segunda-feira, novembro 18, 2019

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 9/11

- Masaharu Taniguchi -


O bodisatva Avalokitésvara, ao praticar o profundo Prajnā Paramitā (sabedoria), viu claramente que os cinco agregados (*Nota: cinco agregados são a forma/matéria, a sensibilidade, o pensamento, a ação e a consciência) são vazios e, assim, eliminou todos os sofrimentos.

Ó Shariputra, a forma não é diferente do vazio, e o vazio não é diferente da forma. A forma é exatamente o vazio, e o vazio é exatamente a forma. Assim, são também a sensibilidade, o pensamento, a ação e a cognição.

Ó Shariputra, todos os fenômenos são vazios; não aparecem, nem desaparecem; não são impuros, nem puros; não aumentam nem diminuem. Por isso, no vazio não há nem forma, nem sensibilidade, nem pensamento, nem ação, nem cognição; não há olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente; não há cor, som, odor, sabor, tato, fenômeno; não há mundo visível (objetivo) nem mundo da cognição; não há ignorância nem o fim da ignorância; não há velhice-e-morte, nem o fim da velhice-e-morte; não há sofrimento, nem origem, nem fim, nem caminho; não há inteligência, nem há ganho, pois não há posse. Devido à prática do Prajnā Paramitā (sabedoria perfeita), o bodisatva não tem obstáculo na mente; não tendo obstáculo, não tem temor, afasta o pensamento invertido (ilusão) e atinge o supremo estado de despertar. Os budas do três mundos (*nota: mundos do passado, do presente e do futuro) também alcançam o supremo despertar devido à prática do Prajnā Paramitā. Portanto, saiba que o Prajnā Paramitā é o grande mantra divino, o grande mantra de luz, o mantra supremo, o mantra incomparável. Ele afasta todos os sofrimentos e desgraças; isso é verdade, não é mentira. Então, recite o mantra da sabedoria suprema. Recite como segue (...) (Sutra Prajnā Paramitā)

Este é um trecho da Sutra da Sabedoria traduzida por Genjô Sanzô, da China. Conforme diz essa sutra, não havendo ignorância, não há também o fim da ignorância. Não havendo velhice-e-morte, não há também o fim da velhice e morte. "A forma é exatamente o vazio", isto é, a matéria (a forma), assim mesmo como ela é, constitui o vazio. É vazia assim mesmo como ela é. Não é depois de ser negada que a matéria vai ser vazia. Ela é vazia assim mesmo como é, independentemente de ser negada ou não. O vazio está aparentando ser matéria. O vazio não é simples "inexistência", mas a substância indestrutível que não aumenta nem diminui. Para conscientizar essa substância (essência) indestrutível que não aumenta nem diminui, é necessário negar os cinco órgãos do sentido e o sexto sentido. Por isso, a referida sutra nega-os, dizendo que a visão, a audição, o olfato, a gustação, o tato e a mente não existem. Desse modo, o bodisatva, por conscientizar que este corpo, assim mesmo como é, constitui o corpo espiritual eterno e indestrutível, eliminou o obstáculo da mente, alcançou a plena liberdade e ficou livre do temor. Todos os budas dos três mundos alcançaram o despertar pela prática da sabedoria suprema.

Quando compreendemos que este corpo, assim mesmo como é em seu estado original, é o corpo búdico (espiritual) indestrutível, já estamos realizados como Buda; este corpo, assim mesmo como é, já é o corpo espiritual de Mahāvairocana (Buda Grande Sol). Seja qual for a imagem que se apresenta materialmente como corpo carnal, nós a transcendemos e compreendemos que, com este corpo tal qual ele é, somos corpo búdico, corpo espiritual, corpo indestrutível, homem eterno. É a conversão do corpo carnal para o corpo búdico, infinito, universal. Compreendemos que nós próprios somos o "filho de Deus" que desceu do céu, ao qual Cristo se referiu quando disse: "ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu, a saber, o filho do homem". Não se deve pensar que "filho de Deus" seja somente uma pessoa determinada. Todo homem já é filho de Deus, assim mesmo como é. Visto pela inteligência da serpente (inteligência do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal – dos cinco sentidos), o homem é corpo material ("és pó, e ao pó tornarás"); porém, visto pela sabedoria do Prajnā (sabedoria segundo a qual "os cinco agregados são vazios" e "olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente não existem"), o homem, em seu estado atual e natural, já é ser espiritual indestrutível, já é buda, já é filho de Deus. Assim, transcendemos o mundo sujeito a doenças, velhice, morte, tristezas e sofrimentos, e reconquistamos o jardim do Éden.

O homem que, visto pelos olhos dos cinco sentidos, não passa de um "fungo que nasceu na face da Terra", é, na verdade, o próprio corpo espiritual de Deus ou de Buda, se visto pelos olhos da sabedoria do Prajnā (a sabedoria do Prajnā é a sabedoria que vê a Imagem Verdadeira). A isso Cristo se referiu com as palavras "nascer de novo". Corpo espiritual, aqui, significa corpo da Verdade, à qual Cristo se referiu quando disse "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida".

O homem fenomênico é um ser enigmático que perambula entre duas convicções: de um lado, a ilusória convicção de que o homem é carne, que deverá morrer; e, de outro lado, a convicção interior de que o homem é um ser espiritual, eterno e indestrutível. Enquanto não for destruída a falsa convicção de que o homem nasceu da carne, a inevitável exigência interna da Vida não será satisfeita. O que satisfaz essa inevitável exigência interna é, no budismo, a mitologia segundo a qual Sakyamuni foi concebido na axila direita da sra. Maya; e, no cristianismo, a mitologia da concepção imaculada de Jesus. Isso constitui a conversão para a convicção de que o homem não é carne que nasceu da carne. Cristo disse: "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito". Quando renascemos para esta convicção, desaparecem todos os sofrimentos pertinentes ao corpo carnal.

Sakyamuni pregou que Avalokitésvara (Kazeon Bosatsu), para salvar a humanidade de todos os sofrimentos e desgraças, esclareceu que todos os cinco agregados são vazios. Essa pregação constitui a Prajnā Paramitā Sutra (Sutra da sabedoria suprema).

Desde os tempos idos, é dito que doenças são curadas e males espirituais são eliminados até pela leitura rápida da Prajnā Paramitā Sutra. Isso porque, pela negação da matéria, do corpo carnal, dos cinco sentidos, dos seis sentidos e de todos os obstáculos que tolhem a liberdade da Vida, recupera-se, como consequência, a plena liberdade da Vida, e então se torna possível afirmar o mundo do vazio absoluto, verdadeiro e sumamente maravilhoso.

Caros leitores, para afirmar a Imagem Verdadeira (Jisso) na qual o homem é filho de Deus e conscientizá-la, precisam uma vez passar por essa filosofia da negação e, dando mais um passo, conscientizar o corpo verdadeiro, sumamente maravilhoso, que é "vazio" e livre, tendo ao mesmo tempo o corpo carnal, material. Para isso, não basta entender apenas com a cabeça, lendo um livro a respeito. É preciso compreensão absoluta da realidade absoluta, praticando o Prajnā Paramitā de Kanzeon Bosatsu. É preciso apreender a Vida diretamente com a Vida. O Prajnā Paramitā que Avalokistésvara praticou corresponde à Meditação Shinsokan que a Seicho-No-Ie orienta e recomenda praticar.

Cont...

Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 144-149

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