Osho
Quando Hyakujo era jovem, sua mãe levou-o a um templo e, ao entrar, ela curvou-se diante da estátua budista.
Apontando para a estátua, Hyakujo perguntou à mãe: "O que é isso?"
"Este é um buda" - respondeu ela.
Hyakujo disse: "Ele parece um homem. Eu quero virar um buda mais tarde".
Muitos anos depois, Hyakujo tornou-se um monge.
Certo dia, como assistente de Basho, ele foi peregrinar pelas montanhas.
No seu retorno, ele começou a chorar subitamente.
Um dos monges, seu colega, perguntou: "Você está pensando no seu pai e na sua mãe?"
"Não" - respondeu Hyakujo.
"Então por que você está chorando?" - persistiu o monge.
"Vá e pergunte ao mestre" - retorquiu Hyakujo.
O monge foi e perguntou a Basho, que disse:
"Vá e pergunte a Hyakujo".
O monge voltou à sala e encontrou Hyakujo rindo.
"Você estava chorando agorinha mesmo; por que você está rindo agora?" - perguntou ele.
Hyakujo respondeu: "Eu estava chorando agorinha mesmo, e agora estou rindo".
Maneesha, há alguns minutos, não havia chuva nenhuma e, agora, está chovendo. A existência é irracional. Você não pergunta à chuva: "Por que você está caindo agora, se você não estava caindo há alguns minutos?". Você não pergunta aos bambus: "Por que vocês estão dançando com a chuva, quando, antes, vocês estiveram parados como uns cavalheiros, absolutamente britânicos?"
A existência é irracional. No momento em que você pergunta por que, você perdeu o ponto. Esta historieta é ótima, ótima também no que diz respeito às meditações de vocês.
Quando Hyakujo era jovem, sua mãe levou-o a um templo e, ao entrar, ela curvou-se diante da estátua budista.
Apontando para a estátua, Hyakujo perguntou à mãe: "O que é isso?"
"Este é um buda" - respondeu ela.
Hyakujo disse: "Ele parece um homem. Eu quero virar um buda mais tarde".
Vinda de um jovem de vinte anos, esta é uma grande indicação de um grande futuro pela frente. A estátua de pedra, de Buda, não pode enganá-lo. No máximo, ela parece um homem. Ela não é um homem: não respira, não chora, não ri. Foi talhada numa pedra: está simplesmente morta e não rirá jamais, nem chorará ou sentirá. Como ela pode?...
Hyakujo falou corretamente: "Isso certamente se parece com um homem; mas eu não a chamarei de buda, porque a própria palavra 'buda' significa 'consciência' e esta pedra não é consciente. Eu quero me tornar um buda mais tarde - não como uma estátua de pedra, mas um buda vivo, risonho, cantante, dançante".
Um buda que não pode dançar não é muito buda, não. Um buda é, em essência, silêncio e ser. Se você puder ficar silencioso nesta noite, a oportunidade é ótima. Todo o céu está se derramando ao seu redor com uma única indicação: "Acorde! Você tem dormido por muito tempo".
Nesse silêncio, esse acordar é possível. Nesse silêncio, o buda de pedra pode começar a rir, pode começar a dançar, pode começar a respirar. E lembre-se: assim como Hyakujo não estava pronto para adorar um buda de pedra, eu também sou contra todas as adorações.
O adorador é o adorado. Você não tem de adorar ninguém. O seu ser mais íntimo é o ponto mais alto e o mais precioso, o ponto mais existencial e consciente. Não há nada mais alto que isso. Você não precisa de adoração, basta apenas meditar.
Lembre-se da diferença entre adoração e meditação. A mãe estava falando de "adore, reze!" e Hyakujo, um jovem, estava dizendo "eu quero ser".
A prece é sempre endereçada a uma outra pessoa. A prece não é religiosa. A adoração não é religiosa. Ser completamente consciente e silencioso é o único meio de se saber o sabor da religião. Esta é um grande oportunidade.
As nuvens vêm na hora certa. Ouçam a mensagem da chuva. Ela simplesmente é; apenas seja como ela. Num espaço silencioso, a dança da chuva, o sussurro dos bambus... e você chegou em casa.
Muitos anos depois, Hyakujo tornou-se um monge.
Certo dia, como assistente de Basho, ele foi peregrinar pelas montanhas.
No seu retorno, ele começou a chorar subitamente.
Um dos monges, seu colega, perguntou: "Você está pensando no seu pai e na sua mãe?"
"Não" - respondeu Hyakujo.
"Então por que você está chorando?" - persistiu o monge.
Por quê?
Esta é a pergunta na qual a mente continua persistindo. Para a mente, todas as coisas têm de estar baseadas numa certa razão, numa causa. A mente não permite nada sem razão, sem causalidade. E, devido a essa persistência, a mente perde a pergunta mais essencial do seu próprio ser: "Por que você é?"
Você pode olhar daqui para ali. Talvez alguém lhe dirá por que você é. Mas ninguém, em toda a história da consciência, foi capaz de dizer por que ele mesmo é. Tudo o que você pode fazer é encolher os ombros: "Eu sou, não há qualquer questão de por quê".
Hyakujo estava certo em dizer ao monge:
"Vá e pergunte ao mestre" - retorquiu Hyakujo.
O monge foi e perguntou a Basho, que disse:
"Vá e pergunte a Hyakujo".
O monge voltou à sala e encontrou Hyakujo rindo.
Agora, isso é demais para a mente sensata; isso é absurdo...
Olhem agora... As chuvas estão tentando parar. Isso não está certo! Antes, elas estavam no seu auge e agora estão ficando silenciosas para participar do silêncio de vocês.
Mas não há nenhum por quê. Você não pode perguntar aos bambus; você não pode perguntar às rosas; você não pode perguntar a nenhum ser vivo. A vida simplesmente é. Às vezes ela chora, às vezes ela ri e, quando ela chora sem nenhuma razão, o choro é uma tremenda limpeza. E, quando ela ri sem nenhuma razão, o riso atinge um ponto mais profundo no seu ser. Como uma flecha, ela atinge exatamente o centro do seu coração e de sua existência.
O monge foi e perguntou a Basho, que disse:
"Vá e pergunte a Hyakujo".
O monge voltou à sala e encontrou Hyakujo rindo.
"Você estava chorando agorinha mesmo; por que você está rindo agora?"
O monge deve ter sido um homem de mérito intelectual, um professor.
Hyakujo respondeu: "Eu estava chorando agorinha mesmo, e agora estou rindo".
Qual é o problema? Isso é o que o Zen chama de um salto quântico: da mente para a não-mente; da razão para a existência; do pensar ao silêncio - um salto quântico. A mente não pode parar de perguntar por quê. Mas a sua consciência jamais pergunta por quê. A aceitação da consciência e de sua confiança na existência é absoluta e categórica.
Alguma vez você já perguntou por que você é? Você pode responder sobre coisas... por que uma bicicleta é, ou um carro é. Eles têm alguma utilidade. Mas que utilidade tem você? Você não pode encontrar uma razão, seja onde for que você procure e procure... A resposta será simplesmente: "Eu estou aqui por nenhuma razão." O porquê é irrelevante.
É isso o que eu estou chamando de salto quântico. Meditação não é nada mais do que um salto quântico, partindo do contínuo fazer perguntas para o mergulho na pura inocência, onde nenhuma pergunta surge e nenhuma resposta tem de ser dada.
Isto é viver momento a momento.
Isto é amar momento a momento.
Esta é a dança do momento.
Essa pequena historieta contém a própria essência do Zen. Se você puder entender essa pequena historieta, você compreendeu tudo o que é útil compreender.
Apenas seja: é seu direito de nascença. Não há nenhuma questão de por quê.
Você tem estado aqui o tempo todo e ficará aqui o tempo todo. É uma concepção errada quando dizemos: o tempo passa. A realidade é que você, a testemunha, permanece sempre a mesma, nunca velha, nunca jovem, nunca criança, nunca homem, nunca mulher - apenas um ponto de luz que prossegue da eternidade para a eternidade. Não há nenhuma razão para perguntar. E, de qualquer modo, a quem você vai perguntar? Além de você, quem pode responder por que você está aqui? E você não foi fundo o bastante dentro de si mesmo para descobrir quem você é. Para fazer a pergunta, você primeiro tem de descobrir a si mesmo.
Aqueles que foram para dentro de si mesmos, para encontrarem quem estava dentro, não retornaram, porque, quanto mais eles entravam, mais o gelo derretia; e quando chegavam ao âmago, eles mesmo não estavam lá, perceberam que havia somente puro espaço. E esse puro espaço é a única escritura que o Zen aceitará como sagrada. Ele não é feito pelo homem. Não é nascido. Não sabe nada da morte.
Ele simplesmente continua infinitamente, florescendo de muitas maneiras, formando muitas casas para serem habitadas, mudando-se de uma casa para outra, de um corpo para outro, de uma espécie para outra espécie. Mas todo esse movimento não deixa nenhum traço de mudança na sua autenticidade.
Hyakujo estava absolutamente certo quando disse: "Eu estava chorando agorinha mesmo, você está certo. E, agora, eu estou rindo. E quem sabe o que vai acontecer depois da minha risada?"
Essa é a verdadeira essência do Zen.
7 comentários:
Meu caro Amigo Gustavo!
É possível que você esteja em vias de postar um novo texto. E notei que ninguém comentou este texto, e que não houve sequer uma reação... Mas trata-se de um ótimo texto, muito bem escolhido entre os muitos textos do Osho.
A provável razão para não ter havido reações é que este texto expressa algo sobre o Zen. E qualquer coisa que diga respeito ao Zen não é fácil de se expressar em palavras. Isto porque o Zen só pode ser percebido, mas não pode ser pensado...
Este comentário ficará mais claro se for seguido da leitura do texto "Buda, uma virada na história" que se encontra no livro "A descoberta do Buda", também do Osho. Isto porque nesse texto há uma explicação da origem da palavra japonesa "zen" como sendo a mesma palavra sânscrita "dhyana", cuja tradução é "meditação". E a meditação é algo que pode ser realizado mas náo é algo que pode ser pensado. Isto porque meditação é atividade da própria Consciência o Ser enquanto que o pensamento é atividade da mente do personagem. A mente pensa e a Consciência medita. Assim, faz sentido pensar sobre Deus e seguir um de seus mensageiros, como no caso das religiões extrovertidas, ou seja, voltadas para o exterior, como por exemplo o cristianismo e todos as religiões que pregam a existência de um Deus em algum lugar fora de nós, mas não faz sentido apenas pensar sobre Deus e seguir um mensageiro divino exterior no caso de uma religião introvertida, como o budismo, porque Buda nos evoca uma percepção, uma experiência interior, e não um pensamento! Neste sentido Jesus pode ser seguido e crido como sendo o caminho que nos leva a Deus; mas Buda só pode ser percebido como um espelho divino que nos evoca uma percepção ou consciência de Deus.
Assim a palavra sânscrita dhyana, quer dizer meditação, no sentido de "estar em estado meditativo", ou seja, estar desperto, estar consciente da Realidade, e é um sinônimo de "percepção" ou seja, "estar percebendo a Realidade". Assim, enquanto as religiões extrovertidas nos evocam a pensar e a acreditar em Deus, o budismo nos faz interiorizar e perceber Deus! Por isso Osho trata Buda como "uma virada na história"! E acrescenta ainda que "sem um Buda, fica impossível dar esse novo significado, essa nova visão, essa nova dimensão."
Namastê
Meu Amigo Silvano...
O Osho preza muito os ensinamentos de Buda e os ensinamentos do Zen, porque eles dizem respeito mais ao "interior" do que ao "exterior", dizem respeito mais à meditação do que à adoração. Quanto mais a atenção estiver voltada para o "interior", mais percepção. Por sua vez, quanto mais a atenção estiver voltada para "fora", menos percepção (meditação).
Esses contos zen não são lógicos para a mente. Ao contrário, eles quebram toda e qualquer lógica/conexão que a mente busca fazer a partir das coisas exteriores. O Zen cria descontinuidades onde a mente tenta estabelecer "continuidades" a fim de formar suas "conexões lógicas". E, por possuir uma abordagem além da mente (não-mental), o Zen cria problemas para a mente. A tentativa de compreender o Zen com a mente cria desconforto, perturbação e até frustração para a própria mente. O Zen não é para ser entendido com a mente.
E a verdade suprema da Consciência, da Unidade, somente pode ser percebida através de um instrumento maior do que a mente: deve ser percebida com a própria Consciência (que o Osho chama de "não-mente"). A mente é um instrumento inadequado.
É por causa dessas peculiaridades que Osho prefere a abordagem meditativa (que torna o indivíduo coltado para o interior) ao invés de uma abordagem de adoração/oração (que volta o indivíduo para o exterior).
Neste texto, Osho tentou fazer as pessoas compreender isso, ao dizer as seguintes palavras (que neste texto considero as mais importantes):
"Há alguns minutos, não havia chuva nenhuma e, agora, está chovendo. A existência é irracional. Você não pergunta à chuva: "Por que você está caindo agora, se você não estava caindo há alguns minutos? A existência é irracional. No momento em que você pergunta por que, você perdeu o ponto."
Isto é absolutamente não-mental. Osho explica que cada momento é, em si mesmo, uma existência única. Este momento não está de modo algum conectado ao momento anterior. Mas a mente pensa que o momento seguinte sempre está conectado ao momento prévio, ela cria CONTINUIDADE utilizando esses "vários momentos". O Zen rompe essa continuidade, deixando a pessoa inteira e absolutamente no único momento que existe: agora.
A fim de elucidar ainda melhor este ponto, segue o link de um texto do próprio Osho, onde ele explica como a mente pode estragar uma experiência/vislumbre de que conseguiu vivenciar algo dessa Verdade:
http://busca-espiritual.blogspot.com.br/2013/04/a-fabula-da-centopeia-osho.html
Grato pelo belo comentário!
Namastê!
Indiquei o texto "A Fábula da Centopeia", porque há algo ali de imensa importância a ser notado.
Na história contada, a centopeia estava andando tranquila e facilmente com todas as suas 100 pernas (algo que parece ser imensamente difícil de se realizar). Mas a centopeia nunca pensou na "dificuldade" ou "facilidade" de andar com as suas 100 pernas, ela simplesmente andava! E assim tudo dava certo.
Até que um dia uma raposa perguntou: "como você consegue administrar perfeitamente o movimento de todas essas 100 pernas, sem errar, sem tropeçar. Caminhar só com duas pernas já é difícil. como você consegue fazer isso com cem pernas?". Nesse momento a Centopeia se deu conta do que a raposa estava perguntando (ela nunca havia pensado naquilo), e voltou sua atenção para tentar descobrir como ela fazia para andar com as 100 pernas. E quando sua atenção se voltou para o "como eu consigo?", "por que eu consigo?", quando ela tentou controlar conscientemente os movimentos das 100 pernas (que sempre fluíram de modo natural/espontâneo), ela começou a ter dificuldades de andar, e caiu. E não conseguiu mais andar.
Quando entrou a mente a fim de "dar continuidade" aquela grande experiência (andar com 100 pernas), a centopéia não conseguiu mais andar. Enquanto não havia mente, a centopéia andava facilmente.
E é isso o que acontece. Às vezes as pessoas começam a ter vislumbres do Zen, da Consciência, da Percepção/Meditação, e então elas começam a se perguntar: "mas como pode ser?", "o que eu fiz para entrar nessa experiência". E, quando isso ocorre, a experiência é perdida.
Osho está tentando fazer as pessoas a serem como aquela centopéia que caminhava inocentemente. E, enquanto havia inocência, tudo fluía sem qualquer esforço. O esforço era despendido pelo próprio Todo, pela Natureza. A centopeia não precisava se preocupar com tais questões.
Toda experiência mística/meditativa ocorre em um estado de não-mente. A mente é a barreira.
apesar de eu ter explicado um pouco da história, ainda vale a pena ler o texto! Osho explica as coisas de modo bem mais elucidativo.
Namastê!
Li o texto e é bastante elucidativo, como vc disse.
Do citado texto destaco a percepção compartilhada por Lao-Tzu, ou melhor, por Aquele que "aparece como" Lao-Tzu....
Escreve Osho, ou melhor, Aquele que "aparece como" Osho...:
"Lao Tzu, o mestre de Chuang Tzu, disse:
"Quando não existia nem um único filósofo, tudo estava resolvido, não haviam perguntas e as respostas estavam todas à disposição. Quando surgiram os filósofos, surgiram as perguntas e as respostas desapareceram." Sempre que existe uma pergunta, a resposta está muito longe. Sempre que você pergunta, nunca obtém a resposta, mas se você para de perguntar, você verá que a resposta sempre esteve ali.
Compartilho a visão unitária da seguinte forma:
Aquele que "aparece como" esse seu divino personagem, Gustavo, disse:
"Osho está tentando fazer as pessoas a serem como aquela centopéia que caminhava inocentemente."
O que pode ser percebido é que Aquele que "aparece como" esse seu divino personagem, Gustavo, neste momento está fazendo as pessoas serem como aquela centopéia que caminhava inocentemente...
E percebo que Aquele que "aparece como" esse seu divino personagem, Gustavo, foi tão ou mais elucidativo em seus comentários que o próprio texto Zen!
Namastê
Grato pelas palavras! =)
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Jissô, meus amigos!!!
Mar Ryugu, é esse local divino, 'ouvindo' vocês!!
Gratidão!!
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Ė Isto! Reverêcias!
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