sexta-feira, maio 30, 2014

Imagem Verdadeira – Ideia Suprema – Ser Humano - 3/3

Masaharu Taniguchi


Como expliquei, chamamos de Deus à Ideia Suprema que desde o princípio está alojada no âmago do ser humano e da nação. Podemos, pois, dizer que temos visão filosófica de Deus. Falando em visão filosófica de Deus, pode parecer que Ele seja um ser racional e frio, sem sentimentos afetuosos, o que não é verdade. Embora seja, do ponto de vista filosófico, um Ser racional, Deus é também extremamente afetuoso. Podemos compreender isso efetuando uma auto-análise e refletindo sobre nós mesmos. Nós, filhos de Deus, somos seres dotados de amor e sentimento de caridade, o que significa que Deus é a Fonte desses atributos. Por outro lado, somos seres racionais que buscam o autodesenvolvimento em conformidade com as leis do Universo, analisam objetivamente a si próprios e regulam a própria conduta; nesse sentido, manifestamos o lado racional de Deus-Fonte.

Entretanto, quando se enfatiza demais o aspecto "Humanizado" de Deus, ocorre a predominância de vícios oriundos das velhas religiões, e então a doutrina adquire caráter supersticioso ou se torna um meio de "autoconsolo" para pessoas fracas e sentimentais, e acaba sendo preterida pela classe intelectual. É preciso que os religiosos preguem a Verdade em conformidade com a época. Se nos referirmos a Deus como um Ser racional, do ponto de vista filosófico, a doutrina será acolhida também pela classe intelectual. Em A Verdade da Vida, falo de Deus sob esse prisma. Deus onipresente no Universo como ideia primordial é Deus que Se manifesta como lei ou principio fundamental.

A seita religiosa Tenri-kyo enfatiza a lei divina, afirma que Deus é lei. Daí provém a denominação Tenri-kyo (Ten = Céu; ri = lei, princípio; kyo = doutrina). O cristianismo se refere a essa lei usando o termo "justiça". Em inglês, "justiça" se diz também righteousness (retidão, probidade). Deus é, pois, a Lei justa e universal que jamais pode ser distorcida. Entretanto, Ele é, ao mesmo tempo, justiça e amor. Quando se procura explicar a natureza de Deus por meio de palavras no plano fenomênico, costuma-se recorrer a conceituações abstratas, usando-se termos como justiça e amor; mas é preciso não se aferrar demais a um ou outro atributo, pois, com tal postura, acaba-se criando ideias distorcida acerca de Deus, julgando-O um ser justo mas implacável ou um ser extremamente condescendente que age à mercê do amor. Na verdade, Deus é um ser que traz em si, numa fusão harmoniosa, a justiça e o amor.

Se considerarmos Deus unicamente como lei e enfatizarmos somente a implacabilidade de Sua justiça, teremos de admitir que "para redimir cinquenta pecados, a pessoa terá de cumprir, necessariamente, cinquenta penitências", ou seja, que a pessoa estará irremediavelmente tolhida pela lei da causalidade (lei do carma). A Tenri-kyo fala muito sobre carma e prega que, para eliminá-lo, os adeptos precisam dedicar-se inteiramente ao ensinamento, inclusive oferecendo todos os bens à seita. Assim ensina porque ela enfatiza um "Deus justo e implacável" que não perdoa os cinquenta pecados se não forem redimidos com cinquenta penitências. Entretanto, Deus é Amor e com Sua misericórdia pode desviar a força implacável do carma. Por ser bondoso e generoso, se uma pessoa Lhe pedir "Senhor, não tenho forças para cumprir cinquenta penitências. Por favor, permita-me cumprir apenas dez penitências", Ele atenderá. Poderá, ainda, perdoar-lhe todos os erros e acolhê-la no sublime mundo divino onde não existe pecado de espécie alguma.

Como vimos, Deus é justiça rigorosa, mas, ao mesmo tempo, é amor que transige. Quando nos referimos a Deus como justiça ou razão, baseamo-nos num ponto de vista filosófico, racional. Entretanto, quando Se manifesta com amor, Ele tem infinita capacidade de condescender e, com Sua misericórdia, anula todo e qualquer pecado, do mesmo modo que a divindade budista Kanzeon Bosatsu (Avalokitésvara) se manifesta sob 33 formas diferentes, conforme as circunstâncias, e salva as pessoas. É com base nesta verdade que o budismo Shin prega que até mesmo indivíduos em estado de ilusão, cobertos de pecados, destituídos de piedade e misericórdia e atolados em goun (*Nota: termo budista que significa cinco vicissitudes: ocorrência de desgraças e pragas; propagação de ideias e ideologias perniciosas; exacerbação das paixões mundanais; degradação da natureza humana), serão salvos se entoarem o nenbutsu (oração budista, invocando a misericórdia de Buda-Amida).

Reverenciar Deus como Razão ou como Amor depende da mente das pessoas. O que importa é saber que, embora a razão e o amor pareçam contraditórios ou conflitantes, "flui" entre eles uma harmonia e, através deles, Deus – que não tem forma definida e pode manifestar-Se sob infinitos aspectos – atua livremente. Para expressar esse fato, uso as palavras Nagaruru fudo, que significa "flexibilidade dentro da imobilidade". Trata-se de um furyu-mongi, ou seja, uma Verdade que não se pode transmitir claramente por meio de palavras faladas ou escritas e que só pode ser compreendida por meio de transmissão direta de mente para mente. Portanto, não devemos interpretar o termo fudo simplesmente como imobilidade. Não devemos, também, fazer cogitações ou estabelecer conceitos fixos acerca de Deus baseando-nos apenas na lógica da inteligência humana. Deus, sendo um ente infinitamente livre, manifesta em Si tanto a justiça (razão) como o amor. Ele aparece sob as mais variadas formas, dependendo das pessoas. Por isso, ás vezes usamos o termo Oge-shin, que significa: "Deus, Ideia Suprema do Universo, que Se manifesta de diferentes formas conforme as pessoas". Devido a essa característica de Deus, surgiram muitas vertentes religiosas. Pode-se dizer que as divergências entre as várias doutrinas religiosas se devem a diferentes proporções de justiça (razão) e Amor de Deus consideradas por elas. 

Para salvar as pessoas, Deus manifesta-Se sob diferentes aspectos, de acordo com a época e com o povo, de modo adequado à cultura, civilização, costumes e tradições vigentes. Assim foi no passado e assim é na era atual. Para o povo judeu que viveu há dois mil anos, Deus apareceu como Jesus Cristo porque aquele povo precisava do ensinamento de Cristo. Na Índia, há dois mil e seiscentos anos, Deus manifestou-se sob a forma de Sakyamuni (Buda), porque ao povo daquele país o budismo era a doutrina mais adequada. Ao longo dos tempos, surgiram as mais variadas doutrinas e seitas religiosas, e os ensinamentos dos fundadores diferem entre si. Cada ensinamento é uma ação de Deus manifestada conforme a época, o povo e o lugar. Portanto, uma seita não deve repelir a outra, considerando-a herética. A Seicho-No-Ie, considerando as diversas religiões aparentemente antagônicas como diferentes formas de manifestação da obra de Deus, conseguiu descobrir a identidade de todas elas no que se refere à essência dos seus ensinamentos.

Deus é, ao mesmo tempo, amor e justiça. Por isso, tanto pode surgir como uma imagem misericordiosa como a de Kazeon Bosatsu, como pode aparecer com uma imagem severa que traz consigo "corda para atar" e "arma para ferir", semelhante à divindade Fudo-myô do budismo. Assim, mesmo uma sogra aparentemente malvada é, na verdade, uma manifestação de Buda e desempenha a ação de "arma cortante como a de Fudo-myô". Deus se manifesta sob diferentes aspectos, dependendo da circunstância. Nem sempre Ele Se manifesta com um aspecto severo como o de Fudo-myô que traz na mão uma arma cortante. Não devemos confundir a manifestação de Deus com a Imagem Verdadeira de Deus. Até mesmo no cristianismo, que prega o amor e o perdão de Deus, existe o episódio em que Jesus Cristo, ao chegar ao Templo de Jerusalém e deparar com comerciantes vendendo suas mercadorias e cambistas sentados às suas barracas, enfureceu-se pelo fato de estarem maculando o templo e os expulsou brandindo um chicote. Naquele momento, Deus manifestou-Se através de Jesus Cristo, usando "arma cortante" (repreensão severa). Deus é bondoso e severo, é amor e justiça, e Se manifesta sob um ou outro aspecto, dependendo da circunstância.

Porém, qualquer que seja a forma com que Deus Se manifesta, a Imagem Verdadeira dEle é o Ser Supremo que não sofre nenhuma restrição de tempo e espaço, nem é um ser transitório que desaparece, ressurge e novamente desaparece. Deus é, na verdade, a Ideia Suprema que transcende o fluxo do tempo e as manifestações no espaço. Mas, para conduzir à salvação, Ele surge neste mundo sujeito às restrições de tempo e espaço, assumindo o aspecto adequado a cada situação.

Deus-Fonte, origem de tudo, é o poder supremo que sustenta tudo quanto existe de verdade. Portanto, podemos chamá-lo de Criador. Mas não significa que Ele tenha criado este imperfeito mundo material visível aos nossos olhos. Ele é o Criador que gerou o mundo da Ideia Suprema. No capítulo 2 do Gênesis, consta que surgiu uma neblina da superfície da terra e a cobriu inteiramente, o que significa que uma névoa cobriu o mundo da Ideia, isto é, a criação original. A névoa da ilusão cobriu a Imagem Verdadeira e assim surgiu este mundo fenomênico. E nós, vivendo neste mundo, com muito esforço vislumbramos a Imagem Verdadeira através da névoa da ilusão. Assim, em nosso contato com os outros, só conseguimos enxergar muito vagamente a natureza búdica deles, ou apenas imaginar neles a natureza divina. São muitos os que parecem egoístas, imperfeitos ou tolos, havendo também os que parecem cruéis, desonestos, malignos ou libertinos. Referindo-se a essas pessoas, o eminente mestre budista Shinran disse: "Pobres mortais atormentados por ilusões e paixões mundanais". 

A minha filosofia consiste na afirmação de que tais aspectos imperfeitos são originalmente inexistentes. A nossa perfeição original não pode ser apreendida pelos cinco sentidos, pois os sentidos físicos são efêmeros e só conseguem conhecer coisas fenomênicas que, sendo, também transitórias, estão em constante mutação e, no momento em que pensamos tê-las apreendido, já estão alteradas. Nossa mente consegue ter uma rápida visão do mundo da Existência Verdadeira, homem verdadeiro e a Ideia Suprema somente por meio da intuição que surge num lampejo por entre as "névoas" que embaçam a lente mental, ou seja, pelas frestas das percepções e sensações físicas desencadeadas pelo cinco sentidos.

Por meio dessa intuição compreendemos que o ser humano é filho de Deus e, portanto, um com a infinita Vida de Deus; que este mundo, em sua essência, é reino de Deus (ou, em linguagem do budismo, "terra búdica"), e que, por trás do imperfeito mundo fenomênico, existe um mundo perfeito. Compreendemos que esse mundo perfeito é o reino de Deus (no budismo, rengezo sekai = paraíso búdico, terra pura) e que todos os seus habitantes são filhos de Deus. Através do materialismo, que vê como aspecto real as situações manifestadas no mundo material, não é possível compreender a Imagem Verdadeira do ser humano nem do Universo.

Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 35", pp. 130-136

quarta-feira, maio 28, 2014

Imagem Verdadeira – Ideia Suprema – Ser Humano - 2/3

Masaharu Taniguchi


O aspecto presente do mundo fenomênico, ou seja, o aspecto manifestado, está em constante movimento e mutação. E nós, seres humanos, esforçamo-nos para transcender a mutabilidade, a inconstância e a transitoriedade e nos aproximar gradativamente da perfeição. Todas as pessoas, mesmo aquelas que no aspecto fenomênico são perversas, têm um objetivo que desejam alcançar e se esforçam nesse sentido. Até mesmo os atos abomináveis como fraudar, roubar ou matar são manifestações do desejo de alcançar um nível de vida melhor do que aquele em que a pessoa se encontra. Portanto, mesmo as pessoas aparentemente perversas trazem no âmago de seu ser a ideia que as impele a conseguirem algo melhor. Não se trata de algo idealizado pelo seu "consciente intelectual" ou "consciente fenomênico". Naturalmente, não se pode justificar atos abomináveis como roubo ou homicídio. O que quero dizer é que tais atos são resultados da manifestação distorcida de determinadas ideias através de uma "lente mental" defeituosa, e que mesmo as pessoas aparentemente perversas trazem, no âmago de seu ser, a perfeição original.

Quando praticamos uma boa ação em nossa vida cotidiana, algo que podemos chamar de padrão divino ou Ideia Suprema que existe dentro de nós aprova essa ação e nos elogia. Por isso, sentimo-nos felizes. As sensações de felicidade e alegria provêm da satisfação que sentimos quando conseguimos manifestar um aspecto condizente com a perfeição da Imagem Verdadeira, ou seja, um aspecto em conformidade com o padrão divino. Sentir tal satisfação significa que fomos elogiados por Deus. Assim, quanto maior o grau de manifestação da Imagem Verdadeira, mais genuína será a nossa satisfação.

Como foi dito, dentro de nós habita o Ser Superior a quem chamamos Deus. Ele constitui o ideal, a norma, a consciência, e nos elogia ou critica. É um equívoco pensar que Deus esteja em algum lugar distante. Na verdade, Ele está dentro de cada um de nós. Por isso, é natural surgirem provérbios tais como: "Se eu conhecer o Caminho (Verdade) pela manhã, poderei morrer à noite sem nenhum pesar" (frase dita por Confúcio. Significa que, se conhecermos pela manhã o correto Caminho para vivermos como ser humano, não sentiremos pesar mesmo que tenhamos de morrer na noite do mesmo dia). Quando alcançamos o despertar pelo conhecimento do Caminho (Verdade que rege o Universo) e compreendemos que ele é o mesmo Caminho que existe dentro de nós mesmos, a Vida que está em nós entra em perfeita sintonia com a infinita Vida de Deus. Então, a vida fenomênica "pode acabar esta noite mesmo". Em outras palavras, passamos a não ter muito apego à vida neste mundo fenomênico. Em suma, conscientizamo-nos de que a nossa Vida é eterna e que a Vida que existe em nós é uma com a Vida de Deus, e por isso deixamos de nos preocupar com a vida e a morte do corpo carnal manifestado no plano fenomênico. 

A ocorrência de cura pela leitura de A Verdade da Vida e pelo consequente despertar espiritual é um efeito secundário. Quando nos sintonizamos com a verdade e alcançamos o elevado estado espiritual em que é possível afirmar "Posso morrer hoje mesmo", a doença se extingue rapidamente porque no mundo da Verdade não existe doença.

Como já expliquei, no âmago do ser humano existe a Ideia Suprema – a Imagem infinitamente perfeita – e essa Ideia Suprema é Deus. Pelos ideais, normas ou "padrões" que dEle provêm e se fazem presentes em todas as pessoas, compreendemos que o Deus que habita o indivíduo chamado "eu" é o mesmo que habita todas as pessoas. Se Deus habita dentro de todo ser humano, é óbvio que Ele está presente no Universo todo. Esse Deus onipresente é Deus, Fonte da Verdade. A Vida de Deus habita o interior de todas as pessoas, constituindo a Imagem Verdadeira delas. E o ideal surge como um sinal indicador para que o eu fenomênico possa se aproximar mais da Imagem Verdadeira. Assim, sentimos alegria quando conseguimos nos aproximar do nosso ideal; e, quando não conseguimos, sentimos um vago peso de consciência. Portanto, não existe castigo divino. O que julgamos ser um castigo divino é a reação da nossa própria natureza divina, que nos recrimina quando fazemos algo errado. Deus está presente em nosso interior e, segundo Suas normas, nos elogia ou nos adverte.

Em suma, Deus está dentro de nós, sob a forma de ideal perfeito e sublime. E é Ele que constitui o nosso Eu verdadeiro. Portanto, quando conseguimos viver plenamente o nosso Eu verdadeiro, não nos importamos mais com a vida e a morte do nosso corpo carnal. Nesse ponto, alcançamos a conscientização: "Se eu conhecer o Caminho (Verdade) pela manhã, poderei morrer à noite sem nenhum pesar". Quem me pede para curar-lhe a doença são pessoas que não querem morrer, ou seja, pessoas que ainda não despertaram para o seu Eu verdadeiro – o eu que é um com o Caminho do céu e da terra. Para tais pessoas, digo: "Obterá a cura se despertar para seu Eu verdadeiro". Digo também: "Abandone a ansiedade de se curar e desperte em você o pensamento sincero de viver de acordo com o Caminho". Com efeito, muitos doentes que leram A Verdade da Vida e despertaram em si o sincero desejo de viver de acordo com o Caminho realmente obtiveram a cura.

Talvez haja pessoas que pensem que ideia é algo que nós, seres humanos, elaboramos arbitrariamente na mente ou fazemos surgir por meio da imaginação. Pensam assim por que captam a "manifestação da ideia" sob um ponto de vista conceitual. Na verdade, ideia (Arquétipo perfeito que existe por trás de toda manifestação fenomênica; Mente Divina) é algo que possui existência verdadeira (essência) e que está presente em nós antes mesmo de se manifestar em nossa mente como critério, esperança, ideal, anseio, etc. Como já disse, ela está alojada desde o princípio em todos os seres vivos. E, quanto à sua expressão no plano fenomênico, ela vai evoluindo para níveis cada vez mais elevados, perfeitos, visando ao infinito, do mesmo modo que, no plano biológico, a ameba evoluiu para o ser superior, que é a espécie humana.

Explicando de modo mais simples, dentro de nós existe um padrão perfeito, máximo, e somos orientados por ele o tempo todo. Como somos filhos de Deus, nossa Imagem Verdadeira é de perfeição desde o princípio. Porém, na vida fenomênica, seguimos manifestando gradativamente a perfeição da Imagem Verdadeira.

Devemos crer em Deus, mas não pensemos que Ele seja um ser imperfeito, irascível, vingativo. Não devemos estabelecer como modelo tal imagem de Deus e manifestar tais imperfeições em nós próprios, em nosso modo de viver, procurando imitá-lo. A missão do ser humano na Terra consiste em manifestar a ideia máxima, a perfeição, que está alojada nele desde o princípio.

Em que ponto de nossa existência descobrimos essa nossa missão? Ela já se revelou no passado? Está se revelando no presente? Ou será que irá se revelar no futuro? No mundo fenomênico, onde tudo é sujeito às restrições de tempo e espaço, visualizamos essa missão no passado ou no presente e procuramos realizá-la no futuro. Mas, na verdade, essa missão está intrinsecamente ligada à ideia que existe em nós desde o princípio – à nossa Imagem Verdadeira perfeita. É a Imagem Verdadeira que impulsiona, do nosso interior, a "consciência de missão". Manifestar a ideia, que foi criada pelo verbo divino e que é o "arquétipo existente desde o princípio no mundo da Imagem Verdadeira", constitui a missão primordial do ser humano.
Cont...

Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 35", pp. 125-130

segunda-feira, maio 26, 2014

Imagem Verdadeira – Ideia Suprema – Ser Humano - 1/3

Masaharu Taniguchi


Minha filosofia propõe, em primeiro lugar, a mudança total da maneira de se encarar a natureza do ser humano; isto é, ensina que é preciso deixar de considerar o ser humano como mera matéria e passar a considerá-lo um ser espiritual. Depois de propor essa mudança total do conceito do valor humano, exorto: "Reverencie o ser humano; antes de mais nada, reverencie a si próprio". É essencial que, em primeiro lugar, ocorra a conscientização da natureza verdadeira do ser humano. Manter a ideia de que o ser humano é matéria ou corpo carnal e acreditar que esse "eu material" (ou "eu carnal") é filho de Deus, não passa de mera presunção, a qual conduz fatalmente a uma forma de "encobrimento do Eu verdadeiro" (pecado), chamada arrogância. A minha proposição "O ser humano é filho de Deus; como filhos de Deus, devemos reverenciar a nós próprios" só é completa quando precedida de outra que diz: "O ser humano não é corpo carnal".

A conscientização "Sou filho de Deus, e devo reverenciar a mim mesmo" jamais nos conduz à arrogância quando é precedida da conscientização de que "o nosso Eu verdadeiro não é este corpo carnal". Pelo contrário, quando nos conscientizamos da nossa natureza divina, tornamo-nos mais humildes porque percebemos o quanto é imperfeito o aspecto do nosso "eu carnal" em comparação ao nosso Eu verdadeiro, que é um ser espiritual. A conscientização de nossa natureza verdadeira (Eu verdadeiro) constitui a base para avaliarmos o nosso estado manifestado no plano fenomênico. Assim, é lógico que quanto maior o grau de conscientização da nossa natureza verdadeira (Eu verdadeiro), mais imperfeito parecerá o nosso atual aspecto fenomênico.

Devo ressaltar, porém, o fato de que os critérios com que as pessoas avaliam o seu aspecto fenomênico variam bastante, pois, mesmo que se conscientizem da presença de Deus em seu interior, o conceito acerca de Deus varia de pessoa para pessoa. Se alguém considera Deus como um ser que castiga os homens passar a se conscientizar da presença de Deus no seu interior, talvez comece a julgar com rigor os outros, pensando que, "sendo filho de Deus, tem a função de aplicar castigos". Mas na Seicho-No-Ie não pregamos que Deus é um Ser implacável que castiga os homens. A conscientização de que Deus habita o nosso interior – e a de que somos filhos de Deus – deve partir do correto conceito acerca de Deus.

Quem é Deus, e onde Ele está? Alguns acreditam que Deus está nos templos e nas igrejas, outros creem que Deus é a força misteriosa presente em todo o Universo; existem também pessoas que acreditam que Ele é o espírito que habita as imagens de diversas divindades, como, por exemplo, Kazeon-Bosatsu, Fugen-Bosatsu, etc.. A Seicho-No-Ie afirma que Deus está em nós e define esse Deus interior como "perfeição suprema que constitui a essência de todo ser humano". Temos dentro de nós as virtudes mais preciosas – a bondade, o amor, a generosidade, a beleza – em proporções ilimitadas. Quando conseguimos manifestar um pouco dessas virtudes infinitas, nosso coração se enche de alegria, e desejamos exteriorizá-las em grau cada vez maior.

Existe em nós o anseio pelo infinito. Ilustremos esse fato com um exemplo fácil de entender: suponhamos que uma pessoa queira ganhar 100 ienes e consiga essa quantia. Ela não se contenta com esse ganho e passa a querer 200 ienes; uma vez obtidos os 200 ienes, passa a querer mil ienes. De posse de mil ienes, passa a desejar dez mil ienes; tendo ganho 10 mil ienes, passa a sonhar com 1 milhão de ienes. A sua pretensão vai aumentando cada vez mais, de 1 milhão de ienes para 10 milhões de ienes, de 10 milhões para 100 milhões de ienes, e assim por diante. Existe dentro de nós o desejo de buscar o infinito. Por quê? Porque o infinito está dentro de nós

Dá-se o nome de ideal a um padrão de beleza, de qualidade, etc., que nosso Eu verdadeiro indica através da "lente mental", para orientar nossa consciência e nossos conceitos. Assim sendo, ideal é algo que existe no ser humano e o impulsiona a melhorar. Por exemplo, um artista plástico, no início de sua carreira – quando sua ideia do belo ainda não é suficientemente desenvolvida – almeja poder pintar tão bem quanto seu mestre. Porém, quando consegue melhorar bastante, o seu ideal estará um pouco mais elevado, fazendo-o sentir que ainda não progrediu o suficiente. Então, ele passa a ansiar por produzir obras ainda melhores. Desse modo, os ideais no nível fenomênico vão sendo concretizados um após outro, substituídos, cada vez, por um ideal mais elevado que surge do interior. Isto significa que o ideal é dirigido e aprimorado constantemente pela "Mente Primordial" que transcende o fenômeno. Essa Mente – que nos faz estabelecer metas, padrões, visando ao aprimoramento – é Deus que está presente em nós, constituindo nossa natureza divina. Como a nossa natureza divina é perfeita, por maior aprimoramento que alcancemos no mundo fenomênico, ele nunca será a manifestação plena e cabal da Mente Divina. Assim, quando satisfazemos no nível fenomênico o ideal que nos impulsionava, o nosso Eu verdadeiro compara essa realização com a perfeição da Mente Divina e constata que o aspecto fenomênico ainda é muito imperfeito. Então, sentimo-nos insatisfeitos com o aspecto manifestado e passamos a ter um ideal mais elevado.

Podemos definir esse processo mental como ação reflexa, em que a Mente Divina ilumina a mente fenomênica, indicando um ideal, e a mente fenomênica, por sua vez, procura se guiar por aquela. Quando refletimos a respeito da Imagem Verdadeira, levando em consideração essa sutil ação reflexa, compreendemos a natureza divina latente em nós.
Cont...

Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 35", pp.121-125

sexta-feira, maio 23, 2014

"Eu sou a Videira" - 2/2

Joel S. Goldsmith


No capítulo 15° de João, lemos:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo o ramo que em mim näo der fruto, ele o cortará; e todo o que der fruto, ele o limpará, para que dê ainda mais. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, como eu em vós; como o ramo de si mesmo näo pode dar fruto, se näo estiver na videira, assim também vós, se näo estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém näo estiver em mim, será lançado fora, como o ramo, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.”

Volvamos, agora, ao primeiro versículo: “Eu sou a videira VERDADEIRA, meu Pai é o agricultor” e “vós sois os ramos”. Em sua mente, visualize um tronco de árvore do qual crescem muitos ramos. Remova, agora, o tronco. Tudo o que você deixou são muitos ramos soltos e pendentes no espaço, desligados uns dos outros e de qualquer coisa, cada um com a necessidade de se manter no ar. Isto, naturalmente, é impossível e em pouco tempo cada um destes galhos terá consumido a pouca vida que estava em si e caído.

Agora, restauremos o tronco da árvore e notemos o que aconteceu aos ramos. Encontramo-los todos ligados à árvore, que está ENRAIZADA e FUNDADA NA TERRA, retirando para si umidade, substâncias minerais, luz solar e tudo o mais que é necessário para crescimento e desenvolvimento e fluí-los aos ramos.

“Eu (cristo) sou a videira verdadeira, e meu Pai é o Agricultor”. O Cristo é a videira (ou o tronco) e NÓS somos os ramos. Cada individuo parece ser um ramo sozinho, desligado, separado e à parte de qualquer outro galho, e cada um provavelmente está imaginando como pode progredir sozinho. De onde ele consegue sua vida, sabedoria e suprimento? O que o sustém? Cada um está avançando, lutando e se empenhando para conseguir, com seus próprios esforços, felicidade e salvação, como se essa luta pudesse manter e suprir-lhe a vida. E aqui as Escrituras claramente afirmam que NÓS SOMOS RAMOS LIGADOS À VIDEIRA. O Cristo é aquela videira. Portanto, apesar de invisível à percepção humana, cada galho é ligado a outro, porque somos ligados à videira. Chamamos Cristo a isso, o Espírito Invisível de Deus, ou o Filho Invisível de Deus, e cada um de nos é ligado ao outro devido a esta videira central ou tronco. Compreendemos, agora, que somos menos dependentes de nosso PRÓPRIO poder, força e sabedoria porque somos ligados a esta videira central.

Por causa desta videira, não há necessidade de vivermos afastados uns dos outros, ou de lutarmos uns contra os outros. ESTAMOS UNIDOS NA VIDEIRA; SOMOS UM EM CRISTO!

Somos um em Cristo, mas demos um passo avante e aprendamos que MEU PAI É O AGRICULTOR. Deus, a Verdade universal, a Vida universal, a Mente divina e o Amor infinito, é o Agricultor, ou o equivalente da terra na qual a árvore é enraizada e fundada. Somos ramos ligados invisivelmente à videira, que, por sua vez, é uma com Deus. “Eu e meu Pai somos um”… "o Pai está em mim, e eu nEle”. Portanto, este CRISTO INVISÍVEL, o tronco invisível da árvore ou da videira enraizada e alicerçada em Deus, RECEBE TODO O BEM PARA SI E O LANÇA PARA NÓS. Não percebe você que nosso suprimento não depende de nós, assim como o suprimento do ramo não depende si mesmo? O ramo é dependente somente do seu CONTATO com a videira, e do contato da videira com o solo, com o Agricultor, ou com o Pai.

Em nossa experiência, este princípio funciona desta maneira: como um estudante, você é um ramo, e quando você vai a um instrutor ou a um praticista, ele pode temporariamente ser a videira, quando ele sabe que, de si mesmo ele não é nada, senão uma videira. Deus, o Pai em nós, é o Agricultor, e o instrutor é um com o agricultor. Em unicidade com Deus (o agricultor), toda a verdade, força curadora e supridora FLUI DO PAI, ATRAVÉS DELE, PARA VOCÊ.

Foi com esta compreensão que o Mestre pôde alimentar e curar as multidões e, através dessa mesma compreensão, qualquer mestre ou curador pode ser o canal através do qual Deus flui para você. Isso depende de você? Não. Depende do curador ou do mestre? Não. Depende da GRAÇA DE DEUS FLUINDO ATRAVÉS DA VIDEIRA PARA OS RAMOS, e durante o tempo em que a videira permanece enraizada e alicerçada em Deus, nessa medida Ele fluirá através da videira para você.

Lembre-se de que nem sempre você precisará que um instrutor ou praticista seja sua videira. Este é somente um relacionamento temporário. O Mestre disse a seus discípulos: “… se eu não for embora, o Consolador não vira a vós…” Em outras palavras, DEPOIS que esta verdade tenha sido demonstrada pelo contato com um instrutor ou um praticista e depois que você tenha ganho sabedoria na compreensão de que a cura não veio DELE, mas simplesmente ATRAVÉS dele, do Pai interno, você está pronto para o próximo passo.

É, então, que você compreenderá o Cristo Invisível, a videira, não é necessariamente uma pessoa, nem mesmo um Jesus, mas o Cristo é a verdadeira parte invisível em MIM. Portanto, eu, como ramo, estou ligado a esta parte invisível em MIM, a qual, por sua vez, está enraizada e alicerçada em Deus. ELE é o Filho de Deus em mim. Portanto, o Cristo está no Pai, e o Pai está em mim. Essa compreensão é a Verdade curadora.

Nesse ponto você pode perguntar-se se há qualquer coisa que vossa possa fazer ou não, que possa impedir esse fluxo do Bem. Sim, há uma coisa: você pode ESQUECER que há uma videira invisível à qual está unido. Você pode ESQUECER que o Pai é o Agricultor, e que todo o bem de Deus está fluindo. Pode começar a acreditar que eu seja separado e à parte de você ou vice-versa, e que se você tirar alguma coisa de mim será beneficiado. “Eu sou a videira, vós sois os ramos; aquele que permanece em mim, e Eu nele, esse produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis”. A MENOS QUE VOCÊ RECONHEÇA SUA UNICIDADE CONSCIENTE COM A VIDA INVISÍVEL, O FILHO DE DEUS EM VOCÊ, VOCÊ NADA PODE FAZER. Você será eliminado e será um ramo consumindo seus poucos velhos 70 anos de vida e, finalmente, secará e cairá. Você será eliminado, não por Deus, mas porque “vós não permanecestes em MIM e nem deixastes MINHA palavra permanecer em vós”.

No momento em que você se colocar à parte como um ramo e ESQUECER sua união com o Cristo Invisível, justamente porque não pode ver, ouvir, experimentar, tocar ou cheirá-LO e, portanto, decidir que você não O tem – “Ó, vós de pouca fé” – você será eliminado. Lembre-se sempre: mesmo em suas dificuldades mais lúgubres, em suas piores doenças, ou em seu mais terrível pecado, QUE VOCÊ ESTÁ AINDA UNIDO A ESTA VINHA INVISÍVEL, E QUE ELA POR SUA VEZ, ESTÁ ENRAIZADA E ALICERÇADA NO TODO DO PAI, O TODO DO AGRICULTOR. A própria natureza de Deus não lhe permite reter o fluxo que dEle passa da Videira e desta a você. “Se permanecerdes em mim, e minha palavra permanecer em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido”. Mas isso não significa que você deve pedir no sentido material: “Dai-me um lar mais lindo e um carro melhor”. Não, não, não. Você deve simplesmente pedir a continuação da Graça Infinita. PEDIR PARA A CONTÍNUA REALIZAÇÃO DA ONIPRESENÇA.

“Pedis e não recebeis, porque pedis mal…” Deus é Espírito e ao Espírito não se pedem coisas materiais, mas é justamente isso que fazemos, quando oramos por COISAS. E, depois, surpreendermos-nos por não as haver recebido. É, então, que alguém poderia dizer: “Bem, você não vai à igreja muito frequentemente, não é muito bondoso ou indulgente, retarda seus afazeres, portanto, você não é muito merecedor”.

DEUS É O PAI INFINITO. Pense até que ponto você é pai ou mãe e, então pense em Deus como Pai INFINITO. Deus é Pai Infinito, sem fazer distinção de pessoas, e através da videira invisível está continuamente nos provendo tudo o que é necessário para o nosso desenvolvimento. “Nisto é glorificado meu Pai: em que produzais muito fruto…” Entende você o sentido disso? Seu Pai é glorificado SOMENTE na proporção em que você produz muitos frutos e frutos ricos. Seu Pai não é glorificado pela avareza, ou pelo fato de você ir a um mercado procurar a carne e os produtos mais baratos. Seu Pai não é glorificado quando você tem que se acostumar com um automóvel de terceira-mão. Não, não, não, isso não glorifica o Pai.

O Pai não pede que você tenha alguma coisa no campo material, MAS O QUE VOCÊ TEM DE BOM NÃO É SENÃO A EVIDÊNCIA DA GLÓRIA DO PAI E NÃO DA SUA. Se você tem um bom lar ou boa renda e começa a acreditar que os conseguiu devido à "SUA" compreensão ou "SUA" bondade pessoal, não fique surpreso se ficar privado deles. Isso porque você estaria glorificando suas PRÓPRIAS qualidades, sua PRÓPRIA natureza e caráter, e essas você não possui. “Por que me chamas bom? Ninguém é bom a não ser Deus”, e quando você compreender que “A GLÓRIA DE DEUS ESTÁ SE MANIFESTANDO ATRAVÉS DESTE BEM QUE VEIO A MIM”, você pode esperar ainda maiores frutos PORQUE VOCÊ RECONHECEU A FONTE. "Olhai para Mim, e sede salvos", "Reconhecei-O em todos os vossos caminhos e Ele vos dará abundante e ilimitado bem”. “Se observardes os meus mandamentos, permanecereis em meu amor”.

O Mestre nos deu somente dois mandamentos: um, é amar a Deus (reconhecê-Lo como a Grande Vida, a fonte de tudo, a origem de tudo, porquanto a Ele pertence todo o poder e, portanto, a glória, de eternidade à eternidade), e o outro, amar ao próximo como a nós mesmos. Portanto, COMO pode você amar a Deus, a não ser na compreensão de Deus como Amor? Como pode você amar a Deus se acredita que Ele está retendo algum bem ou o está punindo, ou fazendo alguma coisa que você não faria a seus filhos? Você só pode amar e honrar a Deus se puder vê-lO como VIDA GLORIOSA E INFINITA – VIDA LIVRE, DESIMPEDIDA E NÃO AFETADA PELA VIRTUDE OU TRANSGRESSÃO DOS HOMENS. Amar a Deus e a seu próximo como a si mesmo é visualizar aquela árvore e lembrar que cada ramo é seu próximo e que seu próximo está recebendo seu bem ATRAVÉS DO MESMO CRISTO INVISÍVEL DO PAI, O AGRICULTOR.

Pode ser ocasionalmente necessário, mesmo enquanto formula esta oração para seu próximo, que você temporariamente lhe empreste ou dê alguns dos bens materiais para ajudá-lo no decurso de uma etapa cruciante de falta ou limitação, mas você nunca terá de incumbir-se ou sustentar continuamente o pobre merecedor, PORQUE NÃO HAVERÁ POBRE MERECEDOR SE VOCÊ AMAR SEU PRÓXIMO COMO A SI MESMO. Toda vez que você vê um indivíduo em alguma forma de pecado, doença ou mesmo morte, apenas visualize rapidamente a nossa árvore e silenciosamente “Agradeça a Deus por aquele tronco”.

Aquele tronco unifica-nos e possibilita que cada um de nós se alimente da única Fonte Infinita, e não um do outro. É, então, que você está amando a Deus no mais alto grau e a seu próximo como a si mesmo, porque você está conhecendo a mesma VERDADE acerca de seu próximo como de si mesmo.

Nestas passagens de João, percebemos a verdadeira visão de Deus, o Infinito Invisível, como a fonte de todo bem, o qual não pode, de forma alguma, reter nenhum bem. O bem está sempre se exteriorizando individualmente no que chamamos o Filho de Deus, o Cristo, que é a sua parte invisível, e através desse Eu invisível, ao corpo físico, à mente e Alma e Espírito do ser individual, PARA MANIFESTAR A GLÓRIA DE DEUS. Somos prevenidos, que o ramo NÃO PODE DAR FRUTOS DE SI MESMO. Portanto, não pode haver bondade pessoal, saúde ou fartura pessoais. O ramo deve extraí-los ATRAVÉS da videira de Deus.

“Todo ramo que em mim não der fruto será arrancado”. Isto poderá levar-nos a crer que depois de tudo, Deus provavelmente pune um pouco, mas isso não é verdade. SE VOCÊ NÃO PERMANECE NESTA VERDADE, se você não mantém sua consciente unicidade como Cristo EM SI, e ATRAVÉS DELE sua unicidade com o Pai, você será eliminado. Será você mesmo quem se separa da graça de Deus e será, portanto, eliminado, destruído, queimado e definhará. PERMANECER NESTA verdade é viver, mover-se e ter seu SER nesta conscientização de sua unicidade com o Cristo, e da unicidade do Cristo com o Pai.

Isto, naturalmente, não significa que estamos unidos a pessoas, mas unidos ao Invisível, de maneira que mesmo estando no meio do oceano, ou em um deserto, seríamos capazes de dizer: Ah, mas eu AINDA sou um ramo da videira, e a videira AINDA está ligada ao agricultor (Deus) e, portanto, o lugar em que me encontro é SOLO Santo. Toda vez que tivermos pensamentos de desespero, estaremos admitindo que somos um ramo separado da videira e esta do Agricultor: que não podemos alcançar, nem a um, nem a outro, ainda que durante todo o tempo Ele esteja aqui mesmo onde estamos. ELE está em VOCÊ e ELE está unido à ONIPRESENÇA!

“Vou preparar um lugar para vós… para que onde eu esteja, vós também possais estar”. Você pode perguntar-se: "onde está o Eu Sou?". Toda vez que você disser “EU SOU”, isto é, "onde EU SOU", esse "onde EU SOU" é onde VOCÊ ESTÁOnde você estiver, há a videira, Pai e o Agricultor – o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Você deve sempre lembrar que o Agricultor, Deus, não dá e não nega - MAS CONTINUAMENTE É. A videira em você, o Cristo, não o está julgando, mas está aqui para abençoar e perdoar, suprir e amar. Qual era a Missão do Mestre? “Ir mostrar a João novamente aquelas coisas que vós ouvis e vedes: o cego recupera a visão, o coxo anda, os leprosos são limpos e o surdo ouve, os mortos são ressuscitados e aos pobres é pregado o Evangelho.” O Cristo está ali para amparar, suprir, sustentar, aliviar, curar, perdoar e regenerar. Está aqui para fazer ressurgir da sepultura E REALIZAR a ASCENSÃO.

Não há palavra, em toda a mensagem e missão do Mestre, que dê qualquer motivo à autocondenação. “Nem eu te condeno: vai e não peques mais”. Se você volver ao velho estado material de consciência e não permanecer na palavra, será punido muitas vezes. Toda vez que você se esquecer de que é um ramo unido à videira invisível, a qual, por sua vez, está ligada ao agricultor (o Pai interno), estará cometendo pecado. Você poderá ser pródigo doze vezes, se o desejar, mas VOCÊ pagará a penalidade.

Se você voltar à crença de um indivíduo separado e à parte de Deus – um ramo pendente no espaço – atrairá para si carência e limitação de suprimento, de saúde, de força e de eternidade, mas “se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será concedido”“Nisto é meu Pai glorificado, que deis muito fruto: e assim sereis meus discípulos”.


FIM

quarta-feira, maio 21, 2014

"Eu sou a Videira" - 1/2

Joel S. Goldsmith


Há muitos séculos, sob a influência de nossas crenças teológicas, vimos aprendendo que a bondade de Deus para conosco depende de sermos dignos e merecedores. Se pecamos ou somos maus, Ele nos nega o Seu bem. Por isso, já de início desejo esclarecer aos que estão na Senda Espiritual que DEUS É AMOR; DEUS É LEI; DEUS É PRINCÍPIO; DEUS É INTELIGÊNCIA DIVINA E DEUS É VIDA ETERNA.

Se a VIDA dependesse de nossa virtude; se nossa maldade pudesse nela interferir; se qualquer outra coisa pudesse afetar seu fluxo harmonioso – como se explicaria o ensinamento bíblico de que a vida é eterna e imortal? Acaso o referido ensinamento diz que a vida é imortal apenas "QUANDO" ou "COMO" ou "SE" você faz certas coisas? Não! Isso faria com que a vida imortal dependesse de você, ou de mim, e não é assim! A vida imortal depende apenas de Deus. Não há nada que possamos fazer para conquistá-la ou para que Deus no-la negue. Não podemos rogar que Deus nos dê vida e nem há pecado que impeça a imortalidade e a eternidade da vida.

DEUS É AMOR. O que, então, podemos você ou eu fazer para mudar a natureza amorosa de Deus? Poderíamos mudar nosso amor pelos filhos se eles nos fizessem algo desagradável? Claro que não. Se humanamente somos capazes de amar nossos filhos, mesmo quando não merecem, QUANTO MAIS AMOR o Pai celestial está emanando constantemente para nós!

Pode você aceitar a verdade que DEUS É AMOR, não apenas quando você é digno e merecedor, mas também quando se comporta de certa maneira? Pode admitir que DEUS É AMOR e que Sua chuva cai igualmente sobre justos e injustos? O Mestre Jesus Cristo negou alguma vez o bem ou a cura a alguém pelo fato de ser um pecador? Perguntou ele em alguma ocasião às multidões, se eram bons ou se dissipavam ou economizavam o seu dinheiro? Ao ressuscitar o filho da viúva, teria ele perguntado se o moço tinha sido moral ou imoral, honesto ou desonesto? Ou simplesmente o ressuscitou, destruindo assim a crença do mundo na morte? Todos conhecemos a resposta. Em nenhuma ocasião de seu ministério Jesus recusou cura, suprimento, perdão, reforma ou restauração a alguém, por temporária crença no mal.

O princípio é este: uma vez que DEUS É AMOR, nosso bem deve ser infinito, sem nenhum "SE" ou "MAS", porque a Graça de Deus não depende de algo que você ou eu façamos ou deixemos de fazer. A Graça de Deus não pode ser retida. Embora possamos ligar ou desligar a eletricidade, abrir ou fechar a torneira, não podemos abrir ou fechar o fluxo de Deus. DEUS É, e DEUS É AMOR em toda plenitude!

Consideremos a seguir que DEUS É VIDA. Isto não significa que Deus seja vida somente nas idades de 6 ou 16 anos. DEUS É VIDA. Então por que não é também aos 60, 90 e aos 120 anos? O motivo é que as palavras “eu”, "me" e “você” entram em cena e dizemos: MINHA vida ou SUA vida, e imediatamente pensamos na data de uma certidão de nascimento. Se Deus é Vida, que importa a data de nascimento? Deus é a ÚNICA vida e ela é infinita. É culpa de Deus se mudamos ou envelhecemos ou ficamos doentes, fracos e decrépitos? A vida de Deus é infinita, eterna e imortal e assim sendo é a única vida na qual podemos esquecer as idades SUA e MINHA.

Da mesma maneira, DEUS É AMOR. Esqueçamos, pois as condutas sua e minha. Alguns de nós podemos estar bastante mal hoje, outros melhores, alguns piores. Talvez alguns de nós estávamos melhores no ano passado do que neste, mas o amor de Deus a Seus filhos não mudou e nem o Seu poder cessou. O braço direito de Deus é poderoso. A mão de Deus não se omitiu. DEUS É PODER, mas sendo bom – DEUS É A FORÇA DO BEM. Pode, então, negar ajuda, suprimento ou paz a alguém? Não, mas você e eu podemos provocar impedimento ao pronunciarmos as palavras "eu", "me" e "você". “Eu” posso não ser merecedor, não estar preparado ou não ter suficiente compreensão, mas o amor de Deus não depende de meu entendimento.

Assim que você começar o tratamento de cura, os primeiros chamados serão para o que o mundo chama de “menos importância” e, em pouco tempo, você poderá concluir: “Oh, tenho alguma compreensão”, ou “estou conseguindo resultados através do meu entendimento”. Se você o fizer, nunca se tornará um curador ou instrutor eficiente, porque JAMAIS curará através de SEU entendimento. Deus proíbe que SUA presença e poder dependam da "sua" compreensão.

A cura é uma atividade do Cristo. Decorre da compreensão de Deus. Vimos dizendo MINHA vida, MINHA saúde, MEU suprimento, MEU valor, MEU entendimento, sem considerar que deve ser a COMPREENSÃO DE DEUS. O Mestre deixou isso bem claro, quando disse que “de SI MESMO nada podia fazer, mas que era o Pai nele quem agia”. Portanto, é a COMPREENSÃO DO PAI. Do momento em que abrimos nossa consciência ao fluxo de Deus e cessamos todo este contra-senso acerca de NOSSO entendimento e de NOSSO bom ou mau comportamento, podemos estar seguros de que o fluxo de Deus apagará e purificará qualquer erro ou intento que tenhamos em mente hoje; dissipará toda punição a erro passado. Devemos chegar à compreensão de que não é o nosso entendimento que faz isso, mas o de Deus. DEVEMOS abandonar as velhas ideias e crenças judaicas de um Deus de castigo e recompensa. DEUS É AMOR. DEUS É VIDA.

Cada um de nós ainda conserva, dos tempos de infância, alguma ideia de Deus ditada pelos ensinamentos ortodoxos e teológicos, de que não podemos ganhar o favor de Deus por certos atos de omissão ou comissão. Muitos ainda crêem que o favor de Deus pode ser obtido por algumas formas de oração, adoração ou abstenção. Isto não é verdade. Podemos ter certeza de que DEUS NÃO É INFLUENCIADO PELO HOMEM, isto é, Deus não é influenciado por você ou eu individualmente. DEUS É LUZ, e se caminharmos com Ele, estaremos na luz. A chuva de Deus cai e se a queremos, devemos caminhar na chuva. DEUS É, e DEUS É AMOR. Deus está derramando SUA INFINITA GRAÇA e não a estamos aceitando devido ao uso de tais palavras como "eu", "me" e "meu".

Devemos deixar esta crença de que participamos na obtenção do amor, da graça e da doação de Deus, e lembrar que nossa única participação é aceitar essa evidência, abrindo nossa consciência para receber a divina Graça.

Os escritos de “O Caminho Infinito” contêm centenas de verdades que se resumem em uma apenas: A NATUREZA DE DEUS. Medite sobre: Que é Deus? Qual a natureza de Deus? Qual é o caráter de Deus? Quais são as qualidades de Deus? Qual é o verdadeiro Deus? Não o Deus que nos ensinaram a adorar quando crianças, ou que adoramos ignorantemente agora. Tente esvaziar os vasos já muito cheios, porque não podem ser enchidos com o novo vinho. Desfaça-se de suas velhas crenças e esteja desejoso de começar tudo de novo, ainda que você tenha 70 anos, admitindo que se você conhecesse melhor a Deus, você estaria demonstrando bem mais a graça divina. Esqueça tudo que você tenha pensado ou lhe tenham ensinado acerca de Deus e, mais uma vez, comece com esta pergunta: “Que é Deus?”. Do momento em que você começa a compreender que DEUS É AMOR, saberá que aquele amor está fluindo irrestrito, ilimitado e livre, porque a natureza de Deus é Infinita.

Seria impossível a Deus estender-nos somente umas parcela de amor, dar-nos 90% de saúde e prover-nos com 60, 70 ou 80 anos de vida. É verdade que estamos DEMONSTRANDO apenas uma parcela de amor e de suprimento ou somente 60, 70 ou 80 anos de vida e vigor. Pode perfeitamente ser verdade que não haja muito amor fluindo em e através de nós, mas isso nada tem a ver com Deus. Tem a ver com alguma crença falsa de que NÓS, de alguma maneira, se pudéssemos encontrar uma fórmula mágica, faríamos fluir o bem de Deus, ou poderíamos de algum modo impedir o bem de Deus. Não é um tanto absurdo acreditar que podemos viver somente 60, 70 ou 80 anos em boa saúde e vigor, quando a única vida que temos é Deus, e a vida de Deus é Infinita, e não depende do que possamos fazer a respeito dela? A vida é dependente da habilidade de Deus em manter Sua própria vida imortal, eterna e indefinidamente.

Não é estranho que muitos tenham tão pouco conforto na vida, quando o Mestre nos disse que a VERDADE É O CONSOLADOR? Ele não disse que nos mandaria limitada quantidade de conforto, mas sim o CONSOLADOR, O ÚNICO, A PLENITUDE DO CONSOLADOR. No entanto, durante todo esse tempo, estivemos satisfeitos com uma pequena porção por termos acreditado que fosse tudo o que tínhamos merecido.

Ao fazer o seu testamento, você não determinará o que cada um de seus filhos merece, nem dirá: “Este um tem sido razoavelmente bom, assim deixar-lhe-emos uma boa quantia. Este outro não foi nada bom, nada receberá, mas este terceiro tem sido muito bom, assim deixar-lhe-emos uma grande soma”. Não, você dirá: “temos três filhos e dividiremos igualmente entre eles”. QUANTO MAIS GENEROSO É NOSSO PAI CELESTIAL E QUANTO MENOS QUE NÓS ELE JULGA! Deus não se apoia em julgamento ou condenação para com nossos pecados, porque o único motivo de nossos pecados, fatos e erros – é a ignorância.

Somos responsáveis por nossa ignorância? Não. Desde a infância ouvimos nossos pais e outras influências. Por um sentimento de obediência, lealdade e temor, ACEITAMOS ESTAS FALSAS CRENÇAS, mas não somos castigados por elas.

A Escola da Vida está aberta a qualquer um de nós em qualquer ocasião que desejarmos começar. POR NOSSA ILUMINAÇÃO ENCONTRAREMOS A LIBERDADE. É somente na ignorância que encontramos discórdia, limitação, pecado doença e morte. Em nossa ILUMINAÇÂO encontramos abundância infinita, liberdade, imortalidade e eternidade. Assim, a despeito de qual seja sua idade, lembre-se de que só há um assunto no qual você necessita ser esclarecido: QUAL A NATUREZA DE DEUS?

“Deus é luz e nEle não há treva alguma”. Pode você ver Deus como o GRANDE AMOR DO UNIVERSO, no qual não há ódio, inveja, ciúme, malícia, vingança ou mesmo lembrança do passado? Pode você ver Deus como VIDA IMORTAL E INFINITA? Se assim for, você pode trazer harmonia ao seu corpo e vida durante a noite. Somente a crença de que aquilo que você está fazendo, ou deixando de fazer, é que causa doença ou pecado na carne. É apenas a crença de que o erro está em você, E NÃO ESTÁ. Assim, procure lembrar-se desta verdade. O HOMEM JAMAIS PODE INFLUENCIAR DEUS. Deus é todo-bondade e a Graça de Deus perdura para sempre.


Elimine o uso de “eu”, “me”, “meu”, e centralize por inteiro o seu pensamento na palavra DEUS. Não pense mais acerca de “o que sou eu em conexão com Deus”. Faça-se estas perguntas: está Deus retendo algum bem? Pode Deus negá-lo? Há alguma razão para Deus negar? Tem Deus o poder de suprimir Sua própria benevolência, amor, proteção e diligência? Não há ninguém nesta terra suficientemente grande para influenciar Deus a fazer mais do que Ele próprio está fazendo, e nem pecado tão grande para impedir-Lhe ser Deus.

Cont...

domingo, maio 18, 2014

Sentimentos são "visitas"

Mooji


Se você não se identificar com a função corpo-mente, ela vai ocorrer por si mesma. Se você não se identificar com isso, ela pode desempenhar o seu papel, pode fluir, não pode se firmar..

Neste momento, deixe o que quer que esteja se esforçando para vir… O que realmente está aqui?

Participante- Gostaria de saber o que é o perdão e como ele vem ao coração? Existe um circulo de tensão que impede o coração de se abrir… Como ir além disso? (…)

Mooji- É muito simples, muito simples. Desista dessas idéias. O coração não se abre nem se fecha. Geralmente quando as pessoas falam coração, nesse contexto em que você está falando, elas estão se referindo a um tipo de centro emocional. Que parece que abre e aí, você sente muita compaixão, amor e aí se fecha e você se sente que não quer ficar com ninguém e assim por diante…

Mas isso também é um movimento que é observado de um lugar ainda mais profundo. Esse movimento não é assim tão significante, somente se você acreditar nele; se você começar a acreditar nesse conceito de um coração que se abre e que quando se abre você está feliz, você coloca condições para uma coisa que não tem condições, você compreende? Há um coração que não se abre nem se fecha.

Participante- Ele está sempre aberto?

Mooji- Não, ele não tem fronteiras, então ele não pode abrir nem fechar, é como espaço, seu próprio Ser é como espaço, não abre nem fecha.

Se você olhar para alguns sentimentos que são sentidos de uma certa forma no corpo, você pode dizer: “Sim, agora eu sinto que estou me fechando”.

A linguagem que você usa criará esse tipo de forma, de que alguma coisa está se fechando, e você começa a acreditar nisso. Se você acreditar que seu coração pode se fechar, você começa a procurar alguma técnica para abri-lo, então você armou uma armadilha para você mesma. Todas essas coisas são conceitos…

Mesmo sem as palavras, com o pensamento, a sensação está lá, e você está dando a ela muita atenção. Logo, quando você dá muita atenção a alguma coisa, você começa a desenvolver um relacionamento com isso, significa que é importante o suficiente para exigir a sua atenção. Colocar sua atenção sobre algo é a coisa mais importante que você pode fazer, porque você dá vida a isso, você traz isso para o foco.Então, se você poder aceitar esse tipo de conselho, não se preocupe com essas coisas, não toque nenhuma definição, nenhum limite sobre limites, nem conceitos sobre limites, não toque nada disso… deixe os sentimentos acontecerem, mas não vá trabalhá-los.. Veja que são apenas visitantes que vêm para o espaço da sua consciência, que parecem estar presentes por um ou dois momentos..não se identifique com eles, não diga: “ah sim , eu estou desse jeito” e assim por diante… Todas as pessoas estão fazendo isso, então você está caindo nessa armadilha.

A consciência não tem nenhuma forma, é como água, não tem nenhuma forma, sua natureza é fluir. Mas, qualquer que seja a forma que você dê a água, ela assumirá a forma do recipiente que a contém. (…) Mas a água não tem forma por si mesma, a consciência também é assim, ela não tem nenhuma forma em si mesma, ela tomará a forma dos conceitos para os quais você apontar. Então, você aponta para algo muito poderoso, você diz: “agora meu coração está fechado” – isso é um pensamento muito poderoso, se você acreditar nele, de alguma forma você se sente confinado, porque você trouxe esses pensamentos à existência por acreditar neles, então deixe esses sentimentos virem, deixe-os entrar e sair, você é como o espaço onde tudo aparece e desaparece, nada está acontecendo a você.

O seu Ser é como espaço, mente e pensamento são como vento, é da natureza do vento soprar, mas o espaço não se move, porque ele é infinito e está presente em todos os lugares, o seu Ser é como espaço. Pensamentos, sentimentos, emoções, sensações estão aparecendo nesse espaço e eles vêm e vão.

Participante - Quando a tensão vier... eu devo confiar que ela irá embora?

Mooji - Você não deve nem confiar, ela vai e quando ela fica ela também pode ficar; algumas vezes coisas vêm e vão, tome a atitude “eu não ligo” mais do que “eu prefiro” ou ” eu não me importo” – não, “eu não ligo” tudo vem e vai e nisso você encontrará imensa liberdade, espaço, tanto espaço…você não deve ser como a polícia de trânsito dos pensamentos…tudo pode vir e ir.. isso é o segredo tão simples, tão simples…

Se você pegar algum desses pensamentos, então você tem que ir atrás da cura, todo mundo está atrás da cura, o que está errado com você? ” Oh, eu tenho tantas coisas para curar, tanto tanto…” O mundo precisa de cura, avó precisa de cura, os animais de estimação precisam de cura, todo mundo precisa de cura, até os sacerdotes precisam de cura…

O Ser não precisa de cura, sempre perfeito, você é o Ser.

Se você não se identificar com a função corpo-mente, ela vai ocorrer por si mesma. Se você não se identificar com a mente, ela pode soprar, fluir, ela não pode se firmar. Isso não é fuga da vida, você não está fugindo da expressão, toda a expressão pode estar lá, mas você não está empacado, como espaço, nunca está empacado. Um milhão de anos atrás, o espaço era exatamente o que é agora, fresco. Um milhão de anos atrás o espaço era exatamente o que é agora, fresco..o seu Ser é assim. Tudo o mais é imaginado, tudo o mais está passando, deixe o que está passando passar.

Você pode se apaixonar por uma nuvem? Quanto tempo esse casamento pode durar? Tudo está passando, deixe que passe…até mesmo esse corpo está passando. Encontre aquilo que não está passando…”


sexta-feira, maio 16, 2014

A busca espiritual

Osho


Pergunta: O que significa ser um buscador espiritual?

Osho: Em primeiro lugar, significa duas coisas. Uma, que a vida tal como é conhecida exteriormente não é completa; a vida tal como é conhecida de fora não tem sentido.

No momento em que alguém se torna alerta para o fato de que toda essa vida é uma coisa sem sentido, a busca se inicia.

Essa é a parte negativa, mas a não ser que essa parte negativa esteja presente, a positiva não pode vir.

A busca espiritual significa, em primeiro lugar, um sentimento negativo: um sentimento de que a vida, tal como ela é, não tem sentido.

Todo o processo acaba na morte: pó sobre pó. Nada permanece conclusivo em si mesmo. Você passa pela vida em tal agonia, em tamanho inferno, e nada conclusivo é alcançado.

Esse é o lado negativo da busca espiritual. A própria vida o auxilia a chegar a ele. Esse lado — essa negatividade, essa angústia, essa frustração — é a parte que o mundo está fazendo.

Quando você se torna realmente alerta para o fato da insignificância da vida tal como é vivida, sua busca comumente começa, porque você não pode ficar tranquilo com uma vida sem sentido.

Com uma vida sem sentido, um abismo é criado entre você e tudo o que a vida é. Uma brecha intransponível cresce, tornando-se mais e mais larga. Você se sente desamparado.

Então, a busca por alguma coisa significativa, feliz, é iniciada. Essa é a segunda parte, a parte positiva.

Busca espiritual significa chegar a um acordo com a realidade atual, não com uma projeção sonhadora. Toda a nossa vida é apenas uma projeção, sonhos projetados. Ela não existe para conhecer o que é; existe para se obter o que é desejado.

Você pode tomar a palavra "desejo" como um símbolo do que nós chamamos de vida. A vida é uma projeção dos desejos: você não está à procura do que é; está à procura do que é desejado.

Você continua desejando e a vida continua sendo frustrante porque ela é como é. Ela não pode ser como você quer. Você fica desiludido. Não porque a realidade seja antagônica a você, mas sim porque você não está em sintonia com a realidade, apenas com seus sonhos.

Seus sonhos têm uma desilusão que o arruínam. Enquanto você está sonhando, tudo está certo; mas quando qualquer sonho é alcançado, tudo se torna desilusão.

Busca espiritual significa conhecer essa parte negativa: esse desejar é a raiz causal da frustração.

Desejar é criar um inferno por livre e espontânea vontade. Desejar é estar no mundo: ser mundano é desejar e continuar desejando, sem nunca tornar-se alerta de que cada desejo não dá em nada além de frustrações. Uma vez que você se torna alerta para isso, então não mais deseja.

Ou seu único desejo é conhecer o que realmente é. Nesse momento, você decide: "Não continuarei projetando a mim mesmo, conhecerei o que é. Não porque devo ser desse modo e a realidade deva ser daquele outro modo, mas apenas por isto: quero conhecer a realidade seja ela qual for — nua como ela é. Não projetarei, não entrarei nisso. Quero encontrar a vida como ela é".

Positivamente, busca espiritual significa encontrar a existência tal como ela é, sem qualquer desejo. No momento em que não houver nenhum desejo, o mecanismo de projeção não estará mais funcionando. Então, você poderá ver o que é.

Uma vez conhecido, este "o que é" — aquele que é — lhe dará tudo.

O desejo sempre promete e nunca dá. Os desejos sempre prometem felicidade, êxtase, mas isso nunca vem. Cada desejo dá em troca apenas mais desejos. Cada desejo cria em seu lugar apenas desejos ainda maiores e mais frustrantes.

Uma mente não-desejosa é aquela que está engajada na busca espiritual. Um buscador espiritual é aquele que está completamente alerta para o absurdo do desejo e está pronto para conhecer o que é.

Quando a pessoa está pronta para conhecer o que é, a realidade aparece por todos os cantos, por todos os lados.

Mas você nunca está presente. Você está em seus desejos, no futuro. A realidade está sempre no presente — aqui e agora —, mas você nunca está no presente. Está sempre no futuro: nos desejos, nos sonhos. Você está adormecido nos seus sonhos, nos seus desejos. E a realidade está aqui e agora.

Quando esse sonho for interrompido e você estiver acordado para a realidade que está aqui e agora, no presente, haverá um renascimento. Você chegará ao êxtase, à satisfação, a tudo o que sempre foi desejado e nunca alcançado.


Osho, em "Eu Sou a Porta"

quarta-feira, maio 14, 2014

O Amor indescritível


Mooji


"Deixe o reino dos nomes e formas
e entre num campo mais refinado e intuitivo.

Veja com os olhos de Krishna,
e ame com o amor de Cristo.

Faça introspecção com a sabedoria de Shiva
e venha para a dimensão por trás do pensamento,
o reino do Ser.

Aqui brilha a presença intuitiva – ‘eu sou’.
Todos os seres naturalmente amam este estado ‘eu sou’.
Sua natureza é paz, alegria, sabedoria e amor.
É o amor de ser, o amor de existir.

Mas em um certo estágio,
mesmo este estado maravilhoso é observado.
Quando você está na posição
para observar o “eu sou” em si,
então você está automaticamente no lugar do Eterno.

É o Supremo.
Nenhuma palavra pode expressar ou defini-lo.
Ele confere luz e alegria à vida.

Foi perguntado a Papaji uma vez:
"Há algo além da consciência?"
Surpreendentemente, ele disse:
“Amor. O amor está além de tudo”.

Eu descobri o amor como sendo sinônimo de consciência.
Eles são Um.
O amor é a unidade do Ser.
É o sagrado dentro do vazio.
É o Indescritível.
Você é isso.


segunda-feira, maio 12, 2014

Samsara é Nirvana, Nirvana é Samsara




* “Samsara não é um lugar, não é o planeta Terra, não é a existência humana, não é nada disso. O Samsara é esse jeito de ser, em que ficamos perambulando por aí, feito cachorro de rua, sem rumo, fundamentalmente deludidos, agindo a partir do desejo e da hostilidade. Sem amadurecer, sem florescer, sem cultivar a verdadeira felicidade, saltando de uma lado para o outro, até a morte finalmente chegar.” (Comentário sobre “A Essência Vajra” de Düdjom Lingpa - site Sobrebudismo)


* “Nirvana quer dizer “sem fogo”. “Fogo extinto” ou, “sem vento das paixões”. Nirvana é a mesma coisa que Samsara. Samsara é Nirvana. Samsara é o mundo da perambulação, onde andamos de lugar pra lugar, procurando a felicidade ou satisfação. Nós procuramos, andando sem fim, procurando e trocando. Uma casa nova, um carro novo, etc, procurando, procurando, sempre trocando, isso é samsara. É o mundo rodando e você procurando a solução e satisfação de problemas sempre novos. Vão sempre surgir, porque é característica desse mundo mutante. O que faz essas sensações todas, são o “vento das paixões”. E nós somos como folhas tocadas pelo vento das paixões. NIR é uma partícula negativa e VANA é o fogo das paixões. Então podemos traduzir como “Fogo extinto, ou sem ventos”, e, na analogia que estou fazendo, não tem vento para empurrar a folha de lado pra lado. Não tenho paixões mundanas, então de repente surge uma grande calma, porque não importa. Atrasou, atrasou, perdeu o avião, perdeu o avião, tem comida tem, não tem comida, não tem. Perdi tudo que tinha, perdi tudo que tinha. Ganhei bastante, ganhei bastante. As paixões não estão empurrando, então o mesmo lugar que é Samsara, é Nirvana. O que mudou é a maneira de ver. Você tira os seus olhos, que vêem o Samsara, e troca pelos olhos de Buda, olha com uma mente iluminada e aí aquilo que era Samsara, virou Nirvana. Então Samsara não é um lugar. E Nirvana também não. Não dá pra “ir” para o Nirvana. Você muda a si mesmo e aí, este lugar torna-se Nirvana.” (Monge Genshô, em “Sutra do Coração da Sabedoria”, pelo Daissen Zendô)


* “O samsara não é um lugar – por exemplo, o nosso mundo. É uma maneira de ser prisioneiro das próprias percepções. Há quem diga que, se traçarmos no chão um círculo ao redor de um peru, o animal pensará que está preso e se deixará morrer de fome, sem jamais tentar atravessar o círculo. Embora todos os seres possuam dentro de si a luminosidade da consciência sutil, a felicidade inefável de que falam os místicos e aqueles que viveram experiências de quase morte, não a reconhecem. Divorciadas dessa profunda luminosidade, nossas percepções adquirem uma “opacidade” que nos mantém no engano. Embora sejam círculos de giz à nossa volta, pensamos que se tratam de barreiras reais, ficamos prisioneiros delas e os esforços desastrados que fazemos para nos libertarmos geralmente só pioram a situação”. Na tradição budista, a esta percepção deformada do mundo dá-se no nome de “ignorância” e diz-se que é a raiz do samsara.” (Tsering Paldrön, em "A Arte Da Vida")


quinta-feira, maio 08, 2014

A descoberta do Buda - 2/2

Osho


A Estátua de Buda: um projeto para o interior

Os profetas do antigo Oriente foram muito enfáticos ao afirmar que todas as grandes artes – música, poesia, dança, pintura, escultura – originam-se da meditação. Elas são, de algum modo, um esforço para trazer o incognoscível ao mundo do conhecido, àqueles que ainda não estão prontos para a peregrinação – são só presentes para aqueles que não estão prontos para empreender a peregrinação. Talvez uma canção possa desencadear um desejo de sair em busca da fonte, talvez uma estátua...

Na próxima vez em que você entrar num templo de Gautama, o Buda, ou de Mahavira – o mestre dos jainas –, sente-se silenciosamente e olhe para a estátua , porque a estátua foi feita de tal modo, em tais proporções que, se olhar para ela, você entrará em silêncio. Trata-se de uma estátua de meditação; ela não tem nada a ver com Gautama, o Buda, ou Mahavira.

Eis por que todas aquelas estátuas se parecem – Mahavira, Gautama, o Buda; Neminatha; Adinatha; todos os 24 mestres dos jainas... No mesmo templo você encontrará 24 estátuas, todas parecidas, exatamente iguais. Na infância eu perguntava a meu pai: “Pode me dizer como é possível que 24 pessoas sejam exatamente iguais? – o mesmo tamanho, o mesmo nariz, o mesmo rosto, o mesmo corpo...”

Ele costumava dizer: “Não sei. Eu mesmo fico espantado de que não haja nem uma diferença mínima. E quase não se ouve falar nisso – não existem nem duas pessoas no mundo que sejam iguais, o que se dizer de 24!

Mas à medida que minha meditação floresceu, eu descobri a resposta – ela não foi dada por outra pessoa. Eu descobri a resposta. Essas estátuas não têm nada a ver com pessoas. Essas estátuas têm algo a ver com o que estava acontecendo dentro daquelas 24 pessoas, e era exatamente a mesma coisa.

E nós não nos incomodamos com o lado de fora: insistimos que temos de prestar atenção somente no interior. O exterior não tem importância. Um é jovem, outro é velho; um é negro, outro é branco, um é homem outro é mulher – não importa; o que importa é que dentro existe um oceano de silêncio. Nesse estado oceânico, o corpo assume certa postura.

Você já observou isso em si mesmo, mas não estava alerta. Quando está com raiva – já observou? – seu corpo assume uma certa postura. Na raiva, você não consegue manter as mãos abertas. Com a raiva, elas se fecham. Na raiva, você não consegue sorrir – ou consegue? Com uma certa emoção, o corpo tem de seguir uma certa postura. Coisas bem pequenas estão profundamente relacionadas interiormente.

Assim, aquelas estátuas são feitas de tal modo que, se você simplesmente se sentar silenciosamente e observar, e depois fechar os olhos, uma imagem de sombra negativa entra no seu corpo e você começa a sentir algo que você nunca sentiu antes.

Aquelas estátuas e templos não foram construídos para serem adorados; eles foram construídos para proporcionar uma experiência. Eles são laboratórios científicos. Eles não têm nada a ver com religião. Uma certa ciência secreta foi usada durante séculos; assim, as gerações vindouras pudera entrar em contato com as experiências das antigas gerações – não por meio dos livros, não por meio das palavras, mas por meio de algo que vai mais fundo – por meio do silêncio, da meditação, da paz.


A origem dos Sutras – O Dhammapada

Essas máximas de Buda são chamadas Dhammapada. Esse nome precisa ser compreendido. Dhamma significa muitas coisas. Significa a suprema lei, o logos. Por “suprema lei” quer-se dizer aquilo que mantém todo o universo coeso. É algo invisível, intangível – mas certamente está presente, caso contrário o universo se desintegraria. Um universo tão vasto e infinito, seguindo tão serenamente, tão harmoniosamente, é prova suficiente de que deve haver uma subcorrente que conecta tudo, que junta todas as coisas, que liga todas as coisas – de que não somos ilhas, de que a menor folha de grama está ligada à maior das estrelas. Destrua uma pequena folha de grama e você destruiu algo de imenso valor para a própria existência.

Na existência, não há nenhuma hierarquia, não há nada melhor e nada maior. A maior estrela e a menor folha de grama, ambas, existem como iguais. Daí, o outro significado da palavra dhamma. O outro significado é “justiça”, a igualdade, a existência não-hierárquica. A existência é absolutamente comunista; ela não conhece classes, ela é um todo só. Daí o outro significado da palavra dhamma – justiça.

E o terceiro significado é retidão, virtude. A existência é muito virtuosa. Mesmo que você encontre algo que não possa chamar de virtude, deve ser por causa da sua incompreensão, pois a existência é absolutamente virtuosa. Seja o que for que aconteça, sempre acontece acertadamente. O errado nunca acontece. Pode parecer errado para você, porque você tem uma ideia do que é certo, mas quando você olha sem nenhum preconceito, nada é errado, tudo está certo. Nascimento é certo, morte é certo. Beleza é certo e feiura é certo.

Mas nossa mente é pequena, nossa compreensão é limitada; não podemos ver o todo, sempre vemos somente uma pequena parte. Somos como uma pessoa escondida atrás da porta e que olha para a rua através do buraco da fechadura. Ela sempre vê coisas... sim, alguém está se movendo, um carro passa de repente. Num momento não estava lá, noutro momento está ali e, em seguida, vai embora para sempre. É assim que estamos olhando para a existência. Dizemos que algo está no futuro, então entra o presente e, em seguida, vai para o passado.

Na verdade, o tempo é uma invenção humana. Ele é sempre agora! A existência não conhece nenhum passado, nenhum futuro – ela conhece somente o presente.

Mas nós estamos sentados atrás de um buraco de fechadura, espiando. Uma pessoa não está presente; depois, de repente, aparece; e depois, de repente, assim como apareceu, desaparece outra vez. Então, você tem de criar o tempo. Antes de a pessoa aparecer, ela estava no futuro. Então ela apareceu; agora está no presente – mas ela é a mesma! E, de repente, você não pode vê-la nunca mais através do buraquinho da fechadura – ela tornou-se passado. Nada é passado, nada é futuro – tudo é sempre presente. Mas nossos modos de ver são muito limitados.

Desse modo, continuamos a perguntar por que existe miséria no mundo, por que existe isso e aquilo... Por quê? Se pudéssemos olhar para o todo, todos esses “porquês” desapareceriam. E para olhar para o todo, você terá de sair do seu quarto, você terá de abrir a porta... – você terá de abandonar essa visão de buraco de fechadura.

Eia o que é a mente: um buraco de fechadura, e um buraco de fechadura bem pequeno. Comparado com o vasto universo, o que são os nossos olhos, ouvidos e mãos? O que podemos abarcar? Nada de muita importância. E ficamos muito apegado àqueles diminutos fragmentos de verdade.

Se você vir o todo, tudo é como deveria ser – esse é o significado de “tudo está certo”. O errado não existe. Somente Deus existe; o demônio é criação do homem.

O terceiro significado de dhamma pode ser “Deus” – mas Buda jamais usa a palavra “deus”, porque ela ficou erradamente associada com a ideia de uma pessoa, e a Lei é uma presença, não uma pessoa. Desse modo, Buda jamais usa a palavra “deus”, mas sempre que ele quer transmitir algo de Deus, ele usa a palavra dhamma. A mente de Buda é a de um cientista muito profundo. Por causa disso, muitos chegaram a pensar que ele era ateu. Ele não é. Ele é o maior teísta que o mundo já conheceu ou conhecerá – mas ele nunca fala sobre Deus. Ele nunca usa a palavra, eis tudo. Mas, por dhamma, ele quer dizer exatamente o mesmo. “Aquilo que é” é o significado da palavra “deus”, e esse é exatamente o significado de dhamma.

Dhamma também significa “disciplina” – diferentes dimensões da palavra. A pessoa que quer saber a verdade terá de disciplinar-se de muitos modos. Não se esqueça do significado da palavra “disciplina” – ela simplesmente quer dizer a capacidade de aprender, a disponibilidade para aprender, a receptividade para aprender. Daí a palavra “discípulo”. “Discípulo” quer dizer “aquele que está pronto para abandonar seus antigos preconceitos”, para deixar a mente de lado e olhar para a questão sem nenhum preconceito, sem nenhum conceito a priori.

E dhamma também quer dizer verdade suprema. Quando a mente desaparece, quando o ego desaparece, o que permanece? Algo certamente permanece, mas isso não pode ser chamado de “algo” – assim, Buda o chama de “nada” (nothing). Mas deixe-me lembrar-lhe, caso contrário, você compreenderá mal: sempre que ele usa a palavra “nada”, ele quer dizer “não-coisa” (no-thing). Divida a palavra em duas: não a use como uma só palavra – use um hífen entre “não” e “coisa”, então você saberá exatamente o significado de “nada” (nothing).

A lei suprema não é uma coisa. Não é um objeto que você possa observar. Trata-se da sua interioridade; é subjetividade.

Buda teria concordado totalmente com o pensador dinamarquês Sören Kierkegaard. Ele diz: Verdade é subjetividade – eis a diferença entre fato e verdade. Um fato é algo objetivo. A ciência continua buscando cada vez mais fatos, e a ciência nunca chega À verdade – ela não pode, pela própria definição da palavra. A verdade é interioridade do cientista, mas ele nunca olha para ela. Ele continua observando outras coisas. Ele nunca fica ciente do seu próprio ser.

Este é o último significado de dhamma: sua interioridade, sua subjetividade, sua verdade.

Uma coisa muito significativa – deixe que ela penetre fundo no seu coração: a verdade jamais é uma teoria, uma hipótese; ela é sempre uma experiência. Desse modo, minha verdade não pode ser a sua verdade. Minha verdade é, inescapavelmente, minha verdade; ela continuará sendo minha verdade, não pode ser a sua. Nós não a compartilhamos. A verdade não pode ser compartilhada, ela é intransferível, incomunicável, inexprimível.

Eu posso explicar a você como eu cheguei a ela, mas eu não posso dizer o que ela é. O “como” é explicável, mas não o “porquê”. A disciplina pode ser mostrada, mas não o alvo final. Cada um tem de chegar a ele do seu próprio modo. Cada um tem de chegar a ele no seu próprio ser interior. Na absoluta solitude, ele é revelado.

E a segunda palavra é pada. Pada também tem muitos significados. Um deles, o significado mais fundamental, é “caminho”. A religião tem duas dimensões: a dimensão do “o que” e a dimensão do “como”. Sobre o “o que”, nada se pode falar – é impossível. Mas do “como”, pode-se falar, o “como” pode ser compartilhado. Esse é o significado de “caminho”. Eu posso indicar o caminho a você, posso lhe mostrar como eu viajei, como eu cheguei aos picos ensolarados. Mas eu não posso dizer como é estar nos picos ensolarados.

Pada quer dizer "caminho". Pada também quer dizer "passo" - base, fundação. Todos esses significados são expressivos. Você tem de sair de onde você está. Você tem de ser tornar um grande processo, um grande crescimento. As pessoas tornaram-se poços estagnados; elas têm de se tornar rios, porque somente rios chegam no oceano. E também quer dizer fundação, porque é a verdade fundamental da vida. Sem dhamma, sem relacionar-se de algum modo com a verdade suprema, sua vida não tem nenhuma fundação, nenhum sentido, nenhuma significância, ela não pode ter nenhuma glória.

Esses sutras que compõem o dhammapada precisam ser compreendidos não intelecutalmente, mas existencialmente.


Numa única palavra, tudo o que é significativo está contido: Sammasati

Gautama, o Buda, não é o único buda na história do mundo: milhares de budas vivem e já viveram no mundo, em diferentes partes do mundo. Eles podem não ser conhecidos como "budas", mas "buda" simplesmente significa "o desperto".

A palavra "buda" simplesmente quer dizer "o desperto". Esse não era o nome dele. Seu nome era Gautama Sidarta. Quando ele se tornou iluminado, aqueles que compreenderam sua iluminação começaram a chamá-lo de Gautama, o Buda. Mas a palavra "buda", de acordo também com Gautama Buda, é simplesmente inerente a todo ser humano - e não somente a todo ser humano, mas a todo ser vivo. É a qualidade intrínseca de todo mundo. Todo mundo tem direito, por nascimento, de tornar-se um buda. Qualquer pessoa desperta, em qualquer lugar do mundo, tem o direito de ser chamado de "buda". Gautama, o Buda, é somente um dos milhões de budas que aconteceram e que acontecerão.

A única qualidade que o buda tem, no centro do seu ser, é a observação, o testemunhar. Testemunhar é o todo da espiritualidade resumido numa única palavra. Testemunhe que você não é o corpo, testemunhe que você não é a mente e testemunhe que você é somente a testemunha. Apenas um espelho refletindo - sem nenhum julgamento, sem nenhuma apreciação, sem nenhuma condenação - espelho puro. Eis o que o buda é.

Ser um buda não é ser budista. O budista é um seguidor, o buda sabe. A descoberta do Buda significa a descoberta de si mesmo.

No momento em que você conhece sua própria condição de buda, você conhece todos os budas - a experiência é a mesma.


Fique silencioso. Feche os olhos.
Olhe para dentro tão profundamente quanto possível.
Esse é o caminho.
Lá, no fim do caminho, você é o buda.

E a jornada é muito curta - um único passo.
Só é preciso total urgência e absoluta honestidade
para olhar direto dentro do seu próprio ser.
Lá está o espelho; o espelho é o buda.
Ele é sua natureza eterna.
Você tem de entrar cada vez mais e mais fundo, até descobrir a si mesmo.
Não hesite. Não há nenhum medo.
É claro, você está sozinho, mas essa solitude é uma experiência enorme, bela.
E neste caminho você não encontrará ninguém, exceto você mesmo.

Relaxe e seja apenas um espelho observador,
que testemunha, refletindo tudo.
Nem aquelas coisas têm intenção de ser refletidas,
Nem você tem intenção de captar seus reflexos.
Simplesmente seja um lago silencioso refletindo,
e toda a bem-aventurança é sua.
Este momento presente se torna a não-mente, o não-tempo,
apenas uma pureza, um espaço sem fronteiras.
Essa é a sua liberdade.

E a menos que você seja um buda, você não é livre.
Você não conhece nada da liberdade.
Deixe essa experiência mergulhar fundo em cada fibra do seu ser.
Fique ensopado, encharcado.
Quando você voltar, volte encharcado
com a névoa da sua natureza búdica.
E lembre-se desse espaço, desse caminho,
porque você tem de carregá-lo durante as 24 horas
em todas as suas ações.
Sentado, em pé, andando, dormindo, você permanece um buda.
Então, toda a existência se torna um êxtase.