"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 5/11

Masaharu Taniguchi


Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. (Mateus 5:3)

Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos Judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: "Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele". A isto respondeu Jesus: "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." Perguntou-lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, por ventura, voltar ao ventre materno e renascer?" Respondeu Jesus: "Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem pra onde vai; assim é todo aquele nascido do Espírito." Então perguntou-lhe Nicodemos: "Como pode suceder isto?" Disse Jesus: "Tu és mestre em Israel, e não compreende estas cousas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho. Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu, a saber, o filho do homem." (João 3: 1-13)

Jesus disse que "o que é nascido da carne é carne". Se alguém pensa que este corpo carnal é o próprio homem, não adianta querer nascer de novo, pois o que nasceu da carne continuará sendo carne, da mesma forma. Para entrarmos no reino de Deus (no reino de Deus não existem doentes), precisamos retornar à consciência de que nós próprios não somos carne. Precisamos nos despir do homem do pecado original que, enganado pelo fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, isto é, enganado pela inteligência dos cinco sentidos, e sentenciado "tu és pó e ao pó tornarás", e retomar a consciência de que somos "aquele que desceu do céu" (a saber, o homem de concepção imaculada). Precisamos nos livrar da consciência do homem carnal (o que é nascido da carne é carne). E, para isso, é necessário proceder, de alguma forma, à negação do corpo carnal. Uma das formas para conseguirmos isso consiste em acreditar na redenção pela crucificação de Jesus e, tomando consciência de comunhão com a aniquilação carnal de Jesus, acreditar que foram eliminados todos os pecados referentes ao corpo carnal, renascendo destarte para o eu espiritual. Outra forma consiste em, retornando ao coração de criança, acreditar docilmente na Verdade de que o homem é filho de Deus por experiência própria. Um outro meio consiste em compreender, por meio da filosofia moderna, a inexistência do corpo carnal com base na teoria física moderna segundo a qual a matéria não existe.

Jesus disse "nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto" porque os seus sermões consistiam na pregação direta de experiências próprias. Que o homem é filho de Deus e ser espiritual é a Verdade compreendida internamente. Existe o meio de inquirir essa Verdade teórica e filosoficamente (como faz a filosofia Taniguchiana ou a filosofia de Hegel), mas isso é como observar o monte Fuji, dando voltas em torno dele: isso não nos permite atingir o "pico" da Vida e apreendê-la, como se chegássemos ao pico do monte Fuji e contemplássemos nitidamente o límpido céu azul. Torna-se, então, necessária a apreensão direta e religiosa para a compreensão absoluta da essência da Vida. As seguintes palavras do apóstolo João constituem apreensão direta da Vida:

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida – e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada (...). ora, a mensagem que da parte dele temos ouvido e vos anunciamos, é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. (Primeira epístola de João, capítulo 1)

Quem estiver enfermo, recite, com os olhos cerrados, dez, cem, mil vezes estas palavras: "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma". Assim procedendo, sentirá a luz preenchendo toda a sua volta, e certamente nascerá a convicção: "O paraíso está aqui". Também os saudáveis, os que sofrem e os que não sofrem recitem essas palavras, de olhos cerrados. Deus não é amigo só dos enfermos. Recitando repetidas vezes essas palavras da Verdade, será paulatina e claramente conscientizado o fato de que a Imagem Verdadeira das existências é a "própria luz, e não há nela treva nenhuma."

O que eu denominei "pensamento iluminador" baseia-se na minha experiência própria relacionada à Verdade religiosa de que "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma" e, por conseguinte, não há nem pecado, nem doença, nem infelicidade, nem tragédia. Deus quer transmitir essa Verdade ao homem, que é filho de Deus, mas este, enganado pela inteligência da serpente (cinco sentidos), perdeu o sentido da Imagem Verdadeira (foi expulso do jardim do Éden) e, julgando-se um mero corpo carnal, não consegue compreender que ele é um ser espiritual de luz, isento de pecado e de doença, por natureza.

Lamentando esse fato, Jesus disse:

Vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem entendem. (...) Ouvireis com os ouvidos, mas não entendereis; vereis com os olhos, mas não vereis. Porque o coração deste povo tornou-se insensível, e seus ouvidos tornaram-se duros, e fecharam-se os seus olhos. (Mateus 13:13-15)

Precisamos primeiramente negar os cinco sentidos, que "vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem entendem". Do contrário, não podemos ver e conhecer verdadeiramente a Imagem Verdadeira (Jissô) da existência. Por mais que o corpo, os órgãos internos, a pele e os ossos pareçam deteriorados, não devemos acreditar nessa evidência dos cinco sentidos. Os fenômenos são imagens aparentes, e não a Imagem Verdadeira da existência. A Verdade é uma só, seja no budismo, seja no cristianismo. Como diz a Sutra do Lótus: "mesmo quando este mundo parece consumido pelo fogo no fim do ciclo da humanidade, a minha terra pura continua tranquila". Mesmo quando este mundo parece destruído diante de nossos olhos e devastado pelo fogo até onde nossa vista alcança, isso é fenômeno, e não a Imagem Verdadeira da existência. Devemos acreditar em Deus e conhecer a perfeita, bela e sublime Imagem Verdadeira do Mundo Real criado por Deus e a Imagem Verdadeira perfeita, saudável e próspera de seus habitantes. Porém, os cinco sentidos e a inteligência humana dificultam essa compreensão. Por isso, para renascermos do "homem carnal" para o "homem espiritual", do "homem sujeito à doença e à morte" para o "homem inadoecível e imortal", precisamos refutar o "atestado" dos cinco sentidos, considerando-o mentiroso, ilusório e falso, e acreditar que o mundo tal qual Deus criou é repleto de luz, e que o homem tal qual Deus o criou é o homem eterno e espiritual, que é perfeito e inadoecível.

As pessoas costumam pensar que o "atestado" dos cinco sentidos seja verdadeiro, mas ele é totalmente falso.

Caros leitores, observem que, para os cinco sentidos, parece que o Sol desponta do leste todas as manhãs e se põe no oeste, mas, na verdade, não é o Sol que desponta; é a Terra que gira em sentido oposto. Da mesma forma, parece que o corpo carnal adoece ou que há infelicidade na vida de vocês; mas, na verdade, essa aparência é mero reflexo das ondas mentais. Mudando-se as ondas mentais, desaparece a infelicidade, desaparece a doença; não há outra alternativa senão desaparecer. Entretanto, como o nosso pensamento tende a ser estruturado com base nas impressões fornecidas pelos cinco sentidos, precisamos negar as imagens imperfeitas, visíveis aos olhos carnais, considerando-as inexistentes, e, ao mesmo tempo, acreditar docilmente, com o coração de criança, na Verdade de que o homem é Filho de Deus, fielmente como ela nos é ensinada.

Jesus chegou ao extremos de dizer que devemos arrancar os olhos, casos eles nos dificultem apreender com coração de criança a Imagem Verdadeira do homem eterno e perfeito. A anulação do corpo carnal e a negação da inteligência dos cinco sentidos constituem a chave para retornarmos à sabedoria da Imagem Verdadeira. Segundo Jesus, arrancar e jogar fora os olhos carnais, que parecem ver, é a única condição para obter a sabedoria de criança (sabedoria da Imagem Verdadeira).

Cont...

Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 111-117

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