- OSHO -
A busca espiritual começa como uma procura da felicidade eterna, como uma procura da libertação eterna, como uma procura da luz divina e da vida divina. Mas o centro é sempre você. No início, trata-se de uma busca egocêntrica. Seja o que for que você esteja buscando, está buscando para si mesmo.
Esse egocentrismo se revelará, finalmente, uma barreira, pois você não poderá estar em êxtase total se for egocêntrico. Esse egocentrismo é um forte obstáculo, mas no início tem que ser assim. É natural que se deva iniciar buscando-se algo para si mesmo. Não há outro jeito. Você não pode começar buscando para outra pessoa.
No início, a busca precisa ser egocêntrica, mas não deve ser assim no fim. No início, está bem. No fim, é perigoso. Chega o momento em que seu egocentrismo precisa acabar. Só então seu ser florescerá em total bem-aventurança.
É exatamente assim: você respira para dentro, inspira. Isso é uma respiração pela metade. Você também precisa expirar. Essa é a outra metade. E as duas respirações – inspiração e expiração – fazem um círculo, uma respiração completa. Se você pensar apenas em inspirar e não achar necessário expirar, você morrerá. A inspiração, que é necessária à vida, tornar-se-á perigosa à vida se não houver a expiração. O ar precisa ser expelido.
A mesma coisa acontece quando você começa a viver momentos de bem-aventurança, quando começa a viver momentos de êxtase, quando o eterno começa a se derramar em você. A primeira coisa é inalar – você inalará bem-aventurança – mas, a seguir, exale-a. De outro modo, você morrerá de sua própria bem-aventurança. Essa bem-aventurança tornar-se-á venenosa. Exale-a, distribua-a, dê-a aos outros.
Quando você sentir que está repleto de bem-aventurança, expresse-a. Compartilhe-a; não tente conservá-la em seu interior. Não a restrinja, não a torne alguma coisa só sua. Não tente possuí-la; compartilhe-a com todos. Celebre-a, realmente, de tal modo que toda a existência possa compartilhá-la. Uma flor desabrocha e o perfume se espalha. Os ventos a levam para longe, para bem longe, para os mais longínquos recantos da Terra. Permita que o seu perfume, a sua bem-aventurança, seja levada para longe, seja compartilhada, seja compartilhada por toda a existência.
Por quê? Porque então a bem-aventurança torna-se total: inspiração e expiração. Torna-se um círculo. E quanto mais você a distribui, mais obtém. Quanto mais joga-a para fora, mais a encontra, porque agora você está em contato com a fonte inesgotável.
Não seja avarento. De outro modo, destruirá todo o processo. No início, se você é egocêntrico, está bem; mas quando a bem-aventurança começa a se manifestar, é perigoso. Este sutra diz respeito à exalação:
"De dentro do silêncio, que é paz, uma voz ressonante se levantará. E essa voz dirá: 'Não está certo; tu tens colhido, agora deves semear.' E sabendo que essa voz é o próprio silêncio, obedecerás."
Você tem colhido. Tem colhido bem-aventurança, tem colhido êxtase. Agora, semeie-o para os outros. No mundo, você primeiro semeia e depois colhe. Na dimensão espiritual, tudo é exatamente ao contrário. Primeiro você colhe e depois semeia.
Você tem colhido aquilo que Buda semeou, aquilo que Jesus, que Krishna e Maomé semearam. Eles plantaram as sementes e você as colheu. Agora, plante sementes para os outros. E lembre-se bem: semear significa simplesmente exalar. É uma parte de todo o processo. Você permanecerá pela metade, incompleto, imperfeito, a menos que a bem-aventurança comece a fluir de você em direção a todas as coisas.
Essa é uma lei realmente necessária. Quando você se torna silencioso, você a ouve. Ninguém a está dizendo para você. Seu próprio coração – seu ser mais profundo – é quem lhe diz isso. Essa indicação, esse ensinamento, essa mensagem não vem de fora. Vem do seu próprio íntimo. E por essa razão, você a obedecerá. Não há possibilidade de não obedecê-la; ela vem de você mesmo. Mas, se você a conhecer bem, será fácil.
Será fácil se você souber que isso faz parte do processo: que a bem-aventurança precisa ser distribuída e compartilhada; só então ela se expandirá mais ainda. Se você não conhece esta lei, sua avareza, seu velho egocentrismo pode adiar a conclusão do processo.
Pode-se unicamente adiar esse processo; não se pode desobedecê-lo para sempre. Mas por que adiá-lo? Lembre-se disto: sempre que sentir um instante de bem-aventurança se manifestando, compartilhe-o.
É por isso que insisto, e insisto bastante, em que após a meditação, você deve expressar sua bem-aventurança; você deve celebrá-la. Empenhe-se nisso, seja o que for que lhe aconteça, compartilhe-o. Dance e cante. A dança e o canto são apenas simbólicos, servem somente como uma recordação contínua.
Quando você for embora daqui, muitas coisas lhe acontecerão se você continuar a meditação. Mas sempre que alguma coisa lhe acontecer, não a guarde para você. Compartilhe-a. Mesmo se não puder fazer alguma coisa, apenas sorria, sorria para algum estranho e talvez seja suficiente. Apenas segure as mãos de algum estranho e sinta o amigo dentro dele. Ou compartilhe alguma coisa, mesmo que simbolicamente. Ou, se não houver ninguém por perto e você estiver sentado embaixo de uma árvore, então, dance e sinta que está dançando com a árvore. Cante, e sinta que está cantando com os pássaros. E, mais cedo ou mais tarde, você compreenderá que, quando compartilha, até mesmo uma árvore está pronta a compartilhar com você.
Uma pesquisa foi feita recentemente numa universidade russa. Através de muitas experiências, um psicanalista, Pushkin, chegou à conclusão de que as árvores possuem emoções semelhantes às do homem. E mais ainda – que as árvores podem ser hipnotizadas. E não é só isso: se uma pessoa for hipnotizada embaixo de uma árvore e, sob hipnose, lhe fizerem a seguinte sugestão: “Você está muito triste”, a pessoa ficará triste e, simultaneamente, a árvore ficará triste.
Trata-se de conclusões experimentais. Existem atualmente aparelhos de registro mecânico que podem registrar se você está triste ou feliz, se está deprimido, ou raivoso, ou predisposto ao sexo. Para cada emoção, uma onda elétrica específica é emitida por sua mente. Essa onda elétrica pode ser registrada.
Mas o que é estranho é que a mesma onda também é captada da árvore. Você está dançando embaixo de uma árvore, feliz. Sua mente emitirá um sinal de que você está feliz e esse sinal será registrado. Se o aparelho também estiver sintonizado com a árvore, registrará igualmente a mesma coisa. Assim, Pushkin afirma que se você estiver dançando embaixo de uma árvore, muito feliz, a árvore compartilhará dessa felicidade. Ela ficará muito feliz, junto com você.
E se uma árvore pode compartilhar, por que não os pássaros? Eles são mais sensíveis. Por que não os animais? Eles são mais sensíveis ainda. E por que não a existência inteira? Mais cedo ou mais tarde, descobriremos que até mesmo as pedras compartilham. Suas almas podem estar profundamente ocultas, mas estão ali; e um dia descobriremos instrumentos que nos fornecerão indícios de que mesmo uma pedra, uma rocha, tem emoções.
Assim, onde quer que você se encontre, sempre que sentir que algum sentimento de êxtase lhe aconteceu, dance em harmonia com ele, cante em seu tom e compartilhe sua felicidade do modo que lhe ocorrer, da maneira que lhe convier. Mas compartilhe-a! Ela se expandirá mais ainda. Compartilhando-a, ela se expande. Com avareza – sem compartilhá-la – ela se contrai, se extingue.
A morte é uma contração. Contração é morte; vida é expansão. Deixe que ela se expanda. E a partir do momento em que você conhecer o sentimento de expansão, permitirá que ele aconteça, porque é seu próprio eu mais íntimo quem está ordenando.
"Tu, que agora és discípulo, capaz de permanecer em pé, capaz de ouvir, capaz de ver, capaz de falar, que tens conquistado o desejo e alcançado o autoconhecimento, que viste tua alma em seu florescer e reconheceste e ouviste a voz do silêncio, vai ao Saguão do Saber e lê o que ali está escrito para ti."
“... ouvir a voz do silêncio é compreender que a única orientação verdadeira vem do interior; ir ao Saguão do Saber é entrar no estado em que o saber se torna possível. Então, muitas palavras estarão escritas ali para ti, e escritas em letras de fogo para que possas ler facilmente. Pois, quando o discípulo está pronto, o Mestre também está pronto.”
“Ouvir a voz do silêncio é compreender que a única orientação verdadeira vem do interior.” Quando você está silencioso, verdadeiramente silencioso – depois que a tormenta passou, quando você entrou espontaneamente, no silêncio – você não o cultivou, ele veio até você, manifestou-se espontaneamente em você – nesse silêncio, você sentirá, compreenderá e saberá que agora a orientação verdadeira é possível a partir do âmago do seu ser. Agora, o mestre, o mestre interior se revelará a você.
Seu próprio centro mais profundo é o seu mestre verdadeiro. O mestre exterior pode ajudar, mas sua ajuda é fundamentalmente dirigida para a descoberta do mestre interior. E quando o mestre interior é descoberto, não há mais necessidade do mestre exterior. Você tornou-se mestre por direito próprio.
Mas isso só acontece quando você consegue realizar um total silêncio interior, sem quaisquer pensamentos, sem quaisquer palavras, sem nenhuma imaginação, sem ondulações de qualquer tipo. Quando você tiver compreendido e sentido um silêncio sem ondulações, sem pensamentos, um silêncio imóvel – esse silêncio tornar-se-á seu mestre interior. Agora, a partir desse silêncio, a orientação lhe será dada.
“Pois, quando o discípulo está pronto, o Mestre também está pronto.” Quando você está pronto para receber a orientação interior, a orientação interior surge naturalmente, automaticamente. Mas o discípulo precisa estar pronto.
O que significa dizer que o discípulo está pronto? Significa que ele tornou-se totalmente receptivo, humilde, sem ego, entregue, sem resistência. Quando você não diz nada, mas apenas está receptivo para ouvir, quando não impõe nenhuma teoria à verdade – você está nu, vazio e disposto a permitir que a verdade se revele à sua maneira; você não está, de modo algum, consciente ou inconscientemente, impondo alguma coisa à verdade; você parou de impor; está pronto para ser levado a qualquer parte que a verdade o conduzir – então, você é um discípulo.
Há uma diferença entre um estudante e um discípulo. O estudante deseja informação. O discípulo não anseia por informação. Sua busca é pelo conhecimento, pela experiência autêntica. Não está interessado no que os outros dizem. Está interessado naquilo que pode sentir. O estudante coletará informação; treinará sua memória. E quando mais sua memória for treinada, quanto mais informação for acumulada, mais egoísta ele se tornará. O estudante nunca poderá ser humilde, o erudito nunca poderá ser humilde. Sua busca básica é egoísta.
Uma pessoa acumula riqueza e uma outra acumula conhecimento. Não há nenhuma diferença. Qualquer acúmulo alimenta o ego. Seja o que for que você acumule – quanto maior a quantidade, mais egoísta você se sentirá. Dessa maneira, um estudante ou um erudito não são discípulos. A própria dimensão é diferente. Um discípulo não está em busca de acumulação; pelo contrário, está disposto a se livrar de todas as acumulações. Se a verdade só se manifesta no vazio, ele está pronto a se tornar vazio, está pronto a jogar fora todas as acumulações, todo o conhecimento.
Conta-se que Sócrates, em sua velhice, teria dito: “Agora posso dizer que nada sei. Sou um ignorante.” Ele foi um discípulo.
Aconteceu que um vidente proclamou Sócrates como sendo o homem mais sábio de Atenas. Os que ouviram o vidente correram para dizer a Sócrates: “Sócrates, você ouviu? O vidente disse que você é o homem mais sábio de Atenas.”
Sócrates disse: “Deve ter havido algum engano. Voltem lá e digam ao vidente que Sócrates diz que não sabe nada, e que é totalmente um ignorante.”
As pessoas voltaram ao vidente e lhe disseram: “Sua profecia foi negada pelo próprio Sócrates. Ele disse, ‘Não sei nada. Sou um ignorante’.”
O vidente riu e disse: “É exatamente por isso que digo que ele é o homem mais sábio” – porque apenas um homem perfeitamente sábio pode dizer: “Eu não sei.”
As pessoas ignorantes sempre afirmam que sabem. Quanto mais ignorantes, mais afirmam que sabem. Isso faz parte da ignorância. Um estudante, um pândita, um erudito – estão sempre declarando que conhecem. Eles não são discípulos.
E, lembre-se, se você é um estudante, pode tornar-se um professor, mas nunca um mestre. Somente um discípulo pode tornar-se mestre. Se você é um estudante, um erudito, pode tornar-se um professor – nunca um mestre. Somente um discípulo pode tornar-se um mestre. Ser discípulo significa entregar-se sem ego. E uma vez que você se entregou, seu eu mais profundo é revelado a você. Esse é o mestre que está à sua espera. Ele tem estado à sua espera por muitas vidas.
Em algum momento de entrega, o mestre lhe será revelado. E esse mestre não é uma pessoa. Ele é o seu próprio eu mais profundo, é o seu próprio Atman. Desse modo, pode-se realmente dizer: quando você é um discípulo perfeito, tornou-se um mestre. Você não é mais um discípulo. Tendo se tornado um discípulo, você se transforma num mestre.
Um comentário:
Um presente divino
Postar um comentário