- Masaharu Taniguchi -
Então esbocei o seguinte pensamento: "A velhice e a morte não existem devido à inexistência de quê? A velhice e a morte se extinguem devido à extinção de quê?" (...) "A velhice e a morte não existem, porque não existe o nascer. A velhice e a morte se extinguem, porque se extingue o nascer". Da mesma forma, prego amplamente sobre o nascer, o existir, o segurar, o amor, a percepção, o contato, as seis entradas, o nome-e-forma, a faculdade cognitiva, a ação. (Sutra Agama)
Como já foi dito, os sofrimentos relativos à velhice, à doença, e à morte não existiriam se o homem não tivesse nascido. Nós precisamos nos libertar da ideia de que o homem carnal "nasceu e está aqui". Parece que ele nasceu, mas isso é ilusão dos cinco sentidos, assim como o Sol parece despontar do leste e se pôr no oeste, quando na verdade é a terra que está girando em sentido oposto. Quando negarmos os órgãos sensoriais e as funções sensoriais e chegarmos até à negação da "faculdade cognitiva", que é a origem das funções sensoriais, somente então compreenderemos que o corpo carnal não existe verdadeiramente.
Então, como poderemos negar a "faculdade cognitiva"? Para negá-la, precisamos esclarecer a causa pela qual ela surge. O que existe verdadeiramente não pode ser eliminado, mas o que foi gerado por uma causa pode ser eliminado quando desfazemos a causa. Então, a questão é sabermos se a "faculdade cognitiva" é algo que existe originariamente ou algo que foi gerado por uma causa. Segundo observou Sakyamuni, a "faculdade cognitiva", que é a causa que nos faz ver o corpo carnal como existente, surge devido à "ação". Essa "ação" é o "carma", termo que usamos quando dizemos "fulano tem carma". Trata-se de obra, atuação, ondas. É a inércia de movimento que se propaga ininterruptamente. Esta é a causa que gera a "faculdade cognitiva". Se eliminarmos essa "ação", será eliminada a "faculdade cognitiva".
"Pregar amplamente" significa pregar aplicando amplamente as sucessivas indagações sobre as doze causas intermediárias, por exemplo, concluindo que, eliminando-se a "ação", desaparece a "faculdade cognitiva"; eliminando-se a "ignorância", desaparece a "ação". Em seguida, Sakyamuni indagou: "A ação se extingue devido à extinção de quê?". E, finalmente, chegou à seguinte conclusão: "A ação não existe, porque a ignorância não existe; a ação se extingue, porque se extingue a ignorância".
"Ignorância" é a ilusão básica. Há vários graus de ilusão, e a básica é a "ignorância". Trata-se de um pensamento invertido que consiste em ver como existente aquilo que não existe. É ver como existente o carma (ação), que não existe verdadeiramente. Devido a isso, o carma não desaparece. Tendo o carma como causa, surge a segunda ilusão (faculdade cognitiva). Constituem terceira e quarta ilusões os erros dos sentidos: a ideia de que o corpo carnal existe, a ideia de que existem a velhice, a doença e a morte. Estas não existem. Para começar, o nascimento inexiste. Não existindo o nascimento, não existem nem a velhice, nem a doença, nem a morte. Na verdade, o próprio corpo carnal inexiste. As imagens captadas pelos sentidos são simples ondas vibratórias solidificadas pelas posição e ideias própria de cada indivíduo. Havendo diferença na posição da mente receptora e no conteúdo de sua ideia, as mesmas ondas vibratórias serão traduzidas (captadas) de formas diferentes. Um determinado som que um ser humano sente como um tênue vibração, uma certa espécie de peixe ouve-o como um som alto. Um estrondo que parece estourar o tímpano de um ser humano pode ser quase imperceptível para uma determinada espécie de ser vivo. A nuvem que para uma pessoa é uma enorme nimbo, parece uma neblina que embaça a vista de quem está dentro dela. Um vaso de cerâmica, que para o homem é um objeto compacto e duro, para os micro-organismos tais como vírus, parece uma montanha cheia de túneis livremente atravessáveis. Em suma, as coisas não são vistas exatamente tal como elas existem (tal como são na Imagem Verdadeira); simplesmente elas são reconhecidas relativamente como se fossem existentes. O que é relativo indica relação, e não constitui Realidade (existência verdadeira). A mente relativa (mente que resulta de uma relação) é chamada de "ignorância"; logo, ela não existe originariamente, e se extingue com a extinção da relação. E, já que os sofrimentos relacionados ao nascimento, à velhice, à doença e à morte são produtos da "ignorância", que não existe originariamente, esses sofrimentos já não existem quando se compreende que a "ignorância" não existe. Por mais que pareça existir, o que não existe é absolutamente inexistente. (*Nota: Normalmente os livros especializados em budismo explicam que a "ação" e a "ignorância" são duas causas pertencentes a encarnações passadas, mas eu penso que não é preciso, necessariamente, leva-las a encarnações passadas. Como expus acima, expliquei a "ignorância" como ilusão básica, e a "faculdade cognitiva" como segunda ilusão.)
Prosseguindo, Sakyamuni compreendeu o seguinte:
Por não existir ignorância, não existe ação; por se extinguir a ignorância, extingue-se a ação. Devido à extinção da ação, extingue-se a faculdade cognitiva; devido à extinção da faculdade cognitiva, extingue-se o nome-e-forma; devido à extinção do nome-e-forma, extinguem-se as seis entradas; devido à extinção das seis entradas, extingue-se o contato; devido à extinção do contato, extingue-se o captar; devido à extinção do captar, extingue-se o amor; devido à extinção do amor, extingue-se o segurar; devido à extinção do segurar, extingue-se o existir; devido à extinção do existir, extingue-se o nascer; devido à extinção do nascer, extinguem-se a velhice, a doença, a morte, a tristeza, a aflição, o remorso, o sofrimento; assim se extingue o grande conjunto de sofrimentos. (Sutra Agama)
Quando desaparecem todos os sofrimentos, que eram manifestações da ignorância (ilusão básica), o que existe é unicamente o mundo búdico, é unicamente o mundo de Deus; e quem aí vive são unicamente budas, unicamente filhos de Deus. Esse é o mundo em que "seres animados e inanimados estão, ao mesmo tempo, realizados como Buda e iluminados". O homem que parece um ser carnal nascido como produto da "ignorância" (ilusão) não é existência verdadeira, pois, se a "ignorância" é originariamente nada, o homem carnal, que constitui a terceira e quarta ilusões originadas do nada, também é nada.
A propósito, a Sutra da Sabedoria (Prajnā Paramitā Sutra) prega que o corpo carnal é nada, que a matéria é nada (que os cinco agregados são vazios), repetindo negação após negação, e afirma o homem da Imagem Verdadeira, plenamente livre, que existe por trás das aparências. Neste ponto, ela se identifica com a Seicho-No-Ie.
Cont...
Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 140-144
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