segunda-feira, maio 26, 2014

Imagem Verdadeira – Ideia Suprema – Ser Humano - 1/3

Masaharu Taniguchi


Minha filosofia propõe, em primeiro lugar, a mudança total da maneira de se encarar a natureza do ser humano; isto é, ensina que é preciso deixar de considerar o ser humano como mera matéria e passar a considerá-lo um ser espiritual. Depois de propor essa mudança total do conceito do valor humano, exorto: "Reverencie o ser humano; antes de mais nada, reverencie a si próprio". É essencial que, em primeiro lugar, ocorra a conscientização da natureza verdadeira do ser humano. Manter a ideia de que o ser humano é matéria ou corpo carnal e acreditar que esse "eu material" (ou "eu carnal") é filho de Deus, não passa de mera presunção, a qual conduz fatalmente a uma forma de "encobrimento do Eu verdadeiro" (pecado), chamada arrogância. A minha proposição "O ser humano é filho de Deus; como filhos de Deus, devemos reverenciar a nós próprios" só é completa quando precedida de outra que diz: "O ser humano não é corpo carnal".

A conscientização "Sou filho de Deus, e devo reverenciar a mim mesmo" jamais nos conduz à arrogância quando é precedida da conscientização de que "o nosso Eu verdadeiro não é este corpo carnal". Pelo contrário, quando nos conscientizamos da nossa natureza divina, tornamo-nos mais humildes porque percebemos o quanto é imperfeito o aspecto do nosso "eu carnal" em comparação ao nosso Eu verdadeiro, que é um ser espiritual. A conscientização de nossa natureza verdadeira (Eu verdadeiro) constitui a base para avaliarmos o nosso estado manifestado no plano fenomênico. Assim, é lógico que quanto maior o grau de conscientização da nossa natureza verdadeira (Eu verdadeiro), mais imperfeito parecerá o nosso atual aspecto fenomênico.

Devo ressaltar, porém, o fato de que os critérios com que as pessoas avaliam o seu aspecto fenomênico variam bastante, pois, mesmo que se conscientizem da presença de Deus em seu interior, o conceito acerca de Deus varia de pessoa para pessoa. Se alguém considera Deus como um ser que castiga os homens passar a se conscientizar da presença de Deus no seu interior, talvez comece a julgar com rigor os outros, pensando que, "sendo filho de Deus, tem a função de aplicar castigos". Mas na Seicho-No-Ie não pregamos que Deus é um Ser implacável que castiga os homens. A conscientização de que Deus habita o nosso interior – e a de que somos filhos de Deus – deve partir do correto conceito acerca de Deus.

Quem é Deus, e onde Ele está? Alguns acreditam que Deus está nos templos e nas igrejas, outros creem que Deus é a força misteriosa presente em todo o Universo; existem também pessoas que acreditam que Ele é o espírito que habita as imagens de diversas divindades, como, por exemplo, Kazeon-Bosatsu, Fugen-Bosatsu, etc.. A Seicho-No-Ie afirma que Deus está em nós e define esse Deus interior como "perfeição suprema que constitui a essência de todo ser humano". Temos dentro de nós as virtudes mais preciosas – a bondade, o amor, a generosidade, a beleza – em proporções ilimitadas. Quando conseguimos manifestar um pouco dessas virtudes infinitas, nosso coração se enche de alegria, e desejamos exteriorizá-las em grau cada vez maior.

Existe em nós o anseio pelo infinito. Ilustremos esse fato com um exemplo fácil de entender: suponhamos que uma pessoa queira ganhar 100 ienes e consiga essa quantia. Ela não se contenta com esse ganho e passa a querer 200 ienes; uma vez obtidos os 200 ienes, passa a querer mil ienes. De posse de mil ienes, passa a desejar dez mil ienes; tendo ganho 10 mil ienes, passa a sonhar com 1 milhão de ienes. A sua pretensão vai aumentando cada vez mais, de 1 milhão de ienes para 10 milhões de ienes, de 10 milhões para 100 milhões de ienes, e assim por diante. Existe dentro de nós o desejo de buscar o infinito. Por quê? Porque o infinito está dentro de nós

Dá-se o nome de ideal a um padrão de beleza, de qualidade, etc., que nosso Eu verdadeiro indica através da "lente mental", para orientar nossa consciência e nossos conceitos. Assim sendo, ideal é algo que existe no ser humano e o impulsiona a melhorar. Por exemplo, um artista plástico, no início de sua carreira – quando sua ideia do belo ainda não é suficientemente desenvolvida – almeja poder pintar tão bem quanto seu mestre. Porém, quando consegue melhorar bastante, o seu ideal estará um pouco mais elevado, fazendo-o sentir que ainda não progrediu o suficiente. Então, ele passa a ansiar por produzir obras ainda melhores. Desse modo, os ideais no nível fenomênico vão sendo concretizados um após outro, substituídos, cada vez, por um ideal mais elevado que surge do interior. Isto significa que o ideal é dirigido e aprimorado constantemente pela "Mente Primordial" que transcende o fenômeno. Essa Mente – que nos faz estabelecer metas, padrões, visando ao aprimoramento – é Deus que está presente em nós, constituindo nossa natureza divina. Como a nossa natureza divina é perfeita, por maior aprimoramento que alcancemos no mundo fenomênico, ele nunca será a manifestação plena e cabal da Mente Divina. Assim, quando satisfazemos no nível fenomênico o ideal que nos impulsionava, o nosso Eu verdadeiro compara essa realização com a perfeição da Mente Divina e constata que o aspecto fenomênico ainda é muito imperfeito. Então, sentimo-nos insatisfeitos com o aspecto manifestado e passamos a ter um ideal mais elevado.

Podemos definir esse processo mental como ação reflexa, em que a Mente Divina ilumina a mente fenomênica, indicando um ideal, e a mente fenomênica, por sua vez, procura se guiar por aquela. Quando refletimos a respeito da Imagem Verdadeira, levando em consideração essa sutil ação reflexa, compreendemos a natureza divina latente em nós.
Cont...

Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 35", pp.121-125

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