domingo, maio 30, 2010

Esqueça a resposta e mergulhe na questão


Mooji


P: O que você quer dizer quando fala de libertação, Mooji?

M: A libertação é o resultado natural de uma investigação sincera e constante, acerca da natureza do eu. É visto que tudo que surge como manifestação, incluindo a personalidade, é um jogo da consciência na plenitude do Absoluto. No reconhecimento deste fato atemporal, alegria e paz indestrutíveis brilham dentro do coração, do corpo e da mente. Este é o verdadeiro poder da autoinvestigação: revelar o Ser-Consciência como a fonte de todos os fenômenos.

P: Mas quem está investigando?

M: Esqueça sobre a respota e mergulhe profundamente na pergunta. Todas as respostas vêm da mente. O "eu" deve estar lá para dizer "Estou satisfeito ou insatisfeito com esta resposta". O que é "eu"? Descubra o que é o "eu" e você descobrirá quem investiga.

P: Não há "eu".

M: O que está dizendo isso?

P: Está surgindo na consciência espontaneamente.

M: E você, quem é você? O que percebe isso ou qualquer coisa? Se você olhar verdadeiramente e prestar atenção para as suas descobertas, eu vou parar de fazer essas perguntas. Se você quiser que eu pare de martelar na sua mente, olhe e resolva este dilema por você mesmo.

P: Eu sou aquele algo. Seja lá o que for...

M: Antes de surgir a frase "Eu sou aquele algo", o que está aqui?

[Silêncio]

P: ...Toda vez que eu estou na investigação, eu chego a um ponto em que nenhuma resposta vem...

M: E o que observa isso?

P: Consciência... Vazio?... Algo...

M: Pare de me jogar migalhas. Essas palavras estão vazias, são as palavras e testemunhos de outra pessoa, não as suas. Você não pode sentir que elas são desprovidas de autoridade e convicção? Fale apenas a partir da sua experiência direta. Olhe para dentro. Não é necessário qualquer pensamento, imaginação ou visualização - apenas uma observação focada é de real valor aqui. Este poder já está dentro de você. O que quer que surja é observável e, portanto, é observado de outro lugar além. O que é isso que permanece separado e assiste? Isso possui alguma qualidade? É algo?

P: Não, não é algo, não é uma coisa...

M: E o que conhece isso? De onde você está observando? Neste ponto exato me dê alguma resposta se você puder. O que está acontecendo agora?

P: Hum... Existe... Algo que é visto por nada... E eu estou antes disso.

M: SEJA isso!

[Silêncio]

M: Você pode sair disso?

P: Não... eu não posso. O que eu sou não pode... O que eu realmente sou está sempre aqui.

[Silêncio]

M: Eu vim aqui compartilhar com vocês estas boas-novas: você é completo. Você é perfeição, além do conceito de perfeição. Você é o princípio eterno - você já está aqui, imóvel, antes mesmo do conceito "eu sou" ter surgido. A partir do ponto de vista mais alto, você percebe tudo como sendo a sua brincadeira. Você é tudo o que há.

Descubra e confirme isto por você mesmo. Isso deve se tornar a sua própria experiência. Não cite algo que você leu ou ouviu. Leia do seu próprio livro, o livro do seu Ser, esta verdade inabalável.


quinta-feira, maio 27, 2010

A face original

Osho,
Eu não entendo o conceito de compreensão original ou de face original de que fala o povo Zen. Por favor, explique.





"O Zen tem seu jeito próprio de falar a respeito da compreensão suprema ou Deus.

Face original é aquilo que Deus é. Face original quer dizer a sua face quando você não tinha qualquer definição, quando você não tinha corpo, não tinha contorno, nenhuma localização. Face original significa a sua realidade sem forma, quando você nem era nascido, quando nem mesmo seu pai e sua mãe eram nascidos.

Face original quer dizer a fonte de energia, a fonte de energia absoluta, a energia original, além da qual não conseguimos ir – além da qual não existe caminho algum para se ir. Face original quer dizer: abandone todas as máscaras, todos os nomes e todas as formas, e apenas continue olhando para dentro de si e tentando encontrar aquele algo que não foi criado por você, que não foi criado pela sociedade, que não é um sistema de crenças, que nada tem a ver com a sua mente. E continue olhando, continue olhando… Um dia, você tropeça e dá de cara com o observar – que é a única coisa que você não criou, e que é a única coisa além da qual você não consegue ir. Deixe-me repetir, isso é significante. O observar é a única coisa em você, além da qual você não consegue ir. Você não consegue observar o observador.

Como você conseguiria observar o observador? Você consegue observar o corpo – e se certificar de que você não é o corpo. Você consegue fechar os olhos e ver seu corpo, ele está ali. Há uma ligeira dor de cabeça, suas pernas estão ficando dormentes. Assim, uma coisa é certa – você está separado da dormência da perna, caso contrário, como você iria saber dela? O conhecedor tem que estar separado daquilo que está sendo conhecido. Uma coisa é certa: você não é a cabeça nem a dor de cabeça. Você é essa consciência que está conhecendo isso.

Depois continue aprofundando. O corpo não é você. Os pensamentos estão flutuando na mente – um tráfego constante. Um pensamento vem, outro pensamento vem, e eles continuam se apressando nesse entra-e-sai. Esses pensamentos são você? Como podem ser? Então quem é esse observador? Esses pensamentos são como hóspedes e você é o dono da casa. Assim, uma outra camada foi quebrada. Você não é esses pensamentos, você não pode ser. Você é o observador, aquele que continua vendo.

Um pensamento surge, a raiva está chegando. Alguém o insultou e você fica com raiva – um pensamento surge, uma fumaça de raiva aparece. Quem é este que sabe que a raiva está chegando? E, em seguida, ela retrocede também! Num momento a raiva não estava ali, no momento seguinte ela apareceu, e depois novamente ela se foi. Ora, quem é este que está observando? Este é você. Mas você consegue observar o observador? Não há como. Se você puder observar aquele observador, então aquele que está observando será você – não o que está sendo observado, mas o que observa.

Este é finalmente o ponto irredutível. Você não consegue ir além dele. Esta é a origem, o que os hindus chamam de sakshin, o observador, e o povo Zen chama face original. Isso é o que outras religiões chamam Deus. Deus é a sua face original.

Ouçam esta parábola:

Um homem nervoso, viciado em histórias de fantasmas, leu, tarde da noite, uma história bem escrita. Ele ficou com a sensação de que o fantasma, sobre o qual estava lendo, estava na sua casa. Ele colocou barricadas atrás da porta, tremendo de medo e correndo o risco de ter um ataque cardíaco. Sob certo sentido, ele sabia que tudo era ilusão, que ele apenas estava lendo sobre aquilo. Essa é a sua ‘compreensão original’, a qual não é totalmente perdida. Mas, na prática, ele aceita o fantasma, e isso o afeta fisicamente. Qualquer rangido dos móveis ou rajada de vento reforça sua crença no fantasma.

Do ponto de vista da compreensão original, não há nada que precise ser feito, uma vez que o fantasma não existe. Mas do ponto de vista da realidade prática, para se livrar do medo que o oprime, ele precisa adotar uma disciplina que impeça sua cabeça de ter pensamentos baseados na aceitação da existência do fantasma, e possa assim retornar à sua compreensão original. Mas se ele tiver que considerar essa estratégia como uma espécie de magia para acabar com o fantasma, ele de novo estará afirmando a sua existência e atrapalhando a compreensão original.

Mesmo se disser que o objeto dessa estratégia é livrá-lo do fantasma, isso não faz sentido – o fantasma nunca existiu. A prática da compreensão é o que naturalmente põe um fim a essa questão. Os móveis rangem e o vento emite rajadas, mas a casa sempre esteve em paz.

Esta é uma bela história, e você já teve ter observado isso algumas vezes, lendo, tarde da noite, uma história de fantasmas, um conto de suspense, ou algo parecido. E você sabe, basicamente você sabe, fundamentalmente você sabe, que aquilo é apenas uma ficção. Mas você ficou envolvido na história. Uma história de fantasma, se for bem escrita, pode lhe provocar muito medo.

Você quer ir ao banheiro e não consegue ir. E você sabe – não é que você não saiba – você sabe que aquilo é tolice. Mas a dificuldade prática surgiu. Você sempre foi àquele mesmo banheiro no meio da noite e nunca teve problema algum. Ora... Você vai dizer que não sabe? Você esteve lendo a história do fantasma, e você sabe que esse tal fantasma, que parece estar ali no banheiro, na verdade não está.

Se você conseguir entender esta história, terá entendido todo o ponto de vista do Zen. O ego é o fantasma. Ele não está ali. E você sabe disso! Mas a dificuldade prática existe. Você sabe disso, mas ainda assim... O vento vem e faz um barulho, as folhas secas sobre o jardim estão sendo levadas para cá e para lá pelo vento, e você sente… ou imagina que são passos de alguém. Um rato corre dentro do banheiro... Alguma coisa cai... Isso lhe dá um susto. E você está sozinho em casa... E a história do fantasma em suas mãos... Você está sob esse impacto. Agora a sua bexiga está cheia, a ponto de estourar! E você não consegue ir ao banheiro.

E você sabe, o tempo todo, que são apenas folhas secas, e que o vento sempre as espalha desse jeito. E você sabe que o rato, de vez em quando, faz coisas no banheiro. Mas quem sabe...? Talvez...? Esse "talvez" dá vida real a algo que é apenas fantasia de sua imaginação.

Você pode agora ir a um Mestre, ou pode recitar um mantra, ou pode começar a entoar ‘Ram, Ram, Ram’ para ajudá-lo. Ora, o primeiro fantasma é falso, e o segundo fantasma também será falso. Você está agora chamando por Deus, ‘Ajude-me!’ ou recitando um mantra porque a bexiga está cheia, a ponto de estourar, e você tem que ir ao banheiro. E você precisa de se livrar desse fantasma de algum jeito. E alguém lhe disse que o nome Ram é muito poderoso, você tem ouvido histórias. Agora, todas essas histórias se tornam dignas de confiança. Você ouviu que alguém estava passando perto de um cemitério e um fantasma começou a segui-lo, e ele começou a dizer ‘Ram, Ram, Ram’, três vezes – e o fantasma se foi e ele pode atravessar o cemitério sem qualquer problema.

Todas essas histórias agora... E a sua mente está numa confusão! Você começa a repetir ‘Ram, Ram, Ram’. Você tem que ir ao banheiro, tem que encontrar um jeito ou outro de ir. A bexiga está estourando, e então você diz, ‘Ram, Ram, Ram’ – sacudindo, tremendo, metade acreditando, metade não acreditando. E você vai ao banheiro. Ram ajudou.

Na verdade não existe fantasma algum, por isso não há necessidade de Ram ajudá-lo. Mas Ram ajuda. E você fica muito feliz por Ram tê-lo ajudado. Assim, esse mantra é poderoso. Agora, um fantasma foi abandonado, e um outro fantasma está presente. Agora você vai ficar apegado a esse nome ‘Ram’. Agora, sempre que você estiver com medo irá entoar ‘Ram’.

De uma tolice para outra tolice... De uma falsidade para outra falsidade.

Esta é a abordagem do Zen: ao invés de substituir seus fantasmas, por favor, veja, antes de tudo, o fato de que não existe fantasma. Por isso não há necessidade de ficar dependente de qualquer mantra, de qualquer Deus, não há necessidade de se ficar dependente de quem quer que seja. Simplesmente veja: a doença que você acha que tem, não existe, por isso nenhum medicamento é necessário.

Vendo a realidade de que você é a sua quietude original – agora, neste exato momento, vocês são deuses e deusas – vendo isso, a história de fantasma que você tem lido por milhões de vidas, simplesmente desaparece, sem deixar qualquer rastro. Isto é o que o povo Zen chama de face original ou compreensão original."

- OSHO - Zen: The Path of Paradox - Vol. 3 - Capítulo #4 - Pergunta n° 4 -


segunda-feira, maio 24, 2010

O fazer e o não-fazer


Osho


A mente é a queda original, a queda do estado de ser. A mente é o pecado original. Estar na mente é estar no mundo; não estar na mente é estar em Deus. A diferença é muita.

A queda tem que ser entendida. Medite sobre três palavras: ser, fazer e ter. Do ser ao ter é a queda, e o fazer é o processo de se ir do ser ao ter. Ser é Deus, ter é o mundo, e fazer é o processo de cair do ser para o ter.

A mente é uma fazedora. A mente constantemente quer estar ocupada. Um grande desejo de permanecer atarefada, isto é a mente. A pessoa não consegue se sentar só; não consegue se sentar em passiva receptividade, nem mesmo por uns poucos momentos. Isto é uma grande tortura para a mente, porque no momento em que você pára de fazer, a mente começa a desaparecer.

Se você for a um mestre Zen e perguntar 'O que vocês fazem aqui? O que estas pessoas, seus seguidores, estão fazendo?' ele dirá, 'Eles estão apenas sentados. Eles não fazem coisa alguma'. (...)

A mente é uma fazedora. Observe sua própria mente e você compreenderá. O que estou dizendo não é uma declaração filosófica, é simplesmente um fato. Não estou propondo nenhuma teoria para você acreditar ou desacreditar, mas alguma coisa que você pode observar em seu próprio ser. E você verá isto, sempre que estiver só, você imediatamente começa a procurar: alguma coisa tem que ser feita, você tem que ir a algum lugar, você tem que ver alguém. Você não consegue estar só. Você não consegue ser um não-fazedor.

Fazer é o processo pelo qual a mente é criada; ela é um fazer condensado. Conseqüentemente, meditação significa um estado de não-fazer. Se você puder sentar silenciosamente, nada fazendo, de repente você estará de volta para casa. De repente você verá a sua face original, a fonte. E esta fonte é satchitanand: verdade, consciência e felicidade; chame isto Deus, ou nirvana, ou o que você quiser.

Do ser ao fazer, e do fazer ao ter, é como a consciência de Adão chega ao mundo. Mover-se de volta, do ter ao fazer, e do fazer ao ser, é o que significa consciência de Cristo. Mas os Sufis têm uma mensagem tremendamente significante para o mundo. Eles dizem que o homem perfeito é aquele que é capaz de se mover do ser ao fazer, ao ter, ao fazer e ao ser, e assim por diante. Quando o círculo está perfeito, então o homem é perfeito.

A pessoa deve ser capaz de fazer. Não estou dizendo que você deve tornar-se incapaz de fazer; isso não tem valor algum, isso simplesmente é impotência. Você deve ser capaz de fazer, mas não deve ficar absorvido nisto. Você não deve ficar envolvido no fazer, não deve ficar possuído por isto; você deve permanecer o senhor da situação.

E não estou dizendo que tudo o que você tem terá que ser abandonado, não estou lhe dizendo para renunciar a tudo o que você possui. Use, mas não seja usado pelo que possui, isso é tudo. Assim nasce o homem perfeito.

A esse homem perfeito eu chamo sannyasin: ele será ambos, Adão e Cristo. O homem mundano é Adão e, até agora, o homem além do mundano esteve envolvido com a consciência de Cristo. Mas cada qual continua sendo apenas a metade.

O homem precisa tornar-se uma totalidade, um todo. E a minha definição de ser santo nada mais é que ser o todo, a capacidade de estar no mundo e, ainda assim, permanecer acima dele, além dele; a capacidade de usar a mente e, ainda assim, permanecer centrado em seu ser. A mente é um mecanismo de imenso valor; não é um pecado ter uma bela mente. Você tem um belo instrumento de imensa complexidade, e é um prazer usá-lo, da mesma maneira que é um prazer dirigir um belo carro que tenha um mecanismo perfeito.

Nada existe como a mente, se você conseguir usá-la. Então, a mente também é divina. Mas se você for usado por ela, e se o seu céu ficar perdido nas nuvens da mente, então, você permanecerá na miséria, na ignorância.

O advento da mente acontece ao se ficar identificado com os conteúdos da consciência. É preciso apenas uma pequena mudança, um simples passo, e este passo faz a passagem. Este simples passo faz a passagem do mundo para Deus, do externo para o interno, do mundano para o sagrado. E qual é este simples passo? A não-identificação.

Permaneça uma testemunha. Lembre-se sempre de permanecer uma testemunha; saiba perfeitamente bem que, seja o que for que passe pela sua mente, você não é aquilo. Você não é esta coisa chamada mente. Uma vez que você se torna identificado com qualquer coisa da mente, você caiu numa armadilha, numa prisão. Daí, você pode seguir mudando e ajeitando esta coisa repetidas vezes, mas nada acontecerá.

Isso é o que as pessoas seguem fazendo: melhorando a si mesmas, criando um belo caráter, tornando-se mais santos e religiosos; mas a coisa básica ainda não foi feita. Elas estão simplesmente ajeitando as coisas da mente.

Você pode continuar ajeitando os móveis de sua casa; você pode ajeitar da melhor maneira, com mais estética, mas o material continuará sendo o mesmo. O pecador e o chamado santo não são muito diferentes; ambos são diferentes arranjos da mesma mente.

O verdadeiro sábio é aquele que se torna consciente de que ele não é a mente, definitivamente. A idéia de pecado surge e ele permanece indiferente; a idéia de se tornar um santo surge e ele permanece indiferente. Com nada ele se identifica, raiva ou compaixão, ódio ou amor, bom ou ruim. Ele permanece sem julgamento, ele não condena coisa alguma em sua mente. Se você é apenas uma testemunha, qual é o sentido em condenar alguma coisa? E ele não elogia nada em sua mente. Se você é apenas uma testemunha, elogio é simplesmente fútil. Ele permanece tranqüilo, recolhido e centrado. Enquanto a mente continua esbravejando ao seu redor.

Por milhares de anos você tem permanecido identificado com a mente, tem despejado muita energia nela. Ela segue girando e girando, por meses e anos. Mas se você conseguir permanecer um observador silencioso, um observador na colina, então pouco a pouco a energia, o momentum, é perdido e a mente chega a parar.

No dia em que a mente parar, você chegou. A primeira visão do que é Deus e de quem é você acontece imediatamente, porque uma vez que a mente pára, toda a sua energia que tinha permanecido envolvida com ela, é liberada. E essa energia é tremenda, é infinita: ela começa a descer em você. É uma grande bênção, é graça.

Os chamados revolucionários seguem fracassando porque eles continuam tentando dar um jeito nas mesmas coisas da mente. Alguém acredita em Deus e daí aparece um revolucionário que diz, 'Não há Deus algum e eu não acredito em Deus'. Mas ele é tão fanático com suas idéias como as pessoas que acreditam em Deus.

Crente e descrentes, ambos são fanáticos. Uns se apegam ao sim e outros se apegam ao não, mas sim e não, ambos são partes da mente. Você escolhe uma parte e um outro alguém escolhe a outra parte. Um é cristão e o outro é hindu, mas ambos são mentes. Um escolheu a Bíblia e o outro escolheu os Vedas, mas ambos são partes da mente.

Então, quem é realmente religioso? Aquele que não fez escolhas a partir da mente. Você não pode chamá-lo cristão, nem hindu, nem comunista; você não pode chamá-lo teísta nem ateu. Ele simplesmente é. Ele é indefinível. Você não consegue rotulá-lo. Ser é tão vasto que não pode ser rotulado. Nenhuma palavra é adequada o suficiente para descrever o ser. Em tal vastidão, a liberdade; em tal vastidão, a felicidade.

Esta é a verdadeira revolução: pular da mente para o ser. E o processo será o mesmo. Se o fazer é o processo da queda do ser para o ter, então, o não-fazer será o processo de voltar para casa.

Meditação não é algo que você faça; meditação é algo que acontece quando você não está fazendo coisa alguma. Você pode sentar-se, aparentemente imóvel, aparentemente nada fazendo, mas no fundo a mente pode continuar. É assim que acontece nos mosteiros e nas cavernas. Você pode não ter muito o que fazer, mas você pode continuar fazendo algumas poucas coisas repetidas vezes. Você pode seguir repetindo um mantra: isso será o suficiente para a mente. Ela seguirá fazendo o mesmo ato novamente, repetindo a mesma fita cassete por anos, e ela não morrerá.

Três iogues estão sentados numa caverna meditando. Um cavalo se aproxima, olha para dentro e vai embora. Alguns anos se passam e um dos iogues diz 'Um cavalo esteve aqui'.
Mais alguns anos se passam e um outro diz, 'Não, era uma égua'.
Depois de mais alguns anos, o terceiro diz, 'Se for começar uma discussão, eu vou-me embora'.

Nada havia acontecido por muitos anos, quando um cavalo apareceu e deu uma olhada dentro da caverna, mas isto foi o suficiente para mantê-lo ocupado pelos anos seguintes. Isto é o bastante, a mente pode viver, mesmo com essas poucas coisas. É preciso ficar alerta: a questão não é se você está envolvido em muitos trabalhos ou se você está apenas fazendo umas poucas coisas. Esta não é uma questão de quantidade. A questão é de qualidade.

Você pode ser muito rico, você pode ser um rei, ter muitas posses e ter que permanecer envolvido em mil e uma coisas. Daí, você pode renunciar ao reinado e a todas as suas posses, tornar-se um mendigo e viver num barraco. Isto não fará diferença alguma, em absoluto. Para quem está do lado de fora, para os espectadores, parecerá que ocorreu uma grande revolução: o imperador tornou-se um mendigo, ele fez uma grande renúncia. Mas nada aconteceu internamente.

Primeiro você estava envolvido com os afazeres do reinado, agora você está envolvido com os afazeres do pequeno barraco. Apenas a quantidade foi reduzida, mas a qualidade de sua consciência nunca muda com a redução da quantidade. O homem pobre está preocupado com seu carro de boi e o homem rico está preocupado com sua carruagem dourada. Mas a preocupação é a mesma; a preocupação é da mesma qualidade. O homem pobre preocupa-se com a comida do amanhã e o rei preocupa-se com o país vizinho; o objeto da preocupação é diferente, mas o processo da preocupação é o mesmo.

A questão é, como mudar o seu foco, da mente para o ser. O fazer trouxe-o para o mundo, o fazer é a escada que o trouxe para o mundo; o não-fazer será a escada... E o não-fazer não é inatividade. Este ponto tem que ser bem compreendido.

O não-fazer não é inatividade, ele não é inação. A ação está ali, porque ação é vida. Se a ação desaparecer completamente, você estará morto. Mesmo respirar é uma ação; comer, digerir, dormir, tudo são atividades. Viver é estar ativo. Então o que é não-fazer, se não é inatividade? Se você entender o não-fazer como inatividade, você não terá entendido coisa alguma. Daí, a inatividade irá se tornar a sua ocupação. Você estará constantemente ocupado em não fazer isto, não fazer aquilo. O seu processo se tornará negativo, mas ele ainda será um fazer: 'eu não posso fazer isto, eu não posso fazer aquilo'. Agora você está preocupado. A mesma tensão estará ali: 'eu não posso comer isto, eu não posso comer aquilo, eu não posso usar esta roupa, eu não posso usar aquela.' Agora você está se tornando negativo, mas o processo, o ego, ainda está ali; a mente ainda está ali. Ela está ali ao lado, mas é a mesma mente.

O não-fazer é algo que nada tem a ver com ação, mas tem muito a ver com o ego, com a idéia de ego. O fazedor é o ego. É preciso tornar-se um não-fazedor. Aí, Deus é o fazedor e, você relaxa, você não força o rio e não cria agonia para si mesmo ao ir contra a correnteza.

Agonia vem da raiz 'ag'. ' Ag' significa empurrar. Quanto mais você empurra o rio, mais agonia é criada. E enquanto você está empurrando o rio, você está certamente tentando nadar contra a correnteza. Você está indo contra a natureza, contra o Tao, contra Deus.

O não-fazedor é aquele que relaxou com o rio, que está flutuando no rio, fluindo com o rio, aquele que se tornou parte do rio, que não pensa em si separadamente, aquele que não tem um destino individual. Esse é o significado de não-fazer. O destino do todo é o seu destino. 'Para onde o todo estiver indo, eu estou indo também; para qualquer destino ou não-destino. Para onde esta bela existência estiver se movendo, eu sou parte dela. Eu sou uma onda neste grande lago, simplesmente uma pequena onda. Eu não preciso ter um destino individual.'

A partir do destino individual é que surge o medo, a angústia e a agonia. A partir do destino individual, 'eu tenho que fazer algo, eu tenho que ser alguém, eu tenho que atingir algum lugar', que a mente é criada. Fazer significa: 'eu tenho alguma idéia de como eu devo ser, do que eu devo ser'. O não-fazer significa: ' abandonei todas as idéias do meu ser separado da existência'.

Não-separação é não-fazer. A ação continua, mas ela não é mais a sua ação. Agora ela é natural. Se uma cobra passa por uma trilha, você saiu para uma caminhada matinal e vê a cobra passando, você simplesmente dá um salto para fora do caminho da cobra. Não é que você tenha feito aquilo, a ação aconteceu, mas ela é natural. Você não pensa a respeito dela, você não pondera sobre ela. Você não estava de prontidão para aquela ação; você talvez não tenha cruzado com uma cobra antes em sua vida. Você não treinou para fazer aquilo, aquilo não era uma programação em sua mente. Você simplesmente respondeu. Em forma de uma cobra, ali estava a morte. E você respondeu, imediatamente, instantaneamente. A mente nem chegou ali, porque a mente necessita de tempo para ponderar, para pensar, para contemplar. E não havia tempo, a morte estava tão perto; você simplesmente deu um salto.

Sentado debaixo de uma árvore, depois que a cobra passou, você pode pensar sobre ela, agora você tem tempo suficiente para pensar. Mas naquele momento, naquele exato momento, quando a cobra estava ali à sua frente, você simplesmente agiu, não a partir de sua mente, mas a partir de sua totalidade. Aquilo foi um ato de Deus.

O homem que quer realmente se tornar um não-fazedor, começa agindo como um veículo do divino, do todo. A ação continua, mas o ator desaparece. Este é o significado do não-fazer. Você vive a mesma vida, mas agora você tem uma qualidade totalmente diferente, ela tem um sabor diferente."

OSHO - Unio Mystica - Vol. II - Capítulo 3.


sábado, maio 22, 2010

Entrando profundamente no AGORA


Eckhart Tolle



ENTRANDO PROFUNDAMENTE NO AGORA

Não busque o seu eu interior dentro da mente

Sinto que ainda tenho muito a aprender sobre as atividades da minha mente, antes de poder chegar a algum lugar próximo da consciência ou iluminação espiritual.

Não, não tem. Os problemas da mente não podem ser solucionados no nível da mente. No momento em que compreendemos que não somos a nossa mente, não existe muito mais a aprender ou compreender. O máximo que podemos conseguir ao estudar a mente é nos tornarmos bons psicólogos, mas isso não nos levará para além da mente, do mesmo modo que estudar a loucura não basta para criar a sanidade. Já entendemos a mecânica básica do estado de inconsciência, ou seja, quando nos identificamos com a mente geramos um falso eu interior, o ego, que é um substituto do nosso verdadeiro eu interior enraizado no Ser. Passamos a ser “um ramo cortado da videira”, como Jesus pregou.

As necessidades do ego são intermináveis. Ele se sente vulnerável e ameaçado e, em conseqüência, vive em um estado de medo e carência. Quando entendemos esse funcionamento anormal da mente, não precisamos examinar todas as suas numerosas manifestações, nem transformá-lo em um problema pessoal complexo. O ego, é claro, adora fazer isso. Está sempre buscando algo em que se apegar para sustentar e fortalecer a ilusão que tem de si mesmo e para juntar aos seus problemas. Essa é a razão pela qual, para muitos de nós, o sentido do eu interior está intimamente ligado aos nossos problemas. Quando isso acontece, a última coisa que desejamos é nos livrar deles, porque isso significaria a perda do eu interior. Por isso, pode existir uma grande parte de investimento inconsciente do ego em mágoa e sofrimento.

Portanto, se reconhecermos que a raiz da inconsciência vem de uma identificação com a mente, o que naturalmente inclui as emoções, estaremos dando um passo para nos livrar da mente. Ficamos presentes. Quando estamos presentes, podemos permitir que a mente seja como é, sem nos deixar enredar por ela. A mente em si é uma ferramenta maravilhosa. O mau funcionamento acontece quando buscamos o nosso eu interior dentro dela e a confundimos com quem somos. É nesse momento que a mente torna-se egóica e domina toda a nossa vida.


O fim da ilusão do tempo

É praticamente impossível deixarmos de nos identificar com a mente. Estamos mergulhados nela. Como se ensina um peixe a voar?

O segredo está em acabar com a ilusão do tempo. O tempo e a mente são inseparáveis. Tire o tempo da mente e ele pára, a menos que você escolha utilizá-lo.

Estar identificado com a mente é estar preso ao tempo. É a compulsão para vivermos quase exclusivamente através da memória ou da antecipação. Isso cria uma preocupação infinita com o passado e o futuro, e uma relutância em respeitar o momento presente e permitir que ele aconteça. Temos essa compulsão porque o passado nos dá uma identidade e o futuro contém uma promessa de salvação e de realização. Ambos são ilusões.

Mas, sem o tempo, qual seria a razão de nossa existência? Não teríamos objetivos a alcançar, nem mesmo saberíamos quem somos. O tempo é algo precioso e acho que precisamos aprender a utilizá-lo com sabedoria, em vez de desperdiçá-lo.

O tempo não tem nada de precioso, porque é uma ilusão. Aquilo que achamos ser precioso não é o tempo, mas um ponto que está fora dele: o Agora. Isso é realmente precioso. Quanto mais nos concentramos no tempo, no passado e no futuro, mais perdemos o Agora, a coisa mais importante que existe.

Por que o Agora é a coisa mais importante que existe? Primeiramente, porque é a única coisa. É tudo o que existe. O eterno presente é o espaço dentro do qual se desenvolve toda a nossa vida, o único fator que permanece constante. A vida é agora. Nunca houve uma época em que a nossa vida não fosse agora, nem haverá. Em segundo lugar, o Agora é o único ponto que pode nos conduzir para além das fronteiras limitadas da mente. É o nosso único ponto de acesso para a área atemporal e amorfa do Ser.


Nada existe fora do Agora

O passado e o futuro não são tão reais quanto o presente? Afinal, o passado determina quem somos e de que forma agimos no presente. E os nossos objetivos futuros determinam as atitudes que tomamos no presente.

Você ainda não captou a essência do que estou dizendo porque está tentando entender mentalmente. A mente não pode entender esse assunto. Só você pode. Por favor, preste atenção ao seguinte: Você alguma vez vivenciou, realizou, pensou ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Acha que conseguirá algum dia? É possível alguma coisa acontecer ou ser fora do Agora? A resposta é óbvia, não é mesmo?

Nada jamais aconteceu no passado, aconteceu no Agora. Nada jamais irá acontecer no futuro, acontecerá no Agora.

O que consideramos como passado é um traço da memória, armazenado na mente, de um Agora anterior. Quando lembramos do passado, reativamos um traço da memória e fazemos isso agora. O futuro é um Agora imaginado, uma projeção da mente. Quando o futuro acontece, acontece como sendo o Agora. Quando pensamos sobre o futuro, fazemos isso no Agora. Obviamente o passado e o futuro não têm realidade própria. Do mesmo modo como a lua não tem luz própria e apenas reflete a luz do sol, o passado e o futuro são apenas um reflexo pálido da luz, do poder e da realidade do eterno presente. A realidade deles é “emprestada” do Agora.

A essência dessas afirmações não pode ser compreendida pela mente. No momento em que captamos a essência, ocorre uma mudança na consciência, que passa a desviar o foco da mente para o Ser, do tempo para a presença. De repente, tudo parece vivo, irradia energia, emana do Ser.


A chave para a dimensão espiritual

Em situações em que a nossa vida está ameaçada pode ocorrer naturalmente essa mudança na consciência do tempo para o momento presente. A personalidade que tem um passado e um futuro retrocede e é substituída por uma presença consciente intensa, serena, mas, ao mesmo tempo, alerta. Sempre que uma reação se faz necessária, ela surge desse estado de consciência.

Muitas pessoas, embora não percebam, gostam de se envolver em atividades perigosas, como escaladas de montanhas, corridas de automóvel, vôos de asa-delta, pela simples razão de que essas atividades as trazem para o Agora, livre do tempo, dos problemas, dos pensamentos e das obrigações pessoais. Nesses casos, desviar sua atenção do momento presente, nem que seja por um segundo, pode significar a morte. Infelizmente, essas pessoas passam a depender de uma atividade em particular para ficarem nesse estado. Mas você não precisa escalar a face norte do Eiger . Você pode entrar nesse estado agora.

Desde a antiguidade, mestres espirituais de todas as tradições apontam o Agora como a chave para a dimensão espiritual. Mas parece que isso permaneceu como um segredo. Com certeza, não é ensinado em igrejas ou em templos. Se você vai a uma igreja, pode ouvir passagens do Evangelho como “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”, ou “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para entrar no reino de Deus”. A profundidade e a natureza radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Parece que ninguém percebe que os ensinamentos foram formulados para serem vividos e, dessa forma, provocarem uma profunda transformação interior.

Toda a essência do zen consiste em caminhar sobre o fio da navalha do Agora, em estar tão absolutamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem somos em essência, possa permanecer em nós. No Agora, na ausência do tempo, todos os nossos problemas se dissolvem. O sofrimento precisa do tempo e não consegue sobreviver no Agora.

O grande mestre zen Rinzai, visando desviar a atenção de seus alunos do tempo, levantava o dedo com freqüência e perguntava calmamente: “O que está faltando neste exato momento?” Uma pergunta poderosa, que não requer resposta no plano da mente. É formulada para conduzir uma atenção profunda para o Agora. Outra questão muito usada na tradição zen é: “Se não é agora, então quando?”

O Agora é também um ponto central no ensinamento do sufismo, o braço místico do islamismo. Os sufistas têm um ditado que diz: “O sufista é filho do momento presente”. E Rumi, o grande poeta e mestre do sufismo, ensina: “Passado e futuro ocultam Deus de nossa vista, ponha fogo em ambos”.

Mestre Eckhart, mestre espiritual do século treze, resumiu tudo isto com poucas e belas palavras, ao afirmar: “O que impede a luz de nos alcançar é o tempo. Não há maior obstáculo para Deus do que o tempo”.


Acessando o poder do Agora

Momentos atrás, quando você falou sobre o eterno presente e a irrealidade do passado e do futuro, peguei-me olhando através da janela para uma determinada árvore. Já a tinha olhado muitas vezes antes, mas agora foi diferente. Não percebi muita diferença na forma externa, exceto que as cores pareciam mais vivas. Mas havia uma dimensão adicional que antes eu não tinha notado. É difícil de explicar. Não sei bem, mas achei ter percebido alguma coisa invisível, como se fosse a essência daquela árvore, ou melhor, um espírito interior. E, de alguma forma, era como se eu fosse parte dela. Percebo, agora, que nunca tinha visto de fato a árvore, apenas uma imagem plana e morta. Quando olho para a árvore agora, parte daquela impressão ainda permanece, mas posso sentir que ela está desaparecendo. A experiência já está parecendo algo do passado. Será que alguma coisa como essa pode ser considerada mais do que um vislumbre passageiro?

Por um instante, você se libertou do tempo. Ao se concentrar no presente, pôde perceber a árvore sem o enquadramento da mente. A consciência do Ser tornou-se parte da sua percepção. Suprimir a dimensão do tempo faz surgir um tipo diferente de conhecimento, que não “mata” o espírito que mora dentro de cada criatura e de cada coisa. Um conhecimento que não destrói o aspecto sagrado nem o mistério da vida, e que contém um amor e uma reverência profundos por tudo o que é. Um conhecimento sobre o qual a mente nada sabe.

A mente não pode conhecer a árvore. O que ela conhece são apenas fatos ou informações sobre a árvore. A minha mente não pode conhecer você, só rótulos, julgamentos, fatos e opiniões sobre você. Só o Ser conhece diretamente.

Há um lugar para a mente e para o conhecimento da mente. Situa-se na prática do dia-a-dia. Entretanto, quando a mente domina todos os aspectos da nossa vida, incluindo as relações com outras pessoas e com a natureza, transforma-se em um parasita monstruoso que, se não reprimido, pode acabar matando todo o tipo de vida no planeta e, finalmente a si mesma, ao matar quem a hospeda.

Você teve uma breve visão de como a ausência do tempo pode transformar nossa percepção. Mas não basta uma experiência, não importa quanto ela seja linda ou profunda. O que é necessário, e o que nos interessa, é uma mudança definitiva na consciência.

Portanto, rompa com o velho padrão de negação e resistência ao momento presente. Pratique desviar a atenção do passado e do futuro, afaste-se da dimensão do tempo na vida diária, tanto quanto possível. Se você achar difícil entrar diretamente no Agora, comece observando como a sua mente tende a fugir do Agora. Vai notar que geralmente imaginamos o futuro como algo melhor ou pior do que o presente. Imaginar um futuro melhor nos traz esperança e uma antecipação do prazer. Imaginá-lo pior nos traz ansiedade. Ambos os casos são ilusões. Ao observarmos a nós mesmos, um maior grau de presença surge automaticamente em nossas vidas. No momento em que percebemos que não estamos presentes, estamos presentes. Sempre que formos capazes de observar nossas mentes, deixamos de estar aprisionados. Um outro fator surgiu, algo que não pertence à mente: a presença observadora.

Esteja presente como alguém que observa a mente e examine seus pensamentos, suas emoções, assim como suas reações em diferentes circunstâncias. Concentre seu interesse não só nas reações, mas também na situação ou na pessoa que leva você a reagir. Perceba também com que freqüência a sua atenção está no passado ou no futuro. Não julgue nem analise o que você observa. Preste atenção ao pensamento, sinta a emoção, observe a reação. Não veja nada como um problema pessoal. Sentirá então algo muito mais poderoso do que todas aquelas outras coisas que você observa, uma presença serena e observadora por trás do conteúdo da sua mente: o observador silencioso.

Uma presença intensa se faz necessária quando certas situações provocam uma reação de grande carga emocional, como, por exemplo, no momento em que acontece uma ameaça à nossa auto-imagem, um desafio na vida que nos causa medo, quando as coisas “vão mal” ou quando um complexo emocional do passado vem à tona. Nessas situações, tendemos a nos tornar “inconscientes”. A reação ou a emoção nos domina, “passamos a ser” ela. Passamos a agir como ela. Arranjamos uma justificativa, erramos, agredimos, defendemos... só que não somos nós e sim uma reação padronizada, a mente em seu modo habitual de sobrevivência.

Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do infinito. A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo e entrar mais profundamente no Agora. Isso não prejudica nossa capacidade de usar o tempo – passado ou futuro – quando precisamos nos referir a ele em termos práticos. Nem prejudica nossa capacidade de usar a mente. Na verdade, estar presente aumenta nossa capacidade. Quando você usar a mente de verdade, ela estará mais alerta, mais focalizada.


quinta-feira, maio 20, 2010

O maior obstáculo para a iluminação


Eckhart Tolle



VOCÊ NÃO É A SUA MENTE

P: Iluminação – o que é isso?

E: Por mais de trinta anos um mendigo ficou sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise. Até que um dia, uma conversa com um estranho mudou sua vida:

– Tem um trocadinho aí pra mim, moço? – murmurou, estendendo mecanicamente seu velho boné.
– Não, não tenho – disse o estranho. – O que tem nesse baú debaixo de você?
– Nada, isso aqui é só uma caixa velha. Já nem sei há quanto tempo sento em cima dela.
– Nunca olhou o que tem dentro? – perguntou o estranho.
– Não – respondeu. – Para quê? Não tem nada aqui, não!
– Dá uma olhada dentro – insistiu o estranho, antes de ir embora.
– O mendigo resolveu abrir a caixa. Teve que fazer força para levantar a tampa e mal conseguiu acreditar ao ver que o velho caixote estava cheio de ouro.

Eu sou o estranho sem nada para dar, que está lhe dizendo para olhar para dentro. Não de uma caixa, mas sim de você mesmo. Imagino que você esteja pensando indignado: “Mas eu não sou, um mendigo!”

Infelizmente, todos que ainda não encontraram a verdadeira riqueza – a radiante alegria do Ser e uma paz: inabalável – são mendigos, mesmo que possuam bens e riqueza material. Buscam, do lado de fora, migalhas de prazer, aprovação, segurança ou amor, embora tenham um tesouro guardado dentro de si, que não só contém tudo isso, como é infinitamente maior do que qualquer coisa oferecida pelo mundo.

A palavra iluminação transmite a idéia de uma conquista sobre-humana – e isso agrada ao ego –, mas é simplesmente o estado natural de sentir-se em unidade com o Ser. É um estado de conexão com algo imensurável e indestrutível. Pode parecer um paradoxo, mas esse “algo” é essencialmente você e, ao mesmo tempo, é muito maior do que você. A iluminação consiste em encontrar a verdadeira natureza por trás do nome e da forma. A incapacidade de sentir essa conexão dá origem a uma ilusão de separação, tanto de você mesmo quanto do mundo ao redor. Quando você se percebe, consciente ou inconscientemente, como um fragmento isolado, o medo e os conflitos internos e externos tomam conta da sua vida.

Adoro a definição simples de Buda para a iluminação: “É o fim do sofrimento”. Não há nada de sobre-humano nisso, não é mesmo? Claro que não é uma definição completa. Ela apenas nos diz o que a iluminação não é: não é sofrimento. Mas o que resta quando não há mais sofrimento? Buda silencia a respeito, e esse silêncio implica que teremos de encontrar a resposta por nós mesmos. Como ele emprega uma definição negativa, a mente não consegue entendê-la como uma crença, ou como uma conquista sobre-humana, um objetivo difícil de alcançar. Apesar disso, a maioria dos budistas ainda acredita que a iluminação é algo apenas para Buda e não para eles próprios, pelo menos, não nesta vida.

P: Você usou a palavra Ser, Pode explicar o que quer dizer com isso?

E: Ser é a eterna e sempre presente Vida Única, que existe além das inúmeras formas de vida sujeitas ao nascimento e à morte. Entretanto, o Ser não está apenas além, mas também dentro de todas as formas, como a mais profunda, invisível e indestrutível essência interior. Isso significa que ele está ao seu alcance agora, sob a forma de um eu interior mais profundo, que é a verdadeira natureza dentro de você. Mas não procure apreendê-lo com a mente. Não tente entendê-lo. Só é possível conhecê-lo quando a mente está serena. Se estiver alerta, com toda a sua atenção voltada para o Agora, você até poderá sentir o Ser, mas jamais conseguirá compreendê-lo mentalmente. Recuperar a consciência do Ser e submeter-se a esse estado de “percepção dos sentidos” é o que se chama iluminação.

P: Quando você diz Ser, está falando sobre Deus? Se estiver, por que não diz expressamente?

E: A palavra Deus tornou-se vazia de significado ao longo de milhares de anos de utilização imprópria. Emprego-a ocasionalmente, mas com moderação. Considero imprópria a sua utilização por pessoas que jamais tiveram a menor idéia do reino do sagrado, da infinita imensidão contida nessa palavra, mas que a usam com grande convicção, como se soubessem do que estão falando. Existem ainda aqueles que questionam o termo, como se soubessem o que estão discutindo. Esse uso indevido dá origem a crenças, afirmações e delírios absurdos, tais como “o meu ou o nosso Deus é o único Deus verdadeiro, o seu Deus é falso”, ou a famosa frase de Nietzsche, “Deus está morto”.

A palavra Deus se tornou um conceito fechado. Quando a pronunciamos, criamos uma imagem mental, talvez não mais a de um velhinho de barba branca, mas ainda uma representação mental de alguém ou de algo externo a nós e, quase inevitavelmente, alguém ou alguma coisa do sexo masculino.

Tanto Deus quanto Ser são palavras que não conseguem definir nem explicar a realidade por trás delas. Ser, entretanto, tem a vantagem de sugerir um conceito aberto. Não reduz o invisível infinito a uma entidade finita. É impossível formar uma imagem mental a esse respeito. Ninguém pode reivindicar a posse exclusiva do Ser. É a sua essência, tão acessível como sentir a sua própria presença, a realização do Eu sou que antecede o “eu sou isso” ou “eu sou aquilo”. Portanto, a distância é muito curta entre a palavra Ser e a vivência do Ser.

P: Qual o maior obstáculo para vivenciar essa realidade?

E: Identificar-se com a mente, o que faz com que estejamos sempre pensando em alguma coisa. Ser incapaz de parar de pensar é uma aflição terrível, mas ninguém percebe porque quase todos nós sofremos disso e, então, consideramos uma coisa normal. O ruído mental incessante nos impede de encontrar a área de serenidade interior, que é inseparável do Ser. Isso faz com que a mente crie um falso eu interior que projeta uma sombra de medo e sofrimento sobre nós. Examinaremos esses pontos detalhadamente, mais adiante.

O filósofo Descartes acreditava ter alcançado a verdade mais fundamental quando proferiu sua conhecida máxima: “Penso, logo existo”. Cometeu, no entanto, um erro básico ao equiparar o pensar ao Ser e a identidade ao pensamento. O pensador compulsivo, ou seja, quase todas as pessoas, vive em um estado de aparente isolamento, em um mundo povoado de conflitos e problemas. Um mundo que reflete a fragmentação da mente em uma escala cada vez maior. A iluminação é um estado de plenitude, de estar “em unidade” e, portanto, em paz. Em unidade tanto com o universo quanto com o eu interior mais profundo, ou seja, o Ser. A iluminação é o fim não só do sofrimento e dos conflitos internos e externos permanentes, mas também da aterrorizante escravidão do pensamento. Que maravilhosa libertação!

Se nos identificamos com a mente, criamos uma tela opaca de conceitos, rótulos, imagens, palavras, julgamentos e definições que bloqueia todas as relações verdadeiras. Essa tela se situa entre você e o seu eu interior, entre você e o próximo, entre você e a natureza, entre você e Deus. E essa tela de pensamentos que cria uma ilusão de separação, uma ilusão de que existe você e um “outro” totalmente à parte. Esquecemos o fato essencial de que, debaixo do nível das aparências físicas, formamos uma unidade com tudo aquilo que é. Por “esquecermos” quero dizer que não sentimos mais essa unidade como uma realidade evidente por si só. Podemos até acreditar que isso seja uma verdade, mas não mais a reconhecemos como verdade. Acreditar pode até trazer conforto. No entanto, a libertação só pode vir através da vivência pessoal.

Pensar se tornou uma doença. A doença acontece quando as coisas se desequilibram. Por exemplo, não há nada de errado com a divisão e a multiplicação das células no corpo humano. Mas, quando esse processo acontece sem levar em conta o organismo como um todo, as células se proliferam e temos a doença.

Se for usada corretamente, a mente é um instrumento magnífico. Entretanto, quando a usamos de forma errada, ela se torna destrutiva. Para ser ainda mais preciso, não é você que usa a sua mente de forma errada. Em geral, você simplesmente não usa a mente. É ela que usa você. Essa é a doença. Você acredita que é a sua mente. Eis aí o delírio. O instrumento se apossou de você.

Não concordo muito com isso. É verdade que penso muito sem um objetivo definido, como a maioria das pessoas, mas ainda posso escolher como usar a minha mente para ter e conseguir coisas, e faço isso o tempo todo.

Só porque podemos resolver palavras cruzadas ou construir uma bomba atômica não significa que estejamos usando a mente. Assim como os cães adoram mastigar ossos, a mente adora transformar dificuldades em problemas. É por isso que ela resolve palavras cruzadas e constrói bombas atômicas. Mas essas coisas não interessam a você. Pergunto então: você consegue se livrar da sua mente quando quer? Já encontrou o botão que a “desliga”?

P: A idéia é parar de pensar completamente? Não, não consigo, a não ser por um ou dois segundos.

E: Então, é porque a mente está usando você. Estamos tão identificados com ela que nem percebemos que somos seus escravos. É quase como se algo nos dominasse sem termos consciência disso e passássemos a viver como se fôssemos a entidade dominadora. A liberdade começa quando percebemos que não somos a entidade dominadora, o pensador. Saber disso nos permite observar a entidade. No momento em que começamos a observar o pensador, ativamos um nível mais alto de consciência. Começamos a perceber, então, que existe uma vasta área de inteligência além do pensamento, e que este é apenas um aspecto diminuto da inteligência. Percebemos também que todas as coisas realmente importantes como a beleza, o amor, a criatividade, a alegria e a paz interior surgem de um ponto além da mente. É quando começamos a acordar.


terça-feira, maio 18, 2010

Jim Carrey experiencia a Verdade


Este vídeo fala da experiência espiritual ocorrida com o famoso ator norte-americano, Jim Carrey. Nele, Jim conta a experiência por que passou enquanto estudava, ponderava/meditava nos ensinamentos que o mestre espiritual Eckhart Tolle expunha num de seus livros. Em dado momento, Jim Carrey pôde compreender Aquilo para o qual a mensagem contida nos textos de Eckhart Tolle apontava. Este vídeo é valioso porque mostra o que aconteceu com um indivíduo que é uma personalidade famosa no mundo inteiro. Todo mundo sabe quem é Jim Carrey: um ator de grande talento para romances, dramaturgia e, principalmente, para comédias. Todos sabemos que ele não é uma pessoa especial, no sentido de ser um mestre ou um "escolhido" apontado a dedo por Deus. Ele é um homem comum, assim como nós também somos. Isso nos dá ânimo e esperança de também conseguirmos o mesmo. Há muitas pessoas que pensam erroneamente que uma experiência autenticamente espiritual não possa ocorrer com elas, por julgarem a si mesmas como pessoas simples e comuns. Se alguém pensar assim, o próprio pensamento negativo constituirá impedimento para que a experiência ocorra: a mente precisa estar serena, silenciosa, livre de julgamentos e conceitos. Quando alguém pensa "Uma revelação elevada como essa jamais poderia acontecer a mim porque sou uma pessoa comum, simples demais!", está turvando a mente com negatividade, expectativas e preocupações. Apenas o 'não julgar' é necessário. 'Não julgar' é colocar a mente em uma configuração de receptividade e acolhimento. Esteja aberto! Quando estiver estudando, ponderando sobre um ensinamento espiritual, ou mesmo quando estiver praticando oração ou meditação, acredite na possibilidade de que a revelação pode descer até você naquele exato instante. Mas, ao mesmo tempo, não crie expectativas e não faça exigências para que Ela se revele. Aceite o que vier. Se conseguir satisfazer/cumprir esses requisitos, você terá criado as condições necessárias para que Ela se manifeste, você terá preparado o terreno. Agora, permaneça dentro dessa condição, dentro dessa atmosfera criada, e seja paciente. A Verdade é imparcial e universal, por isso não faz acepção/distinção seres ou pessoas. Ela não o rejeita; você é acessível a Ela. Ela se manifesta onde há "campo" propício para que ela se revele. Assim, não crie impedimentos com sua mente. Se acreditar na dificuldade ou impossibilidade de Ela ocorrer a você, ela não ocorrerá. Aconteceu a Jim Carrey, por que não aconteceria com qualquer um de nós?

No vídeo, Jim Carrey diz que "compreendeu o quanto o pensamento é ilusório e como ele - o pensamento - é o causador de todos os problemas", viu-se livre da ilusão e só o que restou foi a Verdade (Sat). Conta que "de repente, ele não viu mais a si mesmo como uma parte fragmentada do universo: ele era tudo e todos, ele era o universo inteiro". Jim não mais via o mundo a partir da mente, ele experienciou a existência do ponto de vista da Consciência (Chit). E, por fim, disse "... porque essa é uma sensação maravilhosa" (Ananda). SAT-CHIT-ANANDA.

O que fez com que Jim Carrey compreendesse de forma correta e exata as palavras do mestre Eckhart Tolle? Ele desapegou-se de todos os conceitos e olhou para a coisa real. Mesmo as palavras contidas nos livros transmitem conceitos - conceitos espirituais, mas, ainda sim, conceitos. Mesmo quando um sábio fala sobre a Verdade, ele não o pode fazer senão por meio de conceitos, ele precisa verbalizar, categorizar, relativizar, simbolizar... E a Verdade não é um símbolo. Este apenas representa a Verdade. Para conhecer a Verdade, retire a visão da simbologia e olhe para o lado contrário.

Uma história Zen conta que houve uma monja que durante anos buscou a iluminação, mas nunca conseguiu compreender a Verdade, pois esta não é apreendida intelectualmente. Durante muitos anos ela estudou todos os escritos sagrados com muito afinco - lia-os todos, de modo que ela os conhecia a fundo um-por-um. Mas foi só num determinado dia, quando ela foi até um poço com um pote buscar água, que aconteceu... Ao voltar para casa, enquanto andava, ela olhava e contemplava a lua refletida na água contida no pote. Ela estava tão absorta em sua compenetração, olhando, admirando e observando a lua. Tudo o mais não existia, ela estava completamente esquecida de que havia saído de casa para ir buscar água. Ela sequer percebia que estava caminhando de volta para a casa ou que estava carregando um pote, ela apenas contemplava a lua - isso era tudo o que havia para ela naquele momento, essa era toda a realidade, toda a existência. Somente ela e a lua estavam presentes. Naquele momento de intensa atenção, algo que ela nunca poderia esperar ou imaginar aconteceu: o fundo do pote rompeu, e a água derramou. Com o desaparecimento da água, desapareceu também a imagem da lua que ela olhava. O pote ficou vazio de imagem. Só então é que ela se deu conta de que estava observando a lua a partir do reflexo da água, e que aquela não era a lua real. Foi então que voltou seus olhos para o alto, e lá estava a lua verdadeira brilhando. Esse foi o momento de sua iluminação. A lua refletida no balde era irreal, volátil. Ali, ela aprendeu a olhar para o objeto real e permanente. Essa história ilustra o que ocorreu com Jim Carrey, enquanto lia e meditava nos ensinamentos.

Ele lia o livro com a mente, com o intelecto, mas para conseguir captar o significado real ele teve, em determindado ponto, que abandonar o intelecto, pôr de lado a mente e o raciocínio. Ele largou a simbologia, o reflexo, e olhou para o lado contrário. Nisso, ocorreu a experiência que ele próprio relata no vídeo.

Ânimo! Compreender a Verdade é uma questão que está diretamente relacionada a nossa capacidade de não julgar pelas aparências, de desapegar-nos de todos os conceitos. Não pense que você seja uma forma corporal. Não pense que você seja um ser que nasce, envelhece e morre e que este mundo - o fenômeno, a matéria - seja existência verdadeira. Não pense que você esteja vivendo a sua Vida neste mundo fenomênico/material - não julgue assim. Jamais você existiu neste mundo. Não julgue! Julgamentos e conceitos são emitidos pela mente. Quem quer que se desapegue completamente do que a mente mostra/sugere, rompe o fundo da mente e joga fora a água do pote. O que sobra é só a Lua real. Visto a partir do ponto de vista da consciência, há apenas Unidade, Deus, Substância e Atividade Espiritual, uma única Vida ou Alma. Jim Carrey descobriu ser essa Vida. Essa Vida também é cada um de nós.

domingo, maio 16, 2010

Superando a morte


Papaji


Questão: O que acontece quando uma pessoa Self-realizada deixa o corpo? Se não há necessidade para reencarnar, para onde ela vai?

Papaji: Não há algo como uma pessoa Self-realizada. Quando não há a “pessoa” o Self é realizado. Quando não há a “pessoa” a questão de ir ou vir não pode surgir. O corpo é um aparecimento no Self. Quando o corpo desaparece o Self permanece, e isso é como sempre foi. Realização é o entendimento “Eu não sou este corpo que vem e vai, eu sou esta permanência, esta realidade imutável na qual o corpo e tudo mais também aparece.”

Q: O que é o Jiva ou a alma que reencarna numa pessoa não iluminada?

P: O jiva é esta entidade que clama ser sua todas as atividades do corpo e da mente. Se você morre sem encontrar quem e o que você realmente é, este jiva, junto com todos os seus desejos e medos acumulados, encontrará outra forma para invadir e perturbar.

Q: Nos falaram que às vezes uma alma não encontra um veículo apropriado imediatamente: pode haver um tempo longo entre deixar um corpo e entrar em outro. O que acontece com o Jiva durante este período? Nós estamos cônscios enquanto neste “intervalo”?

P: Um jiva pode encontrar outra forma quase imediatamente ou pode levar varias centenas de anos. O que acontece neste período? Ele goza ou sofre em acordo com seu karma, do mesmo jeito que isso acontece quando ocupa um corpo humano. Em qualquer forma ou mundo que o jiva exista, ele estará sempre se alternando entre prazeres e dores.

Q: Se nossa natureza é SAT-CHIT-ANANDA (Verdade - Consciência - Êxtase) – por que nós deixamos este estado bem-aventurado e assumimos a forma corporal, aprendendo através de tantas vidas o que provavelmente já sabemos de inicio? Algumas vezes eu sinto que só quero ir para casa. Onde é minha Casa?

P: Por que assumir que você deixou Sat-chit-ananda? Uma suposição desta lhe traz um problema sem fim. Por que não ter a convicção de que você sempre esteve em “casa”, de que você sempre tem estado em bem-aventurança, e sempre estará? Se você deixar ir esta idéia de que pegou uma forma corporal, você descobrirá que sempre esteve em Sat-chit-ananda.

Q: Por que nós não nos lembramos nada das nossas vidas passadas?

P: Algumas pessoas lembram, a maioria não. Relembrar o passado mantém você no passado. Quanto menos você lembrar do passado, melhor será para você.

Q: Que tipo de reencarnação vem para alguém que comete suicídio?

P: “Sui” significa “Self”. O suicídio real será extinguir a vida deste “self” que você pensa que é. Se você puder fazer isso, não haverá mais mortes e renascimentos. Se você simplesmente matar o corpo, você rapidamente encontrará um novo corpo para continuar seu sofrimento.

sexta-feira, maio 14, 2010

O mais elevado ensinamento


John Sherman


A chave para a sua vida é descobrir, por si mesmo, a natureza de seu ser, de uma maneira direta, imediata e impossível de se negar. Quem você é de verdade? Esta é a chave para você exalar seu último suspiro satisfeito. Ao invés de continuar avidamente buscando mais uma chance, mais uma coisa, mais uma idéia. Como isso pode ser difícil? Como pode ser difícil desviar sua atenção de todas as produções da mente, de todas as idéias da mente, de todos os conceitos, de todas as opiniões, de todas as práticas? Retirar sua atenção de todas essas coisas e voltá-la para dentro, para si mesmo. Não para o seu "eu superior", não para o seu "verdadeiro eu". Não há dois "eus", um em busca do outro. Há apenas você mesmo. A sensação cotidiana/mundana de "mim mesmo". Isso que é permanente, ao contrário de tudo mais. Isso que jamais se moveu, nunca mudou nem um milésimo, em toda a sua vida. Como pode ser difícil descobrir o que é permanente?

Tudo, toda experiência pode ser previamente eliminada. A experiência do corpo, do pensamento, da emoção, as experiências de enlevo, de pesar, de raiva, em suma, tudo que é impermanente. A experiência da consciência oceânica, de bem-aventurança, de consciência divina, de paz, nada disso é o que você está procurando.

O que você busca é o que é permanente, o que nunca mudou, o nunca se moveu, o que é absolutamente inevitável. Acordado, adormecido, você está presente. Sempre o mesmo.

Ramana Maharshi roubou este ensinamento. Este é o ensinamento mais elevado, que foi sempre mantido em segredo para todos, exceto para aqueles que tivessem vencido os estágios do caminho na tradição em que se encontravam, e que tivessem feito tudo que tinham que fazer. Somente então era-lhes revelado que a única coisa que precisavam fazer era descobrir quem eram.

Ramana Maharshi diz que esta investigação consiste em usar toda a energia de sua vida para descobrir a verdade do seu ser, em vez de desperdiçá-la em todos os outros objetos nos os quais desperdiçamos nossa atenção. Esta investigação em si mesma não é um meio para um fim. Não há nada que se possa atingir ao se embarcar nela. Ramana Maharshi nos diz que a própria investigação é a auto-realização. É a consciência atenta, alerta e ciente de si mesma como ser eterno.

Não se pode alcançar a realização. Você é realização. Você não pode alcançá-la, nem perdê-la. Ninguém pode lhe dar a realização, nem tirá-la de você. Para você cumprir o objetivo de sua vida, é necessário apenas manter a sua atenção incessantemente voltada para dentro, para "eu". Voltada para esse sentido de "mim mesmo" que esteve com você a sua vida inteira. Este sentido de "mim mesmo" que você chama de "eu" ou pelo seu próprio nome. Esta sensação de "mim mesmo", que é inevitável e inatingível, e que é exatamente a mesmo para todos. Para todos.

Há duas maneiras de se abordar isto e elas são idênticas. Uma maneira é render-se, que significa neste instante, agora mesmo, neste momento, parar de pensar. Abandonar todo sentido de si mesmo como um indivíduo. Mas quem é que consegue fazer isso?

A outra maneira é descobrir quem você é. Buscar incessantemente somente a si mesmo. Nada mais, apenas a si mesmo. Se parar de pensar, se abandonar todo sentido de si mesmo como um indivíduo, você descobrirá a si mesmo, tal como você é. Se concentrar toda a sua energia, todo o seu talento e intelecto no objetivo de descobrir, direta e imediatamente, a verdade de sua natureza, você desaparecerá como indivíduo. De uma maneira ou de outra. Na verdade, você não desaparece, porque "você" nunca existiu. É isso que torna tudo tão fácil.


quarta-feira, maio 12, 2010

Abandonando sua história


Gangaji


Você se conta histórias? São histórias sobre o que você tem ou não tem, sobre o que você precisa ou não precisa? São histórias sobre a sua liberdade, seu aprisionamento, suas carências, sua generosidade, suas mágoas, suas alegrias? São histórias sobre quem você é, sobre o que é alguma outra pessoa? São histórias sobre o que precisa mudar, sobre o que precisa permanecer como é, ou sobre o que está certo ou errado?

Será que você está disposto a parar de contar sua história pessoal? Está disposto a contar a verdade sobre se você está mesmo disposto ou não?

Seja lá o que for que você se conte, por mais horrível ou grandioso, não passa de uma história. Como história, como uma destilação da experiência, poderá ser a verdade relativa, mas não é a verdade final. Histórias aparecem, mudam e desaparecem. Quer a sua história trate de quanto você é bom ou mau, mesmo assim ela aparece e desaparece. A verdade final nada tem a ver com emoções, bioquímica ou mudanças de circunstâncias. Ela é imutável e incondicional.

Você pode parar de contar a sua história em menos de um instante. Nem que seja uma história boa, pare de se esbaldar em contá-la, e a verdade poderá ser imediatamente vivenciada. Você não poderá vivenciar a verdade, se continuar a contar a sua história, e não poderá continuar a contar a sua história, se estiver vivenciando a verdade. É óbvio, não é?

Pare de contar a sua história agora mesmo! Não depois, quando a história melhorar ou piorar, mas agorinha mesmo. Quando você pára de contar a sua história agora mesmo, você pára de adiar a constatação da verdade que está além da história. Todo esforço, toda dificuldade e todo sofrimento contínuo estão em resistência ao "parar". Essa resistência nutre-se da esperança de que a história vá lhe dar o que você tanto almeja, a esperança de que, se você puder consertar a história e fazer as mudanças necessárias, você obterá o que quer.

Quando você parar de contar a história sobre mim, sobre ele, ela, eles, nós, poderá conhecer em menos de um segundo as verdadeiras profundezas do que significa ser o que você é. Então, qualquer história que apareça ou desapareça não atingirá quem você é.

Quando você sonha à noite, o seu sonho tem um início, um meio e um fim. Parece real naquele momento, mas, quando se acorda, você sabe que era evidentemente um sonho. Da mesma forma, você pode acordar do sonho da sua vida. Pode acordar antes de terminar a história sobre você, já que todas as histórias por fim terminam. Acordar dentro da história é o que se chama de “sonho lúcido” ou “sonho vívido”.

Normalmente, você acorda de manhã e retoma a história sobre quem você é. Você pode até fazer alguma prática de meditação, mas a prática real é a história corrente sobre quem você é. A energia e a emoção geradas pela história dão origem a infinitas variações de frustração, deleite, dor ou prazer, todas a orbitar em torno desta prática da história sobre “mim”.

Contar a sua história pessoal é a religião primária da maioria das pessoas no planeta. A história pessoal localiza-se num corpo, numa tribo, numa nação, numa religião, em “nós”. É por isso que o planeta está em guerra constante e você está em guerra constante consigo mesmo. Se puder reconhecer qual é a sua história, então a história será consciente e não mais inconsciente. Você poderá ver qual é a história, e poderá decidir parar de segui-la como se ela fosse realidade.

A possibilidade é reconhecermos que todas as nossas histórias, por mais complexas e estratificadas que sejam, por mais profundamente implantadas em nossa estrutura genética, são apenas histórias. A verdade sobre quem você é não é uma história. A vastidão e a proximidade desta verdade precede a todas as histórias. Quando você ignora a verdade sobre quem você é por fidelidade a alguma história, você perde uma oportunidade preciosa de auto-reconhecimento.

Como um meio de expor a sua própria história particular, você pode se perguntar honesta e diretamente: Qual é a minha história? Expor a história não tem o propósito de livrar-se dela ou segui-la. O propósito é ver quais histórias você está contando sobre quem você pensa que é ou quem você acha que deveria ser.

Quaisquer que sejam as suas respostas, será que você consegue considerar a possibilidade de que tudo é apenas uma história? Não está certa, não está errada, não é real. Experimente a possibilidade da irrealidade dela. Deixe a sua consciência cair de volta naquele espaço onde não há história, onde não há pensamento. Se surgir um pensamento, veja que ele está simplesmente passando. Não é certo nem errado. É apenas um pensamento, que nada tem a ver com a verdade essencial sobre quem você é.


segunda-feira, maio 10, 2010

Reconheça sua natureza

Mooji



“Este ‘eu’ pessoal, o “me”, é como um dedo quebrado: em qualquer lugar que for, ele causará problemas; tudo que ele toca, dói. Este quem está identificado com este ‘eu’ pensa que qualquer coisa que aconteça em sua vida é causado pelo meio que o cerca, incluindo as pessoas ao redor. Ele dirá: ‘Os outros me causaram dor’, ‘minha circunstância de vida são responsáveis’. É interminável. Outros poucos vêem isso como uma oportunidade, ou se interessam por encontrar a fonte de todos os problemas, de todo o seu sofrimento.

‘Eu’ é a causa dos seus problemas. Justamente por você ter feito um ninho dentro do sentimento pessoal do ‘eu’ que você está apegado é por que você está sofrendo. Não conserte sua vida. Encontre este ‘eu’ e veja o que acontece.

(...)

Por que você diz ‘eu quero ser livre?’ Eu compreendo esta contenda e este sentimento que profundamente o tocou. Então, vamos averiguar e ver se nós podemos determinar qual é realmente o problema. O que nós iremos remover é a convicção de que tudo não está bem. E quando nós vamos verificar para descobrir o por quê, nós iremos compreender que você está identificado com a morte. Você está se identificando com algo que não dura, que não tem longevidade. Você se apaixonou pelo tempo. Você se apaixonou pelos objetos, pelas ideias que estão em transição. É assim que todo o problema começa. E como a confusão entra no Ser.”

(...)

“Quem está por detrás de toda manifestação? Olhe, e você descobrirá que tudo acontece por si mesmo! Quando você vê isso, então sua consciência se torna desocupada. Até então, o seu Ser está ocupado com um sentimento de ‘Fazedor’ (realizador), ‘eu preciso fazer alguma coisa, eu preciso entender’.

Esforço é requisitado para tornar-se, mas que esforço é requisitado a ser? Então, deixe tudo como deve ser deixado; testemunhe a Existência espontânea. Isto não é caótico. Seja o que acontecer, aconteça, e isso faz muito bem. O suposto patrão – a mente – está causando um monte de problemas. E não, nós não somente demitimos o patrão, como também desistimos da firma!

Veja se o Universo não pára.

Muitos de vocês não estão aproveitando o creme da vida, porque vocês têm comprado a versão da mente de como as coisas deveriam ser. A idéia cortou seu vínculo com a Fonte do seu Eu Real, e não mais flui. O resultado é desarmonia e sofrimento. Você é o Eu Real, o Absoluto, expressando-se espontaneamente, mas você não sabe disso. Você não precisa nem acreditar nisso! Você pensa: ‘O que irá acontecer se eu desistir do controle? Meu mundo desabará a meus pés!’

(...)

Quem você realmente é não é previsível. A mente é previsível na tentativa de controlar o que é espontâneo. Ao ter medo do novo, a mente simultaneamente surge do Desconhecido, provendo espaço para mente agir como o desconhecido e o conhecido aparente. Este jogo não é da sua conta.

Não se preocupe com nada. Seja como uma criança no colo de Deus. Nem policie seus pensamentos, nem faça parte do departamento de imigração dos sentimentos-vistos que são requeridos. Você pode relaxar. Sim. Relaxe.”

(...)

“Permaneça como o Eu Real! (...) Está sendo cansativo porque você está tentando firmemente com sua mente. (...) Primeiro, a maior das pessoas pensam que observar a mente significa sempre prestar atenção a diversas atividades aparecendo na mente. Isto é um modo que pode ser interpretado. Mas o conselho é permanecer desapegado em estado de testemunha sem se tornar envolvido com os movimentos da mente.

Não simplesmente olhe estas atividades; ao invés disso, observe a reação interna a estas atividades. Isto é mais íntimo que simplesmente olhar o jogo da mente. Estas reações mostram o envolvimento pessoal que tem sido cultivado; aonde houver identificação e ‘ruído’. Quando eu digo ‘ruído’, quero dizer a turbulência interna – resistência e excitação – que perturba a paz. Tão logo estas tendências sejam reconhecidas, o próximo passo é perguntar, quem, o que, onde está este quem está identificado? Pode uma face ser colocada nisso? Existe uma entidade real e tangível residindo como ‘eu’? Descubra! Para responder a estas questões, a atenção precisa ser introvertida – fixa na fonte de toda a atividade incessante.”

(...)

“O estado natural da mente é ficar em silêncio, vazio, aberto. Não existe nenhuma intenção! Se você pensa que precisa praticar silêncio, encontrar silêncio, manter silêncio, então você tem mal entendido. Tudo isto, o Universo inteiro, está acontecendo em Silêncio!

Não é nada sobre sair correndo para achar algum silêncio. É reconhecer o Silêncio que não pode ser perturbado aonde você se encontrar, independente da circunstância, da altura do ruído.

(...)

Toda esta conversa é somente para revelar o seu próprio Silêncio. E não leva tempo! Quando você estiver na frente de um espelho, ele não diz: ‘Olhe, estou ocupado neste exato instante, por favor, retorne em meia hora’. Tão poderoso é o espelho da inquirição que imediatamente você é visto! E então você saberá o Indescritível, o Sem Forma diretamente. Talvez você não consiga se expressar sobre, mas seu sofrimento termina. Seus medos acabam. Você conquistou a morte deles mesmos!

Muitos de vocês estão tão próximos da descoberta, mas criam desculpas e fogem, com medo de queimarem o último apego do ‘eu’. A oportunidade é encará-la, senti-la e ver que você é o Intocável.”

(...)

“Condicionamentos ocorre na área onde o condicionamento pode ocorrer. Mas há um lugar onde o condicionamento não pode ocorrer: de cuja presença do condicionamento, o efeito do condicionamento, e o jogo do condicionamento é observado. Você é Aquele que Vê. Você é aquele que Testemunha passivamente. Você não é a parte ativa. O que você realmente é não está interessado em condicionamentos. De fato, finalmente, você sequer sabe qualquer coisa sobre condicionamento!”

(...)

“Sentir travado, parado, estagnado é simplesmente um pensamento em que se acredita nele.
Remova a crença e a estagnação desaparece.
Se um espaço for mantido na escuridão por milhares de anos,
Quando a janela se abrir –
Levará milhares de anos para a escuridão desaparecer?
Da mesma forma, em um instante, a Luz da Verdade expele a escuridão da ignorância.”

(...)

“Talvez você experimente um vislumbre, um tremor, mas isso não irá estabilizar, porque você mantém conceitos de quem você pensa que é e acredita ser na sua mente. Meu sentimento é, retorne ao seu país livre. Seja o que você trouxer aqui com você, deixe. O fogo sagrado de Arunachala é um bom lugar para queimar tudo. Volte para casa vazio. Este será o melhor presente para sua nação, sua família, seus amigos. Leve seu passaporte, mas você, se mantém vazio.”

(...)

“Você está imaginando que tem estudado e
o que está dentro de sua cabeça é o que você sabe.
Mas é somente o que você pensa.
Apenas o que é confirmado dentro do seu Coração
É o real Conhecimento,
E o mais alto conhecimento e experiência é:
‘Eu Sou nada’.”

(...)

“Caminhe pela luz do seu Coração.
O fluxo de cada rio é único.
Eu estou além do rio e do fluxo.
Eu sou a Consciência Livre (Sem Fronteiras).”




*Texto extraído do site: http://www.metamorficus.blogspot.com/2010/04/mooji-reconheca-sua-natureza.html

quinta-feira, maio 06, 2010

Sonhos

“Somos feitos da mesma coisa que os sonhos e nossa curta vida é rodeada por um sono.” (Shakespeare)





Shakespeare realmente sabia sobre o que estava falando e isto não era somente efervescência poética. Maharishi costumava dizer exatamente a mesma coisa.

Suponho que eu tenha questionado Bhagavan sobre esse assunto com mais freqüência do que outros, apesar de algumas dúvidas sempre permanecerem para mim. Ele sempre avisou que assim que uma dúvida fosse esclarecida, outra surgiria no lugar da primeira, num processo sem fim.

“Mas Baghavan”, eu repetia, “sonhos são desconexos, enquanto que o estar acordado continua de onde havia parado e é tido por todos como algo contínuo”.

“Você diz isso nos seus sonhos?” Bhagavan perguntava. “Eles pareciam perfeitamente consistentes e reais enquanto aconteciam. Somente agora, enquanto acordado, é que você questiona a realidade da experiência. Isto não tem lógica.”

Bhagavan se recusava a ver a menor diferença entre os dois estados, e nisso ele concordava com todos os grandes Videntes Advaitas. Alguns questionaram se Shankara não teria traçado uma linha de diferença entre estes dois estados, mas Bhagavan persistentemente negava isto. “Shankara só fez esta divisão aparente para o propósito de uma exposição mais clara”, Maharishi explicava.

Mesmo que eu tentasse alterar meu modo de perguntar, a resposta que eu recebia era sempre a mesma: “Coloque suas dúvidas dentro do próprio sonho. Você não questiona o estar acordado quando você está acordado, você o aceita. E o aceita da mesma maneira que você aceita os seus sonhos. Vá além desses dois estados, e do terceiro – o sono profundo. Estude-os a partir daquele ponto de vista. Você está estudando uma limitação do ponto de vista de outra limitação. Poderia algo ser mais absurdo? Vá além de todas as limitações, e então volte com suas dúvidas.”

Apesar disso, as dúvidas ainda permaneciam. De algum jeito, eu sentia, enquanto sonhava, que havia algo de irreal nos sonhos; não era sempre, mas alguns lampejos vez ou outra.

“Isso também não vive acontecendo com você enquanto você está acordado?” Bhagavan perguntava. “Às vezes você não sente que o mundo em que você vive e as coisas que estão acontecendo não são reais?”

Mais uma vez, apesar de tudo isso, a dúvida persistia. Porém, em uma manhã, me aproximei do Bhagavan e, para seu encantamento, entreguei-lhe um papel, onde estava escrito o seguinte:

“Bhagavan se lembra que eu expressei minhas dúvidas sobre a semelhança entre o sonhar e o estar acordado. Na manhã de hoje, a maior parte dessas dúvidas foram esclarecidas pelo seguinte sonho, que me pareceu particularmente objetivo e real:

Eu estava discutindo filosofia com alguém e pontuei que todas as experiências eram subjetivas, e que não havia nada além da mente. A outra pessoa negava, mostrando o quão sólido as coisas eram e quão reais as experiências pareciam, e que isso não poderia ser somente imaginação.

Eu respondia: 'Não, nada é mais do que um sonho. Sonhar e estar acordado são exatamente a mesma coisa.'

‘Você diz isso agora’, ele respondeu, ‘mas você nunca diria uma coisa dessas no seu sonho.’

E então, eu acordei.”


Livro-fonte: “Call Divine”.

segunda-feira, maio 03, 2010

Conhece-te a ti mesmo


Nisargadatta Maharaj



Pergunta: Qual é o seu estado no momento presente?

Maharaj: Um estado de não-experiência. Nele, todas as experiências estão incluídas.

P: Você pode entrar na mente e no coração de outro homem e partilhar das experiências dele?

M: Não. Essas coisas requerem treinamento especial. Eu sou como um negociante de trigo. Sei pouco sobre pães e bolos. Mesmo o gosto de um mingau de trigo eu não conheço. Mas sobre o grão de trigo eu sei tudo e conheço muito bem. Eu conheço a fonte de toda a experiência. Mas as inúmeras formas particulares que a experiência pode assumir eu não conheço. Nem preciso conhecer. De momento a momento o pouco que preciso saber para viver a minha vida, de alguma forma eu venho a saber.

P: Sua existência particular e a minha existência particular existem na mente de Brahma?

M: O universal não tem conhecimento do particular. A existência como uma pessoa é uma questão pessoal. Uma pessoa existe no tempo e no espaço, tem nome e forma, começo e fim, o universal inclui todas as pessoas e o absoluto é a raiz de tudo e está além de tudo.

P: Eu não estou preocupado com a totalidade. Minha consciência pessoal e a sua consciência pessoal - qual é o elo entre as duas?

M: Qual pode ser o elo entre dois sonhadores?

P: Eles podem sonhar um com o outro.

M: Isso é o que as pessoas estão fazendo. Todo mundo imagina os “outros” e buscam uma ligação com eles. O buscador é o elo, não há nenhum outro.

P: Certamente deve haver algo em comum entre os muitos pontos de consciência que nós somos.

M: Onde estão os muitos pontos? Em sua mente. Você insiste que seu mundo é independente da sua mente. Como pode ser? Seu desejo de conhecer a mente das outras pessoas é devido a você não conhecer sua própria mente. Primeiro conheça sua própria mente e você verá que a questão das outras mentes não surgirá de modo algum, pois não há outras pessoas. Você é o fator comum, a única ligação entre as mentes. Existência é consciência, o "eu sou" se aplica a todos.

P: A Realidade Suprema (Parabrahman) pode estar presente em todos nós. Mas de que ela serve para nós?

M: Você é como um homem que diz: "Eu preciso de um lugar onde guardar minhas coisas, mas de que serve o espaço para mim?" ou “Eu preciso de leite, chá, café ou refrigerante, mas de água eu não tenho nenhuma necessidade”. Você não vê que a Suprema Realidade é o que torna tudo possível? Mas se você perguntar de que ela serve para você, eu devo responder: 'De nada'. Em questões da vida diária o conhecedor do real não tem nenhuma vantagem: ao invés disso ele talvez tenha desvantagem, estando livre da ganância e do medo - ele não se protege. A própria idéia de lucrar é estranha para ele, ele abomina acréscimos, sua vida é um constante despojar-se, compartilhar, doar.

P: Se não há nenhuma vantagem em ganhar o Supremo, então por que se preocupar com isso?

M: Há um problema apenas quando você se agarra a alguma coisa. Quando você não se prende a nada, nenhum problema surge. O abandono do menor significa a obtenção do maior. Abandone tudo e você ganha tudo. Então a vida torna-se o que ela deveria ser: a radiação pura de uma fonte inesgotável. Nessa luz o mundo parece vago como um sonho.

P: Se meu mundo é apenas um sonho e você é uma parte dele, o que você pode fazer por mim? Se o sonho não é real, não tendo existência, como a realidade pode afetá-lo?

M: Enquanto dura, o sonho tem existência temporária. É o seu desejo de mantê-lo que cria o problema. Deixe-o ir. Pare de imaginar que o sonho é seu.

P: Você parece tomar por garantido que pode haver um sonho sem um sonhador e que eu me identifico com o sonho criado por minha própria doce vontade. Mas eu sou o sonhador e o sonho também. Quem é que vai parar de sonhar?

M: Deixe o sonho desenrolar-se até o fim. Você não pode evitá-lo. Mas você pode olhar para o sonho como um sonho, recusar-lhe o carimbo da realidade.

P: Aqui estou eu, sentado diante de você. Eu estou sonhando e você está me assistindo falar em meu sonho. Qual é o elo entre nós?

M: A minha intenção de acordar você é o elo. Meu coração quer que você acorde. Eu vejo você sofrer em seu sonho e sei que você deve acordar para acabar com sua tristeza. Quando você vê seu sonho como sonho, você acorda. Mas em seu sonho propriamente dito, não estou interessado. Basta para mim saber que você precisa acordar. Você não precisa trazer o seu sonho a uma conclusão definida, ou torná-lo nobre, ou feliz, ou bonito. Tudo que você precisa é perceber que você está sonhando. Pare de imaginar, pare de acreditar. Veja as contradições, as incongruências, a falsidade e a tristeza do estado humano, a necessidade de ir além. Dentro da imensidão do espaço flutua um minúsculo átomo de consciência e nele o universo inteiro está contido.

P: Existem afeições no sonho que parecem reais e permanentes. Elas desaparecem ao acordarmos?

M: No sonho você ama uns e não outros. Ao acordar você descobre que você é o próprio amor, abrangendo o todos. O amor pessoal, não importa o quão intenso e genuíno, invariavelmente limita, o amor na liberdade é o amor a todos.

P: As pessoas vêm e vão. Amamos a quem encontramos, não podemos amar a todos.

M: Quando você é o próprio amor, você está além do tempo e dos números. Ao amar um você ama todos, ao amar todos, você ama cada um. Um e todos não são exclusivos.

P: Você diz que você está em um estado atemporal. Isso significa que o passado e o futuro estão abertos para você? Você conheceu Vashishta Muni, o Guru de Rama?

M: A questão está no tempo e refere-se ao tempo. Mais uma vez você está me perguntando sobre o conteúdo de um sonho. A atemporalidade está além da ilusão do tempo, ela não é uma extensão no tempo. Aquele que chamava-se Vashishta conhecia Vashishta. Estou além de todos os nomes e formas. Vashishta é um sonho em seu sonho. Como posso conhecê-lo? Você está muito preocupado com o passado e o futuro. É tudo devido ao seu desejo de continuar, é para proteger-se contra a extinção. E como você deseja continuar, você quer que os outros lhe façam companhia, daí a sua preocupação com a sobrevivência deles. Mas o que você chama de sobrevivência é apenas a sobrevivência de um sonho. A morte é preferível do que isso. Há uma chance de acordar.

P: Você está ciente da eternidade, portanto não está preocupado com a sobrevivência.

M: É o contrário. Liberdade de todos os desejos é a eternidade. Todos os apegos implicam o medo, pois todas as coisas são passageiras e o medo torna a pessoa uma escrava. Essa liberdade do apego não vem com prática, ela é natural quando a pessoa conhece seu verdadeiro ser. O amor não se apega; apego não é amor.

P: Então não há maneira de obter o desapego?

M: Não há nada a ser obtido. Nem mesmo o desapego. Abandone todas as fantasias e conheça a si mesmo como você é. O auto-conhecimento é desapego. Todo desejo é devido a uma sensação de insuficiência. Quando você sabe que não lhe falta nada, que tudo o que existe é você e é seu, os desejos cessam.

P: Para me conhecer devo praticar a consciência?

M: Não há nada para praticar. Para conhecer a si mesmo, seja você mesmo. Para ser você mesmo, pare de imaginar-se ser isto ou aquilo. Apenas seja. Deixe a sua verdadeira natureza emergir. Não perturbe a sua mente com procuras.

P: Vai levar muito tempo se eu apenas esperar pela auto-realização.

M: Pelo quê você tem que esperar quando isso já está aqui e agora? Você só tem que olhar e ver. Olhe para você mesmo, em seu próprio ser. Você sabe que você é e você gosta disso. Abandone toda imaginação, isso é tudo. Não confie no tempo. Tempo é morte. Quem espera - morre. A vida é agora apenas. Não fale comigo sobre o passado e o futuro, eles existem apenas na sua mente.

P: Você também morrerá.

M: Eu já estou morto. A morte física não fará nenhuma diferença no meu caso. Eu sou o ser atemporal. Eu estou livre de desejo ou medo, porque eu não me lembro do passado ou imagino o futuro. Onde não há nomes e formas, como pode haver desejo e medo? Com a ausência de desejo vem atemporalidade. Estou seguro porque o que não é, não pode tocar o que é. Você se sente inseguro porque você imagina o perigo. Naturalmente, o seu corpo, como tal, é complexo e vulnerável e precisa de proteção. Mas você não. Quando você realizar o seu próprio ser inatacável, você estará em paz.

P: Como posso encontrar paz quando o mundo sofre?

M: O mundo sofre por razões muito válidas. Se você quiser ajudar o mundo, você deve estar além da necessidade de ajuda. Então, toda as suas ações, bem como as não-ações irão ajudar o mundo da forma mais eficaz.

P: Como pode a não-ação ser útil, quando as ações são necessárias?

M: Sempre que é necessário agir, a ação acontece. O homem não é o ator. Sua ação é estar ciente do que está acontecendo. Sua própria presença é ação. A janela é a "ausência de parede" e ela dá o ar e a luz porque ela é vazia. Esteja vazio de todo o conteúdo mental, de toda imaginação e esforço, e a própria ausência de obstáculos fará a realidade invadir. Se você realmente quiser ajudar uma pessoa, mantenha-se afastado. Se você está emocionalmente comprometido em ajudar, vai falhar em ajudar. Você pode estar muito ocupado e muito feliz com o seu caráter caridoso, mas não será feito muito. Um homem é realmente ajudado quando ele não está mais necessitando de ajuda. Todo o resto é apenas futilidade.

P: Não há tempo suficiente para sentar e esperar que a ajuda aconteça. É preciso fazer alguma coisa.

M: De todo jeito - faça. Mas o que você pode fazer é limitado, apenas o Ser é ilimitado. Dê ilimitadamente - de si mesmo. Tudo o mais você pode dar em pequenas medidas apenas. Somente você é imensurável. Ajudar é a sua própria natureza. Mesmo quando você come e bebe você ajuda seu corpo. Para si mesmo, você não precisa de nada. Você é puro doar, sem começo, sem fim, inesgotável. Quando você vê tristeza e sofrimento, fique com eles. Não se apresse em agir. Nem a aprendizagem nem a ação podem realmente ajudar. Fique com a tristeza e revele as suas raízes - ajudar a entender é a verdadeira ajuda.

P: Minha morte está se aproximando.

M: O seu corpo é que tem um tempo curto, não você. O tempo e o espaço estão apenas na mente. Você não é limitado. Apenas compreenda a si mesmo, isso em si é a eternidade.

(*Fonte: extraído do site "Portal do conhecimento divino")