quinta-feira, março 28, 2019

A Arte da Meditação - 6


A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith)

Capítulo 6 - A TERRA É DO SENHOR

“Do Senhor é a terra e tudo o que ela encerra, a redondeza da terra e os que nela habitam”. (Salmos 24:1)

“Quando contemplo os Teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que Tu creaste, exclamo: Que é o homem para Te lembrares dele? Tu o fizeste pouco inferior aos anjos e o coroaste de glória e de honra”. (Salmos 8:3-6)

Na contemplação do universo a mente centraliza-se em Deus; testemunhamos Sua Glória, quando serenamente observamos Sua atividade na terra. 

A prática dessa forma de meditação, dia após dia, conduz-nos a um estado de consciência em que o pensamento se dilui e finalmente cessa. 

Num desses dias, enquanto estivermos nessa observação da Atividade de Deus, ocorrerá um segundo silêncio, sem pensamento de qualquer natureza.

Neste curto período, a Atividade ou Presença se tornará conhecida por nós, a partir de então, verificaremos que “Deus está mais perto do que a respiração e que o Reino de Deus está dentro de nós”. 

Consoante a tranqüilidade de nossa consciência, o Espírito de Deus passará a agir também, constantemente, na creação do nosso mundo de formas, circunjacentes. Vim a esta hora sossegada para contemplar Deus e as coisas de Deus. 

Toda bênção vertida sobre a terra é emanação, expressão de Deus ou de Sua lei. 

O sol que nos aquece, a chuva que alimenta as plantas, as árvores, as estrelas, as marés e a lua que desempenham funções e surgem para o homem como bênçãos divinas. 

Não é casualmente que o sol fica suspenso nos céus milhões de milhas distante da terra, distância necessária para, equilibradamente, fornecer-nos calor e frio. Realmente é Deus a Inteligência deste Universo, uma Inteligência plena de amor e sabedoria. 

O sol, a lua e as estrelas movem-se em suas respectivas órbitas, de acordo com o plano divino que torna a lua e as estrelas visíveis à noite e durante o dia nos proporciona a luz do sol. 

Deus é a fonte de tudo que existe. Seu amor se evidencia no fato de que, antes de o homem aparecer na terra, já aqui existia o necessário para o seu crescimento, desenvolvimento e bem estar. 

Mesmo os minerais foram destinados a serem aproveitados pelo homem – os métodos naturais que formaram o ferro, o petróleo, o ouro, o urânio, são métodos de Deus. 

Milhões de anos antes, Ele sabia que esses minerais seriam indispensáveis na época presente de industrialização, por isso durante milênios foram tomando forma no solo. Há milhões de anos, Deus deve ter previsto os bilhões de habitantes que a terra abrigaria: por isso creou solos férteis em que crescessem Árvores, arbustos, flores, frutos e outros vegetais. 

E Deus disse: “Produza a terra erva verde e que dê semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo sua espécie e que a semente esteja nelas mesmas, sobre a terra”. 

Deus encheu os mares de alimentos ainda não extraídos que, um dia, poderão sustentar nações. E disse também: “Produzam as águas em abundância, animais viventes”, e os abençoou dizendo: “Crescei e multiplicai e enchei as águas do mar”. Tudo isso são dádivas de Deus ao homem. 

Contemplo Deus em todas as coisas, especialmente em Sua Lei e em Seu amor. Deus ama os peixes do mar e cuida deles, ama os pássaros no ar e provê seu alimento e propagação; Deus produz as brisas suaves e refrigerantes. Deus me ama e provou esse amor, encarnado como “EU”, Seu próprio Ser, Sua própria Vida, Sua própria Sabedoria. 

Preciso apenas obedecer a Lei de um Poder Único e a Lei do Amor e o resto será dado de acréscimo. São presentes invaliáveis de Deus. As coisas de Deus são minhas, doadas livremente, na proporção do meu reconhecimento de Deus como Sua Fonte.

Ele é o grande Doador do Universo, conferindo a tudo o Seu amor, Sua inteligência, Sua sabedoria, Sua orientação e Sua Força. 

Contemplando as maravilhas de Deus, já existentes, estamos testemunhando e reconhecendo Sua Graça que providenciou todos esses bens sem que nós os pedíssemos. Somos testemunha de Sua Atividade na terra. 

À noite, olhando o céu estrelado, ninguém se preocupa com o nascimento do sol, nenhum de nós se angustia a rezar para que ele desponte na manhã seguinte. 

Amanhã à noite, a lua e as estrelas continuarão a mover-se em suas órbitas e duas vezes, nas vinte e quatro horas, as marés terão enchentes e vazantes. 

Deus não solicita informações, sugestões ou súplicas no que respeita ao governo de Seu Universo. Preces, petições, súplicas, não alterarão Sua Lei. Seu trabalho está feito, Sua Lei está em exercício. 

Contemplando as maravilhas do Universo de Deus, transcendemos o desejo de pedir-lhe algo; tal contemplação nos leva à altura da visão do salmista: “a Terra é do Senhor com toda sua abundância”. 

Captamos essa visão num passeio sossegado, na solidão de um parque, de uma praça, lago ou rio. Levantamos os olhos para as colinas, as montanhas e contemplamos somente o que Deus contempla, e conhecemos o que Deus conhece. 

Tudo o que exalta nossa consciência acima do clangor dos sentidos e dos tumultos deste mundo, leva-nos à presença de Deus; nós a encontramos quando atingimos as altitudes divinas da inspiração. DEUS É PROFUNDO SILÊNCIO, A SUPREMA QUIETUDE DE TUDO QUE É HUMANO. 

Quando pela visão espiritual superamos as aparências, tudo o que contemplamos neste mundo atesta a Glória, a Atividade, a Lei, o Amor de Deus por seus filhos. Céus e terra para nós foram feitos, sobre eles nos foi dado domínio: “Tu o fizeste para dominar o trabalho de Tuas mãos; puseste todas as coisas debaixo de Teus pés...” somos a mais excelsa creação de Deus; DEUS a ALMA deste universo se manifesta em expressão individual como “eu” e como “tu”.


sábado, março 23, 2019

A Arte da Meditação - 5


A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith)

Capítulo 5 - AS DIFICULDADES 

Praticando sinceramente as meditações precedentes, sem dúvida surgirão muitas perguntas referentes a certos aspectos, como: “Que fazer com os pensamentos estranhos que vagueiam na mente? Devemos aguardar a manifestação de visões? Há tempo determinado para cada meditação? Quanta compreensão é necessária? A dieta exerce alguma influência sobre a eficácia da meditação? É indispensável alguma posição definida?”. Consideremos primeiro este último aspecto. 

A meditação é praticada com maior facilidade quando não temos consciência do corpo: sentado em uma cadeira reta, pés completamente dispostos no chão, coluna reta, ambas as mãos repousando sobre as coxas: essa posição normal, natural, pode ser mantida cinco, dez, vinte minutos, sem que nos preocupemos com o corpo. 

Não há mistério no que tange à posição: no Oriente, poucas pessoas sentam-se em cadeiras, sendo para elas confortável, sentarem-se no chão com as pernas cruzadas, posição que para nós do Ocidente não é fácil de ser conseguida e difícil de ser mantida. 

Se salientarmos que na meditação, nossa atenção deve focalizar-se em Deus e nas coisas de Deus, compreenderemos porque é necessária uma posição confortável e natural a fim de que o pensamento ou a atenção não se disperse. O motivo único é poder concentrar-se facilmente, focalizando Deus e aumentando a receptividade a Seu Poder Infinito. 

Na meditação observa-se uma alteração no organismo: espinha reta, peito ereto, respiração mais tranquila, diminuindo de pensamentos até a completa cessação. 

Meditação é uma experiência consciente; como foi sugerido, é favorável iniciá-la com uma pergunta ou pensamento ou ideia especial sobre a qual desejamos iluminar-nos. Começamos com a ideia de receber uma revelação de Deus, se compreendermos que a 

Meditação é uma atividade consciente de nossa alma, não haverá perigo de ficarmos entorpecidos. Dois ou três minutos de Meditação bastam para eliminar a fadiga de um dia inteiro de trabalho. Os que adormecem durante a Meditação, falham nessa experiência consciente. 

Em um certo período da Meditação pode o sono sobrevir, mas, tal sono não é uma queda para a inconsciência; durante este, a atividade da consciência se mantém. 

Meditar não é simplesmente sentar-se e dizer: “Bem, Deus, podeis prosseguir”, é uma vigilância ativa e, contudo “uma paz transbordante”. 

Certifiquemo-nos que a paz sobreveio, não vamos tomar o Reino de Deus pela força, pelo poder físico ou mental. 

Quando a Meditação se tornar um esforço suspendamo-la ou contrariaremos nosso propósito. Não há necessidade de meditar um período especial de tempo, se ela foi apenas de um minuto de duração, fiquemos satisfeitos. 

Teremos movimentado o fluxo durante esse tempo ou menos ainda, se mantivermos nossa mente repousada em Deus. 

Meditar é uma arte difícil de ser dominada; se não fora assim, há muito, a técnica estaria em poder de todo o mundo. 

Segundo minha própria experiência foram necessários oito meses de 5 a 10 meditações diárias para que me fosse dado perceber a Presença dentro de mim, oito meses de meditações freqüentes. Também eu não tinha conhecimento da possibilidade de um contato com Deus ou o que dele resultaria, uma vez conseguido. 

Contudo, profundamente, dentro de mim, existia a convicção inabalável de que era possível atingir algo maior do que eu mesmo e submergir num Poder superior. 

Ninguém que eu conhecesse palmilhava antes esse caminho, ninguém me apontara a estrada a percorrer. Subsistia, no entanto, aquela firme convicção de que se eu pudesse colocar-me em contato com Deus, no centro do meu Ser, Ele tomaria conta de minha vida, do meu trabalho, de minha prática, de meus clientes. 

No fim de oito meses estava apto a conseguir um segundo de realização, talvez ainda menos que um segundo, não sei como avaliar o tempo, quando ele é medido em frações de segundos, mas seguramente foi o tempo que durou. 

Passou-se uma semana antes da segunda experiência, também rápida e muitos dias se escoaram antes da terceira e assim sucessivamente. 

Finalmente chegou a época em que a conscientização parecia durar uma eternidade e essa eternidade, creio, era mais curta do que um minuto. 

Nessa época, tive a intuição de que se me levantasse às 4 da manhã, daí até as 8 horas, vez ou outra, sentiria aquela vibração – a certeza da PRESENÇA. 

Em alguns dias Ela se manifestou em menos de cinco minutos e outras vezes escoaram 4 horas, antes dela surgir; mas desde então, nunca mais fui para meu consultório sem antes ter tido a experiência da PRESENÇA. 

Agora, das 24 horas, nove ou dez são dedicadas à Meditação, não em período contínuo, mas intercalado, ora dez, vinte ou trinta minutos. Não há nada regular; às vezes deito-me às 8 horas da noite, levanto-me as 10 e meia e medito até as três. Volto então ao leito até quatro e meia, novamente de pé, volto a meditar até a aurora. Além disso, quando alguém me procura, depois de rápida conversa, meditamos. Introspecção constante, constante meditação é o meio de manter vivo o impulso interior. 

Devemos prosseguir nesse ritmo, todavia, se favorecermos a supressão desses períodos de contemplação devido a negócios ou encargos, malograremos. 

O Mestre afastava-se da multidão para comungar sozinho nos desertos e nos cumes dos montes. Nós também devemos afastar-nos de nossas famílias, de nossos amigos, de nossas obrigações humanas, para aqueles períodos de comunhão, necessários ao nosso aperfeiçoamento íntimo. Uma hora ou duas de meditação, sem nenhum desejo de coisa alguma é o meio que nos faculta alcançar uma profunda experiência de Deus. 

Freqüentemente, aflora a questão da dieta no que se refere à Meditação. Existe alguma dieta que favoreça o aumento de capacidade espiritual? É necessário evitar tais e tais alimentos? Deve ser abolido o uso da carne? 

Nos diversos estágios de nosso desenvolvimento somos tentados a crer que aquilo que fazemos ou pensamos pode favorecer nosso aperfeiçoamento espiritual. 

É um conceito falso; ao contrário, é o próprio desenvolvimento espiritual que atua sobre nossos hábitos e sobre nosso viver quotidiano. Progredindo na senda espiritual, o aspirante poderá notar essas modificações, contudo, não pretendemos ver nisso virtude ou aumento de capacidade espiritual, por qualquer sacrifício material. 

A espiritualidade se desenvolve pela leitura edificante, pela auscultação, pela companhia de pessoas que palmilham a mesma estrada e, sobretudo, pela Meditação. 

O Reino de Deus é encontrado na Auto-Realização; fruto da Graça interior e pela renúncia às coisas do mundo externo. 

Outro tema suscitado se refere às visões psíquicas. São tais manifestações parte necessária na experiência da Meditação? Tais visões podem ter alguma relevância em nossa vida, em nossa experiência humana, mas, devemos lembrar que elas se situam inteiramente na esfera psíquica ou no reino mental da consciência. Na literatura espiritual, essas visões jamais são consideradas experiências espirituais, elas não têm relação alguma com o mundo do espírito. Portanto, não nos detenhamos na zona do psiquismo, elevemo-nos à pura atmosfera do Espírito. Muitas vezes, na Meditação alcançamos uma sensação de paz ou harmonia – a realização da Presença do Cristo; são experiências inspiradoras, porém, devemos estar prontos para abandonar mesmo essa profunda paz e ir em busca de um nível de consciência mais elevado no qual o alcance daquela paz perde o significado ou importância. Havendo realizado a Presença do Cristo será, por acaso, necessário sentir alguma forma de reação emocional? Não é necessário; o que importa é compreender que a Atividade do Espírito é eterna e que ela está conosco. Um dos maiores estorvos à meditação é o receio de não compreendermos suficientemente como iniciar essa prática. Devemos lembrarmo-nos que é a Sua compreensão, não a nossa que importa. 

Na quietude, voltemo-nos para dentro a fim de permitir que a Verdade se revele. Não há limite para a compreensão se nos tornarmos dependentes da compreensão de Deus e não da nossa. 

O salmista desembaraça-se facilmente, para sempre, de tal medo e tal dúvida, no Salmo 147, em que seu coração e seus lábios entoam louvores a Deus. “Grande é o Senhor, grande é Seu Poder, Infinita Sua Compreensão”. 

Não há nenhum leitor desse livro tão destituído de compreensão que não possa iniciar a prática da Meditação e através dela penetrar no Reino de Deus. Pela Graça, mesmo o ladrão na cruz penetrou no Paraíso naquele dia, e pela Graça nós também podemos a qualquer momento franquear os portões dos céus. 

O maior empecilho da Meditação é a incapacidade de manter o pensamento em uma direção. Não é minha falta nem vossa; é, em boa parte, conseqüência da vida vertiginosa dos tempos modernos. Dá-se um brinquedo a uma criança que é logo substituído por outro; da infância a adolescência e a adultez, sua atenção é sempre atraída para as pessoas e coisas, de modo que se ela encontrar só, será dominada pelo espanto. Muitas pessoas jamais aprenderam como se sentar e permanecer quietas, nossa cultura, de tal forma centralizou nossa atenção nas coisas do mundo que perdemos a capacidade de nos aquietarmos para a contemplação e auscultação das grandes idéias. 

Quando fechamos os olhos e tentamos meditar, toda sorte de pensamentos invade nossa mente; somos como antenas sintonizando todas as estações do mundo. Não nos preocupemos com elas; se desprezarmos esses pensamentos mundanos, em poucos dias ou semanas eles fenecerão por falta de alimento a eles fornecido. 

Nosso objetivo é alcançar quietude e receptividade: no entanto, não devemos tentar anular nossos pensamentos. 

Quando começamos a meditar, pensamentos desenfreados povoam nossa mente, devemos nos manter calmos e observá-los impessoalmente até que eles cessem e nos deixem em paz, assim, voltamos para a meditação. Tempos virão em que nenhum pensamento estranho atingirá nossa consciência; eles desaparecerão vítimas de nossa indiferença, enfraquecidos por nossa omissão, por não tê-los combatido tornando-nos invulneráveis a eles que assim, não voltarão a nos importunar. 

Na Meditação devemos ser pacientes, tentando sempre dominar qualquer resquício de inquietação. Nenhuma verdade nos é revelada de fora, mas, a luz projetada naquela verdade, dentro de nossa própria alma, torna-se perceptível em nossa experiência. Verdade que vem de fora é mero simulacro de verdade; é a Verdade revelada dentro de nossa própria consciência que se torna “luz do Mundo”. 

A Meditação nos conduz ao ponto em que é possível captar a Verdade e seu profundo significado. 

O ritmo do universo toma conta de nós, não nos movemos, não pensamos mais, percebemos que estamos em sintonia, que há um ritmo da vida, que há harmonia. Isso é mais do que a paz da mente, é a paz espiritual que ultrapassa toda a compreensão humana. 

Para alcançar essa esfera mística é necessário adquirir a capacidade de permanecer em silêncio, sem pensamentos, é a prática mais difícil da vida espiritual. Não significa uma repressão para cessação do pensamento ou mesmo um esforço nesse sentido; ao contrário, tão profunda é a comunhão com Deus que, de si mesmo, o pensamento cessa. 

Nesse momento de silêncio, começamos a compreender que a Mente Divina ou Consciência Cósmica é a INTELIGÊNCIA INFINITA repleta de amor e que Ela funciona como nosso ser quando o pensamento se tranquiliza. 

Em nossa vida cotidiana podemos ter um plano e a Mente Cósmica, outro; não conhecemos jamais os Seus planos, enquanto permanecermos ocupados constantemente em pensar, esquematizar, reagir às atividades e distrações do mundo. 

Para receber a Divina Graça da Mente Cósmica é necessário que a mente humana se aquiete. 

O indivíduo que é Senhor de seu destino precisa alcançar o estado de consciência em que nada neste mundo importa para ele, valor é somente aquilo que acontece a partir do momento que ele se eleva acima do mar do pensamento. 

Nessa altura, o Pensamento Divino, a Atividade Divina da consciência se revela. Quer seja durante o dia ou durante a noite, não deverá haver outro desejo senão o jubiloso desejo de comunhão co Deus. É nessa completa tranqüilidade, nesse descanso do pensamento que o Pai se manifesta em nossa experiência. 

Antes de entrar na zona da vida mística, o hábito de continuamente pensar e falar deve ser substituído pelo de, continuamente, saber ouvir. Nosso Mestre despendeu muito do seu tempo em meditação silenciosa e podemos estar certos de que Ele não pedia mediação de Deus para as coisas materiais. Ele não falava, ouvia; ouvia as instruções, a diretriz, o amparo de Deus. 

É no desenvolvimento dessa capacidade de auscultar, de receber, que a mente humana se aquieta, se tranquiliza a tal ponto que se torna um canal, um instrumento através do qual Deus expressa, se manifesta. 

A mente humana pensante tem seu lugar, não deve ser eliminada, destruída, ela é a fonte de consciência, uma avenida através da qual recebemos o conhecimento. Pensar é um degrau inicial que conduz à meditação. 

Suponhamos não estarmos ainda avançados a ponto de vivermos em estado de constante receptividade; na verdade, Deus está sempre a nos falar, porém raramente O ouvimos. 

O pensamento pode ser empregado como auxiliar para nos levar àquele estado de exaltação – o de ouvir a Consciência Cósmica. Todavia, na Meditação, nenhum pensamento deve ser utilizado no sentido de afirmar ou negar. Continuemos a supor: desejamos meditar, porém, a mente se encontra em tal torvelinho que não nos reconhecemos em estado de quietude e paz; em vez de esvaziar a mente ou eclipsar os pensamentos perturbadores, devemos conduzi-los a algum trecho da Escritura ou outro livro inspirado. 

Vejamos como isso se dá empregando uma citação como: “Tranquiliza-te e sabe que EU SOU DEUS”, repetir continuamente até alcançar um estado de semi-hipnose e então se sentir sereno. É simples terapia sugestiva, não é poder espiritual. Alguns, através dessa afirmação, de tal forma se impressionam, que passam a crer que, como seres humanos, são Deus. 

Consideremos agora essa mesma manifestação, porém em vez de aplicá-la como tal, procuremos pela meditação descobrir seu real significado. “Tranquiliza-te e sabe que EU SOU DEUS” - Que significa isso?Sem dúvida tu sabes Joel, que não és Deus. Está dito que “EU SOU DEUS” – não que Joel é Deus, o que é muito diferente. Deus no centro de mim é Poderoso... “Eu e o Pai somos UM. Onde EU estou Deus está” - mais perto do que as mãos e os pés. Tranquiliza-te Joel, porque o EU em ti é Deus. 

Não tens motivo de procurar proteção, auxílio, cura em algum lugar: EU estou contigo. Tranquiliza-te e sabe que EU SOU tua proteção, tua salvação, tua segurança. O nome Joel, do autor, pode ser substituído pelo do leitor. 

Na apreciação da passagem da Escritura, a paz nos invade e nos sentimos repousados, divinamente tranquilos. Na senda espiritual poucos alcançam esta serenidade, rápida e facilmente; para a maioria o caminho é longo e difícil. Não devemos regozijar-nos com a rapidez do nosso progresso ou descrer ante sua possível lentidão. A nós cabe palmilhar o caminho. 

Muitos têm períodos de progresso rápido seguido ou pontilhado por intervalos de desânimo em que se sentem extraviados a vagar em um labirinto de conflitos e contradições. Muitas vezes, após esses decessos avançamos para novas alturas onde panoramas insuspeitos se desenrolam à nossa frente. Há alguns indivíduos dotados, devido a experiências anteriores, para os quais o percurso parece fácil. 

A pureza da consciência desenvolvida torna sua ascensão à consciência espiritual, uma jornada harmoniosa, com poucos problemas. Para muitos de nós o Caminho é de altos e baixos, mas no fim de algum tempo, poderemos perceber que já nos encontramos bem adiante do ponto de partida. 

O pré-requisito para a auscultação da Voz Inaudível, para atualizar a experiência do Cristo é pelo estudo, pela Meditação, pelo convívio com pessoas que palmilham também a senda espiritual. Auscultando freqüentemente a Voz Inaudível dentro de nós, iremos receber a Graça de Deus, sinal de que atingimos o propósito da Meditação. Nada nos deve satisfazer fora da experiência do próprio Deus; é a pérola de grande preço. A cada um cabe decidir quanto tempo e esforço deve devotar à Meditação, como organizar sua vida para reservar períodos mais ou menos prolongados e ininterruptos de quietude, durante os quais se ponha em contato com a Presença, com o Poder Interior. 

Os anos dedicados ao estudo e prática da Meditação não serão estéreis ao aspirante; ao contrário, são períodos de preparação cuja finalidade é alcançar o verdadeiro alvo da vida. Isso requer paciência, tenacidade, determinação; mas se a realização de Deus (auto-realização) é a força motora de nossas vidas, aquilo que o mundo chama sacrifício de tempo e esforço, não é sacrifício – é a mais intensa das alegrias. 


A MEDITAÇÃO DE MEU CORAÇÃO 

“Acolherei as palavras de meus lábios e a meditação de meu coração na Vossa Presença, Senhor, Minha rocha é meu Redentor.” (Salmos 19:14)

Meditação é uma experiência individual que não pode ser confinada dentro dos limites de algum padrão predeterminado. Meditai, orai, frequentai o secreto esconderijo do MAIS ALTO, em quietude e paz; descobrireis que a Verdade que andais buscando já habita em vós. Cristo, a Luz de dentro de vós, é o curador, o multiplicador de pães e peixes, é Ele que nos mantém e dá suprimento. Jamais encontrareis saúde e outros bens, procurando-os, eles estão contidos em vós mesmos e se desdobrarão de vosso íntimo ser quando aprenderdes a comungar com o PAI. Cristo é a vossa verdadeira identidade e Nele vos completais integralmente. Vossa Cristificação fluirá, na proporção do vosso conhecimento e experiência da Verdade. 

Na senda para integração de Deus, só por uma coisa devemos orar, pela iluminação espiritual, dom do espírito, e então se revelará. 

Em momentos de consciência exaltada, as meditações que se seguem fluem de dentro, revelando os dons do Espírito; não seguem plano estabelecido, cada uma é a expressão do impulso espiritual, em forma de escrita. Não são para serem repetidas ao pé da letra, nem para servirem de padrão; seu propósito único é servir de inspiração para que possais vislumbrar a beleza e a alegria dessa experiência, encorajando-vos a submeter-vos à disciplina requerida para descobrir as profundezas inexploradas do vosso interior e assim procedendo, lançar-vos a experiências cada vez maiores. 

Meditação é um canto permanente de gratidão a Deus, aqui e agora. É repouso no seio de Deus, segurando-lhe a Mão, sentindo Sua Divina Presença e Paz na contemplação do Seu Amor. Podereis então dizer: “Eu me contentarei no Senhor


segunda-feira, março 18, 2019

A Arte da Meditação - 4



A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith)

Capítulo 4 - A UNIÃO INDISSOLÚVEL 

Na senda espiritual, pouco, pouquíssimo progresso pode ser feito enquanto não tivermos certa noção do que Deus é, do nosso relacionamento com Ele e o que representa Sua atividade em nossa vida. 

Essa experiência tem que ser individual, obtida de maneira inesperada sem a intervenção de qualquer outra autoridade a não ser a Revelação interior. 

Investigando incessantemente, meditando com freqüência sobre a presença de Deus dentro de nós, seremos levados a nos aprofundar sobre o Seu significado, Sua Onipresença, Sua atividade em nossas vidas. 

Quantas pessoas terão tido experiência direta de Deus? Quantas sentiram o fluxo do espírito em nossas mentes, quem sabe, milhares em cada geração, no entanto, Deus é facilmente reconhecível por qualquer homem, mulher ou criança. Deus exige nosso total amor e devoção; devemos dar-nos a Ele de modo que Ele possa revelar-nos Sua doação eterna. Devemos amá-Lo sobre todas, com todo nosso coração, nossa alma e nossa mente. Amá-lo tanto que a nossa oração seja esta: Desejo sentir Deus, permitir que Ele ocupe minha alma, meu coração, minha mente, todo o meu ser. Referimo-nos a Deus como Inteligência. Mente, Princípio Impessoal, mas Deus também é pessoal. 

As relações do indivíduo e Deus podem ser mais estreitas do que o relacionamento com a nossa própria mãe. 

A consciência da Sua presença dá-nos tranqüilidade, serenidade, em sua quietude sentimos alegria e paz. Uma vez que tenhamos a experiência de Deus, a benevolência, a paz, o fervor evidenciam-se envolvendo-nos num manto de ternura para tudo e para todos. 

Comumente é Deus considerado algo separado, afastado de nós, que possui todos os bens e, no entanto nos sonega. Em geral oramos a Deus tentando obter alguma coisa: saúde, suprimento, oportunidades, companheirismo. 

Às vezes, quando a resposta não é imediata, passamos a fazer promessas que na realidade não temos a intenção de cumprir, no intuito fútil de transacionar com Deus. 

Com esforço, tentamos conciliar um suposto Deus amoroso com um outro Deus que se mantém surdo às nossas súplicas, muitas vezes nos censuramos pensando que algum ato mau por omissão ou comissão determinou essa recusa de Deus em atender-nos. 

Acreditam alguns médicos que muitos males do mundo, físicos e mentais, são resultados de complexos de culpa. Grande número de pessoas se consome em autocondenações, oprimidas por sentimentos de culpa. 

Se crermos que estamos sendo punidos por um Deus vingativo, estamos redondamente enganados. Deus não se debruça na contemplação de nossas iniqüidades, não anota nossas fraquezas, Deus não castiga os pecadores; estes são punidos por seus próprios pecados. 

Mesmo o mais renitente pecador sabe que certas leis de Deus não devem ser violadas, pois a punição é fatal. O que ele ignora é que essa punição não é aplicada por Deus, ela é imposta pelo próprio pecador. Deus é amor; Ele não recusa nem castiga. Que Deus seria esse, caprichoso e cruel, que contasse conosco para ser bom, que esperasse de nós palavras que o aplacassem, que se preocupasse para que praticássemos meditação, métodos de meditação agradáveis aos seus olhos, para só então derramar sobre nós as bênçãos? 

Deus jamais nos dará além daquilo que já nos está dando. Deus é Vida e Amor e está eternamente expressando Sua Vida e Seu Amor. João afirma: “Pediste e não recebeste porque pediste erradamente”. 

Agimos erradamente toda vez que nos dirigimos a Deus na esperança de obter alguma coisa. Ninguém precisa pedir-Lhe que torne verdes os vales ou vermelhas as rosas, ninguém precisa falar-Lhe sobre a mudança das estrelas ou das marés. Teremos então a presunção de dizer-Lhe que algo nos está faltando? Deus é a inteligência Infinita deste universo; se Ele sabe fazer para que a ostra produza uma pérola e a terra petróleo, se Ele sabe como orientar os pássaros nos seus vôos, como cobrir a terra com suas maravilhas, não será essa mesma Inteligência Infinita suficiente para influir em nossa experiência, como Guia, sem que se torne necessária qualquer advertência, informação ou sugestão? 

A base de toda meditação, de toda oração é a conscientização da presença de Deus em nós e do nosso relacionamento com Ele. Deus é Vida eterna, Inteligência Infinita, Amor Divino – Eu e o Pai somos UM, repousamos nessa afirmação passaremos a viver harmoniosa, jubilosa e abundantemente. 

No momento em que nos dirigimos a Deus com a idéia de desejar, pedir ou esperar algo, impedimos que Ele atue em nossa experiência, pois estaremos formulando conceitos e pontos de vista finitos que interceptam o fluxo divino. 

Deixando de interferir dobre a Vontade Divina e nos conservando na Sua Presença, puros de coração, sem vontade finita, sem desejos pessoais, sem ambição, então poderemos dizer com as mãos limpas: “Tua Vontade seja feita na terra assim como está sendo feita nos céus. Eu sou Teu, Tu és meu, eu estou em Ti, Tu estás em mim. Que a Tua vontade se cumpra em mim”. 

No mundo muitos duvidam do amor de Deus, já que despendem muito tempo rogando pelas messes divinas. 

Se realmente acreditassem em Deus, que é Inteligência e Amor, não envidariam esforços para adverti-Lo ou influenciá-Lo. DEUS É. Que maior oração existe do que estas duas palavras? Nada melhor do que elas para conduzir-nos ao interior do reino do nosso próprio ser. A meditação satisfatória é a que se baseia na firme convicção de que DEUS É. De que Ele é Inteligência e Amor, de que não há poder distinto de Deus e nem poder que se oponha a Ele. Nada há que possa interferir na expressão do Amor de Deus para com seus filhos. “Tua Graça me basta para as coisas”. 

É o reconhecimento da Presença, Sabedoria, Amor e Poder de Deus em nossa experiência. Observei o que acontece quando começamos a aceitar essa concepção de Deus, quando abandonamos nossa busca infrutífera fora de nós mesmos e permanecemos tranquilos afirmando: DEUS É. Deus é um modo de Ser, um estado de Inteligência Infinita e do Amor Eterno. 

A vida não muda, é um estado do Ser do que se pode pensar, nada do que se pode ler sobre Deus é a Verdade, todos os conceitos são apenas meras opiniões humanas sobre Deus. 

Para João, Deus revelou-se como o Amor, não podemos aceitar o Amor como a Verdade por ignorarmos o sentido em que João compreendeu e empregou esse termo. 

Para Jesus, Deus era o Pai, palavra de profundo significado para sua consciência. 

A conscientização da presença de Deus acontece a cada aspirante como desdobramento individual na vida daquele que decidiu palmilhar a senda do aperfeiçoamento espiritual. 

Durante os anos do meu próprio desdobramento, foi preciso abandonar um por um, todos os sinônimos de Deus comumente aceitos por não ser possível saber que significado continham esses termos para aqueles que os revelaram. 

Quando todos os conceitos foram varridos fiquei com um: “Infinito Invisível”, por quê? Porque o Infinito Invisível não significava algo que eu pudesse entender, nem tu nem eu podemos entender o Infinito, nem tu nem eu podemos ver o Invisível. Infinito Invisível sugere algo que minha mente não pode abarcar e isso me satisfaz. Se me fosse possível captar o sentido do Infinito Invisível, só poderia ser dentro da gama de minha compreensão humana e eu não desejo essa espécie de Deus. Deus não pode ser conhecido pela mente humana, mas Ele se revela se nós O auscultarmos no silêncio. Ele está lá onde nós estamos. “Onde poderei fugir de Tua presença? Se eu estender meu leito no inferno, Tu ali estarás...” Deus está presente em nossa consciência, não precisamos buscá-Lo fora ou procurá-Lo como se estivesse afastado ou fosse difícil de ser alcançado. Muitos ao abandonarem sua frenética busca de Deus, ao aprenderem a ficar tranquilos e deixar de repetir como papagaios, palavras e frases sem sentido, um dia despertarão e descobrirão que Deus sempre esteve ao seu lado murmurando: Por que não paras e não Me deixas dizer alguma coisa”? Como falaria com eles em um momento de desamparo, sem meios de conseguir auxílio humano, abandonados, perdido no deserto? Se O auscultarmos ouviremos Sua Voz: O lugar onde estás é sagrado. Onde poderei ocultar-me de teu Espírito? “Mesmo que caminhe no vale da sombra e da morte, nada temo, porque Tu estás comigo”. Ainda que me sinta só, não estou só; Ainda que me pareça desvalido não estou desamparado. O auxílio Divino está onde eu estou; Ele não precisa procurar-me nem eu buscá-Lo. O Reino de Deus está dentro de mim, porque eu e o Pai somos Um. Deus não está perdido e eu estou certo de que Ele não me perdeu. Se estou aqui, Deus está comigo. Esta é uma meditação poderosa, nada indagamos, nada pedimos, nada pleiteamos. Reconhecemos a Verdade proclamada por Jesus, João, Paulo, Moisés, Elias – a Verdade que eles revelaram – Onde eu estou Deus está. É um ensinamento universal, professado através dos tempos por todos os mestres espirituais, ensinamento que se transformou na adoração de um Deus longínquo e na crença de que Deus e seu amado filho são seres separados. 

Nessa meditação percebemos Deus como Realidade dentro de nós, porém não confinado dentro dos limites da nossa mente. Nenhum cirurgião poderá operar e encontrar Deus porque Ele habita na consciência de cada um, mais perto do que o próprio alento da vida. Se nos encontramos em um lugar de discórdia não nos esqueçamos de que Deus é a nossa salvação e que ele está mais próximo do que o ar que respiramos, pois, “Eu e o Pai somos um”. Analise essa frase: “Eu e o Pai somos um”, visualize uma figura na qual está contida a Unidade: Pai, Filho, e Espírito Santo. Essa unidade é Deus, o Princípio Creador Invisível, o Filho e o Invisível Espírito Santo que mantém e apresenta o Filho manifesto por toda a eternidade. Esse UM jamais será dois ou menos porque ALGO a Ele inerente mantém a Unidade. Todos somos UM com Deus. Essa Unidade inclui: Deus-Pai, Filho – a identidade individual e o Espírito Santo que é a atividade de Deus mantendo e sustentando essa Unidade. 

A identidade individual chama-se Rute, Roberto, Joel ou outro nome qualquer, não importa o nome, o que importa é que a atividade de Deus mantém a identidade individual por toda a eternidade, ela suporta, alimenta, derramando Sua Graça. Permaneçamos tranquilos e sejamos alimentados, supridos e guiados por essa Força Invisível que tem por função ser o Messias. 

O propósito da meditação é alcançar o real significado da Unidade, o sentido profundo do enunciado: “Eu e o Pai somos Um”. Pode às vezes parecer difícil permanecermos concentrados, por algum tempo, na conscientização desse pensamento: “Eu e o Pai somos Um”, mas se conseguirmos, poderemos voltar sempre a ele. Como a onda está ligada ao oceano, assim sou eu um com Deus; assim como o raio solar é a emanação do próprio sol, assim sou eu com Deus. 

Portanto, jamais poderei perder-me, jamais poderei ser só. A presença de Deus está onde estou, aqui e agora e para sempre, mesmo que esse lugar seja chamado de inferno ou de vale da sombra e da morte, nada tenho a temer, pois Deus está comigo. Eu nunca te abandonarei, nunca te deixarei. Antes que Abraão fosse, EU SOU; Eu estava contigo, estarei até o fim do mundo. Eu no centro de ti sou poderoso; Eu em ti, tu em Mim somos Um. Onde quer que vás, Eu irei contigo: norte, sul, leste, oeste; nos mares, nos ares, aonde fores eu te seguirei. Se cruzares as águas não te afogarás, se atravessares uma fornalha, as chamas não te queimarão, pois eu estou contigo”. Deus é a natureza do meu Eu. Tranquila e humildemente considere aquele EU que pensas ser tu, que acreditas que tem problemas, aquele EU é Deus. Como podes, pois, tu, aquele EU ter problemas ou conhecer limitações? Se acreditares que aquele Deus é teu Pai e que Aquele Pai está em ti, como será possível que te sintas sem guia, sem proteção, sem auxílio? Desde que compreendas que a natureza de Deus é teu próprio Eu, então não terás problemas. Não é possível que algum de nós se defronte com a situação pouco comum de ficar perdido em um deserto; não duvidemos, porém, que uma vez ou outra, na vida, nos encontremos num deserto de solidão que nos fará descobrir a presença de Deus como maná caindo do céu, como água vertendo da rocha ou o caminho aberto no mar. 

Do Gênesis ao Apocalipse (revelação) é a Bíblia a própria história da minha vida e da tua vida. Em certo grau o que aconteceu a Moisés acontecerá a nós; aquilo que experimentou Jesus, Elias, João, Paulo, de certa forma, também fará parte de nossa consciência. Pode ser que tenhamos ocasião de sentirmo-nos isolados em um ermo, para então descobrirmos que “Deus está onde nós estamos” e que “o lugar onde estamos é sagrado”. 

A voz de Deus nos guiará sobre o caminho a seguir. Não poderemos auscultá- la se permanecermos na suposição de que ouvir Deus era privilégio de apenas Jesus, Isaías, Elias ou Moisés, dois ou três mil anos atrás. Estaremos aptos a ouvi-la somente se aceitarmos a verdade da Unidade – Deus o Pai universal e Deus o filho. Toda meditação sobre Deus será infrutífera se não compreendermos que o que é verdade sobre Ele é verdade sobre nós, como seres individuais, finitos. Somente quando compreendermos que a natureza Infinita de Deus (essência) é a mesma natureza do ser individual, só então haverá harmonia em nossa experiência. O Eu é a natureza de Deus, aquele EU que habita no centro do nosso Ser. Esse Eu não é o corpo que vemos com nossos olhos físicos, não é o eu egoístico que acredita no supremo poder do ser humano. É o sutil EU SOU que nos contempla do centro do nosso ser. O eu pessoal, humano, deve “morrer diariamente”, para que possa o EU divino, a nossa natureza divina revelar-se. Deus é o SER individualizado, é teu ser, é meu ser, é o SER, a essência de todas as formas de vida: humana, animal, vegetal, mineral. Deus é o Ser, é a Lei, a Alma, a Substância do ser individual, portanto, tudo o que Deus é “Eu Sou”, tudo o que o Pai tem é meu. Este é o belo princípio da Vida, mas praticamente sem valor se não for aplicado em nossa vivência. Deus é o meu ser individual; é a vida, a alma de meu ser. É o Espírito. Deus é toda a substância de que é formado meu corpo, é a única Lei que me governa. Não há leis do credo médico ou teológico; Deus é a única Lei da imortalidade, de eternidade, de perfeição, mantida por si mesma. Tentação é supor que somos separados de Deus, às vezes essa tentação sobrevém de uma ou de outra forma como sugestão de cura. A resposta imediata deverá ser: “Eu não tenho compreensão suficiente”. 

Se, no entanto, estivermos vigilantes para a percepção da Verdade de que Deus é o nosso Ser individual, diremos: Sem dúvida não tenho suficiente compreensão e jamais terei bastante para curar alguém. 

A saúde não vem através de minha compreensão, ela é uma atividade do Cristo e independe do que eu conheço. Eu sou um instrumento espontâneo. Pai, estou pronto para permanecer tranqüilo, estou pronto para deixar que a atividade do Teu Ser se torne meu ser e Tua Graça a qualidade necessária nessa situação. Eu o Filho sou apenas instrumento do Eu o Pai, de mim nada posso. Somente Deus é a Fonte de tudo que existe, de todo o suprimento, de toda saúde, de todas as conexões. Se empregarmos nosso dinheiro como se ele fosse extraído do nosso próprio depósito verificaremos que ele não tem mais do que seu justo valor (o valor do dinheiro é apenas convencional, não é valor real, mas aparente, sujeito a desaparecer como apareceu). É que toda provisão está em Deus, esse dinheiro não nos pertence, pertence a Deus “Senhor da terra e de toda sua Plenitude”. 

Portanto, quando gastarmos, façamo-lo como se estivéssemos usufruindo, não de nosso depósito, mas da abundância de Deus; perceberemos então que não ficamos com menos, mas que restaram ainda doze cestos cheios... este foi o princípio ilustrado pelo Mestre quando multiplicou os pães e os peixes. Ensina a Bíblia que “a terra e sua plenitude são de Deus”, apesar de repetirmos essas palavras, muitos consideram a abundância algo separado, à parte de si mesmos e quando recebem algo é como se tivesse havido uma transferência, passando a ser nosso aquilo que pertencia a Deus. Isso é tão ridículo como a suposição de que são nossas as belas flores que desabrocham no jardim, tal ideia provocaria riso na natureza. 

Deus é a fonte de tudo; que diferença faz que a plenitude do Senhor se manifeste como uma flor ou como um dólar? Não há transferência daquilo que existe em Deus para o que existe em nós; ao contrário, tudo o que está em Deus, está em nós, agora mesmo, porque “Eu e o Pai somos Um”. Deus, o Pai, Princípio Creador Invisível; Deus o Filho visível e Deus Espírito Santo, a Fonte Mantenedora. Esse é o ensinamento do Mestre: “Nega-te a ti mesmo ou morre todos os dias”. É o ensinamento de Paulo: permitir que se desfaça a mortalidade, que nos adornemos de imortalidade e que Deus seja revelado em toda a Sua Glória como ser individual. Enquanto houver um eu pessoal (ego) esforçando-se para executar algo, para cumprir ou conseguir alguma coisa, haverá uma luta egoísta para se manter separado de Deus. 

Mas é possível morrer todos os dias, com a negação de que “por mim mesmo não posso ser ou ter algo”, de que “por mim mesmo não posso ser bom, espiritual, rico, sadio ou dono de poderes espirituais”. Morrer diariamente quer dizer abandonar a tentativa de querer ganhar alguma coisa para si mesmo. 

A lição é fácil: não desejemos juntar peixes e mais peixes em nossas redes, abandonemos o erro de pensar que temos alguma necessidade de peixe porque todo peixe pertence a Deus e tudo aquilo que pertence a Deus também nos pertence. 

Renegando o eu-personalidade (ego), glorificamos o Eu divino que realmente somos, nosso verdadeiro ser, cuja medida é o Infinito. Reconhecendo Deus como Ser individual, estaremos reconhecendo o Infinito como centro do nosso próprio ser – O Infinito que pode transbordar do nosso ser para o mundo. Contudo, no momento em que o pensamento de obter, adquirir, fazer alguma coisa nos possua, nesse exato momento, bloqueamos, impedimos o transbordamento do Infinito em nós. Reconhecendo que nada mais somos além de meros instrumentos de Sua entrada na consciência humana, então conduzimos conosco a atmosfera espiritual, sagrada da Plenitude de Deus dentro do nosso ser. Sem traço de egoísmo, sem desejo algum de glória ou proveito pessoal, perceberemos que qualquer pessoa, em qualquer lugar, que sinceramente venha a nós, poderá receber a Graça de Deus. 

A Graça de Deus é condição, não o nosso conhecimento pessoal ou nossas posses. 

Então, em paz e quietude, o fluxo começa a transbordar de dentro de nós como entusiasmo, renúncia e alegria. 

Ser capaz de ficar tranqüilo e saber que nosso Eu é Deus, que Deus é nosso Ser individual, natureza íntima. Caráter, qualidade e que tudo que Deus é em nós exprime-se e manifesta-se visivelmente, é uma atitude que automaticamente nos liberta. Estabelecido nessa relação com Deus, podemos atravessar o mundo sem bolsa e sem dinheiro; podemos começar cada dia e todos os dias sem nada e verificar que, prontamente, todas as nossas necessidades vão sendo satisfeitas. Humanamente não é possível conseguir isso, mas podemos viver o princípio: Deus é o meu Ser individual; tudo o que o Pai é Eu Sou.Tudo o que o Pai tem está contido em minha consciência. Sou apenas instrumento através do qual a plenitude flui para aqueles que ainda desconhecem essa grande verdade de seu relacionamento com Deus. Desde que Deus é consciência individual, com fidelidade, persistência e perseverança poderemos alcançar o Reino de Deus dentro de nós mesmos, induzi-lo a tomar parte em nossa experiência, a tomar conta em nossa própria vida. 

A consciência de Deus irá se manifestando na proporção em que formos anulando o senso pessoal do eu. Buscar Deus sem qualquer desejo de algo significa a eliminação do eu pessoal (ego), pois somente o ego tem anseios, desejos, exigências. Sintonizamos com Deus para receber uma bênção espiritual e ninguém pode saber em que essa bênção consiste. 

Quando a Graça de Deus nos toca podemos adotar uma vida completamente diversa da que tínhamos antes, se é isso o que Ele nos destina. Há uma espécie de destino para cada um de nós, pois, a cada um de nós é destinada uma espécie de atividade. Há diversidade de dons, porém o Espírito é o mesmo e há diversidade de labores, mas é o mesmo Deus que em todos, tudo opera... A um é dado pelo Espírito a palavra do conhecimento; a outro o dom da profecia; a outro a capacidade de operar milagres; a outro a interpretação de línguas. Tudo obra do mesmo Espírito, dividindo pelos homens segundo sua vontade. Pois, assim como o corpo é um, mas tem muitos membros e todos esses sendo muitos são um só corpo, assim é o Cristo. 

Deus opera como os construtores de pontes, mineiros de carvão, negociantes, advogados, artistas, ministros; e é Deus a inteligência Infinita, no centro de nosso corpo que determina nossa forma particular de exprimir. 

Para saber o que esse destino significa para nós é mister que nos ponhamos em contato com o Centro Divino dentro de nosso Ser pela Meditação. O grau de conscientização experimentado é proporcional ao grau de aperfeiçoamento de nossa consciência. Onde quer que estejamos nesse momento, expressamos o grau de vida divina consciente e podemos ampliar, aumentar para recebimento de maior fluxo. 

Os que pela Meditação se entregam a Deus tornam-se UM com o Infinito Invisível. Deus usa a nossa alma, mente e corpo como instrumento para expressar Sua Atividade e Sua Graça, fazendo fluir Sua Bênção para o mundo. “A ti basta a minha Graça”. Tua Graça não é somente meu suprimento; é o suprimento de tudo na ordem dos meus pensamentos. Pai, eu sou um instrumento através do qual essa bênção invisível pode fluir, aparecer no mundo àqueles que Te buscam. 

O Reino de Deus está dentro de mim. Tua graça é um benefício para todos os que estão no mundo. Regozijo-me porque essa Bênção, essa Graça pode derramar-se indistintamente para amigos ou adversários próximos ou distantes, seja qual for a nacionalidade, raça ou credo daqueles que elevam a Deus seus corações.Rejubilo-me pela certeza de que todos os que elevam a Deus seus pensamentos ou sua voz receberão essa Bênção por Tua Graça que flui através de mim.


sexta-feira, março 15, 2019

A Arte da Meditação - 3



A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith) 

Capítulo 3 - A PRÁTICA

Há muitas formas de meditação. Métodos que conduzem à meta, isto é, ao despertamento do Cristo interno. Cada um deve seguir o próprio caminho. 

A mesma trilha não serve para todos. Assim, cada um deve buscar o meio que lhe pareça mais adequado para sintonização de sua consciência. Esse estado de consciência profundo não tem fronteiras, ele nos transmite a certeza de uma realidade que jaz além de nosso limitado conhecimento imediato meramente humano. É ilimitado e nos confere sabedoria infinita. Sagrada moradia dentro de nosso ser onde não penetra o tumulto incessante do mundo exterior. 

Se tivermos fidelidade e constância na prática da meditação contemplativa, ela nos conduzirá a formas mais elevadas de meditação até atingirmos a experiência de auscultar a voz suave que, do grande além de dentro nos transmitirá a orientação segura, conduzindo-nos em linha reta por entre os atalhos do caminho. 

Comecemos por nos sentar em posição confortável; preferem alguns uma cadeira reta, dura, para facilitar a posição correta; os pés estendidos no soalho, corpo ereto, mãos repousando entre tronco e as pernas com as palmas voltadas para cima. Nesta posição natural de relaxamento, mas alerta, inicia-se a meditação, fixando-se o pensamento em alguma passagem do Evangelho ou na leitura antecipada de um curto trecho da Bíblia ou de qualquer livro edificante. A leitura de um parágrafo ou de várias páginas torna-se necessária, até que a nossa atenção seja atraída por algum pensamento particular, então, fecha-se o livro, focaliza-se a atenção nesse pensamento, repetindo-o e perguntando: por que essa citação veio a mim? Terá algum significado particular? Qual é o significado dela? Continuando a meditar, pode ser que surja outro pensamento, então consideremos: há entre eles alguma relação ou ocorrência? Por que o segundo pensamento seguiu o primeiro? 

Provavelmente a terceira e quarta ideia podem apresentar-se, todas originadas fora da consciência. Esse curto espaço de tempo, talvez apenas um minuto, seja suficiente para abrir-nos as portas da consciência espiritual, despertando o amor e a inteligência divina. A visão da Verdade surge das profundezas do nosso ser, dando-nos uma sensação de segurança e bem-estar. 

Então, a quietude e a paz descem sobre nós. Praticando fielmente essa forma de meditação, verificamos o despertar da nossa consciência, permitimos a atividade de Deus através de nós e o Cristo passa a viver a nossa vida. É necessário, porém, que tornemos sempre à meditação, pela manhã, ao meio dia e à noite. Esses períodos de silêncio, reflexão, introspecção, meditação e finalmente de comunhão, preparam-se para receber a Graça interior. 

Mesmo que nos pareça não estarmos progredindo nesse curto espaço de tempo, durante o dia ou durante a noite, mesmo que não observemos resposta, não desanimemos, continuemos a meditar sempre, pois não dispomos de meios para julgar os resultados de nosso esforço em termos de simples períodos de meditação, depois de uma semana de prática ou depois de um mês. Aguardar resultados imediatos é o mesmo que esperar executar Bach ou Beethoven depois da primeira lição de música. 

De fato não seria absurdo, desesperar depois de praticar escalas durante as seis primeiras horas, em uma arte que exige elevado apuro técnico? Se formos sinceros no desejo de dominar essa arte, reconheceremos que ao iniciarmos a prática das escalas, algo se processava tanto na mente como nos dedos e o aproveitamento final não pode ser medido em termos de prática-hora diária ou mensal. Assim acontece com a meditação; iniciemo-la, fechemos os olhos e compreendamos: Estou procurando a Graça de Deus; estou buscando a palavra que sai de Sua boca. Não sei como orar para isso, assim não rezarei por algo deste mundo. Espero ouvir Sua voz, espero escutar Sua palavra. Essa forma de meditação repetida uma dúzia de vezes por dia, muda inteiramente nossa vida e essa mudança pode tornar-se evidente em curto prazo. 

Toda vez que nos recolhemos àquele Centro interior, estamos reconhecendo que “de nós mesmos nada podemos”, estamos em busca do Reino dentro de nós. Essa atitude significa verdadeira humildade, verdadeira oração, reconhecimento da nulidade da sabedoria humano, do poder, a sabedoria e a força vem do Infinito Invisível. 

Os períodos de silêncio favorecem a creação de uma atmosfera divina na qual se desenvolve a atividade do Espírito que, através de nós, é capaz de fertilizar desertos. Aqui está um exemplo de uma forma simples de meditação, iniciamos com uma ideia central, um tema, uma citação e refletimos nela até que surja seu profundo significado: “De mim mesmo eu nada posso; é o Pai dentro de mim que executa os trabalhos”. 

O significado da primeira parte é patente; mas, que quer dizer a sentença – O Pai dentro de mim executa os trabalhos? Sabemos que ao fazer aquela afirmação Jesus se referia a Deus. Significa então que Deus dentro de mim executa os trabalhos? O mesmo Pai que estava em Jesus está também em mim; Ele é maior do que os problemas do mundo, a vida, a inteligência, a sabedoria que está dentro de mim é maior do que meus inimigos, maior do que minha ignorância, do que meus temores, do que minhas dúvidas, do que meus pecados. “Posso fazer todas as coisas através do Cristo que me dá forças”. 

Esse Cristo é o Pai dentro de mim, o Poder Divino do qual Jesus disse: “Eu nunca te deixarei, nunca te abandonarei”. Antes que Abraão fosse, esse Pai já estava dentro de mim e comigo permanecerá até o fim do mundo. É uma Presença, um Poder que tem estado comigo desde o início dos tempos mesmo quando eu desconhecia que ele aí está e estará comigo para sempre, independente do lugar onde eu esteja. Se estender meu leito no inferno... se vagar pela sombra da morte... esse Pai estará comigo. É uma Presença que jamais me deixa, um Poder que me fortalecerá sempre, indo à minha frente para endireitar os caminhos tortuosos e tornar planos os trechos íngremes. Sinto sua mão em minha mão; eu sei que há um Poder que tudo pode; sei que há uma presença que pode viver a minha vida por mim; jamais me deixará, jamais me abandonará. Não posso duvidar de Sua Presença, de tudo que me foi revelado a mim, um infante da Verdade, um iniciante da Senda espiritual. Essa prática de analisar a Escritura não é tão difícil para um principiante nem tão simples para um estudante avançado. Como no exemplo, um pensamento ou citação é empregado na tentativa de compreender seu secreto significado e iluminá-lo de modo que nunca mais passará a ser empregado como simples citação. Essas formas primárias de citações devem ser compreendidas e praticadas antes de podermos atingir estágios verdadeiramente esotéricos. Observamos que o nosso propósito é desenvolver um estado de receptividade capaz de auscultar aquela silente Voz. 

Na meditação não devemos cuidar de problemas pessoais, apenas nos dirigimos rumo ao Centro Divino dentro de nós e esperamos, esperamos, esperamos. Se ao cabo de alguns minutos não houver resposta interior, levantemo-nos para tratar de outras obrigações. Uma ou duas horas depois devemos retornar à meditação, aguardando silenciosamente até que a Voz se manifeste dentro de nós, não permitindo que pensamentos interfiram, atravessando nossa mente. Caso não sintamos o toque da presença do Cristo dentro de poucos minutos, devemos retornar aos afazeres habituais e horas mais tarde voltar à prática da meditação. 

Se persistirmos na disciplina ininterrupta desses exercícios durante anos incansáveis, dia virá em que obteremos uma resposta interior real e ela nos transmitirá a certeza daquilo que Jesus chamou o Pai em mim e que Paulo revelou como o Cristo interno. O principiante deve meditar, no mínimo, duas vezes por dia, pela manhã e à noite. A ninguém será difícil a execução dessa relevante tarefa, pois, geralmente, nos deitamos à noite e nos levantamos pela manhã; assim, todos podem reservar alguns minutos nesses períodos, caso não seja possível reservar mais outros períodos durante as 24 horas. Para os estudantes mais avançados vão se dilatando esses períodos de meditação, de modo que eles passam a integrar a própria existência. Estes meditam a qualquer hora do dia ou da noite, às vezes durante minutos apenas, outras vezes mesmo guiando um automóvel ou executando os trabalhos caseiros. Aprendendo a abrir a consciência pelo exercício constante, ainda que seja por curto espaço de tempo, aos poucos nos colocamos em estado de receptividade. Muitas pessoas de elevada estatura espiritual são consideradas “luz do mundo”. Dirijamo-nos ao Pai e peçamos que nos ilumine para que compreendamos o sentido da palavra Luz (Jesus, Elias, Paulo, João). Desenvolvendo o “ouvido de ouvir”, alcançaremos o significado espiritual do termo e não apenas sua interpretação literal existente nos dicionários. Às vezes não nos parece claro o sentido da palavra Alma. 

De fato, poucos conhecem seu real significado, um dos mais profundos mistérios da sabedoria espiritual. Sintonizemos com o Pai e se mantivermos esse estado de receptividade, cedo ou tarde, através da intuição conheceremos a natureza da Alma. Assim, aprenderemos a submeter à apreciação da consciência qualquer termo ou assunto do qual buscamos compreensão, esperando pacientemente que a luz brilhe e nos revele seu real significado. Muitos se familiarizam com a passagem: “Minha Graça é suficiente para ti”. Conhecemos as palavras, mas se conhecemos só as palavras, elas serão de pouca valia em nossas vidas, a menos que o seu sentido mais profundo nos seja revelado pela meditação... 

A partir de então, essas palavras passam a ser vitais para nós, tornando-se o Verbo. Ao despertarmos pela manhã, logo cedo, devemos focalizar a ideia de que a Graça de Deus é a nossa suficiência em tudo. Devemos conscientizar repetidamente essa afirmação até que ela se torne integrante em nosso ser, que seja a atmosfera e habitação natural em nosso viver cotidiano. “Tua Graça é minha suficiência - Tua Graça, a Graça do Pai dentro de mim basta para todas as coisas. Que devemos entender por Graça? Como será que ela é? Pode durar algum tempo para percebermos que a Graça não está fora, mas dentro de nós; conscientizando essa ideia, insistindo no sentido da palavra Graça, um dia compreenderemos que a Graça é uma dádiva de Deus, que vem de Deus sem nosso esforço, sem nosso mérito e sem que por ela tenhamos lutado. Contudo, essa Graça que é nossa suficiência em todas as coisas, é uma atividade de Deus dentro de nós”. 

Na meditação o significado da Graça pode ser revelado de um modo a uns e de outro modo a outros, porém chegará a todos com intensidade bastante quando as janelas do céu forem abertas e as bênçãos transbordarem sendo pequenos os recipientes daqueles que estão destinados a recebê-las. Para cada um desses plenificados pela Graça, dar-se-á um desdobramento da plenitude. Se mantivermos essa atitude, meditando freqüentemente, a luz da verdade há de brilhar sempre, pois estaremos pondo em prática o mais importante ensinamento transmitido à raça humana: “Se tu habitares em Mim e minha palavra habitar em ti, pedirás o que quiseres e isso te será dado”. 

Se o Verbo permanecer vivo em nossa consciência, se conscientizarmos a presença divina quatro, cinco, ou dez vezes durante o dia e também quando despertarmos no meio da noite estaremos permitindo que a Verdade habite em nosso ser e que o Cristo se torne a atividade de nossa consciência. O que é o Cristo? Se quiseres realmente saber o que é o Cristo, faz humildemente esta confissão: “Pai, conheço tão pouco sobre o Cristo; ajuda-me a entendê-lo”. Então, cerra os olhos e fixa a atenção na ideia – Cristo. Um dia intuirás seu real significado, significado que não poderás transmitir a outrem, mas, que tu mesmo compreenderás. O Cristo se tornará uma presença consciente em ti; será um Poder, uma Influência, o Ser. Será algo indefinível, pois diga o que disser, jamais alguém poderá definir o Cristo.

Um dia, no entanto, persistindo nessa conscientização do Cristo vivo em teu coração, poderás ouvir: Nunca te abandonarei; assim como estava em Moisés, estarei contigo. Irei para onde quer que vás. Não procures sinal, não procures nada fora, busca-me e espera-me. Se assim fizeres, um dia, ao te achares necessitado de água, ela brotará de um rochedo; se é de alimento que precisas, ele cairá do céu. Mas não o procures nunca, esse é o pecado. Busca somente a Mim; Eu caminho ao teu lado e repouso em teu coração. Tu me sentes? Estou contigo, ando à tua frente para endireitar os caminhos tortuosos. Jamais te deixarei, procura-Me e serás salvo. Busca-Me e todas as coisas te serão dadas de acréscimo. Certificando-nos disso, compreenderemos o conceito de Paulo: “Não sou eu que vivo. É o Cristo que vive em mim”. Então a atmosfera do Cristo passará a ser a nossa atmosfera e a nossa presença física tornar-se-á uma bênção para aqueles que se puserem em contato conosco, sendo a luz do nosso ser. O método seguro é orar incessantemente, abrindo a consciência à realização do Cristo até que sobrevenha o tempo em que não necessitamos mais de esforço para fazê-lo, é que não haverá mais um tu ou um eu, seremos UM. “Confia em Mim e salva-te”.


terça-feira, março 12, 2019

A Arte da Meditação - 2


A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith) 

Capítulo 2 - A FINALIDADE

"Os caminhos A todos os homens se destinam uma estrada elevada e uma estrada rasteira. Cada homem decide sobre o caminho que seguirá sua alma." (John Oxenham)

O propósito da meditação é alcançar a Graça Divina. Uma vez conseguida ela dirige nossa experiência, vive nossa vida, executa os labores a nosso cargo, retifica os caminhos tortuosos, já não vivemos só pelo pão, mas, pela Graça Interior. Suprimento, relacionamento satisfatório, êxito nas atividades profissionais, capacidade creadora, são efeitos tangíveis da Graça. Não poderemos recebê-la, porém, se a considerarmos um meio para alcançar fins lucrativos, se a procura tiver o intuito de conseguir a posse de algo ou de alguém. 

A meditação jamais deverá ser praticada com o propósito de obter resultados, seja um automóvel, mais dinheiro, ou, melhor situação. Sua única finalidade deve ser a conscientização da presença de Deus. 

Na meditação Deus se revela como vida individual. Ele é a fonte da qual derivam todos os bens e, desde que seja alcançada a experiência da sua presença, onde houver necessidade surgirá suprimento. Falharemos sempre que estivermos visando conseguir algo à parte, separado de Deus. Deus é o próprio bem. Orar ou meditar por pessoas ou coisas materiais anula o propósito da meditação. Diz a Escritura que o homem comum recebe as coisas de Deus. Quem é o homem comum senão o ser humano, o filho pródigo, mergulhado ainda na ilusão das facticidades, a orar por coisas materiais, pessoais? Rezamos para pedir dinheiro, mais bens, não oramos para diminuir o que já temos, essa, de fato, seria uma oração espiritual. Deus não toma conhecimento dos rogos feitos para aumento da materialidade. Comumente, nossos desejos humanos, mesmo quando realizados, nos deixam insatisfeitos, porque como seres humanos falta-nos sabedoria para conhecer as coisas que realmente nos são necessárias. Só o Pai dentro de nós é plena sabedoria e amor. Oração eficiente é aquela dirigida a Deus em espírito, deve, portanto ser de natureza espiritual aquilo por que oramos. 

Lembremo-nos disso toda vez que nos dirigimos a Deus na meditação, avaliando a qualidade de nossa meditação pelo grau de iluminação espiritual de que ela se reveste. “Eu vim para que eles possam ter vida e a tenham em maior abundância”. É uma promessa de realização; certifiquemo-nos, porém, de que aquilo que estamos pedindo é de ordem espiritual, não devemos orar a um Deus espiritual para cultivar o nosso aspecto humano. 

Devemos obedecer à orientação do Evangelho e deixar que o espírito dentro de nós testemunhe, “pois não sabemos o que devemos pedir para nossas necessidades, mas o Espírito intercede por nós...” 

Realmente, não somos nós que oramos ou meditamos, cabe-nos, apenas, abrir a consciência para que o Espírito, dentro de nós, revele nossa necessidade e providencie o suprimento. Aí está o segredo, muito diferente do trabalho mental de declarar ou afirmar que isso ou aquilo deve ocorrer agora, nesse minuto. Ao contrário, meditando, nossa atitude deve ser aquela do humilde hebreu: “Fala Senhor, para que seu filho ouça”. Esta é a verdadeira atitude para a prática da meditação. Alargar a consciência e permitir que Deus cumpra Sua palavra dentro de nós, não a nossa palavra, mas a Palavra de Deus, viva aguda, poderosa. Ela não ecoará em vão, no vazio. 

O verdadeiro aspirante à Senda espiritual tem um único desejo legítimo: a conscientização da presença de Deus, a experiência do Cristo na própria consciência. “O Pai dentro de mim faz o trabalho”. O Pai está dentro de mim, está dentro de vós; por que então os trabalhos são executados? Há uma condição necessária – a consciência da Onipresença. Dentro de nós está a atividade de Deus, o Poder de Deus. Nós, porém, formamos um estado de consciência ilusório constituído por camadas de facticidades. Não tivemos êxito em transpor essas camadas de materialidade e atingir o Centro Divino no nosso íntimo e enquanto isso não acontecer, falharemos em nossa meditação. 

Muitos de nós buscam Deus, conservando da vida uma perspectiva falsa, puramente material. Interessados que o coração pulse tantas vezes por minuto, que os órgãos da função digestiva e eliminatória funcionem devidamente e que nossa provisão de dinheiro seja suficiente, plenamente convictos de que no mundo é possível encontrar-se completa satisfação; para isso corremos atrás de mais dinheiro, acreditam outros que a fama é a resposta aos seus anseios e outros mais, que a sua felicidade reside na boa saúde. 

Quantas vezes ouvimos: “Se ao menos eu melhorasse dessa dor... poderia iniciar minha busca de Deus”, ou “se estivesse em melhores condições financeiras sobrar-me-ia paz para fazê-lo”. 

Desse modo, fica a conscientização da Presença de Deus dependente de condições físicas ou econômicas. A prova do contrário é verificarmos que muitos possuidores de milhares e milhões ainda não descobriram Deus e muitos que gozam boa saúde também não encontraram paz e felicidade. 

Vejamos agora o reverso do quadro: Dedicamo-nos à busca incondicional de Deus, observaremos que ao encontrá-la as dores desaparecem, os pecados se desvanecem e nossos horizontes se ampliam. 

Enquanto estivermos empenhados, apenas, em trocar discórdia física por harmonia, física, não teremos idéia do que seja o Reino de Deus, da riqueza Espiritual, da saúde Espiritual. 

Devemos iniciar a meditação com a convicção de que nem riqueza, nem saúde são motivos determinantes para nossa busca a Deus. Todo anseio por coisas ou pessoas dificultará, adiará nossa entrada no seu reino. 

A firme convicção de que a meta que visamos é a conscientização da Presença de Deus abrirá o caminho e nessa realização “todas as coisas nos serão acrescentadas”, ou melhor, elas já estão incluídas dentro de nós. 

O verdadeiro objetivo é a conscientização do Reino para nosso desenvolvimento individual, testemunhando perante o mundo que Deus é o Eu individual e que esse estado de consciência pode ser alcançado por todos aqueles que decidam desapegar-se das coisas terrenas. Isso não quer dizer que devamos isolar-nos em lugares remotos, quer dizer que devemos abandonar os desejos pelos objetos que o mundo oferece. Como aspirantes à sabedoria espiritual cabe indagar qual o melhor caminho e se existe algum para conseguirmos essa realização do verdadeiro Eu. Existe alguma via que conduza à conscientização de Deus aqui na terra? A resposta é Sim. Não só existe um caminho, como existe um caminho curto, simples e ao mesmo tempo difícil. Praticar em nosso próprio corpo um ato de cirurgia mental que elimine todos os desejos por pessoas, lugar, coisa, circunstância ou condição. Com afiado bisturi mental, devem esses desejos, ser extirpados e que apenas um permaneça. “Conhecer a Ti”. 

O conhecimento que conduz à vida eterna. Empenhemo-nos de todo coração, alma e mente, na realização da Presença de Deus e não na obtenção de alguma forma de bem. Ao alcançá-la, passaremos a gozar de todas as coisas da vida sem a elas nos escravizarmos, sem a elas nos prendermos, sem temor de perdê-las. Jamais alguém que alcançar o contato com o Cristo perderá sua riqueza, sua saúde ou sua vida. Seja esta nossa oração: Uma coisa tenho desejado, poder conhecer-Te. Uma coisa! Brada meu coração: “Deus, revela-Te a mim. Não me preocupa que o faças na riqueza ou na saúde, na pobreza ou na doença. Apenas revela-Te. Em Tua Presença haverá segurança, sossego, paz e alegria”. 

Na meditação nada mais buscamos além da Graça de Deus; ela não é encontrada na mente humana nem é encontrada na paz que o mundo oferece (armistício). Simples afirmação e leitura de livros não a produzem. Podem servir de incentivo e nos conduzir a uma esfera de vibração silenciosa em que nos preparamos para receber a Graça de Deus, mas só a meditação nos eleva a um estado de receptividade espiritual no qual advém a Graça Divina. “Se isso acontecer de modo que o Espírito de Deus conscientemente habite em nós”, então tornamo-nos filhos de Deus. Como seres humanos estamos afastados de Deus e por essa razão não obedecemos a Sua Lei nem experimentamos as bênçãos de Sua presença. 

Nós nos afastamos do lar Paterno e diluímos nossa filiação divina na manifestação pessoal do ego. Para efetivarmos nossa filiação divina precisamos seguir o caminho de volta à Casa do Pai; aquela mesma jornada feita pelo filho pródigo para que possamos vestir o manto e receber novamente o diadema e o sinete de filho. Como poderemos tornarmo-nos filhos de Deus? Como despertar o Cristo que sempre foi, é e será a nossa verdadeira identidade e que se encontra dormente dentro de nós? Executar essa tarefa requer esforço. Precisamos abandonar todos os velhos conceitos ou preconceitos de vida “por causa de minha reputação”. Devemos nos levantar da mesa do banquete, deixar para traz pensamentos, pessoas e atividades do mundo e retornar ao Pai. É próprio do ser humano ser indulgente consigo mesmo. Bem-estar, conforto, riqueza, intemperança, glutonaria, indolência e sensualidade agem sobre a consciência como sentimentos separatistas de Deus. 

Na realidade, essa separação não ocorre, como sucede ao anel de ouro que não pode ser separado do ouro de que é formado. Ouro é o anel, ouro é a substância que o constitui, não há meio de remover o ouro do anel sem destruí-lo, pois não há duas coisas como ouro e anel, mas somente “um anel de ouro”. O mesmo acontece conosco; não podemos nos separar de Deus porque na realidade não há dois: Deus e eu. Não existe no mundo tu e eu como indivíduos isolados. Sendo Deus Infinito, Deus é tudo o que é. Deus é tu e eu, nossa vida, nossa mente, nossa alma, nosso ser; exatamente como o ouro que constitui o anel. Ouro é a substância, anel é a forma; Deus é a substância, o indivíduo é a forma pela qual Ele se manifesta. É a essência do nosso ser – vida, alma, mente, espírito, lei, atividade; Deus é tudo no indivíduo, seja ele santo ou pecador. 

A manifestação de santidade apresentada por um indivíduo depende totalmente do grau de conscientização de unidade com o Pai; do mesmo modo, a manifestação de pecado num indivíduo, depende do grau, do senso de separação que ele admite. Não somos, porém, os seres humanos que parecemos ser: somos puros seres espirituais. Não que haja em nós dois seres separados – humano e espiritual; nós não podemos nos separar de Deus, todavia, como homens, podemos manter esse senso de separação. Decrescendo esse senso de separação a filiação divina passa a revelar-se. 

A volta do filho pródigo se processa integralmente dentro de nós, dentro de cada um, como atividade da consciência. Entramos na senda espiritual no momento em que dirigimos nossos passos rumo a Deus, a nosso Pai. E ninguém se vanglorie, se não fosse pela Graça de Deus, ninguém atingiria a realização de sua filiação divina. 

Na experiência de cada um, chega o momento em que nos sentimos penetrados por um raio de luz divina. Sentimos um toque, um lampejo que descerra uma janela em nossa consciência, não por causa nossa, mas apesar de nós. 

Quando isso acontece, o próximo passo é inevitável – encontramos o caminho reto que conduz ao trono de Deus. Para o homem comum parece algo impraticável, na vida efêmera, intangível. 

Na realidade, porém, o Espírito de Deus é o que há de mais tangível no mundo. Uma vez conscientizada a Sua presença, as contas bancárias, os nossos negócios, os bens que possuímos, nossas próprias relações colocam-se em seu lugar certo como símbolos externos da Graça, como efeitos do Espírito. São esses símbolos ou efeitos que mudam; enquanto os homens viverem somente pelo pão, imersos na simples atividade humana, enquanto dependerem exclusivamente de símbolos. 

Um dia descobrirão que as posses humanas rápidas se esvaem, se consomem, se tornam nada. Observamos os resultados da dependência às coisas materiais quando olhamos as faces das pessoas que vivem a elas apegadas, pondo sua segurança na saúde de seus corpos, na riqueza de seus talões de cheques, nas coisas deste mundo. Contrastando com essas figuras, outras existem aqui e ali, cujas vidas esperançosas decorrem iluminadas por uma luz interior, espiritual, facilmente percebida; vemo-las nos olhos, ouvimo-la na voz, observamo-la na vitalidade, no vigor do corpo. Ainda que invisível essa presença está dentro de cada um de nós, não há coisa alguma fora dela. Essa Presença pode ser percebida por aqueles que têm olhos para ver, ouvidos para ouvir, isto é, os que estejam receptivos à Graça Divina. 

O propósito único de nossa existência é tornarmo-nos instrumentos através dos quais possa expressar-se a Glória de Deus. Jamais devemos ficar preocupados na tentativa de expressar nossa individualidade. 

Nosso empenho deve consistir na atitude permanente de permitir que através de nós se manifeste o Infinito Invisível. Não vacilemos no esforço de buscar essa glória e cada vez que meditarmos, digamos assim: Pai, “de mim mesmo nada posso fazer... Minha doutrina não é minha, mas d’Aquele que me enviou”. 

Não tenho sabedoria, Pai, não tenho opinião, não tenho saúde, não tenho riqueza. 

Aqui estou tranqüilo para permitir que dentro de mim flua o Infinito. Nossa função consiste em habitar nessa zona de realização interior e nos empenhar que surja a harmonia pela conscientização da presença do Cristo dentro de nós. Ele, então, se exterioriza como um ser humano mais rico, mais sadio, melhor. Mas não nos iludamos com as aparências, pois não estamos à procura de uma alteração no quadro humano. Meditação não é tentativa de transformar doença em saúde, carência em abundância. 

A nossa visão deve sempre se manter no Cristo Invisível que habita no centro do nosso ser, aqui e agora. Qualquer meditação que inclua qualquer desejo de alcançar alguma coisa de Deus não é meditação. 

O bem tem que ser realizado e não conquistado. A infinitude do bem já está onde eu estou, pois o Reino de Deus está dentro de mim. 

A presença e o poder de Deus interpenetram o nosso ser como o perfume na flor, quando desabrochamos espalha-se a fragrância. Cada um de nós tem dentro do próprio ser a totalidade de Deus, não apenas uma parte Dele que é Infinito, Indivisível. 

A totalidade de Deus está tanto em uma folhinha como em todos os seres na face da terra. Se não fosse assim, teria havido menos de Deus, no globo terrestre, quando sua população era somente 10% da atual e pelo mesmo motivo teria de aumentar a população. 

Havia tanto de Deus há milhões de anos como continuará a haver daqui a muitos milhões. A infinitude de Deus está no indivíduo, por isso se diz que um Cristo pode conduzir aos céus milhões de pessoas. Um Cristo é um filho individual, Infinito de Deus, manifestando tudo o que Deus é. “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que tenho é teu”, estas palavras não são dirigidas a um grupo, mas a um indivíduo, Deus em sua Infinita totalidade está encarnado no Filho de Deus, manifestação de nossa identidade espiritual. 

Inicialmente, aprendemos pelo autoconhecimento, a interiorização no Centro Divino, depois permitimos que o perfume que jaz latente se evole, se exteriorize como transbordamento visível do Cristo interno invisível. É a magnitude de Deus que aparece individualizada. 

Quando não mais estivermos interessados na paz que o mundo não pode dar, mas buscarmos, tão somente nossa paz, abrir-se-ão as janelas da consciência espiritual e por elas irá penetrar a luz que se tornará a vida de nosso corpo, de todo nosso ser. 

Muitas pessoas desejam a vida espiritual para alcançar poderes, fenômenos, experiências. Como compensação pela busca de Deus pretendem gozar mais e melhor as coisas terrenas, apanhar em suas redes maiores e melhores peixes. Porém, o fundamento de nosso trabalho deve ser: “abandonar as redes”, desprezar esse tipo de busca e abrir a consciência para a realidade espiritual. 

Então, os objetos externos nos acontecem porque eles são o fruto da Graça interior e esta só pode ser alcançada no silêncio, em estado de grande receptividade. Compete a cada um preparar-se devidamente para o advento dessa experiência – o reconhecimento da Graça. Esse é, na íntegra, o propósito da meditação. 

A intensidade da força e poder que fluem através de nós é uma conseqüência da Graça Divina. O alvo final é a iluminação que só alcançamos pela Graça, não por esforço próprio. 

Assim, alguns lutarão até esgotarem as forças e não obterão; outros poderão alcançá-la fácil e rapidamente e uns poucos, ainda romperão todas as cadeias com o advento da consciência crística. Essa experiência, porém, só é alcançada através da Graça – seja qual for o grau em que ela aconteça, nada mais do que uma manifestação da dádiva divina. Ela não vem porque a conquistamos, não vem porque a merecemos nem porque somos humanamente bons. 

Na verdade, muitas vezes ela visita um pecador, pois sua luta íntima, o anseio interior pode ser mais ardente do que a de um indivíduo, apenas humanamente bom (bondoso) e o vácuo do pecador poderá atrair a plenitude divina e ele será, quem sabe, altamente compreendido. 

A única coisa pela qual somos responsáveis é a alimentar constantemente o desejo de alcançar a experiência crística e que esse desejo se expresse na sinceridade do nosso estudo, no aprofundamento de nossa meditação e devoção. Essa é a parte sob nossa responsabilidade. 

A experiência Crística é exclusivamente, dádiva de Deus, ninguém a merece e ninguém sabe também por que uns a recebem e outros não. 

Há um período na senda espiritual em que o devoto percebe que a alma se abre na experiência da iniciação. Pode ser provocado por algo que se ouviu ou leu, pelo contato direto com a consciência de um mestre espiritual. 

Quando a consciência espiritual sobrevém, o aspirante já não precisa de outras fontes fora dele mesmo; todo seu aprendizado, sua iluminação, seu poder curador, passam a fluir dentro dele mesmo. A partir desse instante, ao longo do caminho, ele é uma benção para os outros, distribuindo cura e conforto. 

Quanto mais ele submerge no Espírito, tanto mais pode despertar nos outros qualidades messiânicas – Se eu me elevo arrasto comigo os que me cercam. Na proporção que um indivíduo recebe luz espiritual, essa luz se torna lei para todos que se encontrem dentro de sua órbita. 

Assim, seja qual for o grau, tornamo-nos luz para todos os que se ponham em contato com a nossa consciência. E para o curador espiritual é essa luz em sua consciência que acarreta a cura. É esse o propósito da meditação; oxalá cada um consiga alcançar essa luz através da experiência crística. Uma vez conseguido o contato com nosso íntimo Ser, já não poderá haver homens, condições ou circunstâncias que nos escravizem. Somos livres em Cristo e podemos dizer: Cristo vive em mim. Que diferença faz haja períodos de prosperidade, de aridez, de secas ou inundações? Cristo vive em mim. Ele me guia através das águas tranquilas; escolheu-me para repousar em verdes campinas. Poderão mil cair à minha direita, dez à minha esquerda; a mim nada sucederá. Eu sintonizo com o Cristo e todos os dias morro para minha personalidade; estou renascendo pelo espírito, sendo guiado, dirigido, alimentado, mantido, sustentado e salvo por esta luz íntima de iluminação interior. Todo o segredo consiste em despertar o Cristo dormente dentro de nós e esta é a finalidade da meditação.