sexta-feira, maio 16, 2014

A busca espiritual

Osho


Pergunta: O que significa ser um buscador espiritual?

Osho: Em primeiro lugar, significa duas coisas. Uma, que a vida tal como é conhecida exteriormente não é completa; a vida tal como é conhecida de fora não tem sentido.

No momento em que alguém se torna alerta para o fato de que toda essa vida é uma coisa sem sentido, a busca se inicia.

Essa é a parte negativa, mas a não ser que essa parte negativa esteja presente, a positiva não pode vir.

A busca espiritual significa, em primeiro lugar, um sentimento negativo: um sentimento de que a vida, tal como ela é, não tem sentido.

Todo o processo acaba na morte: pó sobre pó. Nada permanece conclusivo em si mesmo. Você passa pela vida em tal agonia, em tamanho inferno, e nada conclusivo é alcançado.

Esse é o lado negativo da busca espiritual. A própria vida o auxilia a chegar a ele. Esse lado — essa negatividade, essa angústia, essa frustração — é a parte que o mundo está fazendo.

Quando você se torna realmente alerta para o fato da insignificância da vida tal como é vivida, sua busca comumente começa, porque você não pode ficar tranquilo com uma vida sem sentido.

Com uma vida sem sentido, um abismo é criado entre você e tudo o que a vida é. Uma brecha intransponível cresce, tornando-se mais e mais larga. Você se sente desamparado.

Então, a busca por alguma coisa significativa, feliz, é iniciada. Essa é a segunda parte, a parte positiva.

Busca espiritual significa chegar a um acordo com a realidade atual, não com uma projeção sonhadora. Toda a nossa vida é apenas uma projeção, sonhos projetados. Ela não existe para conhecer o que é; existe para se obter o que é desejado.

Você pode tomar a palavra "desejo" como um símbolo do que nós chamamos de vida. A vida é uma projeção dos desejos: você não está à procura do que é; está à procura do que é desejado.

Você continua desejando e a vida continua sendo frustrante porque ela é como é. Ela não pode ser como você quer. Você fica desiludido. Não porque a realidade seja antagônica a você, mas sim porque você não está em sintonia com a realidade, apenas com seus sonhos.

Seus sonhos têm uma desilusão que o arruínam. Enquanto você está sonhando, tudo está certo; mas quando qualquer sonho é alcançado, tudo se torna desilusão.

Busca espiritual significa conhecer essa parte negativa: esse desejar é a raiz causal da frustração.

Desejar é criar um inferno por livre e espontânea vontade. Desejar é estar no mundo: ser mundano é desejar e continuar desejando, sem nunca tornar-se alerta de que cada desejo não dá em nada além de frustrações. Uma vez que você se torna alerta para isso, então não mais deseja.

Ou seu único desejo é conhecer o que realmente é. Nesse momento, você decide: "Não continuarei projetando a mim mesmo, conhecerei o que é. Não porque devo ser desse modo e a realidade deva ser daquele outro modo, mas apenas por isto: quero conhecer a realidade seja ela qual for — nua como ela é. Não projetarei, não entrarei nisso. Quero encontrar a vida como ela é".

Positivamente, busca espiritual significa encontrar a existência tal como ela é, sem qualquer desejo. No momento em que não houver nenhum desejo, o mecanismo de projeção não estará mais funcionando. Então, você poderá ver o que é.

Uma vez conhecido, este "o que é" — aquele que é — lhe dará tudo.

O desejo sempre promete e nunca dá. Os desejos sempre prometem felicidade, êxtase, mas isso nunca vem. Cada desejo dá em troca apenas mais desejos. Cada desejo cria em seu lugar apenas desejos ainda maiores e mais frustrantes.

Uma mente não-desejosa é aquela que está engajada na busca espiritual. Um buscador espiritual é aquele que está completamente alerta para o absurdo do desejo e está pronto para conhecer o que é.

Quando a pessoa está pronta para conhecer o que é, a realidade aparece por todos os cantos, por todos os lados.

Mas você nunca está presente. Você está em seus desejos, no futuro. A realidade está sempre no presente — aqui e agora —, mas você nunca está no presente. Está sempre no futuro: nos desejos, nos sonhos. Você está adormecido nos seus sonhos, nos seus desejos. E a realidade está aqui e agora.

Quando esse sonho for interrompido e você estiver acordado para a realidade que está aqui e agora, no presente, haverá um renascimento. Você chegará ao êxtase, à satisfação, a tudo o que sempre foi desejado e nunca alcançado.


Osho, em "Eu Sou a Porta"

3 comentários:

  1. Para fins didáticos há uma diferença entre busca espiritual e realização espiritual...
    A busca espiritual segue o modelo: Penso-desejo-realizo;
    A realização espiritual segue o modelo:
    Percebo-desfruto-compartilho.

    O que busca pensa: Desejo ser um com o Mestre;
    O realizado percebe: O Mestre e eu Somos Um.

    O que pensa se vê separado de tudo e deseja ter;
    O que percebe se vê em unidade com tudo e sabe ser.

    O que pensa busca;
    O que percebe desfruta.

    O que pensa busca realizar o que deseja ser;
    O que percebe compartilha o que desfruta ser.

    O buscador espiritual pensa em ser e deseja ser um dia realizado;

    O realizado percebe ser, desfruta ser e compartilha o que é!

    A única diferença entre o buscador espiritual e o realizado espiritualmente é o ponto de partida! Um parte do pensamento e o outro, da percepção!

    O pensamento está na mente e a percepção, na Consciência...

    Exemplo:
    O buscador pensa que é um budista; O realizado percebe que é Buda!

    Você pode até estar pensando que é um buscador espiritual mas percebo claramente que é um ser realizado!

    Você pode pensar que é separado de Quem Sou; Mas Quem Sou percebe que você e eu somos Um...

    É o que percebo, desfruto e compartilho;
    É o que você também pode perceber, desfrutar e compartilhar.

    Basta partir da percepção e não do pensamento!

    Perceba, desfrute e compartilhe!

    Namaste.

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  2. Muito obrigado pelo elucidativo comentário.

    A Realidade já está manifestada! Tudo está aqui, agora. Como para o personagem nada resta a fazer nesta Realidade (pois tudo está feito), a ele basta perceber que tudo já é. A partir dessa percepção plena, ele desfruta o que está sendo percebido e transborda suas percepções/experiências/vivências para o mundo. É um transbordar impessoal, sem o intuito de convencer uma ou outra pessoa dessa verdade. E é através desse compartilhar que a luz espiritual vai se acendendo na consciência de cada ser.

    É apenas a mente que julga ter de realizar algo num cenário onde as coisas ainda não estão feitas. Então é natural que ela queira estar no controle. Dessa forma, a mente pensa o que fazer ou deixar de fazer a fim de manejar a situação da melhor forma que lhe parecer possível, deseja aquilo, e busca realizar seus pensamentos com suas próprias força e inteligência.

    Uma percepção parte do referencial da plenitude/abundância. A outra percepção parte de um referencial de escassez. Devemos aprender a escolher com sabedoria de onde partir. Se começarmos com abundância, o que se seguirá é abundância. E se começarmos com escassez, todos os frutos decorrentes deste ponto de partida serão de escassez. Os resultados (frutos) serão da mesma natureza da semente inicial.

    Devemos aprender a partir da percepção e não do pensamento. Existem pessoas que sabem partir apenas do pensamento, sem saber o que fazer para partir da percepção (e às vezes elas desconhecem por completo a verdade de que é possível partir da percepção).

    É preciso estudar os ensinamentos, entrar em contato com os princípios espirituais ensinados e colocá-los em prática no dia a dia. E, claro, aprender alguma forma ou técnica de meditação. E cultivar diariamente essas atividades. Pouco a pouco a consciência vai se tornando mais ampla, até se expandir ao ponto onde ela perceberá que, além da mente, há um outro ponto de partida possível: a consciência. Quando o indivíduo chegar nesse nível, ele terá plena condição de escolher de onde partir. Mas, enquanto não avançar até esse ponto, ele terá poder apenas para partir do pensamento, da mente (mesmo que tenha conhecimento da consciência e queira partir dela).

    Acredito que esse é um ponto importante a ser levado em consideração.

    Namastê!

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  3. Hoje encontrei estas palavras de Joel Golsmith, que vieram em consonância com o que foi comentado. Por isso transcrevo-as aqui:

    "Este é o mundo que Deus ceou; este é ele. A mente humana não o está vendo como ele é, mas apesar disso, este é ele. A mente humana não me vê como eu sou, mas eu sou Ele. Se olhar para o espelho e tentar encontra-Lo, eu não serei capaz de vê-Lo, pois novamente estaria tentando localizá-Lo. Estaria novamente olhando para um conceito e tentando encontra-Lo, aquele que está aqui como a própria presença de meu ser. Como poderia ser eu algum outro além do que Eu sou? E aquele Eu é a manifestação de tudo que Deus é: Aquele Eu é o Cristo, e Eu sou Ele. Neste momento de conscientização, eu encontro-me relaxado, e Eu sou Ele."


    "Se não estamos encontrando o paraíso aqui, isto não significa que existe algum outro mundo que devemos procurar ou que existe algum outro homem no qual devemos nos tornar. Precisamos somente relaxar a nossa humanidade, despindo-nos dos temores, preocupações e dúvidas de natureza humana. Mas isso não pode ser feito simplesmente com o poder de nossa vontade. Só há um meio de se perder o senso humano ou mortal de existência, e é estarmos conscientes de uma Presença que nós conhecemos e compreendemos ser Deus. Aquela consciência é atingida através de nossa receptividade, através de meditação e ponderação das verdades da Escritura ou da literatura espiritual. Não se trata de afirmar ou negar algo até que uma verdade seja memorizada e enraizada na mente humana. Trata-se de um ponderar suave, calmo e pacífico dessas verdades espirituais até elas serem absorvidas de forma a se tornarem parte de nossa consciência. Assim, nós adquirimos a convicção da presença de Deus; experimentamos e sentimos realmente aquela Presença, perdemos todo o falso senso humano."

    Namastê!

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