Eckhart Tolle
ENTRANDO PROFUNDAMENTE NO AGORA
Não busque o seu eu interior dentro da mente
Sinto que ainda tenho muito a aprender sobre as atividades da minha mente, antes de poder chegar a algum lugar próximo da consciência ou iluminação espiritual.
Não, não tem. Os problemas da mente não podem ser solucionados no nível da mente. No momento em que compreendemos que não somos a nossa mente, não existe muito mais a aprender ou compreender. O máximo que podemos conseguir ao estudar a mente é nos tornarmos bons psicólogos, mas isso não nos levará para além da mente, do mesmo modo que estudar a loucura não basta para criar a sanidade. Já entendemos a mecânica básica do estado de inconsciência, ou seja, quando nos identificamos com a mente geramos um falso eu interior, o ego, que é um substituto do nosso verdadeiro eu interior enraizado no Ser. Passamos a ser “um ramo cortado da videira”, como Jesus pregou.
As necessidades do ego são intermináveis. Ele se sente vulnerável e ameaçado e, em conseqüência, vive em um estado de medo e carência. Quando entendemos esse funcionamento anormal da mente, não precisamos examinar todas as suas numerosas manifestações, nem transformá-lo em um problema pessoal complexo. O ego, é claro, adora fazer isso. Está sempre buscando algo em que se apegar para sustentar e fortalecer a ilusão que tem de si mesmo e para juntar aos seus problemas. Essa é a razão pela qual, para muitos de nós, o sentido do eu interior está intimamente ligado aos nossos problemas. Quando isso acontece, a última coisa que desejamos é nos livrar deles, porque isso significaria a perda do eu interior. Por isso, pode existir uma grande parte de investimento inconsciente do ego em mágoa e sofrimento.
Não busque o seu eu interior dentro da mente
Sinto que ainda tenho muito a aprender sobre as atividades da minha mente, antes de poder chegar a algum lugar próximo da consciência ou iluminação espiritual.
Não, não tem. Os problemas da mente não podem ser solucionados no nível da mente. No momento em que compreendemos que não somos a nossa mente, não existe muito mais a aprender ou compreender. O máximo que podemos conseguir ao estudar a mente é nos tornarmos bons psicólogos, mas isso não nos levará para além da mente, do mesmo modo que estudar a loucura não basta para criar a sanidade. Já entendemos a mecânica básica do estado de inconsciência, ou seja, quando nos identificamos com a mente geramos um falso eu interior, o ego, que é um substituto do nosso verdadeiro eu interior enraizado no Ser. Passamos a ser “um ramo cortado da videira”, como Jesus pregou.
As necessidades do ego são intermináveis. Ele se sente vulnerável e ameaçado e, em conseqüência, vive em um estado de medo e carência. Quando entendemos esse funcionamento anormal da mente, não precisamos examinar todas as suas numerosas manifestações, nem transformá-lo em um problema pessoal complexo. O ego, é claro, adora fazer isso. Está sempre buscando algo em que se apegar para sustentar e fortalecer a ilusão que tem de si mesmo e para juntar aos seus problemas. Essa é a razão pela qual, para muitos de nós, o sentido do eu interior está intimamente ligado aos nossos problemas. Quando isso acontece, a última coisa que desejamos é nos livrar deles, porque isso significaria a perda do eu interior. Por isso, pode existir uma grande parte de investimento inconsciente do ego em mágoa e sofrimento.
Portanto, se reconhecermos que a raiz da inconsciência vem de uma identificação com a mente, o que naturalmente inclui as emoções, estaremos dando um passo para nos livrar da mente. Ficamos presentes. Quando estamos presentes, podemos permitir que a mente seja como é, sem nos deixar enredar por ela. A mente em si é uma ferramenta maravilhosa. O mau funcionamento acontece quando buscamos o nosso eu interior dentro dela e a confundimos com quem somos. É nesse momento que a mente torna-se egóica e domina toda a nossa vida.
O fim da ilusão do tempo
É praticamente impossível deixarmos de nos identificar com a mente. Estamos mergulhados nela. Como se ensina um peixe a voar?
O segredo está em acabar com a ilusão do tempo. O tempo e a mente são inseparáveis. Tire o tempo da mente e ele pára, a menos que você escolha utilizá-lo.
Estar identificado com a mente é estar preso ao tempo. É a compulsão para vivermos quase exclusivamente através da memória ou da antecipação. Isso cria uma preocupação infinita com o passado e o futuro, e uma relutância em respeitar o momento presente e permitir que ele aconteça. Temos essa compulsão porque o passado nos dá uma identidade e o futuro contém uma promessa de salvação e de realização. Ambos são ilusões.
O fim da ilusão do tempo
É praticamente impossível deixarmos de nos identificar com a mente. Estamos mergulhados nela. Como se ensina um peixe a voar?
O segredo está em acabar com a ilusão do tempo. O tempo e a mente são inseparáveis. Tire o tempo da mente e ele pára, a menos que você escolha utilizá-lo.
Estar identificado com a mente é estar preso ao tempo. É a compulsão para vivermos quase exclusivamente através da memória ou da antecipação. Isso cria uma preocupação infinita com o passado e o futuro, e uma relutância em respeitar o momento presente e permitir que ele aconteça. Temos essa compulsão porque o passado nos dá uma identidade e o futuro contém uma promessa de salvação e de realização. Ambos são ilusões.
Mas, sem o tempo, qual seria a razão de nossa existência? Não teríamos objetivos a alcançar, nem mesmo saberíamos quem somos. O tempo é algo precioso e acho que precisamos aprender a utilizá-lo com sabedoria, em vez de desperdiçá-lo.
O tempo não tem nada de precioso, porque é uma ilusão. Aquilo que achamos ser precioso não é o tempo, mas um ponto que está fora dele: o Agora. Isso é realmente precioso. Quanto mais nos concentramos no tempo, no passado e no futuro, mais perdemos o Agora, a coisa mais importante que existe.
Por que o Agora é a coisa mais importante que existe? Primeiramente, porque é a única coisa. É tudo o que existe. O eterno presente é o espaço dentro do qual se desenvolve toda a nossa vida, o único fator que permanece constante. A vida é agora. Nunca houve uma época em que a nossa vida não fosse agora, nem haverá. Em segundo lugar, o Agora é o único ponto que pode nos conduzir para além das fronteiras limitadas da mente. É o nosso único ponto de acesso para a área atemporal e amorfa do Ser.
Nada existe fora do Agora
O passado e o futuro não são tão reais quanto o presente? Afinal, o passado determina quem somos e de que forma agimos no presente. E os nossos objetivos futuros determinam as atitudes que tomamos no presente.
Você ainda não captou a essência do que estou dizendo porque está tentando entender mentalmente. A mente não pode entender esse assunto. Só você pode. Por favor, preste atenção ao seguinte: Você alguma vez vivenciou, realizou, pensou ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Acha que conseguirá algum dia? É possível alguma coisa acontecer ou ser fora do Agora? A resposta é óbvia, não é mesmo?
O tempo não tem nada de precioso, porque é uma ilusão. Aquilo que achamos ser precioso não é o tempo, mas um ponto que está fora dele: o Agora. Isso é realmente precioso. Quanto mais nos concentramos no tempo, no passado e no futuro, mais perdemos o Agora, a coisa mais importante que existe.
Por que o Agora é a coisa mais importante que existe? Primeiramente, porque é a única coisa. É tudo o que existe. O eterno presente é o espaço dentro do qual se desenvolve toda a nossa vida, o único fator que permanece constante. A vida é agora. Nunca houve uma época em que a nossa vida não fosse agora, nem haverá. Em segundo lugar, o Agora é o único ponto que pode nos conduzir para além das fronteiras limitadas da mente. É o nosso único ponto de acesso para a área atemporal e amorfa do Ser.
Nada existe fora do Agora
O passado e o futuro não são tão reais quanto o presente? Afinal, o passado determina quem somos e de que forma agimos no presente. E os nossos objetivos futuros determinam as atitudes que tomamos no presente.
Você ainda não captou a essência do que estou dizendo porque está tentando entender mentalmente. A mente não pode entender esse assunto. Só você pode. Por favor, preste atenção ao seguinte: Você alguma vez vivenciou, realizou, pensou ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Acha que conseguirá algum dia? É possível alguma coisa acontecer ou ser fora do Agora? A resposta é óbvia, não é mesmo?
Nada jamais aconteceu no passado, aconteceu no Agora. Nada jamais irá acontecer no futuro, acontecerá no Agora.
O que consideramos como passado é um traço da memória, armazenado na mente, de um Agora anterior. Quando lembramos do passado, reativamos um traço da memória e fazemos isso agora. O futuro é um Agora imaginado, uma projeção da mente. Quando o futuro acontece, acontece como sendo o Agora. Quando pensamos sobre o futuro, fazemos isso no Agora. Obviamente o passado e o futuro não têm realidade própria. Do mesmo modo como a lua não tem luz própria e apenas reflete a luz do sol, o passado e o futuro são apenas um reflexo pálido da luz, do poder e da realidade do eterno presente. A realidade deles é “emprestada” do Agora.
A essência dessas afirmações não pode ser compreendida pela mente. No momento em que captamos a essência, ocorre uma mudança na consciência, que passa a desviar o foco da mente para o Ser, do tempo para a presença. De repente, tudo parece vivo, irradia energia, emana do Ser.
A chave para a dimensão espiritual
Em situações em que a nossa vida está ameaçada pode ocorrer naturalmente essa mudança na consciência do tempo para o momento presente. A personalidade que tem um passado e um futuro retrocede e é substituída por uma presença consciente intensa, serena, mas, ao mesmo tempo, alerta. Sempre que uma reação se faz necessária, ela surge desse estado de consciência.
Muitas pessoas, embora não percebam, gostam de se envolver em atividades perigosas, como escaladas de montanhas, corridas de automóvel, vôos de asa-delta, pela simples razão de que essas atividades as trazem para o Agora, livre do tempo, dos problemas, dos pensamentos e das obrigações pessoais. Nesses casos, desviar sua atenção do momento presente, nem que seja por um segundo, pode significar a morte. Infelizmente, essas pessoas passam a depender de uma atividade em particular para ficarem nesse estado. Mas você não precisa escalar a face norte do Eiger . Você pode entrar nesse estado agora.
Desde a antiguidade, mestres espirituais de todas as tradições apontam o Agora como a chave para a dimensão espiritual. Mas parece que isso permaneceu como um segredo. Com certeza, não é ensinado em igrejas ou em templos. Se você vai a uma igreja, pode ouvir passagens do Evangelho como “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”, ou “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para entrar no reino de Deus”. A profundidade e a natureza radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Parece que ninguém percebe que os ensinamentos foram formulados para serem vividos e, dessa forma, provocarem uma profunda transformação interior.
Toda a essência do zen consiste em caminhar sobre o fio da navalha do Agora, em estar tão absolutamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem somos em essência, possa permanecer em nós. No Agora, na ausência do tempo, todos os nossos problemas se dissolvem. O sofrimento precisa do tempo e não consegue sobreviver no Agora.
O grande mestre zen Rinzai, visando desviar a atenção de seus alunos do tempo, levantava o dedo com freqüência e perguntava calmamente: “O que está faltando neste exato momento?” Uma pergunta poderosa, que não requer resposta no plano da mente. É formulada para conduzir uma atenção profunda para o Agora. Outra questão muito usada na tradição zen é: “Se não é agora, então quando?”
O Agora é também um ponto central no ensinamento do sufismo, o braço místico do islamismo. Os sufistas têm um ditado que diz: “O sufista é filho do momento presente”. E Rumi, o grande poeta e mestre do sufismo, ensina: “Passado e futuro ocultam Deus de nossa vista, ponha fogo em ambos”.
Mestre Eckhart, mestre espiritual do século treze, resumiu tudo isto com poucas e belas palavras, ao afirmar: “O que impede a luz de nos alcançar é o tempo. Não há maior obstáculo para Deus do que o tempo”.
Acessando o poder do Agora
Momentos atrás, quando você falou sobre o eterno presente e a irrealidade do passado e do futuro, peguei-me olhando através da janela para uma determinada árvore. Já a tinha olhado muitas vezes antes, mas agora foi diferente. Não percebi muita diferença na forma externa, exceto que as cores pareciam mais vivas. Mas havia uma dimensão adicional que antes eu não tinha notado. É difícil de explicar. Não sei bem, mas achei ter percebido alguma coisa invisível, como se fosse a essência daquela árvore, ou melhor, um espírito interior. E, de alguma forma, era como se eu fosse parte dela. Percebo, agora, que nunca tinha visto de fato a árvore, apenas uma imagem plana e morta. Quando olho para a árvore agora, parte daquela impressão ainda permanece, mas posso sentir que ela está desaparecendo. A experiência já está parecendo algo do passado. Será que alguma coisa como essa pode ser considerada mais do que um vislumbre passageiro?
Por um instante, você se libertou do tempo. Ao se concentrar no presente, pôde perceber a árvore sem o enquadramento da mente. A consciência do Ser tornou-se parte da sua percepção. Suprimir a dimensão do tempo faz surgir um tipo diferente de conhecimento, que não “mata” o espírito que mora dentro de cada criatura e de cada coisa. Um conhecimento que não destrói o aspecto sagrado nem o mistério da vida, e que contém um amor e uma reverência profundos por tudo o que é. Um conhecimento sobre o qual a mente nada sabe.
A mente não pode conhecer a árvore. O que ela conhece são apenas fatos ou informações sobre a árvore. A minha mente não pode conhecer você, só rótulos, julgamentos, fatos e opiniões sobre você. Só o Ser conhece diretamente.
Há um lugar para a mente e para o conhecimento da mente. Situa-se na prática do dia-a-dia. Entretanto, quando a mente domina todos os aspectos da nossa vida, incluindo as relações com outras pessoas e com a natureza, transforma-se em um parasita monstruoso que, se não reprimido, pode acabar matando todo o tipo de vida no planeta e, finalmente a si mesma, ao matar quem a hospeda.
Você teve uma breve visão de como a ausência do tempo pode transformar nossa percepção. Mas não basta uma experiência, não importa quanto ela seja linda ou profunda. O que é necessário, e o que nos interessa, é uma mudança definitiva na consciência.
Portanto, rompa com o velho padrão de negação e resistência ao momento presente. Pratique desviar a atenção do passado e do futuro, afaste-se da dimensão do tempo na vida diária, tanto quanto possível. Se você achar difícil entrar diretamente no Agora, comece observando como a sua mente tende a fugir do Agora. Vai notar que geralmente imaginamos o futuro como algo melhor ou pior do que o presente. Imaginar um futuro melhor nos traz esperança e uma antecipação do prazer. Imaginá-lo pior nos traz ansiedade. Ambos os casos são ilusões. Ao observarmos a nós mesmos, um maior grau de presença surge automaticamente em nossas vidas. No momento em que percebemos que não estamos presentes, estamos presentes. Sempre que formos capazes de observar nossas mentes, deixamos de estar aprisionados. Um outro fator surgiu, algo que não pertence à mente: a presença observadora.
Esteja presente como alguém que observa a mente e examine seus pensamentos, suas emoções, assim como suas reações em diferentes circunstâncias. Concentre seu interesse não só nas reações, mas também na situação ou na pessoa que leva você a reagir. Perceba também com que freqüência a sua atenção está no passado ou no futuro. Não julgue nem analise o que você observa. Preste atenção ao pensamento, sinta a emoção, observe a reação. Não veja nada como um problema pessoal. Sentirá então algo muito mais poderoso do que todas aquelas outras coisas que você observa, uma presença serena e observadora por trás do conteúdo da sua mente: o observador silencioso.
Uma presença intensa se faz necessária quando certas situações provocam uma reação de grande carga emocional, como, por exemplo, no momento em que acontece uma ameaça à nossa auto-imagem, um desafio na vida que nos causa medo, quando as coisas “vão mal” ou quando um complexo emocional do passado vem à tona. Nessas situações, tendemos a nos tornar “inconscientes”. A reação ou a emoção nos domina, “passamos a ser” ela. Passamos a agir como ela. Arranjamos uma justificativa, erramos, agredimos, defendemos... só que não somos nós e sim uma reação padronizada, a mente em seu modo habitual de sobrevivência.
Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do infinito. A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo e entrar mais profundamente no Agora. Isso não prejudica nossa capacidade de usar o tempo – passado ou futuro – quando precisamos nos referir a ele em termos práticos. Nem prejudica nossa capacidade de usar a mente. Na verdade, estar presente aumenta nossa capacidade. Quando você usar a mente de verdade, ela estará mais alerta, mais focalizada.
O que consideramos como passado é um traço da memória, armazenado na mente, de um Agora anterior. Quando lembramos do passado, reativamos um traço da memória e fazemos isso agora. O futuro é um Agora imaginado, uma projeção da mente. Quando o futuro acontece, acontece como sendo o Agora. Quando pensamos sobre o futuro, fazemos isso no Agora. Obviamente o passado e o futuro não têm realidade própria. Do mesmo modo como a lua não tem luz própria e apenas reflete a luz do sol, o passado e o futuro são apenas um reflexo pálido da luz, do poder e da realidade do eterno presente. A realidade deles é “emprestada” do Agora.
A essência dessas afirmações não pode ser compreendida pela mente. No momento em que captamos a essência, ocorre uma mudança na consciência, que passa a desviar o foco da mente para o Ser, do tempo para a presença. De repente, tudo parece vivo, irradia energia, emana do Ser.
A chave para a dimensão espiritual
Em situações em que a nossa vida está ameaçada pode ocorrer naturalmente essa mudança na consciência do tempo para o momento presente. A personalidade que tem um passado e um futuro retrocede e é substituída por uma presença consciente intensa, serena, mas, ao mesmo tempo, alerta. Sempre que uma reação se faz necessária, ela surge desse estado de consciência.
Muitas pessoas, embora não percebam, gostam de se envolver em atividades perigosas, como escaladas de montanhas, corridas de automóvel, vôos de asa-delta, pela simples razão de que essas atividades as trazem para o Agora, livre do tempo, dos problemas, dos pensamentos e das obrigações pessoais. Nesses casos, desviar sua atenção do momento presente, nem que seja por um segundo, pode significar a morte. Infelizmente, essas pessoas passam a depender de uma atividade em particular para ficarem nesse estado. Mas você não precisa escalar a face norte do Eiger . Você pode entrar nesse estado agora.
Desde a antiguidade, mestres espirituais de todas as tradições apontam o Agora como a chave para a dimensão espiritual. Mas parece que isso permaneceu como um segredo. Com certeza, não é ensinado em igrejas ou em templos. Se você vai a uma igreja, pode ouvir passagens do Evangelho como “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”, ou “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para entrar no reino de Deus”. A profundidade e a natureza radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Parece que ninguém percebe que os ensinamentos foram formulados para serem vividos e, dessa forma, provocarem uma profunda transformação interior.
Toda a essência do zen consiste em caminhar sobre o fio da navalha do Agora, em estar tão absolutamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem somos em essência, possa permanecer em nós. No Agora, na ausência do tempo, todos os nossos problemas se dissolvem. O sofrimento precisa do tempo e não consegue sobreviver no Agora.
O grande mestre zen Rinzai, visando desviar a atenção de seus alunos do tempo, levantava o dedo com freqüência e perguntava calmamente: “O que está faltando neste exato momento?” Uma pergunta poderosa, que não requer resposta no plano da mente. É formulada para conduzir uma atenção profunda para o Agora. Outra questão muito usada na tradição zen é: “Se não é agora, então quando?”
O Agora é também um ponto central no ensinamento do sufismo, o braço místico do islamismo. Os sufistas têm um ditado que diz: “O sufista é filho do momento presente”. E Rumi, o grande poeta e mestre do sufismo, ensina: “Passado e futuro ocultam Deus de nossa vista, ponha fogo em ambos”.
Mestre Eckhart, mestre espiritual do século treze, resumiu tudo isto com poucas e belas palavras, ao afirmar: “O que impede a luz de nos alcançar é o tempo. Não há maior obstáculo para Deus do que o tempo”.
Acessando o poder do Agora
Momentos atrás, quando você falou sobre o eterno presente e a irrealidade do passado e do futuro, peguei-me olhando através da janela para uma determinada árvore. Já a tinha olhado muitas vezes antes, mas agora foi diferente. Não percebi muita diferença na forma externa, exceto que as cores pareciam mais vivas. Mas havia uma dimensão adicional que antes eu não tinha notado. É difícil de explicar. Não sei bem, mas achei ter percebido alguma coisa invisível, como se fosse a essência daquela árvore, ou melhor, um espírito interior. E, de alguma forma, era como se eu fosse parte dela. Percebo, agora, que nunca tinha visto de fato a árvore, apenas uma imagem plana e morta. Quando olho para a árvore agora, parte daquela impressão ainda permanece, mas posso sentir que ela está desaparecendo. A experiência já está parecendo algo do passado. Será que alguma coisa como essa pode ser considerada mais do que um vislumbre passageiro?
Por um instante, você se libertou do tempo. Ao se concentrar no presente, pôde perceber a árvore sem o enquadramento da mente. A consciência do Ser tornou-se parte da sua percepção. Suprimir a dimensão do tempo faz surgir um tipo diferente de conhecimento, que não “mata” o espírito que mora dentro de cada criatura e de cada coisa. Um conhecimento que não destrói o aspecto sagrado nem o mistério da vida, e que contém um amor e uma reverência profundos por tudo o que é. Um conhecimento sobre o qual a mente nada sabe.
A mente não pode conhecer a árvore. O que ela conhece são apenas fatos ou informações sobre a árvore. A minha mente não pode conhecer você, só rótulos, julgamentos, fatos e opiniões sobre você. Só o Ser conhece diretamente.
Há um lugar para a mente e para o conhecimento da mente. Situa-se na prática do dia-a-dia. Entretanto, quando a mente domina todos os aspectos da nossa vida, incluindo as relações com outras pessoas e com a natureza, transforma-se em um parasita monstruoso que, se não reprimido, pode acabar matando todo o tipo de vida no planeta e, finalmente a si mesma, ao matar quem a hospeda.
Você teve uma breve visão de como a ausência do tempo pode transformar nossa percepção. Mas não basta uma experiência, não importa quanto ela seja linda ou profunda. O que é necessário, e o que nos interessa, é uma mudança definitiva na consciência.
Portanto, rompa com o velho padrão de negação e resistência ao momento presente. Pratique desviar a atenção do passado e do futuro, afaste-se da dimensão do tempo na vida diária, tanto quanto possível. Se você achar difícil entrar diretamente no Agora, comece observando como a sua mente tende a fugir do Agora. Vai notar que geralmente imaginamos o futuro como algo melhor ou pior do que o presente. Imaginar um futuro melhor nos traz esperança e uma antecipação do prazer. Imaginá-lo pior nos traz ansiedade. Ambos os casos são ilusões. Ao observarmos a nós mesmos, um maior grau de presença surge automaticamente em nossas vidas. No momento em que percebemos que não estamos presentes, estamos presentes. Sempre que formos capazes de observar nossas mentes, deixamos de estar aprisionados. Um outro fator surgiu, algo que não pertence à mente: a presença observadora.
Esteja presente como alguém que observa a mente e examine seus pensamentos, suas emoções, assim como suas reações em diferentes circunstâncias. Concentre seu interesse não só nas reações, mas também na situação ou na pessoa que leva você a reagir. Perceba também com que freqüência a sua atenção está no passado ou no futuro. Não julgue nem analise o que você observa. Preste atenção ao pensamento, sinta a emoção, observe a reação. Não veja nada como um problema pessoal. Sentirá então algo muito mais poderoso do que todas aquelas outras coisas que você observa, uma presença serena e observadora por trás do conteúdo da sua mente: o observador silencioso.
Uma presença intensa se faz necessária quando certas situações provocam uma reação de grande carga emocional, como, por exemplo, no momento em que acontece uma ameaça à nossa auto-imagem, um desafio na vida que nos causa medo, quando as coisas “vão mal” ou quando um complexo emocional do passado vem à tona. Nessas situações, tendemos a nos tornar “inconscientes”. A reação ou a emoção nos domina, “passamos a ser” ela. Passamos a agir como ela. Arranjamos uma justificativa, erramos, agredimos, defendemos... só que não somos nós e sim uma reação padronizada, a mente em seu modo habitual de sobrevivência.
Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do infinito. A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo e entrar mais profundamente no Agora. Isso não prejudica nossa capacidade de usar o tempo – passado ou futuro – quando precisamos nos referir a ele em termos práticos. Nem prejudica nossa capacidade de usar a mente. Na verdade, estar presente aumenta nossa capacidade. Quando você usar a mente de verdade, ela estará mais alerta, mais focalizada.
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