sábado, novembro 07, 2009

O homem não é corpo carnal - Fim

Masaharu Taniguchi


QUANDO SE RECONHECE A CULPA, O PECADO DESAPARECE

Embora seja necessário arrepender-se dos pecados, não é preciso divulgá-lo levianamente aos outros. Basta que o doente, refletindo sobre o seu passado, reconheça que aqueles atos errados não foram praticados pelo seu Eu verdadeiro e tome a grande decisão de, caso for curado da doença, trabalhar para o bem da humanidade como homem verdadeiro dotado de natureza divina. Se essa decisão for sincera, nesse instante a doença já está curada no mundo mental. Como a mente já está mudada e curada, o corpo carnal, que é projeção e materialização dessa mente, também vai começar a melhorar rapidamente a partir desse instante. Uma vez que a pessoa reconheceu o seu passado ignóbil, arrependeu-se e tomou grande decisão de se corrigir, nesse instante todos os pecados do passado desapareceram. Portanto, não é preciso mais afligir-se por causa da gravidade dos pecados ou duvidar do perdão, pensando “Será que fui perdoado só com isso?”, pois assim estaria duvidando do poder de absolvição de Deus. A treva, por mais densa que seja, desaparece infalivelmente ao se acender a luz; da mesma forma, também os pecados, por mais graves que sejam, desaparecem no momento em que a pessoa percebe, com arrependimento, que estava errada. Por isso, não é necessário mais continuar pensando nos pecados. Além de explicar esta Verdade ao doente para que ele se arrependa dos pecados e prometa renascer para a Vida de Deus, é necessário, em seguida, conduzi-lo ao estado de tranqüilidade absoluta em que se sinta completamente perdoado.


MÉTODO DE DESPERTAR O “PODER DA CURA ESPONTÂNEA”

Em seguida, é necessário destruir a “prisão mental” (de ilusão) em que o doente está encarcerado, prisão essa que ele mesmo criou com a idéia de que sua doença é grave ou incurável. Para tanto, é bom citar-lhe os exemplos de cura ocorrida pelo poder da Verdade, relatados na revista Seicho-No-Ie. Nada melhor que um caso concreto para comover o doente e suscitar-lhe a idéia: “Minha doença também não é incurável. Vou sarar”. Ao saber da existência da força infinita e maravilhosa que o faz viver (Força da Vida), começa a agir nele essa força vital (força curativa natural), que até então estava adormecida no seu interior. Quando isso ocorre, pode-se dizer que o doente já está semicurado. O método de fazer com que o paciente desperte para o poder de curar a si próprio é mais benéfico que invocar a cura por meio de rituais solenes ou orações, os quais suscitam a idéia de que a cura ocorreu graças a uma força externa. Uma vez despertado no doente o poder de curar a si próprio, ele se restabelece naturalmente, razão pela qual não há necessidade de fazer-lhe constantemente orações e mentalizações de palavras da Verdade. Consequentemente, o orientador terá seu trabalho bastante reduzido. Porém, como o doente é curado apenas conversando com o orientador, sem receber “trabalho”, “passe” ou remédio algum, ele fica sem compreender a causa dessa cura. Alguns comentam, perplexos: “Que estranho! Que misterioso!... só de entrar nesta casa, curei-me da doença crônica de que sofria há muito tempo”. Justamente pelo fato de o paciente não perceber com clareza por quais meios e processos foi curado, torna-se difícil cobrar-lhe pela consulta nesses casos. Entretanto, este é o verdadeiro modo de salvar o paciente, visto que não se trata de um ato com fins lucrativos, mas com o propósito de fazer manifestar a natureza divina dele e proporcionar-lhe a cura verdadeira. Certas pessoas dizem: “Quero que cure o meu filho, mas não quero ouvir nada sobre a Verdade, nem quero ler livros sobre a Verdade; por isso, vou mandar só o meu filho para receber sua orientação”. Tais pessoas não se coadunam com o nosso método de cura. Visto que a doença da criança é reflexo da desarmonia mental dos pais, é praticamente impossível curar a criança sem antes harmonizar a mente dos pais. Na verdade, nem precisam trazer a criança. Se os pais vierem, ouvirem as palavras da Verdade e alcançarem o estado de tranqüilidade mental absoluta, a doença do filho acabará curando-se por si mesma.

O método de cura da Seicho-No-Ie baseia-se na busca da Verdade ou, em outras palavras, é um método que consiste em manifestar o Eu verdadeiro que está oculto, isto é, a Vida imortal, eterna, que transcende o corpo carnal. Cuidar de cada um dos sintomas surgidos no corpo é uma questão de importância secundária.

Por que, na Seicho-No-Ie, a doença é curada através de simples leitura de determinados livros ou de simples diálogo com um orientador, sem se ministrar ao paciente nenhum tipo de terapia? É porque a doença não é algo criado por Deus. E o que não foi criado por Deus, embora pareça existir, não existe realmente, não é existência verdadeira. A doença é algo ilusório criado com base nos cinco sentidos; é como príncipes e princesas dos contos de fadas, criados pela imaginação humana – somente crianças ingênuas acreditam que tais personagens existam realmente. Por conseguinte, quando o paciente expõe a doença à luz da Verdade por meio de leitura de livros sagrados ou de diálogo com um orientador, ela desaparece rapidamente tal como a geada que se derrete quando nela incidem os raios solares.


O HOMEM CARNAL É UM “ROBÔ” CRIADO PELA VIDA

Por confiar demais nos cinco sentidos, a humanidade vinha, até agora, recusando-se a ver a Imagem Verdadeira da Vida. Vendo a matéria, não víamos o Espírito; vendo a sombra, não víamos a Vida; vendo o corpo, não víamos o verdadeiro homem. Pensávamos que a nossa Vida fosse produto da reação química ocorrida no nosso corpo físico, e que a nossa mente fosse produto da reação química desencadeada no cérebro. Entretanto, longe disso, a Vida já existia antes de surgir o corpo carnal, e a mente já existia antes de se formar o cérebro. Mesmo as células cerebrais, que os biólogos consideram como origem da mente, não são formadas pela combinação casual de moléculas da matéria. Ainda que os biólogos, médicos, físicos e químicos tentem milhões de vezes criar uma célula cerebral, combinando e misturando todos os tipos de substâncias materiais, de todas as maneiras possíveis, jamais poderão criá-la. Por mais que agreguemos substâncias materiais a partir do exterior, não é possível formar um célula cerebral. Contudo, quando uma força imaterial e milagrosa atua a partir do interior, ela cria quaisquer tipos de células, quer do cérebro, quer do coração, quer dos pulmões, etc. Essa força imaterial que atua a partir do interior sabe como combinar e dispor as diferentes moléculas para criar células cerebrais, e realmente as criou e formou o “órgão material pensante” (o cérebro). Essa força imaterial que age a partir do interior é justamente a nossa VIDA, isto é, nossa Mente verdadeira. As faculdades mentais produzidas pelo cérebro não passam de milionésima parte do reflexo dessa mente verdadeira. Por mais que a mente fenomênica emanada do cérebro de um grande cientista da área médica estude e trabalhe com todo o empenho, não será capaz de criar um única célula cerebral, ao passo que, mesmo o cérebro de um iletrado é capaz de criar fantásticas célula cerebrais quando entra em ação a força imaterial que atua a partir do interior. Se compreendermos que a mente fenomênica de um cientista (médico), por mais que pense e se esforce, não se compara à força imaterial que age a partir do interior, presente no âmago de um analfabeto, compreenderemos que é mais sensato recorrermos ao poder curativo dessa força imaterial. Essa força imaterial que age no nosso interior é justamente o nosso Eu verdadeiro (Vida). A Vida, que transcende o corpo carnal, já existia mesmo antes que o nosso corpo surgisse neste mundo, e é a força sumamente maravilhosa que planejou e criou o nosso corpo físico. Essa força vital sumamente maravilhosa é o nosso Eu verdadeiro. Portanto, temos de reconhecer que o nosso corpo carnal, que até agora acreditávamos ser “nós mesmos”, é apenas um “robô” projetado por esse maravilhoso Eu verdadeiro. Em outras palavras, primeiramente o Eu verdadeiro concebeu uma idéia, e o nosso corpo carnal é projeção dessa idéia.

Dizem que as diferentes partes do cérebro estão designadas para exercer funções específicas segundo a posição que cada uma ocupa: uma parte do cérebro distingue o tamanho das coisas, uma outra distingue a cor, e assim por diante. Cada parte tem a sua função específica segundo a posição que ocupa no córtex cerebral. Durante a Primeira Guerra Mundial, certa pessoa foi atingida por um estilhaço de projétil na cabeça e perdeu a parte do cérebro responsável por uma função específica. Por algum tempo, essa pessoa esteve privada dessa função, mas logo uma outra parte do cérebro começou a adquirir a característica da parte danificada, devolvendo-lhe assim a função perdida. Pensava-se que a mente estivesse no cérebro, mas o fato mencionado indica que à retaguarda da inteligência cerebral existe uma mente mais extraordinária, capaz de restaurar eventuais danos do cérebro. E isto nos leva a compreender que essa mente já existia antes que o nosso cérebro fosse criado, continua existindo após a criação do cérebro e está sempre conosco, reparando o “robô”, ou seja, o nosso “eu carnal” que ela criou. Portanto, não há razão para atribular o cérebro do nosso “eu carnal”, preocupando-nos em como curar as disfunções do corpo, da mesma forma que a cabeça de um robô não precisa se preocupar em consertar o próprio robô. Se surgir algum defeito no robô, é aconselhável deixar o seu conserto a cargo do engenheiro que criou esse robô, pois ele sabe consertá-lo melhor que ninguém. Em se tratando do ser humano, o engenheiro é a nossa própria Vida, o nosso Eu verdadeiro. A inteligência humana é uma faculdade produzida pelo mecanismo do robô (homem carnal) e, apesar de refletir parcialmente a sabedoria do Eu verdadeiro, na realidade é imperfeita. Os conhecimentos da medicina, afinal, não são conhecimentos divinos que vêm do Eu verdadeiro, isto é, da nossa Vida verdadeira que criou o nosso cérebro. Eles são conhecimentos imperfeitos originados do cérebro do “robô”, e por isso estão longe de se igualar à sabedoria misteriosa da Vida, que tem o poder de cura natural e que atua de dentro.

O robô denominado “homem carnal” tem a forma de homem, mas não é o homem verdadeiro. Devemos concentrar a nossa visão mental no homem verdadeiro. Quando descobrimos o homem verdadeiro e visualizamos o seu aspecto verdadeiro, podemos compreender que ele é filho de Deus, ou melhor, é Vida que flui do próprio Deus, e que ele traz dentro de si a provisão ilimitada – provisão de Vida infinita, provisão de sabedoria infinita, provisão de amor infinito, enfim, provisão de tudo quanto é necessário. Esclarecer isso ao paciente é a função do metafísico (realizador da cura divina). Portanto, o metafísico é uma pessoa que exerce a sagrada função de elevar o homem, da condição de “robô” à condição de homem verdadeiro, e não a simples tarefa de reparar pelo lado de fora as partes danificadas do “homem-robô”. O trabalho de reparar materialmente as partes afetadas do “homem-robô”, ou seja, do “homem carnal”, cabe aos médicos comuns. A função do metafísico e a do médico são totalmente diferentes. Assim sendo, o metafísico não invade a área dos médicos, e por isso não será hostilizado por eles. Os médicos comuns praticam sobretudo o método de restauração elaborado pelo cérebro humano, mas o método terapêutico da Seicho-No-Ie consistem em elevar o homem, da condição de “robô” à condição de homem verdadeiro e confiá-lo à Força Vital, que cria o cérebro. Por este método, as pessoas têm-se curado sem tomar remédio algum. Bastou-lhes despertarem para a própria natureza divina ouvindo os ensinamentos, lendo livros que transmitem a Verdade e praticando a Meditação Shinsokan. A cura de doença é um efeito secundário da conscientização da natureza divina. Como o nosso objetivo principal é salvar o homem, elevando-o da condição de “homem carnal” para a condição de homem, filho de Deus, desejo que os leitores, ao lidar com um doente, falem sobre a Verdade, objetivando a salvação do homem.

Assim como o robô é incapaz de consertar perfeitamente a si próprio, o homem carnal é incapaz de consertar perfeitamente a si próprio. Somente quem o criou é capaz de consertá-lo com perfeição. Esse Criador está no interior de cada ser humano. Se vocês se compadecem realmente de um doente, devem convencê-lo a deixar de olhar o seu corpo carnal (o “robô”) e passar a contemplar com os olhos da mente o homem verdadeiro – o homem indestrutível, que jamais será ferido ou prejudicado e que está dotado de tudo. Quando, dessa forma, a pessoa doente muda a sua visão e conscientiza que o seu Eu verdadeiro não é o homem carnal perceptível aos cinco sentidos e sim um ser perfeito e indestrutível, o seu estado de saúde começa a melhorar. Se, todavia, mesmo ouvindo os ensinamentos o doente não melhora, é porque ele não entendeu bem, ou porque resta ainda um grande temor no fundo do seu subconsciente ou então porque existe escondido em seu íntimo alguma razão pela qual ficaria numa situação difícil se ocorresse a cura.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 04", pg. 27-36)


Um comentário:

  1. Quanto à necessidade de dizer os erros a uma outra pessoa ou não, isso é uma questão polêmica até hoje. Penso muito sobre isso. Afinal, devemos nos confessar literalmente uns aos outros (ou a um padre que seja), ou nos confessarmos direto a Deus, ou a si mesmo??

    Taí uma boa pergunta. Acho que depende muito da circunstância. Já ponderei muito sobre isso, e em determinadas situações achei que o melhor fosse me confessar com a pessoa com quem eu tinha errado. Conversar com ela e dizer que estava arrependido. Outras vezes me confessei com padres (e eles me aconselharam a conversar com a pessoa com quem eu tinha errado). Outra vezes não... não senti necessidade. Apenas me confessei com Deus, ou comigo mesmo.

    Acho que o importante mesmo é o arrependimento sincero do coração, independente da forma como isso se externe.

    Muito bom o texto.

    Abraços!

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