"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, junho 18, 2009

Ensinamentos espirituais (Ramana Maharshi) - Final


Ramana Maharshi


Questão: A mente deve cessar sua atividade. Mas pedir para a mente voltar-se para dentro e buscar sua Fonte não é empregá-la?

R.: É claro, estamos usando a mente. É de conhecimento comum que a mente só pode ser extinta com a ajuda da mente. Mas a diferença é que ao invés de começar dizendo que a mente existe e que eu quero destruí-la, você começa buscando sua fonte, e quando você encontra a Fonte você vê que a mente não existe. A mente voltada para fora resulta em pensamentos e objetos; voltada para o interior, ela se torna ela mesma o Eu Real.

R.: Eu não disse que você deve ficar rejeitando pensamentos. Se você agarrar a si mesmo – ou seja, se você agarrar o pensamento-eu (ou ego) – e mantiver-se interessado apenas nesse único pensamento, então os outros pensamentos serão rejeitados e desaparecerão automaticamente.

R.: A investigação “Quem sou eu?” significa tentar encontrar a fonte do ego ou pensamento-eu. Então você não deve ocupar a mente com outros pensamentos, tais como “eu não sou o corpo”, etc. Buscar a fonte do “eu” é um meio de se livrar de todos os pensamentos.

R.: A individualidade (o pensamento “eu”) é aquilo que está consciente da existência dos pensamentos e da sua seqüência. Essa individualidade é o ego ou, como as pessoas dizem, é o “eu”.

R.: Você não precisa eliminar nenhum falso “eu”. Como pode o “eu” eliminar a si mesmo? Tudo o que você precisa fazer é encontrar a Fonte do “eu”, e permanecer lá. O seu esforço só pode levá-lo até este ponto. A partir daí, o Transcendental vai tomar conta de si mesmo. Você não pode fazer mais nada então. Nenhum esforço pode chegar até Ele.

R.: As noções de prisão e libertação são meras modificações/devaneios mentais. Se, por exemplo, a pessoa investigar (em busca dessa) fonte: “para quem existe a prisão e libertação?”, será descoberto que é “para mim”, isto é, para a própria pessoa. Se, então, ela investigar “Quem sou eu?” sinceramente, descobrirá que não existe o “eu” e “meu”. Aquilo que “sobra”, uma vez que o “eu” desaparece – na verdade este "eu" não desaparece, pois nunca chegou a existir. É mais correto dizer "uma vez que o eu é visto como inexistente"–, é realizado de forma vívida e direta como o Eu que ilumina a si mesmo e que é como é. Essa Realização viva é a experiência direta e imediata da Verdade Suprema, e vem naturalmente, sem nada de especial sobre ela, a todos aqueles que, permanecendo assim como são, mergulham interiormente sem permitir que a mente se exteriorize nem por um momento, e nem desperdiçam seu tempo em conversas vãs.

Questão: Imagine que eu tenha o pensamento “cavalo”, e procure saber de onde ele veio. Fazendo isso eu vejo que ele vem da memória, e que esta surgiu da percepção passada de um “cavalo”, mas isso é tudo.

R.: Quem lhe pediu para pensar tudo isso? Esses também são pensamentos... Qual é o bem que você espera ganhar pensando assim sobre a memória e a percepção? O “eu” que tem essa percepção e memória - de onde ele vem? Descubra. A percepção, a memória e qualquer outra experiência surgem sempre para este “eu”. Você não tem essas experiências durante o sono e mesmo assim você existe enquanto dorme, assim como existe agora. Isso apenas mostra que o EU continua enquanto as outras coisas vão e vem. (...)

R.: Você veio da mesma Fonte em que estava durante o sono.

Questão: Os Upanishads dizem: Aquele que conhece Brahman torna-se Brahman.

R.: Sim, isso ocorre em virtude da Unidade existente entre tudo o que é. Mas na verdade não se trata de “tornar-se” mas sim de Ser. “Não existe o ‘realizar' do Eu Superior” – você pode apenas sê-lO e em verdade você já o é. O Bhagavan costumava assim lembrar, aos que perguntavam, que apenas o Eu Real é, agora e sempre, e que não é algo novo a ser descoberto. Esse paradoxo é a essência do não-dualismo.

R.: Tudo o que você precisa fazer é abandonar a sua identificação com esse corpo e abandonar todos os pensamentos de coisas externas, isto é, de coisas que não são o Eu Real. Por mais que a mente se exteriorize em direção aos objetos dos sentidos, detenha-a e fixe-a no Eu. Esse é todo esforço que você precisa fazer.

R.: Todos buscam apenas aquilo que lhes trará felicidade. A sua mente divaga em direção aos objetos exteriores pois você acredita que encontrará felicidade neles; mas descubra de onde a felicidade realmente vem, mesmo a felicidade que você acredita originar-se dos objetos dos sentidos. Então você perceberá que toda felicidade vem apenas do Eu e, com isso, será capaz de permanecer no Eu (devido à força do seu desejo natural por felicidade).

R.: Concentração não é pensar sobre algo. Pelo contrário, é excluir todos os pensamentos, já que todos os pensamentos obstruem a experiência do verdadeiro ser da pessoa.

Questão: Se o “eu” é uma ilusão, quem é que afasta este “eu”?

R.: O “Eu” afasta a ilusão do “eu” e mesmo assim continua sendo “Eu” – tal é o paradoxo da Auto-Realização. Mas os seres Realizados não vêem nenhum paradoxo nisto.

(...)

R.: Você pode abandonar esta ou aquela das “minhas” posses; mas, ao invés disso, se você abandonar o “eu” e “meu”, tudo é abandonado de uma vez só, e a própria semente da posse é destruída. Com isso corta-se o mal pela raiz. Mas a força do desapego deve ser grande para que isso seja possível. A ânsia de fazer isso deve ser igual à ânsia de alguém que está sendo afogado e tem que subir à superfície para respirar.

R.: O que é necessário é manter-se sempre fixo no Eu Real. Os obstáculos a isso são, por um lado, as distrações causadas pelas coisas do mundo (incluindo objetos dos sentidos, desejos e tendências) e, por outro, o sono. (...) Mas outro método é simplesmente não se preocupar com o sono. Quando ele vem, ele vem sem esperar, e você não pode evitá-lo. Então simplesmente mantenha-se fixo no Eu Real, ou na sua meditação, em cada momento da sua vida desperta, e retorne à meditação no momento em que você acordar. Isso será suficiente. Assim, mesmo durante o sono, a mesma corrente de consciência estará trabalhando.

R.: Você nunca deve ficar satisfeito com qualquer experiência que tenha. Quer você sinta prazer ou medo, pergunte-se quem sente isso e continue seus esforços até que prazer e medo sejam ambos transcendidos e que a dualidade cesse, permanecendo assim apenas a Realidade. Não há nada de errado em experimentar essas coisas, desde que você não pare por aí.

R.: Não se importe se há visões, sons, vazio, ou qualquer outra coisa. Você está presente nessas experiências ou não? Você deve ter estado lá para poder dizer que experimentou um vazio. Permanecer fixo neste “você” do início ao fim é a busca. (...) É a mente que vê objetos e tem experiências que se depara com o vazio quando pára de ver e experimentar, mas essa mente não é você. Você é a iluminação constante que dá vida tanto à experiência quanto ao vazio.

(...) Nos versos 212 e 213 do Vivekachudamani, depois de o discípulo dizer: agora que eliminei os cinco revestimentos como sendo não-Eu, percebo que nada permanece”, o Guru responde que o Eu Real, ou ISTO, pelo qual todas as modificações são percebidas – inclusive o ego e suas criações e a ausência delas (o vazio) –, está sempre lá.

R.: A mente é pura por natureza, mas se contamina quando se envolve com os objetos. O ideal é mantê-la ativa em sua busca sem abrir as portas para as impressões sensoriais e sem pensar em outras coisas.

R.: Para aqueles que seguem jnana marga (o caminho do Conhecimento) a auto inquirição é suficiente para desenvolver todas as qualidades divinas – eles não precisam se preocupar em fazer mais nada.

R.: A Consciência que percebe o vazio é o Eu Real.

R.: Permaneça sem pensar. Enquanto houver pensamento haverá medo.

(...)

R.: Todo mundo está consciente da existência de si mesmo. No entanto as pessoas se esquecem dessa consciência e vão buscar Deus. Qual é a utilidade de fixar a atenção entre as sobrancelhas? O objetivo de tal conselho é ajudar a mente a se concentrar. É um método poderoso de controlar a mente e evitar sua disperção.

R.: Você deve considerar-se o sujeito, o observador; assim, o ponto no qual você fixa a sua atenção se torna o objeto visto. Isto é apenas bhavana. Quando, ao contrário, você vê o próprio observador, você mergulha no Eu Real e torna-se um com ele – isso é o Coração.

Questão: Não é útil fazer um voto de silêncio?

R.: Um voto é apenas um voto. Ele pode ajudar a meditação até certo ponto. Mas qual é a utilidade de meramente manter a boca fechada se você permite à sua mente mover-se desenfreadamente? Por outro lado, se a mente está envolvida na meditação qual a necessidade da fala? Nada é tão bom quanto a própria meditação. Qual é a utilidade de um voto de silêncio se a pessoa está absorta na atividade (mental)?

Questão: O que ajuda a concentração e, também, o que ajuda a superação das distrações?

R.: Fisicamente, o sistema digestivo e demais órgãos devem estar livres de irritação. Para isso a alimentação deve ser regulada em qualidade e quantidade. (...) Mentalmente, tenha interesse em apenas uma coisa e fixe sua mente nisso. Deixe esse interesse absorvêlo completamente excluindo todo o resto. Isso é desapego (vairagya) e concentração.

R.: Tudo o que se fala sobre a entrega é como roubar açúcar de uma imagem de açúcar de Ganesha e depois oferecê-lo ao mesmo Ganesha. Você diz que oferece seu corpo e alma e todas as suas posses a Deus – mas eles são seus para você poder oferecer? No máximo você pode dizer: “Eu erroneamente imaginei até agora que essas coisas, que na verdade são Vossas, eram minhas. Agora percebo que elas pertencem a Vós, e não mais agirei como se minhas fossem”. E isso é a entrega. E esse é o conhecimento de que não existe nada além de Deus (Brahman) ou Eu Real (Atman), de que “eu” e “meu” são meras ficções, e que apenas o Eu Real existe, é Jnana.

Questão: Gostaria de saber quais são os passos por meio dos quais eu posso atingir a entrega?

R.: Há dois caminhos. Um é buscar a fonte do “eu” e mergulhar nessa Fonte; o outro é sentir “eu sou impotente sozinho; apenas Deus é todo-poderoso, e a única maneira de eu estar seguro é me atirando completamente Nele”, assim desenvolvendo gradualmente a convicção de que apenas Deus existe, e de que o ego é irrelevante. Ambos os métodos levam ao mesmo objetivo. A entrega completa é apenas outro nome para Jnana ou Libertação.

R.: “Semelhante ao sono”, está correto. É o estado natural. Como você agora se identifica com o ego, você olha para o estado natural como se fosse algo que interrompesse seu trabalho ou prática. Então você deve ter essa experiência repetida até que você perceba que esse estado é seu estado natural.

Questão: Swami, como pode o domínio do ego ser afrouxado?

R.: Não se acrescentando novas vasanas (tendências mentais) a ele.

R.: O exame da natureza transitória das coisas exteriores leva ao desapego (vairagya). Assim, a investigação ou inquirição é o primeiro e mais importante passo. Quando ela se torna automática resulta em indiferença à riqueza, fama, conforto, prazeres, etc. Então o pensamento “eu” é investigado até chegar-se à fonte do “eu”, o Coração, que é a meta final.

R.: “Não se preocupe com a Libertação. Primeiro descubra se há aprisionamento. Investigue a você mesmo primeiro”.

Questão: Uma vez alcançada, pode a Auto-Realização ser perdida?

R.: A Realização leva tempo para se estabilizar. O Eu Real certamente está dentro da experiência direta de todos, mas não da forma como eles imaginam. Só se pode dizer que ele é como é. (...) Devido à flutuação das vasanas, a Realização demora a se estabilizar. A Realização súbita não é suficiente para acabar com o ciclo de renascimentos, e ela não pode se tornar permanente enquanto houver vasanas. Na presença de um grande mestre as vasanas deixam de ser ativas e a mente se torna quieta, de forma que o samadhi (absorção no Real) resulta, assim como na presença de vários meios (mágicos) o fogo não queima. Assim, na presença do mestre o discípulo ganha conhecimento verdadeiro e uma experiência correta. Mas para isso ser estabilizado é necessário um esforço adicional. Então o discípulo saberá que isso é seu verdadeiro Ser, e assim será libertado mesmo enquanto no corpo.

Questão: Esse método parece ser mais rápido que o método comum de desenvolver as virtudes postas como necessárias à Realização.

R.: Sim. Todos os erros e defeitos estão centrados no ego. Quando o ego desaparece a Realização resulta naturalmente.

R.: A paz só pode reinar quando não há perturbação, e a perturbação existe por causa dos pensamentos que surgem na mente. Quando a mente está ausente, há paz perfeita. A menos que a pessoa tenha "aniquilado" a mente, ela não pode ter paz e ser feliz. E se a própria pessoa não for feliz ela não poderá dar felicidade aos “outros”. Então, “EU-SOU” é Deus.

Questão: O que é samadhi?

R.: No yoga o termo é usado para indicar um certo tipo de transe (ou absorção meditativa), e há vários tipos de samadhi. Mas o samadhi sobre o qual estou falando é diferente; é sahaja samadhi. Nesse estado você permanece calmo e sereno durante a atividade. Você percebe que é movido pelo Eu Real dentro de você, e permanece não afetado por qualquer coisa que você faça, diga, ou pense. Nada te toca.

R.: Tanto o homem Realizado quanto o não Realizado tem sensações. A diferença é que o não realizado se identifica com o corpo que tem sensações, enquanto que o Iluminado sabe que tudo isso é o Eu Real, que tudo é Brahman (O Absoluto). Se há dor, deixe-a ser; ela também faz parte do Eu, e o Eu é perfeito.

Questão: Podemos pensar sem a mente?

R.: Os pensamentos podem continuar, assim como as outras atividades. Eles não perturbam a Consciência Suprema.

R.: Se você agarrar-se ao Eu Real, o surgimento das imagens não irá enganá-lo. Também não vai mais importar se as imagens aparecem ou desaparecem.


Ramana Maharshi fresco

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