitura “consciencial” da mesma mensagem divina nos possibilita uma visão “atemporal”, na qual tudo existe num “eterno presente” e, assim, percebemos que a Bíblia é realmente uma revelação divina, algo que nos desperta e nos faz imediatamente conscientes de que Deus é a essência do nosso próprio Ser, e que de fato “vivemos, nos movemos e temos nossa existência em Deus.” (Atos 17:28).
O objetivo deste estudo é enfocar esta percepção.
Então, muitas passagens bíblicas que não têm sentido do ponto de vista mental, passam a ser percebidas como revelações essenciais sobre a natureza da realidade do Ser Real, de Quem realmente somos quando nos identificamos não do ponto de vista da mente, mas sim, da Consciência. Em João 8:56, Jesus relata uma “percepção consciencial” de Abraão. Sobre este relato os judeus perguntaram a Jesus: "Ainda não tem cinqüenta anos e viste Abraão?". Perguntaram isto porque Jesus não poderia ter conhecido Abraão, que viveu centenas de anos antes de todos eles, fato que do ponto de vista mental era algo lógico e evidente para todos os presentes naquele encontro, menos para Jesus, que, mesmo sabendo que todos ali o percebiam apenas mentalmente, não retirou o que disse e declarou: “Antes que Abraão existisse Eu Sou”. Esta declaração de Jesus sobre sua real identidade é essencial para o nosso estudo, por ser uma revelação consciencial. Ela significa não apenas que Jesus tem a percepção de sua real identidade real como Cristo, o Filho de Deus, a qual por ser atemporal existe antes do dia do encontro com os judeus, registrado nesta passagem, como significa, também, que existe antes do próprio Abraão. As mentes daqueles personagens todos, os judeus, não conseguiram assimilar a verdade revelada por Jesus. Isto os irritou bastante, e diz a Escritura que eles pegaram em pedras para apedrejá-lo, mas que Jesus se ocultou e retirou-se do templo.
O que importa para nós neste estudo não é condenar os judeus por sua revolta contra Jesus, mas sim, observar que eles agiram mentalmente e, então, não conseguiram assimilar a verdade declarada por Jesus; e, que não devemos proceder da mesma forma. Mas, o ponto mais importante desta passagem está em percebermos que a revelação de Jesus é consciencial. Ela diz respeito à identidade do Cristo, que é atemporal, ou seja, não está limitado à existência no tempo de Jesus, no tempo de Abraão ou mesmo antes de Abraão. Ela não pode ser percebida da forma como a mente concebe a realidade, como algo cindido em passado, presente e futuro. É a realidade eternamente presente.
Cristo declarou EU SOU e, portanto, ele continua sendo real e presente AGORA! No entanto, isto só é possível ser percebido consciencialmente. Jesus é o exemplo perfeito do ponto de vista da mente, que vê a representação divina e muitos personagens, de um personagem divino consciente de Quem ele é. Como personagem Ele é o próprio Deus “aparecendo como” no mundo dos personagens, para que todos os que nele crerem, ou seja, todos os que perceberem consciencialmente Quem ele É, sejam “Um” com ele, assim como ele é “Um” com Deus (João 17:22). Esta é uma declaração consciencial, na qual Jesus ora a Deus para que todos percebam o que ele percebe e que sejam o que ele é, para que percebam quem eles também são e que não permaneçam em pecado. Pecar é estar se vendo separado de Deus e, em termos bíblicos, é “pender para a carne”; é “cogitar das coisas da carne”, ou seja, é pender para a mente e permanecer nela. E o maior pecado é negar a existência do Espírito de Deus em nós. Aquele que assim procede “já está julgado”, porque a percepção consciencial está no Espírito, em nossa identidade e natureza divina. Quando a negamos (negar é fazer um julgamento, é estar na percepção mental), nós impossibilitamos que ela se revele e, assim, estamos condenando a nós mesmos a viver percebendo tudo mentalmente, nos isolando da Consciência do Ser em nós, ou seja, nos condenando a não perceber a Onipresença divina, o Espírito Santo, que é perceptível consciencialmente.
Nosso estudo tem o objetivo de nos livrar deste mal, a visão puramente mental da vida. E, então, compreenderemos porque Jesus pediu a Deus, não que nos tirasse do mundo (onde vivem os personagens, que são divinos quando percebidos consciencialmente), mas sim que nos livrasse do mal, desta visão apenas mental que não nos dá uma vida consciente da nossa unidade com Deus. (Jo 17:15)
Para finalizar este nosso estudo, vamos a uma passagem bíblica:
“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.” (1 Jo 3:2)
Apenas quando permitimos que o Espírito de Deus se manifeste em nós, ou seja, quando escolhemos agir conforme a percepção da Consciência do Ser em nós, é que percebemos “Quem” faz, “Quem” está diante de nós e “Quem” realmente somos.
Até então nós estamos na percepção mental, ou seja, estamos alheios à percepção da Consciência. Nós nos mantemos “inconscientes” de Deus e não sabemos o que fazemos.
Por isso Jesus, mesmo estando sendo crucificado, pediu a Deus que perdoasse seus ofensores, porque estava consciente de que eles não sabiam o que estavam fazendo!
A visão consciencial de Jesus muitas vezes surpreendeu e chocou a muitos. Isto fica claro observando a seguinte passagem bíblica:
Novamente, os judeus pegaram pedras para apedrejá-lo e ele lhes perguntou: “Tenho vos mostrado muitas obras boas da parte do Pai, por qual delas querem me apedrejar? Então, lhe responderam os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, tu sendo homem te fazes Deus a ti mesmo”. (Jo 10:33).
Aqui também não devemos condenar os judeus, mas sim perceber que aqueles judeus só estavam percebendo Jesus mentalmente e estavam reagindo mentalmente. No Núcleo dizemos: “O que você prefere? Reagir ao personagem ou interagir com o Ser?” O que acontece é que quando escolhemos “reagir aos personagens” imediata e inadvertidamente nós estamos “agindo mentalmente”, exatamente como aqueles judeus e romanos fizeram!
Para “interagirmos com o Ser” precisamos “ouvir a voz da Consciência do Ser” em nós, e, para isso, precisamos nos dar um tempo, ainda que breve, devemos nos silenciar. Foi o que Jesus ensinou com um ato quando lhe trouxeram a mulher flagrada em adultério, para terem de que o acusar. Então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão… Como insistissem na pergunta Jesus levantou e disse: Quem estiver sem pecado seja o primeiro a atirar pedra…
Está escrito:
"Eles falavam assim para prová-lo e terem alguma coisa de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo, como se não tivesse ouvido. Porque insistiram na pergunta, Ele se levantou e lhes disse: 'Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.' E, novamente, inclinou-se e escrevia na terra.” (João 8: 6-8)
Notamos que Jesus se deu um tempo antes de simplesmente reagir aos personagens… E é o que devemos fazer antes de agirmos impulsivamente, ou seja, reagir ao personagem.
Por fim, quando acusaram Jesus de blasfemar por se dizer Filho de Deus ele se defendeu dizendo que Quem disse que somos todos filhos do Altíssimo foi o próprio Deus e ainda enfatizou que a Escritura não pode falhar! (João 10.34-35)
Contudo, enquanto agimos guiados apenas pela mente estamos inconscientes de nossa relação com Deus. Somente quando passamos a ouvir e a nos guiar pela Consciência é que nos tornamos conscientes de nossa origem e filiação divina. A Bíblia Sagrada diz isto claramente (e como afirma Jesus a escritura não pode falhar) da seguinte forma: “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” (Romanos 8,14).
Eis a finalidade deste estudo bíblico, sermos guiados pelo Espírito de Deus em nós e agirmos conforme nossa real natureza e identidade de verdadeiros Filhos de Deus!
A paz seja com todos!
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