"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, abril 14, 2011

Vivendo a fé na vida prática - Parte 1


Masaharu Taniguchi

*Tóquio, reunião na Sede da Seicho-no-ie do dia 19 de setembro de 1934*


Taniguchi - A senhora é a sra. Mizuta? Não deve ter sido fácil a tomar a decisão de vir até aqui.

Sra. Mizuta - Vim aqui, pensando que serei salva, serei curada, assim que me encontrar com o senhor. (mantendo-se sentada, com visível esforço)

Taniguchi - Soube que a sra. sofre de reumatismo. Onde é que dói?

Sra. Mizuta - Da nuca até as costas. Sinto também muita dor na metade da cabeça. Estive nas termas de Yugawara, na esperança de me curar, mas as dores, em vez de diminuírem, tornaram-se mais intensas. Além disso, devido aos solavancos o carro, meus quadris tornaram-se bambos e já nem consigo ficar de pé.

Taniguchi - Por que pensa que os solavancos do carro provocam dores nos quadris? Vejo que a senhora ainda está convencida de que o ser humano é feito de matéria. Enquanto não abandonar esse conceito, não conseguirá a verdadeira cura. (A sra. Mizuta parece perplexa) O homem não é um ser material. Ele é um ser espiritual. Assim sendo, por mais fortes que sejam os solavancos do carro, ele não se ferirá, nem sentirá dores. Se o corpo dói, é porque a mente pensa que dói. Se a mente não conceber a sensação de dor, o corpo físico não sentirá dor, qualquer que seja o seu estado. O cadáver, sendo um corpo destituído de mente, não sente dores mesmo que seja jogado da janela de um prédio e caia no duro chão de concreto. A lei física de causa e efeito, segundo a qual o corpo fica dolorido quando sofre solavancos, quedas, etc., não se aplica ao ser humano, que na realidade é um ser espiritual. Se o corpo parece doer, é porque a mente pensa que dói. Se a mente não conceber a idéia de dor, o corpo não poderá sentir dor. A senhora criou em seu subconsciente, por seu próprio critério, certas "leis" segundo as quais "o ser humano sente dores se lhe acontecer tais e tais coisas". Assim, quando a senhora infringe essas leis criadas por sua própria mente, o seu subconsciente a castiga, fazendo-a sentir dores.

Sra. Mizuta - A camada superficial de minha mente consegue entender os ensinamentos. Mas não consigo fazer com que eles atinjam as camadas profundas do meu subconsciente. Não tenho a capacidade de assmilar a Verdade, por mim mesma. Por isso, vim hoje, na esperança de que o senhor me ajude a assimilar a verdade. Por favor, professor, ajude-me.

Taniguchi - A senhora considera-se incapaz de assimilar a Verdade por si mesma. Considera-se também destituída de valor. Está errada. Não existe a incapacidade de assimilar a Verdade. A senhora já despertou para a Verdade, entendeu? Já alcançou o despertar espiritual. As dores já se atenuaram bastante, não é?

Sra. Mizuta - Sim, acho que as dores diminuíram bastante depois que cheguei aqui. E já consigo girar um pouco o pescoço. Mas ainda não consigo girá-lo à vontade (faz uma demonstração).

Taniguchi - Não é o pescoço que não gira. A senhora é que não gira o pescoço.

Sra. Mizuta - Estou tentando girá-lo, mas ele não gira.

Taniguchi - Se o seu pescoço não gira, é porque a senhora está tolhendo a si mesma. Não há ninguém, além de nós próprios, que tolhe nossa liberdade. Suponhamos que eu hipnotize uma pessoa, ordene-lhe que feche as mãos e sugestione: "Suas mãos vão ficar fechadas, e você não mais conseguirá abrí-las, de jeito nenhum. Tente abrí-las". Com efeito, por mais que a pessoa tente abrir as mãos, não conseguirá. Não que suas mãos tenham perdido completamente as forças ou tenham ficado debilitadas. Elas continuam tendo a capacidade de se abrir, não lhes surgiu nenhum defeito. Elas não se movem, porque a pessoa hipnotizada está totalmente convencida de que não conseguirá movê-las. Mesmo que tente movê-las, mesmo que queira movê-las, não o conseguirá, enquanto estiver convencida de que não tem forças para isso. É o que ocorre com a senhora. Na verdade, a senhora já tem forças para se mover.

Não espere ser curada com o toque de minhas mãos. Quem cura sua doença é a senhora mesma. A Seicho-No-Ie não é um lugar para se curar doenças, e sim um lugar onde se ensina que as doenças não existem. Já que as doenças não existem, não há como curá-las. Na sutra budista Hannya-Shingyô está escrito: "Não existem o envelhecimento e a morte. Logo, não há como combatê-los". Posso dizer que, até agora, não curei nenhum doente. As pessoas melhoram por si mesmas. A vida sustenta-se por si mesma. A Vida tem autonomia - é isso que a Seicho-no-ie ensina. Contanto que compreenda isso, o doente consegue a cura simplesmente ouvindo ou lendo os ensinamentos.

Sra. Mizuta, a senhora já é capaz de andar. Não consegue andar simplesmente porque pensa que não é capaz. Se pensar firmemente que é capaz de andar, a senhora conseguirá andar. Vamos, venha andando até aqui. Se andar até aqui, a senhora conseguirá comprovar por si mesma que é capaz de se levantar e caminhar. Se for curada pelas mãos de outra pessoa, não conseguirá conscientizar que a Vida tem força para se sustentar por si mesma. Assim sendo, enquanto o doente contar com a força alheia para se sustentar, não se pode dizer que tenha se curado realmente. Sra. Mizuta, a senhora já é capaz de se levantar e caminhar! Vamos, venha andando até aqui. Venha, por mais penoso que seja. depois disso, a cura ocorrerá naturalmente.

Sra. Mizuta - (Com grande esforço, avança um pouco, engatinhando)

Taniguchi - (Sem tocar nela) Está vendo como é capaz de se locomover? Não é verdade que seus quadris estão bambos e que a senhora não consegue sustentar-se. Se pode engatinhar assim, é porque tanto os quadris como as juntas das pernas permitem-lhe movimentar-se. Sendo assim, não há razão para a senhora considerar-se incapaz de se levantar. Vamos, faça mais um pouquinho de esforço e tente levantar-se.

Sra. Mizuta - (Mantém-se calada.)

Taniguchi - Vamos, coragem! Tente levantar-se!

Sra. Mizuta - (Parecendo sentir-se relutante, não tenta levantar-se.) Vou tentar mais tarde na hora de ir embora.

Taniguchi - (Vira-se para os adeptos que lotam o salão, e continua a falar) O que a Seicho-no-ie prega não é nenhuma novidade. Todas as boas religiões, isto é, as que não são meras crendices, identificam-se na sua essência e, em última análise, pregam a mesma Verdade. O único ponto que diferencia a Seicho-no-ie das demais religiões é o fato de que os adeptos vivem a Verdade religiosa na prática.

(...)

Enquanto pregava essas coisas na última reunião realizada em Kobe antes da minha transferência para Tóquio, notei, entre as pessoas presentes, um senhor de cerca de 55 anos, que me ouvia com toda a atenção, parecendo vivamente impressionado com tudo o que eu dizia. Quando existem, entre os ouvintes, pessoas receptivas que se mostram atentas a cada palavra e cada frase proferidas por mim, sinto-me mais entusiasmado para falar. Assim, também naquela ocasião senti-me entusiasmado e proferi a palestra com grande fervor, como se a dirigisse especialmente para aquele ouvinte.

No dia seguinte ele foi me visitar e disse: "Devido ao reumatismo, há muito tempo vinha sentindo dificuldade em mover a mão direita, e também enrijecimento e dores do lado direito das costas. Mas, ouvindo sua palestra, senti como se cada uma de suas palavras repecurtissem em todas as células do meu corpo, e percebi que o enrijecimento e as dores estavam dimiuindo. Ao fim de sua palestra, eu estava completamente curado daquele persistente reumatismo que vinha me atormentando há tanto tempo".

Quando minhas palestras surtem efeito como nesse caso, eu me sinto realmente gratificado. Mesmo as sementes de "boas palavras" não germinam quando lançadas no "solo estéril" (coração insensível); mas quando são plantadas no "sólo fértil" (coração sensível), elas germinam, florescem e frutificam. Fico muito feliz quando encontro pessoas cujo coração é como o solo fértil.

A pessoa acima referida é uma delas. Chama-se sr. Fujio, e contou-me, resumidamente, a sua história. Há cerca de 25 anos, ele sofria de tuberculose e chegou a expelir muito sangue dos pulmões. Por essa época, teve a oportunidade de ler um romance autobiográfico de Toyohiko Kagawa, intitulado "Triunfando sobre a morte". O personagem central, um jovem chamado Ei-iti, não obstante sofrer de tuberculose, prega o Evangelho nas ruas de Motomati, em Kobe. Num dia de chuva, expele sangue dos pulmões e fica caído no chão molhado. Mesmo depois dessa ocorrência, ele não desiste e continua a pregar o Evangelho. Sua vontade férrea finalmente triunfa sobre a doença, e o jovem fica curado. Lendo esse romance, o sr. Fujio ficou profundamente comovido, e resolveu seguir o exemplo. Começou a pregar o Evangelho na favela de Shinkawa, em Kobe. Enquanto ele se empenhava em salvar os outros, esquecendo a própria enfermidade, o seu organismo foi debelando a tuberculose e acabou por se recuperar completamente. Depois disso, durante cerca de dez anos, o sr. Fujio não contraiu sequer uma doença. Mas, pelo fato de ter comprovado pessoalmente que é possível curar doenças sem recorrer a tratamentos médicos, ele começou a se interessar pela medicina popular e passou a fazer pesquisas acerca de diversos métodos de cura tais como cura pelo poder mediúnico, terapia pelo toque ou imposição das mãos, acupuntura, hervas medicinais, etc. Passou a aplicá-los nas pessoas doentes, de acordo com cada caso, e constatou serem muito eficazes. Empenhando-se em estudar medidas para combater doenças manifestadas, acabou se esquecendo de que, há 25 anos, curara-se da tuberculos transcendendo o aspecto manifestado e ignorando a enfermidade.

Há grande diferença entre "transcender a doença" e "combater a doença". O primeiro consiste em ignorar a doença, tratando-a como algo que não existe, e assim conseguir superá-la. O segundo consiste em enfrentar a doença, partindo do princípio de que ela existe realmente. Tanto os médicos como os estudiosos da medicina popular procuram combater a doença, mas a Seicho-no-ie ensina as pessoas a transcender a doença.

Voltemos ao caso do sr. Fujio. Ele, que anteriormente curara-se da tuberculose transcendendo o aspecto manifestado, passou a admitir novamente a existência de doenças, ficando com a mente presa a essa idéia e, em consequência, seu organismo foi se enfraquecendo cada vez mais. Ultimamente, ele levava consigo pelo menos três tipos de remédios para o estômago e os intestinos, sempre que ia viajar. Sofria frequentemente de problemas gástrcos, justamente por receá-los. Além disso, foi acometido pelo reumatismo, que lhe afetou o braço direito e a parte direita das costas, provocando dores e dificuldade de movimento, que muito o incomodavam e persistiam apesar dos tratamentos. Na manhã do dia em que ele foi ouvir a minha palestra em Kobe, as dores eram mais intensas do que habitualmente. Porém, enquanto ouvia a minha palestra, elas foram diminuindo e, finalmente, cessaram por completo. O sr. Fujio expressou sua grande alegria, dizendo que o efeito da apreensão da Verdade manifestara-se imediatamente em sua vida. Como podemos constatar pelo caso que acabei de narrar, é possível obter-se a cura da doença só pelo fato de ouvir uma palestra religiosa, contanto que ocorra o despertar espiritual.

A seguir, citarei o caso da sra. Morio, residente na cidade de Onoda, província de Yamaguti. Muito religiosa desde jovem, há algum tempo vinha se empenhando na busca da Verdade através da seita Shin. Procurando a paz espiritual e a iluminação, ouvia assiduamente os sermões dos mais ilustres e sábios sacerdotes. Porém, apesar dos esforços, não conseguia apreender a essência da doutrina da seita Shin, nem alcançar a paz espiritual e a iluminação. Finalmente, decidiu ir à Seicho-no-ie, em Sumiyoshi, em busca da Verdade. A sra. Morio não só sofria de uma doença gástrica crônica, como também tinha problema no útero que, segundo os médicos, requeria uma cirurgia. Mas seu único propósito era encontrar a Verdade religiosa e a paz espiritual. Por isso, foi logo dizendo: "Eu não vim em busca da cura de meus males. Vim em busca da Verdade".

Em sua permanência de alguns dias, despertou para a Verdade de que Buda se encontrava presente dentro dela; de que, sendo a natureza búdica o seu eu verdadeiro, e sendo o eu verdadeiro originariamente um com Buda, estava salva desde o princípio. Não há paz espiritual maior do que aquela proporcionada pela conscientização de que o homem está salvo desde o princípio. Três dias após ter alcançado o despertar espiritual, a sra. Morio não mais sentia o mal-estar do estômago, que era crônico; cinco dias após, não tinha mais corrimentos anormais. Desde então, ela não teve problemas nem no estômago, nem no útero, e não precisou ser operada.

Como podemos constatar, o despertar espiritual produz efeitos realmente surpreendentes tanto no corpo como na vida prática. Seja qual for a doutrina, de nada adianta saber apenas as interpretações e as teorias. Se a pessoa for budista, é preciso despertar para o fato de que Buda está presente nela, constituindo seu eu verdadeiro; se for xintoísta, é preciso despertar para o fato de que a Vida da deusa Amaterasu está dentro dela, constituindo o seu eu verdadeiro; se for cristão, é preciso despertar para o fato de que o Cristo eterno, "que existia antes que Abraão nascesse", habita o seu interior, constituindo o seu eu verdadeiro. Só então poderá ter uma fé poderosa, capaz de controlar a vida real. A fé da Seicho-no-ie é assim. A Seicho-no-ie não é uma filosofia à parte do budismo, do cristianismo ou do xintoísmo. Viver de fato os ensinamentos do budismo, do cristianismo, do xintoísmo e outras doutrinas quanto a sua essência - ou, em outras palavras, viver a nossa vida prática em conformidade com a essência dessas doutrinas - é nisso que consiste a fé da Seicho-no-ie.

Sra. Mizuta - Prof. Taniguchi, lamento mas preciso ir embora.

Dama de companhia - (Faz menção de ajudar a sra. Mizuta a levantar-se.)

Taniguchi - (Em tom de ordem) Não deve ajudá-la! (Dirigindo-se à sra. Mizuta solenemente) A senhora já consegue levantar-se sozinha. (Novamente para a dama de companhia) Não lhe dê a mão! (Dirigindo-se à sra. Mizuta) Não tente apoiar-se nos outros, pois a senhora já é capaz de se levantar com sua própria força. Para se levantar com sua própria força, pode se segurar nessa coluna. Vamos!

Sra. Mizuta - (Segura-se na coluna, finalmente consegue levantar-se. Seu corpo está tremendo)

A multidão - Oh! Ela conseguiu!

Taniguchi - Agora que conseguiu levantar-se poderá andar também. Portanto, ande! E vá até onde se encontra o seu chofer. (Em tom firme) A senhora é capaz de andar.

Sra. Mizuta - (Dá uns dois passos sem nenhuma ajuda)

Dama de Companhia - (Aproximando-se da sra. Mizuta e estende-lhe a mão.)

Taniguchi - (Em tom de advertência) Não deve ajudá-la.

Dama de companhia - (Segura levemente a mão da sra. Mizuta, mas não a está amparando) Vamos, senhora, ande!

Sra. Mizuta - (Anda até o lugar onde se encontra o chofer, e se segura no ombro dele.) Até logo, professor!

Taniguchi - Até logo, sra. Mizuta! Pode estar certa de que a partir de agora a senhora se restabelecerá rapidamente.

Cont...


(Do livro "A Verdade da vida, vol. 12", pgs. 107-123)


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