sexta-feira, abril 06, 2012

Distinguir entre o Eu verdadeiro e o "falso eu"

Masaharu Taniguchi


Hayashino – Como podemos distinguir entre as ações do Eu verdadeiro e as do falso eu?

Noda – Uma ação do falso eu é proveniente do pequeno eu, contém interesses egoísticos e não traz consigo a alegria do prazer espiritual. Como não é uma ação para atender o todo, contém certa insegurança, agitação, certa irritação. Como o Eu verdadeiro provém do Eu Maior, isto é, do Eu Universal, sua ação deixa uma impressão harmoniosa no geral, e a pessoa tem a sensação de estar crescendo espiritualmente de modo pacífico, alegre e natural.

Taniguchi – Quando temos um determinado pensamento, este permanece latente, constituindo a força motriz que gera outro pensamento semelhante. É como a corda do relógio do despertador: seus ponteiros giram agora porque foi-lhe dado corda no passado. Assim como o alarme do despertador soa quando os ponteiros indicam uma determinada hora devido ao desenrolar da corda, temos turbulências na mente ou iramo-nos ou entristecemo-nos em determinadas oportunidades devido ao desenrolar da “corda cármica” que demos no passado. Por isso o carma não se eliminará enquanto a corda cármica não se desenrolar e se manifestar concretamente. Se manifestamos ira ou tristeza, é porque no passado formamos um carma correspondente a estes sentimentos. Mas tal manifestação nos ´r preciosa. A corda do relógio, ao se desenrolar, esgota-se e, após certo tempo, cessa o alarme. Da mesma forma, nosso carma também se esgota ao se manifestar.

Porém, a maioria das pessoas torna a dar corda ao carma quando este está se desintegrando. É por isso que essa força maligna do carma nunca se esgota. O que significa tornar a dar corda quando o carma está se desintegrando? É pensarmos, quando estamos zangados, “Estou zangado” ou, durante uma reflexão, “Sou um ser mau que fica facilmente zangado”. Com isso, confessamos a nossa culpa e as gravamos novamente em nossa própria mente. Costuma-se considerar como boa atitude do ponto de vista religioso e moral refletir sobre si próprio como sendo um ser mau. Mas não existe esse eu que a pessoa diz ser mau. Não existe o eu mau – esta é a visão fundamental da Seicho-No-Ie acerca do homem. Já que todos os homens são filhos de Deus, todos são bons.

Então, quem é mau? Não é o nosso eu. O que parece mau é simplesmente um processo através do qual um carma maléfico formado no passado está se manifestando para se desintegrar. Por isso, quem conhece esta verdade, mesmo que fique zangado ou tenha pensamentos e sentimentos maus, não pensa “Eu sou mau”, mas mentaliza “Está se extinguindo o carma; extinto o falso eu, manifesta-se o meu Eu verdadeiro, minha natureza verdadeira de filho de Deus, perfeito, harmonioso. Doravante não mais ocorrerá isso comigo” e deixa que a força do carma desapareça por si mesma. Pensando desta forma, anulamos a força do carma que nos leva a repetir maus pensamentos e más ações. Creio que foi nesse sentido que o apóstolo Paulo disse: “Nem eu tampouco julgo a mim mesmo”. E nem há necessidade de se julgar, pois se trata de um falso eu, isto é, uma imagem projetada pelo carma, que não provém da natureza divina originária, algo inexistente que em breve se extinguirá. Basta assim refletir e jogá-lo fora. E sendo o Eu Verdadeiro filho de Deus, este também não precisa ser julgado.

Kawamoto – Se aprovarmos os maus pensamentos, achando-os ótimos porque são desintegração do carma, não estaremos formando um carma maléfico e assim perpetuando-o?

Taniguchi – Conscientizando que o “eu que comete o mal” não existe, desaparece também a ideia de aprovar esse falso eu. O viciado em bebida alcoólica, por exemplo, não deixa esse vício porque ele pensa que existe o “eu que é dominado pela bebida” e tenta reprimi-lo; mas, compreendendo realmente que não existe um eu que seja dominado pela bebida, deixará de ser dominado por ela.

Há pouco surgiu a pergunta sobre como distinguir o Eu verdadeiro do falso eu. Pois bem, o eu dominado pela matéria é o falso eu; e o eu que domina a matéria é o Eu verdadeiro. E, ainda, uma ação que parte do princípio de que “eu e o outro somos um” é uma manifestação do Eu verdadeiro. E essa atuação do Eu verdadeiro se dá através dos pequeninos atos do cotidiano. Colocar amor nos pequenos atos diários – nesta atitude amorosa é que Deus Se manifesta. Esperando apenas por grandes acontecimentos, talvez a pessoa nunca tenha uma oportunidade na vida para pôr o Eu verdadeiro em ação. E na mente de quem aspira a uma grande obra, a um trabalho de destaque, tende a perpetrar a vaidade do falso eu – a vaidade de querer vencer os outros.

Sempre podemos fazer o Eu verdadeiro atuar nos pequenos atos da vida prática. Mesmo na escolha do lugar onde jogar a água com que lavamos o arroz, podemos manifestar amor. Podemos colocar em prática a gentileza e a atenção em pequenos atos como este, pensando na morte que causaríamos a grande número de insetos se jogássemos água em determinado ponto, e na alegria que proporcionaremos às plantas se a jogarmos num outro. Essa prática de gentileza e atenção é que significa manifestar Deus. É por isso que existem ensinamentos exortando a todos a praticar a sinceridade e a atenção, considerando-as como virtudes número um.


Do livro “A Verdade da Vida, vol. 16”, p. 85-88.


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