quarta-feira, maio 12, 2010

Abandonando sua história


Gangaji


Você se conta histórias? São histórias sobre o que você tem ou não tem, sobre o que você precisa ou não precisa? São histórias sobre a sua liberdade, seu aprisionamento, suas carências, sua generosidade, suas mágoas, suas alegrias? São histórias sobre quem você é, sobre o que é alguma outra pessoa? São histórias sobre o que precisa mudar, sobre o que precisa permanecer como é, ou sobre o que está certo ou errado?

Será que você está disposto a parar de contar sua história pessoal? Está disposto a contar a verdade sobre se você está mesmo disposto ou não?

Seja lá o que for que você se conte, por mais horrível ou grandioso, não passa de uma história. Como história, como uma destilação da experiência, poderá ser a verdade relativa, mas não é a verdade final. Histórias aparecem, mudam e desaparecem. Quer a sua história trate de quanto você é bom ou mau, mesmo assim ela aparece e desaparece. A verdade final nada tem a ver com emoções, bioquímica ou mudanças de circunstâncias. Ela é imutável e incondicional.

Você pode parar de contar a sua história em menos de um instante. Nem que seja uma história boa, pare de se esbaldar em contá-la, e a verdade poderá ser imediatamente vivenciada. Você não poderá vivenciar a verdade, se continuar a contar a sua história, e não poderá continuar a contar a sua história, se estiver vivenciando a verdade. É óbvio, não é?

Pare de contar a sua história agora mesmo! Não depois, quando a história melhorar ou piorar, mas agorinha mesmo. Quando você pára de contar a sua história agora mesmo, você pára de adiar a constatação da verdade que está além da história. Todo esforço, toda dificuldade e todo sofrimento contínuo estão em resistência ao "parar". Essa resistência nutre-se da esperança de que a história vá lhe dar o que você tanto almeja, a esperança de que, se você puder consertar a história e fazer as mudanças necessárias, você obterá o que quer.

Quando você parar de contar a história sobre mim, sobre ele, ela, eles, nós, poderá conhecer em menos de um segundo as verdadeiras profundezas do que significa ser o que você é. Então, qualquer história que apareça ou desapareça não atingirá quem você é.

Quando você sonha à noite, o seu sonho tem um início, um meio e um fim. Parece real naquele momento, mas, quando se acorda, você sabe que era evidentemente um sonho. Da mesma forma, você pode acordar do sonho da sua vida. Pode acordar antes de terminar a história sobre você, já que todas as histórias por fim terminam. Acordar dentro da história é o que se chama de “sonho lúcido” ou “sonho vívido”.

Normalmente, você acorda de manhã e retoma a história sobre quem você é. Você pode até fazer alguma prática de meditação, mas a prática real é a história corrente sobre quem você é. A energia e a emoção geradas pela história dão origem a infinitas variações de frustração, deleite, dor ou prazer, todas a orbitar em torno desta prática da história sobre “mim”.

Contar a sua história pessoal é a religião primária da maioria das pessoas no planeta. A história pessoal localiza-se num corpo, numa tribo, numa nação, numa religião, em “nós”. É por isso que o planeta está em guerra constante e você está em guerra constante consigo mesmo. Se puder reconhecer qual é a sua história, então a história será consciente e não mais inconsciente. Você poderá ver qual é a história, e poderá decidir parar de segui-la como se ela fosse realidade.

A possibilidade é reconhecermos que todas as nossas histórias, por mais complexas e estratificadas que sejam, por mais profundamente implantadas em nossa estrutura genética, são apenas histórias. A verdade sobre quem você é não é uma história. A vastidão e a proximidade desta verdade precede a todas as histórias. Quando você ignora a verdade sobre quem você é por fidelidade a alguma história, você perde uma oportunidade preciosa de auto-reconhecimento.

Como um meio de expor a sua própria história particular, você pode se perguntar honesta e diretamente: Qual é a minha história? Expor a história não tem o propósito de livrar-se dela ou segui-la. O propósito é ver quais histórias você está contando sobre quem você pensa que é ou quem você acha que deveria ser.

Quaisquer que sejam as suas respostas, será que você consegue considerar a possibilidade de que tudo é apenas uma história? Não está certa, não está errada, não é real. Experimente a possibilidade da irrealidade dela. Deixe a sua consciência cair de volta naquele espaço onde não há história, onde não há pensamento. Se surgir um pensamento, veja que ele está simplesmente passando. Não é certo nem errado. É apenas um pensamento, que nada tem a ver com a verdade essencial sobre quem você é.


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