A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith)
Capítulo 5 - AS DIFICULDADES
Praticando sinceramente as meditações precedentes, sem dúvida surgirão muitas perguntas referentes a certos aspectos, como: “Que fazer com os pensamentos estranhos que vagueiam na mente? Devemos aguardar a manifestação de visões? Há tempo determinado para cada meditação? Quanta compreensão é necessária? A dieta exerce alguma influência sobre a eficácia da meditação? É indispensável alguma posição definida?”. Consideremos primeiro este último aspecto.
A meditação é praticada com maior facilidade quando não temos consciência do corpo: sentado em uma cadeira reta, pés completamente dispostos no chão, coluna reta, ambas as mãos repousando sobre as coxas: essa posição normal, natural, pode ser mantida cinco, dez, vinte minutos, sem que nos preocupemos com o corpo.
Não há mistério no que tange à posição: no Oriente, poucas pessoas sentam-se em cadeiras, sendo para elas confortável, sentarem-se no chão com as pernas cruzadas, posição que para nós do Ocidente não é fácil de ser conseguida e difícil de ser mantida.
Se salientarmos que na meditação, nossa atenção deve focalizar-se em Deus e nas coisas de Deus, compreenderemos porque é necessária uma posição confortável e natural a fim de que o pensamento ou a atenção não se disperse. O motivo único é poder concentrar-se facilmente, focalizando Deus e aumentando a receptividade a Seu Poder Infinito.
Na meditação observa-se uma alteração no organismo: espinha reta, peito ereto, respiração mais tranquila, diminuindo de pensamentos até a completa cessação.
Meditação é uma experiência consciente; como foi sugerido, é favorável iniciá-la com uma pergunta ou pensamento ou ideia especial sobre a qual desejamos iluminar-nos. Começamos com a ideia de receber uma revelação de Deus, se compreendermos que a
Meditação é uma atividade consciente de nossa alma, não haverá perigo de ficarmos entorpecidos. Dois ou três minutos de Meditação bastam para eliminar a fadiga de um dia inteiro de trabalho. Os que adormecem durante a Meditação, falham nessa experiência consciente.
Em um certo período da Meditação pode o sono sobrevir, mas, tal sono não é uma queda para a inconsciência; durante este, a atividade da consciência se mantém.
Meditar não é simplesmente sentar-se e dizer: “Bem, Deus, podeis prosseguir”, é uma vigilância ativa e, contudo “uma paz transbordante”.
Certifiquemo-nos que a paz sobreveio, não vamos tomar o Reino de Deus pela força, pelo poder físico ou mental.
Quando a Meditação se tornar um esforço suspendamo-la ou contrariaremos nosso propósito. Não há necessidade de meditar um período especial de tempo, se ela foi apenas de um minuto de duração, fiquemos satisfeitos.
Teremos movimentado o fluxo durante esse tempo ou menos ainda, se mantivermos nossa mente repousada em Deus.
Meditar é uma arte difícil de ser dominada; se não fora assim, há muito, a técnica estaria em poder de todo o mundo.
Segundo minha própria experiência foram necessários oito meses de 5 a 10 meditações diárias para que me fosse dado perceber a Presença dentro de mim, oito meses de meditações freqüentes. Também eu não tinha conhecimento da possibilidade de um contato com Deus ou o que dele resultaria, uma vez conseguido.
Contudo, profundamente, dentro de mim, existia a convicção inabalável de que era possível atingir algo maior do que eu mesmo e submergir num Poder superior.
Ninguém que eu conhecesse palmilhava antes esse caminho, ninguém me apontara a estrada a percorrer. Subsistia, no entanto, aquela firme convicção de que se eu pudesse colocar-me em contato com Deus, no centro do meu Ser, Ele tomaria conta de minha vida, do meu trabalho, de minha prática, de meus clientes.
No fim de oito meses estava apto a conseguir um segundo de realização, talvez ainda menos que um segundo, não sei como avaliar o tempo, quando ele é medido em frações de segundos, mas seguramente foi o tempo que durou.
Passou-se uma semana antes da segunda experiência, também rápida e muitos dias se escoaram antes da terceira e assim sucessivamente.
Finalmente chegou a época em que a conscientização parecia durar uma eternidade e essa eternidade, creio, era mais curta do que um minuto.
Nessa época, tive a intuição de que se me levantasse às 4 da manhã, daí até as 8 horas, vez ou outra, sentiria aquela vibração – a certeza da PRESENÇA.
Em alguns dias Ela se manifestou em menos de cinco minutos e outras vezes escoaram 4 horas, antes dela surgir; mas desde então, nunca mais fui para meu consultório sem antes ter tido a experiência da PRESENÇA.
Agora, das 24 horas, nove ou dez são dedicadas à Meditação, não em período contínuo, mas intercalado, ora dez, vinte ou trinta minutos. Não há nada regular; às vezes deito-me às 8 horas da noite, levanto-me as 10 e meia e medito até as três. Volto então ao leito até quatro e meia, novamente de pé, volto a meditar até a aurora. Além disso, quando alguém me procura, depois de rápida conversa, meditamos. Introspecção constante, constante meditação é o meio de manter vivo o impulso interior.
Devemos prosseguir nesse ritmo, todavia, se favorecermos a supressão desses períodos de contemplação devido a negócios ou encargos, malograremos.
O Mestre afastava-se da multidão para comungar sozinho nos desertos e nos cumes dos montes. Nós também devemos afastar-nos de nossas famílias, de nossos amigos, de nossas obrigações humanas, para aqueles períodos de comunhão, necessários ao nosso aperfeiçoamento íntimo. Uma hora ou duas de meditação, sem nenhum desejo de coisa alguma é o meio que nos faculta alcançar uma profunda experiência de Deus.
Freqüentemente, aflora a questão da dieta no que se refere à Meditação. Existe alguma dieta que favoreça o aumento de capacidade espiritual? É necessário evitar tais e tais alimentos? Deve ser abolido o uso da carne?
Nos diversos estágios de nosso desenvolvimento somos tentados a crer que aquilo que fazemos ou pensamos pode favorecer nosso aperfeiçoamento espiritual.
É um conceito falso; ao contrário, é o próprio desenvolvimento espiritual que atua sobre nossos hábitos e sobre nosso viver quotidiano. Progredindo na senda espiritual, o aspirante poderá notar essas modificações, contudo, não pretendemos ver nisso virtude ou aumento de capacidade espiritual, por qualquer sacrifício material.
A espiritualidade se desenvolve pela leitura edificante, pela auscultação, pela companhia de pessoas que palmilham a mesma estrada e, sobretudo, pela Meditação.
O Reino de Deus é encontrado na Auto-Realização; fruto da Graça interior e pela renúncia às coisas do mundo externo.
Outro tema suscitado se refere às visões psíquicas. São tais manifestações parte necessária na experiência da Meditação? Tais visões podem ter alguma relevância em nossa vida, em nossa experiência humana, mas, devemos lembrar que elas se situam inteiramente na esfera psíquica ou no reino mental da consciência. Na literatura espiritual, essas visões jamais são consideradas experiências espirituais, elas não têm relação alguma com o mundo do espírito. Portanto, não nos detenhamos na zona do psiquismo, elevemo-nos à pura atmosfera do Espírito. Muitas vezes, na Meditação alcançamos uma sensação de paz ou harmonia – a realização da Presença do Cristo; são experiências inspiradoras, porém, devemos estar prontos para abandonar mesmo essa profunda paz e ir em busca de um nível de consciência mais elevado no qual o alcance daquela paz perde o significado ou importância. Havendo realizado a Presença do Cristo será, por acaso, necessário sentir alguma forma de reação emocional? Não é necessário; o que importa é compreender que a Atividade do Espírito é eterna e que ela está conosco. Um dos maiores estorvos à meditação é o receio de não compreendermos suficientemente como iniciar essa prática. Devemos lembrarmo-nos que é a Sua compreensão, não a nossa que importa.
Na quietude, voltemo-nos para dentro a fim de permitir que a Verdade se revele. Não há limite para a compreensão se nos tornarmos dependentes da compreensão de Deus e não da nossa.
O salmista desembaraça-se facilmente, para sempre, de tal medo e tal dúvida, no Salmo 147, em que seu coração e seus lábios entoam louvores a Deus. “Grande é o Senhor, grande é Seu Poder, Infinita Sua Compreensão”.
Não há nenhum leitor desse livro tão destituído de compreensão que não possa iniciar a prática da Meditação e através dela penetrar no Reino de Deus. Pela Graça, mesmo o ladrão na cruz penetrou no Paraíso naquele dia, e pela Graça nós também podemos a qualquer momento franquear os portões dos céus.
O maior empecilho da Meditação é a incapacidade de manter o pensamento em uma direção. Não é minha falta nem vossa; é, em boa parte, conseqüência da vida vertiginosa dos tempos modernos. Dá-se um brinquedo a uma criança que é logo substituído por outro; da infância a adolescência e a adultez, sua atenção é sempre atraída para as pessoas e coisas, de modo que se ela encontrar só, será dominada pelo espanto. Muitas pessoas jamais aprenderam como se sentar e permanecer quietas, nossa cultura, de tal forma centralizou nossa atenção nas coisas do mundo que perdemos a capacidade de nos aquietarmos para a contemplação e auscultação das grandes idéias.
Quando fechamos os olhos e tentamos meditar, toda sorte de pensamentos invade nossa mente; somos como antenas sintonizando todas as estações do mundo. Não nos preocupemos com elas; se desprezarmos esses pensamentos mundanos, em poucos dias ou semanas eles fenecerão por falta de alimento a eles fornecido.
Nosso objetivo é alcançar quietude e receptividade: no entanto, não devemos tentar anular nossos pensamentos.
Quando começamos a meditar, pensamentos desenfreados povoam nossa mente, devemos nos manter calmos e observá-los impessoalmente até que eles cessem e nos deixem em paz, assim, voltamos para a meditação. Tempos virão em que nenhum pensamento estranho atingirá nossa consciência; eles desaparecerão vítimas de nossa indiferença, enfraquecidos por nossa omissão, por não tê-los combatido tornando-nos invulneráveis a eles que assim, não voltarão a nos importunar.
Na Meditação devemos ser pacientes, tentando sempre dominar qualquer resquício de inquietação. Nenhuma verdade nos é revelada de fora, mas, a luz projetada naquela verdade, dentro de nossa própria alma, torna-se perceptível em nossa experiência. Verdade que vem de fora é mero simulacro de verdade; é a Verdade revelada dentro de nossa própria consciência que se torna “luz do Mundo”.
A Meditação nos conduz ao ponto em que é possível captar a Verdade e seu profundo significado.
O ritmo do universo toma conta de nós, não nos movemos, não pensamos mais, percebemos que estamos em sintonia, que há um ritmo da vida, que há harmonia. Isso é mais do que a paz da mente, é a paz espiritual que ultrapassa toda a compreensão humana.
Para alcançar essa esfera mística é necessário adquirir a capacidade de permanecer em silêncio, sem pensamentos, é a prática mais difícil da vida espiritual. Não significa uma repressão para cessação do pensamento ou mesmo um esforço nesse sentido; ao contrário, tão profunda é a comunhão com Deus que, de si mesmo, o pensamento cessa.
Nesse momento de silêncio, começamos a compreender que a Mente Divina ou Consciência Cósmica é a INTELIGÊNCIA INFINITA repleta de amor e que Ela funciona como nosso ser quando o pensamento se tranquiliza.
Em nossa vida cotidiana podemos ter um plano e a Mente Cósmica, outro; não conhecemos jamais os Seus planos, enquanto permanecermos ocupados constantemente em pensar, esquematizar, reagir às atividades e distrações do mundo.
Para receber a Divina Graça da Mente Cósmica é necessário que a mente humana se aquiete.
O indivíduo que é Senhor de seu destino precisa alcançar o estado de consciência em que nada neste mundo importa para ele, valor é somente aquilo que acontece a partir do momento que ele se eleva acima do mar do pensamento.
Nessa altura, o Pensamento Divino, a Atividade Divina da consciência se revela. Quer seja durante o dia ou durante a noite, não deverá haver outro desejo senão o jubiloso desejo de comunhão co Deus. É nessa completa tranqüilidade, nesse descanso do pensamento que o Pai se manifesta em nossa experiência.
Antes de entrar na zona da vida mística, o hábito de continuamente pensar e falar deve ser substituído pelo de, continuamente, saber ouvir. Nosso Mestre despendeu muito do seu tempo em meditação silenciosa e podemos estar certos de que Ele não pedia mediação de Deus para as coisas materiais. Ele não falava, ouvia; ouvia as instruções, a diretriz, o amparo de Deus.
É no desenvolvimento dessa capacidade de auscultar, de receber, que a mente humana se aquieta, se tranquiliza a tal ponto que se torna um canal, um instrumento através do qual Deus expressa, se manifesta.
A mente humana pensante tem seu lugar, não deve ser eliminada, destruída, ela é a fonte de consciência, uma avenida através da qual recebemos o conhecimento. Pensar é um degrau inicial que conduz à meditação.
Suponhamos não estarmos ainda avançados a ponto de vivermos em estado de constante receptividade; na verdade, Deus está sempre a nos falar, porém raramente O ouvimos.
O pensamento pode ser empregado como auxiliar para nos levar àquele estado de exaltação – o de ouvir a Consciência Cósmica. Todavia, na Meditação, nenhum pensamento deve ser utilizado no sentido de afirmar ou negar. Continuemos a supor: desejamos meditar, porém, a mente se encontra em tal torvelinho que não nos reconhecemos em estado de quietude e paz; em vez de esvaziar a mente ou eclipsar os pensamentos perturbadores, devemos conduzi-los a algum trecho da Escritura ou outro livro inspirado.
Vejamos como isso se dá empregando uma citação como: “Tranquiliza-te e sabe que EU SOU DEUS”, repetir continuamente até alcançar um estado de semi-hipnose e então se sentir sereno. É simples terapia sugestiva, não é poder espiritual. Alguns, através dessa afirmação, de tal forma se impressionam, que passam a crer que, como seres humanos, são Deus.
Consideremos agora essa mesma manifestação, porém em vez de aplicá-la como tal, procuremos pela meditação descobrir seu real significado. “Tranquiliza-te e sabe que EU SOU DEUS” - Que significa isso?Sem dúvida tu sabes Joel, que não és Deus. Está dito que “EU SOU DEUS” – não que Joel é Deus, o que é muito diferente. Deus no centro de mim é Poderoso... “Eu e o Pai somos UM. Onde EU estou Deus está” - mais perto do que as mãos e os pés. Tranquiliza-te Joel, porque o EU em ti é Deus.
Não tens motivo de procurar proteção, auxílio, cura em algum lugar: EU estou contigo. Tranquiliza-te e sabe que EU SOU tua proteção, tua salvação, tua segurança. O nome Joel, do autor, pode ser substituído pelo do leitor.
Na apreciação da passagem da Escritura, a paz nos invade e nos sentimos repousados, divinamente tranquilos. Na senda espiritual poucos alcançam esta serenidade, rápida e facilmente; para a maioria o caminho é longo e difícil. Não devemos regozijar-nos com a rapidez do nosso progresso ou descrer ante sua possível lentidão. A nós cabe palmilhar o caminho.
Muitos têm períodos de progresso rápido seguido ou pontilhado por intervalos de desânimo em que se sentem extraviados a vagar em um labirinto de conflitos e contradições. Muitas vezes, após esses decessos avançamos para novas alturas onde panoramas insuspeitos se desenrolam à nossa frente. Há alguns indivíduos dotados, devido a experiências anteriores, para os quais o percurso parece fácil.
A pureza da consciência desenvolvida torna sua ascensão à consciência espiritual, uma jornada harmoniosa, com poucos problemas. Para muitos de nós o Caminho é de altos e baixos, mas no fim de algum tempo, poderemos perceber que já nos encontramos bem adiante do ponto de partida.
O pré-requisito para a auscultação da Voz Inaudível, para atualizar a experiência do Cristo é pelo estudo, pela Meditação, pelo convívio com pessoas que palmilham também a senda espiritual. Auscultando freqüentemente a Voz Inaudível dentro de nós, iremos receber a Graça de Deus, sinal de que atingimos o propósito da Meditação. Nada nos deve satisfazer fora da experiência do próprio Deus; é a pérola de grande preço. A cada um cabe decidir quanto tempo e esforço deve devotar à Meditação, como organizar sua vida para reservar períodos mais ou menos prolongados e ininterruptos de quietude, durante os quais se ponha em contato com a Presença, com o Poder Interior.
Os anos dedicados ao estudo e prática da Meditação não serão estéreis ao aspirante; ao contrário, são períodos de preparação cuja finalidade é alcançar o verdadeiro alvo da vida. Isso requer paciência, tenacidade, determinação; mas se a realização de Deus (auto-realização) é a força motora de nossas vidas, aquilo que o mundo chama sacrifício de tempo e esforço, não é sacrifício – é a mais intensa das alegrias.
A MEDITAÇÃO DE MEU CORAÇÃO
“Acolherei as palavras de meus lábios e a meditação de meu coração na Vossa Presença, Senhor, Minha rocha é meu Redentor.” (Salmos 19:14)
Meditação é uma experiência individual que não pode ser confinada dentro dos limites de algum padrão predeterminado. Meditai, orai, frequentai o secreto esconderijo do MAIS ALTO, em quietude e paz; descobrireis que a Verdade que andais buscando já habita em vós. Cristo, a Luz de dentro de vós, é o curador, o multiplicador de pães e peixes, é Ele que nos mantém e dá suprimento. Jamais encontrareis saúde e outros bens, procurando-os, eles estão contidos em vós mesmos e se desdobrarão de vosso íntimo ser quando aprenderdes a comungar com o PAI. Cristo é a vossa verdadeira identidade e Nele vos completais integralmente. Vossa Cristificação fluirá, na proporção do vosso conhecimento e experiência da Verdade.
Na senda para integração de Deus, só por uma coisa devemos orar, pela iluminação espiritual, dom do espírito, e então se revelará.
Em momentos de consciência exaltada, as meditações que se seguem fluem de dentro, revelando os dons do Espírito; não seguem plano estabelecido, cada uma é a expressão do impulso espiritual, em forma de escrita. Não são para serem repetidas ao pé da letra, nem para servirem de padrão; seu propósito único é servir de inspiração para que possais vislumbrar a beleza e a alegria dessa experiência, encorajando-vos a submeter-vos à disciplina requerida para descobrir as profundezas inexploradas do vosso interior e assim procedendo, lançar-vos a experiências cada vez maiores.
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