Eu não entendo o conceito de compreensão original ou de face original de que fala o povo Zen. Por favor, explique.
"O Zen tem seu jeito próprio de falar a respeito da compreensão suprema ou Deus.
Face original é aquilo que Deus é. Face original quer dizer a sua face quando você não tinha qualquer definição, quando você não tinha corpo, não tinha contorno, nenhuma localização. Face original significa a sua realidade sem forma, quando você nem era nascido, quando nem mesmo seu pai e sua mãe eram nascidos.
Face original quer dizer a fonte de energia, a fonte de energia absoluta, a energia original, além da qual não conseguimos ir – além da qual não existe caminho algum para se ir. Face original quer dizer: abandone todas as máscaras, todos os nomes e todas as formas, e apenas continue olhando para dentro de si e tentando encontrar aquele algo que não foi criado por você, que não foi criado pela sociedade, que não é um sistema de crenças, que nada tem a ver com a sua mente. E continue olhando, continue olhando… Um dia, você tropeça e dá de cara com o observar – que é a única coisa que você não criou, e que é a única coisa além da qual você não consegue ir. Deixe-me repetir, isso é significante. O observar é a única coisa em você, além da qual você não consegue ir. Você não consegue observar o observador.
Como você conseguiria observar o observador? Você consegue observar o corpo – e se certificar de que você não é o corpo. Você consegue fechar os olhos e ver seu corpo, ele está ali. Há uma ligeira dor de cabeça, suas pernas estão ficando dormentes. Assim, uma coisa é certa – você está separado da dormência da perna, caso contrário, como você iria saber dela? O conhecedor tem que estar separado daquilo que está sendo conhecido. Uma coisa é certa: você não é a cabeça nem a dor de cabeça. Você é essa consciência que está conhecendo isso.
Depois continue aprofundando. O corpo não é você. Os pensamentos estão flutuando na mente – um tráfego constante. Um pensamento vem, outro pensamento vem, e eles continuam se apressando nesse entra-e-sai. Esses pensamentos são você? Como podem ser? Então quem é esse observador? Esses pensamentos são como hóspedes e você é o dono da casa. Assim, uma outra camada foi quebrada. Você não é esses pensamentos, você não pode ser. Você é o observador, aquele que continua vendo.
Um pensamento surge, a raiva está chegando. Alguém o insultou e você fica com raiva – um pensamento surge, uma fumaça de raiva aparece. Quem é este que sabe que a raiva está chegando? E, em seguida, ela retrocede também! Num momento a raiva não estava ali, no momento seguinte ela apareceu, e depois novamente ela se foi. Ora, quem é este que está observando? Este é você. Mas você consegue observar o observador? Não há como. Se você puder observar aquele observador, então aquele que está observando será você – não o que está sendo observado, mas o que observa.
Este é finalmente o ponto irredutível. Você não consegue ir além dele. Esta é a origem, o que os hindus chamam de sakshin, o observador, e o povo Zen chama face original. Isso é o que outras religiões chamam Deus. Deus é a sua face original.
Ouçam esta parábola:
Um homem nervoso, viciado em histórias de fantasmas, leu, tarde da noite, uma história bem escrita. Ele ficou com a sensação de que o fantasma, sobre o qual estava lendo, estava na sua casa. Ele colocou barricadas atrás da porta, tremendo de medo e correndo o risco de ter um ataque cardíaco. Sob certo sentido, ele sabia que tudo era ilusão, que ele apenas estava lendo sobre aquilo. Essa é a sua ‘compreensão original’, a qual não é totalmente perdida. Mas, na prática, ele aceita o fantasma, e isso o afeta fisicamente. Qualquer rangido dos móveis ou rajada de vento reforça sua crença no fantasma.
Do ponto de vista da compreensão original, não há nada que precise ser feito, uma vez que o fantasma não existe. Mas do ponto de vista da realidade prática, para se livrar do medo que o oprime, ele precisa adotar uma disciplina que impeça sua cabeça de ter pensamentos baseados na aceitação da existência do fantasma, e possa assim retornar à sua compreensão original. Mas se ele tiver que considerar essa estratégia como uma espécie de magia para acabar com o fantasma, ele de novo estará afirmando a sua existência e atrapalhando a compreensão original.
Mesmo se disser que o objeto dessa estratégia é livrá-lo do fantasma, isso não faz sentido – o fantasma nunca existiu. A prática da compreensão é o que naturalmente põe um fim a essa questão. Os móveis rangem e o vento emite rajadas, mas a casa sempre esteve em paz.
Esta é uma bela história, e você já teve ter observado isso algumas vezes, lendo, tarde da noite, uma história de fantasmas, um conto de suspense, ou algo parecido. E você sabe, basicamente você sabe, fundamentalmente você sabe, que aquilo é apenas uma ficção. Mas você ficou envolvido na história. Uma história de fantasma, se for bem escrita, pode lhe provocar muito medo.
Você quer ir ao banheiro e não consegue ir. E você sabe – não é que você não saiba – você sabe que aquilo é tolice. Mas a dificuldade prática surgiu. Você sempre foi àquele mesmo banheiro no meio da noite e nunca teve problema algum. Ora... Você vai dizer que não sabe? Você esteve lendo a história do fantasma, e você sabe que esse tal fantasma, que parece estar ali no banheiro, na verdade não está.
Se você conseguir entender esta história, terá entendido todo o ponto de vista do Zen. O ego é o fantasma. Ele não está ali. E você sabe disso! Mas a dificuldade prática existe. Você sabe disso, mas ainda assim... O vento vem e faz um barulho, as folhas secas sobre o jardim estão sendo levadas para cá e para lá pelo vento, e você sente… ou imagina que são passos de alguém. Um rato corre dentro do banheiro... Alguma coisa cai... Isso lhe dá um susto. E você está sozinho em casa... E a história do fantasma em suas mãos... Você está sob esse impacto. Agora a sua bexiga está cheia, a ponto de estourar! E você não consegue ir ao banheiro.
E você sabe, o tempo todo, que são apenas folhas secas, e que o vento sempre as espalha desse jeito. E você sabe que o rato, de vez em quando, faz coisas no banheiro. Mas quem sabe...? Talvez...? Esse "talvez" dá vida real a algo que é apenas fantasia de sua imaginação.
Você pode agora ir a um Mestre, ou pode recitar um mantra, ou pode começar a entoar ‘Ram, Ram, Ram’ para ajudá-lo. Ora, o primeiro fantasma é falso, e o segundo fantasma também será falso. Você está agora chamando por Deus, ‘Ajude-me!’ ou recitando um mantra porque a bexiga está cheia, a ponto de estourar, e você tem que ir ao banheiro. E você precisa de se livrar desse fantasma de algum jeito. E alguém lhe disse que o nome Ram é muito poderoso, você tem ouvido histórias. Agora, todas essas histórias se tornam dignas de confiança. Você ouviu que alguém estava passando perto de um cemitério e um fantasma começou a segui-lo, e ele começou a dizer ‘Ram, Ram, Ram’, três vezes – e o fantasma se foi e ele pode atravessar o cemitério sem qualquer problema.
Todas essas histórias agora... E a sua mente está numa confusão! Você começa a repetir ‘Ram, Ram, Ram’. Você tem que ir ao banheiro, tem que encontrar um jeito ou outro de ir. A bexiga está estourando, e então você diz, ‘Ram, Ram, Ram’ – sacudindo, tremendo, metade acreditando, metade não acreditando. E você vai ao banheiro. Ram ajudou.
Na verdade não existe fantasma algum, por isso não há necessidade de Ram ajudá-lo. Mas Ram ajuda. E você fica muito feliz por Ram tê-lo ajudado. Assim, esse mantra é poderoso. Agora, um fantasma foi abandonado, e um outro fantasma está presente. Agora você vai ficar apegado a esse nome ‘Ram’. Agora, sempre que você estiver com medo irá entoar ‘Ram’.
De uma tolice para outra tolice... De uma falsidade para outra falsidade.
Esta é a abordagem do Zen: ao invés de substituir seus fantasmas, por favor, veja, antes de tudo, o fato de que não existe fantasma. Por isso não há necessidade de ficar dependente de qualquer mantra, de qualquer Deus, não há necessidade de se ficar dependente de quem quer que seja. Simplesmente veja: a doença que você acha que tem, não existe, por isso nenhum medicamento é necessário.
Vendo a realidade de que você é a sua quietude original – agora, neste exato momento, vocês são deuses e deusas – vendo isso, a história de fantasma que você tem lido por milhões de vidas, simplesmente desaparece, sem deixar qualquer rastro. Isto é o que o povo Zen chama de face original ou compreensão original."
Face original é aquilo que Deus é. Face original quer dizer a sua face quando você não tinha qualquer definição, quando você não tinha corpo, não tinha contorno, nenhuma localização. Face original significa a sua realidade sem forma, quando você nem era nascido, quando nem mesmo seu pai e sua mãe eram nascidos.
Face original quer dizer a fonte de energia, a fonte de energia absoluta, a energia original, além da qual não conseguimos ir – além da qual não existe caminho algum para se ir. Face original quer dizer: abandone todas as máscaras, todos os nomes e todas as formas, e apenas continue olhando para dentro de si e tentando encontrar aquele algo que não foi criado por você, que não foi criado pela sociedade, que não é um sistema de crenças, que nada tem a ver com a sua mente. E continue olhando, continue olhando… Um dia, você tropeça e dá de cara com o observar – que é a única coisa que você não criou, e que é a única coisa além da qual você não consegue ir. Deixe-me repetir, isso é significante. O observar é a única coisa em você, além da qual você não consegue ir. Você não consegue observar o observador.
Como você conseguiria observar o observador? Você consegue observar o corpo – e se certificar de que você não é o corpo. Você consegue fechar os olhos e ver seu corpo, ele está ali. Há uma ligeira dor de cabeça, suas pernas estão ficando dormentes. Assim, uma coisa é certa – você está separado da dormência da perna, caso contrário, como você iria saber dela? O conhecedor tem que estar separado daquilo que está sendo conhecido. Uma coisa é certa: você não é a cabeça nem a dor de cabeça. Você é essa consciência que está conhecendo isso.
Depois continue aprofundando. O corpo não é você. Os pensamentos estão flutuando na mente – um tráfego constante. Um pensamento vem, outro pensamento vem, e eles continuam se apressando nesse entra-e-sai. Esses pensamentos são você? Como podem ser? Então quem é esse observador? Esses pensamentos são como hóspedes e você é o dono da casa. Assim, uma outra camada foi quebrada. Você não é esses pensamentos, você não pode ser. Você é o observador, aquele que continua vendo.
Um pensamento surge, a raiva está chegando. Alguém o insultou e você fica com raiva – um pensamento surge, uma fumaça de raiva aparece. Quem é este que sabe que a raiva está chegando? E, em seguida, ela retrocede também! Num momento a raiva não estava ali, no momento seguinte ela apareceu, e depois novamente ela se foi. Ora, quem é este que está observando? Este é você. Mas você consegue observar o observador? Não há como. Se você puder observar aquele observador, então aquele que está observando será você – não o que está sendo observado, mas o que observa.
Este é finalmente o ponto irredutível. Você não consegue ir além dele. Esta é a origem, o que os hindus chamam de sakshin, o observador, e o povo Zen chama face original. Isso é o que outras religiões chamam Deus. Deus é a sua face original.
Ouçam esta parábola:
Um homem nervoso, viciado em histórias de fantasmas, leu, tarde da noite, uma história bem escrita. Ele ficou com a sensação de que o fantasma, sobre o qual estava lendo, estava na sua casa. Ele colocou barricadas atrás da porta, tremendo de medo e correndo o risco de ter um ataque cardíaco. Sob certo sentido, ele sabia que tudo era ilusão, que ele apenas estava lendo sobre aquilo. Essa é a sua ‘compreensão original’, a qual não é totalmente perdida. Mas, na prática, ele aceita o fantasma, e isso o afeta fisicamente. Qualquer rangido dos móveis ou rajada de vento reforça sua crença no fantasma.
Do ponto de vista da compreensão original, não há nada que precise ser feito, uma vez que o fantasma não existe. Mas do ponto de vista da realidade prática, para se livrar do medo que o oprime, ele precisa adotar uma disciplina que impeça sua cabeça de ter pensamentos baseados na aceitação da existência do fantasma, e possa assim retornar à sua compreensão original. Mas se ele tiver que considerar essa estratégia como uma espécie de magia para acabar com o fantasma, ele de novo estará afirmando a sua existência e atrapalhando a compreensão original.
Mesmo se disser que o objeto dessa estratégia é livrá-lo do fantasma, isso não faz sentido – o fantasma nunca existiu. A prática da compreensão é o que naturalmente põe um fim a essa questão. Os móveis rangem e o vento emite rajadas, mas a casa sempre esteve em paz.
Esta é uma bela história, e você já teve ter observado isso algumas vezes, lendo, tarde da noite, uma história de fantasmas, um conto de suspense, ou algo parecido. E você sabe, basicamente você sabe, fundamentalmente você sabe, que aquilo é apenas uma ficção. Mas você ficou envolvido na história. Uma história de fantasma, se for bem escrita, pode lhe provocar muito medo.
Você quer ir ao banheiro e não consegue ir. E você sabe – não é que você não saiba – você sabe que aquilo é tolice. Mas a dificuldade prática surgiu. Você sempre foi àquele mesmo banheiro no meio da noite e nunca teve problema algum. Ora... Você vai dizer que não sabe? Você esteve lendo a história do fantasma, e você sabe que esse tal fantasma, que parece estar ali no banheiro, na verdade não está.
Se você conseguir entender esta história, terá entendido todo o ponto de vista do Zen. O ego é o fantasma. Ele não está ali. E você sabe disso! Mas a dificuldade prática existe. Você sabe disso, mas ainda assim... O vento vem e faz um barulho, as folhas secas sobre o jardim estão sendo levadas para cá e para lá pelo vento, e você sente… ou imagina que são passos de alguém. Um rato corre dentro do banheiro... Alguma coisa cai... Isso lhe dá um susto. E você está sozinho em casa... E a história do fantasma em suas mãos... Você está sob esse impacto. Agora a sua bexiga está cheia, a ponto de estourar! E você não consegue ir ao banheiro.
E você sabe, o tempo todo, que são apenas folhas secas, e que o vento sempre as espalha desse jeito. E você sabe que o rato, de vez em quando, faz coisas no banheiro. Mas quem sabe...? Talvez...? Esse "talvez" dá vida real a algo que é apenas fantasia de sua imaginação.
Você pode agora ir a um Mestre, ou pode recitar um mantra, ou pode começar a entoar ‘Ram, Ram, Ram’ para ajudá-lo. Ora, o primeiro fantasma é falso, e o segundo fantasma também será falso. Você está agora chamando por Deus, ‘Ajude-me!’ ou recitando um mantra porque a bexiga está cheia, a ponto de estourar, e você tem que ir ao banheiro. E você precisa de se livrar desse fantasma de algum jeito. E alguém lhe disse que o nome Ram é muito poderoso, você tem ouvido histórias. Agora, todas essas histórias se tornam dignas de confiança. Você ouviu que alguém estava passando perto de um cemitério e um fantasma começou a segui-lo, e ele começou a dizer ‘Ram, Ram, Ram’, três vezes – e o fantasma se foi e ele pode atravessar o cemitério sem qualquer problema.
Todas essas histórias agora... E a sua mente está numa confusão! Você começa a repetir ‘Ram, Ram, Ram’. Você tem que ir ao banheiro, tem que encontrar um jeito ou outro de ir. A bexiga está estourando, e então você diz, ‘Ram, Ram, Ram’ – sacudindo, tremendo, metade acreditando, metade não acreditando. E você vai ao banheiro. Ram ajudou.
Na verdade não existe fantasma algum, por isso não há necessidade de Ram ajudá-lo. Mas Ram ajuda. E você fica muito feliz por Ram tê-lo ajudado. Assim, esse mantra é poderoso. Agora, um fantasma foi abandonado, e um outro fantasma está presente. Agora você vai ficar apegado a esse nome ‘Ram’. Agora, sempre que você estiver com medo irá entoar ‘Ram’.
De uma tolice para outra tolice... De uma falsidade para outra falsidade.
Esta é a abordagem do Zen: ao invés de substituir seus fantasmas, por favor, veja, antes de tudo, o fato de que não existe fantasma. Por isso não há necessidade de ficar dependente de qualquer mantra, de qualquer Deus, não há necessidade de se ficar dependente de quem quer que seja. Simplesmente veja: a doença que você acha que tem, não existe, por isso nenhum medicamento é necessário.
Vendo a realidade de que você é a sua quietude original – agora, neste exato momento, vocês são deuses e deusas – vendo isso, a história de fantasma que você tem lido por milhões de vidas, simplesmente desaparece, sem deixar qualquer rastro. Isto é o que o povo Zen chama de face original ou compreensão original."
- OSHO - Zen: The Path of Paradox - Vol. 3 - Capítulo #4 - Pergunta n° 4 -
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