"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, dezembro 17, 2011

Esclarecimentos profundos sobre a Verdade - 2/2


Masaharu Taniguchi


PERGUNTA

Sassaki -
Concordo plenamente com o senhor, no tocante à visão de que o bem está intrinsecamente ligado à felicidade, e o mal, ao sofrimento. Os conceitos morais até hoje conhecidos tendem a enaltecer os sofrimentos, o que eu considero um grande erro. Costumo referir-me à moralidade como sendo "o caminho feliz". Penso que o modo de viver da Seicho-no-ie é expansão desse caminho feliz. Estou plenamente de acordo também com o modo de viver da Seicho-no-ie, que consiste em viver segundo a Verdade, cuidando da vida cotidiana com a mente alegre. Acredito sinceramente que considerar rotineiro ou sem sentido o trabalho ou a própria existência é um artifício da mente. Por isso, quando algo que faço me parece sem sentido, reflito que isso é devido à falha de minha própria mente e empenho-me em corrigí-la. Tenho certeza de que Deus criou todas as coisas de modo que trabalhássemos com alegria e reverência. Portanto, faço o possível para afastar o pensamento de que o meio em que vivo e o meu trabalho sao aborrecidos.

A "realidade tal como é", de que estou falando, não é, em absoluto, aquilo que é apreensível aos sentidos como a pedra, a água, etc. Minha crença fundamental é a de que tudo neste mundo surge com o "colorido" que nossa mente em ilusão lhes atribui (à água, à pedra, etc.). A realidade pura, que está além dos coloridos atribuidos pela nossa mente subjetiva, não pode, em absoluto, ser conhecida através do "eu" constituído de cinco sentidos. Nós, seres humanos, vivemos alegres ou tristes vendo o que nós mesmos pintamos. Portanto, penso que a verdadeira salvação consiste em "apagar" o quadro pintado pela nossa própria mente.

A realidade que só se revela quando eliminamos o colorido atribuído pela mente - ou seja, os artifícios da mente -, essa é que é a "realidade tal como é", a que estou me referindo. É a realidade que só podemos conhecer no estado de total comunhão do mundo interior com o exterior, no estado em que não há o confronto entre "aquele que apreende" e "aquilo que é apreendido". Em última análise, o que apreendemos como realidade não é a "realidade tal como é". A "realidade tal como é" a que me refiro é anterior à percepção por parte da mente humana. penso, pois, que tudo aquilo que ora se apresenta aos nossos olhos, isto é, que é apreendido por nossos sentidos, não passa de imagem resultante do colorido que nossa própria mente atribuiu à realidade propriamente dita. será que é a essa imagem que o senhor se refere como sendo "projeção distorcida do Jissô"? Essa é a questão. A "realidade tal como é" (o Jissô), a que me refiro, não é realidade distinta e separada dos fatos concretos a que estamos presenciando, mas também não é a própria realidade percebida pela nossa mente. Penso que, quando penetramos no Jissô através do despertar, simplesmente passamos a reverenciar todos os seres e todas as coisas do universo, e isso é feito natural e espontaneamente. Creio que a negação de tudo quanto é apreensível aos sentidos, pregada pela Seicho-no-ie, identifica-se com a minha negação da realidade aparente, como sendo resultado do colorido atribuído pela mente. O Jissô de que falo persiste em nós, seja nas dores ou na alegria; se ele não é percebido, é apenas porque está oculto sob a capa da dor ou da alegria. A maioria das pessoas, face a um sofrimento, vê apenas a realidade da dor. Mas eu acredito que uma mesma realidade da dor encerra duas realidades: a realidade pura que transcende as dores e a realidade aparente que se apresenta a nível dos sentidos. Por isso,meus esforços de auto-aprimoramento têm-se concentrado em superar a realidade aparente - ou, em outras palavras, apagar o colorido atribuído pela mente.

Segundo o meu conceito de Jissô (realidade pura), mesmo estando-s doente, é possível superar a doença, ainda que não ocorra a cura. Chamo isso de "felicidade fundamental". O mesmo se aplica às vicissitudes da vida em geral. Superando-se o fato tal como ele se apresenta, ocorre a cura da doença ou a melhora da situação, e chamo isso de "felicidade secundária". A "felicidade secundária" vem gradativamente. Assim, superando-se primeiramente a doença pela conscientização da verdadeira natureza humana isenta de doença e morte, começa, depois, a ocorrer gradativamente a cura da doença, e consegue-se a longevidade. A "felicidade fundamental" é algo que pode ser alcançado mesmo estando-se no meio de adversidades. Mas, ocorrendo tal conscientização, essas adversidades também desaparecem naturalmente. Eu faço questão de traçar clara distinção entre a "felicidade fundamental" e a "felicidade secundária". A primeira pode ser alcançada igualmente por todas as pessoas, mas quanto à segunda há diferença de pessoa para pessoa.

Tendo lido A Verdade da Vida e tendo ouvido agora há pouco as explanações suas, constatei muita identidade entre o modo de viver preconizdo pela Seicho-no-ie e o meu próprio modo de viver, e isso me deixou bastante entusiasmado. Porém, há um ponto com o qual não posso concordar plenamente. O senhor tem afirmado, com demasiada ênfase, que a felicidade surge imediatamente na vida real com consequência do repentino despertar espiritual, mas eu acho que isso tende a suscitar a ideia de que a felicidade neste mundo seja algo absoluto. Se é que simultaneamente ao despertar espiritual manifesta-se a total felicidade neste mundo, obviamente a pessoa nunca mais haveria de ficar doente nem sofreria a morte física. Eu penso que a inexistência absoluta da doença e da morte só se verfica a nível da conscientização do Jissô. Obviamente, essa conscientização influencia o corpo humano e age sobre a matéria, e a felicidade vai se concretizando naturalmente, tornando-se possível que a pessoa fique relativamente livre de doenças e que sua vida alcance relativa longevidade. Mas isso é sempre relativo. Quando sentimos a felicidade íntima proveniente da conscientização de nossa essência eterna e perfeita, deixamos de dar exagerada importância às agruras e alegrias desta vida, e justamente por isso os altos e baixos da maré da vida vai se amainando naturalmente. Meu desejo é levar uma vida de serena alegria, baseada na conscientização de nossa essência eterna e perfeita, sem me preocupar nem mesmo em amainar os altos e baixos da maré da vida.

No meu presente estado espiritual, prefiro apreender o Jissô, penetrando fundo no sofrimento, em vez de descartar o sofrimento como sombra da mente. Quero crer que "Deus estpa presente também no meio das dificuldades". Em outras palavras, sei que existem dois caminhos, um que consiste em descartar os sofrimentos considerando-os ilusões, e outro que consiste em mergulhar fundo neles, para depois superá-los e alcançar a alegria eterna, e, pelo menos por enquanto, eu prefiro este último caminho.


RESPOSTA:

Taniguchi -
Os ensinamentos da Seicho-no-ie são fáceis e difíceis, ao mesmo tempo. Isto é, são aparentemente fáceis, mas, na verdade encerram pensamentos muito profundos. Assim sendo, entre os simpatizantes da Seicho-no-ie, há os que concordam com a doutrina, tendo-a compreendido apenas superficialmente, e outros que, tendo-a apreendido em maior profundidade, fazem perguntas para esclarecer eventuais dúvidas. O senhor, sr. Sassaki, pertence a este último grupo.

Alegra-me muito que o senhor esteja de acordo com os ensinamentos da Seicho-no-ie, no tocante a seus pontos essenciais, difíceis de compreender. talvez nos divirjamos quanto à maneira de explicar, pois o senhor fala em "superar o sofrimento admitindo-o tal como ele está manifestado", o que é mais um modo de dizer que é preciso superar o sofrimento depois de admitir a sua existência, ao passo que eu digo que o sofrimento não existe verdadeiramente porque é apenas ilusão ("um aspecto resultante do colorido atribuído pela mente", conforme o senhor disse), e afirmo que não é preciso nem se pode superar o sofrimento, porque ele não existe. Ao fato de alguém estar doente e não se prender a doença diz-se "transcender a doença". Todavia, se a doença não existe, não há necessidade de transcendê-la. somos originariamente isentos de doença. Mesmo que a doença pareça existir, ela não passa de ilusão (falso aspecto) resultante do colorido atribuído pela mente. Pode-se dizer que o próprio fato de admitir o confronto entre o Jissô (existência verdadeira) e o falso aspecto é ilógico, pois existe unicamente o Jissô.

Algumas pessoas, admitindo a doença e o sofrimento como existências verdadeiras, acreditam haver um sentido neles e concluem: "A doença e o sofrimento são realidades, nas quais Deus está presente e, portanto, são bênçãos; a mente que não os aceita como bênçãos é a mente em ilusão". Quem pensa assim faz com que seu subconsciente crie afinidade com doença, sofrimento, pobreza, etc., e passa a ter uma atitude mental negativa como a de atrair por si mesmo a doença e sentir uma espécie de prazer no ato de ficar doente. Nos casos extremos, a pessoa pode tornar-se tal qual São Francisco de Assis, que apesar de ter sido um santo de extraordinárias virtudes, deixou-se dominar pela ideia de aceitar prazerosamente os sofrimentos, passou a orar para que fosse permitido experimentar as mesmas dores que Jesus Cristo suportou, e finalmente passou a apresentar em seu corpo as marcas das cinco chagas de Cristo. As pessoas relgiosas que buscam sua realização pessoal nos sofrimentos e nas doenças passam a sentir prazer em contrair doenças, em vez de manifestar em seu corpo o aspecto perfeito do seu eu verdadeiro originariamente isento de sofrimentos, doenças e iniquidades. Assim, passam a procurar atrair, intencionalmente, a doença e a miséria, que as pessoas comuns abominam. Na verdade, tanto aquelas pessoas como estas últimas estão presas à matéria, de uma ou de outra forma. Se despertarem para a Verdade de que "o corpo carnal é apenas uma sombra projetada pela mente e, portanto, não é existência real", compreenderão que a doença e todos os demais sofrimentos referentes ao corpo carnal também não existem realmente. E, já que não tem sentido acreditar naquilo que não existe, não mais sentirão necessidade de fugir dos sofrimentos, nem de enaltecê-los e desejar que eles venham. Então, terã transcendido realmente os sofrimentos.

Contudo, observandoo mundo fenomênico, constatamos a manifestação de sofrimentos, doenças, etc., e isso é um fato que não podemos negar. No estado subsequente ao "despertar repentino" a que o senhor se refere, a pessoa passa a viver, durante algum tempo, num mundo dualístico em que, de um lado, se reconhece a perfeição do seu eu verdadeiro e, do outro, se vê a doença (aspecto aparente). E, no processo em que o aspecto aparente vai cedendo lugar à perfeição do eu verdadeiro, a pessoa vai vencendo passo a passo as imperfeições fenomênicas e aproximando-se gradativamente da original perfeição do Jissô (eu verdadeiro) conforme o senhor mesmo disse. Completando-se esse processo, o homem atinge, finalmente, o estado em que "seu corpo tal como é, torna-se imortal". Nesse momento, seu corpo deixa de ser um simples corpo carnal e se transforma num corpo espiritual que supera as limitações físicas.

Na verdade, o corpo carnal, atualmente cheio de limitações e imperfeições, é produto da mente e é sustentado pela mente. Logo, com a transformação da mente que o sustenta, transformam-se também a natureza e o estado do corpo. Se alguém supõe que o corpo carnal em si seja imortal, é porque não sabe que o corpo carnal é projeção da mente. Se compreendesse que o corpo carnal é projeção da mente, compreenderia que o corpo está morrendo e nascendo a todo instante, isto é, transformando-se constantemente conforme a mudança da mente. Se a pessoa libertar sua mente da ilusão e conseguir apreender realmente a sua Essência, ocorrerá uma grande transformação também no corpo, que então se tornará um corpo espiritual e sublime. E quando tal corpo deixa este mundo, causa-nos a impressão de que morreu, mas isso não é morte; é evolução da natureza do corpo. Quando uma pessoa que alcançou o despertar liberta-se do corpo incômodo e passa para um estado espiritual e livre (nota: o autor não está se referindo a morte no sentido concebidos pelo espiritismo), diz-se que atingiu o nirvana. Isso difere totalmente do fato de alguém morrer doente, sem despertar, com a mente apegada ao corpo carnal por considerá-lo existência verdadeira. Aparentemente, os dois fatos parecem a mesma coisa, mas há grande diferença no seu conteúdo - a diferença é intrínseca. No primeiro caso, a pessoa, devido ao seu despertar, alcança um estado de total liberdade, enquanto que, no segundo, a pessoa permanece no estado de auto-prisão mental e continuará a sofrer reencarnando várias vezes, enquanto não despertar.

A parapsicologia está provando que, após o desencarne, o espírito continua possuindo um corpo imaterial, cujo grau de liberdade varia conforme o grau de despertar. A maioria dos espíritos que aparecem nas fotografias e sessões mediúnicas são os que ainda não alcançaram o estado de verdadeira liberdade, mas são uma prova de que existe corpo espiritual, que é bem mais livre do que o corpo carnal.

Bem, retomando o tema principal, devo esclarecer que o modus vivendi da Seicho-no-ie baseia-se na compreensão de que este mundo visível é mundo da projeção da mente e que, justamente por ser uma imagem projetada, melhora quando se aperfeiçoa a mente, que é o filme. Obviamente, o aperfeiçoamento do mundo projetado é secundário, e não o consideramos mais importante que a apreensão do mundo do Jissô (mundo verdadeiro e absoluto), que é fundamental. Entretanto, a maioria das pessoas está interessada no aperfeiçoamento do mundo fenomênico e pouco lhe interessa um apelo como "Não se apegue ao mundo fenomênico porque ele não é existência verdadeira", pois este soa como algo despropositado e alheio à vida real do cotidiano. Por esse meio, é difícil conduzir as pessoas à compreensão da Verdade. Então a Seicho-no-ie diz: "Se você prentende aperfeiçoar sua vida neste mundo fenomênico, deve ajustar o 'filme' mental porque este mundo é projeção da mente". Assim, as pessoas, ajustando a mente e vendo sua situação material melhorar de fato, convencem-se: "Realmente, este mundo é mera projeção da mente".

Até agora, a maioria das seitas budistas aconselhava: "Rejeite o mundo fenomênico porque ele é mera imagem projetada". Mas eu digo que não é preciso rejeitá-lo, justamente porque é mera imagem projetada. A Seicho-no-ie permite aperfeiçoar o mundo da projeção e por esse meio conduz as pessoas à compreensão do mundo verdadeiro, o Jissô.

(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 12", pgs. 33-41)


Um comentário:

Anônimo disse...

Estes dois textos "Esclarecimentos profundos sobre a Verdade" 1 e 2 vieram em muito

boa hora. Obrigado!

Júlio