"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, agosto 28, 2011

A Verdade do "Eu" exprimida na Arte


Masaharu Taniguchi

A Seicho-No-Ie prega sobre o Mundo do Jisso e o mundo fenomênico. O mundo fenomênico não é existência real, embora pareça existir realmente. Ele é a sombra projetada pela nossa mente, ou seja, é a materialização de nossas ondas de pensamento, de nossas vibrações mentais.

Todos os seres e todas as coisas do mundo fenomênico são produtos das ondas mentais que se propagam e se materializam no mundo exterior, tais quais imagens que surgem no vídeo da televisão. Mesmo que estejamos vendo a imagem de uma pessoa movimentando-se no vídeo da TV, o que ali está não é, em absoluto, um ser humano com sua forma imutável. O que vemos não passa dos movimentos incessantes das ondas eletromagnéticas. Do mesmo modo, este nosso corpo carnal também é produto das vibrações de ondas mentais, que estão em constante transformação.

Na verdade, nem precisamos recorrer aos termos da eletrônica para explicar a transitoriedade do corpo carnal; basta atentarmos para as células que o compõem. Se o corpo carnal aparentemente continua a existir sempre sob a mesma forma, é porque, quando morre uma célula, logo se forma uma nova para substituí-la. É um processo comparável ao aparecimento de uma imagem cinematográfica na tela: um homem que vemos na tela parece uma unidade contínua, mas é apenas uma imagem resultante da projeção, em sequência, de centenas ou milhares de imagens passadas/sobrepostas rapidamente. Em outras palavras, se a imagem de um personagem do filme move-se na tela como se estivesse viva, é porque centenas e milhares de segmentos do filme vão passando rapidamente, um após o outro. O que parece uma unidade imutável é, na verdade, uma sucessão de fragmentos transitórios.

Segundo os biólogos, ao longo de um período aproximado de oito anos, todas as células do corpo, até mesmo as do tecido ósseo, são substituídas por novas células, não permanecendo no corpo nenhuma célula velha. As células da epiderme, do tecido muscular, etc., renovam-se quase que diariamente. Mesmo neste instante que estou falando sobre isso, o sangue circula nas minhas veias e artérias, ocorre a transpiração, processa-se continuamente em meu corpo a substituição de gás carbônico pelo oxigênio, etc. Tudo isso é transformação. Nada fica; nada é imutável.

Todavia, essas transformações não são repentinas. Citemos, por exemplo, o tecido ósseo. Como já foi dito, num período de mais ou menos 8 anos, até mesmo o tecido ósseo é totalmente renovado. Obviamente, isso não significa que as células permaneçam inalteradas durante cerca de 8 anos e então, de repente, ocorra a substituição. A substituição vai ocorrendo aos poucos, lenta e incessantemente. E, como resultado disso, ao cabo de mais ou menos 8 anos, o tecido ósseo está totalmente renovado. Trata-se, pois, de uma transformação incessante. Em linguagem budista, é a “inconstância” dos seres e das coisas. Sakyamuni, tendo percebido a inconstância dos seres e das coisas deste mundo, tornou-se monge e partiu numa peregrinação, visitando os principais sacerdotes da época, em busca de um caminho para transcender a inconstância.

Nos tempos de Sakyamuni, ainda não existiam inventos como o cinema, o rádio, a televisão, etc., nem era conhecida a ciência denominada “citologia”. Portanto, ele não podia constatar fatos como o de que “por detrás da sucessão das cenas de um filme na tela do cinema, existe a ação do operador do aparelho de projeção”, ou de que “por detrás do metabolismo do corpo humano existe a ação da força vital constante e imutável que comanda tal processo”, e por essa razão, vendo as vicissitudes dessa vida, que são “o nascimento, o envelhecimento, o adoecimento e a morte”, parece que teve bastante dificuldade em despertar – e também fazer os outros despertarem – para a Verdade de que, por detrás da vida fenomênica transitória e cheia de sofrimentos, existe a Vida imutável, eterna, indestrutível.

No budismo, comumente ensinam que o “eu” não existe. Isso leva à conclusão de que se o “eu” é inexistente, logicamente o espírito (a alma) também é inexistente. Por isso, muitos pensamentos que aludem ao ensinamento de que “o eu não existe” pregam uma teoria que nega a existência da alma. Mas, lendo as escrituras budistas, constatamos diversas passagens em que Sakyamuni diz a seus discípulos que quando eles deixarem o mundo terreno renascerão em algum outro lugar. Em uma das sutras está escrito que, por ocasião da estada de Sakyamuni no jardim de Kalandaka, recebeu a visita de uma sacerdotisa chamada Sen-ni, a qual expôs suas dúvidas quanto a essa questão.

Respondendo, Sakyamuni disse: “Neste mundo, há três diferentes ideias a respeito da vida. A primeira é aquela que considera o eu manifestado no mundo presente como eu verdadeiro, e em crer que, após a morte do corpo carnal neste mundo, o eu se extingue completamente”. Essa ideia corresponde à filosofia materialista de hoje, segundo a qual a consciência do eu é resultado da ação química da matéria.

Em seguida, Sakyamuni disse: “a segunda ideia é a que considera como verdadeiros tanto o eu manifestado no mundo presente, como o eu que se transfere para o mundo espiritual após a morte do corpo carnal.” Segundo essa ideia, o eu, ao passar para o mundo espiritual, simplesmente se despoja da pesada vestimenta chamada corpo carnal; portanto, segundo essa ideia, deve-se considerar como verdadeiro o eu que vive alternadamente neste mundo e no mundo espiritual. Esse modo de pensar corresponde ao ponto de vista da ciência psíquica e da doutrina espírita dos dias atuais. É a visão dos que admitem a existência do eu no mundo espiritual, o qual, em certos casos, aparece em sessões mediúnicas e declara que está sofrendo, que se encontra num lugar escuro, que não conseguiu encontrar a salvação, etc. Em resumo, trata-se da visão da vida que admite a imortalidade do “eu fenomênico”.

Sakyamuni disse que não corroborava nenhuma das duas ideias e afirmou: “O eu que vocês pensam existir, não é existência real. O eu manifestado no mundo presente não é existência real, assim como não é existência real o eu que vai para o mundo espiritual”.

Não tendo entendido o significado dessas palavras, Sen-ni redarguiu: “Venerando, tendo ouvido a nossa explicação, minhas dúvidas aumentaram ainda mais”. Então, Sakyamuni disse-lhe: “É natural que suas dúvidas tenham aumentado. A Verdade de que o eu parece ser real não é existência real, é uma Verdade muito profunda e difícil de ser compreendida. Para compreendê-la é necessária a Sabedoria Superior que lhe permita ver o Jisso perfeito e maravilhoso”.

Há pessoas que refutam a irrealidade do “eu fenomênico” pregada pela Seicho-no-Ie, argumentando: “Se o eu fenomênico não existe realmente, a quem vocês pregam a Verdade? Penso que a religião não consiste em pregar a Verdade ao eu verdadeiro, que está salvo desde o princípio. Se se prega a Verdade, é porque existe o eu fenomênico, que não está salvo”. Realmente, é muito difícil compreender o que seja a negação do eu fenomênico, visto que ele parece existir concretamente como “eu” que está, neste momento, refletindo, duvidando, questionando...

Sen-ni também não conseguiu compreender, apesar das explicações de Sakyamuni. Então, prosseguindo, Sakyamuni procedeu a um diálogo com Sen-ni:

(1) Os aspectos do mundo fenomênico são imutáveis ou transitórios?
- São transitórios – respondeu Sen-ni.
- Os aspectos do eu fenomênico são imutáveis?
-
São transitórios, senhor.
-
Esses aspectos fenomênicos transitórios e mutáveis é que constituem o eu verdadeiro?
- Não, senhor.

(2) Então, o eu verdadeiro existe à parte do aspecto fenomênico?
- Não é assim.

(3) O eu verdadeiro existe dentro do mundo fenomênico?
- Não senhor.

(4) Então, é o mundo fenomênico que existe dentro do eu verdadeiro?
- Não senhor.

(5) Então, negando e destruindo o mundo fenomênico, surgirá o eu verdadeiro?
- Também não é assim.

Este diálogo contém os diversos conceitos do 'eu' existentes no mundo atual, que são os seguintes:

(1) Fenômeno = eu --> Conceito segundo o qual não há distinção entre o eu verdadeiro e o eu fenomênico; o eu é apenas um fenômeno físico e não há outro eu além do eu carnal; portanto, extinguindo-se o corpo carnal, o eu também se extingue. Este conceito corresponde à primeira indagação feita por Sakyamuni, em seu diálogo com Sen-ni.

(2) Corpo Carnal vs. Eu-espírito --> Conceito que admite a existência de um outro eu além do eu carnal. Segundo esta teoria, mesmo após a morte do corpo carnal, o eu continua a existir no mundo espiritual. Porém esse eu ainda é fenomênico, ou seja, eu mutável que reencarna várias vezes, sofre mudanças e continua sujeito a sofrimentos. (Portanto, é uma teoria que admite a existência do mundo espiritual além deste mundo). Este conceito corresponde à segunda pergunta feita à Sen-ni por Sakyamuni.

(3) Eu verdadeiro contido no eu fenomênico --> Conceito segundo o qual o eu verdadeiro está contido no eu fenomênico, e se considera existente o eu fenomênico tanto neste mundo como no mundo espiritual. Corresponde à terceira pergunta feita por Sakyamuni, em seu diálogo com Sen-ni.

(4) Eu fenomênico contido no Eu verdadeiro --> Conceito segundo o qual o eu verdadeiro contém elementos de ilusão, e o eu fenomênico é a sombra da ilusão projetada pelo eu verdadeiro. Corresponde à quarta questão levantada por Sakyamuni.

(5) Eu Verdadeiro --> Conceito segundo o qual existe unicamente o Jisso, o eu verdadeiro, independentemente de estar ou não manifestado o fenômeno. Está correlacionado ao quinto ponto levantado por Buda.

O conceito (1) é o conceito dos materialistas. Do ponto de vista destes, esse conceito é correto, pois, vendo o seu eu unicamente através da lente chamada “mundo fenomênico” (mundo presente), parece-lhes que não há outro eu além do eu carnal. Entretanto essa visão da vida leva o indivíduo ao pessimismo e ao desespero, já que a vida é efêmera. Também o conceito (2) não é falso quando vemos o eu com os olhos espirituais do mesmo modo que vemos este mundo com olhos carnais, pois inevitavelmente chegamos à conclusão de que o eu é um espírito que continua vivendo no mundo espiritual.

Há quem se refira ao mundo espiritual como um mundo que transcende o mundo fenomênico. De fato, se entendermos o mundo fenomênico como mundo visível aos olhos carnais, teremos que admitir que o mundo espiritual transcende o mundo fenomênico. Mas, se entendermos o mundo fenomênico como um mundo mutável, transitório e provisório – que parece existir, mas não é substancial -, temos de reconhecer que o mundo espiritual também é um mundo fenomênico. Os que admitem a existência do mundo espiritual são mais evoluídos do que os materialistas, que só admitem a existência deste mundo. Todavia, pelo fato de conhecerem apenas o eu mutável e transitório (seja neste mundo ou no mundo espiritual), tendem também à visão pessimista da vida. Essa visão compreende a ideia de que o espírito de pessoas falecidas pode “encostar” nas pessoas e atormentá-las. Tal ideia acaba levando as pessoas a verem este mundo como um lugar repleto de seres malignos que, embora invisíveis aos olhos carnais, podem, a qualquer momento, causar danos. Neste caso, no lugar da visão pessimista da vida que caracteriza o conceito (1), tem-se uma visão da vida caracterizada pelo medo.

Com o intuito de orientar e conduzir à correta visão de vida uma humanidade que, por admitir a existência do “eu fenomênico” mutável e efêmero, deixou-se levar por uma visão da vida caracterizada pelo pessimismo, medo, ceticismo, etc., surgiram os conceitos (3), (4) e (5), que reconhecem o “eu verdadeiro”.

O conceito (3) exprime a visão panteísta da vida; consiste em crer que o mundo fenomênico também é real; em alcançar a compreensão de que, se ocorrem fenômenos, é porque existe a ação de Deus por detrás disso; e, vendo a maneira ordenada com que se movimenta o mundo fenomênico, compreender que, por detrás tudo isso, existe a Sabedoria de Deus. Em suma, é a visão da vida que as escrituras budistas assim expressam: “Em todos os seres e em todas as coisas existe a natureza búdica”. Entretanto, observando o mundo fenomênico, constatamos aspectos que fazem-nos duvidar de que tudo neste mundo seja a manifestação da Sabedoria de Deus (ou da natureza búdica, na linguagem do budismo). Vemos doenças, matanças, destruições mútuas... Então surge inevitavelmente a crítica de que não se pode considerar este mundo como manifestação da Sabedoria de Deus ou natureza búdica.

Para amenizar tal crítica, surgiu o conceito (4), que exprime uma visão da vida segundo a qual mesmo a natureza divina (ou natureza búdica) não é perfeita, estando em processo gradual de evolução; portanto, mesmo a natureza divina (ou natureza búdica) – que constitui o Eu verdadeiro – traz dentro de si os germes da ilusão, e este mundo é a projeção das ilusões originadas do eu verdadeiro. Este conceito apresenta uma explicação mais racional que o conceito (3); porém, por adotar a interpretação de que mesmo a natureza divina (natureza búdica) é imperfeita e sujeita à ilusão, admite a existência de nódoas de ilusão e sofrimento na Fonte de onde nos originamos, e isso nos impede de chegar a uma visão de vida radicalmente otimista. Não se pode, portanto, alcançar a verdadeira salvação através de tal crença.

No conceito (5) temos, finalmente, a visão de vida radicalmente otimista. Ela consiste na compreensão de que existe unicamente o Eu verdadeiro, unicamente o Jisso. Não é após a extinção do mundo fenomênico que irá revelar-se finalmente o eu verdadeiro ou Jisso. O mundo fenomênico é originariamente inexistente. Portanto, não importa que se extinga ou não o mundo fenomênico, que estejam manifestados ou não no mundo fenomênico as ilusões, o envelhecimento, a enfermidade e a morte. Independentemente disso, existe aqui e agora o eu verdadeiro, o mundo do Jisso de eterna felicidade, o paraíso. Não é através do treinamento ou de artifícios que o homem se torna finalmente perfeito. Ele é perfeito desde o princípio. Como de pode perceber, não há visão de vida mais otimista do que essa.

Esta visão de vida, que consiste na conscientização de que existe unicamente o Jisso perfeito, o “eu verdadeiro”, e na compreensão de que todas as coisas e seres fenomênicos não são existências verdadeiras apesar de parecerem existir – esta é que é a visão de vida da Seicho-No-Ie. Tendo essa visão de vida, não precisamos mais fugir dos sofrimentos do mundo fenomênico, nem nos apegarmos às coisas materiais para alcançar a felicidade; o “eu fenomênico”, refletindo a perfeição do “eu-Jisso”, passa a se revelar como um ser livre, feliz e em perfeita harmonia com tudo e todos.


O MUNDO FENOMÊNICO É OBRA DE ARTE CRIADA PELA VIDA DO MUNDO DO JISSO

Se existe unicamente o Jisso, o eu verdadeiro, o eu que já é um com Deus Absoluto, e não existe o eu imperfeito do mundo fenomênico, por que está manifestado o mundo fenomênico (este mundo e o mundo espiritual) como uma etapa do progresso do eu? É que o mundo fenomênico é uma obra de arte feita pela Vida; é um mundo de sombras desenhadas e projetadas pela Vida, do mundo do Jisso. A sombra é um recurso simulado pela Vida para projetar imagens na tela de tempo e espaço. Os filmes cinematográficos são obras artísticas que consistem na projeção de sombras. Do mesmo modo, o mundo fenomênico é uma obra de arte feita pela projeção de sombras. O mundo do Jisso é o mundo completo e perfeito e, assim sendo, nele coexistem o passado, o presente e o futuro; leste, oeste, norte e sul; o céu e a terra. Isso é algo impossível de se constatar por meio do intelecto e sentidos humanos. Tudo está contido num único ponto. Aliás, na verdade, não há nenhum ponto; pode-se dizer que tudo está contido no nada. Porém, como o mundo fenomênico é o mundo da projeção de imagens (sombras) comparável à arte cinematográfica, ele requer uma tela de “espaço” e “tempo” para projeção (que corresponde à tela do cinema de “comprimento” e “largura”). Requer um curso de tempo para a manifestação em sequências de imagens (à semelhança da sequência das cenas do filme). É por isso que está manifestada a dimensão de tempo e espaço.

Os grandes artistas não se limitam a apreender em suas obras apenas as imagens projetadas na tela de tempo e espaço. Considerar reais as imagens projetadas na tela do tempo e espaço, medir com exatidão o tamanho e o peso delas e estudar as leis físicas que as regem – isso é trabalho dos cientistas. Os artistas, em vez de aceitar como real a imagem que veem diante de si, procuram captar – e expressar através de sua arte – a Vida, a Vida-Jisso que existe por detrás da imagem. Eis porque, mesmo pintando ou esculpindo rostos deformados, eles conseguem apreender e expressar a beleza da Vida-Jisso.

A obra escultural O Homem do Nariz Quebrado, de Rodin, não é bela em sua forma, mas, pelo fato de o artista ter expressado a Vida-jisso, captamos nela a beleza da Vida. Em outras palavras, pode-se dizer que Rodin, mesmo esculpindo a imagem de um homem com o nariz quebrado, na realidade esculpiu o Jisso perfeito sem a deformidade do nariz quebrado. Pode-se dizer também que um grande artista é aquele que, mesmo pintando ou esculpindo no aspecto fenomênico uma imagem que apresenta deformidade, procura exprimir o mundo do Jisso onde não existem deformidades.

Neste sentido, pode-se dizer que o artista se identifica com o religioso. Homens de ciência como os médicos, por exemplo, veriam um “nariz quebrado” simplesmente como um “nariz quebrado”. Mas os artistas conseguem transcender o aspecto fenomênico do “nariz quebrado” e ver o “nariz perfeito”. O preceito que constitui a essência da ética da Seicho-No-Ie é: Mesmo vendo o “homem fenomênico” cheio de defeitos no tocante a seu comportamento, é preciso transcender essa aparência fenomênica e ver o homem unicamente como Filho de Deus sem nenhum defeito. Assim, manifestar-se-á concretamente o homem sem defeitos. Pode-se dizer que isso é viver a vida com a atitude de um artista.

(Do livro “A Verdade da Vida, vol. 14”, pgs. 75 à 88)


quinta-feira, agosto 25, 2011

Ter fé em Deus


Joel S. Goldsmith

A mente que estava em Cristo Jesus não é algo afastado; tampouco é ela a mente de uns poucos líderes religiosos: a mente que estava em Cristo Jesus é a sua, e está pronta para se manifestar em você na medida em que se esqueça do seu ego e se torne receptivo à divina sabedoria que está em seu íntimo. Os recursos da Alma estão à porta de nossa consciência, prontos a se derramar em nós, mais do que possamos receber, mas não para satisfazer algum desejo pessoal ou egoísta. Tais falsos desejos são as pedras de tropeço do nosso desenvolvimento espiritual, e não devemos pensar em usar nossos poderes espirituais para fins pessoais ou egoístas. A canção da Alma é liberdade, alegria e eterna felicidade; a canção da Alma é amor para toda a humanidade; a canção da Alma é você.

“De sorte que haja em vós a mente que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2; 5).

Como esta Mente já é a sua Mente, você não tem nenhuma necessidade de “estar apreensivo” quanto à sua saúde, riqueza, paz ou harmonia. Relaxe no fato de que sua Mente é a Verdade, a Vida, o Princípio e a Alma de seu ser e corpo. Unicamente pelo repousar nesta consciência você estará “permitindo” que esta Mente, que é sua, seja todas as coisas para você.

Por que demoramos tanto para obter a libertação da doença, da discórdia e de outras mazelas do mundo material? Inteiramente devido à nossa inabilidade em captar a grande revelação: não há realidade na ilusão. Pusemos tanta atenção na fé em Deus como nosso benfeitor, ou na fé em algum curador ou mestre, que passamos por cima da grande verdade: a ilusão não é real — não existe matéria, pois a substância da matéria é, de fato, mental.

A palavra “fé” é pervertida quando se torna fé em alguma coisa ou alguém, mesmo em Deus. Não pode haver fé em pessoa alguma ou coisa alguma, em conceito algum ou idéia alguma. A única fé verdadeira que existe é a fé que confia em Deus para dirigir Seu universo sem qualquer ajuda do homem. Eu Sou não precisa de fé porque Eu Sou mantém a si próprio e, portanto, não precisa de ajuda.

Depositar fé em qualquer coisa externa – uma pessoa ou coisa, uma idéia ou conceito – é o mesmo que ter medo de bombas, de germes ou do tempo. Não deve haver fé em coisa alguma ou pessoa alguma, assim como não deve haver medo de coisa alguma ou de pessoa alguma. Então você pode descansar na segurança do É.

No momento em que tem fé em uma coisa ou um pensamento, em uma idéia ou um conceito, você constrói um ídolo e depois precisa curvar-se e adora-lo. Quando você fala em fé, não deve ser fé em. A princípio este tipo de fé exige um grau de coragem, porque significa que, enquanto houver quaisquer aparências negativas ou más, você precisará aprender a não temê-las e não pedir ajuda contra elas.

Quando você pede ajuda, a ajuda que está pedindo deve ser ajuda para ter a coragem de ignorar as aparências, embora você reconheça que existem aparências. Se pedir ajuda para livrar-se das aparências, você está no sonho humano. A capacidade de afastar-se do medo está em proporção direta com sua fé, uma fé sem a palavra “em”. Esta é uma idéia difícil de dar ou receber e você não pode recebê-la enquanto estiver tentando compreendê-la, porque a mente não pode apreender o intangível.

“Levante-se e resplandeça, pois sua luz raiou”. A sua luz é reconhecida como estando aqui e agora. “Lázaro (ser divino), vem para fora!” — da tumba das crenças humanas. Venha para a luz do reconhecimento de sua vida divina, aqui e agora. Liberte-se das “ataduras do túmulo” de superstição; de crenças em seidade mortal. Liberte-se da escravidão do medo e da dúvida, para realizar e experienciar a realidade da vida, Deus — que é sua vida.

“Um com Deus é maioria”. A Mente que estava em Jesus Cristo (minha Mente) chama-o para a liberdade da vida eterna, aqui e agora:

“Digo-te: levanta-te!”

Na medida em que o Eu chama a divindade de seu Ser, as algemas do pecado, do medo, da doença e da morte se rompem e caem, tornando-se o que são: nulidade!

Deixe de ser “o homem cuja respiração está em suas narinas” e seja aquilo que você é: “Eu e o Pai somos um”. Você não é um mortal e nem um ser humano. “Não terás outros deuses diante de Mim”. Reconheça apenas o Espírito como Criador, Pai — de cuja imagem e semelhança o Filho é tornado espiritual.


segunda-feira, agosto 22, 2011

Como o mal passou a existir


Allen White

"SE DEUS É TUDO QUE EXISTE, E É TUDO QUANTO A ALGO OU ALGUÉM, COMO ENTROU O MAL EM CENA?"

Caso esta dúvida lhe seja frequente, faça a si mesmo esta mesma pergunta agora, porém omitindo a palavra “como”: “Se Deus é tudo que existe, e é tudo quanto a algo ou alguém, ENTROU o mal em cena?” A Bíblia, naturalmente, procura elucidar esta questão na abertura do Gênesis.

Buscar e buscar a resposta para esta pergunta requer do buscador que ele, primeiro, acredite que realmente o mal esteja aqui. Ele não conseguirá conciliar a aparência do mal com sua crença de que DEUS É TUDO, porque ele não acredita que DEUS É TUDO. É impossível agir contrário à crença de alguém. É possível, entretanto, agir contrário ao que você gostaria de acreditar que fosse verdadeiro.

Para ter a questão respondida com algum grau de satisfação, eu lhe rogo que pergunte ao seu Eu: “Deus é tudo?” e “Existe o mal?”. É de capital importância que você retenha estas perguntas até serem elas reveladas dentro e como a sua própria Consciência. E lhe peço que abandone a ideia de que algo será revelado “a” você. Esta ideia somente serviria para atrasar a experiência da revelação. A revelação é sua própria Consciência. E mais: ela é a sua própria experiência.


sexta-feira, agosto 19, 2011

O mal é um estado hipnótico

Joel S. Goldsmith


Podem os pensamentos errôneos surgir externamente como formas de pecado, doença e morte? Não, não podem. Apenas chegam a nós como aparência ou crença que aceitamos como sendo algo existente no exterior. Uma pessoa hipnotizada para enxergar um “poodle branco” no palco iria fazer com que o cão aparecesse realmente naquele lugar? Não. Nem juntando todos os pensamentos hipnóticos do mundo poderiam eles criar aquele cão. Mostrariam unicamente uma aparência ou crença, que seria vista pela vítima da hipnose como sendo um “poodle branco”.

Pensamentos errôneos jamais criam pecado, doença e morte: unicamente objetivam a crença na forma de “quadro ilusório” semelhante àquele do “poodle” no palco, crença que pode nos levar a dizer: “Como poderei me livrar dele?” Porém, se nem ali o cão se encontra, como poderia a pessoa ficar livre dele? Não existe pecado, não existe doença e não existe morte; assim, nem todos os pensamentos errôneos do mundo seriam capazes de produzir tais coisas. A crença universal numa egoidade apartada de Deus gera esse tipo de quadro falso, que, quando vistos por nós, atribuímos a eles substância, lei e realidade, coisas que não possuem. Estes quadros errôneos são tão irreais quando o “poodle branco” visto pela pessoa hipnotizada. Lembre-se: ela não estaria vendo o “poodle”: estaria só acreditando que o estivesse vendo.

Não haveria outro modo de “remover o “poodle”, a não ser através do despertar da pessoa do hipnotismo. Como? “Um com Deus é maioria”. Se alguém da plateia, com visão espiritual, desse uma gargalhada e dissesse que não estava existindo nenhum “poodle branco” no palco para dali ser retirado, a pessoa hipnotizada despertaria do sonho. Hipnose não é poder: é uma crença num poder apartado da Vida una.

Quando nos defrontamos com alguma forma de doença, pecado, carência ou limitação, devemos rapidamente perceber: “Este quadro é um quadro hipnótico, e eu não tenho nada a fazer com ele”. Dessa forma não nos será difícil obter uma cura instantânea.

Não existe doença; existe somente um hipnotismo, somente um quadro hipnótico aparecendo como doença. A cura espiritual não emprega a Verdade para vencer o erro ou vencer algum poder maligno. “Levanta-te, toma a tua cama, e anda”. Não se trata de fazermos uso de um poder para curar doenças; o sentido é o seguinte: “Nada há para ser vencido”. O praticista de cura espiritual não desenvolve alguma técnica de utilização da Verdade para combater o erro ou tratar de doenças. O praticista, em si, é estado de consciência que sabe que Deus é a Realidade de todo Ser, e que todo o restante não passa de um estado hipnótico.


quarta-feira, agosto 17, 2011

O hipnotismo é a substância de toda desarmonia


JOEL S. GOLDSMITH

Uma das maiores descobertas desta época é a de que nossos problemas são causados por uma má-prática impessoal, universal, advinda da aceitação da crença em dois poderes. Podemos passar a reduzir a atividade desta má-prática e, por conseguinte, reduzir os nossos problemas, mediante uma diária realização da impotência da crença universal e diária lembrança de que o Espírito, a Verdade, é o único Poder operando na consciência individual.

Pessoas, coisas ou condições nunca são a fonte de nossas discórdias. Sejamos bem claros neste importante ponto. Há uma força universal, uma crença universal, um hipnotismo universal, que é a fonte de todas as discórdias que se manifestam em nossas experiências. Toda limitação, todo pecado, toda tentação e toda doença que chegam até nós, são nada mais que o efeito de uma força ou poder universal, a qual, lembre-se que, por si só não tem poder; somente tem poder pela aceitação da mente humana a ela. Se o erro fosse poder, não poderíamos dissipá-lo. No entanto, ele não é poder, exceto, para o sentido do mundo. A crença universal, é o único poder que temos que considerar ao depararmos com o pecado, a doença, a morte, a carência ou a limitação, mas esta não é poder.

Nossos estudantes não se esquecem um dia sequer de que tudo o que transpira na experiência deles é fruto de uma atividade da própria consciência; portanto, entendem ser fundamental haver uma constante lembrança de Deus como o único Poder, uma convicção de que aquele poder não está numa pessoa, ou efeito, mas unicamente na consciência invisível do indivíduo.

Diferença alguma há entre o inferno da pobreza e o da guerra, doença ou pecado. Nenhum é pior do que os outros. São formas diferentes de uma coisa única, e esta coisa única é o hipnotismo. Num homem, o hipnotismo aparece na forma de coisas ou pensamentos pecaminosos; em outro, aparece como pobreza. A forma específica não importa: tudo é hipnotismo. Afastado o hipnotismo, nada daquilo permanecerá. Há somente uma ilusão, que é o hipnotismo.

Se formos induzidos a dar “tratamento” a pessoas – tratá-las dos nervos, de alguma causa mental de doença física, de ressentimento, ódio, ciúme ou raiva, ou se formos tratá-las de câncer ou tuberculose – não estaremos sendo praticistas de cura espiritual: estaremos praticando medicina, por tratarmos de efeitos, sejam eles pecado, doença ou pobreza; e, mesmo que eliminemos um deles, dois outros efeitos surgirão em seu lugar.

Enquanto não dermos com o machado à raiz da árvore, que é o hipnotismo, não seremos libertos da consciência material ou mortal. Ao nos capacitarmos a ver através do hipnotismo, alheios a nomes de pecados, doenças ou carências, nosso paciente ou estudante irá experienciar harmonia, saúde, integridade e suficiência. Se o problema dele for com os nervos, ele se verá livre; se for de desemprego, ele se verá empregado; se for de doença, ele se sentirá saudável. Por quê? Pela habilidade do praticista em “ver através do hipnotismo” e perceber a Deus sendo o Princípio de tudo aquilo que é.

Por causa do senso mesmérico mundial, devemos regularmente trazer à consciente percepção a compreensão destes princípios revelados. Se formos negligentes com os princípios, inconscientemente estaremos aceitando os problemas da existência humana. Por outro lado, pelo consciente recordar de que Deus é o único Poder, e que inexiste poder no efeito, desmantelamos a crença ilusória em dois poderes e a atividade dela.

Muitas vezes, porém, mesmo tendo compreendido o hipnotismo atuando como sugestão ou aparência, o estudante ainda crê na existência de uma condição real a ser destruída. Nessas situações, ouvimos frases como: “Veja o que o hipnotismo está fazendo comigo!” Entretanto, o hipnotismo não é uma condição real. O hipnotismo não pode produzir água no deserto, nem cobras num vaso de flores. O hipnotismo é, em si, sem substância: sem forma, sem causa e sem efeito. Reconhecer alguma forma ou aparência de ilusão como hipnotismo, soltando-a sem lhe dar maior importância - eis a maneira correta de lidarmos com toda ilusão. Reflita sobre esta ideia de o hipnotismo ser a substância de cada forma do universo material e mortal que lhe está aparecendo. Ao ver pecado, doença, falta e limitação, lembre-se: aquilo é hipnotismo sendo-lhe apresentado sob aquele formato de mal. Mas, também ao ver as maravilhas ao seu redor, montanhas, oceanos, o sol radiante, lembre-se: estas, igualmente, são formas de hipnotismo, mas aparecendo, dessa vez, no formato de bem.

Isto não significa que deixaremos de desfrutar os bens da vida humana; antes, nós os desfrutaremos pelo que eles são – não como algo real em si ou de si mesmos, isto é, por detrás de todo bem está o Algo espiritual que deve, portanto, ser espiritualmente discernido. Nós desfrutamos as formas do bem reconhecendo-as como temporárias, não como algo a ser estocado, algo a ser enterrado em cofres, mas como algo a ser usufruído; e então, dia a dia iremos prosseguindo, deixando que o “maná” nos caia novamente.

Frente aos aspectos negativos do hipnotismo, isto é, as formas de pecado, doença, falta e limitação, o ponto mais importante a ser lembrado é o seguinte: não devemos ser iludidos no sentido de tentar reformar o mal ou as pessoas pecaminosas. Pelo contrário, devemos reconhecer imediatamente: “Oh, não! Isto é o hipnotismo, aparecendo em mais uma forma, hipnotismo que, em si e de si mesmo, não possui substância, lei, causa ou efeito de qualquer forma de realidade”.

Não faça da crença uma realidade, pensando sobre ela; não lute como se ela fosse uma realidade. Lembre-se: aquilo é ilusão. Não se trata de uma crença sua, mas da aceitação coletiva de um mito. Assim, não lute contra; não o enfrente. Sente-se tranqüilamente e volte seu pensamento ao Amor divino. Perceba que este espírito do Amor divino está agora atendendo a cada necessidade humana. Sempre que dispuser de alguns minutos, volte-se interiormente ao Cristo, o divino ideal, e sinta Sua proximidade.

Como pode haver um Deus infinito, bom, e uma doença? Tudo é feito “à imagem e semelhança de Deus”; assim, mesmo quando você olha para o que o mundo chama doença, não a está olhando mais do que estaria olhando para a água no deserto: você está vendo uma imagem, uma miragem, uma ilusão, uma aparência que não tem poder. É nessa percepção que a cura se realiza — não a negando, desviando-se dela ou tentando se elevar acima dela, mas olhando-a bem e dizendo:

“Deus fez tudo que foi feito e tudo que Deus fez é bom. Alguma coisa que Deus não fez, não foi feita. Assim, quem quer que você seja, não tem poder”.

Não pense em ilusão, pecado, doença ou outra desarmonia qualquer: apenas preencha seu pensamento com a Presença de Deus; isso fará com que a ilusão “se dissolva”.

Esta prática é que o torna um praticista de cura espiritual.


domingo, agosto 14, 2011

"O problema deste mundo, é que este mundo não tem problema"


Dárcio Dezolt

Logo que conheci os princípios da Verdade, um amigo que passava por dificuldades financeiras pedia sempre que eu fosse à casa dele explicar as “leis de suprimento”. Estava com meses de aluguel atrasado e com um semblante de preocupação constante. Eu explicava que as dificuldades vistas eram nuvens na mente, que encobriam as coisas todas já resolvidas neste próprio Universo em que estamos, o qual não é matéria, e sim o Reino de Deus. Eu costumava falar às pessoas: “O problema deste mundo, é que este mundo não tem problema! Por causa disso, a maioria vive criando-os!” Era minha forma de despertar as pessoas para a Realidade divina, aqui presente, e mostrar a elas que “seus problemas” eram puras crenças falsas da mente humana.

Este amigo, com dívidas de aluguel atrasado de sua casa simples, após muitas explicações sobre a Verdade, sobre a presença da manifestação da perfeição permanente, e das leis mentais que as tornam visíveis, em certo momento repentinamente disse-me: “Você quer dizer que, se eu praticar estes ensinamentos, não só pagarei minhas contas atrasadas de aluguel como, também, se quiser poderei comprar a mansão aqui do lado? Eu disse a ele: “Se for este o seu desejo, as leis mentais trabalharão nesta direção, se você usá-las corretamente!” E ele se decidiu por realizar este seu desejo. Meditou assiduamente para reconhecer a perfeição do Universo perfeito e completo de Deus como já presente, apesar de invisível para a mente humana, mentalizou que os recursos para a solução de seus problemas financeiros já estavam à sua disposição neste Reino da Verdade, e persistiu acreditando nisso até ver os quadros mentais se alterando, e suas crenças em carência mudando para as crenças de plenitude. Novas ideias lhe foram surgindo, novas oportunidades lhe foram aparecendo, e ele pagou as antigas contas atrasadas e continuou com suas meditações e mentalizações até comprar a mansão do lado. Havia ficado gravado na mente dele a minha frase: “O problema deste mundo, é que este mundo não tem problema”.

Ficando entusiasmado com os resultados e a veracidade dos princípios espirituais e das leis mentais, ele passou também a ensiná-los às pessoas de seus relacionamentos. Um de seus amigos, sempre ouvindo-o repetir minha frase, quando o visitava e falava de alguma dificuldade, ao se despedir, gritava de dentro do seu carro para ele: “Este mundo não tem problema! Que maravilha!” Mas falava isso em tom de deboche, como se achasse um absurdo alguém acreditar em frases desse tipo!

Tempos depois, o mesmo amigo voltou a visitá-lo, bastante humilde, para contar o que lhe tinha acontecido. Havia ido à praia e, enquanto estava boiando ns águas do mar, sem que notasse, acabou adormecendo. Quando acordou, levou tremendo susto: viu as pessoas bem distantes, na praia, enquanto ele estava em pleno alto mar! Desesperado, começou a dar braçadas para nadar e retornar, mas vinham novas ondas e o levavam mais longe ainda da praia. Nestes momentos de pavor e desespero, lembrou-se da frase: “O problema deste mundo, é que este mundo não tem problema!” Esta lembrança lhe veio com total confiança, pois, não lhe restava outra alternativa, senão acreditar! E foi quando uma forte onda “apareceu” e o levou de volta à praia.

Sua visita foi para contar este fato e, ao mesmo tempo, pedir desculpas pela forma com que os ensinamentos haviam sido por ele recebidos!

De fato, aqui e agora “em Deus vivemos, nos movemos e existimos”. E, em Deus, não há problemas! Quando ele se viu obrigado a “mudar a mente”, do problema para a inexistência dele, o “problema”, que era unicamente uma miragem ou ilusão, perdeu sua sustentação e voltou ao “nada” originário.

Muita gente passa a vida toda lendo e estudando estes ensinamentos, mas sem praticá-los, por não terem sido postos numa “situação de emergência” como a citada. Mas não precisamos de “emergências” para desprezarmos veementemente as “sugestões ilusórias” de problemas e imperfeições! Se nos resignarmos, se aceitarmos as limitações todas, mesmo estudando que são todas falsas, os estudos serão pura perda de tempo! Este mundo, corretamente discernido, é o REINO DE DEUS! Por isso, o “problema deste mundo”, de fato, é que “este mundo não tem problema”. Unicamente uma ILUSÃO se faz passar por qualquer deles!

quinta-feira, agosto 11, 2011

Estratégias da mente para evitar o Agora - 2/2

Eckhart Tolle


Onde quer que você esteja, esteja por inteiro

Você pode dar outros exemplos da inconsciência comum?

Observe quando estiver reclamando, com palavras ou pensamentos, de uma situação que envolva você – pode ser alguém que fez ou disse algo que lhe aborreceu, algo sobre a sua situação de vida, o lugar onde mora, ou até mesmo o tempo. Reclamar é sempre uma não aceitação de algo que é. Essa atitude contém invariavelmente uma carga negativa inconsciente. Quando você reclama, transforma-se em vítima. Quando fala, você está no controle. Portanto, mude a situação agindo ou falando, caso necessário ou possível, ou então fuja da situação ou mesmo aceite-a. Tudo o mais é loucura.

A inconsciência comum é sempre relacionada, de algum modo, com a negação do Agora. O Agora, naturalmente, também implica o aqui. Você está resistindo ao aqui e agora? Algumas pessoas prefeririam estar num outro lugar. O “aqui” delas nunca é suficientemente bom. Observe-se e verifique se isso acontece em sua vida. Onde quer que você esteja, esteja lá por inteiro. Se você acha insuportável o seu aqui e agora e isso lhe faz infeliz, há três opções: abandone a situação, mude-a ou aceite-a totalmente. Se você deseja ter responsabilidade sobre a sua vida, deve escolher uma dessas opções e deve fazê-lo agora. Depois, arque com as conseqüências. Sem desculpas. Sem negatividade. Sem poluição física. Mantenha limpo o seu espaço interior.

Se você tomar qualquer atitude, abandonando ou mudando a situação, livre-se primeiro da negatividade. Uma atitude originada no discernimento tem mais efeito do que uma originada na negatividade.

Uma atitude qualquer é muitas vezes melhor do que nenhuma atitude, especialmente se há muito tempo você está paralisado numa situação infeliz. Se for uma atitude errada, ao menos você aprenderá alguma coisa, caso em que deixará de ser um erro. Se você não agir, nada aprenderá. Será que o medo está evitando que você tome uma atitude? Admita o medo, observe-o, concentre-se nele, esteja totalmente presente. Isso corta a ligação entre o medo e o pensamento. Não deixe o medo nascer em sua mente. Use o poder do Agora. O medo não pode prevalecer sobre ele.

Se não há mesmo nada a fazer e você não pode mudar a situação, então aceite o aqui e agora totalmente, abandonando toda a resistência interior. O falso e infeliz eu interior, que adora sentir-se miserável, ressentido ou com pena de si mesmo, não consegue mais sobreviver. Isso se chama rendição. A rendição não é uma fraqueza. Há uma grande força nela. Somente alguém que se rendeu tem poder espiritual. Através da rendição, você se livrará da situação internamente. É possível que você perceba uma mudança na situação sem que tenham sido necessários maiores esforços da sua parte. De qualquer forma, você está livre.

Ou haverá algo que você “deveria” estar fazendo mas não está? Levante-se e faça agora. Ou, em vez disso, aceite totalmente a sua inatividade, preguiça ou passividade neste momento, se esta é a sua escolha. Mergulhe nela por inteiro. Desfrute-a. Seja tão preguiçoso ou inativo quanto puder. Se você fizer isso conscientemente, logo sairá dela. Ou talvez não. Em qualquer dos casos, não há nenhum conflito interior, nenhuma resistência, nenhuma negatividade.

Você está sofrendo de estresse? Pensa tanto no futuro que o presente está reduzido a um meio para chegar lá? O estresse é causado pelo estar “aqui” embora se deseje estar “lá”, ou por se estar no presente desejando estar no futuro. É uma divisão que corta a pessoa por dentro. Criar e viver com essa divisão é insano. O fato de que todas as pessoas estão agindo assim não torna ninguém menos insano. Se você não pode fugir disso, tem de se movimentar rápido, trabalhar rápido, ou até mesmo correr, sem se projetar no futuro e sem resistir ao presente. Quando se movimentar, trabalhar e correr, faça tudo por inteiro. Desfrute o fluxo de energia, a alta energia desse momento. Agora não há mais estresse, não há mais divisão por dois, apenas o movimento, a corrida, o trabalho. Desfrute essas atitudes. Ou você também pode abandonar tudo e se sentar num banco do parque. Mas, ao fazê-lo, observe a sua mente. Pode ser que ela diga: “Você devia estar trabalhando. Está perdendo o seu tempo”. Observe a mente. Sorria para ela.

O passado toma uma grande parte da sua atenção? Você freqüentemente fala e pensa sobre ele, tanto de forma positiva quanto negativa? As grandes coisas que você conquistou, suas experiências e aventuras, ou as coisas horrorosas que lhe aconteceram, ou talvez que você fez a alguém? Será que seus pensamentos estão gerando culpa, orgulho, ressentimento, raiva, arrependimento ou autopiedade? Então, você está não só dando mais força ao falso eu interior, como também ajudando a acelerar o processo de envelhecimento do seu corpo através da criação de um acúmulo de passado na sua psique. Constate isso observando à sua volta aquelas pessoas que têm uma forte tendência para se apegar ao passado.

Morra para o passado a cada instante. Você não precisa dele. Refira-se a ele apenas quando totalmente relevante para o presente. Sinta o poder do momento presente e a plenitude do Ser. Sinta a sua presença.

Você tem preocupações? Tem muitos pensamentos do tipo “e se”? Você está identificado com a mente, que está se projetando num futuro imaginário e criando o medo. Não há como enfrentar tal tipo de situação, porque ela não existe. É um fantasma mental. Você pode parar com essa insanidade que corrói a saúde e a vida aceitando simplesmente o momento presente. Perceba a sua respiração. Sinta o ar entrando e saindo do seu corpo. Sinta o seu campo interno de energia. Tudo com o que você sempre teve que lidar, tudo que teve de enfrentar na vida real, em oposição às projeções imaginárias da mente, é o momento presente. Pergunte-se qual é o seu problema neste exato momento, não no ano que vem, ou amanhã ou daqui a cinco minutos. O que está errado neste exato momento? Você pode sempre enfrentar o Agora, mas não pode jamais enfrentar o futuro, nem tem de fazer isso. A resposta, a força, a atitude certa estarão à sua disposição quando você precisar, nem antes, nem depois.

“Algum dia vou fazer isso”. Seu objetivo está tomando de tal modo a sua atenção que o momento presente é apenas um meio para atingir um fim? Está consumindo a alegria das coisas que você faz? Você está esperando para começar a viver? Se você desenvolver esse tipo de padrão mental, não importa o que você adquira ou alcance, o presente nunca será bom o bastante. O futuro sempre parecerá melhor. Uma receita perfeita para uma insatisfação permanente, você não acha?

Você está sempre “esperando” alguma coisa? Quanto tempo da sua vida você passou esperando? Chamo “espera de pequena escala” à espera na fila do correio, num engarrafamento de automóveis, no aeroporto, por alguém que vai chegar, um trabalho que precisa ser terminado, etc. Chamo de “espera em grande escala” à espera pelas próximas férias, por um emprego melhor, pelos filhos crescerem, por uma relação verdadeiramente significativa, pelo sucesso, para ficar rico, para ser importante, para se tornar iluminado. Não é raro que as pessoas passem a vida toda esperando para começar a viver.

Esperar é um estado mental. Significa basicamente desejar o futuro e não querer o presente. Você não quer o que conseguiu e deseja aquilo que não conseguiu. Em qualquer dos tipos de espera você, inconscientemente, cria um conflito interior entre o seu aqui e agora, onde você não quer estar, e o futuro projetado, onde você quer estar. Essa situação reduz grandemente a qualidade da sua vida ao fazer você perder o presente.

Não há nada de errado em nos empenharmos para melhorar a nossa situação de vida. Podemos melhorar a situação da nossa vida, mas não podemos melhorar a nossa vida. A vida é básica.

A vida é o Ser interior mais profundo. É um todo, completo, perfeito. A nossa situação de vida se constitui das nossas circunstâncias e experiências. Não há nada de errado em estabelecermos metas e nos empenharmos para conseguir bens. O erro reside em usar isso como um substituto para o sentimento da vida, para o Ser. O único ponto de acesso a isso é o Agora. Agimos, assim, como um arquiteto que não dá atenção às fundações de uma construção, mas que gasta um bom tempo trabalhando na superestrutura.

Por exemplo. Muitos de nós estamos à espera da prosperidade. Ela pode não acontecer no futuro. Quando respeitamos, admitimos e aceitamos completamente a realidade do presente – onde estamos, quem somos, o que estamos fazendo agora –, quando aceitamos o que temos, significa que estamos agradecidos pelo que conseguimos, pelo que é, pelo Ser. A gratidão pelo momento presente e pela plenitude da vida atual é a verdadeira prosperidade. Não está no futuro. Então, no tempo certo, essa prosperidade se manifesta para nós de várias maneiras.

Se você não encontra satisfação nas coisas que possui, se tem um sentimento de frustração ou de aborrecimento por não ter tudo o que quer no presente, isso pode levá-lo a querer enriquecer, mas, mesmo que consiga milhões, continuará a ter uma sensação de que falta alguma coisa. Talvez o dinheiro lhe compre muitas experiências excitantes, embora passageiras, deixando sempre uma sensação de vazio e estimulando uma necessidade de gratificação física ou psicológica ainda maior. Você não vai se conformar em simplesmente Ser e, assim, sentir a plenitude da vida agora – a verdadeira prosperidade.

Portanto, desista da espera como um estado da mente. Quando você se vir escorregando para a espera... pule fora. Venha para o momento presente. Apenas seja e aprecie ser. Quando estamos presentes, nunca precisamos esperar por nada. Portanto, da próxima vez que alguém disser “desculpe por ter feito você esperar”, sua resposta pode ser: “Está tudo bem, não estava esperando. Estava aqui contente comigo, com meu eu interior”.

Essas são apenas algumas das estratégias comuns da mente para negar o momento presente já incorporadas à inconsciência comum. São fáceis de passar despercebidas porque já estão entranhadas em nosso modo de vida, como o ruído de fundo do nosso eterno descontentamento. Mas, quanto mais você praticar o monitoramento do seu estado interior emocional e mental, mais fácil será perceber em que momento você foi capturado pelo passado e pelo futuro, bem como despertar da ilusão do tempo dentro do presente. Mas tenha cuidado porque o eu interior falso e infeliz, baseado na identificação com a mente, vive no tempo. Ele sabe que o presente significa sua própria morte e sente-se ameaçado. Fará tudo para afastar você do Agora. Tentará manter você preso ao tempo.


O propósito interno da nossa jornada de vida

Posso perceber a verdade do que você está dizendo, mas ainda acho que devíamos ter um propósito em nossa jornada, do contrário, ficamos sem rumo. Propósito significa futuro, não significa? Como conciliar isso com o viver no presente?

Ao partir numa jornada, é claro que ajuda muito sabermos para onde vamos ou, ao menos, a direção geral que estamos tomando. Entretanto, não podemos esquecer de que a única coisa real sobre a nossa jornada é o passo que estamos dando neste exato momento. Isso é tudo o que existe.

Nossa jornada de vida tem um propósito externo e um interno. O propósito externo é o de alcançarmos o objetivo ou destino, realizarmos o que estabelecemos cumprir, adquirirmos uma coisa ou outra, o que, é claro, envolve o futuro. Mas, se o destino ou os passos que vamos dar no futuro tomam tanto nossa atenção que se tornam mais importantes do que o passo que estamos dando agora, significa que perdemos completamente o propósito interno da vida, que não tem nada a ver com aonde estamos indo ou com o que estamos fazendo, mas tudo a ver com o de que modo. Esse propósito interno não está relacionado com o futuro e sim com a qualidade da nossa consciência no momento presente. O propósito externo pertence à dimensão horizontal de tempo e espaço enquanto o interno diz respeito ao aprofundamento do Ser na dimensão vertical do eterno Agora. Nossa jornada externa pode conter um milhão de passos enquanto a jornada interna só tem um, que é o passo que estamos dando neste exato momento. Quando tomamos maior consciência desse passo, percebemos que ele já contém dentro de si todos os outros passos, assim como o nosso destino. Esse único passo se vê transformado em uma expressão da perfeição, um ato de grande beleza e qualidade. Ele terá nos levado para dentro do Ser e a luz do Ser brilhará através dele. Este é tanto o propósito quanto à realização da nossa jornada interior: a jornada para dentro de nós mesmos.

Faz diferença se alcançamos nosso propósito externo, se somos bem-sucedidos ou se fracassamos?

Faz diferença se você não tiver alcançado seu propósito interno. Depois disso, o propósito externo é só um jogo que você pode apreciar e querer continuar jogando. Pode acontecer também de você falhar em seu propósito externo e, ao mesmo tempo, ter pleno sucesso em seu propósito interno. Ou de outra forma até mais comum, pode obter riqueza externa e pobreza interna, ou “ganhar o mundo e perder a alma”, nas palavras de Jesus. Claro que, no fim, cada propósito externo está condenado a “fracassar” mais cedo ou mais tarde, simplesmente porque está sujeito à lei da não permanência de todas as coisas. Quanto mais cedo você perceber que o propósito externo não pode lhe proporcionar uma satisfação duradoura, melhor. Depois de ter constatado as limitações do seu propósito externo, você desiste da expectativa irreal de que ele deveria fazer a sua felicidade e torna-o subserviente ao seu propósito interno.


O passado não consegue sobreviver diante da presença

Você disse que pensar ou falar sobre o passado é um dos caminhos pelos quais evitamos o presente. Mas, além do passado do qual nos lembramos e com que talvez nos identifiquemos, não existe um outro nível de passado dentro de nós mais enraizado? Falo sobre o passado inconsciente, que condiciona nossas vidas, em especial as experiências dos primeiros anos da infância, até mesmo as experiências de vida passada. Existem também os condicionamentos culturais, tão relacionados ao lugar e ao período histórico em que vivemos. Todas essas coisas determinam o modo como vemos o mundo, o que pensamos, que tipo de relacionamentos mantemos, como vivemos. Como poderíamos nos livrar disso tudo? Quanto tempo isso levaria? E se conseguíssemos, o que restaria?

O que resta quando terminam as ilusões? Não há necessidade de investigar o nosso passado inconsciente, exceto à medida que ele for se manifestando no presente, na forma de um pensamento, de uma emoção, de um desejo, de uma reação ou de algo externo que nos aconteça. Uma eventual curiosidade quanto ao passado inconsciente poderá ser satisfeita através dos desafios do presente. Quanto mais penetramos no passado, mais ele se torna um buraco sem fundo. Haverá sempre alguma coisa a mais. Você pode pensar que precisa de mais tempo para entender o passado ou se livrar dele ou, em outras palavras, que o futuro irá finalmente livrá-lo do passado. Isso é ilusão. Só o presente pode nos livrar do passado. Uma quantidade maior de tempo não consegue nos livrar do tempo. Acesse o poder do Agora. Essa é a chave.

O que é o poder do Agora?

Nada mais do que o poder da sua presença, da sua consciência libertada das formas de pensamento.

Portanto, lide com o passado no nível do presente. Quanto mais atenção você der ao passado, mais energia estará dando a ele e mais probabilidades terá de construir um eu interior baseado nele. Não confunda as coisas. A atenção é essencial, mas não em relação ao passado como passado. Dê atenção ao presente. Dê atenção ao seu comportamento, às suas reações, seu humor, seus pensamentos, suas emoções, medos e desejos, da forma como eles acontecem no presente. Ali está o seu passado. Se você consegue estar presente o bastante para observar todas essas coisas, não de modo crítico ou analítico, mas sem julgamentos, significa que você está lidando com o passado e dissolvendo-o através do poder da sua presença. Não é procurando no passado que você vai se encontrar. Você vai se encontrar estando no presente.

O passado não pode ser útil para nos ajudar a compreender por que fazemos certas coisas, reagimos de determinadas maneiras, ou por que, inconscientemente, criamos nossos dramas particulares?

Quando ficamos mais conscientes do presente, podemos ter um insight sobre o porquê de determinados condicionamentos. Podemos perceber, por exemplo, se seguimos algum padrão nos nossos relacionamentos e podemos ver mais claramente coisas que aconteceram no passado. Fazer isso é bom e pode ser útil, mas não é essencial. O que é essencial é a nossa presença consciente. Ela dissolve o passado. Ela é o agente transformador. Portanto, não procure entender o passado, mas esteja presente tanto quanto conseguir. O passado não consegue sobreviver diante da sua presença, só na sua ausência.


terça-feira, agosto 09, 2011

Estratégias da mente para evitar o Agora - 1/2

Eckhart Tolle

A perda do agora: a ilusão central

Mesmo que eu aceite que o tempo é uma ilusão, que diferença isso fará na minha vida? Tenho que continuar a viver em um mundo absolutamente dominado pelo tempo.

O entendimento intelectual é apenas mais uma crença e não vai fazer muita diferença para a nossa vida. Para perceber essa verdade temos que vivenciá-la. Quando cada célula do nosso corpo está tão presente que vibra com a vida, e quando conseguimos sentir essa vida a cada momento como a alegria do Ser, podemos dizer que estamos livres do tempo.

Mas ainda tenho de pagar as contas e sei que vou envelhecer e morrer, exatamente como todas as pessoas. Como posso dizer que estou livre do tempo?

As contas de amanhã não são um problema. A degeneração do corpo não é um problema. A perda do Agora é o problema, ou melhor, a ilusão central que transforma uma situação simples, um acontecimento ou uma emoção em um problema pessoal e em sofrimento. Perder o Agora é perder o Ser.

Livrar-se do tempo é livrar-se da necessidade psicológica tanto do passado quanto do futuro. Isso representa a mais profunda transformação de consciência que você possa imaginar. Em casos muito raros, essa mudança na consciência acontece de forma drástica e radical, de uma vez por todas. Quando isso acontece, normalmente é através de uma completa rendição, em meio a um sofrimento intenso. Muitas pessoas, entretanto, têm de trabalhar para obtê-la.

Depois dos primeiros vislumbres do estado atemporal de consciência, passamos a viver em um vaivém entre a dimensão do tempo e a presença. Primeiro, você começa a perceber que a sua atenção raramente está no Agora. Entretanto, saber que você não está presente já é um grande sucesso. O simples saber já é presença – mesmo que, no início, dure só alguns segundos no tempo do relógio antes de desaparecer outra vez. Depois, com uma freqüência cada vez maior, você escolhe dirigir o foco da consciência para o momento presente. Você se torna capaz de ficar presente por períodos mais longos. Portanto, antes que sejamos capazes de nos estabelecer com firmeza no estado de presença, oscilamos, periodicamente, de um lado para o outro, entre a consciência e a inconsciência, entre o estado de presença e o estado de identificação com a mente. Perdemos o Agora várias vezes, mas retornamos a ele. Por fim, a presença se torna o estado predominante.

A maioria das pessoas nunca vivencia a presença. Ela acontece apenas de modo breve e acidental, em raras ocasiões, sem ser reconhecida pelo que é. Muitos seres humanos não se alternam entre a consciência e a inconsciência, mas somente entre diferentes níveis de inconsciência.


A inconsciência comum e a inconsciência profunda

O que você quer dizer com diferentes níveis de inconsciência?

Como você provavelmente sabe, o ser humano se desloca constantemente entre fases do sono em que sonha e que não sonha. Da mesma forma, a maioria das pessoas, quando acordada, se alterna entre a inconsciência comum e a inconsciência profunda. Chamo de inconsciência comum essa identificação com os nossos processos de pensamentos e emoções, nossas reações, desejos e aversões. É o estado normal da maioria das pessoas. Nesse estado, somos governados pela mente e não temos consciência do Ser. Não se trata de um estado de sofrimento agudo ou de infelicidade, mas de um nível baixo e contínuo de desconforto, descontentamento, enfado ou nervosismo, como uma espécie de estática ao fundo. Talvez você não perceba muito bem essa situação porque ela já faz parte da nossa vida “normal”, da mesma forma que você não percebe um barulho contínuo ao fundo, como o zumbido do ar-condicionado, até ele parar. Quando isso acontece de repente, ocorre uma sensação de alívio. Muitas pessoas usam a bebida, as drogas, o sexo, a comida, o trabalho, a televisão, ou até mesmo o ato de fazer compras como anestésicos, em uma tentativa inconsciente para acabar com esse desconforto básico. Quando isso acontece, uma atividade que poderia ser muito agradável, se feita com moderação, passa a ter um componente de compulsão ou dependência, e tudo o que se obtém sob essa influência traz uma sensação de alívio por um período extremamente curto.

A sensação de desconforto da inconsciência comum se transforma no sofrimento da inconsciência profunda, ou seja, um estado de sofrimento ou infelicidade mais agudo e mais perceptível quando as coisas “vão mal”, quando o ego é ameaçado ou quando existe um desafio maior, tal como uma perda real ou imaginária em nossa situação de vida, ou um conflito numa relação. A inconsciência profunda é uma versão ampliada da inconsciência comum, da qual difere na intensidade, mas não na espécie.

Na inconsciência comum, uma resistência habitual ou uma negação daquilo que é cria um desconforto que a maioria das pessoas aceita como algo normal. Quando essa resistência se intensifica através de algum desafio ou ameaça ao ego, faz aflorar uma negatividade intensa que se manifesta sob a forma de raiva, medo profundo, agressão, depressão, etc. A inconsciência profunda significa, com freqüência, que o sofrimento começou e que você passou a se identificar com ele. A violência física não aconteceria sem o estado de inconsciência profunda. Ela pode explodir com facilidade quando as pessoas geram um campo coletivo de energia negativa.

O melhor indicador do nível de consciência é a maneira como você lida com os desafios da vida. É através desses desafios que uma pessoa já inconsciente tende a se tornar mais profundamente inconsciente, e uma pessoa consciente a se tornar mais intensamente consciente. Podemos nos valer de um desafio para nos acordar ou para permitir que ele nos empurre para um sono ainda mais profundo. O sonho no nível da inconsciência comum se transforma, então, em pesadelo.

Se você não consegue estar presente mesmo em situações normais, como, por exemplo, quando está sozinho em uma sala, caminhando no campo ou ouvindo alguém, certamente não será capaz de permanecer consciente quando alguma coisa “vai mal”. Será dominado por uma reação, que é sempre, em última análise, alguma forma de medo, e empurrado para uma inconsciência profunda. Esses desafios são os seus testes. Só o modo como você lida com eles lhe mostrará onde você está no que se refere ao seu estado de consciência, e não a quantidade de horas que você consegue ficar sentado com os olhos fechados.

Portanto, é fundamental colocar mais consciência em sua vida durante as situações comuns, quando tudo está correndo de modo relativamente tranqüilo. É assim que se aumenta o poder de presença. Ele gera um campo energético de alta freqüência vibracional em você e ao seu redor. Nenhuma inconsciência, nenhuma negatividade, nenhuma discórdia ou violência pode penetrar nesse campo e sobreviver, do mesmo modo que a escuridão não consegue sobreviver na presença da luz.


O que eles estão buscando?

Carl Jung relata, em um de seus livros, uma conversa mantida com um chefe indígena norte-americano para quem a maioria das pessoas brancas tinha rostos tensos, olhos espantados e um ar cruel. O chefe disse: “Estão sempre buscando alguma coisa. O que eles estão procurando? Os brancos sempre querem alguma coisa. Estão sempre agitados e descontentes. Não sabemos o que desejam. Achamos que são loucos”.

Não há dúvidas de que a tendência a uma permanente sensação de desconforto começou muito antes do surgimento da civilização industrial ocidental, mas foi na civilização ocidental, que hoje cobre quase todo o planeta, inclusive grande parte do Leste, que ela se manifestou de uma forma aguda sem precedentes. Ela já estava presente no tempo de Jesus e também seiscentos anos antes, no tempo de Buda, e muito antes desse tempo. “Por que vocês estão sempre ansiosos?”, Jesus perguntou aos discípulos. “Será que os seus pensamentos ansiosos podem acrescentar um simples dia às vossas vidas?” Da mesma forma, Buda ensinou que a raiz do sofrimento pode ser encontrada em nossos desejos e ansiedades permanentes.

A resistência ao Agora como uma disfunção básica coletiva está intimamente ligada à perda da consciência do Ser e forma a base da nossa civilização industrial desumanizada. Freud também reconheceu a existência dessa tendência para o desconforto e escreveu sobre o assunto em seu livro O Mal-Estar na Civilização, mas não admitiu a verdadeira raiz da inquietação e falhou em perceber que é possível libertar-se dela. Essa disfunção coletiva criou uma civilização muito infeliz e extraordinariamente violenta, que se tornou uma ameaça não só para si mesma, mas para toda a vida do planeta.


Dissolvendo a inconsciência comum

Como podemos nos livrar desse desconforto?

Torne-o consciente. Observe as muitas maneiras pelas quais o desconforto, o descontentamento e a tensão surgem dentro de você, através de julgamentos desnecessários, resistência àquilo que é e negação do Agora. Qualquer coisa inconsciente se dissolve quando a luz da consciência brilha sobre ela. Se soubermos como dissolver a inconsciência comum, a luz da nossa presença irá brilhar intensamente e será muito mais fácil lidarmos com a inconsciência profunda. Mas, no início, talvez não seja muito fácil detectar a inconsciência comum porque a consideramos uma coisa normal.

Habitue-se a monitorar o seu estado mental e emocional através de uma auto-observação. “Estou me sentindo à vontade nesse momento?” é uma pergunta que você deve se fazer com freqüência. Ou pode se questionar: “O que está acontecendo dentro de mim neste exato momento?” Mantenha o mesmo nível de interesse pelo que vai tanto no seu interior quanto no exterior. Se você captar corretamente o interior, o exterior se encaixará no lugar. A realidade principal está no interior, a realidade externa é secundária. Mas não responda logo a essas questões. Direcione a sua atenção para o interior. Olhe para dentro de você. Que tipo de pensamentos a sua mente está produzindo? O que você sente? Dirija a atenção para o seu corpo. Existe alguma tensão? Quando você perceber um certo desconforto, um ruído estático ao fundo, verifique que caminhos você está usando para evitar, resistir ou negar a vida, o Agora. Existem muitos caminhos pelos quais resistimos, inconscientemente, ao momento presente. Vou dar alguns exemplos. Com a prática, o seu poder de auto-observação, de monitorar o seu estado interior, se tornará mais aguçado.


Libertando-se da infelicidade

Você não está satisfeito com as atividades que desempenha? Talvez não goste de seu trabalho ou tenha se aborrecido por ter concordado em fazer alguma coisa, embora parte de você não goste e ofereça resistência. Tem algum ressentimento oculto em relação a alguém próximo a você? Percebe que a energia que você desprende por conta disso tem efeitos tão prejudiciais que você está contaminando a si mesmo e aos que estão ao seu redor? Dê uma boa olhada dentro de você. Existe algum leve traço de ressentimento ou má vontade? Se existe, observe-o, tanto no nível mental quanto no emocional. Que tipos de pensamento a sua mente está criando em torno dessa situação? Depois, observe a sua emoção, que é a reação do corpo a esses pensamentos. Sinta a emoção. Ela lhe parece agradável ou não? É uma energia que você escolheria para ter dentro de você? Você tem escolha?

Talvez a atividade seja tediosa, ou alguém próximo a você seja desonesto, irritante ou inconsciente, mas tudo isso é irrelevante. Não faz a menor diferença se os seus pensamentos e emoções a respeito da situação tenham ou não uma justificativa. O fato é que você está resistindo ao que é. Está transformando o momento atual num inimigo. Está criando infelicidade, um conflito entre o interior e o exterior. A sua infelicidade está poluindo não só o seu próprio ser interior e daqueles à sua volta, como também a psique coletiva humana, da qual você é uma parte inseparável. A poluição do planeta é apenas um reflexo externo de uma poluição interior psíquica gerada por milhões de indivíduos inconscientes, sem a menor responsabilidade pelos espaços que trazem dentro de si.

Você pode parar de executar a tarefa que está lhe causando insatisfação, falar com a pessoa envolvida e expressar todos os seus sentimentos, ou livrar-se da negatividade que a sua mente criou em volta da situação e que não serve a nenhum propósito, exceto o de fortalecer um falso sentido do eu interior. É importante reconhecer essa inutilidade. A negatividade nunca é o melhor caminho para lidar com qualquer situação. Na verdade, na maior parte dos casos, ela nos paralisa, bloqueando qualquer mudança verdadeira. Qualquer coisa feita com uma energia negativa será contaminada por ela e dará origem a mais sofrimento. Além disso, qualquer estado interior negativo é contagioso, pois a infelicidade se espalha mais rapidamente do que uma doença física. Pela lei da ressonância, ela detona e alimenta a negatividade latente nos outros, a menos que sejam imunes, quer dizer, altamente conscientes.

Você está poluindo o mundo ou limpando a sujeira? Você é responsável pelo seu espaço interior, da mesma forma que é responsável pelo planeta. Assim no interior, assim no exterior: se os seres humanos limparem a poluição interior, deixarão então de criar a poluição externa.

Como podemos nos livrar da negatividade?

Descartando-a. Como nos livramos de um pedaço de carvão em brasa que está em nossas mãos? Como nos livramos de uma bagagem pesada e inútil que estamos carregando? Reconhecendo que não desejamos mais sofrer nem carregar peso, e deixando-os de lado.

A inconsciência profunda, como o sofrimento físico ou outro sofrimento profundo, como, por exemplo, a perda de uma pessoa amada, quase sempre necessita ser transformada através da aceitação combinada com a luz da presença, ou seja, através de uma atenção constante. Por outro lado, muitos padrões da inconsciência comum podem ser simplesmente descartados ao percebermos que não os queremos mais ou que não precisamos mais deles, que temos uma escolha e que não somos só um feixe de reflexos condicionados. Tudo isso indica que somos capazes de acessar o poder do Agora. Sem ele, não temos escolha.

Ao chamar algumas emoções de negativas, será que você não está criando uma polaridade mental de bom e mau, como mencionou anteriormente?

Não. A polaridade foi criada num estágio anterior, quando sua mente julgou o momento presente como mau. Foi esse julgamento que criou a emoção negativa.

Mas ao chamar algumas emoções de negativas, você não está querendo dizer que elas não deveriam estar ali, que não está certo ter essas emoções? Entendo que deveríamos nos permitir ter qualquer tipo de sentimento, sem julgar se ele é bom ou mau. Não há nada demais em estar com raiva, de mau humor, ou seja lá o que for, do contrário, nos sentiremos reprimidos, em conflito interior ou rejeitados. As coisas estão bem do jeito que são.

Sem dúvida. Quando um padrão mental, uma emoção ou uma reação forem observados, aceite-os. Você não está consciente o bastante para ter uma escolha em relação a esse assunto. Não se trata de um julgamento, apenas de um fato. Se você tivesse uma escolha, ou percebesse que, de fato, tem uma escolha, escolheria o sofrimento ou a alegria, o conforto ou o desconforto, a paz ou o conflito? Escolheria um pensamento ou um sentimento que separasse você do seu estado natural de bem-estar, da alegria da vida interior? Chamo de negativo a qualquer sentimento dessa natureza, o que significa simplesmente mau. Não no sentido de “você não deveria ter feito isso”, mas simplesmente o mau no sentido concreto, como sentir dor de estômago. Como é possível que os seres humanos tenham assassinado mais de 100 milhões de seus semelhantes apenas no século vinte? Pessoas infligindo um sofrimento de tal magnitude umas às outras está além de qualquer coisa que você possa imaginar. E isso sem considerar a violência física, mental e emocional, a tortura, o sofrimento e a crueldade que os homens continuam a infligir uns aos outros, bem como a outros seres vivos.

Será que agem assim em seu estado natural, em contato com a alegria da vida dentro deles? Claro que não. Somente aqueles que vivem num estado profundamente negativo, que se sentem de fato muito mal, poderiam ver tal realidade como um reflexo do modo como se sentem. No momento, essas pessoas estão empenhadas em destruir a natureza e o planeta que nos sustenta. Isso é inacreditável, mas é verdadeiro. O homem é uma espécie perigosamente insana e doente. Isso não é um julgamento, é um fato. É também um fato que a sanidade está lá, por baixo da loucura. A cura e a redenção estão disponíveis neste exato momento.

É verdade que, quando aceita seu ressentimento, o mau humor, a raiva, etc., você não sente mais necessidade de manifestá-los de maneira cega e tem menos chance de projetá-los sobre os outros. Mas eu me pergunto se você não está se iludindo. Quando uma pessoa vem praticando a aceitação por um tempo, como é o seu caso, chega um ponto em que precisa passar para o estágio seguinte, onde essas emoções negativas não são mais criadas. Se você não passa, a “aceitação” se torna apenas um rótulo mental que permite ao seu ego continuar a ser tolerante com a tristeza e, dessa forma, fortalecer o sentimento de separação das outras pessoas, do seu ambiente, do seu aqui e agora. Como você bem sabe, a separação é a base do sentido de identidade do ego. A aceitação verdadeira poderia transformar tudo de uma vez por todas. E se sabe, bem lá no fundo, que tudo “está bem” como você diz, será que esses pensamentos negativos viriam em primeiro lugar? Se não houver julgamento nem resistência ao que é, eles nem surgiriam. A sua mente diz que “tudo está bem”, mas no fundo você não acredita nisso, e assim os velhos padrões de resistência mental e emocional ainda estão ali. É isso o que nos faz mal.

Isso também não tem importância.

Você está defendendo o seu direito de ser inconsciente, o seu desejo de sofrer? Não se preocupe, pois ninguém vai lhe tirar esse direito. Ao perceber que um determinado tipo de alimento lhe faz mal, você continuaria a comer aquele alimento e insistiria em afirmar que não se importa em passar mal?

domingo, agosto 07, 2011

Mente vazia, mente tranquila

Monja Coen


Alguns dizem que é preciso esvaziar a mente. Eu pergunto: como esvaziar o que já está vazio?

Há uma história Zen muito interessante. Certo dia um jovem aspirante pediu ao Mestre Zen que aquietasse sua mente. O Mestre disse:

- “Traga sua mente aqui, entregue-a a mim e eu a aquietarei.”

O jovem saiu procurando pela mente. Onde estaria? Seria pensamentos, memórias? Seria silëncios e quietude? Seria sonhos e pesadelos? Seria feita de palavras, conceitos? Seria apenas a massa encefálica, a matéria? O jovem pensava e não pensava. Cada vez que acreditava ter apanhado a mente, percebia que ela fugia, que já estava em outro pensamento, em outra idéia. Que o próprio conceito se desfazia. Cansado, voltou a procurar o Mestre e disse:

- “Senhor, é impossível apanhar a mente.”

O Mestre disse com alegria:

- “Pois então, já está aquietada.”

O jovem se reverenciou em profunda gratidão, pois pela primeira vez compreendia que a mente não é algo fixo e constante, mas flui com o fluir da vida, sem que possa jamais se fixar quer em inquietude ou em silêncio, quer em alegria ou tristeza, quer em iluminação ou delusão.

Outra história do século VII na China foi a seguinte: o abade de um grande mosteiro pediu a seus monges que fizessem um poema no qual expressassem sua compreensão dos ensinamentos de Buda. O Chefe dos Monges, muito querido e respeitado pelos seus mais de mil companheiros, escreveu solenemente:

“O corpo é a árvore Bodhi. A mente é como um espelho brilhante. Cuide para mante-la sempre limpa. Não permitindo que o pó se assente”

Um jovem semi-alfabetizado, que ajudava separando a palha do arroz viu o poema na parede, pediu que alguém o lessse e exclamou:

- “Não é isso”

E pediu a um monge letrado que escrevesse seu poema:

“O corpo não é a árvore Bodhi. A mente não é como um espelho brilhante. Se não há nada desde o princípio. Onde o pó se assenta?”

Este segundo poema reflete a essência dos ensinamentos do Sexto Ancestral da China, o Venerável Mestre Hui-neng e do Zen.

A prática da meditação do Zazen não é para polir o espírito, não é para limpar a mente, não é para esvaziar nada. É tornar-se uno com nossa essência verdadeira, com aquele Eu imenso que contem todos os sentimentos, emoções, percepções, formações mentais, consciência e a forma física.

Retornar à verdade e ao caminho é retornar à vida. Assim falamos em renascer. Deixar morrer idéias abstratas e fantasiosas sobre estar separado do tudo e dos outros e perceber a sabedoria suprema presente em todos os seres, vivenciá-la, tornar-se uno com todos os Budas e Ancestrais do Darma.

Basta perceber que nada é fixo, nada permanente – isto é o vazio. A mente vazia é aberta e flexível. Chora e ri. Pensa e não pensa. Não precisa ser esvaziada – já é vazia. Sendo vazia é clara e iluminada, em constante atividade e transformação.

Apenas escolha com o que alimentá-la. Você mesma(o) é o programa e o programador, o computador e seus acessórios. Cuide-se bem.

Doshin, o mestre zen considerado o Quarto Ancestral da China, disse:


“Todos os ensinamentos de Buda estão centrados na Mente, de onde incomensuráveis tesouros surgem. Todas as faculdades sobrenaturais e suas transformações reveladas na disciplina, meditação e sabedoria são suficientemente contidas em sua própria mente e nunca saem dela. Todos os obstáculos em obter-se bodhi surgem das paixões que geram carma e são originalmente não-existentes. Cada causa e cada efeito é apenas um sonho. Não há mundo triplo a abandonar nem nada a ser procurado. A realidade interna e a aparência externa do ser humano e das mil coisas são idênticas. O Grande Caminho é ilimitado e transcende a forma. Livre de pensamento e de ansiedade. Agora você entendeu o ensinamento de Buda. Não há nada faltando em você e você não é diferente de Buda. Não há outra maneira de obter o estado de Buda além de permitir sua mente ser livre em si mesma. Não contemple nem tente purificar sua mente. Deixe que não haja apego nem aversão, ansiedade nem medo. Esteja completamente aberta e absolutamente livre de todas as condições. Esteja livre para ir em qualquer direção que queira. Não aja para fazer o bem, nem procure o mal. Quer ande ou fique, sente ou deite, e seja o que for que aconteça a você, tudo são as maravilhosas atividades do Grande Iluminado. Tudo é alegria, livre de ansiedade – isto é chamado Buda.”


É preciso entender que estamos falando do ponto de vista do absoluto, de quem percebeu e se tornou o próprio corpo de Buda, que são em si os Preceitos, a Disciplina, a Meditaçao e a Sabedoria. Alguns podem interpretar erroneamente que fazer qualquer coisa é ação iluminada. Só se é Buda quando há a verdadeira compreensão do Caminho, que é tornar-se o Caminho de Sabedoria e Compaixão.

Não é ser bonzinho, nem querer ser mau. É tornar-se o próprio Bem.

Mente vazia e livre, clara e ativa em tranqüilidade, tranqüila em atividade.

Mãos em prece.

Possam todos os seres se beneficiar.



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*Nota: Bodhi - do Sânscrito, iluminação
Visitem: www.monjacoen.com.br

quinta-feira, agosto 04, 2011

Não existe crescimento espiritual




"Destrua o desejo de crescimento"...

Parece absurdo, pois se você destruir todo o desejo de crescimento, que necessidade haverá então de crescer para o divino? Como alguém poderá então alcançar a verdade, tornar-se iluminado? De que servirá a meditação e todo este rebuliço? Precisamos mergulhar profundamente neste sutra.

Destrua o desejo de crescimento. Há dois tipos de crescimento. Um, a respeito do qual você pode fazer algo; e outro, a respeito do qual você nada pode fazer. Para um, seu esforço é necessário; para o outro, a ausência de esforço é necessária. O crescimento espiritual é do segundo tipo. Seu esforço não será de nenhuma ajuda; apenas criará barreiras. Você nada pode fazer quanto ao crescimento espiritual. A única coisa que você pode fazer é entregar-­se, e isso é um não-fazer.

Você pode apenas fazer uma coisa: permitir que o divino aja em seu interior. Pode simplesmente cooperar; isso é tudo. Pode simplemente flutuar, não é necessário nadar - um profundo deixar acontecer. É este o significado de "Destrua o desejo de crescimento..."

Cresça como cresce a flor, inconscientemente, mas ansio­samente desejosa de abrir sua alma ao ar. Assim você também deve compelir sua alma para se abrir ao eterno. Mas é necessário que seja o eterno! Deve ser o eterno quem induz sua força e beleza a se expandirem, não o desejo de crescimento. Pois, no pri­meiro caso, você se desenvolve na exuberância da pureza, e no outro, você se torna insensível pela paixão impetuosa pelo desenvolvimento pessoal. Repetirei: deve ser o eterno quem induz sua força e beleza a se expandirem, não o desejo de crescimento - porque todo desejo é um obstáculo, até mesmo o desejo de alcançar o divino; todo desejo é uma escravidão, mesmo o desejo de ser libertado. O desejo, como tal, é o problema; portanto você não pode desejar o divino. Isso é contra­ditório. Você só pode desejar o mundo, não pode desejar o divino; porque o desejo é o mundo, o desejo é samsara. Você não pode desejar moksha.

Quando você está num estado de não-desejo, moksha acontece a você; quando você está num estado de ausência de desejo, a liberação acontece a você, o divino acontece a você. Permita que o divino gere tudo o que está oculto em você. Não busque o crescimento. Entregue-se, para que o crescimento aconteça. O crescimento ocorrerá, mas não através de seu esforço, e sim, de sua própria graça. Virá por si mesmo."
- OSHO

terça-feira, agosto 02, 2011

Notícias de lá


Marcelo Ferrari


"Trago notícias de lá.
Lembra de lá?
Lá onde lá não existe?
Lá onde lá não importa?
Lá de onde nunca saímos?
Lá pra onde estamos voltando?
Lembra de lá?

Trago notícias de lá.
Lá está se preparando pra festa:
fogos sem artifício
doce de batata doce
musica das esferas.
Pode ouvi-la?

Trago notícias de lá.
Lá todos contam os dias
pro dia do nosso reencontro.
Lá bem te quer
Lá bem nos quer
Lá é só bem querer.

Trago notícias de lá.
Lá acabou a travessia.
Lá acabou o inverno.
Lá o amor transformou
ralo em chafariz.
Lá as lágrimas estão doces.
Pode senti-las?

Trago notícias de lá.
Aqui é lá batendo na porta.
Lembra de lá?
Normal estranhá-la.
Faz tempo que você
esqueceu de lá.

Trago notícias de lá.
Enfim: nós."