domingo, fevereiro 28, 2010

Explanações sobre o Caminho Infinito - (fim)

Pergunta:

"Uma das mais libertadoras experiências que podem ocorrer a uma pessoa é quando ela apreende o sentido de: "ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém." (Salmos 24;1). O conhecimento dessa verdade eliminará o equívoco generalizado a respeito da questão de dízimos..." (Joel S. Goldsmith)

"Só alguns nascem com o instinto espiritual de desejar dar e, como dar não ocorre naturalmente à maioria das pessoas, deve-se ensinar a toda criança não apenas os Dez Mandamentos, mas também que é mais abençoado dar do que receber. Ser obediente aos dez mandamentos não é, porém, de maneira alguma viver a vida espiritual. A retidão do estudante espiritual deve ultrapassar a lei e ser uma realização interior..." (Joel S. Goldsmith)

Questiono sobre o dízimo, aqui. Afinal, como surgiu a imposição do dízimo?! À luz da realização interior, o que vem a ser o dízimo?





Resposta:

A questão do dízimo está relacionada com a lei do "dar e receberás". É uma lei mental que rege não só o mundo fenomênico, mas todo o Universo. Não apenas o Joel Goldsmith, como também os outros grandes instrutores espirituais do mundo, recomenda que vivamos mais pela ação de doar/de dar do que receber. Deus é o Grande doador do Universo, Ele nada quer para si, senão doar completamente o próprio Ser que ele é. Se não fosse assim, não seria válida a verdade pregada pelo Caminho Infinito de que "o nosso ser é Deus", que "Tudo o que é do Pai, é nosso". Isso só é possível porque Deus é o eterno Doador. Somos a "Imagem e semelhança de Deus", por isso, quando alcançamos o verdadeiro modo de viver, passamos a despreocupar mais com relação a nós, e começamos a cuidar mais do "outro". Passamos a amar! Os espiritualmente iluminados sabem que não precisam preocupar-se em cuidarem de si mesmos. Lao-Tsé escreve no Tao Te Ching: "O Sábio não se preocupa com a sua salvação, e por isso a encontra". Ao conhecermos verdadeiramente a Deus, passamos a saber que somos seus filhos, e que somos amados pelo Pai, infinitamente, em todos os sentidos. Não precisamos preocuparmo-nos em cuidar de nós. O Pai se encarregará de fazê-lo. Não precisamos nos preocupar em "receber", "obter" ou "conquistar"... a sabedoria espiritual revela que temos dentro de nós o infinito. "Todas as coisas do Pai são nossas". Podemos viver doando, compartilhando, levando sempre mais e mais o outro em consideração, de modo a vivificá-lo cada vez mais. Isso é viver o amor. Viver o amor significa "abdicar de si mesmo em prol/em benefício do outro". Mas o estranho é que, quanto mais abdicamos de nós mesmos em favor do outro, quanto mais nos doamos - e quanto mais vivificamos o outro -, mais recebemos, mais somos vivificados e maior é a nossa vida. Quando "abrimos mão" de nossa vida, mais vida recebemos! Essa é a lei do "dar e receberás". Não é só uma lei mental. A lei do "Dar", porque diz respeito ao amor, atua em todos os âmbitos: material, mental e espiritual.

E o dízimo está ligado a questão do "dá e receberás". Oferecer o dízimo a Deus não significa ter que tratar com dinheiro. Quem não tem dinheiro, pode oferecer o dízimo a Deus de outras formas, inúmeras - doar uma palavra, um pouco de atenção, ou mesmo um sorriso... tudo isso constitui formas de amar, de doar, de "contribuir" com os nossos "10%". E o que importa não são os atos que praticamos, e sim nossa disposição/vontade/intenção de praticá-los. Quem sorri a uma pessoa apenas superficialmente (com a boca), não está praticando o dízimo. O sorriso deve ser feito com uma intenção sincera. Essa intenção sincera é o que conta. Ela é aquilo que nós estamos oferecendo a Deus. Não estamos oferecendo a Deus dinheiro, um sorriso, uma palavra ou qualquer outra coisa. Estamos oferencendo a Ele o nosso amor, a nossa "intenção sincera de amar". Essa "intenção sincera de amar" é a alma de tudo o que fazemos, e por isso pode assumir a forma de uma caridade, de uma atenção ou de um gesto. Quando essas coisas são praticadas sem a alma, elas se tornam atividades "vazias", então mesmo que você doe grande soma de dinheiro, não terá praticado o dízimo. Como Deus é Amor, Ele vive Sua Vida para "os outros". Se atingirmos o estado de consciência no qual somos "filhos de Deus", feitos à Imagem e semelhança do Pai", nossa vida será vivida da mesma forma que Deus vive a Sua vida. Não precisamos de nada, já temos tudo - só o que nos resta a fazer, então, é fazer o amor circular: distribuindo, compartilhando, amando. Deus ama a tudo e a todos, porque tudo e todos são UM com Ele. Deus vive para todos os seus filhos, porque Ele é a vida de cada um dos filhos que ele tem. Por isso, Deus se doa por inteiro, doa todo o Ser que ele é. Por isso, tudo o que Deus é, nós somos. Por isso, tudo o que Deus tem, nós temos. Porque somos UM. Se Deus é Deus, nós também somos, porque nesse instante recebemos de Deus todo o Ser que Ele próprio é. Não há maior dizimista do que o Pai, que tudo nos doa.

Para finalizar, transcrevo as palavras de Joel Goldsmith acerca do dízimo, nas quais ele explica que o dízimo visa transcender nossas tendências egoístas e egóicas e estabelecer um relacionamento entre nós e o Todo, um relacionamento impessoal, imparcial e universal:

"Depois de algum tempo, em nosso caminho espiritual, devemos começar com uma quantia de cinco ou dez por cento de nossa renda e aprender a gastá-la num sentido universal; aprender a gastá-la em algo que não traga benefício para nós mesmos ou para nossa família - algo que seja universal: para a educação ou para a religião, ou para os filhos daqueles que não podem dar o que eles precisam, ou para os órfãos ou para os idosos. Deve ser por alguma razão impessoal e imparcial. Mais cedo ou mais tarde, ao fazermos isto com cinco ou dez por cento de nossa renda, nos encontraremos fazendo isso com quinze ou vinte por cento. Há pessoas que estão dando oitenta por cento de sua renda para algum propósito impessoal e universal, e ainda estão encontrando o suficiente para eles mesmos e suas famílias.

O amor humano nos instigaria a pegar tudo o que temos e a gastar com as pessoas que amamos. O amor universal nos permite começar, pelo menos num grau pequeno, a ser impessoais e imparciais com o nosso dinheiro. Assim, dizemos que esta riqueza não é nossa, que ela é de Deus e, porque é de Deus, pertence ao mundo, pertence ao mundo dos filhos de Deus.

O amor espiritual nos mostra como ser impessoal e imparcial em nosso amor. Ele nos mostra como a chuva de Deus cai sobre o justo e o injusto. Ele nos mostra como a impessoalidade da palavra de Deus é expressa. Ele nos mostra por que podemos curar os pecadores tão bem como os santos, e que, às vezes, é mais fácil curar pecadores do que santos, porque o santo, via de regra, representa um alto grau de egoísmo. O amor espiritual é muito diferente do amor humano. O amor espiritual transcende o amor humano; todavia, o amor espiritual se manifesta no amor humano. É um mistério e um paradoxo (...)"


"Deus não concede ao homem o Espírito por medida. O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos." (João 4;34-35)

sábado, fevereiro 27, 2010

Explanações sobre o Caminho Infinito - 04

Pergunta:

Há uma confusão de um modo geral entre as pessoas com relação à oração. Acham que a meditação é um momento de silêncio, mas através da oração pode-se pedir tudo o que necessitam a Deus! Algumas liturgias incitam ao pedido mesmo! Vejam esse texto de Goldsmith : "(...) A maioria das orações do mundo tem sido uma tentativa de esclarecer Deus, dizer, informar ou pedir a Deus, se necessário implorar-Lhe, até mesmo suborná-Lo, para que faça alguma coisa ou seja alguma coisa. A oração tem sido uma atividade da mente humana. Tem consistido de pensamentos e palavras. Nos primeiros dias de nossa experiência metafísica e espiritual, tentamos trazer a presença e o poder de Deus à cena humana e, de certa maneira manipulá-los. Às vezes procuramos Deus até mesmo para pedir suprimento..."

Afinal, existem mesmo diferenças entre oração, meditação e contemplação?





Resposta:

Acho que não existem muitas diferenças entre oração, meditação e contemplação. Existe a oração que está ligada mais à Verdade e as orações que não estão. As orações desvinculadas da verdade são aquelas em que, na Bíblia, é dito: "Pedis mal". Quando a oração é feita de forma errônea, não se pode esperar um resultado eficiente dela. Oração/Meditação/Contemplação que O Caminho Infinito ensina é aquela em que "não tentaremos mudar, sanar ou melhorar o mundo" porque ele é sonho/ilusão, mas rezaremos pedindo a Deus que nós despertemos do sonho, da mentira do mundo.

Deus não precisa ser lembrado do que Ele deve fazer. Goldsmith diz que enquanto estivermos pedindo para que Deus faça ou conserte 'isto' ou 'aquilo', ainda não teremos compreendido realmente o Ser que Deus é. É ignorância acharmos que podemos influenciar Deus a fazer ou deixar de fazer alguma coisa por nós. A maioria das pessoas rezam a Deus recitando palavras que possam convencê-lo, agradá-lo, sensibilizá-lo.... Elas dizem: "Ó, Deus, eu sou tão pecador, sou tão pequeno. Eu sofro tanto... faze 'isto' por mim". Elas oram partindo da premissa de que os problemas não serão solucionados se não os levarem até o conhecimento de Deus. Elas precisam contar para Deus! Mas não porque primeiro Deus tenha que saber de seus problemas para que possa providenciar uma solução. Elas contam a Ele, não porque creêm realmente Nele, mas é porque elas sentem-se mais confortáveis; é uma forma darem um pouco de segurança a seus egos (essas afirmações não são julgamentos feitos à nível superficial; mas esses processos ocorrem a nível inconsciente e não na camada consciente ou voluntária de cada um; se perguntarmos a cada uma delas o que estão fazendo, obviamente dirão que estão orando sinceramente com tudo o que podem; porque foi assim que aprenderam; o que ocorre, porém, é que todos esses aprendizados atuam como forma de condicionar a maioria das pessoas a essa maneira de pensar e agir); elas fazem isso como uma forma de proporcionar uma garantia a si mesmas: "Pronto! já contei a Deus o meu problema, agora é com Ele, Ele não poderá dizer que não atendeu à minha solicitação porque eu não pedi". Isso não é fé, é uma maneira indireta/sutil de obrigar a Deus a atender suas solicitações. "Pedis mal". Não há nenhum Deus lá fora à espera de receber pedidos para só então desempenhar o seu papel de Deus. Deus não é um deus que está ao dispôr do pequeno ser humano. Ele não pode ser influenciado a agir de acordo com o 'pequeno eu'.

As pessoas possuem uma errada noção do que vem a ser a natureza de Deus. Deus não é um Deus à disposição dos seres humanos, Ele não age em conformidade/em função dos homens. Esse Deus é falso, é o Deus criado por aqueles que não estão na Unidade, gente que possui forte crença de separação entre Deus e o homem. Quando o homem não está na Unidade, quando ele está iludido, julgando-se estar num estado de "separação de Deus", ele tem de criar um Deus lá fora, e buscá-lo. Então começam a pedir várias coisas a Ele. Mas Deus não possui essa natureza.

O que Goldsmith diz é que a natureza de Deus é a de que Ele é Deus sempre, e não apenas nos momentos em que recebe pedidos de soluções de problemas, curas, etc. Deus é Deus sem necessitar do homem. O que Deus não está fazendo agora mesmo, não o poderá fazer nunca, e ninguém o poderá levar a fazê-lo. O Caminho Infinito diz que seria pura perda de tempo pedir a Deus para fazer algo que Ele já não esteja fazendo agora mesmo. Que espécie de Deus seria esse que te deixasse ficar doente até que você resolvesse lhe pedir saúde? Esse Deus é o deus criado pelo homem que não possui a fé verdadeira em Deus.

Jesus ensinou que "antes que pedíssemos, o Pai já havia atendido o nosso pedido", e que "Ele conhece nossas necessidades muito antes de nós próprios as conheçamos". Tudo já está providenciado. O "pedi e dar-se-vos-á" que Jesus ensina não se trata de um direcionamento de rezas e orações verbais a Deus. Esse "pedir" significa "conscientizar a Verdade". Se conscientizarmos a Verdade, não precisaremos sequer nos dirigir a Deus para que Ele solucione algum problema no mundo. O "pedir" que Jesus ensinou possui um significado muito mais profundo, mas não é assim que a grande parte das pessoas interpretam essa parte dos ensinamentos. Quem compreende a verdadeira natureza de Deus nunca Lhe pedirá coisa alguma, apenas conscientizará que "tudo já está feito", que "Deus é Deus hoje e sempre" e que "Ele nunca muda". Se Deus não muda, pode o homem influenciar Deus a fazer alguma coisa que não já tenha feito? Pode o homem ser bem sucedido em pedí-Lo para que mude, em pedí-Lo para que Ele seja um Deus melhor? Aliás, quem o homem pensa que é para instruir, orientar ou esclarecer Deus quanto ao que deveria fazer ou deixar de fazer? O próprio Deus já disse de Si mesmo: "Porque Eu, o Senhor, não mudo".

Conscientizando essa Verdade, a pessoa deixa "este mundo", ela "vence o mundo", desperta da mentira ou ilusão de sonho que este mundo é, e adentra o "Meu Reino". O "Meu Reino" é a real criação de Deus. Deus não criou o mundo que o homem está sonhando, o próprio homem foi quem o criou com sua mente. Por meio de sua mente, o homem viu-se separado de Deus, creu em Deus e + algum outro poder (oposto a Deus), e passou a buscar Deus para se proteger desse poder oposto a Deus. Passou a crer no bem e no mal, no mundo da separação, da dualidade. O Meu Reino é um mundo de UNIDADE... Unidade de Deus com todas as Coisas. Deus é Consciência, e essa Consciência é Una com todas as pessoas, coisas e fatos. Ela é Una com tudo aquilo que ela puder perceber. Se a Consciência está buscando amor, saúde, alegria, harmonia, ela só o faz porque Ela sabe que essas coisas já existem nela. A Consciência só pode perceber alguma coisa - qualquer coisa! - por um único motivo apenas: Ela é UM com esse algo; Deus é UM com esse algo. Quando a pessoa compreende isso, logo ela compreende também que ela não precisa buscar o amor, a saúde, a harmonia - ela já é UNA com todas elas, ela própria é tudo aquilo que ela esta buscando. Não há um mínimo de separação entre a Consciência/Deus e a coisa buscada. O Fato espiritual não deveria ser dividido em palavras: "Deus" e "algo mais". Essa divisão/multiplicidade de palavras gera a ilusão de separação. Deveria se criada uma palavra que servisse para entender "Deus" e "algo mais" como uma única coisa. Se necessário, invente uma palavra, isso desfaz a ilusão de separação. Porque Deus (a Consciência) e "algo mais" são realmente o mesmo Ser, são UM.

Tudo é UM. Sabendo disso, a pessoa deixa de querer ajustar, mudar ou melhorar o mundo: ela passa a percebê-lo como Deus o criou (porque venceu o mundo e entrou no Meu Reino). O mundo que Deus criou é um mundo perfeito, toda a criação de Deus foi feita à Sua "imagem e semelhança". Por isso, o mundo que Deus (o verdadeiro Deus) criou não é um mundo imperfeito que necessite de reparos. Não temos que pedir a Deus para que Ele fique remendando a Sua criação. Ela não necessita absolutamente de ser remendada. Não há falhas, não há erros, não há imperfeições. Tudo o que foi criado por Deus é Deus! Porque não há, em absoluto, alguma separação entre Deus e Sua criação ou entre Deus e o homem. A única diferença que que há entre Deus e o homem é a seguinte: o homem é a manifestação de Deus individualizada, enquanto Deus - a Consciência - é a imagem do próprio Ser infinito. Goldsmith repete à exaustão, ele cansa de dizer que "Deus aparece como o ser individual". Nossas orações/meditações/contemplações têm de incluir (devem partir da seguinte) Verdade: "Tudo o que Deus é, eu sou". Porque: "Meu filho, tu estás sempre Comigo, e tudo o que é Meu, é teu!". Quando a Vida individualizada (homem) assim se sente em relação ao Infinito, ela realiza todas as Verdades relativas à Unidade: Não é necessário buscar nada, tudo já está feito. Precisamos apenas "pedir" para que nos possa "ser dado", necessitamos apenas "conscientizar" para que possamos "ver" que aquilo que estamos buscando já existe, e que, portanto, não necessitamos buscá-lo. Nada precisa ser mudado, tudo já é.

Goldsmith diz: "Não espere que o poder de Deus atue no sonho, mas, antes, que desfaça o sonho". A oração/meditação/contemplação que conscientiza isso é a oração correta.


quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Explanações sobre o Caminho Infinito - 03

Pergunta: Trago um trecho sobre Carma e Consciência Espiritual, que gostaria fosse comentado: (...) "Embora o Caminho Infinito lance uma nova luz sobre o ensinamento de carma e a lei cármica, poucos estudantes têm precebido a diferença entre a abordagem tradicional deste assunto e a do Caminho Infinito, o qual ensina que, quando você eleva acima da consciência humana até a consciência espiritual, não há lei cármica; não há lei de causa e efeito; não há lei segundo a qual você colherá o que semear. Essas são superstições e ilusões da mente humana; são crenças criadas pelo homem..." (Joel S. Goldsmith)





Resposta:

O tema trata da "vida regida pela leis cármicas" (ou lei de causa e efeito) x a Vida pela Graça (o regime que guia a vida do homem depois que ele aprende a viver pelo Espírito).

A história conta que no início Deus criou o homem, que vivia no paraíso do Éden. Lá, o homem tinha tudo o que era necessário. Ele não tinha de trabalhar para viver, ele já havia recebido tudo, e tinha apenas que desfrutar da vida que lhe fora dada. Ele vivia pela Graça. Mas algo aconteceu e o homem foi expulso do Jardim do Éden. Desse dia em diante, ele devia trabalhar para sua subsistência, passou a conseguir seu suprimento mediante a "própria" força. Antes, ele não fazia nada... ele encontrava-se naquele estado que Jesus descreveu, como: "Eu de mim mesmo nada posso/faço. É o Pai em mim quem realiza as minhas obras". Mas, quando decaiu do Éden, o homem adentrou uma condição, onde ele passou a dizer: "Eu mesmo é quem realizo as minhas obras... infelizmente. Se nada fizer, sofrerei, terei necessidades".

A história do gênesis é uma metáfora para o que acontece na consciência do homem. O homem nunca perdeu sua condição original - ele continua com ela -, contudo, sua consciência e compreensão do mundo decaíram do Éden, porque comeram do "fruto da árvore do conhecimento". O homem realmente não necessitava de nada. Por exemplo: se ele estivesse doente, ele não teria de fazer absolutamente nada para restabelecer sua saúde - isso aconteceria sozinho -, ele sequer precisaria pensar nisso. Sua vida se restabeleceria até a máxima vitalidade, sozinha, sem depender de nenhum auxílio, porquanto a vida se auto-supre; a vida sabe cuidar de sua própria existência, por si mesma sabe como perpertuar-se. Realmente o homem não necessita fazer nada, ele tem o dever apenas de ficar quieto. Não há nada para se conhecer, nada para se fazer - tudo o que há para ser conhecido já é conhecido, a sabedoria toda está presente.

E tudo o que é necessário ser feito já está sendo feito. O homem precisa apenas se aquietar e observar.

"Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus". (Salmos 46:10)

"Não temeis, nem vos preocupeis, pois a peleja não é vossa. Tomai posição, ficai parado/quieto, e vede o salvamento que o Senhor lhe dará".

Tudo já está feito! Não há nada que Deus já não esteja fazendo. Por isso, não há nada realmente com que possamos nos preocupar, nada que precisemos "conhecer" ou "fazer" por nós mesmos, através de nossas próprias forças. O Pai em nós é quem realiza as obras, não nós! Quando aceitamos que "eu de mim mesmo nada faço, mas o Pai em mim é quem realiza as minhas obras", estamos em nosso estado originário de consciência, e estamos vivendo no Jardim do Éden. Entretanto, quando tentamos fazer as coisas por nós mesmos, viver a nossa própria vida, restringimos a liberdade (infinita!) de nossa consciência e a condicionamos às crenças do nosso pequeno "eu" (aquele que acha que pode realizar as obras por si).

Nesse caso, se uma pessoa assim estivesse doente, ela diria: "Para eu restabelecer minha saúde, preciso tomar remédios" ou "minha saúde está sendo prejudicada por este tempo/clima, e só poderá melhorar depois que ele for embora". As pessoas começam a impor condições para que a Vida, que é infinitamente livre (portanto, não depende de remédios, de clima ou de tempo para restabelecer a própria vitalidade), possa recuperar-se. Elas limitam (com sua crença) a Vida que é originariamente ilimitada e livre! LIVRE e IRRESTRITA de todo e qualquer condicionamento. Quando a pessoa limita sua vida, ela está criando para si um novo conhecimento. Ela comeu do fruto! Ela diz: "Os remédios curam a Vida". Como ela limitou a Sabedoria (do Todo)! Como ela limitou a Vida! Consequentemente, a Vida perde a liberdade para expressar-se infinitamente, e passará a se expressar dentro daquele padrão que foi imposto a ela. Quando fazemos isso, comemos do "fruto da árvore do conhecimento", e o resultado não pode ser outro senão sermos auto-expulsos do paraíso do Éden.

Então, o homem perde a liberdade, deixa de viver a Vida pela Graça, e passa viver sob a lei que ele próprio criou e impôs a si mesmo: "minha vida só melhorará se eu tomar remédio". Ele acaba de se sentenciar. Antes ele tinha tudo. Agora, ele passou a ter tão pouco: sua vida só poderá melhorar se ele fizer "isto" ou "aquilo". Antes, a vida dele não dependia de "isto" ou "aquilo" para progredir - ela progrediria livremente, independentemente das circunstâncias. Mas agora ela passa a depender de auxílios externos, porquanto o homem resolveu comer do "fruto da árvore do conhecimento".

Deus não expulsa o homem do Éden. É o homem que expulsa a si mesmo. Quando o homem decai do Éden, ele passa a viver no mundo da mente. As crenças aceitas pela mente governam a experîência da vida das pessoas. A mente existe à nível individual e também à nível coletivo. No nível coletivo temos a "mente coletiva da humanidade", que é formada pelos pensamentos de todos os homens e mulheres que desde a mais remota antiguidade viveram neste mundo, e que governa as experiências da humanidade. Se a humanidade passa pela experiência de ter que enfrentar pecados, doenças e desgraças, é porque essas coisas foram semeadas na mente coletiva da humanidade ao longo das eras. E, consequentemente, até hoje as pessoas pagam o preço pelos pensamentos acumulados na mente coletiva. É muito mais fácil a mente coletiva ser preenchida com pensamentos negativos do que com pensamentos positivos, porque a maior parte da humanidade pensou e agiu egoisticamente. É tão mais fácil ter pensamentos egoístas, eles são tão mais prazeirosos. A humanidade escolheu o caminho mais fácil. Todos os pensamentos tidos ao longo dos tempos ficam acumulados/retidos na mente coletiva do mundo, esperando uma oportunidade para se manifestarem. E, quando esses pensamentos se manifestam, eles o fazem em forma de doenças, desgraças, sofrimentos, etc. A humanidade paga o preço de seus pecados, responde aos seus carmas um-por-um.

E as pessoas que estão afinadas/sintonizadas com a crença coletiva têm suas experiências governadas por ela. Elas são arrastadas pela força do carma, do pecado que o mundo cometeu.

Mas há o Jardim do Éden. Ele não sumiu. Nós apenas nos expulsamos dele, mas podemos a ele retornar, em razão da atitude de nossa aceitação de que a Vida é totalmente livre, de que Deus é absolutamente onipresente, onisciente e onipotente. Essa aceitação retira de nós todas as limitações que vínhamos impondo a nós próprios. A aceitação basta. Apenas aceitar já desfaz todos os problemas, todos os embaraços , todos os nós que por nós foram provocados. Antes, quando limitamos a nós mesmos, nós fizemos isso através de uma aceitação. E agora, iremos desfazer isso através da aceitação também. Antes, não sabíamos que a Vida era uma existência absolutamente livre, e por isso pudemos aceitar crenças que nos permitiram limitá-la. Mas agora, compreendemos todo o processo e podemos aceitar novamente de que a Vida é uma existência de total liberdade, infinita. A aceitação desfaz os nós provocados por a nossa "errônea" aceitação do passado. Isso é o suficiente para nos libertarmos de nossos carmas/pecados e voltarmos novamente a viver pela Graça. Esse estado que vive pela Graça divina - o estado do filho de Deus - nunca nos foi retirado, suprimido ou negado. Nós é que voltamos as nossas costas para ele. Mas a qualquer momento podemos volver a ele novamente, onde encontraremos Deus nos dizendo: "Filho, tu és o meu filho amado em quem me comprazo. Eu estou sempre contigo, e todas as coisas minhas são tuas". Sempre tivemos tudo. A nossa liberdade (uma liberdade espiritual) permite-nos sermos ou termos tudo o que necessitamos independemente das condições exteriores.

As pessoas que se deixam levar pelas "condições exteriores" são as que criam cada vez mais conhecimento para si e se auto-expulsam do jardim do Éden. Elas saem do regime da Graça, e entram no domínio da Lei, que pune os homens "olho por olho e dente por dente".

O Caminho Infinito ensina que podemos nos desvincular de toda nossa carga cármica de uma única vez! Ele diz que: "quando você eleva acima da consciência humana até a consciência espiritual, não há lei cármica; não há lei de causa e efeito; não há lei segundo a qual você colherá o que semear. Essas são superstições e ilusões da mente humana; são crenças criadas pelo homem..."

Mas o homem não precisa viver segundo as crenças que foram criadas - sejam essas crenças criadas por ele, ou pela humanidade -, ele pode libertar-se delas agora mesmo e voltar a viver no Princípio, na Origem, no Jardim do Éden. O paraíso edênico é um estado de consciência de absoluta liberdade. Compreender que vivemos nesse total estado de liberdade é a chave para a iluminação espiritual, e para a vida pela Graça.

Nós não precisamos sequer tentar retornarmos a esse "estado originário", tal é o nosso estado de liberdade. Não dependemos de "esforços para estar em nosso estado originário" a fim de que possamos estar dentro de nosso estado originário. Nós já estamos! Compreendamos isso! Nós já somos livres! Nessa liberdade reside o segredo para o entendimento das mensagens de Joel Goldsmith e outras afins. A Vida pela Graça é a vida na qual nada fazemos, mas que "O Pai em nós é quem realiza as obras". Apenas ficamos aquietados, parados, e vemos o salvamento que o Senhor já nos concedeu. Deus já nos concedeu tudo desde o Princípio, onde tudo já existe. "As obras de Deus são permanentes", e só podemos acessá-las mediante a compreensão desse estado de total Liberdade que inere à nossa Vida, à nossa existência. Essa liberdade permite-nos não termos que "trabalhar pelo pão de cada dia", mas nos faz compreender que esse pão já nos "foi dado gratuitamente por Deus". Não temos que conseguir o pão com o "suor do nosso rosto", não temos que "fabricá-lo", ele já está pronto. Nós apenas o acessamos. Só conseguiremos ter este acesso se não comermos do "fruto da árvore do conhecimento", ou seja, apenas se permanecermos em nosso estado de total liberdade.

A compreensão da nossa liberdade infinita é a chave para termos acesso a todas as coisas do Pai.


___________________________________________________
*P.S: Para ver mais sobre a questão do "Jardim do Éden", veja aqui e aqui (nessa ordem)

sábado, fevereiro 20, 2010

Pausa para meditar e orar

pausa


Após tudo o que foi dito à respeito de "Verdade Absoluta" e "verdade relativa" nas "Explanações sobre o Caminho Infinito" até agora, faço uma pausa entre as postagens para explicar rapidamente o que é e como se realiza e se processa a meditação (ou oração).

Meditamos corretamente quando nos compenetramos na Verdade Absoluta, colocando nela toda nossa atenção, toda a nossa mente. Meditar significa afinar cada vez mais o nosso ser com a Verdade Absoluta. Como fazer isso? Primeiramente compreendemos que não há nada que possamos fazer à respeito dela. Não podemos vê-la, compreendê-la ou conscientizá-la através de nossos esforços. Levamos essa idéia conosco para nossa meditação, antes de nos sentar para fazê-la. Levar essa idéia conosco para nossas meditações é fundamental. Deus é maior que o homem; a Verdade é maior que a mente. Deus está no Alto e, se Ele não vier/descer até onde estamos, então nada nos restará a não ser nossa impotência e desamparo. Nós, enquanto condição humana, não podemos nos elevar até Deus; mas se tivermos sufiente convicção, abertura e receptividade teremos preparado e criado em nosso ser todas as condições necessárias para receber o Espírito por se revelar.

Ao sentarmos para meditar não travaremos um diálogo interno com Deus, nem mesmo pediremos a Ele para que faça algo ou conceda alguma graça a nós. Não, nós não suplicaremos. Se suplicarmos, dificilmente conseguiremos acessar ou obter o que pretendemos porque a súplica é exatamente o contrário da oração. Quando, pela boca, o homem profere orações de súplica (ato externo), em seu coração ele declara ao Universo que não possui (ato interno). Por exemplo: se uma pessoa estiver fenomenicamente necessitando arrumar um emprego e orar a Deus dizendo "Deus, por favor me conceda um emprego", o que ela está declarando internamente ao Universo é "Eu não tenho emprego". Isso é palavra! Esse homem está proferindo/declarando a palavra de que "não possui emprego", e trazendo-a a tona. Essa declaração interna é que será levada mais em conta por ser mais verdadeira no coração do homem do que a externa. O Universo/Deus responde a toda palavra que pronunciamos. Se dissermos "eu não tenho emprego", o Universo dirá: "Sim, você não tem". E isso será criado. Portanto, nesse ensinamento, não pedimos nada a Deus. Pedir a Deus significa, também, declarar internamente que Deus ainda não fez, não criou, não realizou. Portanto, pedir a Deus para que realize algo significa não acreditar verdadeiramente em Deus.

Antes de sermos tentados a suplicar a Deus, lembremo-nos dos versículos bíblicos que nos asseguram que a oração já foi atendida antes mesmo de ter sido feita. "Antes que clamem, Eu responderei", "O Pai sabe de suas necessidades antes mesmo de a pedirdes", "Filho, todas as Minhas coisas são tuas". Esses princípios acalmam os nossos anseios e ajudam-nos a orar/meditar corretamente. A verdadeira oração é a de agradecimento. Ao agradecermos, estaremos invertendo o quadro, estaremos reconhecendo (com nosso ato interno) que Deus já nos concedeu tudo quanto necessitamos. Agradecer significa declarar internamente "eu já tenho!". E o Universo reage dizendo: "Sim, você já tem!". Por isso, quando orar, saiba que aquilo que você quer já existe e que Deus já fez e, portanto, agradeça.

Assim, nenhum diálogo deverá acontecer na meditação. Deus é tudo e tudo já está feito. Não tentaremos na meditação ver a Deus ou conhecer a Verdade. O objetivo é afinar nossa mente com a Verdade Absoluta, o que significa, portanto, que, se a "visão de Deus" ou o "conhecimento da Verdade" não for uma realidade para nós neste exato instante, então nada há que se possa fazer a respeito, o caso está perdido. Eis o princípio a ser tomado: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam". Se neste exato instante já não estivermos vivendo no Reino de Deus, então não adianta ao homem empreender esforços para entrar no Reino de Deus. A Verdade Absoluta é a compreensão cada vez mais profunda deste fato. Se o Reino de Deus não tiver sido concedido incondicionalmente ao homem pela Graça de Deus, então não há esperança alguma para o homem de que algum dia ele conseguirá encontrar o Reino de Deus ou conhecer a Verdade. Em se tratando da Verdade, ou a coisa É ou NÃO É. Não há meio termo.

Se prendermos a nossa atenção no mundo ou nas coisas do mundo material durante a meditação, não conseguiremos nos afinar com a Verdade Absoluta, estaremos andando no sentido contrário. Se dermos atenção ao mundo, estaremos negando a Verdade; na meditação a mente não pode ficar presa/apegada/limitada ao que o mundo nos mostra. Não se preocupe com o mundo. Nos momentos de meditação não importa se o mundo está ali ou não, o importante é não dirigirmos nossa atenção ele (a atenção é energia! por isso, quando prestamos atenção no mundo estamos afirmando a existência do mundo), em virtude do reconhecimento interno no qual permaneceremos durante todo o tempo.

A base da meditação será a quietude e o silêncio, lugar esse de onde Deus se revelará. Nada faremos. Apenas assumiremos um estado de expectativa e um estado de receptividade para Aquilo que esperamos em nossa expectação, como se estivéssemos esperando que alguém atenda o telefone do outro lado da linha. De dentro dessa quietude, desse silêncio, cumpre-se a palavra Bíblica "Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus" - a Verdade se revela. A meditação é mais um não-fazer do que um "fazer". A Verdade só pode ser revelada, pode apenas vir do Alto; ela não pode ser "feita" ou manipulada pelo homem porque tudo o que o homem cria ou faz é menor do que ele próprio, e a Verdade é algo maior que o homem. Por isso, na meditação o homem nada faz - ele sequer tenta meditar, do contrário essa meditação será uma criação sua, será algo menor do que ele mesmo: não será a verdadeira meditação. A Verdadeira meditação não pode ser feita, ela a simplesmente ACONTECE, ela vem do Alto. A postura a ser assumida na meditação é: "Fala, Senhor, que o teu servo ouve". A partir daí, ficamos quietos e permanecemos em silêncio, "esperando no Senhor", aguardando que Ele nos revele a Sua Palavra. A Palavra nos chega quando desse silêncio surge em nós uma forte convicção e uma sensação de alívio, de liberação, de graça, de bem aventurança, ou de certeza. Uma sensação de que "está feito", como se fosse Natal e encontrássemos ao pé da árvore todos os presentes que tivéssemos desejado, não sobrando nada em nós senão um profundo e sincero sentimento de gratidão. Tal sensação de graça automaticamente faz surgir um sorriso em nossos lábios, como se houvesse sido retirado de nossos ombros todos os fardos, todos os pesos e responsabilidades que estávamos carregando. É nesse momento que nos desvinculamos e deixamos de responder pelos nossos atos segundo a lei cármica de causa e efeito, esse é o ponto em que somos perdoados pelos nossos pecados. Quando chega essa sensação, a prece foi realizada.

Há uma passagem no livro II Crônicas 20 que diz: "Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus... Nesta batalha não tereis de pelejar; tomai posição, ficai parados e vede o salvamento que o Senhor vos dará. Não temais nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor é convosco."

Não necessitamos lutar ou pelejar, qualquer que seja a batalha que estivermos travando. A Bíblia diz "a peleja não é vossa mas de Deus". A única coisa necessária é pararmos de tentar resolver o problema com a força e a inteligência do nosso 'eu' humano. "Ficai parados e vede o salvamento que o Senhor vos dará" ilustra o mesmo princípio espiritual que atua na frase "Aquieta-te e sabe: Eu Sou Deus". A história da Bíblia conta que o rei Josafá e seu país estavam sendo ameaçados de ataque por vários exércitos. Então, na iminência da batalha, pouco antes da luta começar, Jaziel, um dos membros do exército do rei, recebeu a divina mensagem acima através de um anjo, e o rei assim decidiu se manter confiante (como se ele tivsse escolha!). É nos momentos mais críticos, quando tudo parece perdido, que mais somos capazer de nos entregar e nos render a um poder divino. E a Bíblia conta que, quando o rei e seu povo chegaram ao campo de batalha, já não havia mais lá nenhum inimigo. Josafá ouviu que "a peleja era de Deus", confiou, aquietou-se e seus inimigos sumiram! Por que sumiram? O que significa isso? Significa que toda aquela situação/circunstância fenomênica de "inimigos prestes a atacar" (que a mente humana vê) não eram existências reais, mas apenas existiam como ilusão. A Bíblia está repleta de relatos mostrando e provando o triunfo do Espírito sobre a matéria. Este mundo, por mais que pareça existir de verdade, não existe! É uma existência falsa. Por mais que aparente ser o lugar das causas, não é senão um mundo das "consequências" dos "efeitos", de "projeções", de "sombras", de "aparências". Essas aparências em si mesmas não têm poder algum, a menos que o homem dê poder a elas, aceitando-as como realidade.

Quando a mente se prende ao mundo dos efeitos (mundo fenomênico), o efeito disso é que será projetado/criado exatamente aquilo que a mente reconheceu, aquilo ao qual a mente deu sua atenção. É por isso que os homens não conseguem ver ou perceber outra realidade senão a material - a situação que estão vivendo no presente não é senão CONSEQUÊNCIA de algum reconhecimento feito no passado. E, por prenderem a mente nessa circunstância ruim (que está projetada no presente, acreditando-a ser uma existência real) e acreditarem convictamente nela, como consequência disso será novamente repetida a projeção da mesma situação ruim. Assim, devido à ilusão, as situações ruins que vivem são recriadas e continuamente revonadas a cada instante. Parece não ter fim! Parece realmente que o mundo é uma existência fixa e imutável. Essa continuidade precisa ser rompida! A Bíblia diz que "o que se vê procede do que não se vê", ou seja o que é 'visível' nada mais é que uma projeção, uma consequência ou um efeito do 'invisível'. Daí porque, nas meditações, não levamos absolutamente o mundo fenomênico em consideração. Antes, reconhecemos a Verdade: "Tudo já está feito!". Mas essa Verdade contradiz tudo o que nos dizem os sentidos humanos; a Verdade Absoluta é invisível para a mente humana (que só reconhece e atua com o relativismo). A crença na matéria como existência real é o que encobre a Realidade Perfeita que está aqui e agora e mantém a humanidade na ilusão. Ao reconhecer a existência dessa Realidade Invisível tendo, ao mesmo tempo, a compreensão de que "a matéria não existe", as imagens ilusórias que ocupavam o nosso "aqui" e "agora" começam a sumir e uma outra imagem (que também é ilusória, pois tudo neste mundo é ilusório) passa a assumir o seu lugar.

Dessa forma, a meditação leva em consideração todos esses aspectos discutidos. O importante mesmo é lembrar que o homem de si mesmo não pode coisa alguma, e deixar que Deus realize todo o trabalho. Lembre-se: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam". Se a Verdade não for agora, ela não poderá ser nunca, porque o homem jamais conseguirá criá-la ou entrar nela. Se você já não for iluminado agora, então não poderá sê-lo nunca. Se você é, é porque Deus assim edificou, e sendo assim não há necessidade de tentar alcançar a iluminação. Não veja as aparências, veja o que você realmente é, sem dar crédito às aparências e logo elas cederão e a Verdade surgirá. Meditar é Ser a própria Verdade.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Explanações sobre o Caminho Infinito - 02

Pergunta:

"Lembre-se daqueles quarenta anos de Moisés quando se sentir tentado a ficar impaciente; lembre-se do longo período de Elias no deserto e dos três anos do ministério do Mestre, quando sentir que, por causa da grande ajuda que recebeu através da consciência de seu praticante ou professor, você deveria ser elevado ao céu, preferivelmente anteontem. A ajuda temporária que recebeu pode torná-lo confortável e pode mesmo a ajudá-lo a manter-se na Senda, mas é a transição de sua própria consciência que o leva inevitavelmente para o seio do Pai e remove todo obstáculo que o impede de reconhecer a aceitar sua filiação divina..." (Trecho do livro "Viver Agora", de Joel S. Goldsmith)

Segundo Goldsmith, Deus, o Ser, ou o Absoluto, está além do bem e do mal. Único. Absoluto. Mas os indivíduos todos, relativizam cada um a sua maneira para chegar a esse reconhecimento de DEUS. Mas, então, pergunto aqui: como os indivíduos alcançariam essa transição da sua própria consciência, sem relativizar? Como ir contra essa imensidão de controle mental, psicológico, social, aplicado à humanidade?


Resposta:

O mundo das relatividades é o que Goldsmith chama de "este mundo", ao passo que o Mundo Absoluto é o "Meu reino". Sob a ótica do mundo da relatividade, parece mesmo que temos uma "transição" a fazer, parece que temos de sair de um lugar e chegar a outro, que temos uma busca e um caminho espiritual a percorrer. É assim que parecerá para nós enquanto não conseguirmos fazer esta "transição", porque, quando conseguirmos, quando chegarmos "lá", veremos que nunca houve nenhuma transição a ser feita. É assim que os mestres iluminados explicam esse processo.

Como estamos "imersos" num mundo que é relativo, que é dual, que funciona somente em termos de "bem e mau", "dia e noite", "espiritual e mundano", "direita e esquerda", "relativo e absoluto"... "Relativo e absoluto" - isso também é um conceito dual. Do ponto de vista relativo, podemos discutir as coisas (inclusive ensinamentos espirituais) em termos de "relatividade" e de "absolutez", mas até mesmo isso é dualidade.

Até agora estamos falando em coisas como "realidade relativa" e "realidade absoluta". Isso só é possível ser feito do ponto de vista relativo - enquanto estamos imersos na relatividade, faz sentido nos utilizarmos de termos como "existência relativa" e "existência absoluta" - porque desconhecemos a existência absoluta e parece-nos impossível que tal coisa realmente possa vir a existir. Então parece mesmo que existe uma "transição" a ser feita. Mas, quando começamos a compreender Sua existência, percebemos que continuar a falar em termos de "realidade relativa" e "realidade absoluta" deixa de fazer sentido, pois aos olhos do Absoluto o relativo não existe. O Absoluto não pode conhecer o relativo, mas no relativo podemos pelo menos "ouvir falar" a respeito do Absoluto (mas no Absoluto nem mesmo isso é possível de se acontecer).

No absoluto não existe transição. Não estamos no mundo para que possamos deixá-lo e entrar no Reino de Deus. Cristo disse: "Eis que estivestes comigo desde o princípio". Se é desde o princípio, então nunca saímos de Sua presença.

A crença coletiva em "mundo material" é tão forte que parece mesmo que ele é existência real. Enquanto estivermos no estado de ignorância, em maya, para nós parecerá absurdo dizer que este mundo não existe absolutamente e que ele é uma ilusão, irreal. Então, Paulo vem e nos diz:

"Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." (I Cor. 2:14)

Para o "homem natural" (aquele que pertence ao mundo), as coisas do Espírito parecem loucuras. É óbvio que, para o mundo (material), o mundo da matéria é real, ele não pode ser uma mentira. Ele é regido por fortes crenças coletivas, e as crenças coletivas fazem com que o "homem natural" o perceba. Ele o vê! Como pode ser irreal? Do ponto de vista do mundo é impossível que o próprio mundo seja irrealidade. A chave para a solução consiste em conseguir entender a questão dos referenciais - compreender este ponto é muito importante. O mundo não pode conhecer Deus e Deus não pode conhecer o mundo. Deus e o mundo da matéria existem em "lugares" ou dimensões totalmente diferentes. O mundo da matéria pertence à dimensão do vazio, do "nada", do "não existente". A matéria não existe. Deus, por ouro lado, habita a dimensão do "tudo", da "totalidade", da realidade. Quando a Consciência está presa/apegada à matéria e busca tentar entender ou conceber alguma coisa sobre Deus, ela não poderá concebê-lo senão como um "vazio" ou um nada. Do ponto de vista da matéria, Deus parecerá ser um nada, o homem pode procurar por Ele e Deus parecerá não existir. Por isso os ensinamentos dizem: "nenhum homem até hoje foi capaz de ver Deus." Do ponto de vista material Deus parecerá não existir e a matéria parecerá ser tudo. E, finalmente, quando a Consciência se desapega da matéria e passa a observar a existência do referencial no qual Deus habita, a matéria é que parecerá ser vazia e não existir. O quadro todo inverte-se. Ocorre isso porque os dois referenciais existem isolados um do outro, eles não se cruzam em momento algum, não há contato, não há ponto de encontro. São como duas retas paralelas: por mais que estejam ali, eternamente se desconhecerão. A menos que se encontrem, uma nunca poderá saber da outra. Para poder compreender essa relação, você deverá aprender a observar a partir dos respectivos referenciais. É por isso que as coisas do Espírito de Deus parecem "loucura" aos olhos do mundo. As coisas de Deus só podem ser discernidas espiritualmente, de Espírito para Espírito. O mundo não pode vir a conhecer o Espírito. Quando estava para partir, Jesus disse: "Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes (os discípulos dele) conheceram que tu me enviaste a mim.". O mundo não pode conhecê-Lo.

Os ensinamentos iluminados do oriente dizem que o único meio de conhecermos a Verdade é SENDO a própria Verdade. Não podemos conhecê-la de outro modo. Podemos ler, podemos meditar, orar e buscar... mas essas coisas não são o bastante. Conhecer a Verdade intelectualmente não é conhecer de fato a Verdade. O único meio de conhecê-la, é sendo a própria Verdade. Jesus disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida". Ele não disse que conhecia a Verdade, ele disse que ERA a Verdade. Ele não disse que conhecia um caminho a ser percorrido, ele falou que ele próprio era o Caminho. Essas palavras são maneiras que Jesus encontrou para expressar a sua compreensão da Unidade. Nenhuma Verdade é Verdade se não houver a Consciência da Unidade...

Jesus disse que ERA a Verdade, porque a Verdade não estava separada dele. Se ele dissesse: "eu conheço a Verdade", isso implicaria em separação, em dualidade. Ele conheceria a Verdade, mas não seria ela. A Verdade poderia estar "lá", e ele "aqui". A Verdade poderia estar em algum ensinamento, em alguma escritura, então Jesus poderia indicá-la. Mas Cristo nunca indicou a Verdade assim. Ele disse: "Vinde a Mim". Foi um convite direto. A Verdade estava nele, e não numa escritura ou ensinamento. Jesus também disse ser o Caminho, porque o Caminho não era algo separado ou fora do Seu ser. O Caminho era ele próprio! Se ele dissesse: "eu conheço o caminho", então de novo o caminho poderia estar "lá" e Jesus "aqui". Haveria separatividade entre o Caminho e entre Jesus, e Jesus teria de "percorrer" o Caminho. Mas Ele sabia que não há Caminho algum a ser percorrido (ou transição a ser feita), e assim disse: "Eu sou o Caminho". Ele não andava no Caminho, Ele era o Caminho! Para onde ele fosse, o Caminho ia junto com ele. O que quer que ele fizesse, essa era a ação/o modo de se percorrer o Caminho. Cristo não se preocupava em ter um Caminho para seguir. Se o fizesse, então de novo o Caminho seria algo situado fora, separado de seu Ser.

Enquanto nós estivermos buscando um "caminho" a percorrer, ainda não teremos entendido a Mensagem. Do ponto de vista da Verdade, a transição de uma realidade relativa para uma realidade absoluta não existe (esse ensinamento é relativo). Quando, afinal, conseguirmos nos afinar cada vez mais com o entendimento da Verdade Absoluta, comprenderemos que não existe transição a ser feita, e deixaremos de nos preocupar. Deixaremos de tentar alcançar um "conhecimento" ou um "estado" divino, porque a nossa compreensão aquietará os nossos esforços. Saberemos que "nós, de nós mesmos, nada podemos fazer e nada somos". Saberemos que "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam". Nós, de nós mesmos, não podemos realizar transição alguma, se tal transição não houver já sido realizada por Deus. A "transição" já está feita. A Verdade Absoluta já é agora! Esse é o sentido da frase de Jesus "É do agrado do Pai dar-vos o reino". A compreensão profunda dessa Verdade desfaz todas as tentativas, todas as preocupações/tensões e todos os anseios de querer alcançar a iluminação, o nirvana, o Reino de Deus, fazendo com que nos seja permitido relaxar e apenas ser. É como Ramana Maharshi diz: "não há Verdade para ser conquistada, apenas ignorância por ser removida." Não temos que seguir para uma direção específica. Se tivermos "olhos para ver", o Caminho é o exato ponto onde estamos agora; qualquer direção, qualquer lugar em que estivermos pode constituir o Caminho. Tudo o que sugere a dualidade é um falso caminho. Por isso os ensinamentos dizem que a única maneira de conhecermos a Verdade é SENDO a Verdade, porque então não haverá nenhuma divisão/separação entre "nós" e a "verdade", tudo será UM só.


segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Explanações sobre o Caminho Infinito - 01

Pergunta: (...) "Só quando se examina da ponta dos pés ao alto da cabeça e descobre que não está dentro de seu corpo é que você começa a adquirir a percepção de sua incorporalidade como consciência. Você é Melquisedec, nunca nascido e nunca morrendo. Isto você compreenderá quando perceber que está usando seu corpo como instrumento, da mesma maneira que usa seu automóvel para viajar. Assim como adquire um novo automóvel quando precisa, um dia, quando seu corpo tiver servido a você em todos seus propósitos, você se desfará dele e tomará um novo. Assim como seu corpo nessa experiência serviu a diferentes propósitos e funções, seu novo corpo terá suas funções e desenvolverá tudo quanto for necessário para sua atividade porque sua consciência ajustará seu corpo a suas necessidades, visível ou invisivelmente....." (Trecho do livro "Viver Agora", de Joel S. Goldsmith)

A visão de Goldsmith é reencarcionista, por este texto... Alguém poderia comentar?




Resposta:

Joel Goldsmith ensina a Verdade Absoluta. 99% do conteúdo explicado no Caminho Infinito trata da Verdade Absoluta, do Cristo, o Ser, a Realidade Eterna sempre presente. Esse é o Ser que verdadeiramente somos. Essa é a nossa identidade Absoluta (e não nossa identidade relativa). Portanto, do ponto de vista do absoluto, jamais nascemos e, como nunca nascemos, também jamais poderemos morrer, porque "nascer" é um pré-requisito para que a "morte" possa ocorrer a alguém. Nascimento e morte existem no mundo da dualidade - são fenômenos relativos. O Absoluto é o Absoluto, e desconhece qualquer espécie de relativismo. É uma Realidade transcendente à existência relativa.

Mas nossa identidade relativa (que não existe verdadeiramente, mas apenas ajuda a compor o mundo das aparências/ilusão) existe neste mundo e, no tocante a ela, podemos sim afirmar que existe a reencarnação. Reencarnar é um processo que faz parte "deste mundo", contudo o "Meu Reino não é deste mundo". Isso exclui toda a dualidade e põe a nós diretamente em contato com a Realidade Absoluta, da qual Jesus Cristo falava, e que é onde existimos verdadeiramente. O Mundo Verdadeiro é invisível para a mente humana (a mente que vê com os 5 sentidos materiais), mas é nitidamente perceptível para a Mente de Cristo. A Bíblia afirma que "não recebemos de Deus a mente do mundo que só vê as coisas do mundo, mas que temos a Mente de Cristo". Esta é a mente que é a nossa, e não a mente que percebe e se agarra/prende a existência material. A Mente de Cristo é a mente completamente desprendida da realidade material, ela não rejeita as coisas que não podem vistas pelos sentidos do corpo, mas recebe e acolhe as coisas invisíveis. "Vísivel" ou "invisível" - a mente de Cristo está desprendida de qualquer condicionamento, e por isso ela é totalmente livre. Ela não se importa com "visibilidades" ou "invisibilidades"; se ela se importasse, seria uma mente apegada e limitada. Mas, justamente por ser ilimitada, infinitamente livre, é que brilha e prevalece diante de qualquer situação.

Por isso, o Ser que você é não pode está confinado/preso dentro de um corpo material. A visão espírita admite que a alma está confinada dentro do corpo material. Pode até ser assim, mas essa alma que está abrigada pelo corpo carnal não é o nosso Verdadeiro Eu, ela é apenas um corpo espiritual, etérico ou astral - mas mesmo esses corpos mais sutis não são a Verdadeira Realidade. Eles também são corpos fenomênicos, com a diferença de que alguns são de substância mais sutis do que outros. A Alma que Goldsmith afirma não estar dentro do corpo é o Eu Verdadeiro. Geralmente, quando observamos o mundo, vemo-nos como seres inseridos dentro dele - "existimos no mundo!", concluímos. Essa visão é uma forma material de se ver as coisas, pois admite o mundo como sendo existência verdadeira. A visão espiritual nos permite afirmar que o mundo é que está em nós! É como se fôssemos a tela de uma televisão, onde todas as cenas aparecem. Dentro da tela, milhares de coisas podem aparecer, há espaço para o mundo inteiro existir! Essa "tela" é chamada, nos ensinamentos espirituais, de "Consciência". Nós somos a Consciência onde tudo aparece. Vendo assim, nós podemos fazer a "troca" de referencial, e podemos passar a dizer: "O mundo existe em mim!", "Eu não estou preso dentro do meu corpo carnal, o meu corpo carnal é que está aparecendo em Mim", e mais: "o corpo material do meu próximo também está dentro de Mim". O nosso corpo material é tão nosso quanto o corpo material de nossos próximos. Essa visão nos traz um sentido de unidade entre "eu" e o "outro". EU não sou nem o "eu" nem o "outro", ESTOU além de ambos. Se eu disser que sou o "eu" terei também de afirmar que sou o "outro". E se eu negar um deles, o outro também deverá ser automaticamente negado. Para o EU, não existe a questão de "sou eu, mas não sou o outro". Ou o EU é todo mundo, ou então não é ninguém!

Goldsmith diz que, se pudermos compreender a nós mesmos como Consciência, ao invés de como sendo "corpos materiais", então estaremos mais próximos da Verdade. Antes víamos o mundo, e afirmávamos que tudo estava no mundo, mas o mundo não estava em nada, em lugar algum. Talvez estivesse no espaço cósmico, mas, então, nesse caso, nada haveria além do espaço cósmico para que ele pudesse "estar". Logo, ele seria a "realidade Primeira" O mundo ou o espaço sideral existiam como "pano de fundo" e eram o lugar onde tudo se encontrava. Mas nós aprendemos a ir além, e encontramos algo que existe além do mundo ou do espaço sideral, e isso nos permitiu dizer: "O mundo (ou o espaço sideral) existem em Mim!". Encontramos um novo "pano de fundo" e isso retirou a ilusão de nossos olhos, que viam o mundo ou o espaço como sendo a causa primeira. Agora entendemos que a Causa Primeira de todas as coisas é a Consciência que somos, isto é, o Eu que "Eu Sou".

E Goldsmith diz: Deus é onipresente! É onipresente, mas Ele não é onipresente no mundo ou na realidade que existe como "efeito". Deus existe no mundo da Causa primeira, ou seja, Ele não é onipresente em termos de "mundo material", a extensão de sua onipresença não percorre o espaço material existente entre o "brasil" e o "japão" - porque ele não é onipresente nesse sentido. Deus é onipresente em termos de Consciência. Eu (que estou escrevendo este texto) sou uma consciência individual e você (que está lendo) também é uma consciência individual. Assim, podemos perceber que as consciência individuais existentes são inúmeras, infinitas. E Deus é cada uma dessas consciências individuais! Ele é onipresente como a minha Consciência. A Consciência é o mundo da Causa. Deus não encontra-se no mundo dos efeitos, mas da Causa. Se Deus está presente em minha Consciência, então Ele também está no Brasil, na França, no Japão, porque todos esses lugares existem na minha Consciência, porque aparecem nela.

Assim, Deus não atua diretamente no mundo das coisas visíveis. O mundo material ou visível recebe todas as dádivas de Deus, mas as recebe indiretamente, por "tabela". Todas as coisas de Deus surgem no centro, no núcleo de nosso Ser, e atravessam todo o nosso ser até chegar ao mundo material. Mas Deus não deve ser procurado nas coisas materiais, nas coisas visíveis. "O Meu Reino não é deste Mundo". "Vós também, deste mundo, não sois". Somos invisíveis, somos Consciência. E a Consciência não existe confinada dentro de coisa alguma, não está presa a nada. A Consciência é a Mente absolutamente livre, a "Mente de Cristo", que recebemos de Deus.

Se reconhecermos Deus como a nossa Consciência (porque Deus é onipresente e está em todos os lugares. Mas os "lugares" não são os espaços físicos do mundo material que estamos acostumados a reconhecer. A Consciência é o lugar! É um LUGAR IMATERIAL. E como existem infinitas Consciências individuais, Deus está em todos os lugares, aparecendo como a Consciência de cada ser existente), veremos que todas as qualidades de Deus existem na nossa Consciência. Por isso, se Deus é Amor, a Consciência que eu sou também é Amor, porque Deus está inteiramente, completamente, absolutamente presente nela! Se Deus é sabedoria, a minha Consciência é Sabedoria. Se Deus é Abundância, então a minha Consciência é abundância. Tudo isso, em razão da onipresença de Deus! E Se minha Consciência possui uma qualidade repleta de amor, sabedoria e abundância, então todas as coisas que aparecem nela (o mundo!) devem surgir e acontecer segundo essas Leis de Deus que atuam na minha Consciência. É assim que o Amor, a Sabedoria, a Vida e a Harmonia de Deus vêm ao mundo. Elas não vêm ao mundo diretamente, porque Deus não existe no mundo, não é onipresente no mundo. Deus existe num lugar que "não é deste mundo". Quando fazemos esse reconhecimento, as coisas de Deus chegam ao mundo como sendo os "bens dados por acréscimo".

O Ser que somos é incorporal, imaterial, existimos como Espírito. Não um "espírito" que desencarna e reencarna vezes e mais vezes, mas como o Espírito de Deus - nunca nascido no mundo, mas nascido apenas e tão somente do próprio Espírito.


"O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito." (João 3:6)

"Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade." (II Coríntios 3:17)

"Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito tendem para as coisas do Espírito." (Romanos 8:5)

"Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito" (Romanos 8:9)

"Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus." (I Coríntios 2:12)



Portanto... acredito que estes versículos são o suficiente para explicar Quem realmente somos. Não estamos no mundo, estamos em Deus. A visão material nos faz acreditar vivermos e pertencermos a um mundo material. Mas a Mente de Cristo nos confirma que "em Deus vivemos, nos movemos e existimos" (Atos 17:28).


sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Realidade e aparência

Mesmo sendo visível a todas as pessoas que o sol nasce e se põe, esse fato não significa uma realidade absoluta, uma vez que o próprio sol nada sabe a respeito de ele estar "surgindo" e se "ocultando". Dessa forma, o nascer e o pôr-do-sol nada mais é do que uma verdade relativa.

Da mesma forma, somente após a ciência provar que a religião estava errada em acreditar que a Terra era plana e que o Sol girava em torno da Terra, foi que percebeu-se que aquela era uma realidade relativa e não absoluta.

Precisamos analisar também a questão do pecado e da doença (que parecem existir, contudo são somente verdades relativas e não absolutas), exemplificando cientificamente o que é realidade relativa e realidade absoluta. Assim sendo, segundo uma linguagem metafísica:



Textos de Joel S. Goldsmith


"Dizer que o pecado e a doença são irreais não significa que eles não existam, ou que não se manifestem. Não significa que não há algo que aparece como pecado ou doença, mas significa que essa aparência não tem nenhuma das qualidades da realidade.

O significado da palavra “irrealidade”, neste sentido, não é a definição comumente aceita da palavra. Ela é usada aqui como é usada em filosofia. A palavra “realidade”, neste sentido, significa aquilo que é permanente, aquilo que é eterno, aquilo que é infinito, aquilo que sempre é e sempre será. Neste sentido da palavra, você entenderia instantaneamente a natureza irreal da doença. Houve um tempo no qual a doença não existiu, e haverá um tempo no qual ela não existirá. A doença não é real, porque não tem nenhuma essência para mantê-la ou sustentá-la. Ela existe só num sentido finito, num sentido falso, da mesma forma que duas vezes dois igual a cinco existe – não como realidade, não como uma entidade ou identidade, mas como uma aparência, uma crença ou uma ilusão ou como um sentido falso de matemática.

Isto é de importância vital para nós, porque o mundo inteiro está tentando se livrar do pecado e da doença como se fossem realidades, como se eles tivessem uma existência real. O clero está tentando curar pecadores e remover o pecado. O mundo médico está tentando eliminar a doença, e muitas vezes se sai bem. Mas este não é o nosso trabalho, nem o nosso mundo: “Meu reino não é deste mundo” (João 18:36). Se nós, como metafísicos, abordarmos o assunto do pecado e da doença como se eles existissem como realidade, e como se esperassem que fizéssemos alguma coisa quanto a eles, ou usássemos algum poder ou força para removê-los, estaríamos no mesmo nível de consciência que o mundo material ou mental. Agora, lembre-se que o trabalho espiritual não está nesse nível. Você encontrará no livro Spiritual Interpretation of Scripture e em outros escritos do “Caminho Infinito” uma exposição completa da natureza do erro e, especialmente, da natureza da crença material e mental tão diversas da realidade espiritual." (Joel S. Goldsmith – “As Palavras do Mestre”)


"A medicina alivia as dores, mas não traz uma saúde verdadeira. Devemos extrair um poder maior daquele que é encontrado no corpo ou nos pensamentos humanos, que nos dê a felicidade, a harmonia e a paz que são direitos nossos de nascença. Tal poder está disponível para todos, pois ele já faz parte do nosso ser – na verdade, é a parte maior do nosso ser. Como um iceberg, que mostra apenas uma parte de si fora da água, assim os poderes humanos do corpo e da mente não representam senão uma parcela de nossos poderes e faculdades." (Joel S. Goldsmith – “O Caminho Infinito")

"O que ajuda é chegar a uma percepção real da irrealidade do erro e perceber o por que de ele ser irreal, perceber o que é que o torna irreal. Ele é irreal porque EM SI MESMO E POR SI MESMO nunca foi nada. O treinamento se inicia pela nossa reação diante dele – não ao fazer algo pelo erro, mas ao desenvolver nossa reação diante dele até podermos olhá-lo e dizer: “Obrigado, Sombra!”. Tudo isso nos leva ao ponto no qual não há nenhuma resistência mental ao erro. Por essa razão, esse trabalho diverge totalmente de muitos ensinamentos metafísicos. Estamos evoluindo para o ponto de não-reistência ao erro.

Quando chegamos a este ponto do pensamento, no qual não começamos a negar a sombra, mas onde conhecemos a irrealidade de todas as formas de pecado, doença e morte, e sabemos que eles, em si e por si mesmos, não têm poder e não podem fazer nada a ninguém, a não ser no grau de nossa reação diante deles, chegamos ao Cristo.

Supunhamos, por exemplo, que você vê um diamante e, ao olhá-lo, você o toma por uma imitação. No entanto, durante todo o tempo ele é um diamante. Onde está a imitação? Em nenhum lugar; não há nenhuma imitação. O que você está chamando de imitação representa um conceito finito ou falso de um diamante perfeito. Você aceita o seu conceito da imitação como verdade, até que um avaliador de diamante avalia a pedra e confirma que é um diamante. O que acontece com a sua imitação? Nunca houve uma imitação; a pedra existe agora é a mesma que sempre existiu – um diamante. Sua imitação desapareceu. Mas, de onde ela desapareceu, já que nunca teve qualquer existência? Não havia realmente nada para desaparecer, já que nunca houve uma imitação; a única existência da imitação foi como uma crença ou um sentido falso." (Joel S. Goldsmith – “As Palavras do Mestre”)


Embora muitos ainda não tenham compreendido também os textos do sábio filósofo Nietzsche, ele denomina de “erro da razão e equívoco intelectual”, a realidade aparente (crenças) que o ser humano encara como sendo uma realidade absoluta.

Além da realidade relativa comum resultante da ilusão de óptica, há também a realidade relativa ou aparente que a mente humana criou no passado através de crenças e superstições, que hoje acreditamos tratar de uma realidade definitiva e absoluta. Estas crenças não ficam somente no imaginário, elas se externalizam como realidade através das ações humanas e da expressão de nossa consciência imbuída ou repleta de tais crenças.
________________________________
* Texto extraído do site "Único poder".

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Mais elevado que isso!

A seguir um satsang com Mooji, na ocasião em que ele esteve no Brasil, com tradução em português:


"Nada" é mais elevado que Deus!

sábado, fevereiro 06, 2010

Vacuidade


Mooji


Mooji: O "vazio" não é uma coisa trivial. É o estado o mais supremo. Mas na consciência há esta coceira, e eu uso este termo: a mente do pé do atleta. Existe um pensamento vindo na mente, há esta coceira, e sente-se a necessidade de dar uma coçadinha, você sabe! Como uma questão surgindo, algo mais a ser resolvido. Mas eu digo: permaneça somente como Isto (vazio), e essa coceira desaparecerá. Quando esta coceira está lá, existe a tentação de começar a coçá-la, mas isso apenas faz com que ela se torne mais machucada e horrível. Então apenas tome consciência disto por este momento, mas permaneça como você é, já que você não pode melhorar este vazio. Assim, muitos dos seres estão buscando ser este vazio, retornar a este vazio, você percebe, conscientemente. Quando você vai dormir, você deixa de lado todos seus cuidados e seus interesses sobre você e sua vida. E você ama Ser sem estas pré-ocupações. Quanto dinheiro nós gastamos com a cama,com o quarto, para ter o melhor sono e assim esquecer-se de tudo!? E quando o despertar surge há um frescor no ser, percebe, porque põe de lado todos estes interesses e pré-ocupações. Este vazio que você fala a respeito agora parece ter sido ocultado por seus interesses e onde você põe sua atenção, e enquanto você está se pré-ocupando com seus interesses e atividades do dia-a-dia na verdade você está sendo perturbado. Assim um pequeno bocado de meditação ou de auto-investigação retorna-o a esta afirmação em Seu ser, a este reconhecimento: tudo que há é apenas uma forma de vazio, além até do conceito de vazio.

E então, há como você pisar fora deste vazio agora?

Questionador: Não de minha própria vontade. Eu sei que eu posso. Eu nunca tentei escapar...

M: No vazio, o que é você? Você está no vazio como você está neste quarto, ou você é o vazio?

Veja, se você disser que você está em algo, então há como dois: há um sentido de Eu e um sentido que Eu estou em algo. É esta a direção que eu estou apontando, porque se você sente que está dentro de algo, logo o vazio transforma-se num tipo de experiência, e você permanece como o experienciador, e há uma forma de dualidade nisto. Assim se faz possível o sentido de sair do vazio, isso torna-se muito mais vivo e real, uma possibilidade. É por isso que eu lhe estou perguntando: no vazio, o que é você? Que forma você está vestindo no vazio? Você está nele, ou você é ele?

Q: Eu sou ele.

M: Então se você é ele, como você pode pisar fora?

Q: Algo vem e o cobre. Lixo.

M: Você percebe? se você estiver na terra, você poderá dizer: uma nuvem cobriu o sol. Mas o sol não conhece isso. Não conhece a sensação que Eu estou sendo coberto.

Q: Ok. Então o importante é quem está vendo.

M: Sim. Quando você diz: Eu estou coberto, é como se eu estivesse escondido de mim mesmo. Eu estou apenas fazendo com que você olhe, e isto é muito importante realmente. É simplesmente através desta sútil negligência que esta dor se infiltra, esta sensação de separação, esta sensação de divisão em seu Ser. Mas quando você a investiga realmente, isto é exposto como um tipo de fraude. Você é apenas você. Ontem nós falamos sobre isso, que a faca pode cortar muitas coisas mas não podem cortar-se porque é um consigo própria. E o olho pode ver muitas coisas, mas não pode ver-se porque é um consigo mesmo. E uma balança pode pesar muitas coisas mas não pode pesar-se porque é um. E você é você mesmo, você não pode perceber-se. Você pode somente perceber alguma idéia de você. Você é esta unidade, percebe? Não há nenhuma divisão em você. Somente por esta função da consciência é que parece como se você estivesse se transformado em algo qualitativo, algo que você pode avaliar. Mas o que quer que você possa ver não pode ser você.

Q: Inclusive o vazio?

M: O vazio é somente uma idéia neste momento. Uma palavra na consciência. Mas aponta para algo que na realidade você sente intuitivamente. De uma certa forma é como o vazio estivesse percebendo o vazio. Ou a consciência percebendo a consciência. Não há realmente uma forma que está sendo observada nisto. Não há nenhuma palavra realmente adequada para expressar isto. Neste momento você está na periferia da línguagem, e as palavras estão esgotando sua própria energia porque nenhuma palavra servirá. Apenas este reconhecimento Eu Sou, mas o que Eu Sou eu não posso dizer. Você não pode definir o que este SER é.

Algum distúrbio?

Q: Sim, eu estou me sentindo desconfortável...

M: Não sinta que você não deva se sentir assim. Às vezes você sente: "bom, eu estaria bem se apenas..." Hoje nós comentamos um exemplo, um amigo ligou: 'Alô, como você está?' -'eu estou muito bem, e você?' -'na verdade eu ainda estou no trabalho e foi um dia muito estressante e eu tenho ainda um par de horas a fazer, mas não importa porque em breve eu estarei em casa e tomarei um banho, e tudo estará bem...' Eu disse: -'não, não; não deixe que sua mente te engane por mais três horas! para que dizer “... e então?' Nós sempre estamos fazendo este tipo de coisa: 'quando as crianças crescerem, daí então eu começarei a viver novamente, terei minha vida de volta !' ou 'se somente eu pudesse arranjar este financiamento...' 'Quando...e então...' sempre esta promessa, você percebe? É um ladrão. Então eu disse: -'Não, agora mesmo Você é.' E imediatamente sua resposta foi: -'Obrigado.' Ele necessitou apenas disto para despertar outra vez. Foi o bastante, a argumentação parou, percebe? Ás vezes esta borbulha está fervendo mas se você não a alimenta, pode ignorá-la. É como se você estivesse cozinhando um ensopado,você desliga o fogo mas ele continua ainda borbulhando. Mas eventualmente tudo se acalma porque a fonte, o combustível, foi esgotado, você vê? Desta forma esta desconexão é somente a sua convicção: -'O que quer que esteja surgindo, Não, isto não sou eu'. Ainda sim: 'bla,bla,bla,bla!' Isto seguramente diminuirá, mas você não estará esperando.

Q: Eu necessito que você me lembre.

M: Não, você não o necessita. Você o aprecia. Você não necessita de coisa alguma. Você aprecia ser lembrado. Obrigado.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

O Amor e Deus

Nisargadatta Maharaj


"O diálogo, ocorrido ao anoitecer, foi iniciado por um jovem canadense que vestia um Lungi e um fino Kurta (vestuário típico hindu). Disse que tinha vinte e três anos, mas parecia apenas ter saído de sua adolescência. Exibia, em torno do pescoço, uma elegante e pequena cruz de prata em uma delicada corrente. Ele disse que havia encontrado o livro "Eu Sou Aquilo" em uma livraria de Bombaim, dois dias atrás. Uma olhada rápida em poucas páginas motivou o desejo de encontrar pessoalmente Maharaj. Ele tinha lido o livro quase continuamente, do meio-dia até à noite, e terminou ambos os volumes apenas há poucas horas.


Maharaj: Você é tão jovem. Desejo saber desde que idade tem estado interessado na busca espiritual.

Visitante: Senhor, desde que me recordo tenho estado profundamente interessado no Amor e em Deus; e senti, com intensidade, que eles não são diferentes. Quando eu sento em meditação, freqüentemente...

M: Espere um momento. O que você entende exatamente por meditação?

V: Realmente, não sei. Tudo o que faço é sentar com as pernas cruzadas, fechar meus olhos, e permanecer absolutamente quieto. Sinto meu corpo relaxando, quase se desvanecendo, e minha mente ou ser, ou o que quer que seja, funde-se no espaço, e o processo de pensamento fica gradualmente suspenso.

M: Isto está bem. Por favor, prossiga.

V: Freqüentemente, durante a meditação, um devastador sentimento de amor extático surge em meu coração junto com uma efusão de bem-estar. Eu não sei o que é. Foi durante um de tais momentos de encanto que me senti inspirado a visitar a Índia – e aqui estou.

M: Quanto tempo ficará em Bombaim?

V: Realmente, não sei. Raramente, faço planos. Tenho dinheiro suficiente para viver frugalmente por quinze dias e tenho minha passagem de retorno.

M: Agora, diga-me, o que exatamente quer saber? Tem alguma pergunta específica?

V: Eu era um homem muito confuso quando desembarquei em Bombaim. Senti que iria perder o juízo. Realmente, não sei o que me levou à livraria, pois não leio muito. No momento em que apanhei o primeiro volume de Eu Sou Aquilo, experimentei o mesmo sentimento esmagador que obtinha durante minhas meditações. Conforme fui lendo o livro, um peso parecia estar sendo removido de dentro de mim e, agora que estou sentado aqui diante de você, sinto como se estivesse falando para mim mesmo. E o que estou dizendo para mim mesmo parece blasfêmia. Eu estava convencido que o amor é Deus. Mas agora penso que o amor é, seguramente, um conceito e, se o amor for um conceito, Deus também deve ser um.

M: E o que está errado nisto?

V: (Rindo) Bom, se você coloca isto desta maneira, não tenho nenhum sentimento de culpa em transformar Deus em um conceito.

M: De fato, você disse que Deus é amor. O que você quer dizer com a palavra ‘amor’? Quer dizer ‘amor’ como o oposto de ‘ódio’? Ou alguma outra coisa, embora, certamente, nenhuma palavra possa ser adequada para descrever ‘Deus’.

V: Não. Não. Pela palavra ‘amor’, certamente, não me refiro ao oposto de ‘ódio’. Refiro-me àquele amor que é a abstenção da discriminação entre ‘mim’ e o ‘outro’.

M: Em outras palavras, a unidade do ser?

V: Sim, sem dúvida. O que é então o ‘Deus’ a quem eu supunha orar?

M: Falaremos mais tarde sobre a oração. Agora, então, o que exatamente é este ‘Deus’ sobre o qual você está falando? Não é a própria consciência – o sentido de ‘ser’ que se tem – pela qual você é capaz de fazer perguntas? O próprio ‘eu sou’ é Deus. Que é o que você mais ama? Não é este ‘eu sou’ a presença consciente a qual você quer preservar a qualquer custo? A própria busca é Deus. Na busca você descobre que ‘você’ está separado deste complexo corpo-mente. Se você não fosse consciente, o mundo existiria para você? Existiria qualquer idéia de Deus? A consciência em você e a consciência em mim – são diferentes? Não são separadas apenas como conceitos que buscam a unidade não concebida que, por sua vez, não é outra coisa senão amor?

V: Agora entendo o que quer dizer “Deus está mais próximo de mim que eu mesmo.”

M: Lembre, também, não há nenhuma prova da Realidade exceto sê-la. De fato, você é ela, e sempre foi. A consciência cessa com o fim do corpo (e é, portanto, limitada pelo tempo) e, com ela, cessa a dualidade que é a base da consciência e da manifestação

V: O que, então, é a oração, e qual o seu propósito?

M: A oração, como é geralmente entendida, é somente suplicar por alguma coisa. Mas, na realidade, a oração significa comunhão, união, Ioga.

V: Tudo está tão claro agora, como se um monte de escombros fosse repentinamente lançado fora de meu sistema, apagado da existência.

M: Quer dizer que você agora parece ver tudo claramente?

V: Não. Não! Não ‘parece’. É claro, tão claro que estou assombrado de não ter visto antes. Várias afirmações que li na Bíblia, que pareciam importantes, mas vagas, são agora claras como cristal – declarações como: Antes de Abrahão ser, eu era; Eu e meu pai somos um; Eu sou o que Eu sou.

M: Bem. Agora que você compreendeu, que Sadhana o fará obter a liberação de sua ‘escravidão’?

V: Ah! Maharaj. Agora você está certamente ridicularizando-me. Ou está me testando? Seguramente, agora eu sei que Eu Sou Aquilo – Eu sou, o qual sempre fui e sempre serei. O que resta fazer? Ou desfazer? E quem vai fazer isto? Para que finalidade?

M: Excelente! Apenas seja.

V: Sem dúvida, deverei ser.

Então, o jovem canadense prostrou-se diante de Maharaj – seus olhos cheios de lágrimas de gratidão e alegria. Maharaj perguntou-lhe se iria voltar novamente, e o jovem disse: “Honestamente, eu não sei”. Quando ele saiu, Maharaj sentou por um tempo com os olhos fechados e com o mais doce dos sorrisos em seus lábios. Então disse muito suavemente: “Alguém excepcional”; pude apenas entender as palavras. Nunca mais vi o jovem canadense novamente e, às vezes, pergunto-me sobre ele."


*Você pode encontrar mais textos, inclusive o livro "Eu sou Aquilo", de Sri. Nisargadata Maharaj ,através da Editora Advaita

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Descubra o "eu"


Ramana Maharshi


Pergunta: Começo a perguntar-me 'Quem sou eu?', elimino o corpo como não sendo 'eu', a respiração como não 'eu', e não consigo ir adiante.

Bhagavan: Bem, isso é o mais longe que o intelecto pode ir. O processo é apenas intelectual. De fato, todas as escrituras mencionam o processo apenas para guiar o buscador para conhecer a verdade. A verdade não pode ser apontada diretamente. Daí esse processo intelectual.

Você vê, aquele que elimina tudo que não é o 'eu' não pode eliminar o 'eu'. Para dizer 'eu não sou isso' ou 'eu sou aquilo' deve haver o 'eu'. Esse 'eu' é apenas o ego ou o pensamento-'eu'. Após o surgimento desse pensamento-'eu', todos os outros pensamento surgem. O pensamento-'eu' é portanto o pensamento-raiz. Se a raiz é arrancada todo os outros são automaticamente arrancados ao mesmo tempo. Portanto busque o 'eu' raiz, questione-se 'Quem sou eu?'. Descubra a fonte dele, e então todas essas outras idéias irão se esvair e o puro Ser permanecerá.

P: Como fazer isso?

B: O 'eu' está sempre ali – no sono profundo, no sono com sonhos e durante o estado de vigília. Aquele no sono é o mesmo que aquele que fala agora. Há sempre o sentimento de 'eu'. Caso contrário você nega sua existência? Você não nega. Você diz 'eu sou'. Descubra quem é.

P: Eu medito neti-neti (não isso – não aquilo).

B: Não – isso não é meditação. Descubra fonte. Você deve alcançar a fonte sem falha. O falso 'eu' irá desaparecer e o 'eu' real será realizado. O falso 'eu' não pode existir sem o 'eu' real. Existe agora a identificação errônea do Ser com o corpo, com os sentidos, etc. Você prossegue descartando esses, isso é neti (não sou isso). Isso pode ser feito apenas ao segurar-se naquele que não pode ser descartado. Esse é iti (aquele que é).

P: Quando eu penso 'Quem sou eu?', a resposta vem 'não sou esse corpo mortal, mas sou chaitanya, atma (consciência, o Ser)'. E repentinamente outra pergunta surge, 'por que atma vem para Maya (ilusão)?' ou em outras palavras, 'Por que Deus criou este mundo?'

B: Perguntar 'Quem sou eu?' significa realmente tentar descobrir a fonte do ego ou do pensamento-'eu'. Não é para você pensar em outras coisas, como 'eu não sou o corpo'. Buscar a fonte do 'eu' serve como um meio de se livrar de todos os outro pensamentos. Não deveríamos dar escopo para outros pensamentos, tais como os que você mencionou, mas devemos manter a atenção fixada em descobrir a fonte do pensamento-'eu' ao questionar, conforme cada pensamento que surge, para quem o pensamento surge. Se a resposta for 'eu tenho o pensamento' continue a inquirição perguntando 'quem é esse “eu” e qual é a sua fonte?'

P: Devo meditar no 'Eu sou Brahman' (aham brahmasmi)?

B: A escritura não tem a intensão de fazer você pensar 'eu sou brahman'. Aham ('eu') é conhecido por todo mundo. Brahman habita como aham em todos. Descubra o 'eu'. O eu já é Brahman. Você não precisa pensar isso. Simplesmente encontre o 'eu'.

P: As Sastras (escrituras) não mencionam sobre descartar os invólucros (neti-neti)?

B: Após o surgimento do pensamento-'eu' ocorre a falsa identificação do 'eu' com o corpo, com os sentidos, com a mente, etc. O 'eu' está associado erroneamente com eles e o verdadeiro 'eu' é perdido de vista. Para peneirar o puro 'eu' do 'eu' contaminado, é mencionado esse processo de descartamento. Mas isso não significa exatamente o descartamento do não-Ser, significa encontrar o Ser real. O Ser real é o 'eu' infinito. Esse 'Eu' é a perfeição. É eterno. Não tem origem e nem fim. O outro 'eu' nasce e também morre. Ele é impermanente. Veja a quem os pensamentos cambiantes pertencem. Será descoberto que eles surgem após o pensamento-'eu'. Segure o pensamento-'eu' e eles irão retroceder. Trace de volta para a origem do pensamento-'eu'. O Ser apenas irá sobrar.

P: É difícil seguir. Entendo a teoria. Mas qual é a prática?

B: Os outros métodos são destinados para aqueles que não podem seguir a investigação do Ser. Mesmo para repetir Aham Brahmasmi ou pensar nisso, um fazedor é necessário. Quem é ele? É o 'eu'. Seja esse 'eu'. É o método direto. Os outro métodos também finalmente irão levar todos à esse método da investigação do Ser.

P: Estou ciente do 'eu'. Ainda assim meus problemas não estão acabados.

B: Esse pensamento-'eu' não é puro. Ele está contaminado com a associação com o corpo e os sentidos. Veja para quem são os problemas. São para o pensamento-'eu'. Segure-o. E então os outros pensamentos se esvaem.

P: Sim. Como fazer isso? Esse é o problema todo.

B: Pense 'eu, eu', segure-se nesse único pensamento até a exclusão de todos os outros

P: Soham ( a afirmação 'eu sou Ele') é a mesma coisa que 'Quem sou eu?'

B: Aham ('eu') apenas é comum entre eles. Um é soham. O outro é Koham (quem sou eu?). Eles são diferentes. Por que deveríamos seguir dizendo soham? Deve-se encontrar o 'eu' real. Na pergunta 'quem sou eu?', o 'eu' refere-se ao ego. Ao tentar traça-lo e encontrar a fonte dele, vemos que ele não tem existência separada mas funde-se no 'eu' real.

Você vê a dificuldade. Vichara é diferente em método da meditação Shivoham ou soham ('eu sou shiva' ou eu sou Ele'). Eu prefiro colocar ênfase no Auto-conhecimento, pois você está primeiro preocupado com você mesmo antes que você prossegue para conhecer o mundo e Seu Senhor. A meditação Soham ou a meditação 'eu sou Brahman” é mais ou menos um pensamento mental. Mas a busca pelo Ser de que eu falo a respeito é um método direto, de fato superior às outras meditações. No momento que você começa a procurar pelo Ser e vai cada vez mais fundo, o Ser real está te esperando lá para te por para dentro. Então o que quer que seja feito é feito por algo mais e você não tem participação nisso. Nesse processo, todas as dúvidas e discussões são abandonadas automaticamente assim como alguém que dorme, por certo tempo, esquece todas as suas preocupações.

P: Que certeza há que algo espera lá para me recepcionar?

B: Quando a pessoa é uma alma suficientemente desenvolvida (pakvi) ela fica convencida naturalmente.

P: Como é possível o desenvolvimento?

B: Várias respostas são dadas. Mas qualquer que tenham sido os desenvolvimentos prévios, o vichara acelera o desenvolvimento.

P: Isso é discutir em círculo. Eu sou desenvolvido então me adequo para a busca mas a própria busca faz com que eu me desenvolva.

B: A mente tem sempre esse tipo de dificuldade. Ela quer uma certa teoria para satisfazer-se. Realmente, nenhuma teoria é necessária para o homem que seriamente deseja se aproximar de Deus ou realizar seu próprio ser verdadeiro.

P: Sem dúvida o método ensinado por Bhagavan é direto. Mas é tão difícil. Não sabemos como começar. Se prosseguimos dizendo 'quem sou eu?, quem sou eu?' como um japa (repetição do nome de Deus) ou um mantra, isso se torna enfadonho. Em outros métodos há algo preliminar e positivo com o qual podemos começar e então seguir passo a passo. Mas no método do Bhagavan, não há tal coisa, e procurar o Ser de uma vez, embora seja direto, é difícil.

B: Você mesmo admite que ele é o método direto. É o método fácil e direto. Quando ir atrás de outras coisas que são externas a nós é tão fácil, como pode ser difícil para a pessoa ir para seu próprio Ser? Você fala sobre 'onde começar?' Não há começo e nem fim. Se você está aqui e o Ser está em algum outro lugar, e você tem que chegar até esse Ser, pode lhe ser dito como começar, como viajar e então como chegar. Suponha que você que está agora aqui no Ramanasramam pergunte, 'eu quero ir para o Ramanasramam. Como começar e como chegar lá?', o que diremos? A busca de um homem pelo Ser é como esse exemplo. Ele é sempre o Ser e nada mais. Você diz que 'quem sou eu?' se torna um japa. Não é pretendido que você deveria seguir dizendo 'quem sou eu?' Nesse caso, ao perguntar-se 'que sou eu?', lhe é dito para concentrar dentro de si mesmo aonde o pensamento-'eu', a raiz de todos os outros pensamentos, surge. Como o Ser não está fora mas sim dentro de você, pede-se para você mergulhar internamente, em vez de ir para fora. O que pode ser mais fácil do que ir para você mesmo? Mas permanece o fato que para alguns esse método parecerá difícil e não os atrairá. É por isso que tantos métodos diferentes tem sido ensinados. Cada um deles irão atrair alguns como o método mais fácil e melhor. Isso está de acordo com seu pakva ou aptidão. Mas para alguns, nada além do vichara marga (o caminho da inquirição) irá atraí-los. Eles irão perguntar, 'você quer que eu saiba ou veja isso ou aquilo, mas quem vê, quem é o sabedor?' Qualquer outro método que seja escolhido, haverá sempre um fazedor. Disso não se pode escapar. Deve-se descobrir quem o fazedor é. Até lá, o sadhana não pode ser terminado. Então, eventualmente, todos tem de vir a descobrir 'quem sou eu?' Você reclama que não há nada preliminar ou positivo com o que começar. Você tem o 'eu' para começar. Você sabe que você existe sempre, enquanto que o corpo não existe sempre, como por exemplo no sono profundo. O sono revela que você existe mesmo sem um corpo. Nós identificamos o 'eu' com um corpo, nós consideramos o Ser como tendo um corpo, e como tendo limites, e disso vem todos os nossos problemas. Tudo o que temos que fazer é deixar de identificar o ser com o corpo, com formas e limites, e então conheceremos nós mesmo como sendo o Ser que sempre somos.